Buscar

CONFLITO DE COMPETÊNCIA JF - JC (Direito Ambiental)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Superior Tribunal de Justiça
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 151.805 - AM (2017/0080756-4)
RELATOR : MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 8A VARA CRIMINAL DE MANAUS -AM
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA 4A VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO
ESTADO DO AMAZONAS
INTERES. : MARCELO VELASCO CHAVES
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
DECISÃO
Cuida-se de conflito de competência instaurado entre o Juízo de Direito da 8ª Vara Criminal de Manaus - AM, o suscitante, e o Juízo Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas, o suscitado.
Colhe-se dos autos que Marcelo Velasco Chaves foi denunciado pelo Ministério Público Federal pela prática, em tese, do delito descrito no artigo 299 (falsificação ideológica) e art. 304 (uso de documento falso), ambos do Código Penal – CP. Segundo a inicial acusatória, o agente teria movimentado volumetria de madeira perante o sistema DOF (Documento de Origem Floresta/IBAMA), mediante documentos falsos. Nos termos da acusação, em fiscalização realizada pelo IBAMA na Rodovia Transamazônica, foram abordados dois caminhões cujos condutores foram flagrados transportando madeira serrada sem a devida autorização. Constatou-se, ainda, que o DOF apresentado foi forjado para dar aparência de regularidade à madeira transportada (fls. 12/17).
A denúncia foi recebida pelo Juízo Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas em 3/12/2015 (fl. 365). Contudo, por decisão proferida em 20/5/2016, o Juízo suscitado declinou da competência sob o fundamento de que, de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ, "os delitos envolvendo falsidade relacionada ao Sistema DOF, em regra, devem ser apurados pela Justiça Comum Estadual, atraindo a competência Federal tão somente nos acasos em que a madeira objeto do suposto crime tenha sido extraída da Unidade de Conservação Federal, reserva indígena, faixa de fronteira ou qualquer área de domínio da União, o que não esta patente no caso dos presentes autos." (fl. 369).
Todavia, encaminhados os autos à Justiça Estadual, o Ministério Público do Estado do Amazonas emitiu parecer no sentido de que, conforme
Documento: 75211968 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/08/2017 Página 1 de 6
Superior Tribunal de Justiça
Súmula 546 do STJ, aprovada em 14/10/2015, "A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor." (fl. 378). Assim, acompanhando o parecer ministerial, o Juízo de Direito da 8ª Vara Criminal do Estado do Amazonas suscitou o presente conflito de competência.
O Juízo suscitado foi designado para decidir, em caráter provisório, as medidas urgentes, até o julgamento final do presente incidente, nos termos do art. 196 do RISTJ. (fls. 394/395)
O Ministério Público Federal ofereceu parecer e opinou pelo conhecimento do conflito para declarar a competência do Juízo Federal suscitado.
É o relatório.
Decido.
O presente conflito negativo de competência deve ser conhecido, por se tratar de incidente instaurado entre juízos vinculados a Tribunais distintos, nos termos do art. 105, inciso I, alínea d da Constituição Federal.
O núcleo da controvérsia consiste em definir se a falsificação de DOF emitido pelo IBAMA atrai a competência da Justiça Federal.
Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o fato de o sistema DOF ter sido implantado e instituído pelo IBAMA não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal, porquanto a preservação do meio ambiente é matéria de competência comum da União, Estados e Municípios.
Assim, para a fixação da competência da Justiça Federal é indispensável a caracterização de interesse direto e específico da União, como na hipótese de extração de área fiscalizada pela União ou de apresentação da documentação ideologicamente falsa ou contrafeita perante órgão de controle federal.
Nesse sentido:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO DE ORIGEM FLORESTAL - DOF E VENDA DE MADEIRA SEM LICENÇA VÁLIDA OUTORGADA PELA AUTORIDADE COMPETENTE. COMPETÊNCIA ESTADUAL.
1. A preservação do meio ambiente é matéria de
Documento: 75211968 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/08/2017 Página 2 de 6
Superior Tribunal de Justiça
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos do art. 23, incisos VI e VII, da Constituição Federal.
2. A competência do foro criminal federal não advém apenas do interesse genérico que tenha a União na preservação do meio ambiente. É necessário que a ofensa atinja interesse direto e específico da União, de suas entidades autárquicas ou de empresas públicas federais.
3. Além disso, o Supremo Tribunal Federal firmou posicionamento no sentido de que não caracteriza interesse direto e específico da União, a firmar a competência da Justiça Federal, o exercício da atividade de fiscalização ambiental pelo IBAMA (RE 300.244/SC, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ 19.11.2001; HC 81.916/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 11.10.2002; RE 349.189/TO, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ 14.11.2002;RE 349.191/TO, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ 07.03.2003).
