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A Hora de Deus (Amedeo Cencini)

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A Hora de Deus 
 
1 
Amedeo Cencini 
 
 
 
 
A HORA DE DEUS 
 
A CRISE 
NA VIDA CRISTÃ 
 
 
Prefácio de 
Dom Gianfranco A. Gardin 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDB 
EDIÇÕES DEHONIANO BOLONHA 
A Hora de Deus 
 
2 
A HORA DE DEUS «Crise» é uma palavra que não necessita ser explicada. Se mais é essa 
que explica. Está se tornando uma forma de chave de leitura da atual identidade da vida 
sacerdotal e religiosa. 
A crise é um componente normal da vida humana, acompanha-a como amigo que 
incomoda, rompe certos equilíbrios e as vezes é também devastadora: é um amigo crítico. É 
aquilo que determina a passagem de uma fase a outra da vida. A crise afeta a todos: qualquer 
homem e mulher como os fundadores de comunidades; todos são chamados a ter atenção com a 
experiência de um deserto que inesperadamente invade o próprio ser em diferentes maneiras. 
Não é o clássico acidente de percurso que afeta só a alguns, os mais fracos e pecadores. 
Falaremos referindo-nos a realidade do mundo que crer, e as suas expressões peculiares 
que são: vida sacerdotal e religiosa. Para ajudar a viver a crise, para que se torne ocasião de 
crescimento, a nível humano e como passagem do Eterno na vida do crente: como hora de Deus. 
 
 
AMEDEO CENCINI é sacerdote e religioso canossiano, professor de pastoral vocacional e 
formação ao discernimento na Universidade Salesiana, além de psicologia aplicada ao curso de 
formadores na mesma universidade e na Universidade Gregoriana. Ensina ainda no curso de 
teologia e direito organizado pela Congregação para a vida consagrada. Desde 1995 é consultor da 
Congregação para a vida consagrada e as sociedades de vida apostólica. 
Nas EDB1 dirige, com A. Manenti, a coleção Psicologia e formação. Já publicou: Vocazioni, 
dalla nostalgia alla profezia. L’animazione vocazionale alla prova del rinnovamento, EDB 1992; 
Amarás o Senhor teu Deus. Psicologia do encontro com Deus, EDB 132009; Psicologia e formação. 
Estruturas e dinamismos, em colaboração com A. Manenti, EDB 122003; Viver reconciliados. 
Aspectos psicológicos, EDB 142009; Vita consacrata.Itinerario formativo lungo la via de Emmaus, 
San Paolo 21994; a trilogia Por amor, EDB 42001; Com amor, EDB 22004; No amor, EDB 42006; Os 
sentimentos do Filho. O caminho formativo na vocação presbiteral e consagrada, EDB 52005; 
Fraternidade a caminho. Rumo à alteridade, EDB 22002; Dalla relazione alla condivisione. Verso il 
futuro..., EDB 2002; Virgindade e celibato hoje. Para uma sexualidade pascal, EDB 22006. Todos 
estes volumes foram traduzidos em diversos idiomas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Edições Dehoniano Bolonha 
 
A Hora de Deus 
 
3 
Prefácio 
Para os que tem sobre os ombros algumas décadas de vida religiosa ou presbiteral a 
palavra crise lembra provavelmente alguma coisa obscura, um tipo de vírus danoso que se 
esconde nas dobras do espírito, em suma uma desgraça de esconjurar. Nos ambientes formativos 
de um tempo, um condiscípulo que manifestava indifernça ou desempenho no âmbito, por 
exemplo, da oração, ou do estudo ou da disciplina, levantava a pergunta, sussurrando baixinho: 
“talvez ele está em crises?”. 
De fato, o modelo que se silhueta diante de cada formando ou formanda, como 
referimento luminoso e decisivo (aquele que Cencini chama de o “eu ideal”), havia os traços de 
uma figura de fé sem dúvidas, de vocação sem incertezas, de obediência sem hesitações, de 
pureza sem fragilidade, de oração sem distrações, de disciplina sem infrações. Porém 
sucessivamente se começou a perguntar se, por faltas de privações, não permaneceriam, enfim, 
privados de uma pessoa “normal”, e se o formando perfeito não se reduzia a uma espécie de 
simulacro sem vida, sem história, sem consciência, sem coração: enfim sem humanidade. 
 É verdade, por outro lado, que o pedido, muitas vezes confuso e pressionado, de 
“humanização”, de “ normalidade”, de realismo, que nasceu por causa de reações aos modelos 
incontaminados apenas citados, pode ter dado a impressão de reivindicações decompostas, ou 
concessões ao relaxamento, ao individualismo, ao secularismo, ao modismo e superficialismo; 
como efeito de um desorientamento difundido. O pedido de transfusões abundantes de sangue 
“humano” nas artérias “angélica” do perfeito seminarista ou religioso(a), pode haver levantado 
excessivamente o limite de atenção sobre o que entrava maciçamente no organismo dos 
organismos dos institutos ou das comunidades ou dos singulares indivíduos. Quase dizendo: desde 
que tenha na etiqueta daquilo que se ingere o termo “humano” tudo pode ser introduzido. Por 
esta razão os pedidos não param e nós nos perguntamos: talvez está bom, pelo contrário, é 
melhor, uma fé duvidosa, uma oração um pouco às cegas, meio no escuro, uma obediência que 
coloca qualquer razoável resistência, uma castidade não preservada da fragilidade, etc? 
 O presente volume do padre Amedeo Cencini ajuda a clarear esta situação, que descrevi 
com cores fortes, quase exagerando; uma situação não desprovida de incertezas e de 
interrogativas muitas vezes difíceis: que encontram portanto neste texto respostas de grande 
equilíbrio e de experiente realismo. 
Um tal realismo faz reconhecer que um percurso formativo (bem entendido seja de 
formação inicial ou permanente) absolutamente linear e fluente, que procede olimpicamente 
isento de obstáculos de várias naturezas, não somente é impensável, mas mesmo que houvesse 
um assim, deveríamos considerar suspeito. Até fazer concluir que quem não experimentasse 
nunca uma crise seria como quem leva dentro de si uma doença do qual simplesmente não 
conhece os sintomas , e portanto mais sutis que um mal com manifestações evidentes. Por isso - 
adverte Cencini - se é problemático o fato de que se dê muitas crises, não é menos problemático 
o fato que existiriam muitos presbíteros e consagrados/as que deveriam estar nas crises e não 
estam. 
Ele escreve: 
Tem alguns que dizem que o verdadeiro problema da vida religiosa ou sacerdotal não são 
as situações críticas - objetivamente problemáticas - dos padres, frades e freiras, quanto aquela 
A Hora de Deus 
 
4 
grande quantidade de pessoas “consagradas” que vivem subjetivamente tranquila, impassivas e 
impertubavéis, situações objetivamente críticas, ou gente sem crises quando na verdade deveríam 
estar em crise. 
 E em outro lugar, a propósito deste “exército de padres e consagrados que... não 
estiveram nunca, não estam e nunca estarão em crises, observa provocatoriamente que “seria 
uma bom para eles mesmos e para quem tem a sorte de viver junto deles, que aceitassem estar 
em crise, em uma bela crise, pelo menos uma vez!”. 
 E então, aplausos para crise? Abençoadas crises? A resposta - é aquela usual diante das 
perguntas complexas - depende! Depende? Eis que, Cencini nos explica precisamente o que 
provoca em nós uma crise, se compreende já pelo título do livro: “A hora de Deus”. Ele explica 
através de um percurso amplo e penetrante. Nos oferece uma análise aprofundada e bem 
articulada, minunciosa no precisar e confirmar princípios irrenunciáveis e decisivos, e ao mesmo 
tempo, consciente da variedade e complexidade dos possíveis acontecimentos onde não a crise, 
mas as infinitas e diversas crises que podem tomar forma nas pessoas. 
 Após, necessárias precisões terminológicas, na primeira parte do volume a realidade da 
crise é descrita em seu lado objetivo (aquilo que objetivamente põe o sujeito em dificuldade) e o 
outro lado subjetivo, (aquilo que a pessoa experimenta e o grau de consciência do seu problema). 
Interessante é a descrição de uma ampla tipologia de crises, com seus possíveis efeitos sobre o 
sujeito, e as modalidades com as quais elas precisam ser abordadadas ou o tipo de “luta” que elas 
exigem. 
 Uma segunda parte da obra entra nos conteúdos das crises, tendo em vista grandes áreas 
na qual estas solidamente sãoencontradas: aquela da identidade, aquela da afetividade-
sexualidade, aquela da vocação e de sua fidelidade. Aqui a atenção para com a realidade torna-se 
posteriormente muito próxima, pois mediante a uma série de exemplificações (tirada de sua vasta 
experiência adquirida “neste campo” pelo autor). E assim ao leitor é oferecido uma considerável 
riqueza de ensinamentos para a vida, que são ensinamentos espirituais para a vida quotidiana do 
presbítero ou da pessoa consagrada. 
 Na terceira parte são abordadas algumas maneiras para aproximar-se adequadamente às 
crises e para superá-las: se trata então de reconhecê-las e precavê-las, sem negá-las e sem 
pretender evitá-las e ser capaz de passar por elas com êxito positivo. Aqui as indicações são 
particularmente preciosas. 
 Gostaria de apontar alguns entre os vários motivos para os quais se recomenda a leitura do 
texto e não somente as eventuais “vitímas” ou “beneficiários” (segundo os êxitos) da crise mas 
também as pessoas que tem o dever de formar, guiar ou acompanhar espiritualmente ou que 
oferecem qualquer ajuda àqueles que experimentam a crise. 
Se deve reconhecer – e este é um primeiro prestígio desta obra – que o livro de Cencini 
representa uma ajuda preciosa na prática de uma verdadeira formação permanente. Também 
aqueles que não estão atravessando o traiçoeiro mar das crises pode encontrar aqui ferramentas 
muito utéis para uma leitura interior de si mesmo, para gerenciar uma normalidade que não é – 
A Hora de Deus 
 
