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Crime e contravenção penal_ diferenças e semelhanças (Penal) - Artigo jurídico - DireitoNet

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16/05/2018 Crime e contravenção penal: diferenças e semelhanças (Penal) - Artigo jurídico - DireitoNet
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7657/Crime-e-contravencao-penal-diferencas-e-semelhancas 1/10
1.INTRODUÇÃO
O Direito Penal tem por objetivo principal a repressão de determinadas condutas,
denominadas infrações penais, consideradas ofensivas aos bens jurídicos que o
legislador considerou mais relevantes para a sociedade. Nesse sentido, em meio às
legislações penais dos vários ordenamentos jurídicos dispostos ao redor do mundo
ocidental, há na doutrina duas teorias sobre as infrações penais: a tripartida, que
divide as infrações penais em crime, delito e contravenção penal; e, a bipartida, que
considera sinônimos o crime e o delito, estabelecendo crime (ou delito) e
contravenção penal como as duas espécies de infração penal.
Segundo Prado[1], o marco inicial da teoria tripartida é o código penal francês de 1791,
que classificava as infrações penais da seguinte maneira: os crimes, as infrações que
violavam direitos naturais, como por exemplo a vida; os delitos, a exemplo da
propriedade, seriam as infrações que lesavam os direitos originários do contrato social
e, as contravenções, eram as infrações que infringiam disposições e regulamentos de
polícia.
Entretanto, o sistema adotado pelo nosso ordenamento jurídico é o bipartido, assim
como o sistema alemão, como o italiano, o português e outros. Nesse sistema, o crime
e o delito são considerados sinônimos, que juntamente com a outra espécie, a
contravenção penal, formam as infrações penais (grifo) que, conforme assevera
Greco[2], é como devemos chamar as espécies crime e contravenção penal, quando
quisermos nos referir genericamente às mesmas.
2. CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL
Apesar de crime e contravenção serem espécies “distintas” do gênero “infração penal”,
não existe, a rigor, uma diferença substancial entre os dois. Não há um elemento de
ordem ontológica que encerre uma essência natural “em si mesmo”, sendo
diferenciados apenas pelas suas penas, nos termos do art. 1º, da Lei de Introdução ao
Código Penal e da Lei de Contravenções Penais[3], ou como leciona Nucci[4] em seu
Manual de Direito Penal: “o direito penal estabeleceu diferença entre crime (ou
delito) e contravenção penal, espécies de infração penal. Entretanto, essa diferença
não é ontológica ou essencial, situando-se, tão somente, no campo da pena.”
(grifo nosso)
Todavia, em obra bastante clara e objetiva, Leandro Prado[5], destaca as principais
diferenças entre os dois institutos jurídicos em um quadro de fácil consulta, vejamos:
16/05/2018 Crime e contravenção penal: diferenças e semelhanças (Penal) - Artigo jurídico - DireitoNet
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7657/Crime-e-contravencao-penal-diferencas-e-semelhancas 2/10
Ação Penal
Crime: Pública ou privada (art. 100º, CP).
Contravenção: Pública incondicionada (art. 17º, LCP).
Competência
Crime: Justiça Estadual ou Federal
Contravenção Penal: Só Justiça Estadual, exceto se o réu tem foro por prerrogativa de
função na Justiça Federal.
Tentativa
Crime: É punível (art. 14º, parágrafo único, CP).
Contravenção: Não é punível (art. 4º, LCP).
Extraterritorialidade
Crime: Possível (art. 7º, CP).
Contravenção: Lei brasileira não alcança contravenções ocorridas no exterior (art. 2º,
LCP).
Pena Privativa de Liberdade
Crime: Reclusão ou detenção (art. 33º,CP).
Contravenção: Prisão simples (art. 6º, LCP).
Limite Temporal da Pena
Crime: 30 anos (art. 75º, CP).
Contravenção: 5 anos (art. 10º, LCP).
Sursis
Crimes: 2 a 4 anos(art. 77º, CP).
Contravenções: 1 a 3 anos (art. 11º, LCP). 
