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AULA 5 LOGÍSTICA GLOBAL E A SUA IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA Prof. Márcio José das Flores 2 CONVERSA INICIAL Olá, caros alunos! Nesta quinta aula, falaremos sobre as estruturas e os organismos internacionais que têm a missão de promover o desenvolvimento socioeconômico dos países e o bem-estar dos povos. tema 1: restrições ao comércio internacional; tema 2: restrições ao comércio no Brasil; tema 3: organismos internacionais do comércio; tema 4: organismos financeiros internacionais; tema 5: Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). CONTEXTUALIZANDO O mercado internacional não é uma entidade autodesenvolvida e organizada. As experiências aprendidas pelo mundo no entreguerras levou a negociações após a Segunda Grande Guerra que delinearam as estruturas que conhecemos hoje ligadas ao comércio internacional. TEMA 1 – RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO INTERNACIONAL Tendo como grande problema a carência de capital (reservas internacionais), as nações em fase de desenvolvimento oferecem os estímulos possíveis às exportações, penalizando as importações por meio de um sistema tarifário e outras restrições. Em alguns desses países, empresas estatais são criadas para o processamento de compras internacionais, principalmente de combustíveis, alimentos, produtos químicos e farmacêuticos. A possibilidade de um embargo às vendas de certos produtos e a necessidade de defesa nacional pode levar alguns países a buscar a autossuficiência em algumas mercadorias estratégicas. Questões políticas e militares constantemente afetam o comércio internacional e outras operações de empresas internacionais. Historicamente, têm ocorrido muitos conflitos entre as companhias multinacionais (tipicamente exportadoras) e os governos dos países- sede (tipicamente importadores) sobre ideologia política, soberania nacional, 3 controle de indústrias-chave, balanço de pagamentos e controle dos mercados de exportação. Há uma variedade de argumentos em prol do protecionismo que envolvem, por exemplo: a segurança nacional: se um país deseja ser uma potência mundial, deve manter sob controle algumas indústrias-chave, tais como a de petróleo e a siderúrgica. Mantendo o controle sobre as matérias-primas básicas, o país garante suprimentos em caso de conflitos globais e/ou boicotes; concorrência irregular: as indústrias de uso intensivo de mão de obra nos países desenvolvidos argumentam que os baixos salários nos países em desenvolvimento constituem concorrência desleal. Além dos baixos salários, os países com política industrial exportadora gozam de vantagem competitiva irregular devido a suas políticas públicas de concessão de incentivos fiscais especiais, subsídios e proteções seletivas para superar a concorrência internacional; proteção à indústria nascente: a lógica do argumento da indústria nascente é que as medidas protecionistas são essenciais para as indústrias domésticas recentemente estabelecidas sobreviverem à concorrência. Elas precisam de tempo e proteção para atingir o seu ponto de equilíbrio e gozar das economias de escala; manutenção do nível de emprego doméstico: a proteção à indústria mantém o emprego doméstico e o padrão de vida dos empregados. O custo do desemprego poderá ser mais elevado que o custo da produção doméstica ineficiente para certos produtos; diversificação: economias altamente especializadas, como a do Kuwait, dependem do mercado internacional para a sua renda. Esses países precisam de alguma proteção para diversificar a sua economia se quiserem reduzir sua dependência dos mercados mundiais. As restrições às importações podem ser de dois tipos: tarifárias e não tarifárias. A tarifa é um imposto sobre importação que se constitui no principal obstáculo à compra de produtos fabricados no exterior. Entretanto, não incide indiscriminadamente sobre todos os produtos importados, mas de acordo com a natureza do produto e o país de origem. As tarifas podem ser, segundo a fórmula de cálculo: 4 ad valorem: para um produto específico, calcula-se o imposto aplicando-se um percentual fixo sobre o valor aduaneiro, usualmente o preço CIF (custo, seguros e frete, do inglês cost, insurance and freight) da mercadoria no porto de entrada no país importador; específicas: são aplicadas quantias prefixadas em moeda nacional pela unidade estatística da mercadoria; compostas: são aplicadas combinações dos dois critérios anteriores. As tarifas também podem ser: protecionistas: implementadas para proteger os produtos nacionais da concorrência estrangeira; de receita: são impostas para aumentar a receita fiscal; punitivas: estabelecidas para penalizar um parceiro comercial desleal; de direitos antidumping: exigidas em virtude de o exportador ter praticado preços abaixo daquele que oferece no mercado doméstico; de direitos compensatórios: aplicadas para compensar os efeitos de subsídios oferecidos pelos governos estrangeiros às mercadorias importadas. Outras restrições são denominadas barreiras não tarifárias, e podem incluir a imposição de cotas e a participação dos governos no comércio exterior na forma de subsídios à exportação, direitos compensatórios e regulamentos antidumping: cotas: limites impostos na quantidade de produtos que pode ser importada durante um certo período, geralmente estabelecidas por leis ou regulamentos da autoridade aduaneira. A cota absoluta (sobre um produto específico) pode ser aplicada de forma global, quando o montante permitido aplica-se a todos os países fornecedores, ou por país, quando o montante é previamente divido por cada país fornecedor. Há ainda a cota tarifária, em que até um determinado montante importado, aplica-se a tarifa regular e, acima deste, uma tarifa punitiva, em geral muito elevada; exigências de conteúdo local: quando a importação é permitida, havendo o compromisso, pelo exportador, de que parte do processo de fabricação será realizado no país, sendo muito comum que exportações de manufaturados sejam realizadas para montagem no exterior, na forma completamente desmontados, ou semidesmontados, respectivamente ckd (do inglês complete knock-down) e skd (do inglês semi knock-down); 5 restrições a exportações voluntárias: são cotas sobre exportações estabelecidas pelo país exportador para evitar restrições mais severas pelo país importador; subsídios: são pagamentos feitos pelos governos a indústrias e companhias para compensação de seus altos custos, tornando-as artificialmente competitivas nos mercados de exportação, mas contrariando as normas do livre comércio; barreiras administrativas: são um complexo de leis, normas administrativas, regulamentos, padrões de segurança e sanitários, certificação de testes etc., que quando aplicados tornam mais difícil e cara a exportação. Os procedimentos aduaneiros e administrativos incluem classificação aduaneira, valoração e procedimentos de licenciamento prévio. Por sua vez, os regulamentos técnicos e sanitários aplicam regras de segurança, marcação, etiquetagem, embalagens e padrões técnicos etc. Além de preços comparativos desfavoráveis, devido ao agravamento dos importados em decorrência de tarifas e outras restrições, existem várias outras dificuldades, de caráter ambiental, para o desenvolvimento do comércio: distâncias geográficas: podem gerar um custo de transferência alto em relação ao custo de produção, alto suficiente para retirar a competitividade da maioria das nações; fatores culturais: idioma, religião, tradições, clima, hábitos, nível de alfabetização etc.; fatores econômicos: renda (produto interno bruto – PIB, ou produto nacional bruto – PNB) per capita, distribuição de renda, população economicamenteativa e nível de emprego, concentração urbana etc., pois determinam o poder aquisitivo das populações; diferenças elevadas de nível tecnológico entre os países produtores e os importadores: o nível tecnológico dos países industrializados permite a oferta de produtos sofisticados e caros para o poder aquisitivo de países menos desenvolvidos; por outro lado, o baixo nível tecnológico dos produtos de países menos desenvolvidos não lhes permite competir com os avançados produtos requeridos nos mercados globais mais exigentes; 6 crises econômicas internacionais: geralmente provocam medidas restritivas e, muitas vezes recessivas, para monitoramento do balanço de pagamentos dos países e redução de risco de déficit na balança comercial; catástrofes (maremotos, terremotos, secas prolongadas, inundações, incêndios etc.): usualmente interrompem o trânsito nas estradas, ferrovias e hidrovias, ou mesmo as operações portuárias das nações atingidas; conflitos armados internacionais, guerras civis e insurreições: podem dificultar o fluxo de mercadorias através dos territórios ameaçados e dos espaços aéreo e marítimo das nações envolvidas e vizinhas. As barreiras são geralmente impostas pelos governos das nações em busca de equilíbrio no balanço de pagamentos ou da balança comercial. Mas eles ainda podem permitir a entrada de companhias estrangeiras