5 
para os “normais” – desprovida de incertezas, zonas cinzentas, mesmo as situações apenas 
inquietantes. Qualquer um que lêia estas páginas será difícil não encontrar ali qualquer coisa de 
si, tirando delas luzes para a quotidiana condução de uma existência que seja animada por um 
projeto de vida cristã, sacerdotal, religiosa – definido e exigente. 
Este é um ponto, sobre o qual vale a pena insistir. Todo o texto pressupõe uma concepção 
séria e ampla da formação permanente. Se esta é “ainda entendida” – aponta Cencini – de modo 
redutivo e superficial como se fosse simplesmente alguns cursos de atualização que fazemos 
ocasionalmente, apenas para manter o nível de tensão interna do presbítero ou para que não 
perca o último trem do renovamento teológico, e esteja atualizado, então o discurso sobre crise 
permanece circunscrito em momentos ou circunstâncias particulares, ou em casos difíceis quando 
não patológicos. Porém se nos colocarmos na prospectiva da vida como chamado a ser aquilo que 
um Outro nos revelou, provocando assim uma tensão constante em direção de uma identidade 
nunca completamente bem compreendida e assumida, então afirma Cencini, “a crise é 
componente normal e positivo de um processo de formação permanente”. O qual se compõe de 
“dois elementos estreitamente conexos entre eles. De um lado é a consciência da diferença, 
dentro de si, entre ideal e realidade que durante toda a vida será um constante caminho 
formativo; enquanto, por outro são apenas aqueles que levam a sério tal caminho (formação 
permanente) que poderão perceber as lacunas e fazer as escolhas consequentes para preenchê-
las. 
Calocada nesta visão da formação permanente a crise impele então para aquele “novo” 
(novas verdades, nova escuta do evangelho, assumir novamente a própria vocação, novos desafios 
acolhido pela própria história ou pela comunidade com qual se compartilha o caminho...) que 
coloca em discussão aquilo que era (muito) tranquilo, óbvio repetitivo, indiscutível. A crise torna-
se deste modo o “espinho na carne” de uma fidelidade que a crise mesma a revela como frágil, 
não resistente, ou que é reduzida a pura repetição e que perdeu seu dinamismo; e portanto, ao 
fim, não é mais verdadeira fidelidade uma vez que não se permanece fiel, porém tenta tornar-se 
fiel continuamente e o Deus de ontem – observa Cencini – pode passar ser idolo de hoje. 
 Entendida deste modo, a formação permanente faz com que o futuro seja sempre o fruto 
de um trabalho consumado no presente, que frequentemente adiquire o caráter de “crises”, do 
juízo ou do momento “descriminante”, do cume a ser superado com dificuldade porém que 
conduz a novos panoramas e pois a novos caminhos, talvez ainda íngrimes ou terrenos 
acidentados: porém estes permanceriam desconhecidos e inacessíveis sem o superamento 
daquela passagem decisiva. 
É que todo o discurso de Cencini – e aqui está outro mérito da obra – representa uma 
forte ajuda a superar a concepção da crise como inimiga ameaçadora ou como noite assustadora, 
fazendo perceber que ao contrário é amiga estimulante mas ao mesmo tempo incômoda, possível 
início do nascimento de uma nova luz que vai permitir ver e saborear coisas novas. 
Isto não significa que a crise seja boa em si. A sua positividade é somente possível, não 
automática: não é suficiente que a crise aconteça. A história de tantas pessoas, por fim, dizem que 
A Hora de Deus 
 
6 
as crises os levaram a fazer escolhas erradas, ou mostrando vias de regressões, de involuções e 
não de crescimento. 
 A preocupação do autor que percorre todo o livro é aquela de indicar as condições porque 
a crise torna-se verdadeiro tempo de graça, caminho saudável . A este respeito Cencini insiste em 
um conceito que aprecia muito, já citado em outros livros escritos por ele : aquele conceito de 
docibilitas. Se trata daquela disponibilidade a aprender, a “deixar-se ensinar” por alguém ou por 
alguma coisa, que é atitude fundamental e a “condicio sine qua” não da mesma forma 
permanente. A docibilitas consente a crise de colocarnos em discussão e de transformar-se em 
ocasião para reposicionarmos diante da nossa identidade: o que somos e o que deveríamos ser. 
Graças a docibilitas a crise se torna um campainha do alarme que toca, questões candentes das 
quais é necessário dar respostas que não sejam iludentes; nos abre a frente um dilema no qual se 
deve decidir qual estrada tomar. 
 Podemos aprender com o grande livro da vida e da experiência, mesmo das experiências 
em si negativas. Cencini nos leva a entender que no momento de crise, quando são colocadas 
certas dimensões decisivas da pessoa, a vida em si, se encontra discípulos atentos, “afáveis”, que 
transforma em sabedoria. Acontece então não somente porque a história em geral é mestra da 
vida (historia magistra vitae como no velho ditado), mas que a minha história seja mestra da 
minha vida. 
 Tudo isto tem um preço. De fato, as coisas de valor – como todos sabem – tem 
normalmente um preço elevado. E isto é explícito por Cencini sobretudo no capítulo, muito 
interessante, em que a experiência de crise é descrita como o momento de luta. Se trata, no 
fundo, de uma dimensão importante da vida espiritual cristã, talvez muito esquecida. O antigo 
tema do “combate espiritual”, estimado pela espiritualidade monástica dos primeiros séculos, que 
é recuperada com atenção para compreender juntos os aspectos psicológicos e espirituais, não 
facilmente destinguivél. 
Sem luta se cai na inércia ou no vício insidioso ao mal. Pouco a pouco a maneira de viver, 
perde o poder de quem luta, cai em uma passiva adequação as situações, conduzindo não mais a 
forma a vida segundo aquilo que se pensa, mas a pensar naquilo que se vive. Porém seja a 
assumindo em profundidade as convicções vitais sempre carente de ser reassumidas, seja 
conformando a vida a tais convicções: passam através de tensões nas quais se combatem forças 
hostís, internas e externas; Deus pode assim tornar, para aquele que o procura com ardor, uma 
espécie de misterioso adversário, como aquele que Jacó teve que lutar “até o romper da aurora” 
(Gn 32,25). 
 A crise da qual esta obra trata, põe em causa, falávamos antes: as dimensões decisivas da 
pessoa. Já mencionamos ao fato que Cencini a reconduz aos âmbitos da identidade da afetividade, 
“vocacional”. Os problemas relativos as últimas duas dimensõessão em geral frequentemente 
tratados sobretudo em publicações que abordam temáticas formativas. Cencini abordam-nas com 
amplitude e abundantes constatações, reflexões e indicações. Porém ao meu ver, merece 
particular atenção o primeiro âmbito, menos considerado, que no texto é apresentado com o 
título “Crise em busca da verdade” (capítulo sete). 
A Hora de Deus 
 
7 
Neste tempo relativista, em que a verdade se dissolve em oponiões ou sensações, mesmo 
a pessoa cansagrada pode viver crises de verdade: não somente no que diz respeito as verdades 
em que acredita, mas também em relação àquelas – que são talvez as mesmas vistas por um outro 
ângulo – vividas, praticadas, assumidas, escolhidas. Se pensa depois a insuficiente consciência e 
acolhida da verdade da própria identidade, da própria história, da própria experiência de Deus, da 
maneira de colocar-se de frente ao outro. Na incerteza criada pelo prevalecer do sentir sobre o 
pensar, do instinto sobre discernimento, o autor sublinha o perigo de passar – assim ele escreveu 
em um subtitulo do capítulo sete – “Da confusão ao exílio à desordem”: ou da insuficiente 
percepção daquilo que somos, até mesmo nos encontrarmos exilados, longe da verdade, 
chegando assim a uma situação de subversão dos valores fundamentais. 
 Por isso, aonde oferece indicações inteligentes e concretas para poder “atravessar” 
positivamente a crise, Cencini estimula não somente uma total sinceridade consigo mesmo (e 
obviamente aqueles que pedem ajuda) mas também a passagem da sinceridade à verdade. 
Obviamente se trata aqui da verdade daquilo que somos e fomos, e daquilo que se vive e se 
experimenta; porém esta verdade em si, para ser integral, deverá ser colocada no interior de 
outras verdades, incluindo a Verdade que é “a luz verdadeira que ilumina cada homem” (João 1,9). 
 Mencionei somente alguns temas, quase beliscando aqui e ali no riquíssimo texto de 
Cencini. Muitos outros eu gostaria de sublinhar ao leitor: por exemplo algums problemas tratados 
no capítulo nove, dedicado a “crise de fragilidade vocacional”; tema atual, sobretudo neste tempo 
em que os compromissos definitivos e globais parece ser sempre mais árduo, onde encontramos 
protagonistas cada vez mais medrosos e dotados de baixa resistência. Estou contente ou pelo 
menos busco fazer entender que a leitura desta obra pode beneficiar muitos. 
 Para conculir, parece-me que algumas linhas de Cencini dizem eficazmente na síntese o 
conteúdo deste seu trabalho. Ele escreve: “Não se pode reduzir a crise a um fato somente moral-
comportamental nem somente a uma tentação diabólica ou uma passagem eventual da 
existência, destinada mais cedo ou mais tarde a concluir-se. É ou refere-se ainda um modo de 
entender a vida, a fé e a própria consagração de um modo mais ou menos realista. Vive bem a 
vocação não somente aqueles que aguentam e resistem no texte, mas quem através desta cresce 
na compreensão da própria identidade, que se revela progressivamente no tempo, também 
através das crises, e escolhe ser criativamente fiel. Não é talvez a crise uma chamada, uma 
“segunda chamada”? 
 Talvez bastaria esta idéia – em outras palavras – vamos fazer deste trabalho de Cencini um 
instrumento precioso, esperamos que esteja nas mãos de muitos: a crise pode passar a ser uma 
“segunda chamada” que estimula uma resposta mais consciente, mais verdadeira, mais 
convencida que a primeira. 
 
