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1 
 
 LITERATURA INFANTIL: UMA ALTERNATIVA PARA DIALOGAR 
SOBRE SEXO E GÊNERO COM CRIANÇAS NAS ESCOLAS 
 Quilza da Silva e Silva1 
 Romyson dos Santos da Silva2 
 
RESUMO: O presente artigo intitulado: Literatura Infantil: uma alternativa para 
dialogar sobre sexo e gênero com crianças nas escolas, tem como objetivo explanar 
como a literatura infantil pode ser usada para falar de sexo e gênero com crianças 
no espaço escolar, assim como refletir a importância da literatura infantil na 
formação da identidade da criança, uma vez que ao experimentar a leitura a criança 
executa um ato de compreensão e interpretação do mundo, e através dessa 
compreensão pode modificar ou ressignificar o contexto no qual está inserida. 
Utilizou-se preliminarmente o método de pesquisa hermenêutico em função de a 
pesquisa ter partido de referencial bibliográfico. Esse estudo em construção vem 
sendo trabalhado pelo Núcleo de Justiça Restaurativa – NEJUR, desenvolvido pelo 
grupo de pesquisa Sistema Punitivo e Violência de Gênero: ressignificando a 
cidadania a partir da Justiça Restaurativa promovida pela Faculdade Pitágoras do 
Maranhão. 
Palavras-chave: Escola; Literatura Infantil; Sexo e Gênero. 
 
ABSTRACT: This article entitled: Children's Literature: An alternative to dialogue 
about sex and gender with children in schools, aims to explain how children's 
literature can be used to talk about sex and gender with children at school, as well as 
reflect the importance of children's literature in the child's identity formation. since the 
experience reading the child performs an act of understanding and interpretation of 
the world, and through this understanding can modify or reframe the context in which 
it is inserted. We used the method of preliminarily hermeneutic research because of 
the research have referential party bibliográfico.Esse study under construction has 
 
1 Graduanda em Direito e Bolsista de Iniciação Científica da Faculdade Pitágoras em São Luís- 
MA. Integrante do grupo de pesquisa Sistema Punitivo e Violência de Gênero: Ressignificando 
a cidadania a partir da justiça restaurativa desenvolvida pelo Núcleo de estudos sobre Justiça 
Restaurativa – NEJUR. quilzasilva@yahoo.com.br 
2 Graduando em Direito e Bolsista de Iniciação Científica da Faculdade Pitágoras em São Luís- 
MA. Integrante do grupo de pesquisa Sistema Punitivo e Violência de Gênero: Ressignificando 
a cidadania a partir da justiça restaurativa desenvolvida pelo Núcleo de estudos sobre Justiça 
Restaurativa – NEJUR. romysonsantos@hotmail.com 
 
 
2 
 
been worked by the Restorative Justice Center - NEJUR developed by the research 
group Punitive System and Gender Violence: giving new meaning to citizenship from 
the restorative justice promoted by the Faculty Pythagoras of Maranhao. 
Keywords: School; Children's literature; sex and gender. 
 
INTRODUÇÃO 
A leitura se faz muito importante em nossas vidas, através dela pode-
se aprender, ensinar e conhecer outras culturas. A sua grandiosidade deve ser 
compreendida como uma leitura que permita a viagem no mundo da 
imaginação, tão presente na infância. O desenvolvimento da imaginação infantil 
quando compartilhado, divulgado e aplaudido faz do sujeito alguém envolvido 
com as idéias, compreensivo, crítico e modificador das situações prazerosas ou 
não, torna-se alguém com ideais. Quem conta histórias precisa criar um clima 
de envolvimento; e o objetivo desse trabalho é mostrar a importância da 
literatura infantil e também a importância das pessoas que contam as histórias 
na educação infantil; e acima de tudo incentivam as descobertas através dos 
livros. Desta forma, ouvir ou ler história é como entrar em um mundo 
encantador, cheio ou não de mistérios e surpresas, mas sempre muito 
interessante, curioso, que diverte e ensina. É na exploração da fantasia e da 
imaginação que se instiga a criatividade e se fortalece a interação entre texto e 
leitor. 
Na interação da criança com a obra literária está a riqueza dos 
aspectos formativos nela apresentados de maneira fantástica, lúdica e 
simbólica. A intensificação dessa interação, através de procedimentos 
pedagógicos adequados, leva a criança a uma maior compreensão do texto e a 
uma compreensão mais abrangente do contexto. Uma obra literária é aquela 
que mostra a realidade de forma nova e criativa, deixando espaços para que o 
leitor descubra o que está nas entrelinhas do texto. 
 A literatura infantil, portanto, não pode ser utilizada apenas como um 
"pretexto" para o ensino da leitura e para o incentivo à formação do hábito de 
ler. Para que a obra literária seja utilizada como um objeto mediador de 
conhecimento, ela necessita estabelecer relações entre teoria e prática, 
possibilitando ao professor atingir determinadas finalidades educativas. Para 
3 
 
tanto, uma metodologia baseada em um ensino por projetos é uma das 
possibilidades que tem evidenciado bons resultados no ensino de língua 
materna. 
 
