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Artigo Fraudes Corporativas - Será que estamos correndo riscos

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FESP - FACULDADE DE ENGENHARIA SÃO PAULO 
MBA EM GESTÃO DE RISCOS CORPORATIVOS 
LUCIANO MARQUES 
ARTIGO 
FRAUDES CORPORATIVAS: 
Será que estou correndo risco? 
CURITIBA 
2018
 
 
LUCIANO MARQUES 
ARTIGO 
FRAUDES CORPORATIVAS: 
Será que estou correndo risco? 
Trabalho apresentado ao curso MBA em 
Gestão de Riscos Corporativos da 
Faculdade de Engenharia de São Paulo 
 
Orientador: Prof. Dr. Antonio Celso Ribeiro 
Brasiliano 
CURITIBA 
2018
 
 
RESUMO 
 
Pesquisas mostram que tem crescido muito o número de fraudes nos últimos anos, 
tanto no Brasil quanto no mundo, fato que tem forçado as empresas de todos os portes 
a aumentarem seus investimentos em controles internos para proteção de seus 
negócios. Dentro deste contexto é importante que as empresas conheçam os riscos 
envolvidos, suas fragilidades e principalmente entendam o modus operandi dos 
fraudadores, seu perfil e suas motivações. Entendendo mais a fundo tais questões 
dará maiores condições à empresa de se proteger e conseguir atingir seus objetivos 
de forma satisfatória. 
 
Palavras-chave: Fraudes. Gestão de Riscos. Negócios. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 5 
2 VOCÊ ESTÁ AVALIANDO OS SEUS RISCOS DE FRAUDE? ..................................... 6 
3 COMO IDENTIFICAR E ANALISAR OS RISCOS DE FRAUDE? ................................ 7 
4 COMO DESCREVER O PERFIL DO FRAUDADOR? ................................................ 9 
5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 11 
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 12 
 
 
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FRAUDES CORPORATIVAS: 
Será que estou correndo risco? 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Nunca se falou tanto em fraudes como nos últimos anos. Segundo uma 
pesquisa recente da PwC que pesquisou mais de 7.200 empresas em 123 países, 
49% dos entrevistados diz já ter sofrido algum tipo de fraude nos últimos 24 meses. 
Se levarmos em consideração apenas as empresas da América Latina, este 
percentual sobe para 53%. Veja o gráfico abaixo: 
 
Fonte: Pesquisa Global sobre Fraudes e Crimes Econômicos 2018 da PwC 
 
Se compararmos com a média dos resultados das últimas pesquisas, vemos 
que houve um aumento significativo de 19%, fator que os pesquisadores acreditam 
ser devido a uma maior consciência global acerca das fraudes, além da rápida 
evolução da tecnologia digital que permite a circulação de informações de forma mais 
rápida e dinâmica, fato que facilita o trabalho de identificação de casos de fraudes, 
mas que por outro lado também abre brechas para novas modalidades de ações 
fraudulentas. 
Nos últimos anos acompanhamos, atônitos, vários exemplos destes delitos que 
dão uma ideia do impacto que podem trazer às empresas, como é o exemplo da 
Volkswagen, da Toshiba, da própria Petrobrás, o Banco HSBC, a British Petroleum 
entre outros tantos cases facilmente encontrados em uma simples pesquisa pela 
internet. 
 
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Esta consciência global comentada pelos especialistas da PwC, acerca dos 
perigos das fraudes é refletida também no aumento das despesas com o combate às 
fraudes. Segundo a pesquisa, 52% dos participantes aumentaram nos últimos dois 
anos o investimento em ferramentas de tecnologia e análise de dados, além de 
programas de denúncia, sendo que 38% planejam investir ainda mais nos próximos 
dois anos. Fato este que comprova a importância que as companhias têm dado à 
identificação e combate destes eventos. 
 
