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APOSTILA TEXTO ESTUDOS FILOSOFIA

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Unidade I
A origem da Filosofia
O legado da Filosofia
grega para o Ocidente1
Mito: o que é?
O exercício da razão
Cosmogonia e Teogonia
Condições históricas
A origem 
da Filosofia
	A palavra filosofia é grega. Composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.
Unidade I
	Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, 
deseja saber.
Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
	Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V a.C) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.
O legado da Filosofia grega para o Ocidente
	A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego.
	Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas.
Unidade I
Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que
surgiu especificamente com os gregos e que, por razões histó-
ricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se
exprimir predominante da chamada cultura européia
ocidental da qual, em decorrência da colonização
portuguesa do Brasil, nós também participamos.
Millôr
	Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte.
	A civilização grega desenvolveu-se na península balcânica, a mais oriental do sul da Europa, rodeada de ilhas. Seu relevo montanhoso facilitou a formação de grupos isolados e autônomos, como de fato foram as cidades-estados (as polis).
	A pouca fertilidade do solo acidentado foi compensada pela presença de ótimos portos naturais. Assim os gregos puderam desenvolver com segurança a navegação, que possibilitou o crescimento do comércio e, conseqüentemente, a riqueza crescente das cidades-estados.
	O aumento populacional levou à procura de terras férteis e à criação de muitas colônias nas regiões mediterrâneas. A fiscalização e a proteção dessas colônias eram tarefas da frota grega.
	Nos séculos VI e V a.C., as polis conheceram o apogeu econômico, político e cultural. Foi exatamente nesse período glorioso que surgiu na cultura grega o confronto entre mito e filosofia.
Historiadores afirmam que a Filosofia teria nascido no final do século VII e
 início do século VI a.C., nas colônias 
Unidade I
gregas da Ásia Menor – cidade de Mi-
leto; e também possui um conteúdo preciso ao nascer: cosmologia.
· Cosmo: mundo ordenado e organizado.
· Logia (logos): pensamento racional, conhe-cimento.
“A Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da natureza.”
	Tanto o mito quanto a filosofia são formas que o homem utiliza para explicar o mundo. São explicações que visam a responder aos questionamentos sobre o sentido da vida, o surgimento do universo e do homem, assim como justificar as normas que garantem a vida em comunidade. Ao buscar essas explicações, seja pela linguagem do mito, seja pela linguagem filosófica, o homem está tentando estabelecer a estrutura de sua cultura.
 
A Filosofia resultou/resulta do somatório lento e progressivo do pensamento humano de todas as civilizações e culturas.
“Filosofar é, basicamente, admirar a realidade tal qual ela existe; é deixá-la
falar por si mesma; é saber contemplá-la sem projetar nela temores míticos
e crenças fantasiosas.”
Unidade I
	Por meio de longo processo histórico, o pensamento filosófico surge promovendo a passagem do saber mítico ao pensamento racional, sem entretanto romper bruscamente com todos os conhecimentos do passado. Durante muito tempo, os primeiros filósofos gregos compartilharam de diversas crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizava a filosofia. Esta passagem do mito à razão significa precisamente que já havia, de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado, na realidade filosófica ainda está incluído o poder lendário.
Mito, o que é?
A Saga de Édipo
	Na antigUidade, o mito de Édipo foi utilizado pelo dramaturgo Sófocles (496-406 a.C.), na tragédia Édipo rei, para uma reflexão sobre as questões da culpa e da responsabilidade dos homens perante as normas e tabus. Segue o resumo desse relato mítico:
	
Laio, rei da cidade de Tebas e casado com a bela Jocasta, foi advertido pelo oráculo (resposta que os deuses davam a quem os consultava) de que não poderia gerar filhos. Se esse aviso fosse desobedecido, seria morto pelo próprio filho e muitas outras desgraças surgiriam.
A princípio, Laio não acreditou na profecia do oráculo e teve um filho com Jocasta. Quando a criança nasceu, porém, cheio de remorso e com medo da profecia, ordenou que o recém-nascido fosse abandonado numa montanha, com os tornozelos furados amarrados por uma corda. O edema 
Unidade I
provocado pela ferida é a origem do nome Édipo, que significa “pés inchados”.
