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Aula 4 Teoria Geral da Investigação e Perícia

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Teoria Geral da Investigação
e Perícia
Aula 4 - Verdade e investigação
INTRODUÇÃO
É possível encontrarmos diversos parâmetros científicos para a abordagem da verdade e seus reflexos no processo
penal, que vai desde a Bíblia, Jo: 18, 38, O que é verdade?, passando pela filosofia de Aristóteles na Ética a Nicômaco,
Habermas, na obra Teoría de la Acción Comunicativa ou Hanna Arendt na obra Verdade e Política, cujo reflexo direta ou
indiretamente surge no conceito do justo como igualdade ou neutralidade, ou até mesmo em relação de dominação por
lutas entre poderes, como ocorre na abordagem do sociólogo Michel Foucault na obra A verdade e as formas jurídicas,
com reflexos diretos no sistema processual penal por toda a história da humanidade.
OBJETIVOS
Compreender o surgimento histórico das formas jurídicas de controle;
Analisar o surgimento da verdade como uma forma de controle do Estado;
Definir as diversas formas de verdades jurídicas em nosso ordenamento.
O INÍCIO DO SISTEMA DE PROVAS
Vamos viajar no tempo e compreender o surgimento do sistema de provas...
Período aproximado dos séculos V a X
No direito feudal germânico, na Idade Média, a prova recaía na estratégia pela vitória e não na revelação de uma verdade, ou seja,
não havia uma sistematização comunicacional em busca de uma verdade, no período aproximado dos séculos V a X.
Séculos XI ao XII
Quando alcançamos os séculos XI ao XII surgiu o sistema de provas denominado ordálios, que era um sistema de provas de
cunho social, como critério de solução de conflito, revelando-se a importância dos membros da sociedade como um mecanismo
de autopreservação, consequentemente, um mecanismo excludente.
Século XIII
A partir do século XIII surgiu o procurador do Rei associado à Igreja (clero) que passaram a balizar ideologias da fé cristã como
paradigma de controle social, inclusive punindo seus opositores como hereges.
Séculos XIV e XV
A opressão desse sistema fez surgir nos séculos XIV e XV formas de estabelecimento da verdade por testemunhos, geralmente
pessoas com conhecimentos científicos, que perduraram até o XVIII, sofisticando-se as regras sobre provas, através da disputatio,
que consistia em um resultado do processo como elementos de confirmação e refutação.
Século IX
No século IX, a sofisticação iluminista influenciou o desenvolvimento do método da verdade como forma de pesquisa, origem da
Sociologia, da Psicologia, da Criminologia no contexto social da Idade Moderna.
Sedimentou-se, na doutrina hodierna, que o processo como meio heterogêneo de composição de conflitos sociais,
entre outras finalidades, visa à reconstrução de determinado fato pretérito, tendo como resultado final a aplicação de
uma regra jurídica adequada (glossário), prevista no ordenamento positivo.
Se esse pensamento tradicional é correto, não se deve esquecer que essa suposta reconstrução fática ocorre,
inevitavelmente, em termos de linguagem (comunicação entre os sujeitos processuais), pois, no processo, de acordo
com lições de Taruffo, os fatos são representados pelo que se diz dele.
Não se provam fatos, e sim alegações fáticas, consoante suas lições:
“No processo, o fato, na realidade, é o que se diz acerca
dele: é a enunciação fática, não o objeto empírico que é
enunciado” (TARUFFO, 2002, p.114).
Decerto, o juiz, para dar o direito no caso concreto a quem tem razão, precisa de meios que
o possibilitem alcançar a veracidade dos enunciados levados pelos demais sujeitos
processuais (Ministério Público ou querelante, assistente de acusação, e acusado)
ao seu conhecimento.
A esse mister judicante, a prova representa a possibilidade palpável de encontrar (justificar)
essa verdade (racionalização da descoberta da verdade) e permitir que o magistrado profira
uma decisão justa, ou melhor, um provimento final socialmente aceitável.
Desse modo, em uma perspectiva processual, a verdade encontra-se delimitada pelo complexo probatório constante
dos autos, que poderá ser insuficiente ou satisfatório, a depender da intensidade da atividade probatória das partes e
da atuação cooperativa do juiz, sem contudo, lhe atribuir caráter de inquisitorialidade.