GIANFRANCO A. GARDIN, ofm conv 
Secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. 
Roma, 13 de Outubro 2009 
 
A Hora de Deus 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
Agora é comum. Ao ponto que não se pode nem mesmo falar de vida religiosa ou 
sacerdotal, e nem mesmo de vida de fé ou de realidade cristã em geral, sem se abordar aquela 
palavra tão breve, quanto clara e imediata no seu significado, subitamente entendida por todos: 
crise. 
Esta pequenina palavra não nessescita de ser explicada, pois ela mesma se explica; está de 
fato se tornando uma chave de leitura, que serve para dar uma idéia da atual identidade da vida 
sacerdotal e religiosa, como se fosse impossível comprender adequadamente hoje estas duas 
opções de vida (ou até mesmo a vida cristã em geral) sem perceber a profunda situação de 
dificuldade, de crise, claro, na qual ambas parecem estar. 
Por isso, vou dizer imediatamente, não me lamento, de jeito nenhum, nem me parece ser 
inoportuno. A crise é componente normal da vida humana, a acompanha como amigo fiel, ainda 
que amigo pertubador, rompe certos equilíbrios e as veses é até mesmo devastante, mas é uma 
amiga ... crítica. É isso que determina a passagem de uma fase a outra da vida, antes, nos recorda 
a psicologia evolutiva, se a evolução é um dos parámetros do desenvolvimento humano 
(conjuntamente com a alteridade e temporalidade),2 a crise representa uma “situação de 
desenvolvimento”,3 isto é, aquilo que provoca de fato o ser humano a dar um passo adiante. 
Enquanto há crise há ... vida, ou há desenvolvimento ou pelo menos a sua possibilidade, diríamos. 
Seja sobre o plano psicológico ou espiritual. 
A crise diz respeito a todos: o homen e a mulher, qualquer um que seja, como também os 
eremitas, místicos, homens e mulheres de grande espiritualidade, fundadores de comunidades, 
todos são chamados a passar pela experiência de um deserto que improvisamente invade o 
próprio ser em diversos modos. Não, não é um simples e eventual acidente de percurso, que 
concerne somente alguns, os mais fracos e pecadores. 
Portanto, se as coisas estão como estão, de um lado não podemos deixar de falar, de crise, 
visto que ela invade, quase como um processo de globalização de si mesma; e falaremos 
sobretudo referindo-se a realidade do mundo cristão, e aquelas suas expressões peculiares que 
são a vida religiosa e sacerdotal. Do outro lado o problema é aquele de ver como é acolhida, 
interpretada e vivida esta situação de crise, a nível institucional e a nível pessoal. 
E é isso que se propõe neste estudo. Em particular buscando evidenciar, antes de tudo, o 
significado da crise, em que consiste, ou, quais são as áreas mais sensíveis, ou vulneráveis, para 
entender como ela hoje seja percebida por cada indivíduo que a sofre, e tentar ver enfim, como 
viver e como ajudar viver as crises4 para que se tornem ocasião de crescimento, no plano humano 
e não só no plano humano, bem como passagem do Eterno na vida do fiel, como a HORA DE DEUS. 
Um livro como este, há uma dedicação implícita obrigada, que é mais que uma simples e 
convencional formalidade, porque não pode ser escrito pensando senão, naqueles tantos irmãos e 
irmãs, leigos ou consagrados, que sofreram crises, as vezes compartilhando-as, ou as vezes 
retendo e tentando reter tudo dentro de si, quase com vergonha de abri-se e de fato arriscando 
não ver mais uma saída; àqueles que souberam reconhecer a visita de Deus, àqueles que através 
da crise experimentaram uma grande solidão, mesmo por parte dos homens, como se fossem 
pessoas a ficar distantes; àqueles que viveram a crise como momento de fraqueza, de tal forma a 
não mais conseguir levantar-se, como aqueles que acolheram dentro de si a potência inédita da 
graça... Sobre tudo àqueles que eu pude aproximar no momento da crise, buscando ser uma 
 
2 Cf. F. Imoda, Sviluppo umano. Psicologia e mistero, Casale Monferrato 1993, 77-106. 
3 Imoda, Sviluppo umano, 96-106 
4 Sem entrar nos méritos de um discorso mais propriamente pedagógico ou terapêutco, que pode ser objeto de uma sucessiva reflexão. 
A Hora de Deus 
 
9 
forma de ajuda para eles, e também àqueles que não conseguí ajudá-los. Este livro é como se 
fosse escrito por todas essas pessoas. 
Se eu pudesse, eu queria chegar até eles, para revermos juntos aqueles momentos. Se a 
vida (presente) frequentemente é a melhor explicação da vida (passada), agora poderíamos 
entendermelhor também o sentido das crises passadas, e procurar entender hoje, aquilo que 
naquela época era obscuro e escondido, ou que parecia simplesmente e somente humano, ou que 
parece ser impossível e insuportável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Hora de Deus 
 
10 
Primeira Parte 
A Crise: Definições e destinções 
Iniciamos com a explicação dos termos, para não nos encontrarmos falando de alguma 
coisa pensando que todos entendam sobre o assunto, mas que, ao invés podemos definir de vários 
modos, e que o leitor pode então interpretar diferentemente em relação ao significado que dá o 
autor que o escreveu. 
 Veremos então que para definir corretamente o conceito de crise ocorre descompor o 
termo pelo menos em duas partes ou componentes: um objetivo e outro subjetivo. O primeiro a 
acentuar o elemento problemático que determina a dificuldade do sujeito, o segundo para colocar 
em evidência como e quanto o sujeito mesmo seja consciente da própria situação crítica. 
 Mas a distinção não termina aqui; e não se detém aqui simplesmente porque não basta 
tomar consciência da crise, ocorre ver como o sujeito enfrenta a própria situação crítica (se a 
enfrenta), ou seja o confronto e quais os tipos de confrontos. 
 
Capitulo 1 
Problemática objetiva das crises 
 Primeiramente uma crise, de qualquer um tipo, nos leva a um problema, ou uma situação 
em qualquer modo conflitual, presente objetivamente na pessoa desde algum tempo, provocando 
transtornos, incômodo sobre o indivíduo, habitualmente mais consciente do encômodo e não da 
sua raiz. A primeira coisa a fazer, então, é procurar indenticar este problema ou esta situação 
problemática, e possivelmente não só nas suas expressões exteriores, mas também na sua origem 
profunda. 
 O conceito de “problemática”, por sua vez, se encontra longo um continuum que vai de 
um máximo a um mínimo de encômodo interior, de objetiva gravidade, de percepção subjetiva, de 
possibilidades de controle e de gestão... 
 Experimentamos então a esborçar um possível significado desta expressão, observando em 
particular os limites ou as outras zonas conceituais com a qual se confronta, sempre na grande 
área do deságio ou do encômodo do mundo interior intrapsíquico do sacerdote e do 
consagrado(a), porque pelo menos nos sirva como indicação geral para iniciar o discurso. Portanto 
ainda não, neste momento, para confrontar o argumento complexo das causas, das situações 
problemáticas. 
 
1. Nível problemático 
 
 O nível ou o grau de profundidade ao qual se coloca o problema psicológico pode ser 
diferente. Envolvendo assim diferentemente tanto quanto as várias faculdades intrapsíquicas e 
espirituais: mente, sentimentos, vontades, liberdades, responsabilidades, sensos internos e 
externos, consciência de si ... 
 Segundo o nível de profundidade teremos então várias problemáticas psicológicas ou que 
em diferentes modos são vizinhas ao mundo psicológico do indivíduo. Será importante saber 
primeiramente distinguir e identificar a natureza do problema apresentado.5 Que pode ser por 
causa da: 
 
1.1 Problemas de psicopatólogia. 
 
5 Sigo em parte neste parágrafo as classificações e indicações oferecidas pela CEI (Conferência Episcopal Italiana), Linee comuni per la vita de nostri 
seminari (Regras comuns para a vida dos nossos seminarios), Roma 1999, 15. 
A Hora de Deus 
 
11 
 
Pretendemos falar de psicopatologia latente ou manifestada, mais ou menos grave, isto é, 
de problemas derivados de distúrbios ou sintomas psíquicos estruturais e de natureza clínica, de 
origem remota, em relação a área do pensamento (esquizofrenia, paranóia...) ou de afeto 
(depressão, esterias...) ou dos comportamentos (obsessões compulsivas, manias, fobias, 
transgressões encontroláveis...). Nós já dizemos “distúrbios ou sintomas psíquicos estruturais”, 
isto é, presentes em modo estável nas pessoas, continuamente e “de natureza clínica”, ou seja 
não controlável pelo sujeito somente com as suas forças e por sua espontânea iniciativa. 
 Tais problemas podem haver limitações consequentes graves relacionado a liberdade e o 
estado de consciência e responsabilidade do sujeito, como podem ser, por exemplo, casos de 
pedofília e de efebofilia ou de abusos e violências sexuais, ou formas obssesivas de dependência 
afetiva-sexual, o qual é uma expressão de uma carência mais ou menos sistemática de controle do 
instinto, do impulso sexual (no sentido heterosexual e homossexual) àquele agressivo (destrutivo 
e autodestrutivo, das tendências ao suicídio, a formas sérias de anoréxia e bulimia, de mania 
nevrótica do acúmulo, talvez com episódios de cleptomania, a manias de perguições etc...).6 
Esta parece ser uma problemática psiquiátrica. 
A alternativa para o discernimento geral deste primeiro estado está entre a sanidade 
mental e a doença. 
 