Mas o menino Édipo não morreu. Alguns pastores o encontraram e o levaram ao rei de Corinto, Polibo, que o criou como se fosse seu filho legítimo. Já adulto, Édipo ficou sabendo que era filho adotivo. Surpreso, viajou em busca do oráculo de Delfos para conhecer o mistério de seu destino. O oráculo revelou que seu destino era matar o próprio pai e se casar com a própria mãe. Espantado com essa profecia, Édipo decidiu deixar Corinto e rumar em direção a Tebas. No decorrer da viagem encontrou-se com Laio. De forma arrogante o rei ordenou-lhe que deixasse o caminho livre para sua passagem. Édipo desobedeceu às ordens do desconhecido. Explodiu, então, uma luta entre ambos na qual Édipo matou Laio.
Sem saber que tinha matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para Tebas. No caminho deparou-se com a Esfinge, um monstro metade leão, metade mulher que lançava enigmas aos viajantes e devorava quem não os decifrasse. A Esfinge atormentava os moradores de Tebas.
O enigma proposto pela Esfinge era o seguinte: “Qual o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio-dia e três à tarde?” Édipo respondeu: “É o homem. Pois na manhã da vida (infância) ele engatinha com pés e mãos; ao meio-dia (na fase adulta) anda sobre dois pés; e à tarde (velhice) necessita das duas pernas e o apoio de uma bengala.”
Furiosa por ver seu enigma resolvido, a Esfinge se matou.
O povo tebano saudou Édipo como seu novo rei. Deram-lhe como esposa Jocasta, a viúva de Laio. Ignorando tudo, Édipo casou-se com a própria mãe.
Uma violenta peste abateu-se então sobre a cidade. Consultado, o oráculo respondeu que a peste não findaria até que o assassino de Laio fosse castigado.
Ao longo das investigações para descobrir o criminoso, toda verdade foi esclarecida. Inconformado com o destino, Édipo cegou-se e Jocasta enforcou-se. Édipo deixou Tebas, partindo para um exílio na cidade de Colona.
Unidade I
	Na sua acepção original, mito é a narrativa tradicional, integrante da cultura de um povo, que utiliza elementos simbólicos e sobrenaturais para explicar o mundo e dar sentido à vida humana. Conforme Mircea Eliade, “O mito conta uma história sagrada: ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial (...) O mito narra como, graças às façanhas dos entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir(...).”(1)
	Utilizando este significado, a filosofia grega nasce procurando desenvolver o logos (saber racional) em oposição ao mito (saber alegórico). O mito se opõe ao logos como a palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e Mito são duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secreta (sofisma). Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as criações.
O exercício da razão (na polis grega)
	O momento em que o homem passou a utilizar o logos (a razão) para resolver seus problemas, os antigos deuses das narrativas míticas perdem seu lugar no governo da sociedade.
	O valor dado ao debate e à exposição clara e convincente das ideias foi, com o tempo, ultrapassando a mera esfera política e as lições práticas para melhorar os costumes dos cidadãos. O raciocínio correto, bem formulado, tornou-se o modo adotado para se pensar sobre todas as coisas.
(1) ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo, Perspectiva, 1972, p.11.
Unidade I
A Razão guia o pensamento
	De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático.
O período pré-socrático abrange o 
conjunto de reflexões filosóficas
desenvolvidas desde Tales de 
Mileto (623-546 a.C.) até
Sócrates (468-399 a.C.)
Sócrates e discípulos
	No vasto mundo grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem atribuímos a denominação filósofos. São eles: Tales de Mileto, 
Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto.
	O objetivo dos primeiros filósofos era construir uma cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga cosmogonia (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos).
Os filósofos
Tales de Mileto (623-546 a.C., aproximadamente) costuma ser considerado o primeiro pensador grego, “o pai da filosofia”, 
Unidade I
astrônomo. Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acrescidas das suas próprias observações, conclui que a água é a substância primordial, a origem única de todas as coisas.
Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) procurou aprofundar as concepções de Tales sobre a origem única de todas as coisas.
Em meio a tantos elementos observáveis no mundo natural – a água, o fogo, o ar, etc – ele acreditava não ser possível eleger uma única substânc ia material como o princípio primordial de todos os seres, a arché.
Para Anaximandro, o ápeiron (termo grego que significa o indeterminado, o infinito) seria uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários.
Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) admitia que a origem de todas as coisas é indeterminada. Tentando uma possível conciliação entre as concepções de Tales e as de Anaximandro, concluiu ser o ar o princípio de todas as coisas.
