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Direito Ambiental – Constituição Ecológica Constituição e Meio Ambiente 1. Introdução A atenção dada à questão ambiental pode ser considerada como historicamente recente. Apenas com o final da Segunda guerra Mundial e o advento da Guerra Fria - período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética – foi que os dilemas referentes ao desenvolvimento e a degradação ambiental resultante deste começaram a entrar em foco. Os direitos fundamentais são um conjunto de direitos e garantias que fornecem um núcleo mínimo de proteção aos indivíduos perante o Estado, com o objetivo de possibilitar uma boa convivência social, bem como protegem o indivíduo em suas relações com outros (eficácia horizontal). Referem-se à pessoa humana e estão incorporados ao ordenamento jurídico. Os direitos fundamentais são os direitos básicos individuais, sociais, políticos e jurídicos que são previstos no texto constitucional. Diferenciam-se dos direitos humanos em virtude de estes serem os direitos previstos em tratados e normas internacionais. Os direitos fundamentais e os direitos humanos podem ser os mesmos, sendo o único critério de diferenciação a espécie de documento no qual estão previstos. A característica da historicidade deve-se ao fato de que os direitos fundamentais evoluem com o passar do tempo, uma vez que a sua formação se dá no decorrer da história. A teoria das gerações ou dimensões dos direitos fundamentais se baseia especificamente nessa característica – e devemos ressaltar que os direitos fundamentais não se substituem quando a geração se altera; sua característica fundamental é a complementaridade, ou seja, os direitos fundamentais são cumulativos entre si. O conceito de direitos fundamentais vai se desenvolvendo junto com a sociedade, bem como suas formas de proteção. A pessoa, como ser individual, só passou a ser protegida com o surgimento das ideias iluministas, no decorrer do século XVIII. São considerados direitos fundamentaisde primeira geração aqueles ligados à ideia de liberdade; são os direitos civis e políticos, de caráter individual e negativo, por exigirem uma abstenção do Estado.O estabelecimento do Estado liberal, porém, causou um êxodo rural, fomentado pelo início da Revolução Industrial – que representou a origem de vários conflitos sociais. Para solucionar tais conflitos e atender às reivindicações sociais, o Estado passa a ser dotado de diversos deveres sociais, os direitos de segunda geração, que abrangem os direitos sociais, econômicos e culturais. Tal proteção surgiu apenas após a 1ª Guerra Mundial. São liberdades positivas, que exigem uma ação concreta por parte do Estado para sua efetivação. Será competência estatal assegurá-los. Os direitos de terceira geração se relacionam aos ideais de desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, ao direito de propriedade sobre patrimônio comum da humanidade, à defesa do consumidor e ao direito de comunicação. Apresentam uma proteção mais sistêmica. Os direitos de terceira geração são considerados difusos, transindividuais, uma vez que se aplicam à proteção de todos enquanto coletividade. A doutrina também trata dos direitos de quarta geração, que compreendem os direitos à democracia, globalização, informação e pluralismo, e direitos de quinta geração, que tratam do direito à paz, entendida tal qualidade como essencial ao progresso da humanidade. O direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225 da Constituição Federal) é considerado um direito humano fundamental de terceira geração – ou seja, direitos que surgiram no início do Séc. XX e estão ligados ao ideal da solidariedade e da fraternidade, e se relacionam ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade, ao fortalecimento das instituições democráticas e ao direito de comunicação. A Constituição é a norma máxima de um ordenamento jurídico, fundamentando-o e lhe dando validade, além de ser diploma capaz de definir a estrutura política fundamental de um Estado, seus princípios políticos, e estabelecer a estrutura, procedimentos, poderes e direitos de um governo, reunindo as regras a serem seguidas em sociedade. A ideia de regramento é característica da formação social e se conecta à formação e detenção do poder no estabelecimento de uma sociedade. A nossa Constituição Federal trata, de maneira pormenorizada, da proteção a vários direitos fundamentais. A sua designação de “Constituição Cidadã” advém da vastidão de direitos fundamentais por ela resguardada. De modo geral, os artigos 5º a 17 da Constituição Federal tratam dos direitos fundamentais, embora estes também sejam tratados de forma esparsa pelo restante do texto constitucional. Não existe, em nosso ordenamento jurídico, nenhum direito fundamental que possua