em seu país em forma de, por exemplo, joint ventures, ou de investimentos estrangeiros diretos, isto é, participações de capital de risco de empresas em unidades produtivas, sejam novas plantas, sejam por meio de aquisições ou de fusões com empresas existentes. TEMA 2 – RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO INTERNACIONAL NO BRASIL Nas diversas políticas implementadas no Brasil, no sentido de desenvolver a indústria nacional, inúmeras barreiras não tarifárias vigoraram por algum tempo. Entre elas, podemos citar: câmbio administrado e ocorrência de maxidesvalorizações da moeda; regime de prazos mínimos de pagamento; proibições e reservas de mercado em alguns setores e produtos; proibição de juros nas importações em até 180 dias; depósito compulsório no valor das obrigações assumidas; câmbio duplo para operações comerciais e financeiras; aprovação prévia de programas anuais de importações; autorização prévia das operações financiadas em longo prazo; exigências de financiamentos externos nas importações de bens de capital; contribuições sociais a trabalhadores portuários etc. Outras barreiras não tarifárias permanecem em pleno vigor até os nossos dias, entre as quais: 7 imposto de renda sobre encargos de financiamentos; tarifas de armazenagem e despesas portuárias elevadas; adicionais de tarifas portuárias e aeroportuárias; taxas de melhoramentos sobre fretes marítimos; contribuições ao sindicato de despachantes aduaneiros; licenciamento prévio e controle de preços nas importações; exame de similaridade de produtos nacionais no caso de importações de bens de capital; exigência de contratação de câmbio a termo nas operações com pagamentos em curto prazo; monitoramento das taxas de juros sobre financiamentos de importações. No início da década de 1990, houve uma grande mudança na política brasileira de comércio exterior visando a desregulamentação e a gradativa abertura comercial. Além da criação e da implementação do acordo do Mercado Comum do Sul (Mercosul), firmado com Argentina, Paraguai e Uruguai, foram tomadas uma série de medidas modernizadoras, entre as quais: encaminhamento da questão portuária, visando o seu reaparelhamento e o barateamento dos serviços, com a privatização de alguns portos; implementação do sistema integrado de comércio exterior (SISCOMEX); revogação das proibições e suspensões de importações; extinção da reserva de mercado da informática; redução de algumas taxas, verdadeiros impostos disfarçados; flutuação das taxas, no mercado de câmbio; facilitação das importações por via postal; permissão para algumas remessas financeiras ao exterior; acesso de empresas estrangeiras a licitações públicas; atração de capitais estrangeiros à bolsa de valores; isenção de tarifas para bens de capital sem similar nacional; e, principalmente, a redução gradativa des tarifas, máxima e média, de 105% e 65% em 1990, para, respectivamente, 35% e 20% em 1995. 8 TEMA 3 –ORGANISMOS INTERNACIONAIS DO COMÉRCIO Após a Segunda Guerra Mundial, houve diversas negociações com o objetivo de criar bases para as relações internacionais do pós-guerra, de forma a possibilitar o restabelecimento do sistema econômico mundial. Gerou-se um consenso sobre a necessidade de se pôr termo às práticas discriminatórias no comércio internacional, dentro do espírito de Bretton Woods. Em fevereiro de 1946 foi decidida, no contexto das Nações Unidas, a convocação de uma conferência sobre comércio e emprego, visando a criação de uma organização internacional de comércio para promover as negociações multilaterais e reduzir os níveis tarifários então praticados. O relatório dessa conferência – a Carta de Havana, firmada por 23 países em 1947 – sugeriu a adoção de um acordo geral sobre tarifas aduaneiras e comércio (GATT, do inglês general agreement on tariffs and trade). Ele entrou em vigor a partir de 1948, e seria a base de uma organização internacional do comércio com sede em Genebra, na Suíça, cuja constituição contou com o boicote de alguns governos, inclusive o dos Estados Unidos. Esse acordo tinha como objetivo desenvolver quatro importantes regras para a liberalização do comércio: políticas comerciais não discriminatórias em todos os países-membros; redução das tarifas por meio de negociações multilaterais; eliminação de cotas de importação; solução de disputas de políticas comerciais por meio de consultas internacionais. Dos 38 artigos do acordo, o mais importante é a Cláusula da Nação Mais Favorecida (art. I): Todas as vantagens, favores, privilégios, ou