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O PAPEL DA ESCOLA NA SOCIEDADE.
RESUMO
O papel da escola como formadora de cidadãos conscientes na sociedade atual tem se apresentando ineficiente. Formar o aluno para o convívio em sociedade tem se tornado uma tarefa muito difícil. Mesmo que a escola faça parte durante muitos anos das vidas das pessoas, exercendo, juntamente com as famílias, o papel de educar o ser humano em formação, as dificuldades encontradas no meio desse caminho são muitas. Dentre os vários desafios na relação entre escola e cidadão em formação, está a os meios de comunicação e as redes sociais, que também passou a ocupar um papel de formadora de opinião, e que, muitas vezes, consegue se sobrepor ao papel da escola, tornando se o um meio inapropriado de aprendizagem de muitos alunos. O acesso cada vez mais facilitado aos meios de comunicação proporcionou aos alunos o acesso a um número ilimitado de informações, que nem sempre é acompanhado pelos familiares ou pela escola. E grande parte desses alunos não desenvolvem a capacidade de filtrar tais informações, nem de determinar como utilizá-las em sociedade. Na realidade da sociedade atual, as pessoas passaram a formar opiniões de acordo com o que é postado nos meios de comunicação dando margem a informações errôneas prejudicando o bom convívio social. Tais opiniões individuais dão lugar às opiniões em massa, e tornou-se mais fácil aceitar o algo que está pronto em vez de criar o novo, aceitar a opinião dos outros e não formar sua própria. Para isso, a escola precisa de mudanças em suas estruturas para ganhar maior espaço na formação do aluno, para orientá-lo sobre cidadania e o convívio familiar e em sociedade. A escola precisa aprender a formar cidadãos críticos e capazes de exercer criticamente seu papel na sociedade. 
Palavras-chave: aluno, mídias e papal da escola na sociedade. 
1. INTRODUÇÃO
Hoje no mundo globalizado e altamente diversificado culturalmente, o ambiente escolar está vinculado a uma maior permanência do aluno nas instituições de ensino tanto física quanto virtual, o que exige uma boa formação dos profissionais que nelas atuam e uma maior participação dos pais e da sociedade. O que se apresenta como um grande desafio para a escola, uma vez que as grandes transformações ocorridas na sociedade estão desafiando as pessoas a uma nova situação de vida. A escola encontra dificuldades de se adaptar a uma nova realidade cultural, que tem modificado as relações pessoais, privilegiando o individualismo, o contato virtual em detrimento das relações pessoais. O importar-se com o outro é algo que cada vez mais perde significado, e isso acaba desvirtuando o papel do aluno como cidadão.
A condição de cidadão, segundo a Constituição federal de 1988 no seu (artigo 14), só é adquirida mediante a inscrição da pessoa como eleitor como. Somente a partir desse momento os direitos de cidadão, de votar e ser votado, entre outros, podem ser exercidos. Entretanto, usualmente, fala-se em cidadania como uma identidade decorrente do convívio social, referindo-se aos direitos e deveres da pessoa na sociedade. Embora exista essa dupla interpretação atribuída à palavra cidadão, de alguma forma, ambos significados se relacionam. Tanto a expressão “cidadão eleitor” como a expressão “cidadão pessoa” referem-se a pessoas com direitos e deveres necessários ao bom convívio em sociedade. A formação do “cidadão pessoa” contribui para a formação do “cidadão eleitor”, e a formação do “cidadão eleitor” é o que pode garantir o bom convívio em sociedade para todos os “cidadãos pessoas”. O papel da escola, portanto, é de fundamental importância na formação do “cidadão pessoa” quanto na formação do “cidadão eleitor”. Mas esse papel não fica restrito à escola. Depende, muito, da educação familiar e é fortemente influenciado, cada vez mais, pelos meios de comunicação, que tem atuado, crescentemente, como formador de opinião das pessoas, dos cidadãos, eleitores ou não. 