Sucede que, atualmente, a controvérsia doutrinária consiste em saber se a verdade almejada no processo penal,
principalmente após a Constituição de 1988, que assegurou direitos e garantias fundamentais ao acusado, continua
sendo absoluta ou assumiu a conotação de relativa, diante da proibição da prova obtida por meio ilícito.
VERDADE REAL, VERDADE FORMAL E PROCESSUAL
Utilizar, processualmente, a expressão verdade real (absoluta) ou verdade relativa é, ainda que inconscientemente,
valorar, do ponto de vista espaço-temporal, a existência de um fato pretérito. Ora, esta é una, insuscetível de qualquer
apreciação valorativa:
ou o fato existiu, ou o fato não existiu.
Dito de outro modo, a verdade, em tese, não comporta predicados.
Todavia, a reflexão inadvertida sobre o assunto teve como efeito colateral a consagração da dicotomia verdade
absoluta/verdade relativa.
Segundo esta classificação, no processo civil predominaria a verdade relativa ou também denominada de formal,
porquanto, além da disponibilidade da relação jurídica deduzida em juízo, fenômenos como o das presunções legais,
inexigibilidade de prova sobre fatos incontroversos, preclusão e outros, impediriam o desvelamento da verdade real
(glossário), que, por sua vez, corresponderia ao processo penal, já que, em nome da tutela de interesses indisponíveis
(defesa social), não se toleraria o menor obstáculo para alcançá-la.
Nesse sentido, Julio Maier (1999, p. 859) sustenta que:
“por razão do ideal que persegue - averiguar a verdade objetiva, real ou material -, no
Direito Processual Penal, toda a regulação jurídica da prova, como método para alcançar esse objetivo,
é favorável à investigação do caso, em uma medida muito superior a prevista por outros procedimentos
judiciais. Este é, precisamente, um dos aspectos que caracteriza o Direito Processual Penal, que alguns
autores tem elevado à categoria de princípio” (tradução livre).
E complementa que:
“é preciso aclarar, em princípio, que, como sucede com a persecução penal, o interesse público pela pena
estatal está destituído do interesse particular, inclusive em matéria probatória. De tal maneira, o próprio Estado,
por intermédio de seus órgãos competentes, é interessado em averiguar a verdade acerca da existência ou
inexistência de um direito, para aplicar suas regras penais e, eventualmente, fazer atuar a consequência jurídica,
prescindindo do interesse particular” (Julio Maier, 1999, p. 860 � tradução livre).
Comentário
, Alguns doutrinadores chegam a mencionar a denominada verdade eticamente construída ou verdade processual, pois o juiz
decide de acordo com as argumentações representativas dos fatos postos em juízo, o que não necessariamente representará a
verdade, mas os fatos conforme a visão argumentativa de cada um, que também poderá ser diferente da verdade compreendida
pelo juiz.
, ÔNUS DA PROVA NO PROCESSO PENAL
Entre as repercussões práticas do princípio da verdade real, uma não poderia, ainda que sucintamente, deixar de ser analisada:
a relação entre a busca da verdade absoluta e o ônus da
prova objetivo
(presunção de inocência enquanto regra de julgamento) no
processo penal.
Em verdade, nem sempre se logra, em um primeiro momento, conhecer a verdade dos fatos alegados
pelas partes no processo ou perseguido na investigação criminal, muitas vezes, possui dúvida irremovível
sob ponto relevante para o julgamento ou para a conclusão da investigação.
Vale dizer: ao valorar o complexo probatório constante dos autos, não se convence, suficientemente,
sobre a (in)existência da conduta delitiva imputada ao réu seja para condená-lo seja para se perquirir
uma medida cautelar como a interceptação telefônica, consequentemente os aspectos da culpa ou
inocência, suspeito ou testemunha.
, QUAL A TERMINOLOGIA CORRETA?
Pouco importa a denominação. São apenas vocábulos que, de uma forma geral, designam a falsarepresentação de
uma realidade, algo imaginário, não científico. São termos que demonstram o quão é inalcançável a verdade absoluta
dentro da investigação criminal.
Vale lembrar que a construção da verdade real repousa suas raízes no sistema inquisitório, estando, intrinsecamente,
ligado à concepção de um Estado autoritário, que, através de torturas, fez da confissão a rainha da provas.