4. "A atividade lesiva ao meio ambiente é que deve nortear, portanto, a existência de interesse direto da União ou de sua autarquia e, na hipótese, não há nenhum elemento que aponte, com segurança, qual seria o interesse específico do investigado que pudesse atrair a competência federal." (CC 141.822/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015, DJe 21/09/2015) 5. Conquanto o Sistema DOF tenha sido instituído e implantado pelo IBAMA (art. 1º da Portaria/MMA n. 253/2006, c/c Instrução Normativa n. 112/2006 do IBAMA), o mero fato de o Sistema estar hospedado em seu site não atrai, por si só, a competência federal para o julgamento de delito de falsificação de Documento de Origem Florestal. Precedente: CC 141.822/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015, DJe 21/09/2015.
6. Ausentes indícios de que a madeira irregularmente comercializada tivesse sido extraída de alguma das áreas de interesse da União descrita no art. 7º, XIV e XV, da Lei Complementar n. 140/2011 ou de que o licenciamento ambiental da empresa ré tivesse sido concedido pela União, não há nem prejuízo nem interesse diretos do IBAMA ou da União que tenham sido feridos seja em decorrência da falsificação do DOF, seja em decorrência de sua eventual apresentação à fiscalização da autarquia.
7. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Ariquemes/RO, o Suscitado. (CC 147.393/RO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/09/2016, DJe 20/09/2016)
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME AMBIENTAL.TRANSPORTE DE CARVÃO VEGETAL. FALSIFICAÇÃO DE DOF(DOCUMENTO DE ORIGEM FLORESTAL). COMPETÊNCIAESTADUAL.
1. Em regra, eventual delito perpetrado contra o meio
Documento: 75211968 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 14/08/2017 Página 3 de 6
Superior Tribunal de Justiça
ambiente é da competência da Justiça estadual, haja vista que a sua proteção cabe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. A hipótese que atrairia a competência da Justiça Federal restringe-se àquelas situações em que os crimes ambientais são cometidos em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas autarquias ou empresas públicas (ex vi do art. 109, IV, da Constituição Federal).
2. Embora a emissão e o controle o DOF (Documento de Origem Florestal) recaiam sobre o IBAMA, isso não pode significar, tout court, que qualquer prática delitiva que envolva a inserção de dados no sistema dessa autarquia (em qualquer de suas unidades) que armazena os registros, contenha, em si, elemento suficiente para caracterizar o interesse da União ou da própria autarquia. Isso porque a proteção ao meio ambiente é de competênciacomum e, em alguns casos, embora o registro seja feito no Ibama, o interesse envolvido é nitidamente estadual. Vale dizer, irregularidades no registro, oriundas de prática criminosa, por si, não têm o condão de atrair a competência federal. Raciocínio diverso ensejaria a competência federal para todo e qualquer caso, haja vista que a proteção, a fiscalização e a conservação ambiental são propósitos ínsitos à própria existência (criação) do Ibama.
3. A atividade lesiva ao meio ambiente é que deve nortear, portanto, a existência de interesse direto da União ou de sua autarquia e, na hipótese, não há nenhum elemento que aponte, com segurança, qual seria o interesse específico do investigado que pudesse atrair a competência federal. Em princípio, mostra-se salutar que a competência se estabeleça no Juízo comum estadual, à mingua de elementos seguros que apontem o interesse direto da União ou de sua autarquia, ressalvando-se, evidentemente, a possibilidade de sua modificação se verificados elementos novos que indiquem a necessidade de remessa do feito à Justiça Federal.
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da Vara Criminal de Guaíra - PR, ora suscitado. (CC 141.822/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015, DJe 21/09/2015).
Com efeito, não basta o interesse genérico da União, há de se perquirir
a presença de elementos concretos que demonstrem a presença de interesse direto
e específico, a exemplo da apresentação de documentos falsos perante o IBAMA ou
na hipótese de o licenciamento ambiental da empresa ré ter sido concedido pela
União. Nesse sentido:
PROCESSUAL PEAL. COMPETÊNCIA. DOCUMENTO FALSO APRESENTADO A SERVIDORES FEDERAIS. IBAMA. AUTUAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JURISDIÇÃO FEDERAL.
1. Sendo apresentado a fiscais do IBAMA documento
Superior Tribunal de Justiça
falso (documento de origem florestal - DOF), daí inclusive gerandoa lavratura de auto de infração, tem-se dano direto a serviçosfederais.
2. Seja tipificada a conduta no art. 69-A da Lei n. 9.605/98, seja como simples falso, deve a jurisdição federal processar o fato. (CC 129.219/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/09/2014, DJe 17/12/2014)
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME AMBIENTAL. EXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
1. A conduta foi praticada, em tese, na Área de Proteção Ambiental do Cairuçu criada pelo Decreto Federal nº 89.242/83, integrante, portanto, de Unidades de Conservação, da qual faz parte a Reserva Ecológica da Joatinga, criada por decreto estadual.
2. Os critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação estão previstas na Lei nº 9.985/2000, que estabelece que a Área de Preservação Ambiental pode ser instituída tanto em propriedade pública quanto em particular, sendo que nestas podem ser estabelecidas normas e restrições para sua utilização.