caráter absoluto, no sentido de ser ilimitado ou de não sofrer de nenhuma restrição. Podemos afirmar, portanto, que os direitos fundamentais não têm natureza absoluta. No caso concreto, os direitos fundamentais podem ser limitados ou restringidos, especialmente quando há colisão entre dois ou mais direitos fundamentais, todos terão de ceder, quando a prevalência de um direito sobre outro demonstra a possibilidade de sua limitação. O Direito Ambiental é conceituado por AMADO (2014, 5ª. edição, pág.40, grifos do autor) como “Ramo do direito público composto por princípios e regras que regulam as condutas humanas que afetem, potencial ou efetivamente, direta ou indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o artificial”. O Direito Ambiental, portanto, é ramo de direito público (normas jurídicas de natureza pública, compreendendo tanto o conjunto de normas jurídicas que regulam a relação entre o particular e o Estado, como o conjunto de normas jurídicas que regulam as atividades, as funções e organizações de poderes do Estado e dos seus servidores), autônomo (possui seu próprio conjunto de princípios norteadores), e de natureza transversal (tem contato com os demais ramos jurídicos). Apresenta natureza preventiva, buscando agir antecipadamente ao surgimento de questões ambientais – até porque, por sua natureza, os danos causados ao meio ambiente frequentemente se apresentam como irreversíveis ou de difícil reparação ou retorno ao estado anterior. 2. Meio Ambiente O meio ambiente é uno e indivisível; porém, didaticamente, a classificação do meio ambiente possibilita a compreensão do tema e na sua abordagem pela Constituição Federal. A definição legal do meio ambiente (conceito jurídico) é estabelecida pelo artigo 3.º, I, da Lei 6.938/81, que conceitua meio ambiente como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. O conceito jurídico de meio ambiente reúne os elementos bióticos (elementos vivos) e abióticos (não apresentam vida, mas que influenciam a qualidade de vida). RODRIGUES (pág.70), por sua vez, considera que o meio ambientecorresponde a uma interação de tudo que, situado no espaço que abriga, permite e conserva todas as formas de vida, é essencial para a vida com qualidade em todas as suas formas. O meio ambiente pode ser compreendido em vários aspectos: natural, artificial, cultural e do trabalho. Podendo ainda, segundo alguns doutrinadores, serem contemplados os aspectos digital, histórico e intelectual. O conceito legal de meio ambiente se restringe ao chamado meio ambiente natural ou físico, ou seja, se refere aos bens que existem mesmo sem influência do homem, integrado pela atmosfera, pelos elementos da biosfera, pelas águas, pelo solo, pelo subsolo, pela fauna e flora. Representandoa questão da homeostase - o equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e meio em que vivem (FIORILLO, 2013, 14ª edição, pág.50). São considerados como recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. O chamado meio ambiente artificialou construído (Constituição Federal, art. 182) compreende o espaço urbano construído, influenciado pela ação humana, integrado pelas edificações (espaços fechados) eequipamentos públicos (espaços abertos); a Constituição Federal trata do meio ambiente artificial em seus artigos 5º, XXIII, 21, XX, 182 e 225. Conecta-se intimamente à ideia de cidade, que é uma área urbana densamente povoada, onde se agrupam zonas residenciais, comerciais e industriais. O meio ambiente cultural se refere ao patrimônio cultural brasileiro (Constituição Federal, arts. 215 e 216), considerado este como o conjunto de bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Observe os dispositivos constitucionais correspondentes: Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. § 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; II - produção, promoção e difusão de bens culturais; III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; IV - democratização do acesso aos bens de cultura; V - valorização da diversidade étnica e regional. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico- culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. § 6 º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados. O patrimônio cultural é o conjunto de bens materiais e imateriais que contam a história de um povo e sua relação com o meio ambiente. Ampliando o conceito, podemos defini-lo como o conjunto de todos os bens, manifestações populares, cultos, tradições tanto materiais quanto imateriais (intangíveis), que reconhecidos de acordo com sua ancestralidade, importância histórica e cultural de uma região (país, localidade ou comunidade) adquirem um valor único e de eternidade. Assim, de acordo com sua particular e significativa forma de expressão cultural, é classificada