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MONOGRAFIA SERVIÇO SOCIAL

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FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
AS MUDANÇAS AFETIVAS E A ESTRATÉGIA DE RESILIÊNCIA ENTRE MULHERES ENCARCERADAS NO CONJUNTO PENAL DE FEIRA DE SANTANA, 
RESUMO 
 A vida de uma mulher no cárcere ocasiona consequências diversas, sendo uma delas, a perda ou fragilização das relações familiares. Devido a sua natureza emocional, a mulher tende a passar por momentos muitos mais delicados que o homem. Esta pesquisa foi realizada no conjunto penal de Feira de Santana com o tema As mudanças afetivas e a estratégia de resiliência entre mulheres encarceradas tratando justamente como elas lidam com o afastamento de seus laços afetivos e como se valem da resiliência para suportar a situação de cárcere. Obteve como objetivo geral: analisar as principais mudanças na vida afetiva de mulheres encarceradas no conjunto penal de Feira de Santana e as estratégias de resiliência por elas empreendidas e objetivos específico estabelecer uma caracterização sócio-demográfica do sujeito de estudo; identificar as principais mudanças na vida afetiva das mulheres encarceradas e conhecer as estratégias utilizadas pelas apenadas para suportar a situação do cárcere e as expectativas sobre a saída. O referencial teórico foi contemplado com autores que abordam o cárcere feminino em suas múltiplas vertentes, desde a trajetória histórica da prisão, a mulher, gênero e criminalidade, as mudanças afetivas e as estratégias de resiliência. O estudo pautou-se em uma pesquisa de campo de natureza descritiva e abordagem qualitativa, sendo aplicada entrevista semiestruturada, considerando os princípios éticos que normatizam pesquisas envolvendo seres humanos, bem como as orientações específicas do Código de Ética do/da Assistente Sociais. Para a análise e discussão dos resultados, foi utilizada a técnica da análise de conteúdo que permite a leitura exaustiva, unidades de significação e sentidos atribuídos às mulheres em situação de cárcere pela existência de um diálogo de tristeza por conta da fragmentação de vínculos deixados para traz. No que se refere à vivencia do cárcere feminino, foi igualmente possível reconhecer os problemas emocionais consequente do aprisionamento e a importância terapêutica que deve ser dada a essa mulher pelo afastamento dos seus laços afetivos.
Palavras-Chave: Mulher, Cárcere, Mudanças Afetiva.
RESUMEN
La vida de una mujer en la cárcel hace varias consecuencias, una de las cuales, la. Pérdida o debilitamiento de las relaciones familiares. Debido a su naturaleza emocional, las mujeres tienden a pasar por muchas veces más sensibles que los hombres. Esta investigación se llevó a cabo en conjunción criminal Feira de Santana con el tema cambia y la estrategia afectiva de la resiliencia de las mujeres encarceladas que tratan del mismo modo que lidiar con la eliminación de los vínculos emocionales y la forma de aplicar la resistencia para soportar la situación en la cárcel. Se obtuvo como objetivo general: analizar los principales cambios en la vida afectiva de las mujeres encarceladas en conjunto penal de Feira de Santana y estrategias de resistencia llevadas a cabo por ellos para establecer metas específicas y un estudio socio-demográfico del tema, identificar los cambios importantes en la vida afectivo mujeres encarceladas y conocer las estrategias utilizadas por apenadas para apoyar la situación de las cárceles y las expectativas sobre el resultado. El marco teórico se adjudicó autores que se acercan a la cárcel de mujeres en sus múltiples facetas, desde la trayectoria histórica de la cárcel, las mujeres, el sexo y el crimen, las estrategias de cambios afectivos y la resistencia. El estudio se basó en un estudio de campo de enfoque descriptivo y cualitativo que se aplica entrevista semi-estructurada, teniendo en cuenta los principios éticos que regulan la investigación con seres humanos, así como las directrices específicas del Código de Ética / Asistente Social. Para el análisis y discusión de los resultados, se utilizó la técnica de análisis de contenido que permite una lectura exhaustiva, las unidades de sentido y significados atribuidos a las mujeres en situación de cárcel por la existencia de un diálogo de tristeza debido a la fragmentación de los bonos dejados trae . En cuanto a las experiencias de la cárcel de mujeres, también fue posible reconocer los problemas emocionales que resultan de prisión y la importancia terapéutica que se debe dar a la mujer por la lejanía de sus lazos emocionales.
Palabras clave: Mujeres, Cárcel, Cambios afectivos.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
	CLADEM
	Comitê Latino Americano para a Defesa dos Direitos da Mulher
	CNS
	Conselho Nacional de Saúde
	LEP
	Lei de Execução Penal
	TCLE
	Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO
	11
	2
	REFERENCIAL TEÓRICO
	16
	2.1
	HISTÓRICO DA PRISÃO
	17
	2.2
	A MULHER E A QUESTÃO DE GÊNERO
	21
	2.2.1
	A Mulher no Mundo da Criminalidade
	23
	2.3
	MUDANÇAS AFETIVAS ENTRE MULHERES ENCARCERADAS
	26
	2.3.1
	Importância da Resiliência
	29
	2.4
	SERVIÇO SOCIAL E O CÁRCERE
	32
	3
	METODOLOGIA
	35
	3.1
	TIPO DE ESTUDO 
	35
	3.2
	CAMPO DE ESTUDO
	36
	3.3
	SUJEITO DE ESTUDO
	37
	3.4
	TÉCNICA DE COLETA DE DADOS
	37
	3.4.1
	Instrumento de Coleta de Dados
	39
	3.5
	TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS
	39
	3.6
	ASPECTOS ÉTICOS
	40
	4
	ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
	42
	4.1
	CARACTERIZAÇÃO SÓCIODEMOGRÁFICA
	42
	4.2
	MUDANÇAS AFETIVAS ENTRE MULHERES ENCARCERADAS
	47
	4.3
	ESTRATÉGIAS DE RESILIÊNCIA UTILIZADAS PELAS DETENTAS PARA VIVÊNCIA NO CÁRCERE E AS EXPECTATIVAS APÓS ENCARCERAMENTO
	51
	5
	CONSIDERAÇÕES FINAIS
	55
	
	REFERÊNCIAS
	58
	
	APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
	65
	
	APÊNDICE B: ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
	67
1 INTRODUÇÃO
Na Universidade, o processo de ensino - aprendizagem é realizado de forma dinâmica e complementar para seu aprofundamento e qualidade. Por isso, houve uma época que as Instituições de ensino superior eram consideradas donas absolutas do saber. Atualmente, o conhecimento é produzido junto com a parte interessada, ou seja, a sociedade. 
O resultado dessa harmonia é um saber amplo e democrático, que neste contexto, se destaca a participação e o envolvimento dos sujeitos no processo investigativo, promovendo a coleta e análise de informações necessárias para aprofundar o conhecimento, mesmo que tenham níveis de formações diferenciados (CHIZZOTTI, 2006).
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as mudanças afetivas e as estratégias de resiliência entre mulheres encarceradas no Conjunto Penal do município de Feira de Santana, Bahia, com relevância para o campo acadêmico por ser um estudo ainda pouco debatido nesse espaço. Igualmente é relevante para o Serviço Social por este se pautar em uma abordagem interventiva, no sentido de, assegurar direitos vinculados à liberdade, preconceito e desigualdades sociais, visando assim, a transparência no discurso da importância da mulher como perspectiva de gênero e na condição de encarcerada.
Este estudo foi motivado, especialmente, pelo fato da questão da criminalidade feminina, ainda, ser pouco discutida, estando focado mais precisamente, na vulnerabilidade criminal que ela se encontra e a prevalência de problemas emocionais consequente do cárcere.
Com relação às mulheres que cometem crimes, segundo Frinhani e Souza (2005), no Brasil, os dados que tratam da criminalidade feminina são mínimos e pouco reveladores diante da real dimensão deste fenômeno social.
Ao discutir a criminalidade feminina, Soares e Ilgenfritz (2002), assinalam que a questão sempre foi permeada de estereótipos e noções de menos-valia da mulher. Desta forma, a criminalidade feminina continua a ser um tema pouco explorado e ainda não surgiram teorias alternativas consistentes para explicar a pequena participação da mulher nas estatísticas criminais e prisionais (FRINHANI; SOUZA, 2005).
Bastos (1997) citado por Frinhani (2004) aponta que as razões para a pequena importância dada à criminalidade feminina peloscriminólogos se devem entre outros fatores ao “forte preconceito que atribui pouco ou nenhum valor às manifestações de desajuste social da mulher” (p. 57).
Desde os tempos remotos a criminalidade é um tema que gera discussões polêmicas, por se tratar de um grave problema que preocupa toda sociedade. Os condenados, nos séculos anteriores ao XVIII, eram expostos ao massacre e execução pública (MINZON et al., 2010).
No Brasil, o cárcere teve seus contornos delineados na sociedade escravista brasileira do século XIX. As primeiras prisões fornecem relatos das condições de miséria que viviam os presos naquele momento, da inexistência de uma política de tratamento penal, do descaso com o local de cumprimento da pena e, já nessa época, dos problemas com a superlotação (SANTOS et al., 2012).
Com o fim da escravidão e o início da República, começa a se formar uma cultura voltada para as questões relacionadas ao modo de punir e com os locais destinados a custodiar os presos. Com o passar dos tempos, esta prisão passou a ser utilizada para prisões comuns, onde ficavam ladrões, escravos e ate mesmo mulheres (ROIG, 2005 apud SANTOS et al., 2012). 