3. Uma vez que o crime tenha ocorrido em área sujeita à restrição administrativa ao uso da propriedade privada, subsiste assim o interesse direto e específico da União na causa, a atrair a competência da Justiça Federal para o deslinde do feito.
4. Patente o interesse do IBAMA na preservação da área atingida, mormente a informação trazida aos autos de que a autarquia federal foi a responsável pela concessão da licença para as ações ali desenvolvidas, posteriormente revogada por ter sido reconhecida ilegal.
5. O crime teria provocado também alterações nas características naturais da zona costeira que, a teor do art. 225, § 4º da Constituição Federal, é patrimônio nacional a merecer guarida perante a Justiça Federal, ex vi do art 109, IV, da Constituição Federal.
6. Conflito conhecido para determinar competente o Juízo Federal da 1ª Vara de Angra dos Reis/RJ, anulados os atos decisórios do Juízo Estadual (CC 80.905/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2009, DJe 24/06/2009).
No caso em análise, conforme inicial acusatória, a documentação
acoimada falsa foi apresentada em fiscalização realizada pelo IBAMA. Eis o
seguinte trecho da denúncia formulada pelo Ministério Público Federal (fl. 13):
Superior Tribunal de Justiça
a lavratura do Auto de Infração 028417-D. de fl. 06.
Ademais, extrai-se do auto de infração que o documento supostamente falso foi apresentado perante servidor público federal, o Sr. Gilberto Barros da Silva, (IBAMA/AM – Matrícula 6833098). (fl. 22)
Destarte, na singularidade do caso concreto, em razão de o documento acoimado falso ter sido apresentado a fiscal do IBAMA gerando inclusive auto de infração, está caracterizado interesse específico da União apto a atrair a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso IV, da CF.
Ante o exposto, conheço do conflito para declarar competente o Juízo Federal da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas, o suscitado.
Publique-se.
Intime-se.
Brasília, 09 de agosto de 2017.
MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK
Relator
Abaixo decisão contrária a esta TRF1. Existe o interesse direto do IBAMA (a autarquia teve prejuízo). Já em nosso caso, não existe o interesse do IBAMA apenas do MPF:
“(...)
Inicialmente afasto a alegação de incompetência desta justiça Federal.
Ao que se observa da inicial, há interesse direto do Ibama, na condição de autarquia federal, no deslinde do feito, já que é o órgão responsável pelo controle e gerência dci sistema DOF, o qual foi objeto da fraude que deu ensejo ao ajuizamento da ação. Acresce, ainda, que a competência para a proteção do meio ambiente abrange todos os entes federativos, tratando-se de competência concorrente, ex vi do art. 23, VI, da Carta da República.
Nesse sentido, destaco:
(...) INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMAS ESTADUAL E FEDERAL DE CONTROLE DE MOVIMENTAÇÃO DE PRODUTO FLORESTAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ORDEM DENEGADA. 1. Hipótese na qual a conduta dos denunciados consistia em alimentar os sistemas SISFLORA/PA (mantido pelo Estado do Pará) e DOF (mantido pelo IBAMA), com informações não idôneas, visando conferir aparência de licitude à madeira extraída de forma criminosa.
2. Tendo em vista que o fato denunciado consiste, pelo menos em tese, em infração penal cometida em detrimento de bens e interesse da União e, também, em prejuízo do IBAMA, que é autarquia federal, a competência é da Justiça Federal (art. 109, inciso IV, da Constituição Federal).
3. Ordem denegada. (Numeração Única: HC 0059361- 60.2012.4.01.0000/PA; HABEAS CORPUS; Relator DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ; Convocado JUIZ FEDERAL MARCUS VIN/CIUS REIS BASTOS (CONV); TRF da 1ª Região; QUARTA TURMA; Publicação 26/11/2012 e-DJF1)
Esta é do STJ, também favorável o voto. Mesmo ano.
Superior Tribunal de Justiça
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 154.539 - PA (2017/0243339-2)
RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO
SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA 3A VARA PENAL DE ITAITUBA - PA SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DE SANTARÉM - SJ/PA
INTERES. : WILSON PONTES
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
DECISÃO
Trata-se de conflito negativo de competência entre o Juízo da 3ª Vara Penal de Itaituba/PA, suscitante, e o Juízo Federal de Santarém/PA, suscitado.
Consta dos autos (...) que WILSON PONTES e ADILSON APARECIDO UCEDA CALHAU, por meio da pessoa jurídica MADEIREIRA VALE DO TAPAJÓS, venderam madeira sem licença válida para todo o tempo de viagem, outorgada pela autoridade competente. Outrossim, restou constatado que os denunciados inseriram, em documento público (ATPF), declaração falsa, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante (fl. 6).