Setton (2002), ao analisar a relação entre família, escola e mídia no mundo contemporâneo, afirma que:
“A educação no mundo moderno não conta apenas com a participação da escola e da família. Outras instituições, como a mídia, despontam como parceiras de uma ação pedagógica. Para o bem ou para o mal, a cultura de massa está presente em nossas vidas, transmitindo valores e padrões de conduta, socializando muitas gerações”. (SETTON, 2002, p. 109). 
Diante dessa realidade, uma análise mais aprofundada da formação desses alunos, enquanto pessoas e enquanto eleitores, se faz necessária, a fim de que o cidadão que formamos tenha um maior conhecimento do seu papel como parte da sociedade enquanto sujeito de direitos e deveres.
 Faz-se importante, portanto, buscar a todo tempo rever as análises sobre o currículo de forma a tentar identificar, na contemporaneidade, quais teóricos podem auxiliar na modificação curricular de forma a alterar o cenário de abandono do papel de cidadão na sociedade atual.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Historicamente as relações entre alunos e professores tem sido redigida por relações hierárquicas nas quais o aluno figura como aquele que deve obedecer às regras impostas pela instituição, e essa situação se mantém até hoje. A escola é imposta ao aluno com um modelo pré-determinado por parâmetros políticos que privilegiam a manutenção de uma situação de exclusão, com a manutenção de um currículo que reproduz relações de classes, e isso faz com que o aluno não encontre seu lugar na escola nem na sociedade. 
Esse cenário é típico de um modelo tradicional de currículo, que, embora tenha dado vez a diversas teorias críticas e pós-críticas ainda mantém fortes características nas escolas brasileiras. Ainda podemos ver, atualmente, uma escola que traz a ideia de organização e desenvolvimento e que tem como finalidade única a preparação para o mercado de trabalho, com base nos modelos de Bobbit e Tyler, (SILVA, 2013), mas que deixa de lado a formação para a vida. 
Para contrariar esse modelo de reprodução em massa, a escola deve ser compreendida como integrante do processo de formação do cidadão e da sociedade, e não apenas como uma mera reprodutora de conhecimentos, mas como uma produtora de conhecimentos comprometida socialmente. Esse tipo de mudança, embora seja discutida há algumas décadas entre os teóricos críticos e pós-críticos, leva muito tempo para acontecer, mesmo porque contraria os interesses de alguns. O que observamos em nossa realidade é uma escola que ainda espera que digam qual o caminho seguir, o que ensinar e qual projeto cultural e social a ser desenvolvido, enquanto os meios de comunicação tomam frente na formação de opinião. 
A mídia e a formação do aluno 
A escola, em regra, permeia grande parta das nossas vidas, aprimorando o ensino e a aprendizagem, que nos acompanham desde o momento de nosso nascimento. Inicialmente recebemos o ensino daqueles que nos rodeiam e aprendemos com tudo e todos que estão em nossa volta. Chegando a idade escolar, iniciamos uma longa trajetória da vida acadêmica. Tanto nosso aprendizado na escola quanto o nosso aprendizado na vida cotidiana têm o objetivo de nos tornar capazes de conviver em sociedade, de nos tornar cidadãos. Mas porque o convívio em sociedade parece cada vez mais difícil? Por que nos parece tão difícil assumirmos o papel de cidadãos? Por que nos parece tão difícil buscar nossos direitos? 
Essas questões não encontram resposta no outro. Essas questões encontram resposta em nós mesmos. A dificuldade de conviver em sociedade, a dificuldade de ser cidadão, a dificuldade de buscarmos nossos direitos partem de uma apatia com a qual nos acostumamos, que tem origem no mundo no qual vivemos hoje, onde tudo depende apenas de um clic, onde a zona de conforto parece muito mais confortável do que antes. 
A liberdade que temos hoje parece nos manter mais cerceados do que em tempos mais antigos. Em anos de ditadura, o exercício do papel de cidadão se mostrava muito mais forte do que nos dias de hoje. A vontade de participar da construção do nosso país, de fazer parte da sociedade,de buscar direitos era tão grande que nem a prisão, nem a tortura eram capazes de apagá-las. O importar-se com o outro existia, e tinha grande valor. Hoje em dia, essas vontades se reduziram a sentar na frente da TV ou de um computador para absorvermos verdades prontas, e nos manifestarmos de acordo com a massa virtual, sem a necessidade de pensar, sem a necessidade de nos movermos, sem a vontade de olhar para trás e sem a vontade de olhar para o outro. 
