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1 LITERATURA INFANTIL: UMA ALTERNATIVA PARA DIALOGAR SOBRE SEXO E GÊNERO COM CRIANÇAS NAS ESCOLAS Quilza da Silva e Silva1 Romyson dos Santos da Silva2 RESUMO: O presente artigo intitulado: Literatura Infantil: uma alternativa para dialogar sobre sexo e gênero com crianças nas escolas, tem como objetivo explanar como a literatura infantil pode ser usada para falar de sexo e gênero com crianças no espaço escolar, assim como refletir a importância da literatura infantil na formação da identidade da criança, uma vez que ao experimentar a leitura a criança executa um ato de compreensão e interpretação do mundo, e através dessa compreensão pode modificar ou ressignificar o contexto no qual está inserida. Utilizou-se preliminarmente o método de pesquisa hermenêutico em função de a pesquisa ter partido de referencial bibliográfico. Esse estudo em construção vem sendo trabalhado pelo Núcleo de Justiça Restaurativa – NEJUR, desenvolvido pelo grupo de pesquisa Sistema Punitivo e Violência de Gênero: ressignificando a cidadania a partir da Justiça Restaurativa promovida pela Faculdade Pitágoras do Maranhão. Palavras-chave: Escola; Literatura Infantil; Sexo e Gênero. ABSTRACT: This article entitled: Children's Literature: An alternative to dialogue about sex and gender with children in schools, aims to explain how children's literature can be used to talk about sex and gender with children at school, as well as reflect the importance of children's literature in the child's identity formation. since the experience reading the child performs an act of understanding and interpretation of the world, and through this understanding can modify or reframe the context in which it is inserted. We used the method of preliminarily hermeneutic research because of the research have referential party bibliográfico.Esse study under construction has 1 Graduanda em Direito e Bolsista de Iniciação Científica da Faculdade Pitágoras em São Luís- MA. Integrante do grupo de pesquisa Sistema Punitivo e Violência de Gênero: Ressignificando a cidadania a partir da justiça restaurativa desenvolvida pelo Núcleo de estudos sobre Justiça Restaurativa – NEJUR. quilzasilva@yahoo.com.br 2 Graduando em Direito e Bolsista de Iniciação Científica da Faculdade Pitágoras em São Luís- MA. Integrante do grupo de pesquisa Sistema Punitivo e Violência de Gênero: Ressignificando a cidadania a partir da justiça restaurativa desenvolvida pelo Núcleo de estudos sobre Justiça Restaurativa – NEJUR. romysonsantos@hotmail.com 2 been worked by the Restorative Justice Center - NEJUR developed by the research group Punitive System and Gender Violence: giving new meaning to citizenship from the restorative justice promoted by the Faculty Pythagoras of Maranhao. Keywords: School; Children's literature; sex and gender. INTRODUÇÃO A leitura se faz muito importante em nossas vidas, através dela pode- se aprender, ensinar e conhecer outras culturas. A sua grandiosidade deve ser compreendida como uma leitura que permita a viagem no mundo da imaginação, tão presente na infância. O desenvolvimento da imaginação infantil quando compartilhado, divulgado e aplaudido faz do sujeito alguém envolvido com as idéias, compreensivo, crítico e modificador das situações prazerosas ou não, torna-se alguém com ideais. Quem conta histórias precisa criar um clima de envolvimento; e o objetivo desse trabalho é mostrar a importância da literatura infantil e também a importância das pessoas que contam as histórias na educação infantil; e acima de tudo incentivam as descobertas através dos livros. Desta forma, ouvir ou ler história é como entrar em um mundo encantador, cheio ou não de mistérios e surpresas, mas sempre muito interessante, curioso, que diverte e ensina. É na exploração da fantasia e da imaginação que se instiga a criatividade e se fortalece a interação entre texto e leitor. Na interação da criança com a obra literária está a riqueza dos aspectos formativos nela apresentados de maneira fantástica, lúdica e simbólica. A intensificação dessa interação, através de procedimentos pedagógicos adequados, leva a criança a uma maior compreensão do texto e a uma compreensão mais abrangente do contexto. Uma obra literária é aquela que mostra a realidade de forma nova e criativa, deixando espaços para que o leitor descubra o que está nas entrelinhas do texto. A literatura infantil, portanto, não pode ser utilizada apenas como um "pretexto" para o ensino da leitura e para o incentivo à formação do hábito de ler. Para que a obra literária seja utilizada como um objeto mediador de conhecimento, ela necessita estabelecer relações entre teoria e prática, possibilitando ao professor atingir determinadas finalidades educativas. Para 3 tanto, uma metodologia baseada em um ensino por projetos é uma das possibilidades que tem evidenciado bons resultados no ensino de língua materna. 