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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de PEDAGOGIA Jadiane Cristina Lobo A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA CRIANÇAS DE 3 A 4 ANOS LINS – SP 2013 JADIANE CRISTINA LOBO A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA CRIANÇAS DE 3 A 4 ANOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Pedagogia, sob a orientação da Profª Ma Fátima Eliana Frigatto Bozzo LINS – SP 2013 Lobo, Jadiane Cristina; A importância do brincar na Educação Infantil para as crianças de três a quatro anos/ Jadiane Cristina Lobo – Lins, 2013 75p. il. 31cm.. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Pedagogia, 2013. Orientadora: Fátima Eliana Frigatto Bozzo. 1. Brincar. 2. Desenvolvimento Infantil. 3. Brincadeiras. 4 Criança I Título. CDU 37 L782i AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus que me iluminou, guiando meus passos durante essa caminhada e a minha família pela força, dedicação, educação, pelos bons ensinamentos e correções, por ser minha base, e me apoiar durante todos os momentos. A meus amigos, companheiro de sala, e todos que se fizeram presentes, acompanhando cada momento, apoiando-me para seguir em frente mesmo diante as muitas diversidades encontradas. A professora orientadora Fátima Eliana Bozzo, que acreditou em meu trabalho, orientou, incentivando para sua concretização. Aos demais professores deste instituto, pelo estímulo, motivação e aprendizado durante toda essa trajetória acadêmica. Jadiane EPÍGRAFE Casa de Brinquedos Chegamos filho, é aqui Prepare-se, aqui você vai descobrir o vale encantado. Vai chegar a caverna misteriosa. Vai conhecer o estranho laboratório do cientista louco. E eu queria lhe dizer uma coisa: - Não esqueça filho, que uma rosa não é uma rosa, Uma rosa é uma manhã, uma mulher, um grande amor. Uma rosa é uma invenção sua. O mundo é uma invenção sua. Você lhe dá sentido, você o faz bonito, Você o cola de coisas O brinquedo, o que é o brinquedo? Duas ou três partes de plástico, de lata, Uma matéria fria, sem alegria, sem história. Mas não é isso, não é filho? Porque você lhe dá vida Você faz ele voar, viajar, Vamos filho, sabe que lugar é esse? É um lugar de sonhos. Uma casa de brinquedos. Vamos entrar? Fernando Faro RESUMO A ação de brincar é função essencial para o desenvolvimento infantil, fazendo parte da condição humana. Nesse aspecto essa pesquisa almeja especificar situações nas quais as brincadeiras estimulam o desenvolvimento emocional, cognitivo, social e motor, oportunizando a passagem por etapas do desenvolvimento de suas potencialidades, proporcionando melhorias nas aptidões físicas e mentais, levando-as a estabelecer relações e buscar soluções para conflitos sociais e pessoais. Os objetivos dessa pesquisa foram verificar a importância do brincar em grupos e individualmente para formação da personalidade da criança de 3 a 4 anos; ressaltar a importância de brincar na educação infantil como fator essencial para o desenvolvimento e aprendizagem da criança; enfatizar sobre a necessidade do estímulo, monitoramento e participação dos pais e professores nas brincadeiras realizadas nessa idade; e por fim, como objetivo geral analisar de que modo o brincar é necessário para o desenvolvimento global da criança nessa faixa etária. Os resultados da pesquisa deram-se através do procedimento de pesquisa bibliográfica sobre as brincadeiras e sua relevância como recurso pedagógico e análise qualitativa e quantitativa de dados coletados junto aos pais e educadores, possuindo como método de abordagem o hipotético dedutivo. Constatou-se que parte da sociedade desconhece o valor das brincadeiras acreditando que sua função é meramente recreativa, sendo assim, supõe-se que para muitos, as instituições de ensino devem priorizar as atividades escritas e por consequência não consideram significante o espaço e tempo direcionado a ludicidade. Evidenciou que alguns educadores não possuem aprimoramento sobre o assunto, fato que impede a execução das atividades lúdicas de forma significativa, tornando-as mecanizadas e executadas deliberadamente e sem relevância. Conclui-se que, é essencial aprimorar as metodologias aplicadas no cotidiano da educação infantil, pois o brincar é indispensável para formação do caráter, identidade e funções mentais e motoras, devendo ser planejado para atender as crianças de acordo com a faixa etária, respeitando os limites intrínsecos a cada indivíduo. É fundamental que a escola assuma o papel de promover conhecimento aos pais através de palestras e encontros, a fim de informar e esclarecer dúvidas sobre a importância que as brincadeiras possuem, devendo as famílias e instituições de educação infantil constituir um relacionamento de parceria para que a educação aconteça. Palavras-chaves: Brincadeiras. Desenvolvimento Infantil. Crianças. ABSTRACT The action is to play key role in child development, part of the human condition. In this respect this research aims to specify situations in which the games stimulate the emotional, cognitive , social and motor , providing opportunities for the passing stages of developing their full potential , providing improvements in physical and mental abilities , leading them to establish relationships and to seek solutions for personal and social conflicts . The objectives of this study were to assess the importance of play in groups and individually to form the personality of the child 3-4 years, highlighting the importance of play in early childhood education as an essential factor for the development of language in children , emphasizing on the need of stimulus, monitoring and participation of parents and teachers in plays performed at this age , and finally , aimed at analyzing how the play is necessary for the overall development of the child in this age group . The survey results gave through the procedure of literature about the play and its relevance as a pedagogical resource and qualitative and quantitative analysis of data collected from the parents and educators, as a method of having the hypothetical deductive approach. It was found that part of society ignore the value of play believing that their function is purely recreational , so it is assumed that for many educational institutions should prioritize activities written and therefore do not consider significant space and time directed playfulness . Showed that some educators have no improvement on the subject, a fact that prevents the execution of the play activities significantly, making them mechanized and executed deliberately and without relevance. We conclude that it is essential to improve the methodologies applied in everyday childhood education, because the play is essential for the formation of character, identity and mental and motor functions, and should be planned to meet the children according to age, respecting the intrinsic limits to each individual. It is essential that the school assumes the role of foster parents knowledge through lectures and meetings in order to inform and answer questions about the importance of the games have, should families and educational institutions constitute a partnership relationship for the educational happens. Keywords : Play . Child Development . Children . LISTA DE FIGURAS Figura 1: Criança e a Terra ......................................................................14 Figura 2: Crianças .................................................................................... 26 Figura 3: Pesquisa qualitativa e quantitativa ............................................ 37 Figura 4: Resposta da pergunta nº 1 dos pais ......................................... 38 Figura 5: Resposta da pergunta nº 2 dos pais ......................................... 39 Figura 6: Resposta da pergunta nº 3 dos pais ......................................... 39 Figura 7: Resposta da pergunta nº 4 dos pais ......................................... 40 Figura 8: Resposta da pergunta nº 5 dos pais ......................................... 41 Figura 9: Resposta da pergunta nº 6 dos pais ......................................... 42 Figura 10: Resposta da pergunta nº 7 dos pais ....................................... 42 Figura 11: Resposta da pergunta nº 1 (a) dos professores...................... 44 Figura 12: Resposta da pergunta nº 1 (b) dos professores...................... 45 Figura 13: Resposta da pergunta nº 1 (c) dos professores ...................... 45 Figura 14: Resposta da pergunta nº 1 (d) dos professores...................... 46 Figura 15: Resposta da pergunta nº 2 dos professores ........................... 47 Figura 16: Resposta da pergunta nº 3 dos professores ........................... 49 Figura 17: Resposta da pergunta nº 4 dos professores ........................... 50 Figura 18: Resposta da pergunta nº 5 dos professores ........................... 51 Figura 19: Resposta da pergunta nº 6 dos professores ........................... 52 Figura 20: Resposta da pergunta nº 7 dos professores ........................... 53 Figura 21: Resposta da pergunta nº 8 dos professores ........................... 54 Figura 22: Resposta da pergunta nº 9 dos professores ........................... 55 Figura 23: Resposta da pergunta nº 10 dos professores ......................... 56 Figura 24: Livros diversos ........................................................................ 60 Figura 25: Meninos soltando pipas .......................................................... 