Assim, o Brasil entrou no século XX com uma sociedade altamente estratificada, tanto social quanto racialmente. A elite educada passa a temer a violência e o perigo representados nos negros e mulatos, a quem retratavam como preguiçosos, indisciplinados e em permanente vagabundagem. Nesta concepção, o encarceramento deve ser pensado considerando os seus efeitos sobre aquele que foi etiquetado e rotulado como criminoso que, em sua maioria, são pessoas pertencentes aos mais baixos níveis sociais. O que sugere que há um processo de seleção de pessoas, dentro da população total, às quais se podem qualificar como criminosos (SANTOS et al., 2012).
A criminalidade vem crescendo significativamente e está presente em todos os lugares. Segundo Mello (2008), o crime geralmente é descrito como: 
um fenômeno complexo, pois há uma diversidade de teorias que explicam as causas, que abrangem fatores biológicos, ambientais, sociais, econômicos, psicológicos e psiquiátricos, consistindo em um problema de saúde pública mundial (p.13).
O Sistema Penitenciário Brasileiro, além de movido por indicadores de superlotação, segregação e perpetuação de criminalidade, vem passando por uma crise sem precedentes. Assim, mesmo sabendo que a função básica do cárcere não tem mudado ao longo dos tempos, e apesar do discurso da introdução de práticas educativas e psicoterápicas, é urgente pensar, por exemplo, em particularidades femininas na gestão prisional (SOARES; ILGENFRITZ, 2002 apud SANTOS et al., 2010).
O encarceramento de mulheres ocasiona consequências diversas, sendo uma delas, a perda ou fragilização das relações familiares, principalmente no que diz respeito a filhos e mães presas. 
Poucas mulheres em situação de privação de liberdade conseguem manter os vínculos familiares, a começar com a relação mãe-filho, que se torna distanciada a cada dia. Desta forma, a experiência de confinamento penal revela-se particularmente dramática para as mulheres, sendo mais frequentes as queixas de solidão, tristeza, abandono e revolta (OLIVEIRA, 2009).
Em se tratando de encarceramento feminino, devido a sua natureza emocional, a mulher tende a passar por momentos muitos mais delicados que o homem. Segundo Mello (2008), as mulheres apresentam maiores taxas de prevalência de transtornos de ansiedade e do humor, podendo ser explicada em partes, “pelos esteroides sexuais femininos principalmente o estrógeno que agem na modulação do humor” (ANDRADE; VIANA; SILVEIRA, 2006 apud MELLO, 2008, p.15).
Diante da temática do cárcere feminino e as estratégias utilizadas por elas para suportar as dificuldades vivencias em um presídio é que se verifica a importância da participação do/a Assistente Social nesta contextualização, já que, “o Serviço Social como uma especialização do trabalho coletivo, dentro da divisão social e técnica de trabalho, participa do processo de produção e reprodução das relações sociais” (IAMAMOTO, 2003, p.83). Desse modo, tem-se como contribuição a busca pela transformação no interior das relações sociais existentes no âmbito dos Complexos Penais (BRIGUENTI et al., 2010).
No espaço penitenciário, a atenção dada à mulher encarcerada é bem menor do que ao homem, fazendo com que problemas como a ressocialização, a convivência familiar e a luta por melhores condições de vida sejam mais difíceis de serem resolvidos. (SILVA; OLIVEIRA, 2010).
A partir de tais considerações, pelo motivo das pesquisadoras serem graduandas de Serviço Social, o estudo sobre o cárcere feminino é de suma importância no contexto profissional. Afinal, a participação do/a Assistente Social é extremamente necessária, como forma de garantir os direitos que as apenadas possuem. Portanto, esse profissional deve procurar fortalecer redes de sociabilidade, dando ênfase para as políticas sociais, e em especial, à proteção social (SILVA; OLIVEIRA, 2010).
A importância deste estudo está em perceber como as mulheres encarceradas utilizam-se da resiliência para lidar com o afastamento de seus laços afetivos, as dificuldades enfrentadas no cárcere e quais são as perspectivas de um retorno ao convívio em sociedade.
Para tanto, avaliou-se como problema quais as principais mudanças afetivas ocorridas entre mulheres encarceradas e como elas se valem da resiliência para enfrentamento das condições de aprisionamento?
Diante da situação de cárcere vivenciada por essas mulheres no Conjunto Penal de Feira de Santana, é notória a existência de um diálogo de tristeza por conta da fragmentação de vínculos deixados para traz. Desta forma, pressupõe-se que ocorreram mudanças afetivas entre essas mulheres, por estarem expostas a situações emocionais fragilizadas e a expectativa sobre a saída após cumprimento da pena. 
A expressão resiliência se caracteriza pela capacidade do ser humano de responder de forma positiva às demandas do cotidiano, apesar das dificuldades que enfrenta ao longo do seu desenvolvimento; trata-se de um conceito que comporta um potencial valioso permeado de incertezas e controvérsias (LIMA, 2010). Este estudo busca justamente saber como a resiliência é utilizada no cárcere feminino como forma de amenizar os momentos de desespero perpassados por essas mulheres com o mínimo de atenção afetiva.
A resiliência não significa um retorno a um estado anterior, mas sim a superação ou adaptação diante de uma dificuldade considerada como um risco, e a possibilidade de construção de novos caminhos de vida e de um processo de subjetivação a partir do enfrentamento de situações estressantes e/ou traumáticas, no qual o individuo se vale para ultrapassar tais dificuldades (GALIETA, 2012).
Este estudo teve como objetivo geral analisar as principais mudanças afetivas entre mulheres encarceradas no Conjunto Penal de Feira de Santana e as estratégias de resiliência por elas empreendidas. E como objetivos específicos estabelecer uma caracterização sociodemográfica dos sujeitos de estudo, identificar as principais mudança afetiva entre mulheres encarceradas e conhecer as estratégias utilizadas pelas apenadas para suportar a situação do cárcere e as expectativas sobre a saída.
Segundo Gil (2006), uma pesquisa tem seu desenvolvimento de acordo os conhecimentos disponíveis, a utilização de métodos e técnicas e outros procedimentos científicos. Na verdade, a pesquisa ao longo do processo envolve inúmeras fases, desde a formulação do problema até alcançar os resultados. 
Para a efetivação desta pesquisa utilizou-se uma abordagem descritiva de natureza qualitativa, tendo como campo empírico o Complexo Penal de Feira de Santana, elegendo como sujeito de estudo a mulher encarcerada. A princípio realizou-se um levantamento bibliográfico referente ao tema em questão, visando a fundamentação teórica da pesquisa, como técnica de coleta, buscou-se um roteiro de entrevista semiestruturada.
Os aspectos éticos estiveram fundamentados na Resolução 196/96,o Código de Ética Profissional do Assistente Social, bem como fazendo uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual trata da dignidade e respeito à autonomia humana, devendo conter linguagem acessível e esclarecimentos dos objetivos da pesquisa e os possíveis riscos e benefícios eventuais (BRASIL, 1996).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico é o momento em os pesquisadores se utilizam de autores sobre a temática estudada para embasar e fortalecer o conteúdo trabalhado, tecendo reflexões sobre as mudanças afetivas e a estratégia de resiliência ocorrida entre mulheres encarceradas do Complexo Penal de Feira de Santana. Partiu-se inicialmente de uma trajetória sobre o cárcere feminino e a estratégia de resiliência utilizadas por elas para suportar o aprisionamento.
O espaço prisional é considerado como uma instituição total por exigir um maior grau de comprometimento com seus membros, restringindo-o de um contado social extramuros. Segundo Erving Goffman, 
seu fechamento ou seu caráter total é simbolizado pela barreira à relação social com o mundo externo e por proibições à saída que muitas vezes estão incluídas no esquema físico como, portas fechadas, paredes altas, arame farpado(apud CALHAU, 1999).
Ainda, o referido autor, classifica instituição total em cinco grupos, sendo que o presídio como foco deste trabalho ela conceitua como,
um terceiro tipo de instituição total organizado para proteger a comunidade contra perigos intencionais, e o bem-estar das pessoas assim isoladas não prisioneiros de guerra, campos de concentração (1974, p. 16-17 apud CALHAU, 1999).
Este sujeito ao chegar no presídio, após passar pelo seletivo processo de recrutamento do sistema penal, é desprovido de sua autonomia, ele é identificado por um número, fotografado, tira suas impressões digitais, recebem roupas da instituição, ou seja, o indivíduo não é mais ele mesmo, pois passam apenas a obedecer regras, ficando a dúvida se realmente essa pessoa sai mesmo recuperado de um local como este (CALHAU, 1999).
Mas a obviedade da prisão se fundamenta também em seu papel, suposto ou exigido, de aparelho de transformar os indivíduos. Como não seria a prisão imediatamente aceita, pois se só o que ela faz, ao encarcerar, ao retreinar, ao tornar dócil, é reproduzir, podendo sempre acentuá-los um pouco, todos os mecanismos que encontramos no corpo social (FOUCAULT, 1996, apud CALHAU, 1999).
A privação de liberdade, no qual se dá o nome de pena de reclusão, aplicável à pessoas que cometeram delitos como homicídio doloso, aquele que tem há intenção de praticar o crime, sendo furto, roubo, tráfico de drogas, em que o condenado deve cumprir a pena nos regimes fechado, semiaberto ou aberto passa a ter uma vida totalmente desconstruída, uma vez que, os impacto são os mais severos possíveis (CÓDIGO PENAL, 2008).