como patrimônio cultural, determinando-se sua proteção, para garantir a continuidade e preservação, com a intenção de assegurar, para as gerações futuras conhecer seu passado, suas tradições, sua história, os costumes, a cultura, a identidade de seu povo. O meio ambiente histórico é aspecto do meio ambiente cultural, e trata da história das pessoas, o trajeto social decorrido com o passar do tempo e que forma a sociedade presente. O meio ambiente do trabalho ou laboral (arts. 7º, XXIII e 200, VIII, Constituição Federal) refere-se ao local onde é exercido as atividades laborais do ser humano, com foco na saúde e na segurança do trabalhador.Conforme FIORILLO (pág.53), o meio ambiente do trabalho é constituído pelo local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, de forma remunerada ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc.). Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei, colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. O patrimônio público é o conjunto de bens, direitos e valores, pertencentes a todos. Dentro da seara do Direito Administrativo, o termo patrimônio público refere-se aos bens que pertencem ao Estado, e poderá incluir também bens pertencentes aos particulares, desde que este estejam afetados, por algum motivo, a uma finalidade pública e submetidos ao regime jurídico dos bens públicos. É o caso dos bens tombados, da requisição administrativa, do registro (forma de proteção ao patrimônio cultural imaterial), do inventário (instrumentos voltados para a identificação, documentação, produção de conhecimento einformação sobre os bens culturais, que integram iniciativas voltadas àprodução de conhecimento que podem ou não redundar em medidas de proteção; oinventário será considerado um instrumento deproteção e/ou acautelamento apenas quando expressamente definido em norma própria - IPHAN), da vigilância (fiscalização) eda desapropriação, por exemplo. São formas de intervenção estatal na propriedade: a servidão administrativa ( direito real público que autoriza o Poder Público a usar da propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo – ALEXANDRINO e PAULO, 2017, 25ª edição, pág.1.122); a requisição (instrumento de intervenção estatal mediante o qual, em situação de perigo público iminente, o Estado utiliza bens móveis, imóveisou serviços particulares com indenização ulterior, se houver dano – ALEXANDRINO e PAULO, pág.1.125); a ocupação temporária (o Poder Público usa transitoriamente imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos – ALEXANDRINO e PAULO, pág.1.127); a limitação administrativa (determinações de caráter· geral, por meio das quais o poder público impõe a proprietários indeterminados obrigações de fazer ou de deixar de fazer alguma coisa, com a finalidade de assegurar que a propriedade atenda a sua função social – ALEXANDRINO e PAULO, pág.1.128); o tombamento (o Poder Público procura proteger o patrimônio cultural brasileiro – ALEXANDRINO e PAULO, pág.1.130); e a desapropriação (procedimento de direito público mediante o qual o Estado, ou quem a lei autorize, retira coercitivamente a propriedade de terceiro e a transfere para si - ou, excepcionalmente, para outras entidades -, fundado em razões de utilidade pública, de necessidade pública, ou de interesse social, em regra, com o pagamento de justa e prévia indenização – ALEXANDRINO e PAULO, pág.1.133). 3. Direito Ambiental na Constituição Federal de 1988 A Constituiçãode 1988é a primeira adestinarum capítulo próprio a meio ambiente(Título VIII,Capítulo VI), contemplando um conjuntode comandos,obrigações e instrumentos paraa efetivaçãodomeio ambiente ecologicamente equilibrado,comodeverdo Poder Público e da coletividade (OLIVEIRA, 2017, 2ª edição, pág. 80). A Constituição Federal de 1988 deu, além do status constitucional de ciência autônoma ao Direito Ambiental, o complemento de tutela material necessário à proteção sistemática do meio ambiente,tendo o legislador reservado um capítulo inteiro para o seu tratamento (art. 225) (RODRIGUES, 2016, 3ª. edição, pág.62). O direito ambiental brasileiro, como ramo autônomo da ciência jurídica, é uma criação historicamente recente. Conforme RODRIGUES (pág.58 e ss.), sua abordagem se divide em três fases: tutela econômica do meio ambiente (O ambiente não era tutelado de modo autônomo, senão apenas como um bem privado, pertencente ao indivíduo); tutela sanitária do meio ambiente (pela preponderância na tutela da saúde e da qualidade de vida humana) e tutela autônoma do meio ambiente e o surgimento do direito ambiental (mudança de paradigma a partir da década de 80, passando o meio ambiente a ser considerado de forma principal). Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, conferiu-se à proteção do meio ambiente status constitucional, como direito fundamental de terceira dimensão ou geração. Em nosso ordenamento jurídico, é da Constituição Federal que as outras demais normas jurídicas retiram seu fundamento de validade; o fato do texto constitucional abordar os aspectos ambientais, estabelecendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput) como direito de todos, das presentes e futuras gerações, demonstra o patamar de importância que a questão ambiental passou a ter desde então. A Constituição Federal estabeleceu também uma série de princípios fundamentais que orientam o direito ambiental e a interpretação das leis ambientais, tais como princípio da prevenção, da precaução, do poluidor-pagador, e do desenvolvimento sustentável (art. 170, Constituição Federal). Observe, na íntegra, a redação do dispositivo (grifos nossos): Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far- se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos(VerLei nº 13.364/16 e ADI n. 5.728). 4. Conceitos fundamentais Como podemos observar, o art. 225 estabelece os chamados princípios do Direito Ambiental, e estabelece o meio ambiente como elemento necessário à perpetuação da vida no planeta. O caput do dispositivo estabelece a chamada responsabilidade ambiental - conjunto de atitudes, sejam individuais, coletivas ou empresariais, que objetivam atingir o desenvolvimento sustentável. Tais atitudes devem levar em conta o meio como o crescimento econômico se dá de forma harmônica com a proteção do meio ambiente, tanto na atualidade quanto para as gerações futuras, garantindo a sustentabilidade, conforme o caput do art. 225 da Constituição Federal determina: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.O meio ambiente ecologicamente equilibrado é aquele não poluído, que apresenta higidez e salubridade. A ética ambiental representa um conceito filosófico que se desenvolve em oposição ao antropocentrismo (o ser humano como centro das relações jurídicas) e que que amplia o conceito de ética, enquanto da forma de agir do homem em seu meio social, pois se refere também à sua maneira de agir em relaçãoà natureza (biocêntrica), ao considerar que que a conservação da vida humana está intrinsecamente ligada à conservação da vida de todos os seres – buscando, desse modo, estabelecer uma forma saudável e menos predatória de convivência entre o homem e os demais seres vivos, de modo a preservar o ambiente com o objetivo de garantir a existência das próximas gerações (ética intergeracional). O caput do art. 225 da Constituição Federal apresenta uma leitura antropocêntrica mitigada, focando no bem-estar dos seres humanos e seu direito ao ambiente ecologicamente equilibrado. Essa proteção dada ao meio ambiente não se efetiva apenas em face do Estado, mas também em relação aos particulares que ameacem ao meio ambiente, prejudicando seu equilíbrio. Serão bens de uso comum do povo aqueles designados à utilização geral pelas pessoas, em igualdade de condições e geridos pelo Estado. O seu uso não exige o consentimento individual do poder público para ser concretizado. De modo geral, são colocados à disposição da população de forma gratuita, embora não exista impedimento legal para a cobrança de valor afim de efetivar o acesso. Sujeitam-se ao poder de polícia estatal, podendo, portanto, serem regulamentados e fiscalizados pelo Estado, que pode usar de força coercitiva para garantir a conservação do bem e a segurança de seus usuários. O Código Civil nos apresenta, em seu art. 99, I, uma lista exemplificativa de bens (rios, mares, estradas, ruas e praças), a qual podemos acrescentar os logradouros públicos, praias e demais bens da mesma natureza. No caso do meio ambiente, o STF firmou decisão no sentido de que os bens de uso comum do povo podem ser considerados como macrobem ambiental (o meio ambiente como um todo é bem de uso comum do povo,representado por sua harmonia global e o equilíbrio ecológico; é incorpóreo, imaterial, inapropriável e indivisível) e o microbem ambiental(elementos ambientais considerados de forma isolada, como a fauna, a flora e a água; representam a parte corpórea, física, do meio ambiente, e podem ter titularidade pública ou privada), sendo que as reparações ao macrobem terão sempre preponderância de Direito Público, ao passo que os temas relativos ao microbem ambiental estão relacionados ao Direito Privado (ver REsp 1.711.009). O bem ambiental tem natureza jurídica de direito difuso: ele será transindividual (ultrapassa a esfera de interesse de um único indivíduo), de natureza indivisível, sendo suas titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. A satisfação do direito deve atingir a uma coletividade indeterminada, porém, ligada por uma circunstância de fato. Abrangerá matérias de interesse da coletividade, restando assim justificada a atuação comum de todos os entes da Federação. Ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado estabelecido pelo caput do art. 225 da Constituição Federal são opostos deveres, que obrigam tanto o poder público quanto à sociedade, e que apresentam as ações necessárias à finalidade de garantir que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado seja cumprido de maneira integral. O art. 225, §1º, apresenta deveres do poder público, que deve atuar no sentido de assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (norma matriz), sendo de sua incumbência: • preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas: por meio de tais condutas, são protegidos o solo e o ar, defendidas a qualidade das águas e preservação do patrimônio florestal, o equilíbrio climático, entre tantas outras ações essenciais à vida no planeta; O manejo ecológico das espécies diz respeito à gestão de elementos do ecossistema, já o manejo dos ecossistemas (entendido como o sistema em que plantas, animais e microrganismos interagem com o ambiente físico) reflete a conservação do sistema como um todo (ABRÃO inMACHADO e FERRAZ, 2018, 9ª edição, pág. 1.135). Assim, esse dever relacionando-se ao desenvolvimento sustentável. • preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético:o patrimônio genético consiste na riqueza biológica representada pelo conjunto de fauna e flora de uma determinada região, e sua proteção pode se realizar pela conservação da espécie no ecossistema no qual está inserido e protegendo esse espaço, pela proteção ao organismo inteiro ou parte do organismo, a partir do qual será possível sua reprodução(ABRÃO in MACHADO e FERRAZ, pág. 1.136).Ver Lei nº 11.105/05 (Lei da biodiversidade). • definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção: tais espaços territoriais,que demandam especial proteção em virtude de suas características, biodiversidade e importância, seconstituem em instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81, art. 9º, VI) e podem ser criados por lei, decreto, portaria ou resolução. • exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade: essa exigênciademanda a análise de impacto ambiental provocada por atividade que causa degradação ambiental, representando um juízo de valor acerca do projeto, elaborado de maneira prévia, de forma a analisar as suas consequências em um determinado espaço – e isto deve ser feito de maneira pública, de modo a possibilitar o conhecimento do tema pela sociedade, de modo que esta possa se posicionar em relação à uma atividade que pode prejudicar o meio ambiente, bem de uso comum. O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) será elaborado por equipe multidisciplinar, composta por profissionais das mais diferentes áreas, e tem caráter conclusivo, esclarecendo a terminologia técnica apresentada pelo EIA, e analisando detalhadamente o impacto ambiental, por meio de levantamentos e análise de dados, apresentando conclusões em linguagem mais simples e possibilitando que o órgão público licenciador estude o relatório, para determinar a viabilidade das condições de empreendimento. • controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente: é papel do Estadodisciplinar e fiscalizar a atividade econômica, o que demanda do ente estatal agir de maneira a avaliar o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação(ABRÃO in MACHADO e FERRAZ, pág. 1.138).é o controle exercido pelo poder público sobre atividades que causam danos ao meio ambiente ou à saúde humana. • promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente: a educação ambiental é ferramenta de efetivação da cidadania. A Lei nº 9.795/99 define a educação ambiental como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade, sendo que todos têm direito à educação ambiental e esta representa componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. • proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinçãode espécies ou submetam os animais a crueldade: a fauna é o conjunto de animais de qualquer espécie que viva naturalmente fora do cativeiro, enquanto a floraé o conjunto de plantas de uma determinada área – e ambos são fundamentais ao equilíbrio ecológico.OLIVEIRA (pág. 440) conceitua função ecológica como opapel essencialquecadaelementodesempenhanomeioemqueestái nserido, e que pode ser colocada em risco pelo uso das técnicas predatórias como caça e desmatamento.RODRIGUES (pág.107) aponta que, neste caso, buscou-se à proteção da fauna não apenas a partir de sua condição de microbem ambiental essencial na manutenção do equilíbrio ecológico – o que corresponde à proteção de sua função ecológica -, mastambém houve a preocupação expressa em relaçãoàs práticas que submetam os animais a crueldade, e aquelas que podem acarretar na extinção