Pitágoras de Samos (570-490 a.C., aproximadamente) nasceu na ilha de Samos, na costa jônica, não distante de Mileto. Por volta de 530 a.C., sofreu perseguição política por causa de sua idéias, sendo obrigado a deixar sua terra de origem. Instalou-se, então, em Crotona, sul da Itália, região conhecida como Magna Grécia. Ali, fundou uma poderosa sociedade de caráter 
Unidade I
filosófico e religioso e de acentuada ligação com as questões políticas.
Para Pitágoras, a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia.
Heráclito de Éfeso
“Tudo flui, nada persiste,
nem permanece o mesmo. 
O Ser não é mais que o
vir-a-ser.”
	Nascido em Éfeso, cidade da região jônica, Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos pré-socráticos. A data de seu nascimento e morte não são conhecidas. Há referências históricas de que, por volta de 500 a.C., estava em plena “flor da idade”.
	Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: o bem e o mal, o belo e o feio, a alegria e a tristeza, etc; “o movimento perpétuo do mundo”.
 	Dizia, “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição.”
Unidade I
Parmênides de Eléia (510-470 a.C., aproximadamente) tornou-se célebre por ter feito oposição a Heráclito. Platão o chamava de o “Grande Parmênides”.
Tudo o que existe sempre existiu. Nada pode surgir do nada. E nada que existe pode se transformar em nada.
Sua tarefa consistia em desvendar todas as formas de “ilusões dos sentidos”, esta crença na razão hu mana é chamada de racionalismo.
Zenão de Eléia (488-430 a.C.) discípulo de Parmênides.
“O que se move está sempre no mesmo agora.”
Empédocles de Agrigento (490-430 a.C., aproximadamente). Defendia a existência de quatro elementos primordiais, que constituem as raízes de todas as coisa percebidas: o fogo, a terra, a água e o ar. Esses elementos são movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:
· o amor (philia): responsável pela força de atração e união das coisas;
· o ódio (neikos): responsável pela força de repulsão e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação das coisas.
Para ele, todas as coisas existentes na realidade estão submetidas às forças cíclicas desses dois princípios.
Demócrito de Abdera (460-370 a.C., aproximadamente). Responsável pelo 
Unidade I
desenvolvimento do atomismo, Demócrito afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por partículas invisíveis e indivisíveis. Essas partículas foram chamadas de átomos (termo grego que significa “não divisível”). Para ele, é o acaso ou a 
necessidade que promove a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros.
“Nada nasce do nada,
nada retorna ao nada.”
Reflexão
1) A filosofia nasceu promovendo a passagem do saber mítico ao saber racional, sem, entretanto, romper com todas as estruturas explicativas do mito. O poder do lendário não desapareceu. Onde reside a força dos mitos? Procure mencionar alguns mitos modernos. Quais as diferenças das abordagens da realidade feitas pela filosofia e pelas ciências em contraste com as da mitologia?
Problematização
1) Interprete o significado da frase:
“Heráclito retira do universo a tranquilidade e a estabilidade”.
2) O que significa, para você, assumir uma concepção não-estática da vida? Ou você acha que existe algo de permanente e eterno que nunca muda, nem 
deve mudar? Discuta esta questão: o permanente e o transitório na sua vida.
Unidade I
Protágoras de Abdera (480-410 a.C)
“O homem é a medida de todas as coisas;
daquelas que são, enquanto são;
e daquelas que não são, enquanto não são.”
Considerado o mais importante sofista. Sua doutrina tem como princípio básico a idéia de que o homem é a medida de tudo o que existe. Todas as coisas são relativas às disposições do homem, isto é, o mundo é o que o homem constrói e destrói. Por isso não haveria verdades absolutas.
Este pensamento abriu margem ao subjetivismo: tal coisa é verdadeira se para mim parece verdadeira.
Cosmogonia e Teogonia
	Qual é a pergunta dos estudiosos? 
É a seguinte: 
	A Filosofia, ao nascer, é uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformaçãogradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia?
Duas respostas esboçam esta problemática.
A primeira foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX. Dizia-se que a Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente.
Unidade I
A segunda resposta foi dada em meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade.
Hoje, percebe-se os exageros, as contradições e limitações dos contextos alegóricos, com isto a filosofia vem reformulando e racionalizando as narrativas míticas.