16/05/2018 Crime e contravenção penal: diferenças e semelhanças (Penal) - Artigo jurídico - DireitoNet
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7657/Crime-e-contravencao-penal-diferencas-e-semelhancas 3/10
 
“Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e
leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das
infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de
conexão e continência.Entretanto, no que diz respeito à competência das
contravenções penais, é importante ressaltar que a mesma pertence aos Juizados
Especiais Criminais, nos termos dos arts. 60 e 61, da Lei 9.099/95, conforme a seguir:
(…)
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para
os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.”[6] (grifo nosso)
Todavia, mesmo diante das diferenças acima expostas, há muito mais semelhanças do
que diferenças entre crime e contravenção penal, haja vista esta também constituir
um fato típico e antijurídico, porém de menor potencial lesivo para a sociedade. Um
crime-anão, na concepção formulada pelo consagrado Nelson Hungria. Assim,
segundo Greco[7], o critério de rotulação de uma conduta como contravencional ou
criminosa é essencialmente político. O que hoje é considerado crime, amanhã poderá
ser uma contravenção, ou vice-versa. Como exemplo, o autor nos traz a criminalização
da contravenção penal de porte de arma, consumada no art. 10, da Lei 9.437, de 20 de
fevereiro de 1997.
3. CONTRAVENÇÃO PENAL
De acordo com o art. 1º, da Lei de Introdução ao Código Penal e da Lei das
Contravenções Penais, contravenção é “a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou
cumulativamente.” (grifo nosso). Assim, conforme acima delineado, não existe uma
diferença ontológica entre crime e contravenção penal, ocorrendo a sua diferenciação
apenas nas penas cominadas, que no caso da contravenção consiste em prisão simples
ou multa; e, quando se tratar de crime, as penas serão de reclusão ou de detenção
(grifo), quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa.
A pena de prisão simples, nos termos do art. 6º, da Lei de Contravenções Penais[8],
deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção
especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto (grifo) e, de acordo
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https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7657/Crime-e-contravencao-penal-diferencas-e-semelhancas 4/10
com o § 1º, do mesmo artigo, o condenado à referida pena deve ficar sempre separado
dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.
Por outro lado, apesar das diferenças existentes entre contravenção de crime, várias
normas aplicáveis aos crimes são também aplicáveis às contravenções, como é o caso
das regras gerais do Código Penal, nos termos do art. 1º, da LCP. Segundo Damásio de
Jesus[9], o art. 1º da LCP é um corolário do art. 12, CP, que tem a seguinte
redação: “as regras gerais deste código aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso”. Um exemplo dessa disposição de
modo diverso, presente na Lei das Contravenções, é o caso do instituto jurídico da
tentativa de crime, presente no Código Penal, portanto aplicável a crimes, mas não
admitida nas contravenções, por força da expressa previsão legal de modo diverso,
disposta no art. 4º, da LCP.
Nas palavras de Damásio de Jesus[10], exemplos de regras gerais presentes no Código
Penal, aplicáveis às contravenções penais, são os princípios da “Legalidade”, da
“abolitio criminis” e da “Retroatividade da Lei mais Benéfica”, previstos
respectivamente no art. 1º, caput, art. 2º, caput, e art. 2º, parágrafo único.
Outro instituto importantíssimo do Direito Penal, perfeitamente aplicável às
contravenções penais, são as “Causas Excludentes de Ilicitude”, previstas no art. 23,
CP: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e
exercício regular de direito.
Partindo para as contravenções penais propriamente ditas, é interessante destacar o
art. 32, da Lei de Contravenções Penais, que, segundo Nogueira[11], foi parcialmenterevogado pelo novo Código de Trânsito Brasileiro. O art. 32 da LCP tipifica a seguinte
contravenção: “Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou
embarcação a motor em águas públicas”. Assim, por ocasião da edição do novo
Código de Trânsito, através do art. 309, do CTB: “Dirigir veículo automotor, em via
pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o
direito de dirigir, gerando perigo de dano”(grifo nosso), o legislador criminalizou
a primeira parte do referido art. 32 da LCP: a conduta de dirigir sem habilitação.
Entretanto, a redação do art. 309, CTB, acrescentou a elementar: “gerando perigo de
dano”, que passou a ser o ponto de “discórdia” entre os doutrinadores[12], dividindo-
os entre aqueles que entendiam ter o art. 32 da Lei das Contravenções Penais
subsistido apenas no tocante à direção não habilitada de embarcação em águas
públicas, matéria que o novo Código de Trânsito não tratou, e os que acreditavam ter
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o art. 32 da LCP permanecido em pleno vigor, aplicando-se aos casos residuais de
direção não habilitada, aqueles que não se ajustem ao art. 309 do CTB. No entanto, a
celeuma parece ter sido resolvida com a edição da Súmula 720, do STF: “O art. 309 do
Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de
dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à
direção sem habilitação em vias terrestres”(grifo nosso). Portanto, conforme
o exposto, temos que o delito previsto no art. 309, do CTB, derrogou o art. 32, da LCP,
regulando por inteiro a matéria presente na primeira parte do art. 32, da LCP,
permanecendo neste apenas a figura típica do infrator que pratica a infração penal de
dirigir, sem a devida habilitação, veículo automotor em águas públicas.