1. O QUE É LITERATURA INFANTIL? Antes de dar início a falar sobre o conceito se faz necessário um breve relato sobre a história da literatura infantil, esta está intimamente ligada à história da própria concepção de “infância” e os primeiros livros para crianças foram produzidos somente no final do séc. XVII e durante o séc. XVIII, antes disso, não se escrevia para crianças, pois não existia o que chamamos hoje de “infância”; as crianças e os adultos compartilhavam dos mesmos eventos sociais. Foi com o advento de uma nova classe social, a burguesia e a valorização de um modelo familiar burguês, onde a criança ganha um enfoque de reprodução da classe, por isso um interesse maior na sua educação e na transmissão de valores burgueses. A literatura infantil nasce então neste momento com o intuito de transmitir os valores deste novo modelo familiar centrado na valorização da vida doméstica, fundada no casamento e na educação de herdeiros. Neste sentido, Zilberman (1985) faz algumas alusões assinalando que a mesma “expande-se como gênero literário a partir do momento em que a infância passa a ser considerada não apenas uma faixa etária diferenciada” (p. 98), ainda afirma que a Literatura Infantil surge quando a infância passa a ser considerada “um período da existência com características singulares, que requer cuidados especiais e atendimento particularizado”. De fato, o autor tem razão, pois acredita-se que nessa época, os livros eram usados como uma ponte entre a cultura e a criança. Os livros infantis tinham conteúdos centrais à pátria, o sentimento de família, de obediências, os valores morais e a prática das virtudes por isso tinham sempre como personagens centrais, as crianças e os animais. Neste sentido, vale lembrar que Souza (2010), afirma que a Literatura infantil surgiu direcionada às crianças burguesas, com o advento do Capitalismo, adquirindo novas formas e novas características para atender esse público. Ela surge em meio ao capitalismo com intuito de vender esse 4 material à classe das crianças, que podem ser vistas como fortes consumidoras. Nesta época a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta. Antes disso, a criança, acompanhando a vida social do adulto, participava também de sua literatura. Existiam no século XVIII, duas realidades. A criança da nobreza, orientada por preceptores, lia geralmente os grandes clássicos, enquanto a criança das classes desprivilegiadas lia ou ouvia as históriasde cavalaria, de aventuras. As lendas e contos folclóricos formavam uma literatura de cordel de grande interesse das classes populares. Devido à concepção de infância que estava se constituindo, fez-se necessário novos mecanismos para “equipar” e “preparar” a criança para enfrentar mais tarde o meio social. A escola tornou-se, então, uma instituição legalmente aberta, não só para a burguesia, mas para todos os segmentos da sociedade e a literatura infantil vem, então validar esse processo de escolarização; isto porque, como a escola “ trabalha sobre a língua escrita, ela depende da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem esta passado pelo crivo da escola” (Lajolo e Zilberman, 1991, p. 18) A literatura infantil desde a origem sempre foi ligada à diversão ou ao aprendizado das crianças, acreditava-se que seu conteúdo deveria ser adequado ao nível da compreensão e interesse desse peculiar destinatário. Como a criança era vista como um adulto em miniatura, os primeiros textos infantis resultaram de adaptações ou da minimização de textos escritos para os adultos. Expurgadas as dificuldades de linguagem, as digressões ou reflexões que estariam acima do que eles consideravam possível para a compreensão infantil; retiradas as situações de conflitos não exemplares e realçando principalmente as ações ou peripécias de caráter aventuroso ou exemplar, as obras literárias eram reduzidas em seu valor intrínseco, mas atingiam o novo objetivo; atrair o pequeno leitor/ouvinte e levá-lo a participar das diferentes experiências que a vida pode proporcionar ao nível do real ou do maravilhoso. De fato, a literatura infantil leva a criança a um mundo de sonhos, imaginações e fantasias, tudo atrelado a realidade. Neste diapasão, Coelho (1991) destaca que a Literatura Infantil é: Abertura para a formação de uma nova mentalidade, além de ser um instrumento de emoções, diversão ou prazer, desempenhada pelas histórias, mitos, lendas, poemas, contos, teatro, etc., criadas pela imaginação poética, ao nível da mente infantil, que objetiva a educação integral da criança, propiciando-lhe a educação humanística e ajudando-a na formação de seu próprio estilo. 5 A literatura infantil leva a criança à descoberta do mundo, onde sonhos e realidade se incorporam, onde a realidade e a fantasia estão intimamente ligadas, fazendo a criança viajar, descobrir e atuar num mundo mágico, podendo modificar a realidade, seja ela boa ou ruim. Jesualdo (1978, p.19) define literatura infantil como “um dos aspectos da literatura dentre as várias modalidades artísticas”, é a literatura que se preocupa com histórias para crianças, é forma literária voltada para a psique infantil, com vocabulário adequado ao conhecimento e à compreensão da criança. Encontra-se, também, essa preocupação de cunho psicológico na definição de Bruno Bettelhein (2007, p.12) que entende por literatura infantil aquela que objetiva “desenvolver a mente e a personalidade da criança” e não só divertir e informar; como a que se deve ter significado para a criança, isto é, transmitir as experiências da vida. Ainda de acordo com o mesmo autor a literatura, principalmente a dos contos de fadas é o melhor canal para ensinar o “significado” para a criança, uma vez que ao ouvir uma história a criança, também, pode conhecer os padrões morais de uma sociedade, levando, assim, para o seu cotidiano, os conceitos presentes nas histórias. Para Oliveira (1978, p.13) a literatura infantil é como “alimento do espírito da criança”. Assim, a literatura infantil pode ser comparada com a própria alimentação destinada à criança. Ela pode variar um pouco no sabor, na consistência, mas terá de conter os mesmos nutrientes em qualidade, da alimentação de um adulto. A literatura proporciona nutrientes imprescindíveis para a formação intelectual da criança. 