64 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Brinquedos sugeridos ............................................................. 22 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Resposta nº 1 dos pais .................................................................. 70 Tabela 2: Resposta nº 1 dos professores ..................................................... 72 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................... 11 CAPÍTULO I – A CRIANÇA E O BRINCAR ........................................... 14 1 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA INFANCIA PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM............................................ 14 1.1 O desenvolvimento na idade de 3 a 4 anos: Na visão de Piaget e Vygotsky........... ....................................................................................... 15 1.2 A essencialidade do faz de conta .................................................... 19 1. 3 O brincar, o brinquedo e a realidade ............................................... 21 1. 4 Brincar na educação infantil, fator essencial para o desenvolvimento e aprendizagem da criança ......................................................................... 22 CAPÍTULO II – O BRINCAR LIVRE E O BRINCAR DIRIGIDO ............. 26 2 A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL COMO ESPAÇO ESTIMULADOR DOS JOGOS E BRINCADEIRAS ................................ 26 2.1 A evolução da educação infantil na busca da construção social da criança.. ................................................................................................... 27 2. 2 Os ambientes escolares e propostas pedagógicas adequadas ...... 31 2. 3 O professor e o lúdico, estimulando e monitorando brincadeiras .... 33 CAPÍTULO III – PESQUISA QUALITATIVA ........................................... 38 3 INTRODUÇÃO ................................................................................ 39 3.1 Análise qualitativa com os pais ....................................................... 39 3.1 Análise qualitativa com os professores ........................................... 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 58 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 61 APÊNDICES ...................................................................................................... 64 11 INTRODUÇÃO A presente pesquisa visa à faixa etária de três a quatro anos, tendo como finalidade explorar o brincar na educação infantil como fator essencial para o desenvolvimento de requisitos necessários a formação integral do indivíduo, expondo como as brincadeiras e jogos constroem valores e auxiliam no desenvolvimento moral, pessoal, social, motor e cognitivo. Entrando em contato com brincadeiras diferenciadas a criança será oportunizada a passar pelas etapas do desenvolvimento de suas potencialidades, proporcionando melhorias nas aptidões físicas e mentais, estimulando sua imaginação, autoexpressão, levando-as a estabelecer relações e buscar soluções para conflitos sociais e pessoais. A brincadeira é uma atividade inerente ao ser humano e essencial na infância por estar presente em tudo que a criança faz. Desde o nascimento o bebê estabelece uma relação lúdica com tudo que o cerca. Os pais estimulam seus sentidos quando brincam com ele, e com o passar dos meses, a criança aprende a brincar com as mãos, pés e se interessar por objetos diversos que atraem sua atenção. Com o crescimento, suas habilidades são ampliadas e ela começa a brincar sozinha progredindo para brincadeiras em grupos. A ação lúdica desempenha uma função socializadora, integrando a criança ao contexto da sociedade em que está inserida, pois através das experiências e contato direto com o mundo e suas modificações, que o conhecimento é adquirido e aperfeiçoado, Macedo (2005, p. 16) cita que ―Valorizar o lúdico nos processos de aprendizagem significa, entre outras coisas, considerá-lo na perspectiva das crianças. Para elas, apenas o que é lúdico faz sentido‖. Segundo Piaget (2001) em cada período da vida o brincar acontece de um jeito e se adequa à faixa etária específica auxiliando no desenvolvimento necessário para aquela etapa. A criança de 03 a 04 anos está passando pela primeira infância, ou seja, Período Pré Operatório, fase em que o desenvolvimento mental é aprimorado por meio da interiorização da palavra com a formação do pensamento e interiorização da ação. Para a criança nessa faixa etária na educação infantil, o jogo simbólico está em ênfase, sendo 12 por meio da curiosidade, imaginação e experiências, que o indivíduo começa sua formação intrínseca. Nesse contexto essa pesquisa vem ao encontro de desvendar como o ato lúdico não deve ser visto apenas como uma recreação, mas sim uma condição essencial para potencializar o desenvolvimento infantil. Com as brincadeiras a criança torna-se capaz de explorar e refletir sobre a realidade em que estão inseridas, buscando soluções e hipóteses para possíveis conflitos e questionando algumas regras, incorporando valores, apropriando-se de diversas linguagens corporais, promovendo a autoimagem, autoestima e conduzindo a imaginação e criatividade, permitindo assim a constituição de um pensamento crítico e uma visão ampla, auxiliando na formação de um cidadão com conduta social apta para as necessidades de uma sociedade que se encontra em constante modificação. Tem comoobjetivos investigar qual a importância do brincar para o desenvolvimento global da criança de 03 a 04 anos; ressaltar a importância de brincar na educação infantil como fator essencial para o desenvolvimento e aprendizagem; enfatizar sobre a necessidade do estímulo, monitoramento e participação dos pais e professores nas brincadeiras realizadas e analisar as brincadeiras em grupos e individualmente para formação da personalidade da criança nessa faixa etária. O procedimento utilizado foi por meio do estudo exploratório, bibliográfico, junto à coleta de dados tratados estatisticamente com análise qualitativa e quantitativa e método de abordagem hipotético dedutivo. Nas instituições de educação infantil, os jogos e brincadeiras são muito importantes para o aprendizado, pois atividades interessantes prendem a atenção dos alunos e auxilia o professor na troca de conhecimentos, facilitando assim a formação e aperfeiçoamento de suas habilidades. Jogos e brincadeiras são práticas significativas que envolvem e estimulam, nas quais o sujeito busca um prazer e não um aprendizado, este, surge devido às habilidades e complexidade da dimensão lúdica que atingem, sendo os jogos compostos por regras e com objetivo predefinido e o brincar um ato rico em autonomia, ideias, pensamentos, imaginação, criatividade, interação, movimento, enfim, um mundo lúdico e único de cada criança. Este 13 estudo contém três capítulos que possuem como títulos A criança e o brincar; O brincar livre e o brincar dirigido e a Pesquisa quantitativa e qualitativa. Em seu primeiro capítulo ―A criança e o brincar‖ discorre sobre a importância do brincar para o desenvolvimento e aprendizagem da criança de 03 a 04 anos, dividido em quatro subtítulos: O desenvolvimento na visão de Piaget e Vygotsky, que retrata como Piaget descreve essa faixa etária por meio do período pré-operatório e suas considerações relacionadas às características que essa fase apresenta e o ponto de vista de Vygotsky sobre a formação do indivíduo através da interação do ser humano com o meio que o cerca; A essencialidade do faz de conta, que possui como intuito dar ênfase ao jogo simbólico como atividade principal na faixa etária retratada, expondo sua influência no desenvolvimento da atividade mental, motora e afetiva da criança; O brincar, o brinquedo e a realidade, especificando como agem em conjunto na formação do caráter, valores e atitudes durante a infância; e O brincar na educação infantil, fator essencial para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, mostrando o papel primordial dessas instituições e de seus educadores ao proporcionar um ambiente rico em brincadeiras e consequentemente em requisitos necessários a construção integral da criança. Em seu segundo capítulo ―O brincar livre e o brincar dirigido‖, retrata a escola de educação infantil como espaço estimulador dos jogos e brincadeiras, dividido em três subtítulos: a evolução da educação infantil na busca da construção social da criança; os ambientes escolares e suas propostas pedagógicas; o professor e o lúdico, estimulando e monitorando brincadeiras, informando sobre as modificações nos modelos educacionais até os dias atuais, a importância de uma proposta adequada e de que forma o ambiente e os mediadores auxiliam durante o desenvolver dos jogos e brincadeiras. O terceiro e último capítulo é composto pela análise qualitativa e quantitativa nas quais são apresentadas as respostas de uma entrevista feita com pais e professores sobre o brincar e sua importância na infância. 