Buscar

Cefaleia: Tipos, Diagnóstico e Tratamento

Prévia do material em texto

1 
Jéssica N. Monte – Turma 106 
Neurologia 
 
Cefaleia: todo processo doloroso referido no segmento cefálico, que pode se originar de qualquer 
estrutura facial ou craniana. 
Anamnese: modo de instalação, localização, tipo de dor, intensidade, duração, frequência, fatores 
desencadeantes, fatores de melhora ou piora, presença de aura, sintomas associados, outros sintomas 
neurológicos. 
Exame físico: nível de consciência, sinais meníngeos, sinais neurológicos localizados, nervos cranianos, 
fundo de olho. 
 
Dor associada à ausência de anormalidades anatomopatológica identificáveis aos exames habituais. 
Exame físico e neurológico geralmente estão normais. 
 
–
Corresponde à queixa de 80% dos pacientes que procuram ambulatórios especializados. 
Aura: sintomas neurológicos reversíveis que se desenvolvem em 5 a 20 minutos e precedem a crise de 
dor em até 1 hora. Acomete cerca de 20% dos pacientes com enxaqueca. 
 
Critérios diagnósticos para enxaqueca sem aura: 
A) Pelo menos 5 crises ao longo da vida que preencham os critérios B, C, D e E: 
B) Duração de 4 a 72 horas. 
C) Pelo menos 2 dos critérios: unilateral; caráter pulsátil; intensidade moderada ou forte 
(incapacitante); piora com atividade física. 
D) Durante a cefaleia, pelo menos 1 dos critérios: náuseas e/ou vômitos; foto e fonofobia. 
E) Não atribuída a outro transtorno. 
 
Critérios diagnósticos para enxaqueca com aura: 
A) Pelo menos 2 crises preenchendo os critérios B, C, D e E: 
B) Aura: pelo menos 1 dos critérios abaixo + qualquer paresia: 
▪ Sintomas visuais reversíveis positivos (escotomas) e/ou negativos (perda da visão). 
▪ Sintomas sensitivos reversíveis positivos (formigamento) e/ou negativos (dormência). 
▪ Disfasia reversível 
C) Pelos menos 2 dos critérios abaixo: 
▪ Sintomas visuais homônimos e/ou sensitivos unilaterais. 
▪ Ao menos 1 sintoma de aura ocorre gradualmente em 5 minutos ou mais e/ou 
diferentes sintomas de aura ocorrem em sucessão em 5 minutos ou mais. 
▪ Cada sintoma dura de 5 a 60 minutos. 
D) Cefaleia que preenche critérios B, C e D para migrânea sem aura: começa durante a aura ou a 
sucede em até 60 minutos. 
E) Não atribuída a outro transtorno. 
 
 
❖ Status enxaquecoso: forte intensidade (debilitante), com duração superior a 72 horas. 
❖ Enxaqueca crônica: dor em mais de 15 dias por mês, nos últimos 2 meses, sem uso abusivo de 
medicação. 
 
2 
Jéssica N. Monte – Turma 106 
Neurologia 
❖ Infarto enxaquecoso: um ou mais sintomas de aura, geralmente durando mais de 60 minutos, com 
lesão isquêmica no exame de imagem. 
❖ Crise epiléptica desencadeada por enxaqueca (durante dor ou até 1 hora após). 
 
❖ Medidas não farmacológicas: repousar em quarto escuro e silencioso, afastar fatores 
desencadeantes, técnicas de relaxamento, boa alimentação e bom padrão de sono. 
❖ Medidas farmacológicas: 
o Enxaqueca leve: analgésicos simples (Dipirona 500-1000 mg, Paracetamol 500-750 mg) e 
antieméticos (Metoclopramina 10 mg VO ou EV) 
o Enxaqueca moderada: AINEs (Naproxeno 500-550 mg, Ibuprofeno 400-600 mg), 
Ergotamina, Triptanos (Naratriptano 1 ou 2,5 mg, Sumatriptano VO 25, 50 ou 100 mg, 
Sumatriptano nasal 10 ou 20 mg, Sumatriptano SC 4 ou 6 mg, Zolmitriptano 2,5 ou 5 mg) 
o Enxaqueca forte ou incapacitante: AINEs, Triptanos, Dexametasona 10 mg EV, 
Clorpromazina 12,5 mg EV. 
❖ Medidas profiláticas: 
o Indicação: mais de 3 crises por mês; interferência significativa na vida diária; 
contraindicação, falha ou uso excessivo da terapia aguda. 
o Avaliar perfil do paciente, contraindicações e efeitos colaterais. 
o Betabloqueadores (Propanolol 80-240 mg/dia, Atenolol 25-150 mg/dia), antidepressivos 
tricíclicos (Amitriptilina 25-150 mg, Nortriptilina 10-75 mg), bloqueadores de canais de 
cálcio (Flunarizina 5-10 mg/dia), anticonvulsivantes (Ácido Valproico 500-1500 mg, 
Topiramato 25-200 mg), aplicação de toxina botulínica em pontos específicos da cabeça. 
 