O Juízo Federal de Santarém/PA declinou da competência sob o seguinte argumento: O mais recente posicionamento do TRF-1ª Região tem reconhecido ser de competência da Justiça Estadual o processo e julgamento de crimes ambientais ainda que tenha havido falsificação de ATPF, vez que tal falsidade seria apenas um meio para o cometimento do crime ambiental, não constituindo ela própria crime autônomo (HC n° 2005.01. 00. 072368-2/PA) (fl. 92).
Por sua vez, o Juízo de Direito de Itaituba/PA argumentouque o fato de os acusados terem supostamente falsificado documentação de controle de autarquia federal - IBAMA, por si só, já atrai o interesse federal e, como consequência, a competência da Justiça Federal.
Às fls. 192/193, o Ministério Público Federal manifestou-se pela competência do Juízo Estadual, ora suscitante.
É o relatório.
DECIDO.
O Juízo Estadual, ora suscitante, aduziu (fls. 108/109):
Analisando os autos observo que assiste razão ao Parquet estadual, isto porque o processo visa apurar a responsabilidade penal dos acusados que supostamente teriam falsificado documentação de controle da autarquia federal IBAMA, fato que por si só já atrairia o interesse federal e como conseqüência a jurisdição da Justiça Federal.
A Constituição é bem clara neste sentido, a qual fixa a competência dos juizes federais quando houver interesse da União, senão vejamos:
Superior Tribunal de Justiça
(...).
Por interesse federal entende-se aquele interesse direto da entidade federal, como é o caso dos autos em que houve a falsificação do ATPF (Autorização de Transporte Público Florestal) cc com o transporte ilegal de madeira.
Ora, a competência do juízo formou-se em decorrência do delito mais grave, que no caso é a falsificação de documento federal, atraindo a competência federal para apreciar os delitos conexos.
Ocorre, todavia, que a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que o fato de o documento público ser expedido por órgão federal, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal, tendo em vista não se evidenciar lesão a bem, serviço ou interesse da União ou, ainda, da referida autarquia. Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ART. 46, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 9.605/98. ART. 299 DO CP. HIPÓTESE DO ART. 109, INCISO IV, DA CF NÃO VERIFICADA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. De acordo com a jurisprudência desta Corte, o fato de o documento público ter sido expedido por órgão federal, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal para processar e julgar o crime. Para tanto, mister que haja lesão a bem, serviço ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, nos termos do art. 109, inciso IV, da Carta Magna, o que não se verifica no caso.
2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no CC 141.899/RO, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 9/9/2015, DJe 16/9/2015).
PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ART. 90 DA LEI 8.666/93, ART. 297 E 304 DO CÓDIGO PENAL. PROCESSO LICITATÓRIO MUNICIPAL. FRAUDE. FALSIFICAÇÃO E USO DE DOCUMENTO PÚBLICO. AUSÊNCIA DE LESÃO DIRETA À UNIÃO. COMPETÊNCIA ESTADUAL.
1. As certidões negativas falsas, ainda que provenientes de órgão federais (Receita e INSS), utilizadas em procedimento licitatório municipal, não trazem prejuízo direto a bens, serviços ou interesses da União, nem de qualquer de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, razão pela qual as infrações perpetradas não se amoldam às situações previstas no elenco taxativo do art. 109 da Constituição Federal, não se cuidando de crime afeto à justiça Federal. Precedentes desta Corte.
2. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Pesqueira/PE, ora suscitado. (CC 136.937/PE, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/2/2015, DJe 23/2/2015).
Superior Tribunal de Justiça
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO DE ORIGEM FLORESTAL - DOF E VENDA DE MADEIRA SEM LICENÇA VÁLIDA OUTORGADA PELA AUTORIDADE COMPETENTE. COMPETÊNCIA ESTADUAL.
1. A preservação do meio ambiente é matéria de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos do art. 23, incisos VI e VII, da Constituição Federal.
2. A competência do foro criminal federal não advém apenas do interesse genérico que tenha a União na preservação do meio ambiente. É necessário que a ofensa atinja interesse direto e específico da União, de suas entidades autárquicas ou de empresas públicas federais.
3. Além disso, o Supremo Tribunal Federal firmou posicionamento no sentido de que não caracteriza interesse direto e específico da União, a firmar a competência da Justiça Federal, o exercício da atividade de fiscalização ambiental pelo IBAMA (RE 300.244/SC, Rel.
Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ 19.11.2001; HC 81.916/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 11.10.2002; RE 349.189/TO, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ 14.11.2002;
RE 349.191/TO, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ 07.03.2003).
4. "A atividade lesiva ao meio ambiente é que deve nortear, portanto, a existência de interesse direto da União ou de sua autarquia e, na hipótese, não há nenhum elemento que aponte, com segurança, qual seria o interesse específico do investigado que pudesse atrair a competência federal." (CC 141.822/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015, DJe 21/09/2015) 5. Conquanto o Sistema DOF tenha sido instituído e implantado pelo IBAMA (art. 1º da Portaria/MMA n. 253/2006, c/c Instrução Normativa n. 112/2006 do IBAMA), o mero fato de o Sistema estar hospedado em seu site não atrai, por si só, a competência federal para o julgamento de delito de falsificação de Documento de Origem Florestal. Precedente: CC 141.822/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015, DJe 21/09/2015.