14 CAPÍTULO I A CRIANÇA E O BRINCAR 1 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA INFÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM Figura 1: Criança e a Terra Fonte: http://espetaculocomoequee.blogspot.com.br/2010_09_01_archive.html Cada criança em suas brincadeiras comporta-se como um poeta, enquanto cria seu mundo próprio ou, dizendo melhor, enquanto transpõe os elementos formadores de seu mundo para uma nova ordem, mais agradável e conveniente para ela. (FREUD apud KISHIMOTO, 2000, p.57). http://espetaculocomoequee.blogspot.com.br/2010_09_01_archive.html 15 1.1 O desenvolvimento na idade de três a quatro anos: Na visão de Piaget e Vygotsky Antigamente não se acreditava que o ato de brincar fosse fator essencial para o desenvolvimento e aprendizagem, contribuindo para aquisição e aperfeiçoamento das inteligências e habilidades nas crianças. Essa ação era considerada meramente recreativa e sem valor cognitivo. A ludicidade encontra-se presente em todas as faixas etárias, sendo no Brasil reconhecido pela Lei Nº 8.069/1990 em seu Capítulo II, Artigo 16º, inciso IV o direito concedido às crianças de brincar, praticar esportes e divertir-se. Atualmente, após diversos estudos e pesquisas sobre o assunto, a sociedade começa a reconhecer os valores que as brincadeiras trazem, no entanto muitos ainda consideram desnecessário o espaço dedicado ao lúdico nas instituições de ensino. A criança na idade de três a quatro anos tende a usar muito a imaginação devido ao simbolismo do seu pensamento, começando a se expressar por desenhos, falas, imitações de pessoas, personagens infantis, e automaticamente, usando o faz-de-conta para alcançar seus anseios. Através da criação do seu próprio mundo ela faz vínculo com o mundo real e os acontecimentos que estruturam sua vivência, sentimentos, pensamentos, explorando suas experiências para agir e desenvolver sua autonomia. (ANTUNES, 2004). Nessa faixa etária ela está em construção de sua identidade e reconhecimento do próprio corpo, portanto não somente as capacidades cognitivas devem ser exploradas, mas também devem ser estimuladas as capacidades motoras, reforçando o uso de brincadeiras e jogos que objetivam a exploração do movimento, destreza no espaço, e confiança em sua motricidade (BRASIL, 1998). Reiterando a análise de Wajskop (2007) a brincadeira é uma ação voluntária e consciente, sendo uma forma de atividade social infantil na qual a criança tem a possibilidade de experimentar novas situações, socializar e administrar sua relação com o outro, decidir, imaginar, inventar, aprimorar seus conhecimentos e valores culturais, obedecendo ao ritmo individual e sem 16 precisão nas características que serão adquiridas através de uma determinada brincadeira. Aquele que brinca pode sempre evitar aquilo que não gosta. Se a liberdade caracteriza as aprendizagens efetuadas na brincadeira, ela produz também a incertitude quanto aos resultados. De onde a impossibilidade de assentar de forma precisa às aprendizagens na brincadeira. Este é o paradoxo da brincadeira, espaço de aprendizagem fabuloso e incerto. (WAJSKOP, 2007, p. 31). A criança nessa faixa etária encontra-se na primeira infância e sua fase de desenvolvimento é a pré-operatória. Piaget (2001) cita que ela está saindo da fase de conhecimento prático em que há necessidade do concreto para sua compreensão, para a simbólica, na qual se usa símbolos para representar mentalmente objetos e situações não presentes. É uma idade marcada por algumas limitações que implicam na formação de sua inteligência cognitiva. Durante a primeira infância, Piaget (2001) relata a passagem por três modificações na conduta infantil, a socialização de suas ações, a gênese do pensamento e a intuição. Na socialização de suas ações a criança passa a observar a ação dos demais, utilizando fatores de trocas de comunicação. Mediante a interação e comunicação com adultos surgem fatores de subordinação e submissão devido a certa coação espiritual que o adulto exerce, tornando seus exemplos modelos que a criança geralmente deve copiar e se igualar. Nessa fase de transição, a incapacidade argumentativa e o egocentrismo acentuado levam as crianças a realizarem monólogos individuaise coletivos, pois mesmo em brincadeiras realizadas em grupos suas falas não constituem um elo com a dos demais, ou seja, sua socialização está em expansão, mas ela permanece centralizada em si e em seu próprio ponto de vista, sendo por vezes capaz de reduzir o adulto ao seu nível, criando um meio termo entre o ponto de vista de um indivíduo superior e seu ponto de vista egocêntrico. Piaget (2001) relata que o pensamento surge antes da linguagem, sendo esta responsável pelo equilíbrio entre o pensamento subjetivo e sua representação. Portanto, desenvolvendo a linguagem por consequência desenvolve-se o pensamento. Sendo assim, na gênese do pensamento há uma expansão da linguagem possibilitando ao indivíduo reconstituir seu passado, contar suas ações, antecipar ações futuras, entre outras, possibilitando a socialização das ações por meio de atos e pensamentos que refletem suas 17 experiências e a realidade através do eu, isto é, um pensamento egocêntrico que propicia a ele uma espécie de jogo no qual irá recriar através de suas brincadeiras as situações vivenciadas, satisfazendo seus desejos por meio de uma forma deformada da realidade. Esse jogo é conhecido como simbólico e deve ser exercitado, pois através de símbolos abstratos o conhecimento deixa de estar preso ao sensório-motor e adquire forma de pensamento, podendo ser imaginado e representado de diversas maneiras, ampliando a capacidade de compreensão do mundo que o cerca. Segundo Dias apud Kishimoto (200, p.46) ―Acreditamos que é preciso exercitar o jogo simbólico e as linguagens não verbais, para que a própria linguagem verbal socializada e ideologizada possa transformar-se em verdadeiro instrumento de pensamento‖. A fase da intuição encontra-se presente nesse período de mudanças da conduta infantil, nela há a formação de um pensamento intuitivo que permite à criança criar correspondências espacial ou ótica, porém há a falta de reversibilidade, ou melhor, a incapacidade de reverter para o estado inicial algo que passou por transformações e chegou a um resultado final. É um período caracterizado por fases, sendo elas o animismo no qual o indivíduo tende a atribuir vida e sentimentos a objetos, por consequência surge realismo que permite a materialização de suas fantasias. Juntamente a essas duas formas de pensar acrescenta-se o artificialismo, pensamento que permite à criança acreditar que todas as coisas são construídas e ao mesmo tempo possuem vida e por fim o finalismo, fase marcada pelas perguntas, momento em que a criança busca uma razão causal para tudo. Nessa etapa da vida da criança existe a dificuldade de justificar e fundamentar respostas, além de uma deficiência na capacidade de reconhecer relações, ordenar e seriar durante a classificação de objetos, ela também acredita que o nome é parte do objeto, julgando impossível nomeá-lo de outra forma, atitude esta denominada por realismo nominal. Reiterando a ideia de Vygotsky (2007) o ambiente influencia na formação do indivíduo, pois suas características individuais dependem da interação do ser humano com o meio que o cerca. Seu ponto de vista é bastante diferente dos anteriores. Segundo ele, a estrutura fisiológica humana, aquilo que é inato, não é suficiente para produzir o individuo humano, na ausência do ambiente social. As 18 características individuais (modo de agir, de pensar, de sentir, valores, conhecimentos, visão de mundo, etc.) dependem da interação do ser humano com o meio e atribui especial importância ao fator humano presente no ambiente. (REGO, 2008, p. 57). Nas brincadeiras as crianças se comportam com atitudes diferenciadas das habituais. Geralmente o brinquedo fornece uma estrutura ideal para mudanças de acordo com a necessidade, e a criança quando brinca passa a agir como se fosse maior do que realmente é. O pensamento de Vygotsky (2007) induz que a aprendizagem surge através do desenvolvimento de funções superiores, e esta se dá por meio da apropriação e internalização de signos que são adquiridos nas situações vivenciadas com o meio em que está inserida. Portanto a brincadeira segundo sua ideia, [...] cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a a desejar, relacionando seus desejos a um ―eu‖ fictício, ao seu papel na brincadeira e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade. (VYGOTSKY apud WAJSKOP, 2007, p.34). A ação lúdica promove interação, aquisição de conteúdos temáticos, negociação de regras de convivência, possibilita o levantamento de hipóteses para solucionar problemas e consequentemente, proporciona o acesso a um mundo mais amplo que não alcançariam caso a criança não estivesse em contato com a construção de sistemas de representação e ficasse focada apenas em seu cotidiano infantil. Vygotsky (2007) em sua teoria criou um conceito visando explicar de que forma a experiência social auxilia no desenvolvimento cognitivo. Este é denominado ―zona de desenvolvimento proximal‖, sendo caracterizada pela distância entre o nível atual e real de desenvolvimento. A zona de desenvolvimento proximal acontece mediante o nível de desenvolvimento potencial, pois através da assistência de um orientador adulto ou uma criança mais experiente na solução de conflitos, busca de hipóteses, entre outros, o indivíduo consegue independentemente realizar atos, ideias, solucionar problemas, e por consequência, desenvolver suas habilidades e competências. Outro fator importante em seu conceito são as características presentes em todos os tipos de brincadeiras, sendo elas a imaginação, imitação e regras. Estas propriedades aparecem com maior ou menor evidência e leva em 19 consideração a idade da criança e a função específica que desempenham junto a elas. Portanto, pode-se verificar que tanto Vygotsky como Piaget consideram as brincadeiras relevantes ao desenvolvimento infantil, sendo através da imaginação, jogo de faz de conta, interação e demais situações, que acontece as variadas transições essenciais para internalização de conhecimentos e aprendizagens necessárias à formação do indivíduo. 