Condições históricas
	O que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia?
	Apontamos algumas condições:
· as viagens marítimas: as viagens produziram e desencantamento ou a desmistificação do mundo. 
· a invenção do calendário: revelou a capacidade de abstração; isto é, a percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível.
· a invenção da moeda: possibilitou a troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes. 
· o surgimento da vida urbana: com o predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnica de fabricação e de troca. O surgimento de uma classe de comerciantes ricos e o estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderia surgir.
· a invenção da escrita alfabética: a escrita alfabética supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve. 
· a invenção da política: o estímulo do pensamento e do discurso onde todos podem compreender, comunicar e 
Unidade I
transmitir decisões de vida e das cidades.
Divirta-se!
Gato e gata - Laerte
Unidade II
2
Período Antropológico
Platão de Atenas
Aristóteles de Estagira
Período Antropológico
(Socrático)
	Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares, Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural da Grécia, vivendo seu período de esplendor, conhecido como o Século de Péricles.
Devemos observar que estavam excluídos da cidadania os que os gregos chamavam de dependentes: mulheres, escravos, crianças e velhos. Também estavam excluídos os estrangeiros.
	É a época de maior florescimento da democracia. Sendo o ideal da educação do Século de Péricles, a formação do cidadão – “Qual é o momento em que o cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania?”
Unidade II
· Quando opina, discute, delibera e vota nas assembleias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal de formação o bom orador, aquele que sabia falar em público e persuadir os outros na política.
	Para dar aos jovens essa educação, substituindo a educação antiga dos poetas, surgiram na Grécia os sofistas, que são os primeiros filósofos do período socrático. Os sofistas mais importantes foram Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, de modo que, numa assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão.
	O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os sofistas, dizendo que não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia, se isso fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade.
	Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: por um lado, a educação antiga do guerreiro belo, bom e herói já não atendia às exigências da sociedade grega e, por outro lado, os filósofos cosmologistas defendiam ideias tão contrárias entre si que também não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro.
Discordando dos antigos poetas, dos antigos filósofos e dos sofistas, o que propunha Sócrates?
· Antes de querer conhecer a Natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. A expressão “Conhece-te a ti mesmo”, que estava gravada no pórtico do templo de Apolo, patrono grego da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates.
	Por fazer do autoconhecimento ou do conhecimento que os homens têm de si mesmos a condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz que o período socrático é antropológico, isto é, voltado para o conhecimento
Unidade II
do homem, particularmente de seu espírito e de sua capacidade para conhecer a verdade.
	O retrato que a história da Filosofia possui de Sócrates foi traçado por seu mais importante aluno e discípulo, o filósofo ateniense Platão.
	Que retrato Platão nos deixa de seu mestre, Sócrates?
	O de um homem que andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mercado e pela assembleia indagando e questionando. Sócrates fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, irritados, curiosos, pois, quando tentavam responder ao célebre “o que é?”, descobriam, surpresos, que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas ideias. Com isto esperavam que Sócrates respondesse ou que soubesse as respostas às perguntas, mas Sócrates, para desconcerto geral, dizia: “Eu também não sei, por isto estou perguntando.” Donde a famosa expressão atribuída a ele: “Sei que nada sei.”
	A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, eles o acusaram de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Levado perante a assembleia, Sócrates não se defendeu e foi condenado a tomar veneno – a cicuta – e obrigado a suicidar-se.
	Por que Sócrates não se defendeu?
	Porque, dizia ele, “Se eu me defender, estarei aceitando as acusações, e eu não as aceito. Se eu me defender, o que os juízes vão exigir de mim? Que eu pare de filosofar. Mas eu prefiro a morte a ter que renunciar à Filosofia.”
	O julgamento e a morte de Sócrates são narrados por Platão numa obra intitulada “Apologia de Sócrates”, isto é, a defesa de Sócrates, feita por seus discípulos, contra Atenas.
	Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) – Símbolo e mito. Não deixou nada escrito, mas o que transmitiu à humanidade vale por mil bibliotecas.
	Conta-se que Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira. Uma dupla herança que, simbolicamente, o levou a esculpir uma representação autêntica do homem, fazendo-o dar à luz suas próprias ideias.
Unidade II
	Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica.