1. O QUE É LITERATURA INFANTIL? 
 
Antes de dar início a falar sobre o conceito se faz necessário um breve 
relato sobre a história da literatura infantil, esta está intimamente ligada à 
história da própria concepção de “infância” e os primeiros livros para crianças 
foram produzidos somente no final do séc. XVII e durante o séc. XVIII, antes 
disso, não se escrevia para crianças, pois não existia o que chamamos hoje de 
“infância”; as crianças e os adultos compartilhavam dos mesmos eventos 
sociais. Foi com o advento de uma nova classe social, a burguesia e a 
valorização de um modelo familiar burguês, onde a criança ganha um enfoque 
de reprodução da classe, por isso um interesse maior na sua educação e na 
transmissão de valores burgueses. 
A literatura infantil nasce então neste momento com o intuito de 
transmitir os valores deste novo modelo familiar centrado na valorização da 
vida doméstica, fundada no casamento e na educação de herdeiros. 
Neste sentido, Zilberman (1985) faz algumas alusões assinalando que 
a mesma “expande-se como gênero literário a partir do momento em que a 
infância passa a ser considerada não apenas uma faixa etária diferenciada” (p. 
98), ainda afirma que a Literatura Infantil surge quando a infância passa a ser 
considerada “um período da existência com características singulares, que 
requer cuidados especiais e atendimento particularizado”. 
 De fato, o autor tem razão, pois acredita-se que nessa época, os livros 
eram usados como uma ponte entre a cultura e a criança. Os livros infantis 
tinham conteúdos centrais à pátria, o sentimento de família, de obediências, os 
valores morais e a prática das virtudes por isso tinham sempre como 
personagens centrais, as crianças e os animais. 
Neste sentido, vale lembrar que Souza (2010), afirma que a Literatura 
infantil surgiu direcionada às crianças burguesas, com o advento do 
Capitalismo, adquirindo novas formas e novas características para atender 
esse público. Ela surge em meio ao capitalismo com intuito de vender esse 
4 
 
material à classe das crianças, que podem ser vistas como fortes 
consumidoras. 
Nesta época a criança passa a ser considerada um ser 
diferente do adulto, com necessidades e características próprias, 
deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma 
educação especial, que a preparasse para a vida adulta. Antes disso, 
a criança, acompanhando a vida social do adulto, participava também 
de sua literatura. Existiam no século XVIII, duas realidades. A criança 
da nobreza, orientada por preceptores, lia geralmente os grandes 
clássicos, enquanto a criança das classes desprivilegiadas lia ou 
ouvia as históriasde cavalaria, de aventuras. As lendas e contos 
folclóricos formavam uma literatura de cordel de grande interesse das 
classes populares. Devido à concepção de infância que estava se 
constituindo, fez-se necessário novos mecanismos para “equipar” e 
“preparar” a criança para enfrentar mais tarde o meio social. A escola 
tornou-se, então, uma instituição legalmente aberta, não só para a 
burguesia, mas para todos os segmentos da sociedade e a literatura 
infantil vem, então validar esse processo de escolarização; isto 
porque, como a escola “ trabalha sobre a língua escrita, ela depende 
da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem esta 
passado pelo crivo da escola” (Lajolo e Zilberman, 1991, p. 18) 
 
A literatura infantil desde a origem sempre foi ligada à diversão ou ao 
aprendizado das crianças, acreditava-se que seu conteúdo deveria ser 
adequado ao nível da compreensão e interesse desse peculiar destinatário. 
Como a criança era vista como um adulto em miniatura, os primeiros textos 
infantis resultaram de adaptações ou da minimização de textos escritos para os 
adultos. Expurgadas as dificuldades de linguagem, as digressões ou reflexões 
que estariam acima do que eles consideravam possível para a compreensão 
infantil; retiradas as situações de conflitos não exemplares e realçando 
principalmente as ações ou peripécias de caráter aventuroso ou exemplar, as 
obras literárias eram reduzidas em seu valor intrínseco, mas atingiam o novo 
objetivo; atrair o pequeno leitor/ouvinte e levá-lo a participar das diferentes 
experiências que a vida pode proporcionar ao nível do real ou do maravilhoso. 
De fato, a literatura infantil leva a criança a um mundo de sonhos, 
imaginações e fantasias, tudo atrelado a realidade. Neste diapasão, Coelho 
(1991) destaca que a Literatura Infantil é: 
 
Abertura para a formação de uma nova mentalidade, além de ser um 
instrumento de emoções, diversão ou prazer, desempenhada pelas 
histórias, mitos, lendas, poemas, contos, teatro, etc., criadas pela 
imaginação poética, ao nível da mente infantil, que objetiva a 
educação integral da criança, propiciando-lhe a educação 
humanística e ajudando-a na formação de seu próprio estilo. 
 
5 
 
 
 A literatura infantil leva a criança à descoberta do mundo, onde sonhos 
e realidade se incorporam, onde a realidade e a fantasia estão intimamente 
ligadas, fazendo a criança viajar, descobrir e atuar num mundo mágico, 
podendo modificar a realidade, seja ela boa ou ruim. 
Jesualdo (1978, p.19) define literatura infantil como “um dos aspectos 
da literatura dentre as várias modalidades artísticas”, é a literatura que se 
preocupa com histórias para crianças, é forma literária voltada para a psique 
infantil, com vocabulário adequado ao conhecimento e à compreensão da 
criança. Encontra-se, também, essa preocupação de cunho psicológico na 
definição de Bruno Bettelhein (2007, p.12) que entende por literatura infantil 
aquela que objetiva “desenvolver a mente e a personalidade da criança” e não 
só divertir e informar; como a que se deve ter significado para a criança, isto é, 
transmitir as experiências da vida. 
 Ainda de acordo com o mesmo autor a literatura, principalmente a dos 
contos de fadas é o melhor canal para ensinar o “significado” para a criança, 
uma vez que ao ouvir uma história a criança, também, pode conhecer os 
padrões morais de uma sociedade, levando, assim, para o seu cotidiano, os 
conceitos presentes nas histórias. Para Oliveira (1978, p.13) a literatura infantil 
é como “alimento do espírito da criança”. Assim, a literatura infantil pode ser 
comparada com a própria alimentação destinada à criança. Ela pode variar um 
pouco no sabor, na consistência, mas terá de conter os mesmos nutrientes em 
qualidade, da alimentação de um adulto. A literatura proporciona nutrientes 
imprescindíveis para a formação intelectual da criança. 
 