1.2 A essencialidade do Faz-de-conta Ao observar uma criança na idade de três a quatro anos brincando de faz-de-conta percebe-se uma representação complexa diante ao significado atribuído por ela ao objeto e a função real do mesmo. Esse tipo de atividade lúdica recebe várias denominações como jogo simbólico, imaginativo, de papéis, sócio dramático, representativo, entre outros, contudo vale dar ênfase aos atos mais importantes da brincadeira que são a simulação, imaginação e criatividade. Durante essa faixa etária a criança desenvolve a capacidade de alterar o significado de objetos, expressar sonhos, assumir e representar papéis presentes no contexto em que está inserida, tornando evidente a presença da situação imaginária, e a simulação de situações vivenciadas dentro de um contexto social. Essas vivências são responsáveis pelo repertório amplo de experiências adquiridas, assimiladas e internalizadas que posteriormente através do jogo de faz de conta são encenadas pelas crianças. Segundo Piaget (apud KISHIMOTO, 2000, p. 59) ―Quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribuiu‖, ou melhor, um mesmo objeto representa vários outros, sua função varia de acordo com a necessidade. Nessa faixa etária a criança introduz no jogo simbólico suas ações imitativas, como o fato de simular que é um piloto de avião quando brinca em um balanço. Isso acontece devido ao intenso grau de fantasia que permite a ela sentir que realmente faz parte daquele personagem que está20 representando. Esse jogo de fantasias oportuniza a interpretação de situações e experiências vivenciadas no passado. A representação constitui-se em dar forma às experiências humanas que são significativas, tornando permanentes as lembranças de circunstâncias marcantes e criando um arranjo de ideias, pensamentos e sentimentos que poderão ser transmitidos por intermédio das linguagens expressivas. Por consequência a criança adquire um aperfeiçoamento da linguagem verbal socializada, o que permite a interiorização dessas experiências e possibilita às crianças imaginar, compreender e tomar consciência do meio físico e social que a cerca. Segundo o pensamento de Vygotsky (2007) a definição do brincar depende da situação imaginária da criança e seus aspectos diferem de acordo com a idade e maturação, devendo levar em consideração as regras que o ato comporta, sendo elas mais implícitas quando a situação imaginária está em ênfase e mais explicita quando jogo de papéis já não é foco principal nas brincadeiras. Em sua análise, simbolizar objetos é uma condição anterior ao uso do jogo de papéis, pois a partir do momento em que a criança é capaz de conferir a um objeto um novo significado ela executa através de um mundo ilusório a realização de desejos não possíveis naquele momento, e como o indivíduo nessa idade não possui a capacidade de esperar ele reproduz a situação fazendo uma transição entre a ação e o pensamento. [...] para Vygotsky, o brincar tem sua origem na situação imaginária criada pela criança, em que desejos irrealizáveis podem ser realizados, com função de reduzir a tensão e, ao mesmo tempo, para constituir uma maneira de acomodação a conflitos e frustrações da vida real; para Piaget, o brincar representa uma fase no desenvolvimento da inteligência, marcada pelo domínio da assimilação sobre a acomodação, tendo como função consolidar a experiência passada (BOMTEMPO apud KISHIMOTO, 2000, p. 64). Contudo, vale salientar que as brincadeiras, jogos e qualquer outro tipo de atividade lúdica, exige uma interação entre sua ação, o objeto ou brinquedo usado e a realidade expressada, devendo esse elo ser valorizado em conjunto, pois sua fragmentação impossibilita resultados qualitativos. 1.3 O brincar, o brinquedo e a realidade. 21 As brincadeiras são importantes formas de comunicação, pois por meio delas as crianças expressam prazer, satisfação, medos, anseios e dispõe ao adulto a possibilidade de perceber se há algo de errado ou se ela está passando por algum conflito interno ou externo, pois através do brincar elas representam as situações vivenciadas sendo estas boas ou ruins. Durante as atividade lúdica é estabelecido um vínculo entre a realidade e fantasia, este auxilia no desenvolvimento cerebral, na formação da linguagem verbal e não verbal, nos aspectos cognitivos e motores, estimula a percepção sensorial, aprimora a progressão da autonomia e identidade, por fim, traz melhorias a memória, concentração, imaginação e demais áreas da personalidade humana responsável pela formação do caráter. Reiterando o pensamento de Brougerè (2001), ao brincar com o outro o indivíduo passa por etapas do aprendizado que resultam no desenvolvimento de sua maturação, podendo citar alguns aspectos aperfeiçoados como o ato de compreender, dominar, produzir situações, autocontrolar-se, respeitar regras e o tempo necessário para cada coisa, assimilar aos poucos a aceitação do erro, respeitar a cultura e os valores. A brincadeira e o brinquedo intervêm na formação do caráter, valores e atitudes das crianças, tornando-as ativas e fazendo uma interação entre o objeto e a ação na busca de uma representação da realidade em que está inserida. Portanto os brinquedos surgem como aliados do ato de brincar, com sua manipulação, situação de posse e consumo, a criança se apropria da cultura que a cerca e simula suas experiências vivenciadas, internalizando seu significado. A função do brinquedo e sua junção ao brincar e a realidade torna o objeto um mediador entre o indivíduo e o contexto social. Todavia quando esse contexto é alterado, automaticamente a cultura social na qual a criança está inserida também passa por modificações, condicionando assim as mudanças no ato de brincar, podendo transformar a função dada ao objeto ou brinquedo por outra adequada ao novo contexto. A escolha dos brinquedos também varia de acordo com os estágios do desenvolvimento infantil, já que eles devem ser adequados às potencialidades já adquiridas e as ainda não absorvidas em sua totalidade. Na idade de três a quatro anos alguns brinquedos são sugeridos para o aperfeiçoamento das 22 habilidades cognitivas, motoras, pessoal, interpessoal, e social. Entre eles, alguns são sugeridos por Antunes (2003, p.28. 29). Quadro 1: brinquedos sugeridos Atividade Principal Brinquedos sugeridos Criar cenários para brincar e ambientes Fantasias, fantoches e teatrinhos. Telefone e relógio de brinquedo. Casinha de brinquedo e brinquedos para brincar de casinha. ―Homenzinhos‖ (soldados, super- heróis). Garagem, posto de gasolina e carrinhos. Fazendinhas, autoramas, ferrorama simples. Lego e suas variações. Movimentar-se no espaço Triciclos maiores, equipamentos de ginástica para playground. Compreender os meios de comunicação. Discos e toca-fitas, livros para colorir, cadernos de desenhos, livros de história. Fonte: Antunes (2003, p.28. 29) Portanto, as brincadeiras devem estar presentes em todos os momentos da infância, porque o brincar unido aos brinquedos, às ações aplicadas sobre eles, à realidade do meio em que está inserido, à comunicação e ao auxílio da linguagem verbal socializada, propicia a criação e a descoberta de brincadeiras que permitirão a assimilação e apropriação dos diversos aspectos da realidade, viabilizando o reconhecimento e transformação da realidade infantil para realidade humana. 1.4 Brincar na educação infantil, fator essencial para o desenvolvimento e aprendizagem da criança. Com base no pensamento de Wajskop (2007), a brincadeira desde os primórdios era usada como recurso para o ensino, no entanto sua valorização na educação infantil só iniciou com o rompimento do pensamento romântico. Nessa época os jogos eram considerados como uma ação de desinteresse pelo trabalho e pelas demais atividades sérias. Esse pensamento passou por 23 constantes reformulações que objetivavam verificar e valorizar a importância das atividades lúdicas para o aprendizado e aperfeiçoamento humano. O jogar ou brincar é compreendido de acordo com suas características implícitas e explícitas, sendo a diferenciação entre essas ações expressadas por meio da linguagem e interpretação atribuída por cada pessoa. Esse meio de compreensão individual é ocasionado conforme o contexto social, valores e modo de vida de cada sujeito envolvido direta ou indiretamente com a atividade. Ainda que o significado para as brincadeiras seja o mesmo, suas especificidades são únicas, pois em algumas o ápice maior está na situação imaginária adquirida e outras variam em conformidade com regras, satisfação em manipular objetos, habilidade manual para executar uma situação mental, bem como habilidades cognitivas e sociais. Durante a infância a predisposição da aprendizagem em todos os aspectos e a absorção de valores está em ênfase. Baseando-se na ideia de Piaget (2001), a primeira infância, de dois a sete anos, é o alicerce para a aprendizagem humana, pois a mesma serve como apoio na aquisição de conhecimentos futuros e formação da personalidade e condutas. Quando esse período esta envolto a uma estruturação que propicie um crescimento cognitivo, desenvolvimento da linguagem e das habilidades motoras, sócio emocionais, afetivas e adaptativas, será proporcionado à criança uma propagação de seu potencialintelectual e por consequência sua vida escolar será bem sucedida, resultando na formação de cidadãos críticos, reflexivos e aptos para se adequar às inúmeras e constantes transformações sociais. No decorrer desse processo de