Discutir o encarceramento feminino percebeu que, o tratamento prisional em relação ao dos homens, é desigual, que também têm precárias condições no cárcere, porém, a desigualdade de tratamento é decorrente a questões culturais vinculadas à não visibilidade da mulher, afinal, a referência com o mundo exterior envolvendo família, trabalho e companheiro, demonstra uma série de fragilidades por conta do afastamento e a sua readaptação à sociedade torna mais difícil (CALHAU, 1999).
Para tanto, a mulher neste contexto tem seu lado emocional bem mais agredido pelas circunstâncias, pois, os vínculos familiares e afetivos deixados fora das grades são bem mais aflorados no mundo feminino até mesmo pela sua estrutura biológica como retrata alguns autores no decorrer do referencial.
2.1 HISTÓRICO DA PRISÃO
Desde a Antiguidade até os dias de hoje, as mulheres sempre foram vítimas de discriminação e preconceito. Sendo assim, as barreiras enfrentadas afetam-nas diretamente nos mais variados aspectos da sua vida. Com relação ao sistema prisional não foi diferente. Portanto é neste contexto que se elaborou diversos conceitos, desde os tempos remotos até os dias atuais, relacionado ao universo feminino. 
A prisão é uma das instituições mais antigas, construída pelo Estado, com o propósito de punir o indivíduo que comete um crime, retirando de forma brusca este sujeito do convívio social. Andrade (2005) conceitua prisão como sendo a privação da liberdade de locomoção, determinada por ordem escrita da autoridade competente ou em caso de flagrante delito.
Segundo Varella (2002), as prisões de antigamente serviam para trancar escravos e prisioneiros de guerra. Fora dessas categorias, albergavam apenas criminosos à espera de julgamento ou para serem torturados, prática legal naqueles dias. De acordo Carvalho (2006) a prisão:
destinava-se a animais, não existindo diferença entre racionais e irracionais. Prendiam-se homens, das mais variadas formas, pelas mãos, pelos pés, pelo pescoço; assim o ser humano foi amarrado, acorrentado, submetido a todo tipo de barbárie. A evolução da sociedade e o número crescente de infratores, foi o pretexto para colocá-los intra muros, enjaulá-lo. Cavernas, subterrâneos, túmulos, fossas, torres, tudo servia para prender. Desta forma, a prisão, em tempos remotos, foi feita para não deixar o individuo fugir (p. 26).
Para escrever sobre a história da prisão é de suma importância voltar no tempo e resgatar alguns dos seus principais antecedentes. Na Antiguidade, os cativeiros já existiam para que os egípcios pudessem manter, sob custódia, seus escravos. Por volta de 525 a.C., os lavradores eram requisitados para construir as obras públicas e cultivar as terras do faraó, verdadeiros proprietários de toda a terra e riqueza do Egito. Desta forma seu reinado repousava no trabalho daqueles que eram mantidos explorados a todo tempo. Quem não conseguisse pagar os impostos ao faraó, em troca de construção de obras de irrigação e armazenamento de cereais, se tornava escravo (MISCIASCI, 2010).
Assim como no Egito, na Grécia, Pérsia e Babilônia, o ato de encarcerar tinha a finalidade de manter sob custódia e tortura os que cometiam faltas ou praticavam o que para a antiga civilização fosse considerado delito ou crime. As masmorras naquela época eram utilizadas para abrigar presos provisoriamente. Assim, naquele período, os delitos e punições eram classificados da seguinte forma: Delitos considerados Crimes: estar endividado, não conseguir pagar os impostos, ser desobediente, ser estrangeiro e prisioneiro de guerra. ‘Penas’ ou Punição: escravizar, exercer as penas corporais ou execuções (MISCIASCI, 2010).
Já existia o aprisionamento, mas não com aprovação de uma lei penal regida pelo chefe de Estado como nos dias de hoje, ou seja, o ato de aprisionar não tinha caráter de pena, e sim, uma garantia de manter esta pessoa resguardada, para se aplicar a punição que seria imposta a ela; é por esta razão que naquela época ainda não existia cadeia nem presídio. Os locais que serviam para prender as pessoas eram calabouços, aposentos em ruínas, torres, conventos abandonados, enfim, locais onde pudesse preservar aquele indivíduo até o julgamento (MISCIASCI, 2010).
Ao tratar do surgimento das prisões em uma perspectiva histórica e focando o contexto brasileiro, Quintino (2005) considera que:
desde o início da colonização, o Brasil serve como exílio para os presos condenados ao degredo pela corte portuguesa. Entre 1603 até aproximadamente 1810, data da chegada da Família Real, a legislação penal no Brasil ficou a cargo das Ordenações Filipinas e o degredo se manteve durante esse período como forma de livrar Portugal de sua população indesejável. O Brasil era por assim dizer, uma enorme prisão sem grades onde os condenados deveriam permanecer por um prazo que iria de cinco anos até o resto da vida conforme a gravidade da culpa (p.40).
Desta forma, ainda nesta abordagem histórica acerca da prisão é imprescindível tratar sobre o sistema prisional feminino, afinal é do que se ocupa esta pesquisa. Assim, de acordo com Soares e Ilgenfritz (2002):
uma das primeiras indicações sobre mulheres presas encontra-se no Relatóriodo Conselho Penitenciário do Distrito Federal, de 1870, que apresentava um mapa do movimento do calabouço: a prisão para escravos, que nessa época funcionava junto com a casa de Correção da Corte. Consta que, entre 1869 e 1870, passaram por lá 187 mulheres escravas, das quais 169 saíram, duas faleceram e 16 ‘ficaram existindo’. Dessas que ficaram existindo, um relatório posterior, de 1872, anuncia que nos galés com mais de 20 anos encontrava-se um escrava de nome Isabel Jacintha que estava presa havia 25 anos (desde 29 de Outubro de 1846) (p.52).
Na origem histórica das prisões femininas no Brasil, destaca-se a influência do discurso moral e religioso nas formas de aprisionamento da mulher. O encarceramento feminino, com direcionamento para uma visão moral, teve no ensino religioso a base para a criação de um estabelecimento prisional destinado às mulheres, denominado Reformatório Especial, tendo como principais motivos de criminalização a prostituição a vadiagem e a embriaguez (FREIRE, 2010).
Neste sentido Soares e Ilgenfritz (2002) confirmam a questão histórica da religiosidade e prostituição:
é possível supor, com base nos argumentos de Lemos de Brito, que a criação de presídios só para mulheres destinava-se, antes, a garantir a paz e a tranquilidade desejada nas prisões masculinas, do que a dar dignidade às acomodações carcerárias até então compartilhadas por homens e mulheres. É dessa forma que nasce, em 9 de novembro de 1942, criada pelo Decreto nº 3971, de 2/10/1941, a primeira penitenciária feminina do antigo Distrito Federal [...] a prisão feminina esteve sob administração interna e pedagógica das freiras que se incumbia da educação, disciplina, trabalho, higiene e economia [...] as atribuições das religiosas foram definidas em um contrato, que estipulava seus direitos e deveres [...] (p.57-58).
Para tanto, veiculava-se a ideia de separação das mulheres chamadas criminosas para um ambiente isolado de “purificação”, numa visão de discriminação de gênero assumida pela construção do papel da mulher como sexo frágil, dócil e delicado. A intenção era que a prisão feminina fosse voltada à domesticação das mulheres criminosas e à vigilância da sua sexualidade. Desta forma, tal condição delimita, na história da prisão, tratamentos diferenciados para homens e mulheres (FREIRE, 2010). Assim, “apesar de todo esse entusiasmo, o projeto de ‘purificação’ das mulheres infratoras, idealizado pelas religiosas do Bom Pastor, logo mostraria sua fragilidade e seus limites” (SOARES, ILGENFRITZ, 2002, p.62).
Segundo Mendonça citado por Soares e Ilgenfritz (2002): 
A administração das freiras foi reconhecidamente um período conturbado por uma violência interna difusa. [...] Relatórios do período se referem a ‘depredações’, ‘falta de disciplina’ e à retirada voluntária das Irmãs do Bom Pastor, devido à ‘indisciplina violenta’. Sugere-se, pois, um descontrole das freiras sobre a massa carcerária. O projeto obtém, pois, o inverso do desejado: longe da beatitude e domesticidade do lar, gera-se violência e resistência generalizada (p.73).
Nos anos 60, em função do movimento feminista, ocorre uma discussão sobre a divisão de papéis sociais historicamente atribuídos a homens e mulheres e, com ela, começam a ocorrer mudanças nos estudos sobre a criminalidade feminina (FREIRE, 2010).
Já no início dos anos 70, a posição desigual da mulher no Direito Penal começou a ser objeto de estudo por parte da criminologia, visto que o aparato legal e as formas de controle foram organizados dentro de uma perspectiva masculina, reproduzindo a violência patriarcal, desconsiderando as especificidades femininas e se tornando incompatíveis com as demandas das mulheres (FREIRE, 2010).
Mesmo o sistema carcerário tendo hoje uma nova visão e um conceito mais humanizado, como afirma Goffman (2005), ainda apresenta fortes traços conservadores, constituindo-se a prisão em uma Instituição total: 
um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada (p.11).
Finalizando esta contextualização, é possível observar que houve um grande avanço nas concepções de prisão, principalmente no que diz respeito a Direitos Humanos. Para tanto, a melhoria ainda é uma proposta a ser revista pelo Estado, tanto nos aspectos internos, quanto fora da prisão, proporcionando-lhe segurança à volta ao meio social.
2.2 A MULHER E A QUESTÃO DE GÊNERO
A mulher em sua totalidade tem conquistado em vários âmbitos seu espaço na sociedade, sendo ressarcidas de um contexto histórico de submissão nos ditames masculinos. Sobre essa questão “a relação entre homens e mulheres não é determinada naturalmente pela anatomia sexual e sim decorrente das desigualdades, em detrimento do gênero feminino” (SAFFIOTI apud MARTINS, 2010, p. 48).