A Ironia
	Na linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido da ironia socrática. No grego, ironia quer dizer interrogação. De fato, Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. 
	No decorrer do diálogo, com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Nesta fase do diálogo, Sócrates fazia-os tomar consciência profunda das conseqüências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas de conceitos vagos e imprecisos.
A Maiêutica
	Livres do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias ideias. Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias ideias. Assim, transportava para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, Fenareta, que, sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso,essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de ideias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa arte de trazer a luz.
Unidade II
Platão de Atenas
O Mito da Caverna
	“Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
	A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros – no exterior, portanto – há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
	Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
	Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
	Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. 
Unidade II
Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
	Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.
	Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
	Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.”
(CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995, p. 40)
	Nascido em Atenas, Platão (428-347 a.C.) pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa de “ombros largos”.
	A análise do mito pode ser feita pelo menos sob dois pontos de vista: o epistemológico (relativo ao conhecimento) e o político (relativo ao poder).Platão
Unidade II
	Segundo a dimensão epistemológica, o mito da Caverna é uma alegoria a respeito das duas principais formas de conhecimento: na teoria das idéias, Platão distingue o mundo sensível, dos fenômenos, e o mundo inteligível, das idéias.
	O mundo sensível é ilusório. Acima do ilusório, há o mundo das ideias gerais, das essências imutáveis que o homem atinge pela contemplação e pela depuração dos enganos dos sentidos.
	O método proposto por Platão para atingir o conhecimento autêntico (episteme) é a Dialética.
	Por volta de 387 a.C. retornou a Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica, a Academia.
Aristóteles de Estagira
	Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagira, na Calcídica (região dependente da Macedônia). Seu pai era médico de Filipe, rei da Macedônia. Mais tarde, Alexandre, filho de Filipe, foi discípulo de Aristóteles até o momento que precisou assumir precocemente o poder e continuar a expansão do império.
	Frequentou a Academia de Platão e a fidelidade ao mestre foi entremeada por críticas que mais tarde justificaria dizendo: “Sou amigo de Platão, mas mais amigo da verdade.”
	Em 340 a.C. funda em Atenas o Aristóteles
Unidade II
liceu, assim chamado por ser vizinho do templo de Apolo Lício.
	Em 323 a.C., após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande intensidade em Atenas. Devido a sua notória ligação com a corte macedônia, Aristóteles passou a ser perseguido. Foi então que decidiu abandonar Atenas, dizendo querer evitar que os atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia” (a primeira vez teria sido com Sócrates).
	Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio.
	Rejeitando a teoria das ideias de Platão, a observação da realidade leva-nos à constatação da existência de inúmeros seres individuais, concretos, mutáveis, que são captados por nossos sentidos. A partir da existência do ser, devemos atingir a sua essência.
	Neste sentido, afirmava Aristóteles, o ser individual, concreto e único não pode ser objeto da ciência. A indução (operação mental que vai do particular para o geral) representa o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento.
Reflexão
1) “Conhece-te a ti mesmo” é o ponto fundamental da filosofia socrática. Reflita e discuta sobre as dificuldades do autoconhecimento.
2) Reflita e debata o significado do mito da caverna de Platão.
3) Leia atentamente esta afirmação e comente se ela está de acordo com o aristotelismo: A partir da essência do ser, devemos atingir sua existência, 
mediante um processo de conhecimento que evoluiria do geral e universal para o individual e específico.
Unidade II
Pesquise
(Período Helenístico)
A) Estoicismo
B) Hedonismo
C) Pirronismo
Problematização
3) Nos dias de hoje, seria aplicável a distinção entre doxa (opinião) e episteme (conhecimento)? Haveria filodoxos (amantes das opiniões) e filósofos (amantes do saber)? Explique.
Divirta-se!
Unidade III
3
Habilidades 
da 
Filosofia
“A Filosofia não é uma teoria, mas uma atividade.”
(Ludwig Wittgens)
	Questionamos as coisas tão profundamente quanto podemos a fim de entender o mais profundamente possível. O fim último é um domínio mais firme de quem somos e de qual é nosso verdadeiro lugar no mundo.
	Como todas as criações e instituições humanas, a Filosofia está na História e tem uma história. Manifesta e exprime os problemas e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido.
Unidade III
A Filosofia não é um mero jogo. 
Não é um mero esporte mental.
É o uso mais vital de nossas mentes para 
obtermos nossos suportes na vida.