imunidades acordadas por uma parte contratante a um produto originário ou destinado a todos os países, serão estendidas imediata e incondicionalmente a todo aquele produto similar originário de, ou destinado a todos os territórios de todas as outras partes contratantes. Quanto às concessões tarifárias, compromissos assumidos por uma parte contratante (país signatário do GATT) de não aplicar um direito aduaneiro maior do que aquele acordado com uma outra parte, para um determinado produto ou item tarifário, são frutos de uma negociação que consolidou tal entendimento 9 durante as rodadas realizadas com essa finalidade. As listas de concessões, tratadas no art. II, foram anexadas ao texto do acordo. Os países-membros do GATT realizaram várias rodadas de negociações desde então para expandir e promover o comércio internacional. As primeiras reuniões, de 1949 a 1952, visavam tão somente a redução das tarifas específicas. A Rodada Kennedy objetivou o corte de tarifas sobre produtos industriais, especialmente no comércio entre Estados Unidos e a Comunidade Econômica Europeia. A Rodada Tóquio, por sua vez, priorizou as negociações multilaterais de disputas oriundas do comércio e a redução de barreiras não tarifárias, cujo resultado normatizou o comércio regular, dispondo sobre dumping, subsídios, controles e outras irregularidades consideradas concorrência desleal. A Rodada Uruguai, embora tenha desenvolvido negociações para redução de tarifas, incluiu pela primeira vez na pauta de discussões áreas fora do âmbito do GATT, como o aperfeiçoamento das regras de solução de disputas comerciais e a integração das áreas de comércio e investimento. 3.1 Organização Mundial do Comércio (OMC) Em dezembro de 1994, ao encerramento da Rodada Uruguai, os países- membros se decidiram pela criação da Organização Mundial doComércio (OMC), que seria a sucessora do GATT, obtendo ratificação pelos governos das 124 nações participantes. A OMC passou a funcionar em 1995, e têm poderes universais de regulamentar as atividades internacionais de comércio e de investimentos. Sua agenda estabelece a continuidade das negociações em torno dos seguintes temas: liberalização da prestação de serviços financeiros e securitários; liberalização da prestação de serviços de telecomunicações e teleinformática; regulamentação do comércio eletrônico de mercadorias (por meio da internet); regulamentação dos serviços profissionais; regulamentação dos direitos de propriedade intelectual; normatização de critérios de combate à corrupção etc. 10 A criação da OMC foi um passo muito importante para o comércio mundial. Grande parte das barreiras desapareceram, tendo em simultâneo sido introduzidas medidas que passaram a facilitar as trocas comerciais em nível mundial. Como exemplo de algumas dessas medidas, podemos referir: acordo antidumping: acordo contra a importação/exportação de mercadorias em grande escala e por um baixo preço. Esse acordo tem a finalidade de proteger os países em vias de desenvolvimento; acordo de salvaguarda: assegura que as medidas de salvaguarda não sejam aplicadas contra um produto originário de um país-membro em vias de desenvolvimento, desde que sua parte nas importações do produto referido para um membro importador não exceda 3%. Isso assegura que países-membros em vias de desenvolvimento com menos de 3% das importações compartilhem coletivamente não mais de 9% do total de importações do produto referido; acordo de agricultura: o o investimento de subsídios que estão geralmente disponíveis para a agricultura, subsídios para input geralmente disponíveis para os produtores de baixo rendimento ou de pobres recursos. Além disso, apoia os produtores a encorajar a diversificação, evitando colheitas ilícitas de plantas narcóticas. o a percentagem mínima de medidas agregadas de apoio (AMS), abaixo da qual nenhuma redução precisa ser feita, quer para produtos específicos, quer para medidas não específicas: 10% contra os 5% dos países membros desenvolvidos; o Os requisitos para reduzir os gastos orçamentais para os subsídios de exportação e as quantidades que beneficiam de tais subsídios são 24% e 1% respectivamente, contra os requisitos para os países desenvolvidos reduzirem 36% e 21% respectivamente; o durante o período de implementação nenhum compromisso de redução deve ser levado a cabo no que diz respeito ao mercado de subsídios para fretes ou subsídios para transportes internos ou embarques de exportações; o as medidas para as matérias alimentícias de preços subsidiados com o objetivo de