deespécies, tanto da fauna quanto da flora (visão biocêntrica do meio ambiente, que respeita a vida em todas as suas formas). Os §§2º a7º do art. 225 representam determinações particulares, de natureza específica, que o constituinte achou por bem tratar de maneira própria. A exploração de recursos minerais obrigaa quem exerce a atividade minerária a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente (responsabilidade objetiva do minerador). As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados; assim, para que surja a responsabilidade ambiental, é suficiente o dano ao meio ambiente, independente de culpa. Responsabilidade é a capacidade que a pessoa, física ou jurídica, tem de responder pelos seus atos, seja com seu patrimônio ou por meio de restrição ou privação de direitos. Pode ser objetiva, que é o caso estabelecido pelo art. 225, §3º, da Constituição Federal (independe de culpa) ou subjetiva (fundamentada na culpa). É a previsão da tríplice responsabilidade do poluidor (tanto a pessoa física como jurídica), que responderá pelo dano causado em três esferas: civil, penal e administrativa. Resta possível, portanto, que um mesmo fato jurídico imputável a um ente receba sanção nessas três esferas distintas. No caso do Direito ambiental, todas as sanções convertem para um mesmo objetivo, que é a recuperação ambiental – comprovada por meio de laudo de reparação do dano ambiental (cumulatividade de sanções).No caso de danos ambientais, a responsabilidade objetiva terá caráter solidário, quando houver mais de um responsável. São requisitos da responsabilidade objetiva: a conduta, o dano e o nexo de causalidade. O STJ, em suas decisões, considera que a teoria adotada em casos ambientais é a da teoria do risco integral (basta a existência do evento danoso e do nexo causal para que surja a obrigação de indenizar para o Estado, não admitindo excludentes de responsabilidade), com fundamento no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81 (princípio do poluidor pagador). O responsável pela reparação do dano ambiental será o poluidor – considerado este a pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que for responsável, diretamente ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são macrorregiões consideradas como patrimônio nacional, e sua utilização será feita, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. O STF entende que tais áreas não passam a ser bens da União, podendo os particulares utilizá-las dentro de critérios e prescrições legais que assegurem a preservação ambiental necessária(ABRÃO in MACHADO e FERRAZ, pág. 1.141). São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias (ver Lei nº 8.363/76), necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. As terras devolutas integram os bens dominicais e consistem em terras públicas que não têm destinação certa pelo Poder Público, e que em nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua posse. As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. Bibliografia Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso dia 17/12/2018. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso dia 17/12/2018. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm. Acesso dia 17/12/2018. ABRÃO, Bernardina F. F., in MACHADO, Costa (organizador) e FERRAZ, Anna Cândida da Cunha (Coordenadora). Constituição Federal interpretada: artigo por artigo. Parágrafo por parágrafo. -9. ed.- Barueri, SP: Manole, 2018. ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 25ª. ed. rev. atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método. 2017. AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito ambiental esquematizado. – 5.ª ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm IPHAN. Dicionário do Patrimônio Cultural. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/64/inv entario. Acesso dia 17/12/2018. OLIVEIRA,FabianoMeloGonçalvesde. Direito ambiental–2. ed.rev.,atual. eampl.– RiodeJaneiro:Forense;SãoPaulo:MÉTODO,2017. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado; coordenação Pedro Lenza. – 3. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016. https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_ambiental. Acesso dia 17/12/2018. https://www.conjur.com.br/2017-dez-21/stj-define-macro-microbem- ambiental-julgar-acao-samarco. Acesso dia 17/12/2018. http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/64/inventario http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/64/inventario https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_ambiental https://www.conjur.com.br/2017-dez-21/stj-define-macro-microbem-ambiental-julgar-acao-samarco https://www.conjur.com.br/2017-dez-21/stj-define-macro-microbem-ambiental-julgar-acao-samarco
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