	A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas dopoder. Não é história, mas interpretação do sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio tempo.
Habilidades da Filosofia (reflexão)
Conjunto de formas de Pensar – ferramentas mentais
Análise de problemas situacionais
“A vida não-examinada pode não valer a pena ser vivida, mas a vida não-vivida definitivamente não vale a pena ser examinada.”
Avaliar afirmações conflitantes
Segundo o professor Dermeval Saviani, a reflexão filosófica é radical,
rigorosa e de conjunto.
Unidade III
· Radical: a palavra latina radix, radicis significa “raiz”, e no sentido figurado, “fundamento, base”. Portanto, a filosofia é radical não no sentido corriqueiro de ser inflexível, mas enquanto busca explicitar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir.
· Rigorosa: o filosófo deve dispor de um método claramente explicitado a fim de proceder com rigor, garantindo a coerência e o exercício da crítica.
· De conjunto: a filosofia é globalizante, porque examina os problemas sob a perspectiva de conjunto, relacionando os diversos aspectos entre si. Visa ao todo, à totalidade.
“A Filosofia estuda e analisa a postura
do homem frente ao contexto social
que está inserido.”
Unidade IV
4
Cultura
As meninas-lobo
	Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamal, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
	Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.
	Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.
	Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a 
Unidade IV
andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.
	Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.
	A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples.
(B. Reymond, Le développement social de l´enfant et de l´adolescent, Bruxelas, Dessart,1965, p.12-14, apud C. Capalbo, Fenomenologia e ciências humanas, Rio de Janeiro, J. Ozon Ed., p.25-26.)
	
Reflexão
1) Quais são diferenças entre o homem e o animal?
2) Por que não podemos mais chamar o mundo de natural?
3) O homem sempre se depara com diferentes formas de perceber, pensar, agir e sentir. Por quê?
4) O que caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue do animal?
Problematização
Observe: 
Uma aranha executa operações que se assemelham às manipulações do tecelão, e a construção das colmeias pelas abelhas poderia envergonhar, por sua perfeição, mais de um mestre-de-obras. Mas o que é que faz com que o pior mestre-de-obras seja superior a melhor abelha?
Unidade IV
	O relato “As meninas-lobo”, fato verídico, nos leva à discussão a respeito das diferenças entre o homem e o animal. As crianças encontradas na Índia não tiveram oportunidade de se humanizar enquanto viveram com os lobos. Não possuíam nenhuma das características humanas: não choravam, não riam e, sobretudo, não falavam. O processo de humanização só foi iniciado com a participação do convívio humano e introduzidas no mundo simbólico pela aprendizagem da linguagem.
	Fato semelhante ocorreu nos Estados Unidos com a menina Helen Keller, nascida cega, surda e muda. Era como um animal até a idade de sete anos, quando seus pais contrataram a professora Anne Sullivan que, a partir do sentido do tato, conseguiu conduzi-la ao mundo humano das significações.
Atividade animal
A) Ação instintiva:
		Os animais que se situam nos níveis mais baixos da escala zoológica de desenvolvimento, como, por exemplo, os insetos, têm a ação caracterizada sobretudo por reflexos e instintos. A ação instintiva é regida por leis biológicas, idênticas na espécie e invariáveis de indivíduo para indivíduo. A rigidez dá a ilusão da perfeição quando o animal especializado em determinados atos, os executa com extrema habilidade.
	Na verdade, os instintos são cegos, ou seja, são uma atividade que ignora a finalidade da própria ação.
	O ato humano voluntário, em contrapartida, é consciente da finalidade, isto é, o ato existe antes como pensamento, como uma possibilidade, e a execução é i resultado da escolha dos meios necessários para atingir os fins propostos. Quando há interferências externas no processo, os planos também são modificados para se adequarem à nova situação.
B) A inteligência concreta:
Unidade IV
Nos níveis mais altos da escala zoológica, por exemplo com os
mamíferos, as ações deixam de ser exclusivamente o resultado de reflexos e instintos e apresentam uma plasticidade maior, característica dos atos inteligentes.
	Mas, no animal, casos como os experimentos de Köhler, trata-se de um tipo de inteligência concreta dependente da experiência vivida “aqui e agora”. Mesmo quando o animal repete mais rapidamente o teste já aprendido, seu ato não domina o tempo, pois, a cada momento em que é executado, esgota-se no seu movimento.