 
É a mais comum. Corresponde a 30 a 70% dos casos. 
Critérios diagnósticos: 
A) Pelo menos 10 crises preenchendo os critérios B, C, D e E: 
B) Duração de 30 minutos a 7 dias. 
C) Pelo menos 2 dos critérios abaixo: 
▪ Bilateral, geralmente frontotemporal. 
▪ Caráter de pressão/aperto (não pulsátil). 
▪ Intensidade leve ou moderada. 
▪ Não piora com atividade física. 
D) Durante a cefaleia, ambos: sem náuseas ou vômitos; pode ocorrer foto ou fonofobia (não as 
duas). 
E) Não atribuída a outro transtorno. 
 
❖ Medidas não farmacológicas: repouso, evitar estresse, técnicas de relaxamento, boa alimentação e 
bom padrão de sono. 
❖ Medidas farmacológicas: analgésicos simples (Paracetamol 750 mg, Dipirona 500-1000 mg), AINEs 
(Cetoprofeno 100 mg, Diclofenaco 75-100 mg, Ibuprofeno 200-1200 mg, Naproxeno 500-550 mg), 
relaxantes musculares (Ciclobenzaprina). 
❖ Tratamento preventivo: antidepressivos tricíclicos (Amitriptilina 25-150 mg 1x/dia, Nortriptilina 10-
75 mg 1x/dia) e outros antidepressivos (Venlafaxina 37,5-150 mg/dia, Mirtazapina 10-30 mg/dia, 
Clomipramina 30-150 mg/dia). 
 
 
3 
Jéssica N. Monte – Turma 106 
Neurologia 
Ataques de cefaleia unilateral excruciante (fortíssima intensidade), de localização orbital, supraorbital ou 
temporal. 
Geralmente acompanha sintomas autonômicos cranianos: lacrimejamento/hiperemia conjuntival 
unilateral; congestão nasal/rinorreia unilateral; edema palpebral, miose ou ptose unilateral; sudorese de e 
rubor frontal e facial unilateral, plenitude auricular unilateral. 
Rara: menos de 1% da população mundial. 
Mais frequente no sexo masculino. 
Número variável de crises por dia (até 8), podendo ocorrer em dias alterados. 
Dor em facada que dura de 15 minutos a 3 horas. 
Mais comum durante a noite. 
É desencadeada por álcool, mas não por estímulo cutâneo. 
 
❖ Tratamento abortivo: máscara facial de O2 (10 a 15 L/min por 20 minutos); Sumatriptano SC 6 mg 
ou Sumatriptano nasal 10-20 mg. 
❖ Tratamento profilático: Verapamil (240-960 mg/dia), Carbonato de Lítio (300-900 mg/dia), 
Valproato de Sódio (250-1000 mg/dia), Metasergida, Predinisona. 
 
Causa mais comum de dor neuropática na face. 
Acomete pacientes com 40 anos ou mais. Rara em jovens. 
V1: Ramo oftálmico – porção superior do nariz, córnea e até o ápice 
do couro cabelo. 
V2: Ramo maxilar – porção inferior do nariz, lábio superior e 
bochecha. 
V3: Ramo mandibular – lábio inferior e queixo (não inerva o ângulo 
da mandíbula). 
 