A mídia hoje assumiu o papel de formadora de opinião, passando à sociedade contemporânea uma visão de mundo a partir de um ponto de vista pronto. Informações veiculadas em jornal, televisão, internet passaram a ser verdades absolutas e incontestáveis, não porque não podemos contestá-las, mais porque no mundo atual se tornou mais fácil não contestar nada e aceitar o que é dito. É mais fácil aceitar a verdade pronta do que pensar, e é nessa nova realidade que a escola perde. 
A escola, que outrora era aquela que preparava para a vida, academia ou para o trabalho, tem perdido campo para a mídia, que se tornou mais interessante e que parece, aos olhos dos alunos, mais confiável do que a escola. 
Jorge Larrosa Bondía (2002), ao falar sobre Walter Benjamin e sua ideia de periodismo, destaca que: 
“[...] o periodismo não é outra coisa que a aliança perversa entre informação e opinião. O periodismo é a fabricação da opinião. E quando a informação e a opinião se sacralizam, quando ocupam todo o espaço do acontecer, então o sujeito individual não é outra coisa que o suporte informado da opinião individual, e o sujeito coletivo, esse que teria de fazer história segundo os velhos marxistas, não é outra coisa que o suporte informado da opinião pública”. (BONDÍA, 2002, p.19) 
Recebemos informação, a todo momento, e nos manifestamos conforme a massa, mas nos falta a capacidade crítica, ou, nas palavras de Larrosa Bondía (2002), nos falta viver a experiência, que não tem lugar em um mundo pronto. E isso se reflete na escola, que, cada vez mais encontra dificuldades de despertar o interesse dos alunos para o aprendizado, para o pensamento. Ler um livro se tornou algo raro, pois o resumo da obra já está disponível na internet, feito por outra pessoa, que leu com outro objetivo, com outra visão, que encontrou algo diferente do que outros encontrariam, e relatou a sua experiência pessoal com a obra, que é só sua e não dos outros. Ter ponto de vista próprio se tornou algo raro. 
Mas não são apenas os meios de comunicação que mudaram trazendo uma realidade completamente nova, a família, a sociedade, as pessoas também mudaram. Desta forma, então, vemos a necessidade da escola, também, mudar, revendo o ensino escolar para adaptá-lo à nova realidade. 
Os alunos são diariamente bombardeados por diversas informações, por multiculturas, e acabam por se perder na construção de sua identidade, de seu papel na sociedade, de suas opiniões. Se estamos formando cidadãos, então nos falta falar sobre cidadania. O aluno sai da escola sem saber o significado dessa palavra e sem entender tudo o que dela decorre, e, ainda desconhecem seu papel como cidadão dentro do próprio meio escolar. 
Morin (2000), ao discorrer sobre “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, fala sobre o que é subestimado, ignorado ou fragmentado na educação. Em parte de seu texto, cita ele, ao falar da incompreensão, que “Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois diante da realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor” (MORIN, 2000, p. 8). Morin não poderia estar mais correto. Essa é a nossa realidade que, em um ciclo vicioso, vem da educação e se reflete na educação. 
Ao dissertar sobre a incerteza, Morin (2000) fala, ainda, sobre a necessidade de estarmos preparados para o inesperado. Mas como podemos estar preparados para o inesperado se aprendemos a aceitar o pronto, se aprendemos a não raciocinar? Com a filosofia do mundo pronto, estamos perdendo a capacidade de pensar, de formar opinião, de resolvermos imprevistos, portanto não estamos preparados para o inesperado. 
Nesse mundo pronto, a escola perde espaço, perde seu objetivo. Seu papel, então, precisa ser repensado. Formar para o mundo do trabalho certamente é importante, mas antes de trabalhadores precisamos de cidadãos.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido com base em pesquisas bibliográficas de autores que estudam a formação do pensamento crítico do aluno, a formação cidadã e a influência dos meios de comunicação nesses tipos de formação. 