1.2 Problemas evolutivos 
 
São manisfestações de fragilidades ligadas a um atraso ou a uma incapacidade de solução 
dos problemas evolutivos, do tipo no primeiro desenvolvimento como é o caso : 
- de uma infância problemática, por causa de uma privação afetiva, com vários traumas e 
carências, ou – o contrário – de uma excessiva gratificação emotiva com consequente 
dependência e exigências7 (e teremos então padres puer aeternus {eterna criança} sempre 
necessitados de proteção e calor), ou por precariedade e pobreza do ambiente familiar de origem, 
ou mais particularmente, por ausência física e psicológica dos pais ou de um dos dois (talvez com a 
falta de identificação com o genitor do mesmo sexo e possível homossexualidade estrutural); 
- ou de uma pré-adoscência nunca resolvida e bloqueada em uma das suas fases: do auto-
erotismo narcisista{é aquele que pratica o culto da sua própria pessoa} (o “Padre narciso”, necessitado 
em estar sempre no centro, ou o “Padre Belo” ou de qualquer modo atraente em busca de 
atenção dos outros, ou a tendência a masturbação), ou do homo-erotismo com possibilidade de 
uma tendência homossexual (Neste caso o nível é não estrutural, na maioria das vezes);8 
- ou de uma adolescência persistente, ao qual o sujeito adulto é ainda sem uma identidade 
positiva e estável, e então a pessoa perenemente tensa entre a busca de um ponto de referimento 
exterior a qual depende e a incapacidade de abandonar-se e confiar no outro, ou seja de 
pertencer (o assim chamado padre “Adultoescente” adulto no registro cívil e adolescente 
segundo a idade psicológica, incapaz, por exemplo, de assumir responsabilidade, inconfiável, 
superficial, inconstante e egocentrico...). 
 Nestas situações é possível a presença de sintomas as vezes semelhantes a aqueles 
psicopatológicos, isolados e com uma menor frequência, ou de atos ligados a um cedimento 
impulsivo que contudo não é obsessivamente presente e com o tempo sempre mais controlável 
 
6 Se recorda a importância de ter uma atenção global da complexidade da situação, nestes casos. Tal atenção é a respeito do mistério do ser 
humano; ainda que se ferido, ou talvez sobretudo quando é ferido, o ser humano é parte de um mistério, ou de uma dimensão misteriosa que não 
pode ser reduzida simplesmente ao seus comportamentos, nem é por estes desmentidos. 
7 Já Freud acreditava que não somente as privações afetivas, mas até mesmo um excesso de gratificações pudesse ser causa de distúrbios na 
personalidade. 
8 Um dos elementos distintivos entre a homossexualidade estrutural e não estrutural, como veremos melhor no capitolo 8, é exatamente a 
diferênça da origem: A primeira nasce na fase infantil, a segunda na fase da pré-adolescente. A respeito da distinção entre a homossexualidade 
estrutural e não estrutural, cfr. A. CENCINI, Quando a carne é fraca. 
A Hora de Deus 
 
12 
(por exemplo; algumas formas de abuso no álcool, de excesso ao se alimentar, ou até mesmo a 
tendência homossexual...).Este poderia ser um problema psicológico mais que essencialmente psiquiátrico, radicada a 
uma certa profundidade e com tendência a permanecer constante, portanto interna ao indivíduo e 
não ligada a circunstâncias exteriores, mais possível de tratamento e reduz em um âmbito 
psicoterapêutico. 
 Aqui a pergunta para o discernimento poderia ser esta alternativa: estilo infantil ou adulto 
de vida? 
 
1.3. Problemas de (in) disponibilidade para a formação permantente 
 Uma terceira categoria problemática é apresentada pela dificuldade do progresso de 
adaptação às diversas idades e situações existênciais, como a diversas provocações e 
oportunidades oferecidas pela vida. São problemas, em outras palavras de formação permanente, 
ou a criação de obstáculos na segunda etapa do desenvolvimento, nos anos suscessivos ao 
primeiro desenvolvimento (ou a formação inícial), aquele que deveria durar toda a vida. 
 Não é de fato, simples e despercebida a passagem de uma fase existencial a outra, por 
exemplo da idade da adolescência à juventude, da juventude a idade adulta, do estado de 
maturidade psicofísica e da produtividade àquela do progressivo retiro, culminante na velhice com 
todos os seus limites, os desáfios, os cansaços e tudo que comporta esta idade... 
 Ou, ainda possamos recolocar nesta categoria aqueles problemas que nascem das 
situações contigentes, mais ou menos provocantes e traumáticas, que normalmente acompanham 
o percurso vital particularmente do padre ou do consagrado: escolhas particulamente 
significativas da vida, desáfios ambientais, mudanças não muito agradáveis de cargo ou funções, 
fracasso apostólico, sentimento de inutilidade pessoal e insignificância da propria mensagem, 
determinadas pressões culturais e sociais, dificuldades nos relacionamentos (rejeição da própria 
pessoa por parte dos outros, maledicências e calúnias...), crises afetivas (sentimento de solidão, 
enamoramento...), dificuldades na obediência, transferimentos inesperados (com a retirada de um 
ambiente familiar e inserção em um ambiente novo), acidentes particulares, enfermidades de uma 
certa seriedade, perda de pessoas queridas... São somente alguns exemplos de dificildades 
determinantes – normalmente – de um evente externo ou por outros sujeitos, mais que poderão 
acordar antigas (ou talvez adormecidas até então), problemas internos na pessoa, mais ou menos 
graves, de imaturidade psicológica ou espiritual. E é esta imaturidade que impedirá de desfrutar 
destas situações como ocasiões de maturação, e também de sentir-se responsável e protagonista 
inteligente da própria formação, que deveria continuar no tempo. 
 É o problema de docibilitas, ou da pessoa docibilis, que «aprendeu a aprender», livre para 
aprender com a vida por toda a vida, por cada circunstância existêncial como por cada pessoa, nas 
situações favoráveis e nos insucessos, até ao último dia da existência; docibilitas que é muito mais 
que docilitas, e que deveria ser o objetivo da primeira formação. Visto que toda a existência da 
pessoa seja uma continua formação.9 
 Seja esta área como também a anterior, podemos fazê-la reentrar na problemática 
psicológica, porém se trataria, em cada caso, de uma problemática sobretudo reagente que 
destaca-se como resposta menos livre e pouco madura a um certo tipo de provocação da 
realidade ou a dificuldades normais da vida humana ou como resposta somente passiva que revela 
a incapacidade de desfrutar criativamente da situação, ou de acolher a potencialidade formativa 
para deixar-se depois educar-se e formar-se. A não docibilitas, como já foi falado implicitamente, é 
esta ausência de entregar-se ou escassa disponibilidade diante das ocasiões de crescimento que a 
vida oferece continuamente. Não é sempre fácil de reconhecer, porque em condições «normais» 
 
9 Sobre este argumento cf. A. CENCINI – Il respiro della vita. La grazia della formazione permanente.C.Balsamo, 2003, 34-41. 
A Hora de Deus 
 
13 
tais indivíduos parecem estar bem, mas na realidade... o eletrocardiograma está quase reto, não 
tem fantasia nem paixão, de tal maneira que não sabem colher nunca em torno de si mesmo os 
desáfios ou os apelos particulares, e assim acabam vivendo como se a formação (permanente) 
fosse algo que compete somente a instituição a oferecer e não fosse ao invés, o primeiro dever e 
responsabilidade do sujeito. 
Para verificar a presença deste tipo de problema, a questão central refere-se sobre a 
disponibilidade formativa da pessoa ou sobre a sua abertura em deixar-se formar pela vida para 
toda a vida, ou seja: somente docilis ou docibilis? ou seja, formação ou frustação permantente? 
 
1.4. Problemas de inconsistência vocacional 
 
 Os problemas de inconsistência e integração vocacional indicam dificuldades muito 
comuns, a maioria das vezes ligadas a presença de necessidades inconscientes, ou daquelas 
exigências impulsivas que resultam prevalecentes e dominantes, e absorvem e desviam as 
energias da pessoa, chegando a condicionar o seu estilo de vida o seu modo de ser, e colocando-o 
em contraste com as mesmas escolhas existências. 
 A inconsistência inconsciente, na área da sua... competência fecha e bloqueia 
normalmente o indivíduo dentro de um horizonte de procura de si mesmo e da própria 
gratificação, ou defesa de si pelas situações que percebe ser ameaçadoras, e estas o impedem de 
se deslocar segundo dinâmicas de auto-doação motivadas pelo amor e por uma prospectiva 
transcendental da vida. Dinâmicas e prospectivas que, no caso do sacerdote e consagrado(a), 
correspondem as suas escolhas explícitas e declaradas da vida (além da natureza intrínseca da 
vocação sacerdotal e religiosa), mas que vem de alguma forma desmentida e contrastada 
interiormente por estímulos exatamente o contrário da escolha feita (normalmente com raizes 
inconscientes). A inconsistência vocacional é exatamente este contraste interno, como uma fenda 
intrapsíquica que coloca o sujeito em contradição consigo mesmo, tornando-o incoerente naquilo 
que realiza, pouco convencido das suas (convicções), menos apaixonado com os seus idéais, e 
portanto não convincente naquilo que fala e instável nas suas operações. As suas energias, de 
fato, não seguem todas, a mesma direção transcendente, mas são desviadas em direção a outros 
objetivos, dobradas sobre o seu próprio “EU” e sobre as suas economias subjetivas (= 
necessidades psicológicas), enfraquecendo inevitávelmente a pessoa, ou impedindo-a de amar 
com todo o seu coração e com toda a sua mente, com todas a suas forças. É o indivíduo que tem 
olhos, mas não «vê», tem ouvidos mas não «escuta»... ou vê e escuta com uma atenção e 
sensibilidade comandadas por forças instintivas que ainda não foram evangelizadas. E que irão 
expor facilmente este indivíduo a crises, exatamente quando tais expectativas não serão 
gratificadas. 
 Um exemplo: um indivíduo com pouca auto-estima, ou que não identificou aquilo que da 
em modo substancioso e estável a certeza da própria positividade, se colocará dentro de uma 
certa necessidade de sinais desta positividade pessoal, mas sem necessariamente estar consciente 
(do tipo se não for ajudado em tal sentido), será portanto levado a fazer certas coisas, ainda que 
boas, ligadas ao seu ministério, sobretudo ou ainda para agradar tais exigências da auto-estima, 
buscando consentimentos, aplausos, confirmações, promoções, visibilidade, títulos de estudo, 
diversos sinais de considerção positiva... e fazendo um drama quando tudo isso não acontece, 
diante então dos fracassos e insucessos (também no plano moral-espiritual), ou vivendo com uma 
contínua competição e vendo os outros como rivais (os juízes), ou desperdiçando energias em 
invejas e ciúmes, terminando talvez por não aceitar-se (tornando nervoso e agressivo) e sentir-se 
insatisfeito (= complexo de inferioridade). 
 Frequentemente tal pessoa poderá ainda ser uma pessoa correta e eficiente em relação ao 
comportamente,mas será interiormente dividida e ineficaz em relação ao testemunho evangélico. 
É claro que se a tendência é incosciente, o indivíduo não fará quase nada para mantê-la sobre 
A Hora de Deus 
 