Apesar disso, como nossa doutrina e Tribunais decidem
sobre a verdade?
A análise desse princípio inicia-se pelo conceito de verdade, que será sempre relativa, enquanto não findar as possibilidades
de se alcançar o retrato fiel de como os fatos ocorreram na realidade.
Malatesta afirma que a verdade é a“conformidade da noção ideológica com a realidade” e que a certeza é a crença
nessa conformidade, gerando um estado subjetivo do espírito ligado a um fato, sendo possível que essa crença não
corresponda a verdade objetiva.
Portanto, pode-se afirmar que a certeza e a verdade nem
sempre coincidem; por vezes, duvida-se do que
objetivamente é verdadeiro; e a mesma verdade que parece
certa a um, a outros parece por vezes duvidosa ou até
mesmo falsa.
Fonte da Imagem: Andrey_Popov / Shutterstock
Diante disso jamais, no processo, pode assegurar o juiz ter alcançado a verdade objetiva, aquela que corresponde
perfeitamente com o acontecido no plano real.
Assim, pelo princípio da livre investigação das provas, a verdade material ou real é a que mais se aproxima da
realidade, tendo o legislador facultado ao juiz ir além da iniciativa das partes na colheita das provas, devendo, se for o
caso, agir de ofício, esgotando todas as possibilidades para alcançar a verdade real sobre os fatos para fundamentar a
sentença.
STJ. RHC 1806/RJ 6ª Turma DJ 02.05.2006, já se posicionou nesse sentido “ A busca da verdade real constitui
princípio que rege o Direito Processual Penal. A produção de provas, porque constitui garantia constitucional, pode ser
determinada, inclusive, pelo Juiz, de ofício, quando julgar necessário.
Ressalte-se que na esfera penal a investigação trilha caminho diverso da esfera civil, na qual o tratamento da verdade
obedece a regras distintas, quando em regra de direitos disponíveis ou transacionáveis, permitindo a admissão da
parte contrária quando não impugna determinado fato trazido pelo autor na petição inicial, incidindo o princípio da
eventualidade e da impugnação especificada, trazendo efeitos materiais ao que ocorre em um dos efeitos materiais da
revelia, também no processo civil.
Em outras palavras, no processo civil, vige a verdade formal, em se tratando de algumas hipóteses, em sua maioria
admissíveis nos direitos disponíveis, e por assim o serem, atribui-se à parte inteira disposição sobre seu próprio direito
material, regulamentando como um ônus processual determinadas posturas do réu, que ao ferirem preceitos e
princípios (como os citados anteriormente) inerentes a esta disponibilidade, têm como consequência processual,
reflexo de ordem material, como tornar incontroversa matéria não impugnada ou presumirem verdadeiros aquilo, que
para o réu, não interessava impugnar.
ATIVIDADE
Será que estamos aptos a realizar um exercício de reflexão sobre o tema? Vamos tentar?
Analisando a figura a seguir qual o aspecto da verdade que poderá prevalecer em nossa realidade jurídica?
Resposta Correta
Glossário
APLICAÇÃO DE UMA REGRA JURÍDICA ADEQUADA
“As exposições clássicas costumam apresentar o mecanismo do julgamento sob a forma de um silogismo, em que a premissa
maior seria a norma, e a menor o enunciado fático. Essa explicação um tanto simplista desfigura em certa medida a dinâmica do
ato de julgar, mas não sofre dúvida que norma e fato serão sempre dois pontos básicos de referência no processo mental do
julgador” (MOREIRA, 1988, p. 73).
DESVELAMENTO DA VERDADE REAL
TARUFFO, Michel. Ob. Cit., p. 45. Quanto à impossibilidade prática de desvelar a verdade absoluta, Michele Taruffo registra que:
“[...] o juiz não dispõe de instrumentos cognoscitivos nem de tempo e da liberdade de investigação que dispõe o cientista ou
historiador. Diferentemente da atividade desses dois últimos, o processo deve se desenvolver em um tempo limitado, dado que
tanto o interesse público quanto privado pressionam para que o final do litígio seja alcançado rapidamente, e este é um grande
obstáculo para a busca da verdade.”