6. Ausentes indícios de que a madeira irregularmente comercializada tivesse sido extraída de alguma das áreas de interesse da União descrita no art. 7º, XIV e XV, da Lei Complementar n. 140/2011 ou de que o licenciamento ambiental da empresa ré tivesse sido concedido pela União, não há nem prejuízo nem interesse diretos do IBAMA ou da União que tenham sido feridos seja em decorrência da falsificação do DOF, seja em decorrência de sua eventual apresentação à fiscalização da autarquia .
7. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Ariquemes/RO, o Suscitado.
(CC 147.393/RO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
Superior Tribunal de Justiça
FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/9/2016, DJe 20/9/2016), com destaque.
Ante o exposto, conheço do conflito para declarar competente o Juízo de Direito de Itaituba/PA, ora suscitante.
Publique-se.
Intimem-se.
Brasília (DF), 12 de dezembro de 2017.
MINISTRO NEFI CORDEIRO
Relator
SUMULA STJ – compete a justiça federal julgar o crime, apenas se utilizado documento falso contra entidade ou órgão público.
Súmula 546 do STJ, aprovada em 14/10/2015, "A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor." (fl. 378). Assim, acompanhando o parecer ministerial, o Juízo de Direito da 8ª Vara Criminal do Estado do Amazonas suscitou o presente conflito de competência.
TRF4 – Conflito de competência entre vara especializada federal e vara federal 
CONFLITO DE COMPETÊNCIA (SEÇÃO) Nº 5008505-23.2012.404.0000/SC
	RELATOR
	:
	Juiz Federal ARTUR CÉSAR DE SOUZA
	SUSCITANTE
	:
	JUÍZO FEDERAL DA VF AMBIENTAL DE FLORIANÓPOLIS
	SUSCITADO
	:
	JUÍZO FEDERAL DA 02A V F CRIMINAL DE FLORIANÓPOLIS
	MPF
	:
	MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DELITO DE FALSIDADE IDEOLÓGICA. AUSÊNCIA DE LESÃO AO MEIO AMBIENTE. DEMANDA QUE COMPETE AO JUÍZO FEDERAL COMUM.
- Se o delito imputado às denunciadas atenta contra a fé pública, não atingindo de forma direta o meio ambiente, descabe reconhecer a competência da vara especializada.
- Ainda que com a obtenção do Documento de Origem Florestal - DOF as empresas antes referidas pudessem vir a cometer delitos ambientais, essa circunstância não autoriza o deslocamento da competência, uma vez que se trata de evento futuro e incerto.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 4ª Seçãodo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, declarar competente o Juízo da 2ª Vara Federal Criminal de Florianópolis/SC, o suscitado, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte do presente julgado.
 
Porto Alegre, 19 de julho de 2012.
Juiz Federal ARTUR CÉSAR DE SOUZA
Relator
Mesmo Crime já julgado em apelação criminal pelo tribunal de justiça da 4ª região – PENA de PSC 1 ano.
Apelação Criminal Nº 5002745-90.2013.4.04.7103/RS
	RELATOR
	:
	JOÃO PEDRO GEBRAN NETO
	APELANTE
	:
	ALSIO DE JESUS GARCIA GONCALVES
	
	:
	INDUSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA.
	ADVOGADO
	:
	Giuliano Deboni
	
	:
	GUILHERME FRANZEN RIZZO
	
	:
	TIAGO BRITTO SPONTON
	
	:
	VITORIA CRISTINA KRAUSE NORONHA
	APELANTE
	:
	MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
	APELADO
	:
	OS MESMOS
RELATÓRIO
O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em face de ALSIO DE JESÚS GARCIA GONÇALVES, nascido em 09/02/1948, pela prática dos crimes dos artigos 46, parágrafo único, da Lei n.° 9.605/98 e 299, do Código Penal, em concurso material, e contra INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.° 83.297.895/0002-86, dando-a como incursa nas sanções do artigo 46, da Lei n.° 9.605/98.
A peça acusatória narrou a ocorrência dos seguintes fatos:
"I - DO PRIMEIRO FATO DELITUOSO
No dia 17 de setembro de 2011, na cidade de Itaqui/RS, em fiscalização implementada pelo IBAMA durante a Operação Ágata II, constatou-se que ALSIO DE JESÚS GARCIA GONÇALVES e a empresa INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA. tinham em depósito 117,271m³ (cento e dezessete metros cúbicos e duzentos e setenta e um decímetros cúbicos) de madeiras serradas, de diversas espécies, sem licença válida para o armazenamento através do Sistema DOF (Documento de Origem Florestal), outorgada pela autoridade competente.