14 
controle, e esta tender-se-à persistir e ripertir-se, crescerá e tornará sempre mais invasora e 
prepotente. Determinará destorsões perceptivas (em relação ao “EU” e a própria identidade, em 
relação a Deus e a sua imagem, criando finalmente até mesmo problemas na leitura da Palavra, e 
no relacionamento com o outro, da comunidade e do sentido da relação); e criará além disso o 
fenomêno das expectativas irreais (com relação ao futuro, ao trabalho apostólico, até mesmo da 
vida consagrada e sacerdotal). 
 Podem reentrar aqui, ou encontrar aqui uma explicação para muitas das crises religiosas e 
sacerdotais de deferentes fenomenologia com êxito negativo, ou em particular as crises precoces 
de fidelidade dos religiosos, e jovens sacerdotes, frequente a pouquissima distância do gesto de 
doação definitiva de si mesmo, ambas determinadas da constatação (final ou imediata nestes 
últimos casos) que uma certa gratificação é sempre mais improvável ou aparece mesmo 
impassível, enquanto a sua ausência, ao mesmo tempo, é sentida como insurpotável, mas fazemos 
reentrar também neste nível aqueles modos absolutamente inautênticos de ficar na instituição 
fazendo um ninho ao seu interno, ou seja encontrando um modo e um sistema para gratificar-se, 
habitualmente na própria infantilidade e imaturidade, sem cometer grandes transgressões 
(normalmente, ou estando atento para encobertá-las) e preenchendo a vida de 
comprometimentos. 10 
 Esta também é uma problemática psicológica, carecterizada – além da constância do 
problema – do seu enraizar-se no inconsciente, que causa um obstáculo no processo de libertação 
do próprio indivíduo. 
 Aqui a pergunta discriminável seria: tensão egocentrica ou auto-transcendente da vida? E 
depois (ou ainda antes): conheço-me ou não conheço-me nas minhas motivações de fundo? 
 
1.5. Problemas de caráter espiritual 
 
 Este tipo de problema refere-se a área dos valores, a modalidade concreta de vivê-los, e 
antes ainda, a visão clara do caminho vocacional pessoal. Aqui temos um salto de qualidade com 
respeito aos níveis anteriores, não porque não existem mais problemas, mas porque estes são 
diferentes e visto que muda em cada caso, o modo de confrontá-los. 
 Tais dificuldades, de fato, são ligadas a uma normal dificuldade de viver o Evangelho e as 
suas exigências, o relacionamento com Deus e as suas pretensões sobre o coração humano, ou as 
ocupações ligadas a própria escolha vocacional, aos votos, a regra que escolheu como regra de 
vida etc... cansaço normal, e que – se refletirmos bem – deveria crescer na vida de um crente, já 
que deveria ser o caminho normal de uma pessoa que levou a sério o empenho de santidade, e 
que adverte cada vez mais o duc in altum (avançar mar-a-dentro Lc 5.1-11) ligado ao próprio 
chamado. 
 Estes problemas normalmente se colocam a um nível consciente, a pessoa portanto se da 
por conta e é suficientemente livre para decidir resolvê-los, ou seja escolher a via do bem e 
superar a tentação da mediocridade e dos comprometimentos, para escolher ser virtuoso e não 
cair no pecado. A alternativa, portando, aqui é entre a virtude e o pecado, entre a santidade e a 
mediocridade. 
 A este nível, e pelo fato que a pessoa aqui vive na plenitude das suas faculdades, é possível 
provar – sobre o lado negativo – não somente o sentido psicológico da culpa, mas também a 
consciência teológica do pecado, com a dor e o rigor que a implica; a mesma situação de 
dificuldade não é vivida como prova somente psicológica, mas como prova espiritual, como vamos 
dizer melhor mais adiante, ou seja como luta com Deus, e com um Deus que é diferente daquele 
 
10 São os famosos nesters (do inglês nest=ninho) da pesquisa do instituto de psicológia da Gregoriana: Indivíduos inconsistentes que não saem da 
instituição (como os drop-out), mas permanecem graças as suas espertezas “mais ou menos” de adaptar-se e de acomodar-se (da série “se não toda 
a torta, pelo menos uma pequena fatia...”), as vezes também fazendo tortas de pouco bom gosto e contentando com gratificações miseráveis. 
Retorneremos mais a frente sobre isso. 
A Hora de Deus 
 
15 
que o crente trás na sua imaginação, um Deus que é não somente amigo afável, confiável, mas 
“rio traiçoeiro”, um Deus que não está sempre ali para responder com as expectativas do orante, 
para o contentar, porém frequentemente se mostra ausente, e as vezes até mesmo não responde 
ou responde com um silêncio que desconcerta e que é duro aceitar.11 A prova espiritual ou a luta 
com Deus propõe novamente ao homem continuamente a escolha clássica e dramática da vida, 
entre o bem e o mal, luta travada entre a atração do primeiro e obscuridade fascinante do 
segundo, como dois abismos que abrem-se diante ao mistério da sua liberdade. Quem vive neste 
nível e leva a sério a vida espiritual, ou aquela que Rahner chama “a dificuldade de crer”, por isso 
mesmo expermentará a cada dia a dificuldade e a realidade problemática do crescimento na vida 
espiritual, e advertirá muito mais que os outros, então, a mesma realidade da tentação,12 
reconhecendo os truques e as periculosidades. Como nos conta as histórias dos santos.13 
 Alguns entres os santos ou talvez muitos (quem pode quantificar com certeza sobre isso?) 
foram muito além disto que estamos dizendo aqui, e expermetaram no máximo grau aquela 
ausência de Deus que torna cruciante, aquele silêncio que a criatura sente-se angustiada, quase 
até mesmo vendo-se distante, como o pior dos pecadores: é a experiência conhecida como “noite 
escura da alma”, ou “noite do espírito”, ou a “noite da fé”, como João Paulo II chamou a 
experiência de Maria14, experiência não muito comum a todos os crentes, mas a uma categoria 
particular entre eles: os místicos (de S. Bernado a S. Catarina de Sena, de s. João da Cruz a S. 
Teresa de Avila, de S. Teresinha do Menino Jesus15 a beata madre Teresa de Calcuta,16 de Chiara 
Lubich até mesmo João Paolo II, segundo alguns, nos últimos anos de sua vida),17 mas experiência 
sempre condunzida a esta catégoria de problemas, quase no seu extremo. Nesta noite até mesmo 
a fé tornar-se uma angustiante incerteza, e o que antes constituia fonte de alegria para o espírito 
humano torna-se agora escuridão e trevas. É uma das provações entre as mais terríveis, que 
requer da alma um exercício de pura fé, da fé nua, mas que enfim produz nesta uma grande 
purificação, para torná-la ainda mais morada onde Deus pode habitar. Quando e como Ele quiser. 
 Além desta experiência extrema, privilégio e provação para poucos, os problemas ligados a 
vida espiritual são problemas que todos, pelo menos em parte conhecemos e que pelo menos em 
alguns momentos da vida (se espera) nós particurlamente o vivemos, problemas que chamam a 
atenção constante de quem está empenhado em um caminho de crescimento espiritual, como de 
quem acompanha em um caminho de formação. 
 Mas nem sempre existe a capacidade de distinguir este tipo de problemas com aqueles 
precedentes, de natureza mais explicitamente psicológica. Frequentemente o problema espiritual 
 
11 Durante o encontro com os jovens italianos em Loreto no mês de agosto de 2007, Bento XVI, deu uma resposta a uma pergunta de uma jovem 
sobre o mistério de Deus: “Todos nós, ainda que crentes, conhecemos o silêncio de Deus”. Pelo fato que somos crentes... 
12 “Filho se te apresentares para servir o Senhor, prepara-se para a tentação” (Eclo 2,1). 
13 “As grandes aspirações são sempre acompanhada de terríveis tentações” (L. BOFF, Francisco de Assis. Uma alternativa humana e cristã, Asis 1982, 
191; cf. Também A. CENCINI, Vida consagrada. Intinerário formativo durante o caminho de Emaus, Cinisello Balsamo 2002, 29-33).14 João Paulo II, Redemptoris Mater 17c : EV 10/1315. 
15 Este trecho autobiografico de S. Teresinha ajuda a entender o que é a noite do espírito: “ Minha dileta Celina, não sei se estás ainda na mesma 
disposição de espírito do outro dia, mas te citarei assim mesmo uma passagem do Cântico dos Cânticos, que exprime perfeitamente o que é uma 
alma imersa na aridez e que nada a consegue alegrá-la nem consolá-la: “Eu desci ao jardim das nozes, para ver as frutas do vale, para observar se a 
vinha fosse florida e se as romãs ja haviam amadurecido. Não sabia mais estava... A minha alma ficou totalmente agitada por causa dos carros de 
Aminadab” (Ct 6, 10-11). É esta a imagem das nossas almas: nós descemos nos férteis vales ao qual o nosso coração ama ser alimentado, o vasto 
campo das escrituras que muitas vezes se abre diante de nós para doar-se a nós os seus ricos tesouros, este vasto campo parece-nos ser um deserto 
árido e sem água. Não sabemos mais, nem mesmo aonde estamos: em um lugar de paz, de luz, não encontramos somente a tribulação ou, pelo 
menos as trevas. Mas, como a esposa, sabemos a causa das nossas provações. A nossa alma é pertubada por causa dos carros de Aminadab. Não 
estamos ainda na nossa pátria e a provação deve nos purificar como o ouro no cadinho. De vez em quando pensamos que estamos abandonados; Ai 
de mim! Os carros, os barulhos que nos afligem estão fora de nós ou dentro de nós? Não sabemos! Mas Jesus sabe bem” ( de uma carta a irmã 
Celina do 6 de julho 1894). 
16 Foi notável a sensação da publicação das cartas e memórias de irmã Teresa, por parte do Postulador (B. KOLODIEJCHUK, Madre Teresa. Seja a minha 
luz, Milão 2008, 201-202), com a inacreditável revelação da sua noite espiritual ao qual ela viveu por cerca de cinquenta anos! Algumas de suas 
expressões nos ajudam a enteder o sentido que ela mesma deu a este tempo de provação estrema. “Se é agradavel a Vós Senhor, se a minha dor e 
o meu sofrimento, a minha escuridão e separação vos dar ó Senhor uma gota de consolação, meu caro Jesus, faz de mim aquilo que o Senhor quiser 
e por todo o tempo que quiser, sem olhar os meus sentimentos e a minha dor... Eu sou tua. Marque em minha alma e sobre a minha vida os 
sofrimentos do teu coração. Não se importe com os meus sentimentos, não se importe com a minha dor ... Se a minha separação de Vós, leva 
outros a Vós e se nos seus amores eles se aproximarem de Vós e isso vos traz alegria e prazer, então Jesus eu estou disponível, com todo o meu 
coração, a sofrer tudo o que for necessário que eu sofra, não somente agora, mas por toda eternidade, se possível” 
17 Cf. F. CIARDI, “A noite tempo de provação. A experiência dos Santos”, em Nova humanidade 30(2008), 165-187. 
A Hora de Deus 
 