encontrar alimentos requeridos no meio rural e urbano dos 11 países em vias de desenvolvimento não devem ser consideradas como sendo um programa interno de apoio sujeito a um acordo de redução; o o acordo sobre a agricultura assegura que os países-membros em vias de desenvolvimento têm flexibilidade para implementar acordos de redução em um período de até 10 anos contra os 6 anos para os países- membros mais desenvolvidos. Os países-membros menos desenvolvidos não têm que fazer nenhum acordo de redução. O acordo sobre medidas de investimento relacionadas ao comércio (TRIMs) exige que os membros dos países em vias de desenvolvimento eliminem todas as TRIMs notificadas dentro de 5 anos, e os países-membros menos desenvolvidos, menos de 7 anos, contra os 2 anos para os países-membros mais desenvolvidos. o existem ainda outras medidas para o prolongamento do período de transição para os países em vias de desenvolvimento e para os menos desenvolvidos. acordo sobre avaliação alfandegária: esse acordo permite aos países- membros em vias de desenvolvimento atrasar a aplicação das medidas do acordo por um período que não exceda cinco anos. O acordo também assegura certa consideração nos pedidos para extensão do período de transição. TEMA 4 – ORGANISMOS FINANCEIROS INTERNACIONAIS [...] As instituições multilaterais de Bretton Woods - o Banco Mundial e o FMI - nasceram com poderes de regulação inferiores aos desejados inicialmente por Keynes e Dexter White, respectivamente representantes da Inglaterra e dos Estados Unidos nas negociações do acordo, que se desenvolveram basicamente, entre 1942 e 1944. Harry Dexter White pertenceu à chamada ala esquerda dos New Dealers e foi por isso, depois da guerra, investigado duramente pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas do Congresso. Seu plano inicial previa a constituição de um verdadeiro Banco Internacional e de um Fundo de Estabilização.. Juntos o Banco e o Fundo deteriam uma capacidade ampliada de provimento de liquidez ao comércio entre os países-membros e seriam mais flexíveis na determinação das condições de ajustamento dos déficits do balanço de pagamentos. Isso assustou o establishiment americano. Uns porque entendiam que estes poderes limitavam seriamente o raio de manobra da política econômica nacional americana. Outros porque temiam a tendência “inflacionária” desses mecanismos de liquidez e de ajustamento. Keynes propôs a Clearing Union, uma espécie de Banco Central dos bancos centrais. A Clearing Union emitiria uma moeda bancária, o bancor, ao qual estariam referidas as moedas nacionais. Os déficits e superávits dos países corresponderiam a reduções e aumentos das contas dos bancos centrais (em bancor) junto à Clearing Union. 12 Uma peculiaridade do Plano Keynes era a distribuição mais equitativa do ônus do ajustamento dos desequilíbrios dos balanços de pagamentos entre deficitários e superavitários. Isto significava, na verdade, dentro das condicionalidades estabelecidas, facilitar o crédito aos países deficitários e penalizar os países superavitários. O propósito de Keynes era evitar os ajustamentos deflacionários e manter as economias nacionais na trajetória do pleno-emprego. A proposta também sofreu sérias restrições dos Estados Unidos, país que emergiu da segunda guerra como credor do resto do mundo e superavitário em suas relações comerciais com os demais. O enfraquecimento do Fundo, em relação às ideias originais, significou a entrega das funções de regulação de liquidez e de emprestador de última instância ao Federal Reserve (Belluzzo, 2014). O enfraquecimento do Fundo, em relação às ideias originais, significou, na prática, a entrega das funções de regulação de liquidez e de emprestador de última instância ao Federal Reserve. O sistema monetário e de pagamentos que surgiu do Acordo de Bretton Woods foi menos "internacionalista" do que desejariam os que sonhavam com uma verdadeira "ordem econômica mundial" (Belluzzo, 1995). O problema do FMI não é seu poder excessivo, mas sua deplorável submissão ao poder e aos interesses dos Estados Unidos. Muito se tem escrito sobre o papel dos Estados Unidos na prosperidade do pós- guerra. Alguns autores procuraram definir com maior precisão as condições de estabilidade do sistema de Bretton Woods: o benefício da seignorage, desfrutado pelo país emissor da moeda reserva (os EUA) era condição para que os países-membros executassem, dentro das regras, políticas “keynesianas” internas e estratégias neo-mercantilistas Padoan [...] sugere que, para os Estados