2. O livro infantil e a escola 
Responsável pela transformação social do aluno, a escola deve 
sempre se basear no princípio da vinculação entre a educação escolar, o 
trabalho e as práticas sociais previstas no art.3º da lei 9394/96. Tomando por 
base a idéia de que o pleno exercício de uma prática social serve como 
instrumento para o exercício da cidadania, a escola em conjunto com a 
comunidade e o próprio Estado deve promover meios para que o aluno, 
excluído das relações sociais sinta-se capaz de ser um cidadão ativo, crítico, 
reflexivo e consciente de seus direitos e obrigações. 
6 
 
Nesse contexto, torna-se importante a LDB 9394/96 no sentido de 
garantir ao ambiente escolar as diretrizes, direitos e deveres do aluno na 
promoção do pleno desenvolvimento. De acordo com o art. 2º da referida lei 
temos: 
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de 
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o 
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da 
cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
 
Dessa maneira, fica claro que o Estado, juntamente com a família, é 
incumbido pelo pleno desenvolvimento intelectual e para o livre exercício da 
cidadania e do trabalho do alunado. Isto em observância dos princípios da 
dignidade e da solidariedade. Pois, quando a escola visa apenas à capacidade 
intelectual, o aluno perde valores pautados em princípios éticos e morais, 
baseando-se única e exclusivamente numa concepção egocêntrica e 
individualista. 
Posto isso é que o ensino e a aprendizagem devem ter como foco os 
seguintes princípios: 
 
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte e o saber; 
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; 
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; 
 
A escola deve ter como pressuposto os princípios acima citados para a 
garantia da efetivação da transformação social do discente. Quando renegados 
tais princípios perde-se o respeito entre os atores da comunidade escolar, haja 
vista que, como já exposto no corpo trabalho, a violência é um fenômeno social 
que ocorre em larga escala e em muitos casos são trazidos do ambiente 
externo e incorporados na escola. 
Ainda de acordo com a LDB em seu art. 29, dispõe: 
 
Art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem 
com finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos 
de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, 
complementando a ação da família e da comunidade. 
 
Da análise deste artigo, de fato, há a necessidade e é dever da escola 
enquanto representante do Estado, de que a educação infantil promova o 
7 
 
desenvolvimento do indivíduo em todos os seus aspectos, de forma integral e 
integrada, constituindo-se no alicerce para o pleno desenvolvimento do 
educando. O desenvolvimento integral da criança na faixa etária de 0 a 6 
anos torna-se imprescindível a indissociabilidade das funções de educar e 
cuidar. Sendo a ação da educação infantil complementar a da família e a da 
comunidade, deve estar com essas articuladas, o que envolve a busca 
constante do diálogo com as mesmas, mas também implica um papel 
específico das instituições de educação infantil no sentido de ampliação das 
experiências, dos conhecimentos da criança, seu interesse pelo ser humano, 
pelo processo de transformação da natureza e pela convivência em sociedade. 
O artigo anterior permite que se analise a relação entre escola e a 
literatura infantil como uma alternativa para dialogar sobre sexo e gênero com 
as crianças, visto que a escola não é impermeável aos fenômenos sociais, e a 
realidade no que diz respeito a falar de sexo e gênero já “bate a porta” pois 
independente de tudo, atinge diretamente a sociedade como um todo. Nesta 
vertente, Cademartori (1994, p.23), afirma que 
 
... a literatura infantil se configura não só como instrumentode 
formação conceitual, mas também de emancipação da manipulação 
da sociedade. Se a dependência infantil e a ausência de um padrão 
inato de comportamento são questões que se interpenetram, 
configurando a posição da criança na relação com o adulto, a 
literatura surge como um meio de superação da dependência e da 
carência por possibilitar a reformulação de conceitos e a autonomia 
do pensamento. 
 
A criança que desde muito cedo entra em contato com a obra literária 
escrita para ela terá uma compreensão maior de si e do outro. Terá a 
oportunidade de desenvolver seu potencial criativo e ampliar os horizontes da 
cultura e do conhecimento, percebendo o mundo e a realidade que a cerca. 
Para Bettelheim (1996): 
 
Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si 
mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece 
significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da 
criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à 
multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida 
da criança (p.20). 
 
Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de aprendizagem. 
Entre elas estão os valores apontados no texto, os quais poderão ser objeto de 
8 
 
diálogo com as crianças, possibilitando a troca de opiniões e o 
desenvolvimento de sua capacidade de expressão. O estabelecimento de 
relações entre os comportamentos dos personagens da história e os 
comportamentos das próprias crianças em nossa sociedade possibilita ao 
professor desenvolver os múltiplos aspectos educativos da literatura infantil. 
Experiências felizes com a literatura infantil em sala de aula são 
aquelas em que a criança interage com os diversos textos trabalhados de tal 
forma que possibilite o entendimento do mundo em que vivem e que 
construam, aos poucos, seu próprio conhecimento. Para alcançarmos um 
ensino de qualidade, se faz necessário que o professor descubra critérios e 
que saiba selecionar as obras literárias a serem trabalhadas com as crianças. 
Ele precisa desenvolver recursos pedagógicos capazes de intensificar a 
relação da criança com o livro e com seus próprios colegas. Segundo 
Bettelheim (1996): 
 
Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve 
entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, 
deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto 
e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas 
ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades 
e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a 
perturbam ... (p.13). 
 
Ao trazer a literatura infantil para a sala de aula, o professor estabelece 
uma relação dialógica com o aluno, o livro, sua cultura e a própria realidade. 
Além de contar ou ler a história, ele cria condições em que a criança trabalhe 
com a história a partir de seu ponto de vista, trocando opiniões sobre ela, 
assumindo posições frente aos fatos narrados, defendendo atitudes e 
personagens, criando novas situações através das quais as próprias crianças 
vão construindo uma nova história. Uma história que retratará alguma vivência 
da criança, ou seja, sua própria história. De acordo com Abramovich (1995, 
p.17), 
ler histórias para crianças, sempre, sempre ... É poder sorrir, rir, 
gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a idéia 
do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um 
pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de 
divertimento ... É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade 
respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias 
para solucionar questões (como as personagens fizeram ...). É uma 
possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos 
impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos - dum 
jeito ou de outro - através dos problemas que vão sendo defrontados, 
9 
 
enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada 
história (cada uma a seu modo) ... É a cada vez ir se identificando 
com outra personagem (cada qual no momento que corresponde 
àquele que está sendo vivido pela criança) ... e, assim, esclarecer 
melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a 
resolução delas ... 
 
Portanto, a conquista do pequeno leitor se dá através da relação 
prazerosa com o livro infantil, onde sonho, fantasia e imaginação se misturam 
numa realidade única, e o levam a vivenciar as emoções em parceria com os 
personagens da história, introduzindo assim situações da realidade. 
 
é ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções 
importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, 
a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras 
mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em 
quem as ouve - com toda a amplitude, significância e verdade que 
cada uma delas fez (ou não) brotar ... Pois é ouvir, sentir e enxergar 
com os olhos do imaginário! (Abramovich, 1995, p. 17). 
 
 
Com certeza, a criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, e 
com beleza, para organizar seu “mundo mágico”, seu universo possível, onde 
ela é dona absoluta: constrói e destrói. Constrói e cria, realizando tudo o que 
ela deseja. A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, com 
riqueza. É uma forma de conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, 
como a terra agreste, que se aduba e enriquece, produz frutos sazonados 
(CARVALHO, 1989, p.21). Isso explica o fato dos contos de fadas serem 
fascinantes até os dias atuais, pois atingem diretamente o imaginário da 
criança, pois a criança possui ainda uma sensibilidade estética muitas vezes 
mais apurada que o adulto. “A criança mistura-se com as personagens de 
maneira muito mais íntima do que o adulto.” (Benjamin, 2002. p. 105). 
De fato, os contos infantis possibilitam o despertar de diferentes 
emoções e a ampliação de visões de mundo do leitor infantil. E nesse encontro 
com a fantasia, a criança entra em contato com seu mundo interior, dialoga 
com seus sentimentos mais secretos, confronta seus medos e desejos 
escondidos, supera seus conflitos e alcança o equilíbrio necessário para seu 
crescimento. “O espírito da criança precisa do drama, da movimentação das 
personagens, da soma das experiências populares e tudo isso dito por meio 
das mais elevadas formas de expressão e com inegável elevação de 
pensamento”. (Sosa, 1978, p.19) Por meio da projeção da criança nos contos 
10 
 
infantis, ela vive intensamente seus conflitos, medos e dúvidas. Referimos à 
projeção da criança nos contos infantis e ilustrações, considerando o 
pensamento de Benjamin, quando nos diz que “não são as coisas que saltam 
das páginas em direção à criança que as vai imaginando - a própria criança 
penetra nas coisas durante o contemplar, como nuvem que se impregna do 
esplendor colorido desse mundo pictórico”. (Benjamin, 2002, p.69). É por meio 
do imaginário que a criança reconhece suas próprias dificuldades e aprende a 
lidar com elas, podendo assim, se reconhecer melhor e se conhecer como 
parte integrante do mundo que a cerca. 
Nesta lógica, o professor é considerado a figura dominante e guardião 
do saber. O aluno é vencido pelo ambiente escolar, sendo peça a ser moldada 
conforme a visão do adulto. É obrigado seguir o que o professor determina. O 
uso da literatura infantil restringe ao serviço do processo de manipulação da 
criança, cumprindo o papel de transmissor de conhecimento conforme o desejo 
do adulto. O professor, figura dominante, utiliza a literatura infantil para 
transmitir normas de obediência e bom comportamento. A etapa do imagismo 
ocupa uma pequena faixa de tempo na vida da criança, quando a lógica 
característica da criança é substituída naturalmente pela lógica própria do 
adulto. 
Sosa (1978) explica que não é a moral da história que fica registrada 
como experiências de conhecimento, mas o que ficaregistrada na alma da 
criança é o acontecimento dramático da fábula, as espertezas e astucia 
embutidas nas ações das personagens. É o drama apresentado na fábula que 
dialogará com seu mundo íntimo e colaborará no conhecimento que 
necessitará para seu desenvolvimento. O encantamento que a literatura infantil 
proporciona ao leitor permanecera sempre e em todos os lugares. Para isso o 
livro precisa atender as necessidades da criança, que seriam: povoar a 
imaginação, estimular a curiosidade, divertir e por último, sem imposições, 
educar e instruir. Como afirma Oliveira: 
 