Para tanto, ela vêm ampliando seu espaço na economia nacional, aumentando assim, seu percentual no mercado de trabalho com mudanças de valores sociais, afinal a mulher deixou de ser apenas uma parte da família para se tornar o comandante dela em algumas situações, havendo assim, uma terceira jornada em sua rotina. (PROBST, 2012).
Entende-se desta forma, que as representações de gênero constroem estereótipos que acabam por sujeitar, homens e mulheres, à determinadas normas criadas pela sociedade como: valores, comportamentos, papéis na sociedade e hierarquia, que são percebidos nas relações e práticas sociais (PODOLAN, 2012).
Embora a produção da arte de escrever na contemporaneidade, esteja marcada pela valorização do tema "mulher" ou relações de gênero, ainda há pouca repercussão desta problemática, afinal tratar sobre a história da mulher, significa estudar-pesquisar-ensinar, construindo assim, a história das relações entre os gêneros (PODOLAN, 2012).
Em tempos remotos a imagem da mulher era de uma pessoa frágil, um ser inferior ao homem, que teria se tornado absolutamente dependente do outro, necessitando, assim, de uma proteção especial, conferida pelo Estado (TREVISO, 2012).
A política feminista atingiu seu ápice entre os anos de 1960 e 1970, período no qual as mulheres assumiram o controle de sua vida reprodutiva, com a disseminação da pílula anticoncepcional, e ampliaram sua participação na educação, no mercado de trabalho e na política (SCOTT 1992 apud GOMES 2012).
A história das mulheres, inicialmente construída pelas militantes feministas, estava integrada à tentativa de acompanhar as novas realidades que ocorriam nas suas vidas. Nesse sentido, tornou-se imprescindível retirar o sexo feminino da clausura representada pela exclusão, esquecimento e privação, demonstrando que as mulheres também faziam parte do processo histórico e que eram vítimas da injustiça e da exploração (GOMES, 2012).
Já na década de 1980, a condição feminina passa a investigar as mulheres enquanto sujeitos históricos, analisando seu cotidiano a partir das ideias de resistência e da transformação da sua realidade. Assim, as mulheres tornavam-se sujeitos sociais com a construção de sua nova história, passando a lutar contra as declarações de poder, produzindo assim, percepções e experiências próprias (GOMES, 2012). 
Para tanto, mesmo com os vários avanços na atualidade, as mulheres independentemente da classe social, têm menor ascensão profissional, atingem menor número de cargos de direção, recebem salário inferior ao do trabalhador masculino. Esta realidade é decorrente da fragilidade Estatal, ou seja, a igualdade de direitos entre os gêneros não se resolveria simplesmente através de textos legislativos, afinal, mesmo havendo a declaração do direito à igualdade, há uma distância entre a realidade dos fatos e o Direito (TREVISO, 2012).
Desde o patriarcalismo, o homem sempre se definiu como um ser humano privilegiado, dotado de alguma coisa a mais, ignorada pelas mulheres: sempre foi o “mais” forte, o “mais” inteligente, o “mais” esperto, o mais “sábio”, o “mais” corajoso, o “mais” responsável,o “mais” criativo ou, até mesmo, o “mais” racional. Sempre havia, portanto, um plus para justificar a relação de hierarquia do homem para com as mulheres da sociedade, ou, pelo menos, do marido para com a sua própria esposa, dentro do lar (TREVISO, 2012, p.3).
A evolução do espaço feminino é perceptível na participação das mulheres em diferentes áreas da sociedade, que lhe conferem direitos sociais, políticos e econômicos. Diante disso, Cabral (2010) afirma que a sensibilidade da mulher tem grande colaboração nas influências humanas, pois, como se sabe, o mundo passa por transformações rápidas. Dessa forma, a mulher consegue transmitir a importante e dura tarefa de mudar hábitos com a clareza e a delicadeza necessária para despertar o envolvimento de cada indivíduo. (apud SANTOS, PEDREIRA, 2010). 
As mulheres de nossos dias estão prestes a destruir o mito do "eterno feminino": a donzela ingênua, a virgem profissional, a mulher que valoriza o preço do coquetismo, a caçadora de maridos, a mãe absorvente, a fragilidade erguida como escudo contra a agressão masculina. Elas começam a afirmar sua independência ante o homem; não sem dificuldades e angústias porque, educadas por mulheres num gineceu socialmente admitido, seu destino normal seria o casamento que as transformaria em objeto da supremacia masculina (BEAUVOIR, 1967, s/p).
Simone de Beauvoir afirma que ‘ninguém nasce mulher: torna-se mulher’ (BEAUVOIR, 1980, p.9). Ou seja, a identidade feminina é algo construído socialmente a partir de parâmetros culturais. Portanto, a mulher passa a existir a partir do outro, que é o homem, o que por si só da uma ideia de complemento (PIMENTEL, 2008).
É com base nesses pressupostos sobre gênero, que se percebe a importância da construção de um olhar para a história a partir das relações entre os gêneros e procurar introduzir esta problemática no cotidiano (PODOLAN, 2012). Ou seja, “as relações estabelecidas entre homens e mulheres são resultantes de processos sociais: assim não podem ser pensadas como imutáveis, e sim compreendidas dentro de um referencial dinâmico, em permanente transformação” (MARTINS, 2010, p. 48).
O que se observa entre as feministas brasileiras no início dos anos noventa é que a categoria de gênero trouxe amplitude para os estudos sobre mulheres, permitindo que as análises teóricas acompanhassem rapidamente as mudanças que ocorreram nos últimos anos na sociedade brasileira no que tange a mulher (MARTINS, 2010). 
Para tanto, diante de tantos avanços e conquistas, após uma luta de séculos que a mulher vem travando, é preciso que os espaços sejam conquistados independentes do sexo, e sim, por mérito e capacidade de cada um. Que o homem perceba que a mulher desde sua forma de ser, fisicamente e emocionalmente, é digna de respeito, atenção e direitos. 
2.2.3 A Mulher no Mundo da Criminalidade
Desde a Antiguidade a mulher foi educada para ser esposa e mãe, atribuindo-se a ela um papel a ser cumprido: dedicar-se ao lar, criar os filhos e ser submissa ao marido. Vicentino, (1997) citado por Santiago et al., (2007) afirma que, de acordo com o Direito Penal Romano não ocorria punição do delito pela mulher, sendo esta responsabilidade do homem. Portanto, quem respondia por seus atos eram primeiramente os parentes mais próximos, e em seguida o marido.
Só a partir da Idade Média é que a mulher passa então a ter um pouco de independência pela autoria de seus atos, podendo chegar a ser punida. Nessa época, ela podia ser condenada pelo Tribunal de Inquisição, quando fugia às normas que a Igreja ditava à sociedade. Somente com o advento da industrialização e a urbanização ocorreu certa autonomia em relação a alguns direitos conquistados pela mulher. Nesse sentido, a presença da mulher em espaços públicos tornou-se cada vez maior (SANTIAGO et al., 2007).
O século XX trouxe mudanças reveladoras à humanidade, tanto nas áreas científica e tecnológica quanto nas áreas educacional e social. Um dos segmentos mais envolvidos por essas mudanças e transformações foi o gênero feminino. Entre os fatores que têm resultado no surgimento de novas formas familiares cabe destacar as mudanças na legislação que regula as relações conjugais e de filiação; a ruptura da dicotomia entre papéis públicos e privados; o crescente processo de individualização econômico e cultural dos sujeitos; a pluralização dos estilos de vida; a igualdade entre os sexos e a consequente ruptura de casamentos sentidos como insatisfatórios (VAITSMAN, 1999; DONATI; DI NICOLA, 1996 apud SERAPIONI, 2005).
Briguenti e Carlos (2008), dizem que entender o fenômeno da criminalidade feminina numa sociedade globalizada e dinâmica é algo complexo, observando a carência de estudos e teorias que expliquem este fenômeno. Além de poucos estudos, também não há explicações consistentes devido a sua complexidade e a pouca importância recebidas pelos estudiosos.
Diante desse fato, Perruci (1983 apud FRINHANI, 2004) conclui que:
A criminalidade feminina normalmente é estudada como criminalidade em geral, e por isso a maioria dos autores não a diferencia da criminalidade masculina, não lhe dando a devida importância, talvez pela constatação de que a participação feminina na criminalidade geral é quase insignificante em relação à masculina (p. 37).
Bastos (1997, p.57 apud FRINHANI, 2004, p.37), assinala que as razões para o pequeno valor dado à criminalidade feminina se devem entre outros fatores ao forte preconceito que é atribuído à mulher, não se dando dessa forma a importância necessária às manifestações de desajuste social da mulher.
De acordo com Drapkin (1978), percebe-se, também, que a proporção da criminalidade feminina aumenta à medida que aumenta a participação da mulher na vida social, política e econômica do país em que vive. Com o desenvolvimento social no mundo contemporâneo, ocorreu também o aumento excepcional da carga de violência em todos os ramos, e desconsiderar a presença da mulher neste panorama, seria uma análise preconceituosa e reducionista. Portanto, ao tentar aprofundar um pouco mais os estudos em relação às vulnerabilidades que incitam cada vez mais mulheres a cometer crimes, esbarramos com as novas mudanças sociais (FRINHANI, 2004).