Crises de dor facial: 
• Unilateral. 
• Súbita, intensa, em pontada ou queimação. 
• Tem duração de segundos e pode ter várias crises por dia. 
• Precipitada por toque ou movimentação de pontos gatilhos. 
• Acomete com mais frequência V2 e V3. 
• Exame físico geralmente sem déficit motor (músculos da mastigação) ou sensitivo. Reflexo córneo 
palpebral geralmente normal. 
 
❖ Neuralgia do V nervo associada à esclerose múltipla. 
o Sinais de alarme: bilateral; constante; acomete V1; perda sensitiva ao exame físico. 
❖ Herpes Zóster agudo acometendo o V par craniano. 
o Mais comum idosos e imunocomprometidos; acomete V1; ocorre a formação de vesículas 
na fronte, pálpebra ou córnea. 
❖ Tumor envolvendo ângulo gasseriano. 
❖ Tumor do ângulo ponto-cerebelar. 
 
 
4 
Jéssica N. Monte – Turma 106 
Neurologia 
Medicamentos anticonvulsivantes: Fenitoína, Carbamazepina, Oxcarbazepina, Ácido Valproico. 
Outras opções: Baclofeno, Tizanidina, Clonazepan. 
Cirurgia (se refratários ao tratamento clínico): ablação do nervo trigêmeo ou descompressão microvascular. 
 
A dor ocorre como um sintoma de uma causa subjacente: doenças neurológicas, sistêmicas ou disfunções 
cranianas. 
 
Sinais de alarme para suspeita de cefaleia secundária: 
→ Exercício ou postura como fatores de piora; mudança no padrão da dor; exame neurológico 
alterado; dor mais intensa da vida. 
→ Início depois dos 50 anos: pensar em arterite de células gigantes, lesão expansiva. 
→ Início súbito (pico da dor em menos de 1 minuto): pensarem hemorragia subaracnóidea. 
→ Piora progressiva: pensar em lesão expansiva, hemorragia subdural, uso excessivo de analgésicos. 
→ HIV+, neoplasias de outros sítios: pensar em meningite, abscesso cerebral, toxoplasmose, 
metástase. 
→ Sinais de doença sistêmica (febre, rigidez de nuca): pensar em meningites, encefalites, infecções 
sistêmicas, colagenoses. 
→ Sinais neurológicos focais: pensar em lesão expansiva, AVC. 
→ Papiledema e sinais de hipertensão intracraniana: pensar em lesão expansiva, meningite, trombose 
venosa cerebral, pseudotumor cerebral (hipertensão intracraniana idiopática/benigna). 
→ Cefaleia pós trauma crânio-encefálico: pensar em hemorragia subdural, hemorragia epidural. 
 
Cefaleia em região temporal. 
Acomete mulheres acima dos 50 anos. 
Sintomas constitucionais (febre, perda ponderal, mal estar, anorexia). 
Dor à movimentação da mandíbula. 
Dor e rigidez de cintura escapular e pélvica -> polimialgia reumática. 
Perda visual súbita. 
VHS e PCR aumentados (marcadores inflamatórios). 
US de artéria temporal: sinal do halo. 
Tratamento: Prednisona VO ou Metilprednisolona EV. 
 
Critérios diagnósticos: 
3 ou mais dos seguintes critérios: 
❖ Cefaleia nova. 
❖ Paciente com 50 anos mais. 
❖ Dor ou redução de pulso da artéria temporal. 
❖ Biópsia de artéria temporal alterada. 
❖ VHS superior a 50 mm/h. 
 
Geralmente acomete mulheres, em idade fértil, obesas. 
Dor constante. 
Piora da dor em decúbito ou diante da manobra de Valsava. 
Pode ter náusea ou vômito, diplopia ou perda visual. 
 
5 
Jéssica N. Monte – Turma 106 
Neurologia 
Exame de fundo de olho: papiledema bilateral. 
Exame de imagem para exclusão de causas secundárias. 
Exame de líquor com bioquímica normal, mas pressão de abertura superior a 25 cmH2O. 
Fazer avaliação oftalmológica com campimetria visual. 
 
❖ Medidas não farmacológicos: perda ponderal. 
❖ Medidas medicamentosas: Acetazolamida. 
❖ Tratamento cirúrgico: fenestração do nervo óptico ou derivação ventriculoperitoneal.

Continue navegando