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Profa. Raquel Azevedo UNIDADE III Serviço Social e a Questão Social Recapitular os assuntos acerca da questão social abordado nas aulas anteriores; Complementar os conhecimentos até aqui passados; Ampliar seus horizontes a respeito da questão social; Pontuar as principais questões a respeito desse assunto. Objetivos O termo questão social De acordo com Netto (2001), o termo questão social surgiu na terceira década do século XIX, na Europa Ocidental, utilizado inicialmente para designar o pauperismo que se tornava latente durante a organização do capitalismo industrial. O termo “questão social” existiu para não nomear os problemas sociais como produtos inerentes da sociedade capitalista. No século XIX, o termo “questão social” era usado para nomear a pobreza, que era considerada natural, algo que dependia da vontade do ser humano, deflagrando, assim, a característica fortemente liberal e positivista. O termo questão social Para sanar as expressões da questão social, segundo Netto (2001), o discurso conservador defende que são necessárias intervenções pontuais junto às expressões. Não há um aprofundamento da discussão dos fatores que deram origem à questão social. Cuidado com as expressões da questão social Quando foi que a questão social passou a receber novas interpretações, novos entendimentos, mais críticos e relacionando-a à estrutura econômica? O entendimento diferenciado do conceito teria surgido, conforme Netto (2001), após Marx publicar o primeiro volume de O Capital, em 1867. Na obra, Marx indica que a questão social não é um fenômeno natural, comum, mas um evento que acontece tipicamente na sociedade capitalista. Questão social e Marx Para Marx, a questão social é inerente ao capitalismo. Então, ela pode ser suprimida? De acordo com a perspectiva de Marx, não há como a questão social ser suprimida se os meios de produção forem capitalistas. Questão social e capitalismo O sistema capitalista produz, compulsoriamente, questão social; diferentes estágios capitalistas produzem diferentes manifestações da “questão social”. A “questão social” está intrínseca no desenvolvimento do capitalismo, não há como suprimir a primeira conversando com o segundo. Questão social e capitalismo De acordo com Iamamoto (2001, p. 27), a questão social poder ser assim descrita: Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho se torna mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos se mantém privada, monopolizada por uma parte da sociedade. Definição do termo questão social nos dias atuais Apesar de o termo ter recebido uma conotação crítica a partir dos estudos de Marx, como vimos, no Serviço Social, somente a partir do Movimento de Reconceituação, com o aporte ao marxismo, é que o termo questão social se consolidou, buscando designar os problemas gerados pelo capitalismo. O termo questão social e Serviço Social Para Iamamoto (2001), a questão social está presente no cotidiano das pessoas, por isso não podemos compreendê-la como um conceito filosófico, mas com um evento constante e concreto que influencia a vivência cotidiana dos segmentos vulneráveis. Questão social: um evento concreto e não um conceito filosófico Questão social e suas várias expressões cotidianas Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões cotidianas, tais como os indivíduos as experimentam, ou seja, ela é real, concreta, implica privações nas questões trabalhistas, nas relações familiares, na diminuição do acesso aos serviços públicos de saúde e na assistência social. No pensamento conservador, a questão social era entendida como: a) Algo natural. b) Consequência da sociedade capitalista. c) Resultado do conflito entre empregador e empregado. d) Produto da sociedade capitalista industrial. e) Expressão da sociedade capitalista monopolista. Interatividade No pensamento conservador, a questão social era entendida como: a) Algo natural. b) Consequência da sociedade capitalista. c) Resultado do conflito entre empregador e empregado. d) Produto da sociedade capitalista industrial. e) Expressão da sociedade capitalista monopolista. Resposta Questão social também é rebeldia, ou seja, é oposição daqueles segmentos que vivenciam as situações de desigualdades sociais e que se opõem a ela. E nós, assistentes sociais, atuamos na mediação dessas tensões, de forma