Ainda nas contravenções penais propriamente ditas, não custa tecermos algumas
linhas sobre o jogo do bicho, aquela que talvez seja a mais emblemática de todas as
contravenções penais. O jogo do bicho tem suas raízes históricas no final do Século
XIX, quando o Barão de Drummond, fundador do zoológico do Rio de Janeiro[13],
criou um sorteio vinculado ao ingresso do zoológico onde eram escritos o nome de um
dos 25 “bichos” em cada ingresso e ao final do dia era sorteado um bicho, diante de
que o vencedor ganhava 20 vezes o valor do ingresso. Como na época havia poucas
formas de entretenimento, a popularidade do jogo aumentou consideravelmente,
quando algumas pessoas passaram a aproveitar o resultado do zoológico e organizavar
apostas nos armazéns e botequins da cidade, fato que gerou enormes confusões, não
demorando para que, em 1894 o sorteio fosse proibido pelo governo. Ainda assim, o
sorteio passou a ocorrer na clandestinidade, espalhando-se por todo o país, tornando-
se o jogo de apostas mais popular do Brasil, mesmo depois de ser tipificado como
contravenção penal, em 1941, disposta na redação do art. 58, do Decreto-lei 3.688, o
jogo continuou a ser praticado em todo o país. A definição legal de jogo do bicho
disposta no artigo 58 da Lei das contravenções Penais, foi alterada pelo Decreto-Lei
n.º 6.259 de 1944, que traz a seguinte redação:
“Art. 58. Realizar o denominado "jôgo do bicho", em que um dos participantes,
considerado comprador ou ponto, entrega certa quantia com a
indicação de combinações de algarismos ou nome de animais, a que
correspondem números, ao outro participante, considerado o vendedor
ou banqueiro, que se obriga mediante qualquer sorteio ao pagamento de
prêmios em dinheiro.
 Penas: de seis (6) meses a um (1) ano de prisão simples e multa de dez mil
cruzeiros (Cr$ 10.000,00) a cinqüenta mil cruzeiros (Cr$ 50.000,00) ao
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vendedor ou banqueiro, e de quarenta (40) a trinta (30) dias de prisão celular ou
multa de duzentos cruzeiros (Cr$ 200,00) a quinhentos cruzeiros (Cr$ 500,00) ao
comprador ou ponto.
§ 1º Incorrerão nas penas estabelecidas para vendedores ou banqueiros:
a) os que servirem de intermediários na efetuação do jôgo;
b) os que transportarem, conduzirem, possuírern, tiverem sob sua guarda ou poder,
fabricarern, darem, cederem, trocarem, guardarem em qualquer parte, listas com
indicações do jôgo ou material próprio para a contravenção, bem como de qualquer
forma contribuírem para a sua confecção, utilização, curso ou emprêgo, seja qual
for a sua espécie ou quantidade;
c) os que procederem à apuração de listas ou à organização de mapas relativos ao
movimento do jôgo;
d) os que por qualquer modo promoverem ou facilitarem a realização do
jôgo.”[14] (grifo nosso)
Entretanto, não são poucos os que defendem que a conduta infracional de realizar o
jogo do bicho, nos termos do dispositivo legal supra, deveria deixar de ser uma
infração penal, face a ausência de reprovação social, havendo portanto duas
posições[15]: 1) a de que a conduta não pode ser considerada contravenção, em face da
ausência de reprovação social; e, 2) a de que os costumes não têm força revocatória da
lei, mantendo-se a tipificação da conduta. Contudo, mesmo diante da “revogação
social” da infração e da falta de fiscalização do cumprimento da lei por parte do Poder
Público, que parece limitar-se apenas a pequenas operações policiais, ao invés de
incluir a luta contra a referida prática infracional em uma política pública permanente
de combate à sonegação de impostos, optamos pela manutenção da tipificação da
prática do jogo do bicho como contravenção penal. Todavia, entendemos que a
atribuição dos “bons costumes” como bem jurídico protegido pela norma encontra-se
ultrapassada, dadas as mudanças ocorridas na sociedade desde a edição da norma em
comento. O único fundamento jurídico que entendemos ser plausível para a
manutenção da referida norma[16] é o combate à sonegação de impostos e à
corrupção passiva, pois o que interessa de fato para a sociedade, no que diz respeito à
prática do jogo do bicho, é o alcance de seus “tentáculos” e seus efeitos no Estado, que
repercutem muito mais na área da arrecadação de impostos do que meramente nos
costumes por si só. Prova disso é o desenrolar do caso recente do bicheiro Carlinhos
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Cachoeira, amplamente divulgado na mídia, e a imensa rede de influência presente
em todos os ramos da administração pública que o bicheiro teria fomentado, de
acordo com as acusações que o mesmo responde. Nesse sentido, torna-se
imensamente importante destacar a nova redação da Lei 9.613, de 1998, a Lei da
Lavagem de Dinheiro, modificada recentemente pela Lei 12.683, de 09 de julho de
2012. Ocorre que o caput do art. 1º, da lei da lavagem de dinheiro, foi modificado, a
fim de abranger qualquer espécie de infração penal, incluindo assim as contravenções
penais. Portanto, diante da nova Lei da Lavagem de Dinheiro, aquele que ocultar ou
dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade
de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente da prática da
contravenção penal do jogo do bicho poderá ser condenado a uma pena de reclusão,
de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. Essa nova redação do art. 1º, da Lei 9.613 pode ser
considerado um avanço promovido pelo nosso legislador, já que os efeitos realmente
lesivos à sociedade, provocados pelo jogo do bicho, a sonegação de impostos e a
corrupção dos agentes públicos, estão intimamente ligados com a lavagem do dinheiro
proveniente dessa prática.