aquisição das capacidades, a educação infantil tem um papel primordial na formação desses indivíduos, pois as creches e instituições equivalentes funcionam como uma extensão do aprendizado conquistado através da experiência social e interações interpessoais. Portanto, o pensamento petrificado que a sociedade tinha de que o ambiente escolar para ser eficaz deveria ser pedagógico está aos poucos mudando, e a ludicidade didatizada está tomando uma nova proporção que amplia a visão do lúdico como elemento essencial na conquista do conhecimento. No ensino, o reconhecimento da importância das brincadeiras em todas as etapas da educação está em ênfase, porém permanece oscilando com relação a sua valorização por parte da sociedade em geral. Contudo, as 24 instituições possuem um papel imprescindível para evitar essa oscilação. Através da comunicação, troca de saberes, experiências e informações entre equipe escolar, família e comunidade, é possível estimular a assimilação por parte de toda a comunidade sobre o valor que as atividades lúdicas possuem como recurso pedagógico. Nesta perspectiva, a brincadeira encontraria um papel educativo importante na escolaridade das crianças que vão se desenvolvendo e conhecendo o mundo nesta instituição, que se constrói a partir dos intercâmbios sociais que nela vão surgindo: a partir das diferentes histórias de vida das crianças, dos pais e dos professores que compõem o corpo de usuários da instituição e que nela interagem cotidianamente (WAJSKOP, 2007, p. 26). Atualmente as brincadeiras são consideradas como prioridade para a criança nas instituições de ensino, seu espaço está sendo ampliado a cada dia e a maioria dos educadores preocupa-se em proporcionar um ambiente acolhedor e planejado ―Nesse sentido, brincar deve se constituir em atividade permanente e sua constância dependerá dos interesses que as crianças apresentam nas diferentes faixas etárias‖. (BRASIL, 1998, p. 50). No ambiente escolar os jogos precisam ser estimulados e seu tempo de aplicação projetado com intuito de desafiar, oportunizar a expressividade, autonomia, imaginação, e demais aspectos desenvolvidos com o mesmo. Na educação infantil o professor precisa conhecer seus alunos e o grau de dificuldade da sala de aula antes de dispor uma brincadeira, afinal, somente através dessa verificação inicial será possível analisar se o jogo a ser aplicado está coerente com a cultura da criança e se essa atividade causa interesse e motivação. Por meio dessas observações o mediador buscará envolver os educandos para alcançar os objetivos almejados com a aula. Esta percepção da função do ensino infantil como espaço no qual o lúdico é incorporado ao cotidiano pedagógico deve acontecer através de recursos e metodologias que objetivam um aprendizado. As brincadeiras são qualitativas somente quando os benefícios e habilidades oferecidos e desenvolvidos através da atividade não são impostos de forma a tornar o ato de brincar uma obrigação com cobranças de resultados, mas sim, quando é aceito de forma natural pelas crianças, e não apenas como uma ação didática pedagógica dirigida, pois estas geralmente restringem a aprendizagem 25 causando uma diminuição na autonomia, criatividade, aperfeiçoamento cultural e por consequência dificultam a capacidade de alcançar as habilidades essenciais para o desenvolvimento físico, motor, cognitivo, social e afetivo. É indispensável salientar que algumas escolas não oportunizam um espaço para o lúdico acontecer de forma independente, espontânea e prazerosa, devido às exigências de parte da sociedade com relação aos conteúdos estruturados com base na alfabetização, pois muitos pais e até mesmo educadores, acreditam que o lúdico interfere negativamente no aprendizado, devendo haver uma separação entre essas duas ações. Portanto é importante que a sociedade compreenda que as brincadeiras são fundamentais para o amadurecimento de algumas áreas. Para que a prática da brincadeira se torne uma realidade na escola, é preciso mudar a visão dos estabelecimentos a respeito dessa ação e a maneira como entendem o currículo. Isso demanda uma transformação que necessita de um corpo docente capacitado adequadamente instruído para refletir e alterar suas práticas. Envolve, para tanto, uma mudança de postura e disposição para muito trabalho. (CARNEIRO, DODGE, 2007, p.91). Mediante essa concepção, uma escola que aplica uma prática pedagógica almejando o crescimento e preparação das habilidades dos alunos, deverá ser constituída com um espaço estimulador que coloca em ênfase as brincadeiras como recurso de aprendizagem, e assim, irá preparar a criança em seu desenvolvimento humano, e consequentemente ajudará na formação cultural e de valores, permitindo sua adaptação a diversos contextos sociais. 26 CAPÍTULO II O BRINCAR LIVRE E O BRINCAR DIRIGIDO 2. A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL COMO ESPAÇO ESTIMULADOR DOS JOGOS E BRINCADEIRAS Figura 2: Crianças Fonte: http://educacaoinfantil.loveblog.com.br/526685/A- Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem. (ANDRADE apud BARROS, 2009, p. 15). 27 2.1 A evolução da educação infantil na busca da construção social da criança. Desde os primórdios até os dias atuais a educação infantil está passando por diversas alterações em suas práticas educativas e conceitos básicos. Diante essas mudanças e melhorias, as maiores dificuldades estão em sua consolidação como um direito básico da criança, e o uso de propostas pedagógicas que considere as atividades educativas uma ação proposital na ampliação de diversos requisitos necessários à colocação da criança no mundo atual, ampliando seu universo cultural, valorizando sua identidade pessoal e social, e propiciando ao mediador observar e reconhecer os interesses e conhecimentos prévios intrínsecos e singulares a cada educando. Devido a essas modificações surgiram diferentes modelos educacionais, e a educação antes do nível fundamental evoluiu da conhecida ―educação pré- escolar‖, especificada por ser o atendimento a criança que estava fora do ambiente familiar mais ainda não apresentava a faixa etária adequada para frequentar a escola, para a educação infantil, nível de ensino que faz parte da educação básica. Essas mudanças propiciaram a compreensão de que as creches, pré-escolas e instituições equivalentes possuem um caráter educativo e não assistencialista. Como diz a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996, p.25, 26). É indispensável compreender que para chegar a essa concepção de que a infância deve ser compreendida como princípio primordial à educação voltada à cidadania, as revoluções foram lentas e dificultosas, pois almejava a valorização dessa etapa como artifício de aprendizagem, na qual ao mesmo tempo em que a criança modifica seu meio ela também é alterada por ele, e no ensino infantil há uma amplitude nas oportunidades desafiadoras que propiciam o desenvolvimento de requisitos necessários à formação global da criança. Tanto no Brasil como em outros países, a história dos sistemas pedagógicos pré-escolares revela o aparecimento da infância enquanto categoria social diferenciadodo adulto em função de sua 28 brincadeira ou daquilo que Chamboredon (1986) denominou ―ofício de crianças‖ (WAJSKOP, 2007, p.22). Dentre tantas mudanças, a essencialidade do lúdico no qual o prazer pelo brincar proporciona um aprendizado simultâneo ao ato, tornou-se objeto de estudo e pesquisa. A inserção de brinquedos no ensino existe desde antigamente, sendo Platão e Aristóteles alguns dos pioneiros no uso dessa metodologia. Reiterando a ideia de Kishimoto (2000), Platão acreditava que aprender brincando era adequado por ser ato oposto à opressão e violência. Já Aristóteles visualizava esse método como forma de preparo a vida futura Outros pensadores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel e Montessori estabeleceram base de ensino focado na criança. Oliveira (2008) descreve como acontecia a educação por parte desses pensadores, relatando que Comênio (1592-1670) educava crianças menores de seis anos com um plano de escola maternal, na qual percepções sensoriais provinda de experiências seriam internalizadas e posteriormente interpretadas pela razão. Para atingir seu objetivo usava materiais audiovisuais e defendia bons recursos materiais, organização de tempo e espaço, e exploração do brincar como educação pelos sentidos, sempre agindo de acordo com cada faixa etária. A proposta educacional de Rousseau (1712-1778) afirmava que a infância não era somente um acesso a vida adulta, mas que deveria ser valorizada em si, por meio de uma autoeducação, voltada a liberdade, curiosidade, experiência, emoção, obedecendo ao ritmo natural e ao livre exercício das capacidades infantis. Pestalozzi (1746-1827) propunha um ensino por meio da afetividade, sentidos, intuição, treinando vontades e atitudes morais, ou seja, agindo contra o excesso de intelectualismo presente na educação tradicional. Concomitante ao pensamento e propostas educacionais que surgiram nesse período, houve também uma valorização do brinquedo e brincadeiras infantis como objeto sensorial almejando ao aprendizado. Com base na ideia de Pestalozzi, Froebel (1782-1852) também apresentava uma proposta educacional por meio da intuição, espontaneidade infantil com atividades de jogo e cooperação para alcançar a origem da atividade mental. As teorias desses autores foram apropriadas e defendidas como modelos pedagógicos, e no decorrer do século XX demais estudiosos 29 aprofundaram-se contribuindo para o fim da