Atividade humana
A) Linguagem:
“A verdadeira filosofia
é reaprender a ver o mundo.”
(Merleau-Ponty)
	O homem é um ser que fala. A palavra se encontra no limiar do universo humano, pois caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue do animal.
	Poderíamos dizer que os animais também têm “linguagem”. Mas a natureza dessa comunicação não se compara à revolução que a linguagem humana provoca na relação do homem com o mundo.
	A diferença entre a linguagem humana e a do animal está no fato de que este não conhece o símbolo, mas somente o índice. O índice está relacionado de forma fixa e única com a coisa a que se refere.
	Por outro lado, o símbolo é universal, convencional, versátil e flexível.
	É pela palavra que somos capazes de nos situar no tempo, lembrando o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo pensamento. Enquanto o 
Unidade IV
animal vive sempre no presente, as dimensões humanas se ampliam para além de cada momento.
	Mesmo quando o animal consegue resolver problemas, sua inteligência é ainda concreta. Enquanto o homem, pelo poder do símbolo, tem inteligência abstrata.
B) Trabalho:
O homem é um ser que trabalha e produz o mundo e
a si mesmo.
O animal não produz a sua existência, mas apenas a
conserva agindo instintivamente.
Na verdade, o animal não trabalha, mesmo quando
cria resultados materiais com essa atividade, pois sua ação não é deliberada, intencional.
	O trabalho humano é a ação dirigida por finalidades conscientes, a resposta aos desafios da natureza na luta pela sobrevivência. Enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, o homem é capaz de transformá-la, tornando possível a cultura. O mundo resultante da ação humana é um mundo que não podemos chamar de natural, pois se encontra transformado pelo homem.
A palavra cultura deriva do verbo latino colere, que significa
“cultivar”; “criar”; “honrar”; “tomar conta”; “cuidar”.
“A cultura é o processo pelo qual o homem acumula as experiências que
vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável
e, como resultado da ação exercida, converte em idéias as imagens e 
lembranças, a princípio coladas às realidades sensíveis, e depois 
generalizadas, dessecontato inventivo com o mundo natural.” (2)
(2) VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e existência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969, p.123.
Unidade IV
	A cultura é, portanto, um processo de autoliberação progressiva do homem, o que o caracteriza como um ser de mutação, um ser de projeto, que se faz à medida que transcende, que ultrapassa a própria experiência. 
	Não há caminho feito, mas a fazer, não há modelo de conduta, mas um processo contínuo de estabelecimento de valores. Nada mais se apresenta como absolutamente e inquestionável.
	Essa condição, de certa forma, fragiliza o homem, pois ele perde a segurança característica da vida animal, em harmonia com a natureza.
Ao mesmo tempo, o que parece ser sua fragilidade é justamente a característica humana mais perfeita e mais nobre: a capacidade do homem de produzir sua própria história.
	O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra o mundo de valores já dados, onde ela vai se situar. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares, tudo enfim se acha codificado. Até na emoção que pareceria uma manifestação espontânea, o homem fica à mercê de regras que dirigem de certa forma a sua expressão.
	Todas as diferenças existentes no comportamento modelado em sociedade resultam da maneira pela qual os homens organizam as relações entre si, que possibilitam o estabelecimento das regras de conduta e dos valores que nortearão a construção da vida social, econômica e política.
A cultura é:
a) adquirida pela aprendizagem e não herdada pelos instintos;
b) transmitida de geração a geração através da linguagem;
c) criação exclusiva dos seres humanos, sendo, portanto, um traço distintivo da humanidade;
Unidade IV
d) inclui todas as criações materiais e não materiais do homem;
e) apresenta estrutura duradoura, mas que também sofre evolução através da história;
f) é um instrumento indispensável à adaptação do indivíduo ao meio social, tornando possível a expressão das potencialidades humanas.
Características (cultura)
1) Disponibilidade: utilização de recursos para fazer-se face a uma situação nova, resolver um problema novo, ensinar e aprender.
2) Assimilação: não posso dispor de um saber se não o houver feito meu (em linguagem e imagem).
3) Totalidade: os conhecimentos devem organizar-se segundo um princípio unificador próprio do homem.
4) Transferibilidade: o saber auxilia na aquisição de saberes diferentes. 
Divirta-se!
Radicci - Laerte
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