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Morte de Getúlio Vargas

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Carta testamentária de Vargas:
“Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.” (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)”[footnoteRef:1] [1: Centro de Documentação e Informação, arquivos, perfis parlamentares n. 62. Disponível em: < http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/7264/getulio_vargas.pdf >. Acessado em 13 de Julho de 2016.] 
Para nossa análise usaremos um artigo publicados na revista “Conexão Letras”, em sua 15ª publicação com o tema: “A carta testamento de Getúlio Vargas: vários olhares sobre um mesmo texto”[footnoteRef:2], do Programa de Pós-Gradução em Letras e Instituto de Letras da UFRGS. [2: Disponível em: < http://www.seer.ufrgs.br/index.php/conexaoletras/index> . Acessado em 13 de Julho de 2016.] 
O trabalho “Um suicida redentor: uma análise retórica[footnoteRef:3]”, que através da análise da cosmovisão judaico-cristão na qual o suicídio era condenado, o que seria vergonhoso e reprovável, em sua carta, Vargas explora esse discurso e transforma “ seu suicídio [como] uma imolação e um ato de redenção (...) construiu um novo sentido para o suicídio, dando-lhe uma interpretação cristã, apresentando-se como um mártir”, ajudando a construir (ou reforçar) o imaginário popular de “pai protetor e amoroso, que dá a vida pelos seus filhos” (FERREIRA; FIGUEIREDO, 2016, p.116). [3: Fernando Aparecido Ferreira; Maria Flávia Figueiredo - Universidade de Franca] 
Para os autores desse trabalho, a ideia que Vargas apresentou de que sua morte foi provocada por outros e não por ele mesmo, que teve adesão como verdade pelo povo brasileiro só foi possível “porque o presidente conhecia as presunções de seu auditório” que o via “num viés religioso e místico, como uma figura messiânica”, o condenável passou como ato heroico (FERREIRA; FIGUEIREDO, 2016, p.117).
Esse discurso de heroísmo os autores destacam de alguns trechos da carta-testamento como, por exemplo, nos seguintes trechos:
“Voltei ao governo nos braços do povo”. Nela, encontramos a expressão “nos braços do povo” que confere ao orador o status de herói de uma população que o aclama e carrega. [...] “Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue.” e “Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência.” [...] Esse ethos de redentor, que é garantido pelo orador por meio de seu “sacrifício redentor”, ganha dimensão de onipotência nas seguintes frases: “Eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco.” e “Meu sacrifício nos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta” (FERREIRA; FIGUEIREDO, 2016, p.118).
Getúlio Vargas não se intimida em lançar mão do discurso religioso para apresentar-se como “redentor da Pátria brasileira” e seria o seu sacrifício-heroico, segundo sua retórica, sua grande vitória “E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória” (FERREIRA; FIGUEIREDO, 2016, p.123).
Ferreira e Figueiredo chegam a conclusão de que, a carta-testamento de Vargas, não foi simplesmente para transformar em heroico uma atitude culturalmente acovardada, vai além é “uma elaborada construção retórica que não só inverte as noções negativas associadas a um ato condenável, como também converte o protagonista desse anum num homem ‘santo’” (FERREIRA; FIGUEIREDO, 2016, p.125).
A retórica utilizada por Getúlio Vargas em sua carta-testamento e tomada como verdade não só pelas “massas anônimas”, como também pela imprensa da época mitificou sua figura: “Getúlio foi a figura política mais importante do Brasil no século XX, apesar de todas as suas contradições. Com a morte dele por razões políticas, com esse sacrifício, ele se converteu, perante as massas populares, num verdadeiro mito”[footnoteRef:4] (FERREIRA; FIGUEIREDO, 2016, p.116). [4: FAUSTO, B. História do Brasil por Boris Fausto: República Populista (1945-1964). Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=Jzgje3rRl54&hd=1>. Acesso em: 10 maio 2014. In. FERREIRA, Fernando Aparecido; FIGUEIREDO, Maria Flávia; Um suicida redentor...] 
REERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO, ARQUIVOS, PERFIS PARLAMENTARES n. 62. Disponível em: < http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/7264/getulio_vargas.pdf >. Acessado em 13 de Julho de 2016.
 FAUSTO, B. História do Brasil por Boris Fausto: República Populista (1945-1964). Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=Jzgje3rRl54&hd=1>. Acesso em: 10 maio 2014. In. FERREIRA, Fernando Aparecido; FIGUEIREDO, Maria Flávia; Um suicida redentor...
FERREIRA, Fernando Aparecido; FIGUEIREDO, Maria Flávia; Um suicida redentor: uma análise retórica. In.: A carta testamento de Getúlio Vargas: vários olhares sobre um mesmo texto. Volume 11, n. 15, 2016, p.115-126. Disponível em: < http://www.seer.ufrgs.br/index.php/conexaoletras/article/view/65806/37913>. Acessado em 13 de Julho de 2016.

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