que precisamos compreender as formas de embate que estão presentes na sociedade. Questão social como rebeldia É necessário para nós, assistentes sociais, conhecermos as várias mutações assumidas pela questão social na realidade contemporânea. De posse desse conhecimento, defender formas de resistência, luta, embate e defesa da vida. São necessários meios que permitam a minimização das desigualdades sociais. Defesa das formas de resistência É necessário compreender e conhecer outras formas de entender a questão social. José Paulo Netto; Marilda Vilela Iamamoto; Hannah Arendt. Outras formas de entender a questão social Base teórica - marxista Hannah Arendt (1990) elaborou um conceito muito específico de questão social, compreendendo que o surgimento das revoluções e dos embates entre as classes sociais teria grande relevância em dispor sobre o que pode ser considerado como questão social. Questão social de Hannah Arendt Arendt (1990) nos orienta a refletir sobre o termo social: Social – pode ser compreendido como tudo aquilo que é comum, que é partilhado entre os pares, ou seja, os interesses individuais convergem para o espaço social, para o espaço público. O termo social – não está inicialmente vinculado à noção política. Para a autora, no social, perdemos a autonomia e tudo passa a ser coletivo, partilhado. Reflexão sobre o termo social Arendt (1990) pressupõe que o termo “questão social” surge a partir da Revolução. Para ela, as primeiras revoluções surgiram visando à reivindicação de poder político e, com o tempo, essas revoluções passaram a incorporar requisições sociais. Assim, os problemas sociais entram na pauta das revoluções e isso daria origem ao termo questão social. Revolução e o termo questão social Arendt diz que a questão social despertou o interesse dos grupos revolucionários e fez surgir o que ela denomina como solidariedade social, ou seja, os problemas de vários indivíduos passaram a ser problemas sociais, comuns, partilhados. Assim, a expressão das demandas sociais por meio das revoluções é compreendida pela autora como dispositivo que permite a expressão da solidariedade, da fraternidade. Solidariedade social As revoluções só alcançam a sua finalidade se conseguirem instituir a liberdade, que está relacionada à capacidade de decisão política e de manutenção das próprias necessidades. Uma revolução só cumpre seus objetivos à medida que consegue garantir a manutenção da participação política e também uma sociedade igualitária e mais justa socialmente. Revolução efetiva Arendt (1990) enfatiza ainda que, conforme a questão social é assumida pelas revoluções, ela passa a adquirir uma conotação política, ou seja, passa a expressar demandas políticas dos movimentos de reivindicação e também a requerer intervenção política do Estado para minimizar os efeitos de sua expressão. Questão social e a conotação política Compreender a questão social tem como raiz a fundamentação e o desenvolvimento capitalista. Dessa forma,qualquer ação em prol das mazelas do capitalismo seria incapaz de dar conta da questão social e sua superação só é possível quando temos a superação do capitalismo. Questão social na sociedade capitalista monopolista O que podemos compreender com essas provocações iniciais aqui empreendidas? Conhecer os diversos e os variados posicionamentos é condição essencial. É importante compreender que há várias interpretações, de diversos pontos teóricos sobre a questão social, para que seja possível colaborar com a consolidação de um perfil crítico, propositivo e que consiga discutir com diversas posições. Diversos pontos teóricos sobre a questão social Filósofo(a) alemão(ã) que elaborou um conceito muito específico de questão social, indicando que o termo “questão social” teria tido início na sociedade moderna, demandada das revoluções: a) Marilda Vilela Iamamoto. b) Hannah Arendt. c) Raichelis. d) José Paulo Netto. e) Karl Marx. Interatividade Filósofo(a) alemão(ã) que elaborou um conceito muito específico de questão social, indicando que o termo “questão social” teria tido início na sociedade moderna, demandada das revoluções: a) Marilda Vilela Iamamoto. b) Hannah Arendt. c) Raichelis. d) José Paulo Netto. e) Karl Marx. Resposta Essa provocação é clássica, antiga e carece reflexão. A nova questão social Existe uma nova questão social? Netto (2001) e Iamamoto (2001) entendem