Na oportunidade, por ocasião da inspeção industrial da empresa INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA., encontravam-se no pátio do estabelecimento 324,487m³ (trezentos e vinte e quatro metros cúbicos e quatrocentos e oitenta e sete decímetros cúbicos) de madeira, sendo que, destes, 117,271m³ (cento e dezessete metros cúbicos e duzentos e setenta e um decímetros cúbicos) não contavam com o necessário respaldo no sistema DOF, reputado licença ambiental válida para fins legais, conforme Auto de Infração - AI nº 685479-D (ev. 01 - NOT_CRIME2 - fls. 08/12 dos autos nº 5003993-62.2011.404.7103).
A esse respeito, convém esclarecer que as empresas que trabalham com produto de origem florestal devem possuir cadastro junto ao IBAMA e alimentar a entrada e a saída destes materiais no Sistema DOF, nos moldes preconizados pela Portaria do Ministério do Meio Ambiente nº 253, de 18 de agosto de 2006, e pela Instrução Normativa do IBAMA nº.112, de 21 de agosto de 2006.
Em seus artigos 1º, ambos os diplomas apontam que o DOF (Documento de Origem Florestal) é licença obrigatória para controle de transporte e armazenamento de produtos e subprodutos florestais de origem nativa, dispensado apenas nas hipóteses excepcionais insculpidas no artigo 9º da aludida Instrução Normativa.
Como corolário disso, tem-se que eventual quantitativo de madeira mantido em estoque sem a correspondente cobertura no sistema DOF, fora das situações do sobredito artigo 9º, deve ser considerado desprovido da licença ambiental válida, e, portanto, ilícito penal ambiental.
Sendo exatamente este o caso vertente, em que a denunciada INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA., por critérios de administração adotados por seu gerente (ALSIO DE JESÚS GARCIA GONÇALVES) em prol da própria pessoa corporativa, manteve em depósito produtos de origem florestal sem o respectivo e necessário DOF, é de rigor reconhecer-se a perpetração do crime tipificado no artigo 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/98, estando ambos sujeitos às sanções alicominadas.
II - DO SEGUNDO FATO DELITUOSO
Em data não precisamente estampada nos autos, mas anterior a 17 de setembro de 2011, o denunciado ALSIO DE JESÚS GARCIA GONÇALVES inseriu no Sistema DOF, de caráter público, declaração diversa da que deveria constar, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
Ao realizar fiscalização no bojo da Operação Ágata II, o IBAMA verificou que no pátio da empresa INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA. havia um estoque de 324,487m³ (trezentos e vinte e quatro metros cúbicos e quatrocentos e oitenta e sete decímetros cúbicos) de produto florestal, sendo que, destes, 117,271m³ (cento e dezessete metros cúbicos e duzentos e setenta e um decímetros cúbicos) não contavam com o necessário respaldo no sistema DOF (1º FATO). Como corolário lógico disso, apenas 207,216 m³ (duzentos e sete metros cúbicos e duzentos e dezesseis decímetros cúbicos) de madeira estavam em situação regular, diferentemente dos 407,643 m³ (quatrocentos e sete metros cúbicos e seiscentos e quarenta e três decímetros cúbicos) que deveriam existir, conforme declarado no Sistema DOF.
Assim, apurou-se uma divergência de 200,427 m³ (duzentos metros cúbicos e quatrocentos e vinte e sete decímetros cúbicos) de madeira entre o constante no Sistema DOF e o que, realmente, estava em posse da pessoa jurídica lastreada pelo documento de origem, sendo lavrado, em decorrência, pelo IBAMA, o Auto de Infração - AI nº 685140-D (ev. 01 - NOT_CRIME2 - fl. 08 dos autos nº 5000057-92.2012.404.7103), retratando a venda de madeira de diversas espécies sem autorização legal.
Dos elementos coligidos no apuratório, contudo, não se pode afirmar que houve efetivamente uma venda de produto florestal sem o correspondente DOF (enquadrável, em tese, na moldura típica do artigo 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/98). Na verdade, essa conclusão dos agentes fiscalizadores do órgão ambiental é apenas uma das justificativas possíveis para a discrepância de volume de produto florestal constatada, não podendo ser tomada como única ou como certa.
Isto posto, é preciso considerar que o DOF (Documento de Origem Florestal), enquanto licença ambiental válida para a venda, o armazenamento e o transporte de produtos e subprodutos de origem florestal, tem sua emissão veiculada por meio do denominado Sistema DOF, no qual devem ser obrigatoriamente inseridos, de forma precisa e correta, todos os estoques e movimentações alusivas a madeiras nas empresas que se dediquem a tal atividade.
As declarações insertas nesse Sistema DOF, justamente por viabilizarem o controle da origem do produto florestal, são juridicamente relevantes e devem guardar total simetria com a realidade fática, sob pena de virem a configurar um falso ideológico, que serve à perpetração de diversas fraudes, como, v.g., o acobertamento de madeira clandestina, a partir do comércio de "créditos de DOF".