2 VOCÊ ESTÁ AVALIANDO OS SEUS RISCOS DE FRAUDE? 
 
Como podemos notar a fraude é um risco presente e cada vez mais recorrente 
no mundo dos negócios, podendo ocorrer em empresas pequenas, médias e grandes 
multinacionais, com potencial de causar grandes impactos financeiros, operacionais, 
legais e até na reputação / imagem das empresas. Desta forma, assim como qualquer 
outro risco, deve ser identificado, analisado, avaliado e tratado, de forma eficiente, 
visando a redução da probabilidade de vir a se concretizar no ambiente da empresa. 
Segundo a pesquisa da PwC, quando perguntado às empresas quanto à 
avaliação de riscos relativos à fraude, apenas 54% responderam que fazem algum 
tipo de análise, o que nos leva a acreditar que muitas empresas “ainda estão lidando 
com a prevenção à fraude de uma maneira reativa/defensiva”. 
Será que as companhias estão identificando, analisando e avaliando os riscos 
de fraude de uma forma eficiente, padronizada e coerente? Será que as avaliações 
feitas por estas 54% de empresas que dizem estar avaliando os riscos de fraude, 
estão levando em consideração o fator humano nas suas análises? O modus operandi 
dos fraudadores, suas motivações, seu perfil? Será que estão avaliando de forma 
eficiente seus controles, ou apenas implantando-os sem a devida avaliação e ainda 
convictos de que é a única coisa que podem fazer? 
A seguir identificaremos alguns pontos importantes que devem ser 
considerados para avaliação dos riscos de fraude e conheceremos um pouco mais 
sobre o perfil deste fraudador, objetivando com isto despertar a atenção do empresário 
para a importância de conhecer mais acerca deste risco tão relevante para os seus 
negócios. 
 
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3 COMO IDENTIFICAR E ANALISAR OS RISCOS DE FRAUDE? 
 
Para implantação de um processo de gestão de riscos de fraude de forma 
eficiente é preciso em primeiro lugar sensibilizar a alta direção para que dê o devido 
apoio a esta iniciativa. E isto só será possível se o projeto for “vendido” 
adequadamente, haja visto que é preciso conhecer profundamente o processo de 
gestão de riscos e seus benefícios para compreender sua importância. Por este 
motivo, caso não haja um especialista dentro da empresa, o caminho mais acertado 
é a busca de parcerias externas ou um investimento pesado em benchmarking junto 
a outras companhias que já tenham maturidade neste assunto. 
Em segundo lugar é importante que haja um trabalho de conscientização 
interna em todos os demais níveis da companhia acerca da importância da 
identificação, análise, avaliação e tratamento dos riscos de fraudes que possam existir 
ou vir a se materializar no ambiente interno ou externo da empresa. Segundo 
Brasiliano, 2016: 
Um programa de endomarketing transmite confiança e credibilidade, ao 
mesmo tempo em que os valores compartilhados pela cultura organizacional, 
irão com certeza incentivar a postura pró-ativa em vez da reativa. 
 