escola tradicionalista. Entre esses estudiosos destaca-se Drecoly (1871-1932), médico, que propunha atividades didáticas voltadas ao intelecto, no qual a criança deveria explorar objetos de forma concreta e em seu todo, colocando como eixos principais a observação, associação e expressão. Montessori (1879-1952), médica psiquiátrica, tinha uma proposta contrária a de Rousseau não aceitando a autoeducação como desenvolvimento infantil. Sua pedagogia era voltada ao objeto que permitia a brincadeira e não ao ato de brincar, elaborando materiais adequados a exploração sensorial e compreendendo o mediador como preparador do ambiente e observador das atividades infantis. À frente de tantas propostas e práticas pedagógicas, Freinet (1896-1966) renovou defendendo uma educação que fosse além da sala de aula, integrando as experiências vivenciadas no meio social e oferecendo atividades cooperativas. Oliveira (2008, p.77) cita ―A seu ver, as atividades manuais e intelectuais permitem a formação de uma disciplina pessoal e a criação do trabalho-jogo, que associa atividade e prazer e é por ele encarado como eixo central de uma escola popular‖. A partir do pensamento desses grandes nomes dentro da pedagogia e suas concepções fora do contexto tradicionalista, originou uma renovação do ensino na Europa com o movimento Escola Nova. Este chegou ao Brasil por influência americana e europeia, trazendo um novo entendimento de infância e educação infantil, pois por meio dessa nova visão a criança passou a ser designada como sujeito ativo, deixando de ser compreendida como um indivíduo ―vazio‖, no qual seria necessário preencher a mente com dados e informações que posteriormente seria aprendido, acumulado, fixado e por fim rearranjado quando conteúdos mais complexos aparecessem formando assim o conhecimento. À espera de que a criança se torne adulta e se insira no sistema de produção do qual foi excluída gradativamente no decorrer da história do capitalismo, a ela é designado um ofício próprio nas instituições de educação infantil, transformando a pré escola em uma ―espécie de grande brinquedo educativo‖ (WAJSKOP, 2007, p. 22). Entretanto, por meio dessa nova concepção, o conceito de educação de crianças propiciou a elaboração de novos jardins de infância e cursos para formação de professores. Estas instituições eram responsáveis por atender 30 uma camada social financeiramente privilegiada, deixando as camadas populares sem atendimento. Esse contexto começou a ser modificado devido ao crescimento da população nos centros urbanos e industriais, pois com o aumento da mão de obra nas industrias a creche tornou-se essencial para acolher as crianças fora da idade escolar enquanto seus pais trabalhavam. Porém esse modelo de creche tinha seu objetivo voltado ao assistencialismo, não valorizando uma orientação voltada à educação e desenvolvimento geral do educando. Após muitas ações voltadas à educação brasileira foi sancionada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional aprovada em 1961 (Lei 4024/61) que incluía o jardim de infância no sistema de ensino e informava que a criança menor de sete anos deveria ser atendida por jardim de infância ou escola maternal. Em 1971 essa lei foi alterada, passando a valer o texto da Lei 5692/71, que propunha a educação infantil também ministrada em instituições equivalentes ao jardim da infância, criando também uma ―educação compensatória‖ com a proposta de preparar para a alfabetização. Em 1988 com a elaboração da Constituição Federal as creches e pré- escolas foram reconhecidas como direito de todos e dever do estado, com intuito de atender a todas as camadas da população brasileira. Na década de 90 foi promulgado o Estatuto da Criança e Adolescente, concretizando os direitos adquiridos pela constituição e almejando a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que dentre suas modificações defenderia um novo modelo de educação infantil. Concretizada em 1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) propôs a educação infantil como etapa da educação básica. Já em 2005, a Lei Federal 11.114/05 determinou que a educação infantil acomodasse a faixa etária de 0 a 5 anos, devendo a criança ser devidamente matriculada no ensino fundamental com seis anos de idade e tornando esse, um ensino de nove anos, isto é, o novo texto altera o anterior diminuindo um ano na Educação Infantil e aumentando um ano no ensino fundamental. Em consequência dos avanços da educação e com a formulação dos Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil (RCNEI, 1998) a preocupação das instituições de ensino relacionada à infância passou a ser 31 com a formulação de um currículo voltado ao desenvolvimento e formação integral do indivíduo, tornando prioridade na faixa etária de 3 a 4 anos o uso de brincadeiras, brinquedos e jogos diversos para a construção social e aquisição de novos conhecimentos, habilidades e aprendizagens. 2.2 Os ambientes escolares e suas propostas pedagógicas As instituições educativas auxiliam na promoção do crescimento, maturação e desenvolvimento saudável da criança, obtendo uma evolução de atitudes e procedimentos que estendem às necessidades pessoais que se encontram constantes durante sua permanência no ambiente escolar, entre elas há o afeto, a alimentação, integridade corporal e psíquica, bem como a segurançae confiança (BRASIL, 1998). Na educação infantil a escola deve ser um recinto desafiador no qual os jogos e brincadeiras são estimulados constantemente. A tendência é constituir um local com espaços para o desenvolvimento de atividades diversas, como correr, fantasiar-se, ouvir histórias, entre outras, sendo essencial assegurar um contato direto com objetos que vão incentivar a curiosidade do educando, chamando e mantendo sua atenção, bem como promovendo suas habilidades e dificuldades. Portanto, os espaços e ambientes das instituições de educação infantil devem ser organizados para atender as necessidades de cada faixa etária, devendo ser amplos, passíveis de reorganização, de fácil acesso e diferenciados, permitindo assim a assimilação por parte das crianças da função e atividades a serem desenvolvidas nos mesmos. Os vários momentos do dia que demandam mais espaço livre para movimentações corporais ou ambientes para aconchego e/ou para maior concentração, ou ainda, atividades de cuidados implicam, também, planejar, organizar e mudar constantemente os espaços (BRASIL, 1998, p. 68). Nessa perspectiva, os ambientes nas pré-escolas, creches e instituições equivalentes são compostos de múltiplos recursos e possibilidades de explorações e vivências, ampliando as sensações e percepções. Os objetos e brinquedos constantes nos espaços escolares devem ser organizados e planejados pelo educador, além de estar dispostos de forma acessível à 32 criança, pois por meio deles os alunos irão conhecer suas características físicas, funções e designar aos mesmos, novos significados durante as brincadeiras, estimulando assim a criatividade e imaginação. O novo contexto educacional dos dias atuais requer uma educação infantil com estruturas curriculares flexíveis e abertas, na qual a proposta pedagógica da instituição de ensino que busca a formação integral da criança deverá priorizar o desenvolvimento de requisitos essenciais como a motricidade, imaginação, raciocínio e linguagem, além de atender as necessidades básicas do indivíduo, propiciando a construção de sua identidade e autonomia. Na faixa etária de 3 a 4 anos considera-se indispensável que as instituições educativas contemplem em suas propostas a busca pela expansão de aspectos biológicos, físico-motores, cognitivo, afetivo e emocional, de orientação espacial, temporal, ritmo, coordenação visomotora e linguagem, constituindo a ação de brincar como principal atividade para alcançar as metas almejadas. É fundamental que dentre as características imprescindível a uma proposta eficaz, as escolas proponham rotinas adequadas às necessidades dos alunos e ao ritmo de cada faixa etária, pois além de viabilizar a organização das atividades por parte do mediador, elas também possibilitam ao aluno a construção de um esquema temporal. Considerada como um instrumento de dinamização da aprendizagem, facilitador das percepções infantis sobre o tempo e o espaço, uma rotina clara e compreensível para as crianças é fator de segurança. A rotina pode orientar as ações das crianças, assim como dos professores, possibilitando a antecipação das situações que irão acontecer (BRASIL, 1998, p. 73). Apesar de as brincadeiras povoarem o universo infantil sendo foco em todos os ambientes, seu uso como aspecto primordial às crianças de 3 a 4 anos irá contribuir para a apropriação de sua imagem, meio cultural, espaço, relações pessoais, além de dar ênfase à aquisição de conhecimentos e aprendizados, ou seja, por meio do brincar a escola será transformada em um ambiente que une a formação pessoal com o conhecimento de mundo na busca de um ensino de qualidade, devendo sua equipe profissional estar em constante aperfeiçoamento, pois somente com a apropriação da essencialidade de um brincar bem planejado que a atividade atenderá aos requisitos básicos. 