A maior escolarização e a profissionalização da mulher acarretaram um contato social mais amplo e constante; como consequência, o questionamento se intensificou e atingiu muitas áreas. Os seus efeitos estão presentes até hoje. Isto significa existir um descontentamento com o passado, uma análise depreciativa de como as mulheres eram criadas, da sua submissão, dos limites estreitos impostos ao seu movimento dentro dos grupos sociais e as possibilidades de escolha profissional (ALVES, 2000).
Atualmente, a mulher infratora tende a ser jovem, pertencer a uma baixa classe socioeconômica e ter baixa escolaridade. Os principais crimes cometidos por elas são: tráfico de drogas, furto, roubo, lesão corporal, homicídio, entre outros (VIAFORE, 2005).
No Brasil, segundo Adelson (2006), a participação das mulheres nos índices de criminalidade são considerados dentro dos limites aceitáveis. Os números apontam para um percentual de 5% da participação feminina na criminalidade dentro do universo total de apenados nos Estados brasileiros. 
 As mulheres tiveram o seu papel social redefinido à luz das mudanças ocorridas na família e nas condições sociais e econômicas. Conquistaram direitos políticos, asseguraram o acesso à educação e passaram a ganhar o espaço público do trabalho. O estabelecimento do novo padrão de atividade feminina permitiu a passagem da mulher das camadas médias do status anterior de esposa e de mãe para status de trabalhadora. A busca de uma identidade própria e do reconhecimento social dessa identidade teve um impacto profundo sobre o modelo dominante de família baseado na ética do provedor (GASTAL et al., 2000).
2.3 MUDANÇAS AFETIVAS ENTRE MULHERES ENCARCERADAS 
A afetividade é um sentimento de dimensão inegável à condição humana. Arendt, (2005), citado por Pimentel, (2008) entende que o ser humanoé fortemente condicionado em todos os aspectos da sua existência. Para ela, além das condições nas quais a vida é dada ao homem na Terra, até certo ponto, a partir delas, eles constantemente criam suas próprias condições de existência e sobrevivência. Para tanto, ainda de acordo a autora: 
O que quer que toque a vida humana ou que entre em duradoura relação com ela, assume imediatamente o caráter de condição de sua existência. É por isso que os homens, independentemente do que façam, são sempre seres condicionados (ARENDT, 2005, p. 17 apud PIMENTEL). 
O condicionamento humano ao afeto, nesse sentido, não surge só como algo naturalmente determinado, mas também, compõem a construção histórica de acordo as subjetividades construídas ao longo da sua trajetória de vida. De fato, o culto feminino ao amor, consiste numa realidade cultural própria da mulher. Ainda que as mulheres participem ativamente do mercado de trabalho, adquirindo autonomia profissional e financeira, lutando pela igualdade e rompendo com a forte tradição de permanência no espaço doméstico, suas concepções acerca do amor e suas expectativas amorosas são bem diferentes daquelas vividas pelos homens (PIMENTEL, 2008).
A mulher age em nome do afeto. Um exemplo disso são as práticas femininas no contexto do tráfico de drogas que não têm os mesmos fundamentos representacionais que as práticas masculinas, pois o homem neste contexto tem a justificativa a partir de aspectos financeiros e da necessidade do mesmo se firmar como sujeito em determinado grupo social (PIMENTEL, 2008). Lipovetsky (2000, apud PIMENTEL, 2008) afirma que:
A definição de papéis nas relações sociais de gênero está diretamente ligada às próprias identidades historicamente constituídas e que passam de geração à geração, formando, no senso comum, modelos de comportamento no interior das relações afetivas. As visões tradicionais da mulher como ser de excesso e de desmedida, assim como as ideologias modernas que se recusam a considerar a mulher como um indivíduo autônomo vivendo para e por si mesmo, contribuíram para conjugar estreitamente identidade feminina e vocação para o amor (p. 24).
Não há momento tão marcante quanto aquele adquirido no segundo grau que se estudava na matéria de Literatura, o Romantismo, para exemplificar a questão amorosa feminina e Lipovetsky (2000) contribui para este momento com a seguinte citação:
Os estereótipos do romantismo sentimental, os clichês do amor à primeira vista, as cenas de castos abraços, de suspiros e olhares inflamados, os sonhos do homem carinhoso e rico se tornaram no século XX uma evasão e um consumo feminino de massa. Com isso, generalizou-se uma sentimentalidade açucarada, assim como uma ideologia que identifica felicidade feminina e realização amorosa (p. 26,27 apud PIMENTEL, 2008).
Segundo Pimentel (2008), essas concepções acerca do amor passam por momentos de grande contestação, sobretudo nos anos 60, quando os movimentos feministas propõem o deslocamento da sentimentalidade para a sexualidade. Lipovetsky (2000) entende, porém, que “nem mesmo a exaltação do período contestador conseguiu afastar da mulher os sonhos de amor” (p. 28, apud PIMENTEL, 2008). 
Com o intuito de compreender os papéis sociais do homem e da mulher a partir daquilo que se entende por amor, Pimentel (2008) cita Giddens (1993) que procura distinguir o que chama de amor paixão e amor romântico, apontando este segundo como sendo a forma de expressão afetiva mais relacionada ao ambiente familiar e doméstico e, portanto, feminino. O amor paixão, para Giddens, é aquele atribuído ao homem, diante da histórica liberdade sexual que lhe foi atribuída culturalmente. Portanto é a partir deste contexto que se pode perceber que homem e mulher têm concepções de afetividade diferentes em relação ao sentimento, o que pode justificar a diferença do grau de importância que homens e mulheres atribuem ao amor.
Como o homem não participa diretamente da rotina cotidiana, mas, ao contrário, busca o sustento da família fora do lar, é ele quem tem o poder de experimentar outras formas de amor, que não aquela destinada à procriação e à perpetuação da família (PIMENTEL, 2008). Assim,
O surgimento da ideia do amor romântico tem de ser compreendido em relação a vários conjuntos de influências que afetam as mulheres a partir do final do século XVIII. Um deles foi a criação do lar, já referido. Um segundo foi a modificação nas relações entre pais e filhos; um terceiro, o que alguns chamaram de ‘invenção da maternidade’. No que diz respeito à situação das mulheres, todos eles estavam muito intimamente integrados (GIDDENS, 1993, p.52,53 apud PIMENTEL, 2008).
A partir dessas ideias, as relações afetivas tendem a ser permeadas por situações em que a mulher, compreendendo-se como um complemento do homem e responsável pela harmonia do lar, procura dar constantes provas de amor e de fidelidade, que podem ser exteriorizadas em gestos simples como um corte de cabelo ou um tipo de roupa que agrade o marido ou companheiro (PIMENTEL, 2008) ou, no que diz respeito ao estudo da pesquisa, no envolvimento do delito por seu companheiro.
Diante deste contexto histórico acerca da afetividade feminina, pode-se perceber o quanto a mulher em situação de cárcere deve sofrer em relação às suas emoções durante o encarceramento, pois o afastamento familiar e do companheiro, a questão da maternidade e o retorno ao convívio social são alguns dos agravantes das condições psicossociais dessas mulheres.
Segundo Okamura (2010), citado por Misciasci (2010), as mulheres levam ou guardam drogas para seus companheiros, maridos, namorados e quando querem sair não podem mais, são ameaçadas de morte por esses homens. Na prisão, as mulheres são abandonadas por suas famílias, tanto pelo marido e até pelas mães. Para cada grupo de 100 mulheres é registrada a presença de apenas dois homens. Na prisão masculina é o contrário. Muitas vezes, as visitas incluem não só as mães, mas as irmãs e esposas. 
Outro sofrimento para a mulher na prisão é a separação de um filho após o nascimento, tornando uma pena maior que a do encarceramento. Distanciar a mãe e o filho, após o período de aleitamento materno é um dos momentos mais dolorosos do cárcere feminino, pois os quatro ou seis meses que mães encarceradas permanecem com seus bebes, são diferentes da gestação e concepção extra grades (MISCIASCI, 2009). Desta maneira:
O que antes, não havia sido medido, torna-se arruinado e esta consciência é clara deixando que as próprias cobranças interiores de cada mulher grávida na condição de presa se condenem impiedosamente, para tentar pagar como pode seu erro. Todas as culpas se atenuam, quando com o filho já nos braços, a mãe sabe que tudo se perdeu e que o destino injusto reservado para aquela nova vida, foi tudo o que ela ofereceu. Destino incerto quase sempre, condenando também aquele pequeno ser, seu fruto [...] uma pesada sentença, onde os sentimentos tão extremos, que por terem muitas variáveis, são difíceis de esgotar [...] (MISCIASCI, 2009, s/p).
Segundo Carvalho (2003), ao tratar da importância da família como rede de proteção ele afirma que:
ganha importância a ideia de ‘família’ relacional, que extrapola a visão domiciliar, incorporando rede de parentesco (que reforça o sentimento grupal) e rede de parentela (que reforça o sentimento individual). A ideia de ‘família’ na rede social tem grande importância entre as pessoas mais frágeis, para as quais não se dá lugar na sociedade e que não conseguem encontrá-lo por si mesmas. É a família que pode transmitir-lhes, um patrimônio de defesas internas (p.16 apud MARTINS, 2006).
A vida prisional das mulheres encarceradas caracteriza-se por uma vivência de abandono e de perda dos referenciais pessoais. A sua autoestima encontra-se massacrada, pelas dificuldades encontradas em uma Instituição total (OLIVEIRA, 2008). Neste contexto Goffman (2007) descreve o seguinte cenário:
Na linguagem exata de algumas de nossas mais antigas instituições totais, começa uma série de rebaixamentos,degradações, humilhações e profanações do eu. Começa a passar por algumas mudanças radicais em sua carreira moral, uma carreira composta pelas progressivas mudanças que ocorrem nas crenças que têm a seu respeito e a respeito dos outros que são significativos para ele. A barreira que as instituições totais colocam entre o internato e o mundo externo assinala a primeira mutilação do eu. Portanto, o internato descobre que perdeu alguns dos papéis em virtude da barreira que o separa do mundo externo (p.24-25).