Unidos, os benefícios da seignorage se desdobravam em: a) objetivos estratégicos: os americanos suportaram a maior parte dos custos da aliança militar formalizado no tratado do Atlântico Norte e puderam fazê-lo em grande medida, graças à condição de emissores da moeda reserva internacional; b) objetivos econômicos: a seignorage permitiu a expansão da indústria americana e de seu estilo tecnológico (o fordismo), sobretudo através do investimento direto; c) objetivos financeiros: a posição de “banqueiro internacional” dos Estados Unidos concedeuum enorme espaço para o crescimento dos bancos americanos (Belluzzo, 2014). Todavia, nesse sistema, os Estados Unidos e sua economia começaram a sentir os efeitos da ascensão de parceiros e competidores. Japão e Alemanha, por exemplo, reconstruíram seus sistemas industriais e empresariais mais permeáveis às mudanças tecnológica e organizacionais, e os novos países industrializados da periferia ganharam maior espaço no volume crescente do comércio mundial. Dessa forma, a análise do "saldo negativo do balanço de pagamentos americano mostrou, a partir do início dos anos 70, uma participação cada vez mais importante do déficit comercial" (Belluzzo; Mazzucchelli, 2004). 13 TEMA 5 – ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (OCDE) A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma instituição composta de 29 países com sede em Paris, na França, e que reúne os chamados países industrializados. Entre outros objetivos, busca promover a extensão do comércio sob teses multilaterais e procura assegurar a estabilidade financeira internacional, estabelecendo códigos legalmente amparados para a liberalização do fluxo de capitais e serviços e acordos para eliminar a corrupção nos negócios internacionais. Por meio de um acordo multilateral denominado União de Berna, estabelece os parâmetros aceitáveis de taxas de juros aos financiamentos comerciais, reduzindo as possibilidades de concessão de subsídios extraordinários na forma de incentivos creditícios, limitando significativamente as operações de dumping. A implementação do organismo regulador do comércio internacional estabeleceu um novo foro para a solução das questões mais fundamentais do relacionamento entre países, sendo muito grande a expectativa das nações quanto a adoção de medidas mais drásticas e debates mais intensos, não só a respeito de dumping, mas também sobre os direitos de propriedades industrial e intelectual, retirada de barreiras não tarifárias, subsídios à produção agropecuária, de pesca etc. FINALIZANDO Nesta aula, apresentamos os principais organismos mundiais que, em suas respectivas competências, incentivam as trocas internacionais. É importante destacar a estruturação ocorrida nas negociações após a Segunda Guerra Mundial que objetivaram o desenvolvimento e a estabilidade internacionais. 14 LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem prática ENCICLOPÉDIA CULTURAMA. Quais são os diferentes tipos de restrições ao comércio internacional? 11 fev. 2016. Disponível em: <https://edukavita.blogspot.com.br/2016/04/quais-sao-os-diferentes-tipos- de_76.html>. Acesso em: 29 maio 2018. Saiba mais PENA, R. F. A. Organismos internacionais. Mundo Educação, s/d. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/organismos- internacionais.htm>. Acesso em: 29 maio 2018. http://files.puralogistica.webnode.com/200000007-b2c22b3bc3/custos-logisticos-no-brasil.pdf http://files.puralogistica.webnode.com/200000007-b2c22b3bc3/custos-logisticos-no-brasil.pdf 15 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. BELLUZZO, L. G. M. BRICS: um ensaio de Bretton Woods no Ceará? Carta Maior, 14 jul. 2014. Disponível em: <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Brics-um-ensaio-de- Bretton-Woods-no-Ceara-/6/31380>. Acesso em: 29 maio 2018. _____. Proposta italiana pode ser volta ao futuro. Folha de S.Paulo, 26 fev. 1995. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/2/26/dinheiro/10.html>. Acesso em: 29 maio 2018. BELLUZZO, L. G. M.; MAZZUCCHELLI, F (Org.). Ensaios sobre o capitalismo no século XX. São Paulo: Unesp, 2004. KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia internacional: teoria e política. 5. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2001. FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. LOPES, A. Finanças internacionais. São Paulo: Atlas, 2003. SEITENFUS, R. Manual das organizações internacionais. 2. ed. São Paulo: Livraria do Advogado, 2000.
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