33 2.3 O professor e o lúdico, estimulando e monitorando brincadeiras. O brincar está presente no dia a dia das crianças, e nas creches e pré- escolas é fator indispensável quando se trata de aprendizagem. No entanto, algumas dúvidas ainda permeiam esse ambiente, pois muitos educadores e pais buscam compreender até que circunstância os jogos e brincadeiras desenvolvem habilidades e aprendizados, quais os estímulos estão disponíveis através dos objetos e espaços dispostos para o lúdico, que valores, hábitos e atitudes são transferidos pelos professores nos jogos, bem como de que forma o mediador deve estimular e monitorar brincadeiras a fim de favorecer a aquisição de requisitos necessários ao progresso intrínseco dos alunos. Brincar exige das crianças formas complexas de relacionamento com o mundo e por consequência cria nas mesmas uma apropriação de signos sociais, pois as funções cognitivas estão interligadas às competências adquiridas com a ação da brincadeira e do jogo. Por meio dessa ação são exercitadas as capacidades nascentes como as de representar o mundo, distinguir pessoas, características de objetos e seu funcionamento, elementos da natureza e elementos sociais. O brincar incentiva o aperfeiçoamento humano por meio de diferentes dimensões. No desenvolvimento da linguagem as brincadeiras promovem a comunicação de pensamentos e sentimentos, no desenvolvimento moral surge um processo de construção de regras, no cognitivo oportuniza um crescimento de informações que por consequência desencadeia novas situações, no desenvolvimento afetivo facilitando a expressão de seus afetos e emoções, e por fim, no físico-motor explora o corpo, espaço, interagindo integralmente no meio inserido. Com base nessas dimensões as brincadeiras devem ser propagadas através de um jogo espontâneo também conhecido como livre ou por meio do jogo dirigido. O jogo simbólico é o principal possibilitador da capacidade distintiva entre a função real e a figurada concedida ao objeto. Através do faz de conta, afeto, memória, criatividade, motricidade, linguagem, percepção e representação são aperfeiçoados. Segundo Santos (apud CRAIDY E GLÁDIS, 2001, p.89) ―o jogo espontâneo infantil possui, portanto, dois aspectos interessantes e simples a serem observados: o prazer e, ao mesmo tempo, a 34 atitude de seriedade com que a criança se dedica à brincadeira‖, ou seja, a expressão é base da dramatização, e essa capacidade não é inata, ela surge no momento em que a criança torna-se capaz de imaginar, induzindo a partir de então, as demais linguagens e formas de comunicação. Portanto quando brinca ela satisfaz seus anseios e ao mesmo tempo desenvolve suas habilidades e capacidades. A faixa etária de 3 a 4 anos é a de maior complexidade nesse tipo de jogo espontâneo, considerado como o brincar livre, exige que professores e mediadores disponibilizem espaço e objetos diversos organizados para satisfazer os anseios das crianças. Nessa fase o indivíduo se dedica muito a esses momentos, elaborando detalhes, monólogos, assumindo papéis e compensando seus desejos que não são possíveis de alcançar. Esse é um período de compensação e liquidação, pois o primeiro acontece devido às limitações do indivíduo e de suas incapacidades físicas, motoras e intelectuais na realização de algumas atividades. Muitas são próprias de adultos e as crianças estão impossibilitadas de realizar, porém almejam fazer e para saciar seu desejo utilizam o jogo simbólico e as representações viabilizadas por meio do mesmo. Seu uso como forma de liquidação permite ao indivíduo superar seus traumas, medos e demais circunstâncias desagradáveis, pois ao fantasiar encenando um personagem que vivencia essas situações, seus receios são removidos. A criança quando usa o faz de conta amplia suas concepções sobre pessoas, regras, valores, objetos, enriquecendo sua forma de ser, agir, pensar, vivenciando ao desempenhar papéis sociais a absorção de sentimentos e emoções variadas.Diversos brinquedos propiciam o faz de conta, contudo, os mesmos aperfeiçoam concomitantemente outras habilidades e aprendizagens. Para crianças de 3 a 4 anos, alguns brinquedos são aliados na interiorização desses requisitos para formação individual. Segundo relato de Zatz (2007) em um de seus livros, uma série de brinquedos proporcionam imaginação, prazer, interesse e motivação na criança dessa faixa etária. Entre eles estão carrinhos e demais réplicas de meios de transportes que contribuem para o desenvolvimento motor, bonecos para despertar afetividade, e autoestima, miniaturas representando o mundo e ampliando conhecimentos e vocabulário, blocos de montar e cenários propiciando papel de construtor, 35 organizando o espaço e desenvolvendo coordenação motora, jogos de sociedade e habilidade estabelecendo regras, motricidade e interação pessoal, brinquedos de praia e mobiliário enriquecendo o faz de conta, atividades esportivas para o desenvolvimento físico e motor, além das demais atividades criativas que proporcionam experiências, motivam descobertas e estimulam a sensibilidade da criança. O adulto, sendo ele, pais, professores e demais responsáveis pela criança, desenvolve um papel decisivo nas brincadeiras realizadas por elas, pois além da responsabilidade em dispor um espaço adequado aos diferentes jogos, disponibilizar objetos acessíveis e compatíveis à faixa etária atendida, eles também podem participar e por muitas vezes auxiliar no desenrolar das atividades lúdicas. Durante estas atividades os professores possuem as funções de observador, intervindo apenas na garantia da segurança, autonomia e participação de todos, catalisador, usando da observação durante as brincadeiras para compreender as necessidades e desejos implícitos na realização dos jogos e finalmente, participante ativo atuando durante o brincar nas relações e situações provenientes das mesmas. O educador quando age como mediador dirigindo jogos coloca condições e regras a serem cumpridas usando como ferramenta a troca pedagógica de conhecimentos com o aluno. Dirigir ou monitorar uma atividade exige que o docente conheça a brincadeira e suas regras, que ele tenha objetivos pré-definidos a serem alcançado pelos alunos com a realização da mesma, além de planejamento, comprometimento e dedicação. Moyles relata (2002, p. 33) ―por meio do brincar dirigido, as crianças têm outra dimensão e uma nova variedade de possibilidades estendendo-se a um relativo domínio dentro daquela área ou atividade‖. Nos jogos dirigidos e na observação do mediador com a aplicação do mesmo, a criança aprimora aptidões específicas como a percepção, atenção, concentração, identificação de comando, sociabilização, entre outros. Contudo cabe ao professor conhecer o interesse de seus alunos para então proporcionar e dirigir um jogo atrativo e que causará prazer e motivação, pois através do entusiasmo e euforia ao realizar a atividade proposta que o individuo é estimulado a participar integralmente, facilitando e promovendo as 36 competências que o brincar proporciona, atingindo assim um ensino aprendizagem qualitativo. Através das diversas atividades disponibilizadas dentro do ambiente escolar, os diferentes valores humanos começam a ser construído nas crianças, sendo de grande importância trabalhar os aspectos relacionados à moral, ética, afetividade, respeito mútuo, solidariedade, cooperação, perseverança, entre outros, auxiliando de forma qualitativa na formação do indivíduo, com objetivo de preparar cidadãos críticos, reflexivos e participativos. A aquisição de valores acontece de forma contínua sendo característico da evolução e formação humana, configurando-se pela maior ou menor importância, valorizando mais uma coisa em relação à outra. Os valores humanos são internalizados por meio da socialização e experiências vivenciadas ao longo da vida. Quando criança, o indivíduo, está em construção de sua personalidade, e a principal influência sobre ele provêm do adulto e de outras crianças que funcionam como modelos quando possuem atitudes admiradas pelo sujeito em formação. [...] é principalmente ao longo da infância e durante a adolescência que as crianças e os jovens consolidam seu esquema fundamental de valores, quando passam de uma moral heterônoma, segundo a qual são guiados pelas opiniões e normas dos mais velhos (pais, educadores, treinadores) a uma moral autônoma, regida pela opinião própria, processo que, segundo Kohlberg (1969), acontece de forma paralela ao desenvolvimento do juízo moral. (SANMARTÍN, 2005, p. 51). Reiterando a ideia de Mukhina (1996) a personalidade da criança passa pelo processo de compreensão do mundo e sua ocupação no mesmo, e pelo desenvolvimento dos sentimentos. Portanto, com uso de jogos é possível expandir o desenvolvimento de valores sociais e individuais. Jogar é ideal para uma aprendizagem social por envolver situações diversas que exigem atitudes e comportamentos regrados, com tomadas de decisões, espírito cooperativo, competitivo e participativo, sendo a educação infantil um meio essencial para proporcionar essas situações que consequentemente farão parte da formação dos valores e atitudes do indivíduo. 37 CAPÍTULO III PESQUISA QUALITATIVA Figura 3: Pesquisa qualitativa e quantitativa Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfs3kAE/pesquisa-qualitativa-quantitativa Para a visão calma e agradável daquele que realmente conhece a Natureza Humana, a brincadeira espontânea da criança revela o futuro da vida interior do homem. As brincadeiras da criança são as folhas germinais de toda a vida futura; pois o homem todo é desenvolvido e mostrado nela, em suas disposições mais carinhosas, em suas tendências mais interiores. (FROEBEL apud ZATZ, 2007, p. 5). http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfs3kAE/pesquisa-qualitativa-quantitativa 38 3. INTRODUÇÃO Nessa pesquisa realizou-se a apreciação com 10 pais de crianças que estão regularmente matriculadas em creches e pré-escolas, públicas e privadas, sendo todas na faixa etária de 03 a 04 anos e integrantes de diferentes classes sociais. Na pesquisa realizada com professores, foram analisadas as opiniões de 10 educadores da rede municipal de ensino de Lins e instituições particulares, todos atuando na educação infantil. 