que não há nova questão social. Questão social é e sempre será resultado do processo produtivo que é o capitalismo. A nova questão social Os problemas que nós, assistentes sociais, enfrentamos hoje são os mesmos que os profissionais enfrentavam há cerca de 20 anos? Obviamente que não. O que temos, portanto, não é uma nova questão social, mas mutações e aprofundamentos nos problemas sociais. Reflexão sobre a nova questão social Conforme Iamamoto (2011), entender as atuais configurações postas à questão social, considerando a realidade brasileira, requer a compreensão sobre as bases do desenvolvimento do capitalismo brasileiro. O desenvolvimento capitalista no Brasil sempre foi “periférico”, termo pelo qual designa um “tipo” de capitalismo em que as taxas de extração de lucro sempre são baixas se comparadas com o lucro de empresas europeias, por exemplo. Desenvolvimento capitalista no Brasil Um dos fatores que poderiam explicar esse tipo peculiar e específico de desenvolvimento capitalista à brasileira seria o fato de que, aqui, o capital se consolidou por meio da junção de formas atrasadas e modernas para gerar a acumulação. Desenvolvimento capitalista à brasileira Isso resulta na utilização de dispositivos antiquados para reger o processo produtivo, resultando descompasso entre meios de produção e mão de obra, ampliando o número de desempregos e subempregos, aumentando o número de trabalhadores que afluem ao exército industrial de reserva. Iamamoto (2011), ancorada nessa compreensão, ainda enfatiza que vinculado a esse processo temos outro bastante similar – descompasso entre o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social. Descompasso entre meios de produção e mão de obra A riqueza produzida não é socializada com a população brasileira como um todo. Alguns grupos e frações sociais, os que detêm os meios de produção, acabam detendo a riqueza social produzida, sim, porque há lucro e há riqueza. Ao contingente mais pobre cabe, no entanto, vender a força de trabalho e partilhar apenas a precarização da vida como um todo. Compartilhamento da riqueza produzida Iamamoto (2011) designa o termo “democracia restrita”, uma vez que as decisões políticas são controladas pela burguesia pelo subjulgamento dos aparatos estatais. A democracia brasileira é coordenada de forma a atender as necessidades do grande capital ou, então, de forma a controlar as massas para que não exista o embate ao Estado e aos modos de produção. Democracia restrita Quanto ao Estado, no momento de consolidação do capital no Brasil, Iamamoto (2011) usa o termo “cooptação”, ou seja, há uma associação do Estado brasileiro às classes burguesas e, por outro lado, podemos inferir que há separação/afastamento do Estado em relação aos interesses das classes pobres. Cooptação do Estado A questão social está presente desde a nossa colonização, porém, a partir dos anos 1970, é que temos sua ampliação, uma vez que a classe pobre sequer consegue vender sua força de trabalho e, por conta disso, já consegue atender suas necessidades básicas, suas demandas. Ampliação da questão social Por conta disso, a ampliação das expressões da questão social demandaria maior ação estatal: Os anos precedentes, sobre tudo na Europa, demarcaram o surgimento do Welfare State, o Estado de Bem-Estar Social – buscava intervir junto aos problemas sociais. Os anos 1970 se caracterizam também pela mudança no formato de Estado, que agora deixa de intervir junto aos problema sociais – marcando o avanço da doutrina neoliberal. Ampliação da questão social Precarização generalizada da vida da classe pobre – é com essa questão que nós iremos trabalhar, ela é nossa matéria-prima, nosso objeto de trabalho. Está inserida em nossos processos de trabalho, em nosso cotidiano profissional, não é algo abstrato, mas algo com o qual nos depararemos em nosso processo de trabalho. Questão social e Serviço Social O neoliberalismo passa a ser introduzido no Brasil no governo de: a) Fernando Collor – Itamar Franco. b) Fernando Henrique Cardoso. c) Lula. d) Dilma Rousseff. e) Michel Temer. Interatividade O neoliberalismo passa a ser introduzido no Brasil no governo de: a) Fernando Collor – Itamar Franco. b) Fernando Henrique Cardoso. c) Lula. d) Dilma Rousseff. e) Michel Temer. Resposta Iamamoto (2001) destaca que entender a noção trabalhista de processo de trabalho