Os livros infantis, além de proporcionarem prazer, contribuem para o 
enriquecimento intelectual das crianças. Sendo esse gênero objeto da 
cultura, a criança tem um encontro significativo de suas histórias com 
o mundo imaginativo dela própria. A criança tem a capacidade de 
colocar seus próprios significados nos textos que lê, isso quando o 
adulto permite e não impõe os seus próprios significados, visto estar 
11 
 
em constante busca de uma utilidade que o cerca. (OLIVEIRA, 2005, 
p. 125) 
 
Sendo assim, entende-se que a Literatura Infantil é arte literária, 
destinada a determinado a nutrir a imaginação das crianças. Cabe, então, a 
escola a responsabilidade de inserir a criança ao mundo da leitura, e 
principalmente, transformar esses “mini leitores” em leitores permanentemente 
interessados. 
 É importante lembrar que os livros literários não são livros 
paradidáticos, mesmo que muitos professores esvaziem seu significado, 
utilizando-os com o mesmo fim. “O texto literário é aquele que não possui 
compromisso com o leitor, com os textos paradidáticos ou com o texto didático. 
Ele é estética, criação, imaginário, fantasia, pensamento e atitude.” (Almeida, 
2008, p.51). Estas características do texto literário, por sua vez, podem 
desencadear, como conseqüência, a construção da criatividade nos 
educandos. Acredita-se que a literatura vem solidificar o espaço da leitura na 
escola enquanto formação de leitores, sendo assim, torna-se importante que o 
educador não dê a todos os gêneros textuais, um caráter utilitário, porque o 
prazer de ler está relacionado ao prazer de criar novas situações, de adentrar 
num mundo diferente através das histórias infantis, num mundo de sonhos e 
ações dos personagens das histórias infantis, desmistificando preconceitos, 
relacionando fatos com sua própria vida, pensando assim, uma forma de tornar 
o mundo compreensível e mais humano. Pois, a literatura, ao nos convidar 
para o contato com diferentes emoções e visões de mundo, proporciona 
condições para o crescimento interior, possibilitando a formação de parâmetros 
individuais para medir e codificar seus próprios sentimentos e ações (Cagneti E 
Zotz, 1986, p.23). 
De outro ponto de vista, Abramovich (1997, p.143) discute como 
desenvolver por intermédio da literatura, o potencial crítico da criança. 
Argumenta que por meio de um material literário de qualidade, a criança é 
capaz de pensar criticamente e reformular seu pensamento. Considerando 
aqui, como qualidade do material literário para o bom desempenho do processo 
da formação do leitor literário, textos que apresentam uma proposta ficcional 
que atenta o imaginário dos leitores e os excita a compor novas possibilidades 
para perceber o mundo a sua volta. Contrariando, desta forma, os textos que 
12 
 
objetivam inculcar valores, mudar comportamentos ou informar ao leitor, por 
meio da história ficcional ou dos personagens, sobre determinado assunto. No 
entanto, é preciso rever a postura do educador que se preocupa em formar 
leitores sem analisar profundamente para quê quer formar leitores. Essa 
revisão implicará, sem dúvida, na construção e uso de uma metodologia mais 
adequada para a formação do leitor literário, promovendo como práticas 
literárias na escola a leitura efetiva dos textos, rompendo com atividades 
estéreis de literatura, ou seja, que exigem o domínio das informações sobre a 
literatura ou impera a idéia que o importante é que o aluno leia, não importando 
o que, pois o que o importa é prazer de ler. “Ao contrário, é fundamental que 
seja organizada segundo os objetivos da formação do aluno, compreendendo 
que a Cadernos da Pedagogia. 
“A literatura tem um papel a cumprir no âmbito escolar.” (Cosson, 2007, 
p. 23). Papel este, que permita que a leitura literária seja exercida com prazer, 
mas, também, com o compromisso construção do conhecimento, já que na 
escola, a literatura é um lócus de conhecimento e deve ser desenvolvida de 
maneira correta com o objetivo de formar o sujeito intelectualmente e 
eticamente mais humanizado. O insucesso na formação do bom leitor ocorre 
quando a escola denota a importância ao aluno que lê, não importando com o 
que se lê, pois a escola concebe a literatura como mera fruição. 
Magnani alerta-nos sobre a liberdade de escolha da leitura dos alunos: 
Se propomos ao aluno que ele deve ler apenas o que gosta, não podemos nos 
esquecer de que esse gosto não é tão natural assim. Pelo contrário, é 
profundamente marcado pelas condições sociais e culturais de acesso aos 
códigos de leitura e escrita. (MAGNANI, 2001, p. 63) Desta forma, entendemos 
que o simples fato de saber ler não transforma o indivíduo em leitor 
competente, mas sim, na medida em que são desafiados por leituras 
progressivamente mais complexas e que compartilham suas visões de mundo, 
é que se tornam leitores literários. Cosson define o bom leitor como “aquele 
que agencia com os textos os sentidos do mundo, compreendendo que a 
leitura é um concerto de muitas vozes e nunca um monólogo. Por isso, o ato 
físico de ler pode até ser solitário, mas nunca deixa de ser solidário.” (Cosson, 
2007, p.27) Sendo assim, torna-se imprescindível ressaltar que os educadores 
precisam ver o aluno como parte essencial deste processo, promovendo a 
13 
 