3.1 Análise qualitativa com pais A primeira pergunta da pesquisa direcionada aos pais objetivou a opinião sobre a importância do brincar e sua presença na escola de educação infantil. Todos os pais consideram as brincadeiras importantes, no entanto, grande parte não acredita que sua influência nas instituições de ensino propicia a aprendizagem, supondo ser necessário ―estudar‖ para aprender. Outros admitem sua importância para o desenvolvimento e aprendizagem. Figura 4: resposta da pergunta nº 1 dos pais Fonte: elaborada pelo pesquisador A segunda questão levantada foi relacionada ao espaço que as escolas dispõem para a realização das brincadeiras. As respostas obtidas divergiram 39 entre adequados em sua totalidade; adequados, porém precisa de reformas e brinquedos, e por fim, houve uma parte dos pais que considera inadequado, pequeno e com brinquedos mal conservados. Figura 5: resposta da pergunta nº 2 dos pais Fonte: elaborada pelo pesquisador Durante a análise qualitativa, perguntou-se aos pais se preferem que seus filhos realizem mais atividades em folhas ou brinquem durante o período que permanecem na escola. As respostas foram equilibradas e opostas, pois grande parte acredita que brincar é essencial, pois o desenvolvimento por meio das brincadeiras é completo quanto aos requisitos primordiais à formação do indivíduo. Outra parte dos pais acredita ser fundamental o uso de atividades em folha para o aprendizado e minoria da população pesquisada mostra quedeve haver um equilíbrio no uso desses dois recursos em sala. Figura 6: resposta da pergunta nº 3 dos pais Fonte: elaborada pelo pesquisador 40 Na quarta pergunta feita aos pais, o assunto debatido foi sobre as brincadeiras realizadas na escola e se as crianças comentam as mais aplicadas e quais gostam mais. A maioria dos pais disse que as principais citadas são as realizadas no parque, com uso de bola, brinquedos diversos e brincadeiras tradicionais. Uma parcela informou que seus filhos falam a respeito das atividades em folhas e músicas, e por fim, outra parte informou que as crianças não relatam de que forma o brincar acontece. Figura 7: resposta da pergunta nº 4 dos pais Fonte: elaborada pelo pesquisador Na análise qualitativa em sua quinta pergunta o assunto debatido foi relacionado aos brinquedos que os pais disponibilizam a seus filhos. Para obter as respostas foi questionado se os pais compravam os que as crianças pediam ou os que a mídia apresentava. As respostas foram equilibradas em sua maioria, no entanto, uma grande parcela da população informou que os brinquedos desejados pelas crianças são os que a mídia apresenta, deixando explicita a influência da televisão perante os brinquedos e brincadeiras nos dias atuais, cabendo aos pais e responsáveis observar e conhecer os programas assistidos pelo público infantil, pois a formação do caráter, valores, e atitudes são transmitidas através da observação de situações apresentadas, inclusive nas atrações assistidas. Esse universo de fantasias apresentado por meio da televisão envolve a criança, e esta, posteriormente, coloca em prática a experiência observada 41 quando entra em contato com determinados objetos e brinquedos, portanto nos dias atuais o brinquedo e televisão andam juntos, sendo um, influência do outro. Outras respostas foram dadas de forma harmônica, sendo elas, o que eles pedem desde adequados a faixa etária; não compro; e por fim, brinquedos que desenvolvem a aprendizagem. Figura 8: resposta da pergunta nº 5 dos pais Fonte: elaborada pelo pesquisador A pergunta número seis tinha como objetivo saber se os pais conhecem a importância do brincar e sabem especificá-las. No entanto, as respostas não surgiram conforme o desejado. Poucos pais explicaram qual era a importância para o desenvolvimento dos requisitos necessários a formação do indivíduo, alguns responderam apenas que conhece a importância, outros disseram que brincar é bom para o corpo e para o aprendizado da contação numérica, uma minoria não acredita que auxilia na aprendizagem, e a maior parte diz que a criança aprende sem perceber através das brincadeiras. Portanto, em nenhuma das respostas especificou-se quais as áreas que o ato de brincar desenvolve, deixando exposto que muitos pais e responsáveis possuem dificuldade em assimilar a ação do lúdico na aprendizagem, fato que interfere na percepção das brincadeiras como parte de um processo de desenvolvimento e instrumento eficaz para conhecimento, contextualização, significação, interpretação do mundo, apropriação da cultura, de regras de 42 convívio, entre outras, que são fundamentais para desenvolvimento integral do indivíduo. Figura 9: resposta da pergunta nº 6 dos pais Fonte: elaborada pelo pesquisador Na sétima e última pergunta direcionada aos pais, foi questionada a relação com os filhos durante as brincadeiras. Perguntou-se aos responsáveis se costumam brincar com seus filhos ou apenas dispõem brinquedos para que brinquem sozinhos, caso brinquem, quais seriam as brincadeiras preferidas. As respostas novamente aconteceram de forma equiparada, expondo que muitos pais e responsáveis não deixaram claro os tipos de brincadeiras, acarretando uma ideia de que esses momentos lúdicos são defasados. As respostas foram: sim, de brinquedos diversos; sim, de escolinhas; raramente brinca com a criança; e por fim, assistem a filmes e desenhos. Figura 10: resposta da pergunta nº 7 dos pais Fonte: elaborada pelo pesquisador 43 3.2 Análise qualitativa com professores Na análise realizada com 10 professores de educação infantil da rede pública e particular de Lins objetivou-se verificar a prática das brincadeiras e jogos no contexto escolar, bem como o conhecimento sobre sua importância no cotidiano por parte dos educadores. Foram anexados alguns relatos dos mediadores com intuito de auxiliar no entendimento e reflexão sobre suas respostas. A primeira indagação propôs aos educadores especificar suas compreensões relacionadas ao brincar, diferenciando o brincar dirigido, livre e a recreação. Durante a infância é essencial o uso de brincadeiras nos diversos contextos sociais da criança, pois o brincar em suas diferentes formas, amplia as habilidades e competências essenciais. Nas instituições de ensino cabe ao educador compreender a necessidade de usar as atividades lúdicas adequadamente para alcançar os objetivos almejados. Segundo Debortoli (2005) a recreação pode ser considerada uma das funções da brincadeira por acontecer quando um ambiente, objetos dispostos, ou uma situação, estimula espontaneamente o interesse da criança. Reiterando sua análise, a brincadeira livre também não deve ser considerada uma situação na qual há uma ausência de intervenção por parte dos professores, mas sim uma interação adequada que propiciará a construção da autonomia do educando, diferenciando do brincar dirigido, pois neste, o mediador não precisa participar ativamente, pois sua principal função será conduzir as brincadeiras, ensinando suas regras, normas e metodologias. Percebe-se que há diferentes concepções sobre as brincadeiras por parte dos docentes, pois as respostas dadas foram: a brincadeira faz parte da vida e da evolução humana; brincar é se sentir livre; é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e autonomia; brincar é o ato de se entreter, divertir, distrair de maneira espontânea ativando habilidades e aprendizados; brincar é todo ato que o indivíduo se solta e sente prazer mesmo seguindo regras; brincar é compartilhar momentos, expressar sentimento e se divertir. Algumas de suas falas foram 44 -Brincar é todo o ato em que o indivíduo se solta, extravasa, pode ser o que quiser, segue regras, mas sente prazer nisso. -Brincar é um ato de se entreter e distrair-se, uma ação espontânea que ativa as habilidades e desenvolve a criatividade. Figura 11: resposta da pergunta nº 1 (a) dos professores Fonte: elaborada pelo pesquisador Com relação ao brincar dirigido as respostas seguiram uma mesma linha de raciocínio, expondo que alguns educadores acreditam haver formas adequadas para se brincar e que a criança precisa ser ensinada, caso contrário a brincadeira não acontece adequadamente, ou seja, no brincar dirigido os mediadores valorizam mais o ato de ―ensinar a brincaderia‖ com suas normas e regras. A minoria acredita que o brincar dirigido refere-se à atividade utilizada para fins de aprendizagem, e a maioria cita que no brincar dirigido o professor conduz e visa um objetivo individual ou coletivo a ser alcançado. Os relatos foram: -O brincar dirigido refere-se à atividade lúdica que é utilizada para fins de aprendizagem, proporcionando o exercício da imaginação, criatividade, agilidade de movimento e raciocínio. -Brincadeira dirigida é aquela que o professor orienta os alunos e na brincadeira há um objetivo específico oportunizando a interação e o desenvolvimento de habilidades. 45 Figura 12: resposta da pergunta nº 1 (b) dos professores Fonte: elaborada pelo pesquisador Houve uma amplitude nas concepções relacionadas ao brincar livre. Os resultados das respostam evidenciaram a valorização da autonomia da criança na escolhas e contrução das brincadeiras, sendo importante para a formação
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