que está presente em Marx significa entender que um processo de trabalho é composto de categorias: o trabalho; a matéria-prima; os instrumentos de trabalho; o produto ou o resultado dessa ação. O processo de trabalho do assistente social Nós, assistentes sociais, participantes desse processo de trabalho? E como podemos em nosso cotidiano aplicar a noção marxista de processo de trabalho? O trabalho é o fazer, a práxis cotidiana do assistente social. Atuação do assistente social na questão social O trabalho – é a ação social do assistente social. A matéria-prima ou objeto – é e sempre será a questão social. Os instrumentos de trabalho – não podem ser resumidos ao chamado “arsenal de técnicas”, além das técnicas é basal o conhecimento (bases teórico- metodológicas). Produto ou resultado dessa ação – um efeito nas condições materiais e sociais. O processo de trabalho do assistente social Ainda na definição dos meios de trabalho – a autora chama nossa atenção para o fato de que o assistente social não detém todos os meios de seu trabalho. Nossa Lei de Regulamentação indica que somos uma categoria de profissionais liberais, considerando que o profissional liberal é aquele que detém todos os meios para o seu trabalho, não podemos ser considerados profissionais liberais. Meios e trabalho do assistente social O assistente social depende da instituição empregadora e dos recursos que a entidade disponibiliza para que aconteça o seu exercício profissional, por isso ele goza de relativa autonomia em sua prática cotidiana, já que não está totalmente livre do que é posto pela instituição empregadora. Meios e trabalho do assistente social “[...] o Serviço Social é socialmente necessárioporque ele atua sobre questões que dizem respeito à sobrevivência social e material dos setores majoritários da população trabalhadora” (IAMAMOTO, 2011, p. 67). Atuação do assistente social na questão social Ao viabilizar o acesso a benefícios e serviços, a atuação não se restringe à concessão de bens materiais, mas à construção de conceitos, de consensos, ou seja, na concessão de elementos destinados à reprodução material, o assistente social também produz consensos. Viabilização ao acesso de benefícios e serviços Por que as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Serviço Social são tão importantes? Porque nelas são traçados os parâmetros mínimos que devem ser observados na organização curricular dos curso de graduação em Serviço Social. As Diretrizes Curriculares Nacionais Qual a relação das DCNs com a questão social? Em ambos temos a predominância do aporte à teoria marxista e o privilégio da questão social como referência para a formação do assistente social. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Serviço Social e a questão social A referência à questão social é mais uma vez ressaltada no referido documento no momento em que são apresentadas as competências e as habilidades necessárias aos assistentes sociais. Ou seja, o profissional competente e que consegue desenvolver suas habilidades é aquele que encontra as respostas para o enfrentamento da questão social. Competências e habilidades necessárias aos assistentes sociais Afinal, que profissional estamos formando? Novamente temos a menção à necessidade de que o profissional graduado seja suficiente em atuar nas múltiplas expressões da questão social. “[...] atua nas expressões da questão social, formulando e implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade de promover o exercício pleno da cidadania e a inserção criativa e propositiva dos usuários dos serviços no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho” (CFESS, 2002). O que é esperado do perfil do egresso Para Marx, um processo de trabalho é composto por categorias. No Serviço Social, a categoria trabalho corresponde a: a) Questão social. b) Técnicas e os conhecimento teóricos. c) Ação social do assistente social. d) Um efeito nas condições materiais e sociais. e) Pesquisa. Interatividade Para Marx, um processo de trabalho é composto por categorias. No Serviço Social, a categoria trabalho corresponde a: a) Questão social. b) Técnicas e os conhecimento teóricos. c) Ação social do assistente social. d) Um efeito nas condições materiais e sociais. e) Pesquisa. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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