Nessa relação conflituosa entre o eu deste indivíduo, seus sofrimentos emocionais e a exclusão da sociedade, o que se reforça neste contexto é uma identidade socialmente desconstruída, o que gera consequências desastrosas para a vida dessas mulheres, como baixa autoestima, frustrações, revoltas, sentimento de exclusão, tanto por parte dos familiares e companheiros que somados a fatores de ordem econômica, como necessidade financeira e falta de oportunidade no mercado de trabalho (OLIVEIRA, 2009).
 Quando se vê assim exposto a sofrimentos que a lei não ordenou nem mesmo previu, ele entra num estado habitual de cólera contra tudo o que o cerca; só vê carrascos em todos os agentes da autoridade; não pensa mais ter sido culpado; acusa a própria justiça (FOUCAULT, 1987, p. 235 apud CLAUDINO, 2002).
E em função da conflituosidade emocional que esta mulher experimenta numa Instituição prisional, é de suma importância acrescentar ao estudo a questão da resiliência sendo o objetivo principal a ser trabalhado neste estudo, estando exposto no item a seguir. 
2.3.1 Importância da Resiliência 
O ser humano desde seu nascimento se defronta com circunstâncias desfavoráveis e defende-se dela ao longo de sua existência, deixando marcas profundas e transformando-se inevitavelmente durante sua vida, dependendo de sua capacidade de elaborar e superar problemas e reformula-se cotidianamente (ASSIS et al., 2006 apud MARTINS 2010).
 Trazendo um pouco sobre o surgimento da palavra resiliência foi encontrado que a noção dessa expressão, no qual, vem sendo utilizada há muito tempo surgiu pela física e engenharia, sendo um de seus precursores o cientista inglês Thomas Young. Ele descrevia experimentos sobre tensão e compressão de barras, buscando a relação entre a força que era aplicada num corpo e a deformação que esta força produzia (YUNES, 2003).
Desta forma, o conceito de resiliência na engenharia refere-se à capacidade de um material absorver energia sem sofrer deformação plástica ou permanente, através de medições sucessivas ou utilização de uma fórmula matemática que relaciona tensão e deformação, fornecendo com precisão a resiliência dos materiais (YUNES, 2003). 
Logo após, a resiliência começou a ser estudada pela psicologia. Desde o final da década de 1970, o conceito de resiliência começou a ser estudado com mais constância pela psicologia e psiquiatria, com esforços para entender as causas e evolução de eventos sofridos por algum indivíduo, bem como suas consequências (MARTINS, 2010).
Os precursores do termo resiliência na psicologia são os termos invencibilidade ou invulnerabilidade, ainda bastante utilizados na literatura sobre resiliência. Segundo Rutter (1993), invulnerabilidade passa uma ideia de resistência absoluta ao estresse, como se o ser humano fosse intocável e sem limites para suportar o sofrimento, mas, pesquisas mais recente têm indicado que a resiliência ao estresse é relativa, que suas bases são tanto constitucionais como ambientais, e que o grau de resistência não tem uma quantidade fixa, e sim varia de acordo com as circunstâncias (apud YUNES, 2003).
Segundo Tavares (2001) a resiliência pode ser estudada a partir de três olhares, o físico, médico e psicológico. No ponto de vista físico, como já foi descrito acima, parte da qualidade de resistência de um material quando submetido a uma força externa. Na medicina é a capacidade do indivíduo de resistir a uma doença e curar-se por si só ou através de medicamentos. Já na psicologia é a capacidade inata do sujeito, seja de modo individual ou grupal, de sobreviverem às situações adversas sem perder o equilíbrio inicial (apud SILVA, 2009). 
 Na psicologia os primeiros estudos publicados sobre resiliência são dos anos 70, onde Gayton et al. (1977) estudaram sobre o impacto emocional ocorrido em uma família com o nascimento de uma criança com fibrose cística. Assim, os resultados desse estudo, ao contrário do que se esperava, foram positivos, mostrando que a família não sofreu um impacto psicológico negativo, pois, mesmo passando por dificuldades mostraram traços peculiares à resiliência (SILVA, 2009). 
Para tanto, o estudo do fenômeno da resiliência é relativamente recente. Vem sendo pesquisado há cerca de trinta anos, mas apenas nos últimos cinco anos os encontros internacionais têm trazido este estudo para discussão. Sua definição é clara, mas na prática é de grande complexidade para o sujeito que necessita utilizar-se do termo para vencer tais dificuldades, afinal, é de suma importância os fatores e variáveis que devem ser levados em conta no estudo dos fenômenos humanos (YUNES, 2003).
Desta forma, trazendo a resiliência para o contexto do cárcere feminino, é notório que viver numa situação de aprisionamento é estar privado de toda uma vida construída, tendo a certeza de que após cumprimento da sentença, tudo muda na vida de um ex- presidiário. 
No entanto, nem todos que passaram por esse tipo de situação reagem da mesma maneira, ou seja, sintomas e danos referidos por alguns autores que estudam as ações humanas verificou que cada indivíduo reage de forma diferente. A esse tipo de comportamento alguns estudiosos chamam de resiliência (MARTINS, 2010).
Para Grapeia (2007), resiliência é a capacidade concreta de retornar ao estado natural de excelência, superando uma situação crítica no qual o ser humano venha passar em algum momento da vida.
A noção de resiliência foi criada pelas ciências exatas, em especial a física e a engenharia, e na física refere-se ao grau de resistência de um corpo. Quando adaptado para as ciências humanas, dá importância aos aspectos emocionais do ser humano quando exposto ao estresse e à adversidade psicossocial, e deve sempre ser entendida e relativizada dentro de um conjunto amplo de fatores tanto intrínsecos quanto extrínsecos ao ser humano (ASSIS et al., 2006 apud MARTINS 2010 p. 179).
 Resiliência refere-se à habilidade de superar adversidades, o que não significa que o indivíduo saia da crise sem nenhuma sequela, ou seja, para que este sujeito contorne as dificuldades vivenciadas será necessário que ao seu redor haja uma base bastante favorável como: ajuda familiar, profissional e acima de tudo um querer superar da própria pessoa (YUNES, 2003).
As mais variadas dificuldades encontradas em um presídio como a superlotação, a falta de estrutura, e outros, contribuem para que os efeitos maléficos do aprisionamento sejam acentuados e a reintegração social não passe de mera utopia. Daí a importância em discutir a resiliência com essas pessoas que vivem neste ambiente tão violento e antinatural que é a prisão, e que fazem do tempo de espera uma rara oportunidade de auto aperfeiçoamento (VIANA, 2012).
O ser humano resiliente desenvolve a capacidade de recuperar e moldar- se novamente a cada obstáculo e a cada desafio. Quando mais resiliente for o indivíduo maior será o desenvolvimento pessoal; isso torna uma pessoa mais motivada e com capacidade de contornar situações que apresente maior grau de dificuldade no decorrer da vida (GRAPEIA, 2007).
As dificuldades no cárcere feminino são mais provenientes pelo afastamento dos seus laços afetivos como a família, filhos companheiros, afinal desde muito tempo a mulher na sua contextualização foi criada para cuidar do seio familiar, assim seu lado sentimental se torna bem mais aflorado que o do homem, não deixando de lado os seus traços biológicos que faz total diferença em seu comportamento. 
A utilização da estratégia da resiliência vai variar de individuo paraindividuo, afinal todos os humanos são diferentes na sua forma de ser. Para tanto, neste caso, o lado emocional de cada um é que irá saber responder quanto tempo será necessário para que esta pessoa se recupere dos seus traumas.
A perspectiva no indivíduo é notória também na introdução de diversos estudos que investigam resiliência. As questões relativas a “habilidades individuais” são em geral ilustradas com pequenas histórias de pessoas dentre as quais algumas conseguem superar os momentos de crise e outras sucumbem, apesar de todas terem trajetórias semelhantes. Desta forma, o foco no indivíduo busca identificar resiliência a partir de características pessoais, como sexo, temperamento e background genético, apesar de todos os autores acentuarem em algum momento o aspecto relevante da interação entre bases constitucionais e ambientais da questão da resiliência (YUNES, 2003, s/p).
Um traço comum das pessoas resilientes é a tolerância a mudanças. Elas entendem que os imprevistos fazem parte da rotina e, por isso, não perdem o controle diante da primeira dificuldade. Muitos utilizam a negação como mecanismo de defesa, pois, enfrentar a realidade, ainda que isso seja doloroso, é tarefa para poucos, portanto a falta de habilidade para lidar com os imprevistos de forma realista pode se tornar um problema de dimensões perigosas (LISBOA, 2008).
 Na realidade do sistema prisional, é valido ressaltar, que a utilização da resiliência vai variar para cada mulher presa, pois, a condição de presa é a mesma para elas, mas, o que vai diferenciar uma das outras, são as historias de vida, ou seja, como cada uma delas estavam estruturas lá fora, desde aos valores materiais até os afetivos.
O processo chave da resiliência se dá na valorização das relações interpessoais, iniciativas de ação e perseverança, espiritualidade e fé, capacidade para mudanças, busca de reconciliação, mobilização familiar, equilíbrio entre trabalho e exigências familiares, empatias nas relações, tolerância nas diferenças, identificação do problema e tomadas de decisões. “Estes processos podem estar organizados e expressar-se de diferentes formas e níveis, haja vista que servem a diferentes constelações, valores, recursos e desafios das famílias” (WALSH, 1998 apud YUNES, 2003 s/p).