16 
convive com aquele psicológico, tornando um problema espiritual conjuntamente com uma 
inconsistência vocacional. 
 Em síntese: Esta descrição nos colocou diante de um quadro muito vasto dos possíveis 
motivos ou raizes, a nível teórico, das situações de crises, dando nos – em suma – três diferentes 
características desta crise: existe por um extremo a crise determinada por um problema do tipo 
patológico (o ponto 1.1), diante do qual a pessoa parece impotente e que necessita obviamente 
da intervenção de um especialista; existe ainda uma vasta área, que abrange os três pontos 
sucessivos da nossa análise descritiva (1.2, 1.3, 1.4), a qual a crise aparece provocada por um 
problema psicológico de diferente gênero, e que põe em causa em modos e proporções diferentes 
a liberdade e responsabilidade do sujeito, e será uma problemática ou ligada a dificuldades 
evolutivas no passado (1.2), ou a uma menor liberdade interior de deixar-se formar pela vida 
presente (1.3), ou a inconsistência e imaturidade mais ou menos inconsciente (1.4): tal área está 
no limite de um lado com a patologia ou os problemas psiquiátricos, e do outro com problemas de 
natureza espiritual que constitui a terceira característica das crises: as crises “nomais”, sinal de 
uma personalidade substancialmente íntegra, sobre o plano psicológico e espirítual, crises 
determinantes pelas leis de crescimento, seja psicológico ou espiritual (veja mais a frente o 
Quadro 1). 
 Mas a nossa não é uma indagação têcnico-teórica, e sim mira a identificar corretamente o 
problema na medida em que este pode facilitar uma intervenção para ajudar. 
 Ocorre então dar uma passo a mais para delimitar mais precisamente estas áreas e 
comprendê-las de maneira mais profunda, sua especificidade e sua natureza. 
 
2. Dimensão da liberdade 
 
 Nos perguntamos então: qual é o grau de liberdade dos diferentes níveis problemáticos 
que acabamos de ver? A sensação, de fato, é que a cada um deles exista um correspondente nível 
de liberdade da pessoa, com consequente responsabilidade.18 
 
2.1 Terceira dimensão: liberdade ausente 
 
 No nível da patologia não existe liberdade: O psicótico não é livre para compreender e para 
querer, pelo menos na zona interessada a sua patologia, e interpreta a realidade segundo um rito 
ou um rítmo compulsivo que o distância inexoravelmente da realidade e do qual está mais ou 
menos praticamente oprimido. Assim o neurótico obssesivo-compulsivo, que – compreendendo 
que não vale a pena lavar as mãos cem vezes ao dia e mesmo não querendo fazer – é 
interiormente “obrigado” a fazê-lo; ou pior ainda o psicótico paranóico, que vê inimigos por todos 
os lugares se sente atacado por qualquer um, sem alguma possibilidade de convencê-lo do 
contrário. Mesmo também o sacerdote pedófilo poderia ser enquadrado nesta categoria ou 
dimensão (pelo menos em relação a tendência pedófila) e deixando-se ser condicionado por 
alguma coisa que lhe impõe e que ele não pode dominar (obviamente não todos os casos de 
pedofilia se encaixam neste grupo, existe ainda o pedófilo que poderia ter escolhido não ser 
pedófilo).19 
 
18 Tomo como ponto de partida, neste paragrafo, a partir da intituição de Rulla; Cf. RULLA – F. IMODA – J. RIDICK, Antropologia da vocação cristã, 1: 
Bases interdisciplinares,Bologna 1997, 492-493. 
19 Outra distinção possível no campo das desordens psíquicas seria esta: Psicose, como perda do contato com a realidade e refúgio em um mundo 
subjetivo, na qual a psicose se impõe de tal maneira em que o sujeito não poder fazer nada para contestá-la, nem mesmo para reconhecê-la como 
tal. Neurose, que provocaria um distúrbio no contato com a realidade mas sem um dobrar-se absolutamente no subjetivo ou com um dobrar-se 
relativo, por isso o neurótico pode combater até um certo ponto a sua neurose e sendo consciente sofre com ela. Desvio na personalidade, enfim, o 
que estão dizendo um distúrbio relativamente relevante, leve, que não tira nem o contato com a realidade nem a capacidade de controle, porém 
lhe coloca um limite, como veremos melhor mais a diante. Diz algo verdadeiro a piada segundo o qual o neurótico constrói castelos no ar e o 
psicótico vive la dentro, enquanto o psiquiátra ou psicólogo cuida de receber o aluguel sendo mais ou menos ganancioso dependendo do grau de 
distúrbio de personalidade... 
A Hora de Deus 
 
17 
 Evidentemente aqui, se não existe a liberdade, não tem nem menos responsabilidade 
subjetiva, pelo menos imediata e direta, nem bem ou mal do ponto de vista moral da consciência 
subjetiva. Poderá existir um senso de culpa, mas fortemente condicionado (com excesso ou com 
defeito) variadamente contaminado pela síndrome mental ou afetiva do qual o sujeito sofre. 
Enquanto não poderá existir uma consciência de pecado verdadeiramente dita. 
 A este nível, em uma última análise, existe somente um discurso de sanidade ou 
enfermidade psíquico-mental para considerar.20 Porém é sempre importante fazer uma analise, 
indispensável ali onde levantam-se dúvidas legítimas sobre tudo no momento do discernimento 
vocacional inicial e para a admissãoas ordens e aos votos.21 Certo, uma psicose pode manisfestar 
mais tarde, e então seram considerados dentro das possibilidades rigorosas medidas preventivas 
de contenção (por exemplo: não colocar um sacerdote com tendências a pedofilia para visitar e 
receber normalmente sem algum controle as crianças e pre-adoscentes). 
 
2.2 Primeira dimensão: Liberdade Plena 
 
 Se no outro extremo desta descrição colocamos a problemática espiritual, como sugere o 
nostro esquema descritivo, veremos que a situação se inverte completamente: E neste nível existe 
liberdade, a pessoa é capaz de entender o que seria bom fazer e que é capaz de fazê-la. Se não faz 
o bem, mas o mal, o indivíduo nem é consciente; é responsável, portanto, das ações e das 
transgressões. Sente a dor e a sofre. Visto que conhece, pelo menos em teoria, além do estado 
dos comportamentos e dos sentimentos, para reconhecer ainda as motivações que lhe impulsam a 
agir, em outras palavras não se detém na sinceridade subjetiva, mas sabe colher a verdade 
objetiva do seu ser e do seu agir. 
 Aqui existem o bem e o mal, portanto, o virtuoso e o pecador. Isto é, aqui, rigorasamente 
falando, existe vida moral: o ato assume uma verdadeira conotação moral. 
 Tal dimensão provavelmente não representa obviamente a ponto de excluir as outras 
dimensões a permanência habitual do nosso viver e dos nossos atos, mas é apenas uma 
dimensão possível, não somente ideal, para ser procurada constantemente ou pelo menos em 
parte (as vezes mínima) está presente já nos nossos atos. 
 
2.3 Segunda dimensão: Liberdade relativa 
 
 No meio existe a situação ligada ao problema que chamamos psicológico. E é este que mais 
nos interessa, que diz respeito a maioria das nossas ações. Aqui a liberdade não é nem 
completamente ausente, nem completamente presente, mas relativa. É uma situação intermédia, 
determinada como tal pela presença do inconsciente que lhe escurece em parte ou confunde, 
mais ou menos, a percepção do sujeito, impedindo-o de entender lucidamente a motivação real 
que o impulsiona a agir, ou o que na verdade está ao centro do seu coração, dos seus interesses, 
desejos, escolhas..., além das suas afirmações ou das “boas intenções” ao qual ele mesmo acredita 
sinceramente ou da aparência externa daquilo que faz. Um inconsciente, como eu disse, que 
escurece e impede em parte, não o todo; tornando a pessoa menos atenta e menos vigilante para 
entender aquilo que acontece dentro de si, depois de um longo processo que não é irreversível; 
 
20 Não abordamos aqui a complexa questão da possibilidade da santidade nestes casos. Mas podemos dizer somente que, se a santidade consiste 
na liberdade e radicalidade com a qual a criatura acolhe a ação de Deus sobre si, não pode excluir absolutamente que um fiel com problemas 
psicóticos possa usufruir deste grau, seja por um mínimo, de liberdade que lhe sobrou ao máximo das suas possibilidades, e alcança assim um certo 
nível de santidade, aquele a ele acessível. Talvez não será um nível alto objetivamente, mas subjetivamente tal pessoa deu o máximo de si. A 
História nos apresenta neste sentido diversos exemplos. 
21 É bom recordar que não pode receber validamente a ordenação “quem sofre de qualquer forma de loucura ou de outra enfermidade psíquica, 
com a qual, consultados os peritos, é constatado a incapacidade de desenvolver de modo apropriado o ministério” (CDC 1041 § 1). 
A Hora de Deus 
 