Se a empresa já tiver um departamento de Compliance estruturado, um código 
de conduta / ética, canal de denúncias, e demais diretrizes bem escritas, implantadas 
e monitoradas, além dos processos devidamente mapeados, facilita em muito o 
trabalho de identificação, análise e avaliação de riscos de fraude. 
Após estes primeiros passos inicia-se o trabalho de campo, onde sugere-se 
que haja a identificação dos processos mais críticos da empresa, ou seja, é preciso 
saber quais processos são mais críticos para o alcance dos objetivos da empresa e 
que se, por algum motivo, vierem a ser interrompidos podem trazer grandes impactos 
à companhia. Isto não quer dizer que serão apenas estes processos que serão 
analisados, mas sim, priorizados, tanto nas análises quanto no atendimento em caso 
de concretização de um risco de fraude. 
O próximo passo é a identificação dos riscos propriamente dito. Neste estágio 
é primordial que todos os processos da empresa estejam devidamente mapeados e 
validados pelos gestores de cada área. Com o processo mapeado, inicia-se uma 
análise de todas as fases de cada processo com a finalidade de identificar os possíveis 
fatores de risco e os controles existentes. Estes fatores de risco deverão ser listados 
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e definidos para que haja uma perfeita compreensão por parte de todos os 
interessados. 
Tendo em mãos todos os fatores de risco econtroles identificados, é preciso 
entender melhor quais fatores influenciam a concretização de quais riscos. Para isto 
sugere-se a dissecação de cada risco de fraude, de forma a entender quais os 
controles existentes nas fases de cada processo analisado e as fragilidades com 
potencial de gerar a fraude estudada. 
Em conjunto com a análise dos controles e fragilidades, é importante entender 
também como o fraudador pode agir para concretizar a fraude. Neste momento o 
avaliador deve “mudar a posição do tabuleiro” e pensar como um fraudador, somente 
assim poderá ver com mais clareza como o processo pode ser fraudado e entender o 
possível modus operandi do fraudador. Busque também, neste momento, entender 
quais as possíveis motivações que levariam o indivíduo a cometer a fraude e qual sua 
aposta. 
Após encontrar todos os fatores de risco e a lógica usada pelo fraudador, é 
importante analisar quais fatores e lógicas que são comuns a todos os riscos e quais 
devem ser considerados mais importantes no contexto da empresa. Ranqueando 
estes fatores com base nestes critérios, é possível ter uma visão macro da relevância 
de cada item. 
Sugere-se então na sequência que seja feito um estudo dos fatos históricos de 
fraudes ocorridas, buscando identificar o tipo de fraude ocorrida, os envolvidos, os 
impactos operacionais e financeiros resultantes destas fraudes e as atitudes tomadas 
pela empresa diante das ocorrências, identificar os possíveis ou potenciais 
fraudadores, descrevendo detalhes como cargo, renda, perfil sócio econômico e 
possíveis aspectos motivacionais. 
Após todo este levantamento você já terá material suficiente para entender o 
nível de probabilidade de ocorrência da fraude e o impacto que sua concretização 
pode trazer ao seu negócio. É importante a utilização de uma metodologia específica 
de análise de risco para mensurar melhor e com mais precisão tais dados e assim ter 
em mãos uma matriz de risco, que lhe dará uma visão holística e mais clara acerca 
de seu nível de seguridade interna e a relevância de cada risco estudado, o que facilita 
a tomada de decisão para o tratamento destes eventos. 
 
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4 COMO DESCREVER O PERFIL DO FRAUDADOR? 
 
Em meio aos levantamentos históricos da empresa é possível que descubra 
que uma destas fraudes fora cometida por um colaborador que conhecia muito bem o 
processo fraudado, seus controles e fragilidades, onde percebeu uma oportunidade e 
cometeu uma única fraude. Este fraudador é conhecido como o oportunista, pois 
percebeu uma oportunidade causada por um controle inexistente ou frágil e cometeu 
o delito. 
Pode também ser que este mesmo colaborador, notando que ninguém havia 
percebido sua ação, continuou a cometer outras fraudes, transformando-se então no 
que chamamos de oportunista continuado. 
Segundo a pesquisa da KPMG intitulada Perfil global do fraudador, 2016, o 
sujeito que comete uma fraude na sua maioria é homem (79%), na faixa de idade 
entre 36 e 55 anos (68%), empregados diretos da companhia fraudada (65%) e com 
mais de seis anos de casa (38%). 
Analisando o cargo destes fraudadores, vemos que 58% estavam em cargos 
de diretoria executiva e média gerência e 38% eram vistos como bem respeitados e 
de ótima reputação perante seus pares e superiores. 
Sendo assim, como explicar o perfil deste fraudador? 
Na década de 1940 o então doutorando Donald R. Cressey fez uma pesquisa 
onde entrevistou 250 criminosos presos por terem praticado fraudes em posição de 
confiança dentro da companhia. Suas conclusões o levaram a criar a teoria do 
Triângulo da Fraude, que mais tarde viria a ser publicado no livro “Other People’s 
Money”. 
 