Não existe, nenhum método pronto para aguçar a resiliência das pessoas. Ela pode estar em adultos e crianças, e nos mais diversos posicionamentos da vida de cada um como, no desenvolvimento da carreira profissional, na corrida por metas na empresa, nos problemas de saúde, nas desilusões amorosas e até mesmo na morte. A habilidade de contornar os inevitáveis obstáculos da rotina é consequência de um programa bem-sucedido de motivação e sensibilização internas (LISBOA, 2008).
 A família também pode desenvolver processos interativos que fortaleçam a resiliência tanto individual, quanto do grupo familiar. Neste contexto a família é entendida como uma unidade funcional que pode incrementar a resiliência em todos os seus membros. O modo como cada família lida com esses desafios é de suma importância para readaptação individual e familiar (WALSH 2005 apud MARTINS, 2010).
No aprisionamento a família se torna a base fundamental para muitas dessas mulheres, passa a ser dado um valor que muitas vezes antes do cárcere não era explicitado, pois os laços sanguíneos no momento da decadência e do desespero é o que ajuda a vencer as adversidades.
Diante do exposto, pode-se perceber que os entraves emocionais enfrentados por mulheres em situação de cárcere são dos mais diversos, desde conflitos internos até o rompimento de seus laços afetivos fora da prisão. Portanto a resiliência passa a ser uma manobra para restaurar a esperança dessa mulher, contornar seus distúrbios emocionais, preparando-a assim para encarar as dificuldades com um olhar mais promissor.
2.4 SERVIÇO SOCIAL E O CÁRCERE 
 
 No contexto do cárcere feminino não se pode deixar de relacioná-lo ao serviço social, afinal como futuras profissionais da área, é de suma importância interligar a temática à profissão, sendo mais um campo de inúmeras vulnerabilidades sociais. 
O Serviço Social nos diferentes espaços sócio-ocupacionais lida em seu cotidiano profissional com as expressões da questão social, através de práticas interventivas na operacionalização dos direitos de cidadania, com mediações entre instituições, e usuários que por diferentes necessidades os requisitam (RESENDE, 2006 apud SOARES, 2009).
Faleiros (2008) compreende a intervenção profissional como confrontação de interesses, recursos e estratégias inserida em um processo de hegemonia e contra hegemonia. Em sua intervenção o Serviço Social atua nas diferentes redes de relações sociais em que o sujeito a ser atendido está inserido, mediando o acesso a direitos (apud SOARES, 2009).
Neste sentido, Guindani (2001) propõe que a atuação do Serviço Social no sistema penitenciário tenha como foco a vulnerabilidade social para intervir no processo de fortalecimento da identidade social do apenado e na mediação das correlações de forças que influenciam sua vulnerabilidade ao sistema penal (apud SOARES, 2009).
Para Sá (2007, p.114) prisionização “é o processo de aculturação” da prisão. Este conceito foi apresentado primeiramente por Donald e Clemmer, afirmando que a prisionização “é a adoção em maior ou menor grau dos usos, costumes, hábitos e cultura geral da prisão” (DONALD; CLEMMER apud SÁ, 2007, p 115). O indivíduo encarcerado, sem que mesmo perceba acaba aderindo a esta cultura como forma de sobrevivência, ou seja, o encarcerado se amolda ao novo ambiente que estará habitando cotidianamente. Ambiente este que tem como característica a austeridade, a restrição, a violência entre outros aspectos negativos (BRIGUENTI; CARLOS, 2008).
Briguenti e Carlos (2008) explicam que na atualidade, sob um olhar crítico, é perceptível que as políticas e vivências prisionais da mulher são fundamentais para a reflexão, construção e transformação das representações sociais sobre o universo prisional, uma vez que pouco é revelado a real dimensão deste fenômeno social.
Deste modo, a prática do Serviço Social em unidades penitenciárias poderia privilegiar não o delito pelo qual o apenado foi sentenciado, mas as redes de relações sociais em que este está inserido à fim de contribuir na redução dos danos causados por este espaço e na promoção do acesso a direitos, corroborando na redução da vulnerabilidade aos processos de criminalização no retorno à liberdade (SOARES, 2009).
 Referindo-se ao perfil das mulheres encarceradas, diversas pesquisas revelam o quanto elas agregam as estatísticas de vulnerabilidade e exclusão social, sendo a maioria mulheres jovens chefes de família, possuindo em média mais de dois filhos menores, possui baixa remuneração por desenvolverem atividades de baixa qualificação como serviços domésticos, apresentam escolaridades baixa e comumente envolvidas com o tráfico de entorpecentes (BRIGUENTI; CARLOS, 2008).
Mas, apesar dos avanços legais, tendo como exemplo o direito de estabelecimento próprio e adequado à condição pessoal da mulher, e o direito à amamentação, estes ainda não ocorrem na prática. A realidade antes e depois da LEP (Lei n 7.210, de Julho de 1984), que em seu art. 1, a Lei diz ter “por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisões criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internato” não modificou de forma substantiva a situação prisional feminina, que continua a ser pensada de forma padronizada, levando em conta apenas o seu maior contingente, representado pelos homens (PEIXOTO, 2008).
De acordo com Iamamoto (2005) os diferentes espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social estabelecem condições e relações sociais através da prática profissional no que diz respeito ao mercado de trabalho, sendo necessário explicitá-las. Nas instituições penitenciárias a atuação do Serviço Social tem um caráter peculiar, ou seja, neste espaço o profissional tem por público alvo não indivíduos que foramàquela instituição requisitar um serviço ou benefício, mas que são sentenciados por um delito e estão cumprindo pena privativa de liberdade (apud SOARES, 2009).
Sendo assim, situações que no sistema prisional resultam em demandas ao Serviço Social, devem ser trabalhadas, segundo Guindani (2001, p.44) atendendo:
A construção de mediações utilizando as redes primárias de relações de produção e reprodução, como ‘redes culturais’, na constituição de identidade sociocultural e a representação social do preso; ‘redes familiares’, trabalhando também com as relações de afetividade, apoio, vínculos, abandonos e vitimização; ‘redes de solidariedade’, trabalhando as relações de apoios sociais, de intersubjetividade e relações interinstitucionais; ‘redes produtivas’, trabalhando as relações de trabalho, do processo de produção e reprodução material das estratégias de sobrevivência; ‘redes políticas’, trabalhando o exercício de cidadania, dos direitos e deveres sociais. 
 Cabe destacar que a atuação deste profissional em seus diferentes espaços tem por orientação legal a Lei de Regulamentação da Profissão 8.662/93 e o Código de Ética Profissional de 1993. Iamamoto (2005) ressalta estes referenciais da profissão como características que marcam uma profissão liberal, apesar das limitações (apud SOARES, 2009).
No que diz respeito à LEP, não se explicita especificamente as atribuições e competências do Serviço Social, porém quando se refere ao direito à assistência social do apenado, menciona atividades institucionais que são historicamente exercidas pelo Serviço Social nas unidades penitenciárias.
Art. 22 - A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade. Art. 23 - Incumbe ao serviço de assistência social: I - conhecer os resultados dos diagnósticos e exames; II - relatar, por escrito, ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido; III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias; IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação; V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da previdência social e do seguro por acidente no trabalho; VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.
Nesse sentido, o essencial para a profissão de Serviço Social é estar sempre construindo e reconstruindo esse objeto, revendo suas particularidades em cada situação. Dessa maneira, poderemos dar um caráter positivo às nossas respostas profissionais. Participando como um agente ativo na formulação de políticas públicas, buscando articulações e se inserido em equipes interdisciplinares (BRIGUENTI; CARLOS, 2008).
De acordo com a visão de Siqueira (2001) o grande desafio para o Assistente Social hoje no campo prisional é viabilizar respostas profissionais que superem o sistema punitivo e violador dos direitos humanos.
3 METODOLOGIA
A pesquisa é definida como o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo apresentar respostas aos problemas. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados (GIL, 1999).
Para Demo (1987), a finalidade básica da ciência é a pesquisa, devendo utilizar-se da metodologia que é um instrumento que nos propõe captar a realidade como ela é, desenvolvendo assim, uma preocupação em torno de descobrir e redescobrir a realidade.
A metodologia consiste, segundo Minayo (1992), no estudo de métodos, com etapas a seguir em um determinado processo. Tem como finalidade, captar as características dos vários métodos disponíveis, avaliando suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções. Desta forma, entende-se que a metodologia é uma maneira de conduzir a pesquisa de forma confiável.
 3.1 TIPO E NATUREZA DE ESTUDO
Este estudo pautou-se em uma pesquisa de campo de natureza qualitativa com abordagem descritiva. Discorre-se sobre a pesquisa qualitativa, como método próprio das Ciências Sociais, fornecendo assim, “análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento” (LAKATOS; MARCONI, 2004, p. 269), pois é preciso preocupar-se em expor os dados subjetivos na abordagem da realidade estudada.
Minayo (1992) afirma que a pesquisa qualitativa se caracteriza por se preocupar com o entendimento da realidade social, não quantificando os resultados da pesquisa.
Na concepção de Gil (1999), a pesquisa descritiva tem como principal objetivo descrever características de determinada população, fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis. Uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas de coletas de dados.