2. O livro infantil e a escola Responsável pela transformação social do aluno, a escola deve sempre se basear no princípio da vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais previstas no art.3º da lei 9394/96. Tomando por base a idéia de que o pleno exercício de uma prática social serve como instrumento para o exercício da cidadania, a escola em conjunto com a comunidade e o próprio Estado deve promover meios para que o aluno, excluído das relações sociais sinta-se capaz de ser um cidadão ativo, crítico, reflexivo e consciente de seus direitos e obrigações. 6 Nesse contexto, torna-se importante a LDB 9394/96 no sentido de garantir ao ambiente escolar as diretrizes, direitos e deveres do aluno na promoção do pleno desenvolvimento. De acordo com o art. 2º da referida lei temos: A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Dessa maneira, fica claro que o Estado, juntamente com a família, é incumbido pelo pleno desenvolvimento intelectual e para o livre exercício da cidadania e do trabalho do alunado. Isto em observância dos princípios da dignidade e da solidariedade. Pois, quando a escola visa apenas à capacidade intelectual, o aluno perde valores pautados em princípios éticos e morais, baseando-se única e exclusivamente numa concepção egocêntrica e individualista. Posto isso é que o ensino e a aprendizagem devem ter como foco os seguintes princípios: Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; A escola deve ter como pressuposto os princípios acima citados para a garantia da efetivação da transformação social do discente. Quando renegados tais princípios perde-se o respeito entre os atores da comunidade escolar, haja vista que, como já exposto no corpo trabalho, a violência é um fenômeno social que ocorre em larga escala e em muitos casos são trazidos do ambiente externo e incorporados na escola. Ainda de acordo com a LDB em seu art. 29, dispõe: Art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem com finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Da análise deste artigo, de fato, há a necessidade e é dever da escola enquanto representante do Estado, de que a educação infantil promova o 7 desenvolvimento do indivíduo em todos os seus aspectos, de forma integral e integrada, constituindo-se no alicerce para o pleno desenvolvimento do educando. O desenvolvimento integral da criança na faixa etária de 0 a 6 anos torna-se imprescindível a indissociabilidade das funções de educar e cuidar. Sendo a ação da educação infantil complementar a da família e a da comunidade, deve estar com essas articuladas, o que envolve a busca constante do diálogo com as mesmas, mas também implica um papel específico das instituições de educação infantil no sentido de ampliação das experiências, dos conhecimentos da criança, seu interesse pelo ser humano, pelo processo de transformação da natureza e pela convivência em sociedade. O artigo anterior permite que se analise a relação entre escola e a literatura infantil como uma alternativa para dialogar sobre sexo e gênero com as crianças, visto que a escola não é impermeável aos fenômenos sociais, e a realidade no que diz respeito a falar de sexo e gênero já “bate a porta” pois independente de tudo, atinge diretamente a sociedade como um todo. Nesta vertente, Cademartori (1994, p.23), afirma que ... a literatura infantil se configura não só como instrumentode formação conceitual, mas também de emancipação da manipulação da sociedade. Se a dependência infantil e a ausência de um padrão inato de comportamento são questões que se interpenetram, configurando a posição da criança na relação com o adulto, a literatura surge como um meio de superação da dependência e da carência por possibilitar a reformulação de conceitos e a autonomia do pensamento. A criança que desde muito cedo entra em contato com a obra literária escrita para ela terá uma compreensão maior de si e do outro. Terá a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo e ampliar os horizontes da cultura e do conhecimento, percebendo o mundo e a realidade que a cerca. Para Bettelheim (1996): Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança (p.20). Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de aprendizagem. Entre elas estão os valores apontados no texto, os quais poderão ser objeto de 8 diálogo com as crianças, possibilitando a troca de opiniões e o desenvolvimento de sua capacidade de expressão. O estabelecimento de relações entre os comportamentos dos personagens da história e os comportamentos das próprias crianças em nossa sociedade possibilita ao professor desenvolver os múltiplos aspectos educativos da literatura infantil. Experiências felizes com a literatura infantil em sala de aula são aquelas em que a criança interage com os diversos textos trabalhados de tal forma que possibilite o entendimento do mundo em que vivem e que construam, aos poucos, seu próprio conhecimento. Para alcançarmos um ensino de qualidade, se faz necessário que o professor descubra critérios e que saiba selecionar as obras literárias a serem trabalhadas com as crianças. Ele precisa desenvolver recursos pedagógicos capazes de intensificar a relação da criança com o livro e com seus próprios colegas. Segundo Bettelheim (1996): Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam ... (p.13). Ao trazer a literatura infantil para a sala de aula, o professor estabelece uma relação dialógica com o aluno, o livro, sua cultura e a própria realidade. Além de contar ou ler a história, ele cria condições em que a criança trabalhe com a história a partir de seu ponto de vista, trocando opiniões sobre ela, assumindo posições frente aos fatos narrados, defendendo atitudes e personagens, criando novas situações através das quais as próprias crianças vão construindo uma nova história. Uma história que retratará alguma vivência da criança, ou seja, sua própria história. De acordo com Abramovich (1995, p.17), ler histórias para crianças, sempre, sempre ... É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a idéia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento ... É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões (como as personagens fizeram ...). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos - dum jeito ou de outro - através dos problemas que vão sendo defrontados, 9 enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história (cada uma a seu modo) ... É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança) ... e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas ... Portanto, a conquista do pequeno leitor se dá através da relação prazerosa com o livro infantil, onde sonho, fantasia e imaginação se misturam numa realidade única, e o levam a vivenciar as emoções em parceria com os personagens da história, introduzindo assim situações da realidade. é ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve - com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar ... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário! (Abramovich, 1995, p. 17). Com certeza, a criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, e com beleza, para organizar seu “mundo mágico”, seu universo possível, onde ela é dona absoluta: constrói e destrói. Constrói e cria, realizando tudo o que ela deseja. A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, com riqueza. É uma forma de conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, como a terra agreste, que se aduba e enriquece, produz frutos sazonados (CARVALHO, 1989, p.21). Isso explica o fato dos contos de fadas serem fascinantes até os dias atuais, pois atingem diretamente o imaginário da criança, pois a criança possui ainda uma sensibilidade estética muitas vezes mais apurada que o adulto. “A criança mistura-se com as personagens de maneira muito mais íntima do que o adulto.” (Benjamin, 2002. p. 105). De fato, os contos infantis possibilitam o despertar de diferentes emoções e a ampliação de visões de mundo do leitor infantil. E nesse encontro com a fantasia, a criança entra em contato com seu mundo interior, dialoga com seus sentimentos mais secretos, confronta seus medos e desejos escondidos, supera seus conflitos e alcança o equilíbrio necessário para seu crescimento. “O espírito da criança precisa do drama, da movimentação das personagens, da soma das experiências populares e tudo isso dito por meio das mais elevadas formas de expressão e com inegável elevação de pensamento”. (Sosa, 1978, p.19) Por meio da projeção da criança nos contos 10 infantis, ela vive intensamente seus conflitos, medos e dúvidas. Referimos à projeção da criança nos contos infantis e ilustrações, considerando o pensamento de Benjamin, quando nos diz que “não são as coisas que saltam das páginas em direção à criança que as vai imaginando - a própria criança penetra nas coisas durante o contemplar, como nuvem que se impregna do esplendor colorido desse mundo pictórico”. (Benjamin, 2002, p.69). É por meio do imaginário que a criança reconhece suas próprias dificuldades e aprende a lidar com elas, podendo assim, se reconhecer melhor e se conhecer como parte integrante do mundo que a cerca. Nesta lógica, o professor é considerado a figura dominante e guardião do saber. O aluno é vencido pelo ambiente escolar, sendo peça a ser moldada conforme a visão do adulto. É obrigado seguir o que o professor determina. O uso da literatura infantil restringe ao serviço do processo de manipulação da criança, cumprindo o papel de transmissor de conhecimento conforme o desejo do adulto. O professor, figura dominante, utiliza a literatura infantil para transmitir normas de obediência e bom comportamento. A etapa do imagismo ocupa uma pequena faixa de tempo na vida da criança, quando a lógica característica da criança é substituída