 
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Cressey descobriu que três fatores sempre estavam presentes quando o 
indivíduo cometia a fraude; 
1) O fraudador estava pressionado por algum problema financeiro; 
2) Ele sabia que poderia resolver este problema secretamente através da 
fraude, pois conhecia seus controles e fragilidades; 
3) Eram capazes de racionalizar a sua própria conduta, não reconhecendo 
seus atos como uma quebra de confiança. 
Em 2004 David T. Waolfe e Dana 
R. Hermanson apresentaram uma nova 
visão acerca da teoria de Cressey, 
incorporando os traços pessoais deste 
criminoso. Segundo os pesquisadores é 
importante avaliar as habilidades que o 
fraudador tem para cometer a fraude, 
surgindo neste contexto o Diamante da 
Fraude, que ajuda a explicar um outro tipo de fraudador, o predador. Perfil daquele 
que já entra na empresa com intuito de fraudar, motivado muitas vezes pelo ego, 
dinheiro ou questões morais. Comete fraudes muito bem estruturadas e sistêmicas. 
O predador na maioria das vezes tem uma posição importante e de autoridade 
dentro da companhia, possui grande capacidade de entender e explorar as fraquezas 
dos controles internos, acredita que não será pego e possui grande poder de sedução 
para envolver outros colaboradores sem que estes nem saibam que estão ajudando 
no cometimento da fraude. 
Mais recentemente outra pesquisa, feita 
pelo PhD Renato Santos trouxe outro elemento 
ao contexto: a Disposição ao Risco, que segundo 
o pesquisador trata-se do cálculo que o próprio 
fraudador faz para decidir pela ação, ou seja, se 
o vilão tiver medo de cometer a fraude, ele não 
arrisca. Nasce assim o Pentágono da Fraude. 
De acordo com Santos, o potencial fraudador analisa basicamente três riscos 
que se estiver no radar da empresa, auxilia muito sua prevenção e até na detecção 
da fraude. O risco perigo que reflete o medo que o fraudador tem das consequências 
que pode sofrer, o risco probabilidade, que nada mais é do que as chances que a 
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fraude tem de dar certo versus o grau de impunidade caso seja pego e o risco 
aventura, característico em profissionais que adoram desafios. 
 
5 CONCLUSÃO 
 
Não há como negar que o risco de fraude é uma ameaça iminente a qualquer 
negócio e que a sua correta mensuração e tratamento está diretamente ligado ao 
sucesso dos objetivos de sua organização, tendo em vista os potenciais impactos que 
estas fraudes podem causar caso venham a se concretizar. 
A alta volatilidade dos mercados financeiros, a rápida globalização econômica 
e as incertezas políticas, cobram subliminarmente uma postura cada vez mais 
preventiva e defensiva das empresas, forçando-as a ter uma administração auto 
adaptável e cada vez mais eficiente, o que acaba, muitas vezes, abrindo brechas em 
meio aos controles internos, que se não observadas e seladas, podem ser exploradas 
por oportunistas atentos. 
Dentro deste contexto a Gestão de Riscos ganha seu destaque por ser o melhor 
caminho para a prevenção desses males, trazendo a oportunidade de a empresa 
conhecer os riscos a que está exposta, a efetividade dos controles existentes, a 
probabilidade da ocorrência destes riscos e o impacto que podem trazer aos seus 
negócios caso venham a se concretizar. 
Uma cultura de gestão de riscos implantada de forma padronizada, integrada a 
todos os processos críticos da empresa, facilita a exposição das fragilidades que 
devem ser trabalhadas, o que, ao contrário do que se pensa, não aumenta o risco, 
mas reforça o chamamos de vigilância natural. 
Portando um processo de Gestão de Riscos eficaz aumenta a eficiência 
empresarial, pois diminui as incertezas, trazendo maiores chances de assertividade 
nas tomadas de decisão pela alta direção, gerando valor ao negócio e aumentando 
sua resiliência em meio a um mercado dinâmico, concorrido e repleto de perigos. 
 
 
 
 
 
 
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6 REFERÊNCIAS 
 
PRICEWATERHOUSE COOPERS. Tirando a fraude das sombras: Pesquisa global 
sobre fraudes e crimes econômicos 2018. São Paulo: PwC, 2018. 
 
BRASILIANO, Antônio Celso Ribeiro. Inteligência em Riscos: Gestão integrada em 
riscos corporativos. 1. ed. São Paulo: Sicurezza, 2016. 
 
KPMG INTERNACIONAL. Perfil global do fraudador: A tecnologia viabiliza e os 
controles deficientesestimulam a fraude. São Paulo: KPMG, 2016. 
 
STUART, Iris C. Serviços de auditoria e asseguração na prática. 1. ed. Porto 
Alegre: AMGH Editora, 2014. 
 
SILVA, Sergio M. Antunes da. A importância da auditoria e a percepção do auditor 
na prevenção e detecção da fraude. Escola Superior de Gestão e Tecnologia, 
Santarem, 2015.

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