interação texto-leitor, não podendo fazer do processo educativo uma corrente 
de mão única. Como afirma Cosson “Ler implica troca de sentidos não só entre 
o escritor e leitor, mas também com a sociedade onde ambos estão 
localizados, pois os sentidos são resultado de compartilhamentos de visões do 
mundo entre os homens no tempo e no espaço.” (Cosson, 2007, p. 27) 
Para isso, torna-se inevitável pensar a qualidade do material literário 
oferecido aos alunos e a formação dos professores mediadores da leitura 
literária. Pois, a imaginação permite-nos desenvolver o pensamento criativo, 
fundamental para nossa inserção no mundo. Contudo, a escola pouco valoriza 
e trabalha a imaginação, como se ela fosse apenas resultado de uma 
racionalidade pouco desenvolvida na criança, como se, ao longo do processo 
de desenvolvimento, a imaginação fosse substituída pela razão, característica 
do pensamento adulto. 
 
3. Literatura Infantil: algumas histórias possíveis de serem 
trabalhadas (quebrando os estereótipos) nas escolas. 
 
Sabe-se que existem inúmeras histórias clássicas dentro da Literatura 
Infantil que vêm sendo utilizadas por professores/as dentro da sala de aula a 
fim de subsidiar os trabalhos pedagógicos. Como exemplos têm-se: Branca de 
Neve e os Sete Anões, Cinderela, A Bela e a Fera, A Bela Adormecida. Estas 
histórias tendem a relatar, um contexto social que foge da realidade, 
ultrapassado, neste tipo de histórias homens e mulheres são apresentados 
como parte da nossa sociedade e não totalidade, apresentando o homem com 
um ser sempre forte, bravo, valente, viril; já a mulher é apresentada como 
frágil, submissa, sem vontades próprias, destinada a ser a mulher do “lar”. 
Nesta vertente, acredita-se que os materiais pedagógicos utilizados dentro da 
sala de aula deve acompanhar a realidade da sociedade. Pois a sociedade 
mudou e alguns materiais utilizados dentro das escolas se estagnaram no 
tempo. Nestes contos, todos são considerados amor romântico3 e o casamento3 O amor romântico começou “a marcar a sua presença a partir do final do século XVIII”, ele “é 
um processo de atração por alguém que pode tornar a vida de outro alguém, digamos assim, 
“completa”” (GIDDENS, 1993, p. 50-51). Assim, utilizamos o termo amor romântico no sentido 
14 
 
como sinônimo de felicidade. Neste sentido, as histórias também apresentam a 
necessidade de se casar – casamento sempre heterossexual – para que se 
atinja a felicidade. 
É percebível também a ênfase de que a mulher deve sempre se 
preocupar em “ser bonita”, ser “do lar”. 
Neste sentido, Rosemberg (1975, p. 139), explana que: 
 
Se admitirmos o postulado da influência da leitura nos 
comportamentos, a literatura infanto-juvenil, através de seu conteúdo, 
está, pelo menos, reforçando padrões inadaptados de papéis sexuais. 
Apresentando estereótipos, e não realidade vivida, voltada para o 
passado, e não para o futuro. Propomos, então, o trabalho com 
algumas histórias que foram criadas com o intuito de fazer as 
pessoas entenderem, discutirem e analisarem sobre as 
padronizações instauradas em nossa sociedade. 
 
De fato, é necessário demonstrar conteúdos interessantes as crianças 
a fim de destacar a pluralidade encontrada em nossa sociedade para que haja 
uma desconstrução das normas e padrões impostos pela sociedade em que 
vivemos, pois muitas são as padronizações e normas que a sociedade impõe 
às pessoas, deixando evidente que caso fujam “às regras”, quem o fizer será 
punido de inúmeras maneiras, e uma dessas maneiras é a discriminação. 
Porém, alguns pensamentos nos são válidos: será que todos/as temos que ser 
iguais? A diferença entre as pessoas deve mesmo ser ridicularizada? Pensa-se 
que todo tipo de convivência é válido, desde que não faça mal ao próximo, ou 
seja, uma pessoa não querer se casar, por exemplo, não vai influenciar na vida 
de ninguém, logo, por que essa pessoa é mal vista perante a sociedade? 
Dito isto, é preciso falar o que se entende por gênero, nas palavras de 
Furlani (2011, p. 59-60): 
 
a) entende gênero como estudos relacionados a homens e mulheres, 
masculinidades e feminilidades; 
b) rejeitará o determinismo biológico e concederá ênfase cultural na 
distinção entre os “sexos”, as “sexualidades”, as “raças”, as “etnias”; 
c) [...] 
d) apontará para o caráter relacional e binário entre o masculino e o 
feminino, entre os homens e as mulheres num processo de 
construção social que é recíproco, excludente e assimétrico; 
 
de que uma pessoa só se sente completa ao viver com outra pessoa, como se isso fosse uma 
máxima social. 
 