naturalmente pela lógica própria do adulto. Sosa (1978) explica que não é a moral da história que fica registrada como experiências de conhecimento, mas o que ficaregistrada na alma da criança é o acontecimento dramático da fábula, as espertezas e astucia embutidas nas ações das personagens. É o drama apresentado na fábula que dialogará com seu mundo íntimo e colaborará no conhecimento que necessitará para seu desenvolvimento. O encantamento que a literatura infantil proporciona ao leitor permanecera sempre e em todos os lugares. Para isso o livro precisa atender as necessidades da criança, que seriam: povoar a imaginação, estimular a curiosidade, divertir e por último, sem imposições, educar e instruir. Como afirma Oliveira: Os livros infantis, além de proporcionarem prazer, contribuem para o enriquecimento intelectual das crianças. Sendo esse gênero objeto da cultura, a criança tem um encontro significativo de suas histórias com o mundo imaginativo dela própria. A criança tem a capacidade de colocar seus próprios significados nos textos que lê, isso quando o adulto permite e não impõe os seus próprios significados, visto estar 11 em constante busca de uma utilidade que o cerca. (OLIVEIRA, 2005, p. 125) Sendo assim, entende-se que a Literatura Infantil é arte literária, destinada a determinado a nutrir a imaginação das crianças. Cabe, então, a escola a responsabilidade de inserir a criança ao mundo da leitura, e principalmente, transformar esses “mini leitores” em leitores permanentemente interessados. É importante lembrar que os livros literários não são livros paradidáticos, mesmo que muitos professores esvaziem seu significado, utilizando-os com o mesmo fim. “O texto literário é aquele que não possui compromisso com o leitor, com os textos paradidáticos ou com o texto didático. Ele é estética, criação, imaginário, fantasia, pensamento e atitude.” (Almeida, 2008, p.51). Estas características do texto literário, por sua vez, podem desencadear, como conseqüência, a construção da criatividade nos educandos. Acredita-se que a literatura vem solidificar o espaço da leitura na escola enquanto formação de leitores, sendo assim, torna-se importante que o educador não dê a todos os gêneros textuais, um caráter utilitário, porque o prazer de ler está relacionado ao prazer de criar novas situações, de adentrar num mundo diferente através das histórias infantis, num mundo de sonhos e ações dos personagens das histórias infantis, desmistificando preconceitos, relacionando fatos com sua própria vida, pensando assim, uma forma de tornar o mundo compreensível e mais humano. Pois, a literatura, ao nos convidar para o contato com diferentes emoções e visões de mundo, proporciona condições para o crescimento interior, possibilitando a formação de parâmetros individuais para medir e codificar seus próprios sentimentos e ações (Cagneti E Zotz, 1986, p.23). De outro ponto de vista, Abramovich (1997, p.143) discute como desenvolver por intermédio da literatura, o potencial crítico da criança. Argumenta que por meio de um material literário de qualidade, a criança é capaz de pensar criticamente e reformular seu pensamento. Considerando aqui, como qualidade do material literário para o bom desempenho do processo da formação do leitor literário, textos que apresentam uma proposta ficcional que atenta o imaginário dos leitores e os excita a compor novas possibilidades para perceber o mundo a sua volta. Contrariando, desta forma, os textos que 12 objetivam inculcar valores, mudar comportamentos ou informar ao leitor, por meio da história ficcional ou dos personagens, sobre determinado assunto. No entanto, é preciso rever a postura do educador que se preocupa em formar leitores sem analisar profundamente para quê quer formar leitores. Essa revisão implicará, sem dúvida, na construção e uso de uma metodologia mais adequada para a formação do leitor literário, promovendo como práticas literárias na escola a leitura efetiva dos textos, rompendo com atividades estéreis de literatura, ou seja, que exigem o domínio das informações sobre a literatura ou impera a idéia que o importante é que o aluno leia, não importando o que, pois o que o importa é prazer de ler. “Ao contrário, é fundamental que seja organizada segundo os objetivos da formação do aluno, compreendendo que a Cadernos da Pedagogia. “A literatura tem um papel a cumprir no âmbito escolar.” (Cosson, 2007, p. 23). Papel este, que permita que a leitura literária seja exercida com prazer, mas, também, com o compromisso construção do conhecimento, já que na escola, a literatura é um lócus de conhecimento e deve ser desenvolvida de maneira correta com o objetivo de formar o sujeito intelectualmente e eticamente mais humanizado. O insucesso na formação do bom leitor ocorre quando a escola denota a importância ao aluno que lê, não importando com o que se lê, pois a escola concebe a literatura como mera fruição. Magnani alerta-nos sobre a liberdade de escolha da leitura dos alunos: Se propomos ao aluno que ele deve ler apenas o que gosta, não podemos nos esquecer de que esse gosto não é tão natural assim. Pelo contrário, é profundamente marcado pelas condições sociais e culturais de acesso aos códigos de leitura e escrita. (MAGNANI, 