A pesquisa de campo é a modalidade mais usada para este tipo de estudo Chizzotti (2003) concebe este tipo de pesquisa da seguinte forma: 
Os dados são colhidos, interativamente, num processo de idas e 
voltas, nas diversas etapas da pesquisa e na interação com seus 
sujeitos [...] No desenvolvimento da pesquisa, os dados colhidos em 
diversas etapas são constantemente analisados e avaliados (p.89).
Segundo Minayo, (2004) a pesquisa de campo contempla a escolha do espaço da pesquisa, do grupo de pesquisa, os critérios de amostragem e o estabelecimento de estratégia de entrada em campo.
3.2 CAMPO DE ESTUDO
É de grande importância a escolha do campo de estudo, afinal, deve-se investigar se o local estudado terá acesso facilitado, para que ocorra o mínimo de transtorno possível na construção dos dados que se pretende estudar.
O campo de estudo escolhido foi a cidade de Feira de Santana, município brasileiro do estado da Bahia, situado a 109 km de sua capital, Salvador, à qual se liga através da BR-324. Encontra-se num dos principais entroncamentos de rodovias do Nordeste brasileiro, funcionando como ponto de passagem para o tráfego que vem do Sul e do Centro Oeste e se dirige para Salvador e outras importantes cidades nordestinas (IBGE, 2011).
A pesquisa elegeu como campo empírico o Conjunto Penal de Feira de Santana, situado na Estrada Velha do Aviário, s/n, na cidade de Feira de Santana, Bahia. O estabelecimento destina-se aos condenados à pena de reclusão e detenção, em cumprimento de pena em regime fechado e regime semiaberto, por causa dos mais diversos tipos de delitos (ACHECERTO, 2010).
Segundo informações atuais da direção do presídio, seu quadro funcional consta cento e cinquenta profissionais. Atualmente há uma população encarcerada de aproximadamente setecentos e cinquenta e três pessoas, um pavilhão feminino com cento e dezesseis presas e doze celas com capacidade para três detentas cada. Uma dessas celas é de observação e disciplina, no qual, a presa fica no mínimo cinco dias para adaptação assim que chega ao presídio para cumprimento da pena. 
Conforme exigência legal há uma sala especial para palestras, utilizada também para momentos religiosos, um prédio que funciona uma escola da alfabetização ao ensino médio, além de uma cozinha, oficina para realização de cursos como construção civil, pintura, almofadas, uma área de plantio e um prédio hospitalar. As detentas têm direito à visitas intimas que acontecem na própria cela, através de negociações entre elas (SANTOS, PEDREIRA, 2010).
Este presídio destina-se ao recolhimento dos presos provisórios e dos réus condenados ao cumprimento de pena, em regime fechado, das comarcas de Feira de Santana, Amélia Rodrigues, Castro Alves, Coração de Maria, Conceição do Jacuípe, São Gonçalo dos Campos, Santo Amaro, dentre outros municípios e regiões mais distantes que também encaminham detentos por não disporem de estrutura necessária para mantê-los em suas localidades (BARBOSA, 2008 apudSANTOS, PEDREIRA, 2010).
3.3 SUJEITO DE ESTUDO 
Na pesquisa qualitativa todas as pessoas que participam do processo são reconhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos, produzindo práticas adequadas para intervir nos problemas, afinal, os sujeitos de estudo investigados, são diferentes por razões culturais, de classe, de faixa etária, tendo um substrato comum que é a realidade social no momento vivido. (CHIZZOTTI, 2005). 
A pesquisa foi realizada com vinte cinco mulheres encarceradas, em regime fechado ou semiaberto, com faixa etária de 18 à 50 anos, sem distinção de escolaridade e delito cometido. Diante de tais características, foi utilizado o critério de amostragem intencional, para atender aos critérios do problema investigado, em seguida foram dadas informações sobre Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação e realização da pesquisa. 
3.4 COLETA DE DADOS
Segundo Chizzotti (2005), a coleta de dados não é um processo acumulativo e linear. Os dados são colhidos interativamente, num processo de idas e voltas, nas diversas etapas da pesquisa e na interação com seus sujeitos. No desenvolvimento da pesquisa, os dados colhidos são constantemente analisados e avaliados.
A coleta de dados foi realizada através da pesquisa bibliográfica, buscando nos autores renomados fundamentos relacionados a temática discutida, pois, é o momento da pesquisa que se verifica diferentes posicionamentos de autores sobre o assunto. Lakatos (2001) refere-se a esta primeira etapa dando a seguinte definição:
Trata-se de levantamento de toda bibliografia já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contado direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto (p.44).
Sobre pesquisa bibliográfica Gil (2009), afirma que a principal vantagem deste método estar em permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais amplo do que aquela que poderia pesquisar diretamente. 
A segunda fase foi iniciada com a pesquisa de campo, realizada no mês de Abril de 2011, retornando ao local da pesquisa para aplicação de novas entrevistas em outubro de 2012, no sentido, de alinhar e reafirmar as falas anteriores, pelo período de longo tempo que foram realizadas as entrevistas.
A coleta ocorreu no pátio do presídio, no momento do “banho-de-sol” e das atividades complementares das encarceradas. As entrevistas com cada detenta duraram em média trinta minutos, em dois encontros diários, afinal, cada uma têm suas especificidades, limitações e subjetividades.
Ainda, Minayo (2004), considera que a coleta de dados privilegia os sujeitos sociais que detém os atributos que o investigador pretende conhecer, e que neste sentido deve haver um numero significativo de amostragem para permitir uma certa reincidência das informações. E que para tanto, esse conjunto de informantes sejam diversificados para possibilitar a apreensão de semelhantes e diferentes e por fim que o local escolhido contenha o conjunto de experiências e expressões que se pretende objetivar com a pesquisa.
A exploração do campo contempla nas seguintes atividades: escolha do espaço da pesquisa, escolha do grupo de pesquisa, estabelecimento dos critérios de amostragem e estratégia de entrada em campo. E todo esse processo foi utilizado nesta pesquisa para contemplar os objetivos deste estudo (MINAYO, 2004).
Portanto, a importância da Pesquisa de Campo se dá, por o mesmo ser desenvolvido no próprio local de estudo, desta forma o acadêmico terá um contato mais próximo com a proposta estudada, proporcionando assim, credibilidade ao trabalho e resultados satisfatórios.
3.4.1 Instrumento de coleta de dados
Este é o momento, no qual, o pesquisador irá utilizar-se dos instrumentos de coleta escolhido para a pesquisa. Ao nível da pesquisa qualitativa os instrumentos de trabalho de campo são: o roteiro de entrevista e os critérios para observação participante (MINAYO, 2004).
O instrumento utilizado para a realização da coleta de dados foi o roteiro de entrevista semiestruturada (APENDICE B), com dados sócio-demográficos seguido de cinco questões qualitativas no qual abordava definições sobre aspectos negativos na prisão, relação com a família após o encarceramento, estratégias de resiliência utilizadas para superar as dificuldades emocionais no cárcere e a expectativa ao sair do sistema penitenciário. 
Conforme Trivinos (1992), a entrevista parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferece amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Portanto, a escolha dessa técnica foi feita por se adequar ao objeto de estudo a aos objetivos propostos nessa pesquisa afinal “o objetivo da entrevista é compreender as perspectivas e experiências dos entrevistados” (LAKATOS; MARCONI, 2004, p.279).
3.5 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS
Para analisar os dados que foram obtidos nas entrevistas, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo que “compreende criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas” (CHIZZOTTI, 2003, p.98).
Tem a finalidade de esclarecer dados significativos de obras preexistentes, ou seja, a “técnica se aplica à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento” (CHIZZOTTI, 2003, p.98). Dentre as muitas vantagens que o pesquisador utiliza-se desta técnica, outra que é de suma importância seria:
a procura de reduzir o volume amplo de informações contidas em uma comunicação e algumas características particulares ou categorias conceituais que permitam passar dos elementos descritivos á interpretação ou investigar a compreensão dos atores sociais no contexto cultural em que produzem a informação ou, enfim, verificando a influência desse contexto no estilo, na forma e no conteúdo da comunicação (CHIZZOTTI, 2003, p.98).
Para Minayo (2004), a análise de conteúdo é a expressão mais usa representar o tratamento de dados de uma pesquisa qualitativa, pois faz parte de uma histórica busca teórica e prática no campo das investigações sócias.
Segundo Bardin, Análise de Conteúdo pode ser definida como:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimento relativo às condições de produção / recepção destas mensagens (BARDIN, 1979, p.42 apud MINAYO, 2004, p.199).
A análise de conteúdo é desenvolvida em três fases: pré-análise, através da exploração do material, de organizar e sistematizar as ideias, selecionar o que há de importante para ser analisado, e preparar indicadores que nortearam a interpretação final. Em seguida o tratamento dos resultados obtidos, fase em que os dados são codificados para se obter a essência de compreensão do texto. E por fim, a interpretação, momento que o conteúdo é submetido a operações estatísticas, com propósito de tornarem significativos e válidos, evidenciando assim, as informações obtidas (BARDIN, 1979 apud SOUZA; CARNEIRO, 2010).
Para interpretação dos dados, Trivinos (1992) relata que certas condições como: a coerência, a consistência, a originalidade e a objetivação constituem os aspectos do critério da verdade, e da intersubjetividade. Portanto essas informações devem estar presentes no trabalho do pesquisador que pretende apresentar contribuições científicas às ciências humanas.
3.6 ASPECTOS ÉTICOS
O estudo seguiu as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, respeitando os princípios da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
A Resolução 196/96 coloca aspectos importantes quanto à defesa dos direitos humanos dos sujeitos envolvidos na pesquisa, dentre eles, a elaboração do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APENDICE A),

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