Ora, uma vez que, in casu, não foi encontrado no pátio da empresa o correspondente físico a 200,427 m³ (duzentos metros cúbicos e quatrocentos e vinte e sete decímetros cúbicos) de produto florestal cu ja entrada havia sido declarada no Sistema DOF, e, mais do que isso, que o imputado, ALSIO, responsável pelos levantamentos de conferência do DOF com os estoques, não declarou ter havido venda sem DOF, a inferência lógica que daí se colhe é a de que o denunciado inseriu informação no Sistema DOF diversa da que nele deveria constar, registrando a entrada de expressivo quantitativo de madeira que, em realidade, ali não ingressou, de modo a alterar a verdade de fato juridicamente relevante. A conduta de ALSIO subsume-se, portanto, ao tipo penal do artigo 299 do Código Penal."
A denúncia foi recebida em 22/11/2013, em relação ao denunciado ALSIO DE JESUS GARCIA GONÇALVES (ev. 3), e em 24/06/2014 em relação à denunciada INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA. (ev. 28).
Devidamente processada o feito foi proferida sentença, publicada em 03/06/2016 (ev. 145 - SENT1), que julgou procedente a denúncia para:
a) CONDENAR o réu ALSIO DE JESÚS GARCIA GONÇALVES à pena de 01 (um) ano de reclusão, pela prática do delito previsto no artigo 299, do Código Penal, bem como à pena de 06 (meses) de detenção,pela prática do delito previsto no artigo 46, da Lei n.° 9.605/98, em concurso material de crimes, na forma do artigo 69, do Código Penal, bem como ao pagamento de 20 (vinte) dias-multa, no valor unitário de 1/10 (um décimo) do salário mínimo vigente à data do fato. A pena privativa de liberdade foi substituída por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária, no valor de 5 (cinco) salários mínimos vigentes ao tempo dos fatos;
b) CONDENAR a ré INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO Ltda. à pena de 10 (dez) dias de interdição temporária do estabelecimento, bem como pena de multa, no valor de 10 (dez) dias-multa, fixados em 05 (cinco) salários mínimos vigentes ao tempo do fato por dia-multa, pela pratica do delito previsto no artigo 46 da Lei nº 9.605/98.
O Ministério Público Federal apelou, requerendo (ev. 154) em relação ao réu ALSIO DE JESUS GARCIA GONÇALVES, quanto ao delito previsto no art. 46, da Lei n° 9.605/98, a valoração negativa da vetorial culpabilidade, pois o réu, madeireiro profissional, possuía plena ciência acerca da vedação de manter madeira em depósito sem licença, da vetorial motivo do crime, pois o motivo era enriquecer-se às custas de toda a população, eis que o meio ambiente é bem comum a todos, bem como das vetoriais circunstâncias e consequências do delito, uma vez que madeira "esquentada" gera desmatamento ilegal, oriundos de fraudes em planos de manejo. Requer, ainda, a aplicação da agravante prevista no art. 15, II,'a' da lei nº 9.605/98, pois o delito foi cometido com abuso do direito de licença ambiental, prejudicando pessoa jurídica de direito público mantida com verbas públicas federais. Quanto ao delito do art. 299 do CP requer a valoração negativa da vetorial culpabilidade, pois o réu inseriu no Sistema DOF, sistema que tem como fundamentos, o controle do desmatamento gerado pelas madeireiras e da vetorial consequências, pois as consequências de inserir no Sistema DOF, de caráter público, declaração diversa da que deveria constar são nefastas, colocando em risco o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Quanto à ré INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO S.A, postula a valoração negativa dos antecedentes criminais, pois a parte registra o cometimento de outros delitos anteriormente (EVENTO 133 - CERTANTCRIM3 e 4), da vetorial motivo do delito, pois no intuito de lograr a fiscalização, a empresa tentou enriquecer-se às custas de toda a população, eis que o meio ambiente é bem comum a todos, bem como das vetoriais circunstâncias e consequências do delito, uma vez que madeira "esquentada" gera desmatamento ilegal. Afirma que deveria ser a empresa condenada, primeiramente, a uma pena restritiva de direitos, nos termos do art. 8º e art. 21 da Lei n. 9.605/98, pena esta que deve consistir em prestação pecuniária destinada à comunidade de Itaqui. Por fim, requer, com base no art. 91, inciso I, do Código Penal, tendo em vista o dano causado, e a capacidade econômica da ré, seja fixado como valor de dano material, a título de ressarcimento do combustível e remuneração extra dos agentes, o valor de R$ 2.000,00 por agente que atuou na operação, e a título de dano moral 100 salários mínimos vigentes, ao tempo do pagamento.
Contrarrazões no evento 180.