2001, p. 63) Desta forma, entendemos que o simples fato de saber ler não transforma o indivíduo em leitor competente, mas sim, na medida em que são desafiados por leituras progressivamente mais complexas e que compartilham suas visões de mundo, é que se tornam leitores literários. Cosson define o bom leitor como “aquele que agencia com os textos os sentidos do mundo, compreendendo que a leitura é um concerto de muitas vozes e nunca um monólogo. Por isso, o ato físico de ler pode até ser solitário, mas nunca deixa de ser solidário.” (Cosson, 2007, p.27) Sendo assim, torna-se imprescindível ressaltar que os educadores precisam ver o aluno como parte essencial deste processo, promovendo a 13 interação texto-leitor, não podendo fazer do processo educativo uma corrente de mão única. Como afirma Cosson “Ler implica troca de sentidos não só entre o escritor e leitor, mas também com a sociedade onde ambos estão localizados, pois os sentidos são resultado de compartilhamentos de visões do mundo entre os homens no tempo e no espaço.” (Cosson, 2007, p. 27) Para isso, torna-se inevitável pensar a qualidade do material literário oferecido aos alunos e a formação dos professores mediadores da leitura literária. Pois, a imaginação permite-nos desenvolver o pensamento criativo, fundamental para nossa inserção no mundo. Contudo, a escola pouco valoriza e trabalha a imaginação, como se ela fosse apenas resultado de uma racionalidade pouco desenvolvida na criança, como se, ao longo do processo de desenvolvimento, a imaginação fosse substituída pela razão, característica do pensamento adulto. 3. Literatura Infantil: algumas histórias possíveis de serem trabalhadas (quebrando os estereótipos) nas escolas. Sabe-se que existem inúmeras histórias clássicas dentro da Literatura Infantil que vêm sendo utilizadas por professores/as dentro da sala de aula a fim de subsidiar os trabalhos pedagógicos. Como exemplos têm-se: Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderela, A Bela e a Fera, A Bela Adormecida. Estas histórias tendem a relatar, um contexto social que foge da realidade, ultrapassado, neste tipo de histórias homens e mulheres são apresentados como parte da nossa sociedade e não totalidade, apresentando o homem com um ser sempre forte, bravo, valente, viril; já a mulher é apresentada como frágil, submissa, sem vontades próprias, destinada a ser a mulher do “lar”. Nesta vertente, acredita-se que os materiais pedagógicos utilizados dentro da sala de aula deve acompanhar a realidade da sociedade. Pois a sociedade mudou e alguns materiais utilizados dentro das escolas se estagnaram no tempo. Nestes contos, todos são considerados amor romântico3 e o casamento3 O amor romântico começou “a marcar a sua presença a partir do final do século XVIII”, ele “é um processo de atração por alguém que pode tornar a vida de outro alguém, digamos assim, “completa”” (GIDDENS, 1993, p. 50-51). Assim, utilizamos o termo amor romântico no sentido 14 como sinônimo de felicidade. Neste sentido, as histórias também apresentam a necessidade de se casar – casamento sempre heterossexual – para que se atinja a felicidade. É percebível também a ênfase de que a mulher deve sempre se preocupar em “ser bonita”, ser “do lar”. Neste sentido, Rosemberg (1975, p. 139), explana que: Se admitirmos o postulado da influência da leitura nos comportamentos, a literatura infanto-juvenil, através de seu conteúdo, está, pelo menos, reforçando padrões inadaptados de papéis sexuais. Apresentando estereótipos, e não realidade vivida, voltada para o passado, e não para o futuro. Propomos, então, o trabalho com algumas histórias que foram criadas com o intuito de fazer as pessoas entenderem, discutirem e analisarem sobre as padronizações instauradas em nossa sociedade. De fato, é necessário demonstrar conteúdos interessantes as crianças a fim de destacar a pluralidade encontrada em nossa sociedade para que haja uma desconstrução das normas e padrões impostos pela sociedade em que vivemos, pois muitas são as padronizações e normas que a sociedade impõe às pessoas, deixando evidente que caso fujam “às regras”, quem o fizer será punido de inúmeras maneiras, e uma dessas maneiras é a discriminação. Porém, alguns pensamentos nos são válidos: será que todos/as temos que ser iguais? A diferença entre as pessoas deve mesmo ser ridicularizada? Pensa-se que todo tipo de convivência é válido, desde que não faça mal ao próximo, ou seja, uma pessoa não querer se casar, por exemplo, não vai influenciar na vida de ninguém, logo, por que essa pessoa é mal vista perante a sociedade? Dito isto, é preciso falar o que se entende por gênero, nas palavras de Furlani (2011, p. 59-60): a) entende gênero como estudos relacionados a homens e mulheres, masculinidades e feminilidades; b) rejeitará o determinismo biológico e concederá ênfase cultural na distinção entre os “sexos”, as “sexualidades”, as “raças”, as “etnias”; c) [...] d) apontará para o caráter relacional e binário entre o masculino e o feminino, entre os homens e as mulheres num processo de construção social que é recíproco, excludente e assimétrico; de que uma pessoa só se sente completa ao viver com outra pessoa, como se isso fosse uma máxima social. 