Tendo em vista a atualidade do tema pesquisado, foram utilizados autores contemporâneos para fazer uma abordagem do papel da escola na construção de uma formação cidadã dos alunos, mais especificamente Larrosa Bondía (2002) e Morin (2000), além de Setton (2002), que também trata do tema na contemporaneidade, em sites especializados no assunto, e a Constituição Nacional (1988).
4. CONCLUSÃO: 
A escola precisa assumir o papel de educar para a vida, de educar para a vivência e convivência no mundo contemporâneo, e nesse contexto está a educação para a cidadania. Não se trata de retornar ao modelo grego, no berço da democracia, onde a educação acontecia totalmente contextualizada para o exercício democrático. Mas se trata de educar os alunos para que, no mundo contemporâneo, ele possa identificar seu lugar, sua posição como cidadão, seus direitos e deveres, e para que, principalmente possa respeitar os outros e a opinião dos outros. 
A falta desse tipo de educação é facilmente observada no momento político atual, no qual ofensas e acusações trocadas em nome de ideais e o uso da máquina pública para benefícios pessoais, desvirtuam completamente o papel do cidadão e o significado da democracia. Mas como formamos nossa opinião sobre esse assunto? Vemos, nesse momento, que a mídia se sobrepõe aos ensinamentos da escola, e o resultado para a sociedade está se mostrando, no mínimo, preocupante. 
Esse cenário é resultado de um modelo tradicional de currículo, que se mantém forte nas escolas brasileiras. E ainda podemos ver, atualmente, uma escola que traz a ideia de organização e desenvolvimento e que tem como finalidade única a preparação para o mercado de trabalho, com base nos modelos de Bobbit e Tyler (SILVA, 2013), mas que deixa de lado a formação para a vida. 
Por isso, mais do que nunca, devemos pensar que se a escola prepara o aluno para o mundo acadêmico, para o mundo do trabalho, então também precisa prepará-lo para conviver em sociedade. 
Não cabe à escola, ou a qualquer pessoa, combater a influência da mídia na vida dos alunos. Isso já está posto e cada um tem a liberdade de ler, ouvir e assistir ao que quiser. Mas cabe a escola formar um aluno ciente e crítico, capaz de contestar o que lê, o que ouve e o que vê, para que ele seja capaz de fazer suas escolhas, de externar suas opiniões e de construir sua vida da melhor forma possível. Do contrário, estaremos formando pessoas prontas para serem manipuladas, incapazes de construir uma vida própria. 
Cabe à escola ajudar o ser humano a desenvolver a ética, a autonomia pessoal e a participação social, o que Morin denomina antropo-ética. Isso não significa reformular completamente o currículo, ou deixar de lado as ciências exatas para privilegiar as humanas. Mas significa entender que a escola tem o dever de preparar para o mundo social, e isso requer o ensino, no mínimo, dos direitos mais básicos do ser humano e do cidadão. É necessária a educação em direitos humanos, em direitos individuais e coletivos, em direitos do cidadão, para o melhor convívio em sociedade e para a construção de uma nova realidade social. 
5. REFERÊNCIAS: 
BONDÍA, Jorge Larrosa, Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n.19, Jan./Abr. 2002. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003>. Acesso em: 20 de janeiro de 2017. 
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Boletim da SEMTEC-MEC Informativo Eletrônico da Secretaria de EducaçãoMédia e Tecnológica, ano 1, n.4, jun./jul. 2000. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EdgarMorin.pdf>. Acessado em: 12 de fevereiro de 2017. 
SETTON, Maria da Graça Jacinto. Família, escola e mídia: um campo com novas configurações. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.28, n.1, jan./jun. 2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022002000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em: 17 de fevereiro de 2017. 
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
ESCOLA, Equipe Brasil. "Novo Papel das Escolas"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educacao/papel-das-escolas-na-sociedade-da-informacao.htm. Acesso em 23 de março de 2020.

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