Nessa mesma esteira, tomando por base uma conduta infracional quea sociedade
atual tratou de “descriminalizar”, passamos a analisar brevemente a antiga
contravenção penal de mendicância, revogada pela Lei 11.983, de 16 de julho de 2009.
Segundo Cabette[17],a existência de uma infração penal para a prática da
mendicância, dada a situação de extrema pobreza que atinge uma parcela considerável
da população brasileira, há tempos já não se justificava. Até mesmo porque tal
situação está vinculada à ineficácia do Estado em proporcionar educação de
qualidade, qualificação profissional e oferta digna de empregos às grandes massas da
população. Ou seja, o legislador demorou muito a perceber que vivemos em outro
Estado e a finalmente entender que a criminalização da pobreza (grifo) nunca
foi o caminho adequado para a eliminação das mazelas sociais. É bem verdade que há
casos de pessoas que usam de má fé para explorar a solidariedade alheia, mas para
essa figura típica já existe o crime de estelionato, disposto no art. 171, do Código Penal,
para o caso de uma prática que cause lesividade significante a bem jurídico tutelado
pelo Direito Penal. Ademais, usando raciocínio semelhante para as condutas previstas
no parágrafo único do art. 60, da LCP, que tratam da prática da mendicância de
"modo vexatório, ameaçador ou fraudulento", ou "mediante simulação de moléstia ou
deformidade" ou "em companhia de alienado ou de menor de 18 anos", às quais é
atribuído aumento de pena, temos que diante da ocorrência de uma conduta
efetivamente ameaçadora aos bens jurídicos protegidos pela lei penal, estarão sempre
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disponíveis os crimes de extorsão (art. 158, CP), submissão de criança ou adolescente
sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento (art. 232,
ECA), corrupção de menores (art. 244-B, ECA), entre outros. Entretanto, apesar do
acerto do legislador quando à mendicância, vale deixar uma crítica ao mesmo, diante
da manutenção desnecessária da contravenção de vadiagem em vigor. Tomando
emprestadas novamente as palavras de Cabette[18]: “o legislador perdeu boa chance
de também revogar a contravenção penal de vadiagem (artigo 59, LCP), por
motivos bastante semelhantes àqueles acima aduzidos com relação à mendicância”,
já que as razões pelas quais a mendicância foi revogada aplicam-se perfeitamente à
contravenção penal de vadiagem.
Após as considerações acima, sobre condutas contravencionais bastante conhecidas,
tentaremos falar um pouco sobre o fenômeno social denominado Stalking[19], uma
forma de violência na qual o sujeito ativo, empregando diversas estratégias, repetindo
incessantemente as mesmas ações, invade a esfera de privacidade da vítima. Também
conhecido como perseguição persistente, apesar de ocorrer com freqüência nos
Estados Unidos, o Stalking tem sido observado em vários países ao redor do Mundo,
inclusive sendo incluído na agenda de projetos do Escritório das Nações Unidas
contra Drogas e Crime (UNODC) em relação à proteção da mulher contra a violência.