15 e) questionará o caráter universalizante das explicações ancoradas no determinismo biológico. As condições históricas e culturais de cada sociedade passam a ser determinantes na construção do gênero. Desta forma, entende-se por gênero as relações entre o masculino e o feminino, e estas características são construídas social e culturalmente, sendo entendidas como mutáveis e não estáveis. Nesse sentido, as relações entre homens e mulheres nem sempre são iguais em todo tempo e espaço. Neste momento, apresente-se alguns possíveis trabalhos com alunos e alunas da Educação Infantil e Ensino Fundamental, a fim de desconstruir conceitos que são postos como fixos pela sociedade em que vivemos. Assim, como muitos pais e professores se sentem perdidos ao ter de falar de sexo e gênero com as crianças, os livros funcionam como um intermediário para estabelecer esse contato. Segundo a Psicóloga da PUC-SP, Maria Sílvia de Ribeiro, “a educação na escola não concorre com a da família, elas se complementam”, pois a educação é responsabilidade do Estado e da família. Ainda, dita que: "Crianças têm sexo e gênero. A sexualidade faz parte da vida e do corpo desde o nascimento. Crianças sabem fazer reflexão, questionar e se posicionar. É mais do que justo que elas possam discutir essas relações. É um direito delas. " Segundo a especialista, a presença desses livros em sala de aula não implica apenas na discussão de preconceitos de gênero e orientação sexual, mas principalmente no direito da criança ao conhecimento. Dito isto, leva-nos a uma indagação feita por uma criança de 12 anos, na sanção do plano municipal de educação ao perguntar ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad: "Existem famílias com dois pais, com duas mães e na minha escola eu convivo com muitas pessoas que são homossexuais e bissexuais. Então eu penso, por que omitir a palavra 'gênero' nas escolas se ele já é tão presente nas nossas vidas?" Percebe-se que esta pergunta deve ser a mesma que milhares de crianças devem fazer a seus pais e/ou professores. Dessa forma, ratifica-se o que a especialista havia dito, não é só questão de falar de gênero, é um direito da criança ao conhecimento, a fazer parte dessa realidade. Nesse viés, expõem-se algumas histórias possíveis de serem trabalhadas em salas de aulas, e quiçá nas próprias famílias. 16 Na história “A Princesa Sabichona” (COLE, 1998) é possível realizar um trabalho acerca do amor romântico e do casamento como única fonte de felicidade entre as pessoas. Na história, a princesa não se casa e vive feliz “para sempre”. Da mesma forma, existem pessoas que não têm vontade de constituir um casamento, e nem por isso devem ser excluídas da sociedade ou vistas como pessoas diferentes. Simplesmente não querem casar-se. Outro livro que pode ser trabalhado é “Menino Brinca de Boneca?” (RIBEIRO, 2011), que apresenta inúmeros temas que possam ser discutidos. Com ele, é possível discutir as formas que meninos e meninas são ensinados/as a se comportarem até o desenvolvimento de suas condutas enquanto adultos/as. A história nos apresenta que não existe “problema” em menino ou menina brincar de boneca ou bola, desta forma, é plausível que seja revisto o que a sociedade impõe sobre os brinquedos dos meninos e das meninas. Cientificamente não existe essa “superstição” de que determinado brinquedo é de menino e outro é de menina. Meninos e meninas podem e devem brincar com o que lhe chamarem a atenção, sem medo, sem receio, sem estranheza. No livro “Ceci Tem Pipi” (LENAIN, 2004) é possível realizar um trabalho com discussões sobre as características de meninos e meninas. Nesse sentido, é interessante salientar que as atividades realizadas pelas pessoas não devem estar atreladas aos órgãos sexuais que cada uma dessas pessoas possui, ou seja, independe de se ter pênis ou vulva, cada um/uma realiza as atividades que se sentir bem. Com a história “Príncipe Cinderelo” (COLE, 2000) se torna interessante discutir o papel social dos gêneros. Geralmente nas histórias o príncipe é quem toma as atitudes a fim de encontrar o amor da sua vida, porém nesta narrativa o enredo é outro: a princesa toma a iniciativa em procurar o seu príncipe. Embora o conto também demonstre a questão do amor romântico e o casamento como fonte de felicidade para todos/as, é conveniente o trabalho acerca de quebrar o mito de que a mulher tem que sempre ser passiva à espera de alguém, e esse alguém é um homem. Aqui é colocado que o homem pode ser escolhido por uma mulher e que esse fato não o torna menos homem e nem deixa a mulher menos mulher. 