18 
diminui a sua liberdade, não a elimina pela raiz; orienta e as vezes deforma uma certa 
sensibilidade, mas não cancela a possibilidade de reacordar-la e reanima-la...22 
 A liberdade do sujeito, nesta segunda dimensão, permite chegar a sinceridade, não a 
verdade. E é liberdade relativa e portanto reduzida, por isto, uma vez que permite reconhecer os 
próprios sentimentos e sensações (talvez para depois negá-los, arriscando de se tornarem 
analfabetos sentimentais, porém ao menos em teoria existe aqui a possibilidade de reconhecer os 
próprios sentimentos), mas não de ir além, de captar e decifrar as motivações profundas, as 
intenções subterrâneas e as atrações do coração (ao menos que não seja ajudado explicitamente 
neste sentido), em suma a verdade. 
 É claro que este límita (não exclui) a liberdade, não a liberdade assim chamada 
indispensável, isto é, a capacidade de agir e escolher em geral, mas somente aquela inicial e mais... 
secreta, assim sendo frequentemente é desconhecida até mesmo pelo sujeito, ou nunca 
considerada seriamente. Podemos dar algum exemplo desta (não) liberdade, ou liberdade 
reduzida, que é frequentemente o modo de ser da nossa liberdade, nunca absoluta e 
frequentemente somente relativa (mesmo se isto nos encomoda não queremos aceitá-lo e temos 
a tendência a ingnorá-lo). De fato frequentemente corremos o risco de não ter: 
- A liberdade de sentir, de perceber toda a realidade, mesmo nos aspectos mais inquietantes e 
provocantes, como os apelos ou os “sinais dos tempos”. Como nos diz o episódio evangélico do 
bom samaritano, quando um sacerdote e um levita “viram” um infeliz mas sem a liberdade de 
sentir-se por ele chamados e provocados a parar, para ajudá-lo. 
- A liberdade para amar aquilo que fazemos e de fazê-lo por amor, um poco como Marta que faz 
um gesto de serviço, mas demostra não amá-lo, de fazer não somente por amor; mas se lamenta, 
e fica nervosa com sua irmã, um pouco também com Jesus que não intervem, e enfim até consigo 
mesma “obrigada” (por causa da falta de liberdade) a fazer os trabalhos mais humildes sem ser 
notada, como não servisse a nada. 
- A libertade de comover-se, diante do belo de sentir-se atraido pela verdade, evidentemente 
porque faltar uma certa sensibilidade quando gostos e interesses da pessoal vão em outras 
direções, que não sejam aquelas da beleza ou da verdade. A comoção (do cum-movere – mover-se 
com) indica o envolvimento total das energias afetivas e intelectuais, mas se tiver dispersão das 
energias para outros objetivos, não poderá ter alguma comoção por aquilo que dizemos de ter 
colocado ao centro da vida. 
- A liberdade de... entender aquilo que se lê, se vê e se sente, ou seja de entendê-lo em 
profundidade, de descobrir o fragmento da verdade que permanece consigo, sentindo a verdade 
não somente em si mesmo, mas também por aquilo que diz a minha vida, e portanto convicente. 
Poderíamos chamá-la a liberdade de deixar-se convencer, onde por muitas vezes o medo de dizer 
a verdade causa obstáculos. 
- A liberdade de amar e de deixar-se amar, que pareceria fácil liberdade, mas que muitas vezes se 
choca com o medo de se envolver no relacionamento, com medo do outro, com medo de seus 
próprios sentimentos e os dos outros, de abandonar-se ao amor, de sentir-se responsável pelo 
amor recebido...; 
- A liberdade de entregar-se totalmente a Deus, mas também aos outros, porque mais uma vez se 
teme o outro, em geral aquele Outro que se entregou totalmete a nós em um ato de amor total. 
Estranho dizer isto, mas as vezes diante ao amor de Deus sentimos uma vertigem, aquela parte 
infantil de cada um de nós que se manifesta e então desejaríamos que Deus nos amasse menos. 
- A liberdade para deixar-se ser lido e transpassado pela Palavra, de deixar a Palavra dizer a 
verdade, aquela Palavra que é a Verdade, que nos sonda como nenhuma outra, e diante da qual 
 
22 Sobre o sentido do inconsciente e sobre o seu possível influxo se expressou assim Wojtyla em uma de suas obras: “... na realidade parece que 
seria impossível entender e explicar o ser humano, o seu dinamismo como também o seu agir consciente e as suas ações, se nós baseássemos as 
nossas considerações somente sobre a consciência. Sobre este ponto, parece que a potencialidade do subconsciente aparece primero; esta é 
primária (antecedente) e mais indispensável da consciência para a interpretação do dinamismo humano, como também para a interpretação do 
agirconsciente” (K. Wojtyla,The acting person, Dordrecht 1979, 93). 
A Hora de Deus 
 
19 
muitas vezes desencadeia ainda o medo de estar nu, estar transparente, de ser revelado o que 
somos (e que as vezes não sabemos), ou o medo de ter que mudar, e assim nossa leitura é tão 
superficial quanto monótona, leitura que nunca se torna dilectio23 (= amor). 
- A liberdade de pedir o máximo de si ou de se converter, visto que nos iludimos (e a ilusão é já 
redução de liberdade) que a mediocridade seja a preferida ao invés da radicalidade, que a 
sensação de bem-estar pessoal deve ser o critério de cada escolha e de cada avaliação da 
consciência ou não somos ainda livres para acreditar que a maior alegria estar no dom de si e não 
no usar os outros para seus próprios intereses. 
- A liberdade de descobrir o cêntuplo prometido por Jesus e apreciá-lo, primeiro porque a 
dependência de gratificação imediata não abre à esperança (na realidade nós não acreditamos o 
suficiente nesta promessa), segundo, porque os nossos sentidos aprenderam apenas um tipo de 
gratificação, antigo e pagão, e portanto não são ainda capazes de aproveitar o dom que Deus nos 
dá continuamente, mas nem mesmo de perceber esta dádiva. 
 - A liberdade de sentir-se bem-aventurado naquelas situações indicadas por Jesus no discurso da 
montanha, visto que parece-nos impossível encontrar a alegria na humilhação, na maledicência, 
na perseguição..., e porque normalmente colocamos o foco mais sobre os comportamentos 
indicados por Jesus (sermos mansos, pacientes, pacíficos ...) do que sobre a experiência de bem-
aventurança contidas nestas virtudes, porém as vezes escondidas, mas prometidas por Jesus. 
- A liberdade de provar os sentimentos do Filho ou de desejar os desejos de Deus, uma vez que já 
nos parece muito mudar os comportamentos ou nos orgulhamos por fazer tantas coisas para o 
reino de Deus, e enquanto isso deixamos que no nosso coração vivem sentimentos e desejos que 
estão longes daqueles do Filho, sem percebermos o sútil farisaismo implícito nestes sentimentos e 
desta maneiras fosse impossível evangelizar sentimentos e impulsos ... 24 
 
3. No coração do problema 
 
Ficamos muito tempo nestes exemplos, não só porque frequentemente não damos devida 
atenção nem importância a estas liberdades, mas porque isto nos ajuda a compreender a natureza 
destes problemas psicológicos que podem levar-nos a uma situação de crise, ao coração do 
problema, que é sempre e sobre tudo problema de liberdade. 
 
3.1 Falta de liberdade e frustração 
 
Uma crise é normalmente ligada a uma menor liberdade, diretamente ou indiretamente. 
Liberdade entendida como modo para crescer plenamente, pleno porque exprime um 
envolvimento integral do homem, quando age com todo o coração, com toda a alma, com todas 
as forças e com toda a sua sensibilidade. O homem é livre quando e visto que pode fazer apelo a 
todas as suas enengias e recursos; por esta razão podem agir independentemente, sem a 
necessidade de ser forçado. A expressão máxima da liberdade (e do modo de intender a liberdade) 
é fazer as coisas por amor, experimentando o sabor típico de quem tem lentamente aprendido a 
fazer as coisas por amore. Tal típica expressão de liberdade é seguida, declinável em várias formas, 
como demonstramos – negativamente – com as exemplificações precedentes. 
Quando ao contrário não tem este envolvimento total, ali não tem crescimento nem terá 
liberdade, pelo contrário ao invés do gosto livre e libertador para fazer as coisas por amor existirá 
a preocupação contrária, aquela de fazer as coisas para ser amado ou de pensar somente em si 
mesmo, de viver as relacões para curar as próprias feridas, para obter um resto de atenção, para 
 
23Cf. A.Cencini, A vida ao ritimo da Palavra. Como deixar-se formar pela Escritura, Cinisello Balsamo 2008. 
24 Sobre a necessidade de conhecimento de si mesmo e das próprias inconsistências cf. A. Cenceni, A arvore da vida. Para um modelo de formação 
inicial e contínua, CINISELLO Balsamo 2005,251-253. 
 
A Hora de Deus 
 
20 
axibir-se de frente aos outros e de ser considerados melhores que os outros, por ilusão de 
conquistar felicidade fazendo os próprios interesses... Todas as formas de não liberdade que 
aumentam ainda mais o nível de frustração. E a frustação como sabemos é sempre antecâmara da 
crise, um padre frustrado é sempre um padre em risco. 
Tornando a nossa subivisão, parece que a possibilidade desta frustração seguirá em teoria 
uma evolução exatamente contrária a presença da liberdade: por isso será máxima nos casos de 
psicopatologia, relativamente intensa nos três casos que tínhamos indicado de liberdade relativa e 
mínima ou ausente em quem vive apenas problemas espirituais. Mas, na prática, talvez as coisas 
são um pouco diferentes. Nos casos de psicopatologia o senso de frustração é difícilmente 
identificável, poderá ser intensa no mais auto nível, mas também ausente, sendo ligada ao gênero 
e ao tipo de consciência do sujeito. Enquanto é evidente o sentido de frustração para quem vive 
em uma situação de liberdade reduzida, na medida em que será reduzida a liberdade por causa da 
inconsistência, como vimos nos exemplos relatados. Assim como não podemos excluir a presença 
da frustração para quem vive os problemas normais legados a vida espiritual, por experiência seja 
da própria fraqueza ou seja pelo mistério inacessível do divino. 
Portando é importante para nós chegarmos a esta conclusão: o problema objetivo de tipo 
psiquiátrico ou psicológico ou espiritual que está na origem de uma crise incide regularmente 
sobre a liberdade do sujeito, reduzindo-a, e criando um sentimento de frustração que tira 
vagarosamente o gosto de viver e de viver a própria consagração. E, é já uma crise, ou situação 
que frequentemente conduz à uma crise. Há portanto, no começo uma limitacão objetiva, em que 
o sujeito percebe e sofre as consequências, mas normalmente sem entender a origem. 
 