15 
 
e) questionará o caráter universalizante das explicações ancoradas 
no determinismo biológico. As condições históricas e culturais de 
cada sociedade passam a ser determinantes na construção do 
gênero. 
 
Desta forma, entende-se por gênero as relações entre o masculino e o 
feminino, e estas características são construídas social e culturalmente, sendo 
entendidas como mutáveis e não estáveis. Nesse sentido, as relações entre 
homens e mulheres nem sempre são iguais em todo tempo e espaço. 
Neste momento, apresente-se alguns possíveis trabalhos com alunos e 
alunas da Educação Infantil e Ensino Fundamental, a fim de desconstruir 
conceitos que são postos como fixos pela sociedade em que vivemos. Assim, 
como muitos pais e professores se sentem perdidos ao ter de falar de sexo e 
gênero com as crianças, os livros funcionam como um intermediário para 
estabelecer esse contato. 
Segundo a Psicóloga da PUC-SP, Maria Sílvia de Ribeiro, “a educação 
na escola não concorre com a da família, elas se complementam”, pois a 
educação é responsabilidade do Estado e da família. Ainda, dita que: 
"Crianças têm sexo e gênero. A sexualidade faz parte da vida e do 
corpo desde o nascimento. Crianças sabem fazer reflexão, questionar 
e se posicionar. É mais do que justo que elas possam discutir essas 
relações. É um direito delas. " 
 
Segundo a especialista, a presença desses livros em sala de aula não 
implica apenas na discussão de preconceitos de gênero e orientação sexual, 
mas principalmente no direito da criança ao conhecimento. Dito isto, leva-nos a 
uma indagação feita por uma criança de 12 anos, na sanção do plano 
municipal de educação ao perguntar ao prefeito de São Paulo, Fernando 
Haddad: "Existem famílias com dois pais, com duas mães e na minha escola 
eu convivo com muitas pessoas que são homossexuais e bissexuais. Então eu 
penso, por que omitir a palavra 'gênero' nas escolas se ele já é tão presente 
nas nossas vidas?" Percebe-se que esta pergunta deve ser a mesma que 
milhares de crianças devem fazer a seus pais e/ou professores. Dessa forma, 
ratifica-se o que a especialista havia dito, não é só questão de falar de gênero, 
é um direito da criança ao conhecimento, a fazer parte dessa realidade. 
Nesse viés, expõem-se algumas histórias possíveis de serem 
trabalhadas em salas de aulas, e quiçá nas próprias famílias. 
16 
 
Na história “A Princesa Sabichona” (COLE, 1998) é possível realizar 
um trabalho acerca do amor romântico e do casamento como única fonte de 
felicidade entre as pessoas. Na história, a princesa não se casa e vive feliz 
“para sempre”. Da mesma forma, existem pessoas que não têm vontade de 
constituir um casamento, e nem por isso devem ser excluídas da sociedade ou 
vistas como pessoas diferentes. Simplesmente não querem casar-se. 
Outro livro que pode ser trabalhado é “Menino Brinca de Boneca?” 
(RIBEIRO, 2011), que apresenta inúmeros temas que possam ser discutidos. 
Com ele, é possível discutir as formas que meninos e meninas são 
ensinados/as a se comportarem até o desenvolvimento de suas condutas 
enquanto adultos/as. A história nos apresenta que não existe “problema” em 
menino ou menina brincar de boneca ou bola, desta forma, é plausível que seja 
revisto o que a sociedade impõe sobre os brinquedos dos meninos e das 
meninas. Cientificamente não existe essa “superstição” de que determinado 
brinquedo é de menino e outro é de menina. Meninos e meninas podem e 
devem brincar com o que lhe chamarem a atenção, sem medo, sem receio, 
sem estranheza. 
No livro “Ceci Tem Pipi” (LENAIN, 2004) é possível realizar um trabalho 
com discussões sobre as características de meninos e meninas. Nesse 
sentido, é interessante salientar que as atividades realizadas pelas pessoas 
não devem estar atreladas aos órgãos sexuais que cada uma dessas pessoas 
possui, ou seja, independe de se ter pênis ou vulva, cada um/uma realiza as 
atividades que se sentir bem. 
Com a história “Príncipe Cinderelo” (COLE, 2000) se torna interessante 
discutir o papel social dos gêneros. Geralmente nas histórias o príncipe é quem 
toma as atitudes a fim de encontrar o amor da sua vida, porém nesta narrativa 
o enredo é outro: a princesa toma a iniciativa em procurar o seu príncipe. 
Embora o conto também demonstre a questão do amor romântico e o 
casamento como fonte de felicidade para todos/as, é conveniente o trabalho 
acerca de quebrar o mito de que a mulher tem que sempre ser passiva à 
espera de alguém, e esse alguém é um homem. Aqui é colocado que o homem 
pode ser escolhido por uma mulher e que esse fato não o torna menos homem 
e nem deixa a mulher menos mulher. 
17 
 