17 O livro “Olivia tem dois pais” (companhia da letra, 2010), seria uma forma interessante de discutir que existem vários tipos de famílias. Nesta história, a curiosa menina Olivia tem dois pais, um brinca de bonecas com ela, o outro sabe cozinhar. Ela fica intrigada com isso. Surge outra dúvida: Quem vai lhe ensinar a usar maquiagem e salto alto se nenhuma mulher mora com eles três? Outra história, “Do Jeito que a Gente É”, de Márcia Leite, trabalharia o fato de todos se aceitarem do jeito que são. O adolescenteChico quer assumir para a família que é gay. Já Béa detesta sua aparência e quer aprender a se aceitar. A história dos dois personagens é contada com sensibilidade, leveza, emoção e sem clichês. Em “Meus dois pais” de Walcir Carrasco, tem-se a possibilidade de trabalhar a questão da aceitação do sexo dos pais, neste conto, o pai e a mãe de Naldo vão se divorciar. O garoto vai morar com o pai e um amigo dele, Celso, embora todo mundo seja contra isso. Tudo vai muito bem até dizerem para Naldo que seu pai é gay. Ele fica desnorteado, mas uma conversa resolve a situação: o menino entende que isso não muda o amor do pai por ele. Já no livro “A História de Júlia e Sua Sombra de Menino”, de Christian Bruel, Anne Galland e Anne Bozellec, os pais de Júlia não gostam nada, nada dos modos da filha: dizem que ela se parece com um menino em tudo que faz. Quando a sombra de Júlia fica igualzinha a de um menino, ela se sente triste e começa a questionar sua identidade. Por fim, em “Tal pai, Tal filho, de Georgina Martins, um menino decide se tornar bailarino, mas, para isso, precisa enfrentar o preconceito de seu próprio pai, que sempre lhe contou histórias de homens "cabras-machos" de sua terra. Diante do exposto, embora tenha inúmeros livros que envolva o contexto abordado, destaca-se que a formação das crianças deve sempre ser pautada em idéias de respeito e de convivência com as diferenças. Pois vive- se em uma sociedade multifacetada, plural, diversificada, logo, todos os lugares que estiverem, sempre haverá pessoas diferentes de todos, e que isso não é motivo para que haja discriminação. A sociedade discute muito sobre sexo, sexualidade e suas vertentes, porém, as discussões que se apresentam são, muitas vezes, – na maioria 18 delas – munidas de preconceito, repressão, desconhecimento. Neste sentido, sobre os discursos acerca da sexualidade, Foucault (1998) afirma que a nossa sociedade talvez seja a que mais falou e fala sobre sexo. Nas palavras do autor, tem-se que “talvez nenhum outro tipo de sociedade jamais tenha acumulado, e num período histórico relativamente tão curto, tal quantidade de discurso sobre o sexo. Pode ser que falemos mais dele do que de qualquer outra coisa: obstinamo-nos nessa tarefa” (p. 39). 4. Considerações finais Acredita-se que a educação seja um espaço para descobertas obtidas através da participação e colaboração ativa de cada criança com seus parceiros em todos os momentos, possibilitando, assim, a construção de sujeitos autônomos e cooperativos. É, portanto, através de um ensino por projetos, que a literatura infantil ganhará um sentido maior na vida das crianças dentro das escolas. O confronto de opiniões, a motivação, as interações sociais e o trabalho cooperativo possibilitarão à criança condições que asseguram o caráter formativo das atividades, através de uma boa orientação do professor, tendo a finalidade de esclarecer aos alunos o que devem fazer, como devem fazer, por que e para que fazer tal atividade, ou ler este ou aquele livro. Na literatura infantil, portanto, a criança aprende brincando em um mundo de imaginação, sonhos e fantasias. Porém, grande parte da Literatura se apresenta de forma ultrapassada, trazendo em seu conteúdo visões estereotipadas e com uma gama muito grande de preconceitos. É percebível, nos contos clássicos, tentativas de normalização, defendendo que a mulher deve sempre ser submissa e o homem deve sempre ser o ser atuante, ativo, que manda e tem poder. O casamento é a única fonte de alegria na vida de duas pessoas, bem como não existem pessoas homossexuais nestes contos. É importante ressaltar que é necessário que o/a professor/a tome conhecimento do conteúdo que está ensinando em sala de aula. Este é o primeiro passo para este trabalho de quebra de estereótipos: reconhecimento do conteúdo. Feito isso, é interessante que este/ta professor/a busque novos materiais, que contemplem a realidade vivida hoje em dia em nossa sociedade, com sua pluralidade, diversidade, diferenças. Neste sentido, se concorda com 19 César Nunes e Edna Silva (2006, p. 71) quando colocam que “uma educação sexual emancipatória busca identificar os estereótipos sexuais e questionar seus fundamentos e representações”. Logo, o trabalho do/a professor/a é sempre o de buscar questionamentos e discussões sobre os assuntos que são discutidos em sala de aula. Salienta-se, ainda, que toda forma de preconceito e discriminação, bem como falta de respeito, deve ser retirada dos discursos, das práticas, e em todas as relações com as pessoas, seja dentro ou fora das escolas. Às vezes, sem perceber, as pessoas se mostram preconceituosos/as, muitas vezes, receosos/as de permanecer diante do/a outro/a, os preconceitos ficam visíveis quando se dispara certas teorias munidas de discriminação sem o cuidado de observar que elas podem ferir algumas pessoas rotuladas como diferentes. REFERÊNCIAS COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil. São Paulo: Ed. Moderna, 2000. ___________________. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil: das origens indo européias ao Brasil contemporâneo. 4 ed. Ática, 1991. GOMES, Nilma Limo. Escola e diversidade Étnico Cultural: Um Diálogo Possível. In. DAYRELL, Juarez. (Org.) Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Minas Gerais: Ed. UFMG, 2006, p.86-91. LAJOLO, Marisa. ZILBERMAN, Regina. 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