Os réus apresentaram razões de recurso nesta Corte (eventos 7 e 8), sustentando, em síntese:
(i) INDÚSTRIAS DE MADEIRAS TOZZO LTDA.: a atipicidade da conduta prevista no artigo 46, §único da Lei 9.605/98, pela ausência de materialidade. Afirma a existência de equívocos na medição/mensuração da madeira que se encontrava no pátio e na identificação das espécies. Aduz que a madeira encontrada pela fiscalização no pátio da empresa apresentava lastro em DOF e que o equívoco partiu da fiscalização, que mesclou metodologias de medição, que nada descontou com relação as supostas medições por pilha/fardo e que causou confusão com os tipos de madeira. Por fim requer seja a pena aplicada redimensionada, levando-se em consideração a inexistência de antecedentes criminais da efetiva denunciada e a sua situação econômica, que não chega a 20% da matriz, esta que industrializa e exporta madeiras, além de se dedicar ao setor agropecuário, o que não é o caso da Ré, voltada apenas à comercialização de material de construção.
(ii) ALSIO DE JESUS GARCIA GONÇALVES: preliminarmente: a) nulidade da sentença por limitação à ampla defesa em virtude da negativa de utilização de prova emprestada; b) Incompetência dos fiscais do IBAMA que autuaram a empresa; No mérito, alega a atipicidade das condutas previstas nos artigos 46, §único da Lei 9.605/98 e 299 do Código Penal pela ausência de materialidade. Afirma a existência de equívocos na medição/mensuração da madeira que se encontrava no pátio e na identificação das espécies. Aduz que a madeiraencontrada pela fiscalização no pátio da empresa apresentava lastro em DOF e que o equívoco partiu da fiscalização, que mesclou metodologias de medição, que nada descontou com relação as supostas medições por pilha/fardo e que causou confusão com os tipos de madeira. Alega, também, que não houve a inserção falsa no sistema da empresa Ré, o que afasta a hipótese de crime pelo artigo 299 do CP. Prosseguindo, alega a negativa de autoria, quanto ao crime do artigo 299 do CP. Relata que o réu era tão somente um funcionário assalariado que administrava uma filial da Indústria de Madeiras Tozzo S/A, uma limitada de pequeno porte que se dedica à comercialização de materiais de construção, sendo que o controle do DOF era feito pelo funcionário SANDRO, único que dispunha da senha de acesso ao sistema.
O Ministério Público Federal ofertou parecer opinando pelo desprovimento das apelações criminais (ev. 11).
É o relatório. À revisão.
Desembargador Federal JOÃO PEDRO GEBRAN NETO
Relator
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 5002745-90.2013.4.04.7103/RS
	RELATOR
	:
	JOÃO PEDRO GEBRAN NETO
	APELANTE
	:
	ALSIO DE JESUS GARCIA GONCALVES
	
	:
	INDUSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA.
	ADVOGADO
	:
	Giuliano Deboni
	
	:
	GUILHERME FRANZEN RIZZO
	
	:
	TIAGO BRITTO SPONTON
	
	:
	VITORIA CRISTINA KRAUSE NORONHA
	APELANTE
	:
	MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
	APELADO
	:
	OS MESMOS
EMENTA
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL ART. 46, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 9.605/98. MANUTENÇÃO DE MADEIRA EM DEPÓSITO SEM CADASTRO NO DOCUMENTO DE ORIGEM FLORESTAL. COMPROVAÇÃO. ARTIGO 299 DO CÓDIGO PENAL. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO DO RÉU. DOSIMETRIA DA PENA. PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. MODALIDADE MAIS ADEQUADA. ALTERAÇÃO.
1. Ao manter em depósito madeira sem o correspondente cadastro no DOF (documento de origem florestal), resta configurado o crime do artigo 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/98.
2. O delito de falsidade ideológica ocorre com a inserção ou missão de declaração falsa, ou diversa da que deveria constar, também se tratando de crime formal, sendo desnecessária a ocorrência de dano para que se configure o tipo penal.
3. Impossibilidade de comprovação de que o réu, pessoalmente, inseriu os dados falsos referidos na denúncia. In dubio pro reo. Absolvição da imputação da prática do crime do artigo 299 do Código Penal.
4. Pena restritiva de direitos imposta à pessoa jurídica. Prestação pecuniária mais adequada do que interdição temporária, tendo em vista o caráter educativo da medida.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação de ALSIO DE JESUS GARCIA GONÇALVES, para absolvê-lo da imputação da prática do crime do artigo 299 do Código Penal, nos termos do que dispõe o artigo 386, IV, do Código de Processo Penal; dar parcial provimento à apelação do Ministério Público Federal, para alterar a modalidade da pena restritiva de direitos e negar provimento à apelação da INDÚSTRIA DE MADEIRAS TOZZO LTDA, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parteintegrante do presente julgado.
Porto Alegre, 16 de maio de 2018.
Desembargador Federal JOÃO PEDRO GEBRAN NETO
Relator

Outros materiais