O livro “Olivia tem dois pais” (companhia da letra, 2010), seria uma 
forma interessante de discutir que existem vários tipos de famílias. Nesta 
história, a curiosa menina Olivia tem dois pais, um brinca de bonecas com ela, 
o outro sabe cozinhar. Ela fica intrigada com isso. Surge outra dúvida: Quem 
vai lhe ensinar a usar maquiagem e salto alto se nenhuma mulher mora com 
eles três? 
Outra história, “Do Jeito que a Gente É”, de Márcia Leite, trabalharia o 
fato de todos se aceitarem do jeito que são. O adolescenteChico quer assumir 
para a família que é gay. Já Béa detesta sua aparência e quer aprender a se 
aceitar. A história dos dois personagens é contada com sensibilidade, leveza, 
emoção e sem clichês. 
Em “Meus dois pais” de Walcir Carrasco, tem-se a possibilidade de 
trabalhar a questão da aceitação do sexo dos pais, neste conto, o pai e a mãe 
de Naldo vão se divorciar. O garoto vai morar com o pai e um amigo dele, 
Celso, embora todo mundo seja contra isso. Tudo vai muito bem até dizerem 
para Naldo que seu pai é gay. Ele fica desnorteado, mas uma conversa resolve 
a situação: o menino entende que isso não muda o amor do pai por ele. 
Já no livro “A História de Júlia e Sua Sombra de Menino”, de Christian 
Bruel, Anne Galland e Anne Bozellec, os pais de Júlia não gostam nada, nada 
dos modos da filha: dizem que ela se parece com um menino em tudo que faz. 
Quando a sombra de Júlia fica igualzinha a de um menino, ela se sente triste e 
começa a questionar sua identidade. 
Por fim, em “Tal pai, Tal filho, de Georgina Martins, um menino decide 
se tornar bailarino, mas, para isso, precisa enfrentar o preconceito de seu 
próprio pai, que sempre lhe contou histórias de homens "cabras-machos" de 
sua terra. 
Diante do exposto, embora tenha inúmeros livros que envolva o 
contexto abordado, destaca-se que a formação das crianças deve sempre ser 
pautada em idéias de respeito e de convivência com as diferenças. Pois vive-
se em uma sociedade multifacetada, plural, diversificada, logo, todos os 
lugares que estiverem, sempre haverá pessoas diferentes de todos, e que isso 
não é motivo para que haja discriminação. 
A sociedade discute muito sobre sexo, sexualidade e suas vertentes, 
porém, as discussões que se apresentam são, muitas vezes, – na maioria 
18 
 
delas – munidas de preconceito, repressão, desconhecimento. Neste sentido, 
sobre os discursos acerca da sexualidade, Foucault (1998) afirma que a nossa 
sociedade talvez seja a que mais falou e fala sobre sexo. Nas palavras do 
autor, tem-se que “talvez nenhum outro tipo de sociedade jamais tenha 
acumulado, e num período histórico relativamente tão curto, tal quantidade de 
discurso sobre o sexo. Pode ser que falemos mais dele do que de qualquer 
outra coisa: obstinamo-nos nessa tarefa” (p. 39). 
 
4. Considerações finais 
Acredita-se que a educação seja um espaço para descobertas obtidas 
através da participação e colaboração ativa de cada criança com seus 
parceiros em todos os momentos, possibilitando, assim, a construção de 
sujeitos autônomos e cooperativos. É, portanto, através de um ensino por 
projetos, que a literatura infantil ganhará um sentido maior na vida das crianças 
dentro das escolas. O confronto de opiniões, a motivação, as interações sociais 
e o trabalho cooperativo possibilitarão à criança condições que asseguram o 
caráter formativo das atividades, através de uma boa orientação do professor, 
tendo a finalidade de esclarecer aos alunos o que devem fazer, como devem 
fazer, por que e para que fazer tal atividade, ou ler este ou aquele livro. Na 
literatura infantil, portanto, a criança aprende brincando em um mundo de 
imaginação, sonhos e fantasias. 
Porém, grande parte da Literatura se apresenta de forma ultrapassada, 
trazendo em seu conteúdo visões estereotipadas e com uma gama muito 
grande de preconceitos. É percebível, nos contos clássicos, tentativas de 
normalização, defendendo que a mulher deve sempre ser submissa e o homem 
deve sempre ser o ser atuante, ativo, que manda e tem poder. O casamento é 
a única fonte de alegria na vida de duas pessoas, bem como não existem 
pessoas homossexuais nestes contos. 
É importante ressaltar que é necessário que o/a professor/a tome 
conhecimento do conteúdo que está ensinando em sala de aula. Este é o 
primeiro passo para este trabalho de quebra de estereótipos: reconhecimento 
do conteúdo. Feito isso, é interessante que este/ta professor/a busque novos 
materiais, que contemplem a realidade vivida hoje em dia em nossa sociedade, 
com sua pluralidade, diversidade, diferenças. Neste sentido, se concorda com 
19 
 
César Nunes e Edna Silva (2006, p. 71) quando colocam que “uma educação 
sexual emancipatória busca identificar os estereótipos sexuais e questionar 
seus fundamentos e representações”. Logo, o trabalho do/a professor/a é 
sempre o de buscar questionamentos e discussões sobre os assuntos que são 
discutidos em sala de aula. 
Salienta-se, ainda, que toda forma de preconceito e discriminação, bem 
como falta de respeito, deve ser retirada dos discursos, das práticas, e em 
todas as relações com as pessoas, seja dentro ou fora das escolas. Às vezes, 
sem perceber, as pessoas se mostram preconceituosos/as, muitas vezes, 
receosos/as de permanecer diante do/a outro/a, os preconceitos ficam visíveis 
quando se dispara certas teorias munidas de discriminação sem o cuidado de 
observar que elas podem ferir algumas pessoas rotuladas como diferentes. 
 
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