Conforme assevera Wesley de Lima[20], em seu brilhante artigo, o Stalking consiste
em um verdadeiro “cerco psicológico e social realizado de forma reiterada por um
agente contra a sua vítima”. Para atingir seu objetivo, o sujeito ativo,
denominado Stalker, serve-se de várias estratégias, caracterizadas sempre por atos
constantemente repetidos que invadem a privacidade da vítima e causam dano
psicológico, como por exemplo: várias ligações e/ou mensagens no celular, vários
presentes sem razão especial, aparições constantes nos mesmos locais frequentados
pela vítima, chegando até mesmo à prática de ameaças. Segundo Damásio de
Jesus[21], a prática de Stalking amolda-se à figura típica da contravenção penal de
perturbação da tranquilidade, prevista no art. 65, da LCP, que dispõe da seguinte
redação: “Art. 65. Molestar alguém ou pertubar-lhe a tranqüilidade, por acinte ou
por motivo reprovável: Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou
multa.”Todavia, dependendo da dimensão e extensão da gravidade dos fatos, de
acordo com Wesley de Lima[22], como desdobramento do iter criminis, pode ocorrer
a prática de outras contravenções, a exemplo da perturbação do trabalho ou do
sossego alheios (art. 42, LCP), da importunação ofensiva ao pudor (art. 61, LCP) e vias
de fato (art. 21, LCP). Tamanha a obcessão do agente para com a vítima, que o mesmo
pode exceder-se de tal forma que passe a executar ações mais graves, recaindo sobre
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condutas criminosas, como o crime de constrangimento ilegal (art. 146, CP), de
ameaça (art. 147, CP), lesões corporais (art. 129, CP), dentre outros. O
fenômeno Stalking pode remeter ao Bullying, mas diferencia-se deste pois, naquele, o
intuito do perseguidor é alcançar seus desígnios não tolerados ou consentidos pela
vítima[23], consistindo o sofrimento da vítima apenas em conseqüência inevitável das
estratégias usadas pelo Stalker para forçar a vítima a fazer o que o mesmo deseja dela.
Enquanto no Bullying, a aflição e angústia do ofendido consistem no próprio fim
pretendido pelo infrator. Não são poucos aqueles que, a exemplo do Bullying, pugnam
pela criminalização do Stalking, existindo inclusive proposta já aprovada pela
comissão de juristas do Senado[24], que pretende criminalizar as duas condutas,
praticadas nos meios eletrônicos.
Por fim, analisaremos brevemente a aplicação do princípio da insignificância às
contravenções penais. Introduzido no sistema penal por Claus Roxin[25], em 1964,
tal princípio preceitua que sempre que uma lesão a bem jurídico tutelado pelo Direito
Penal, for insignificante, de forma que se torne incapaz de ofender efetivamente o
interesse tutelado, não haverá adequação típica. Na lição de Damásio de Jesus[26], há
dois entendimentos, segundo vários julgados citados em seu trabalho, o de que é
aplicável e o de que não é aplicável o princípio da insignificância às contravenções
penais. Em nosso entendimento, considerando que o princípio da insignificância
influencia diretamente a tipicidade da conduta praticada, não vislumbramos maiores
impedimentos na aplicação do princípio da insignificância às contravenções penais,
pois entre estas e os crimes não existem grandes diferenças ontológicas, sendo
diferenciados muito mais pelas penas cominadas. Entretanto, assevera Fernando
Capez[27] que: “não é possível, por exemplo, afirmar que todas as contravenções
penais são insignificantes, pois, dependendo do caso concreto, isto não se pode
revelar verdadeiro.” (grifo nosso)Em oportuno exemplo o autor alerta que andar
pelas ruas armado com uma faca (art. 19, LCP) é um fato contravencional que não se
deve reputar insignificante.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final de nosso estudo, sempre desprovidos da mínima pretensão de esgotar a
matéria em comento, percorrendo a história das infrações penais, passando pela
distinção entre contravenção penal e crime, conclui-se que mesmo o crime e a
contravenção sendo espécies “distintas” do gênero “infração penal”, não existe, a
rigor, uma diferença substancial entre os dois. Entretanto, apresentamos algumas
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diferenças específicas entre crime e contravenção, como por exemplo o tipo de ação
penal, a aplicabilidade do instituto da tentativa, entre outras.
Mais adiante, analisamos especificamente as contravenções penais, examinando
algumas das mais interessantes para o Direito Penal. Nesse sentido, concluímos que,
apesar de determinadas condutas não terem mais a necessidade de serem tipificadascomo contravenção, fica a lição da importância da existência das contravenções penais
para o Direito Penal, pois, em conjunto com o rol de crimes dispostos no Código
Penal, vêm ampliar ainda mais o leque de proteção aos valores mais importantes da
sociedade, defendidos pelo Direito Penal.

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