3.2. Falta de Liberdade e a sensação estranha 
 
Dizíamos também que, pelo que parece, a maioria da nossas ações ou do nosso quotidiano 
não exprime a liberdade plena, mas uma liberdade parcial e relativa, superficial e reduzida. Isto 
significa que normalmente aquilo que fazemos é de natureza composta, implica, isto é, vários 
estímulos motivacionais nem todos com origem consciente. Normalmente, somos levados a 
ignorar as motivações que nos criam mais problemas, que diminuiria a nossa estima, que tem 
raízes profundas no nosso passado, que refere-se a um costume bem enraizado... 25 De fato, não a 
conhecemos e não conhecendo-a, não podemos controlá-la. 
Daí duas consequências: ante de tudo não somos – ainda uma vez – livres para agir como 
quisermos, sofremos pressões internas, mais e antes mesmo daquelas externas; e isso nos faz 
sentir como estranhos a nós mesmos, como se habitássemos em um corpo ou em uma psique que 
não nos pertence de modo que vemos o bem que deveríamos fazer e, em seguida escolhemos o 
mal. Isso aumenta a sensação de frustração. 
Ou, outra conseqüência já em parte mencionada, fazemos as coisas, mas com uma certa 
divisão interna, não com todo o coração, com toda a mente, com todas as forças, e corremos o 
risco de nos tornarmos incoerentes, não porque somos obviamente falsos e contraditórios, mas 
porque uma força ou uma atração ou um medo que nós ignoramos nos impede de envolver todas 
as nossas energias, como dizíamos, de “cum-movere” cada componente psíquico para uma 
direção, como gostaríamos. 
Não é necessariamente maldade, antes é basicamente falta de liberdade, mas que implica 
um menor controle pelo sujeito sobre sua vida, uma sensação de ego-alienante em relação a si 
mesmo, como uma desorientação interior. Que muitas vezes leva à crise. 
 
 
25 É interessante notar que já São Tomas na sua Suma Teológica (I-II), falando dos atos da pessoa humana, teria ditoque “na maioria dos casos” o 
agente pode estar completamente inconsciente do influxo de distorções produzidas por suas lutas “emotivas” sobre suas percepções, sobre suas 
escolhas e ações... que devem não obstante serem consideradas plenamente como “ato humano”(cf.K.Baumann, “The Concept of Human Acts 
Revisted By St.Thmas and the Unconscious in Freedom”, in Gregorienum 80[1999]1, 151 e162) 
A Hora de Deus 
 
21 
Também aqui se trata de uma limitação objetiva, que o indivíduo pode perceber sobretudo 
pelos problemas que lhe cria, mas sem poder intervir sobre a verdedadeira causa. E isto cria 
inevitavilmente tensões que muitas vezes explodem em uma verdadeira crise. 
 
Com uma imagem gráfica, tentamos sintetizar o que foi considerado até aqui. 
 
1 Quadro - Área e limites de problemas psicológicos, 
Problemas Conteúdo Alternativa Natureza Liberdade 
de Psicopatologia transtornos psicótico-
neuróticos 
sanidade ou 
patologia? 
clínico-
psiquiátrica 
Ausente (3° dim.) 
do obstáculos ao 
desenvolvimento 
Interrupção ou regresso 
evolutivo 
estilo infantil ou 
adulto? 
Psicológica Relativa (2°dim.) 
de não formação 
permanente 
indisponibilidade 
formativa 
dicilis o 
docibilis? 
Psicológica Relativa (2°dim.) 
de inconsistências 
vocacionais 
conflito interno 
inconsciente 
egocêntrico ou 
auto-
transcendente? 
psicológica Relativa (2°dim.) 
de qualidade de vida 
espiritual 
incoerência e 
mediocridade 
santo ou 
pecador? 
espiritual Completo 
(1°dim.) 
 
Como podemos ver o aspecto objetivo de uma situação de crise é bem complexo, mas é 
possível também delineá-lo especificando o tipo de problema ao qual a pessoa sofre. É isto que 
tentamos fazer neste capítulo. Deixando a parte alguns aspectos para depois em seguida retornar 
sobre aqueles mais práticos na identificação do problema, aonde surge a tensão, e os sinais que 
esta nos proporciona. 
Por enquanto foi considerado apenas o fundo de um evento crítico, ou como já dissemos, 
o seu coração. E nós o identificamos na falta de liberdade com o sentimento de frustração e de 
estranheza que dela procede. 
Se o homem é feito para ser livre, e trás dentro de si uma necessidade de liberdade que 
não pode ser suprimida, não é difícil compreender que tal falta conduz lentamente à uma crise, 
mas é possível e necessário compreender melhor as etapas posteriores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Hora de Deus 
 
22 
 
 
Capitulo 2 
A Crise 
Vimos o lado objetivo do nosso tema, ou pelo menos procuramos entender um pouco a 
coisa em si; gostaríamos agora de ver o problema do ponto de vista do sujeito que vive o 
problema. Uma coisa é o problema em si, considerado por um ponto de vista intrínseco, por seu 
conteúdo e várias características (seriedade, componentes, diagnósticos, prognóstico, terapia...), 
outra coisa é observar o nível de consciência da pessoa, que poderia ser completamente ou 
parcialmente ausente. E dentro deste entendimento, uma coisa é entender a raiz do problema (já 
falei um pouco sobre isso no capítulo precedente), e outra coisa é entender a gravidade da 
situação ou perceber o apelo a uma mudança até o ponto de decidir-se a fazê-la. 
No caso, por exemplo, sobre problemática psiquiátrica, evidentemente o sujeito não tem 
consciência da própria situação clínica; ao contrário, o estado de inconsciência é exatamente o 
elemento substancial do quadro sintomático clínico, é um dos seus sinais mais evidentes e 
decisivos. 
Mas não só isto é típico do nível mais grave da nossa descrição. Também nos outros níveis 
do problema psicológico e espiritual é possível, como vimos no capítulo precedente, uma 
diminuição do grau de consciência, do estado de inconsciência geral (até mesmo este grau é 
possível) a situação de quem não se deu conta da seriedade da sua situação, da gravidade do que 
está vivendo, para si, e talvez também para os outros. Ou não o “sofre” suficientemente nem o 
combate; como também é possível o caso de quem está oprimido e dilacerado, perdeu a 
esperança de sair fora desta realidade que vive. Neste caso, no excesso como no defeito, existem 
problemas no estado de consciência e na formação da consciência. 
Alguns dizem que o verdadeiro problema da vida religiosa ou sacerdotal não seriam as 
situações críticas, objetivamente problemáticas, dos padres, freis e freiras, mas aquela massa de 
gente “consagrados” que vive subjetivamente tranquila, que não é pertubada e nem pertuba 
ninguém. Situação objetivamente crítica, são aquelas pessoas que não estão em crise, porém 
deveriam estar. Ou ainda consagrados e consagradas que si sentem desconcertados, quando 
percebem que algo não vai bem nas suas vidas, mas não tem a capacidade de entender a raiz do 
problema em si, ou intuindo que teriam crises, buscam imediatamente um modo de empurrá-las 
para o exterior, para longe de sua responsabilidade, esperando e iludindo-se de tal modo poder 
eliminar o sentido da necessidade pessoal de passar por uma crise. 
Ou seja, em última análise, é o problema da consciência, não simplesmente no sentido de 
fenômeno cognitivo-psicodiagnóstico ou de informação mais detalhada sobre o próprio nível de 
(im)maturidade, mais como sensibilidade interior, vigilância e atenção, todos componentes da 
consciência e que tem haver com o processo de formação desta mesma consciência. Aspectos, 
enfim, graves e importantes da nossa vida, que não veremos certamente tudo aqui, mais que 
podemos começar a encontrar já nesta primeira tentaviva de análise. 
 
1. Conceito de crise 
 
Talvez existe uma sutileza terminológica que leve em conta a distinção que estamos 
fazendo, e que portanto nos poderá ajudar a entender melhor e a especificar mais precisamente o 
sentido do termo. Ao que parece o termo “problema” ou “problemática” nos envia mais a ideia 
objetiva da questão, enquanto um outro termo muito usado hoje, ou seja “crise”, nos leva a 
pensar mais a percepção subjetiva da crise em si, e consequentimente a sua vivência pessoal. 
A Hora de Deus 
 
23 
 Eis porque neste paragráfo introduzimos o conceito de “crise”, como conceito 
provavelmente mais abrangente que “problema”: ao passo que, quando se diz que alguém “há um 
problema” especificando que um outro “está em crise”. Quero sublinhar que a crise é quase um 
modo de ser, no qual alguém se encontrar completamente envolvido da cabeça aos pés, como se 
estivesse mais ou menos dominado. Enquanto que “problema” poderia permanecer externo a 
consciência do sujeito que parece até mesmo poder dominar melhor. 
Se em seguida voltarmos ao quadro prospectivo número 1, veremos que existe uma 
crescente do ponto de vista da consciência crítica, a partir da situação patológica, quando tal 
consciência é mínima, até mesmo alcançando os problemas de vida espiritual, que são maiores. 
Uma passagem que evidentemente interessa também a área da problemática psicológica, antes 
passa através desta, e logo é importante focalizar não somente o plano do diagnóstico. 
Vamos portanto definir melhor, antes de tudo, o conceito de crise e os seus componentes 
fundamentais, para depois passar no próximo capítulo, para a descrição de alguns modos 
subjetivos de viver a crise em si, ou a consciência do próprio problema. 
 
1.1. Proposta de definição 
 
 A vida, também aquela dos que se consagram ao Senhor ou que se entregam a um grande 
ideal, é feita de crises e situações difíceis. “A fè nasce no coração de uma crise”26 ou – como disse 
Merton – “inesperadamente a vida se move em direção a crise e o mistério”27. Afirmação 
significativa ao estabelecer uma ligação entre crise e mistério, já que nos faz pensar que a crise, 
qualquer crise, seja aberta ao mistério, seja na sua origem ou no seu êxito final, e nós não 
estaremos certos com as nossas distinções e explicações pretender eliminar o componente 
misterioso da crise. 
 Crise, na realidade, de um ponto de vista etimológico28, significa um estado decisivo, 
situação de vida aberta para diversas possibilidades. O termo

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