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FACULDADE BOAS NOVAS DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS SOCIAIS E BIOTECNOLOGIAS - FBNCSB CURSO DE BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO NIELI DA COSTA SILVA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE DISCURSIVA E COGNITIVA DO GÊNERO MANCHETE QUE TRATARAM DO TEMA FEMINICIDIO NO PORTAL EM TEMPO NO ANO DE 2019 MANAUS – AM 2019 NIELI DA COSTA SILVA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE DISCURSIVA E COGNITIVA DO GÊNERO MANCHETE QUE TRATARAM DO TEMA FEMINICIDIO NO PORTAL EM TEMPO NO ANO DE 2019 Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do título de Jornalista no curso Comunicação Social habilitação em Jornalismo da Faculdade Boas Novas de Ciências Tecnológicas Sociais e Biotecnologia. Orientador: Prof. Esp. Cledione Moura Ferreira. MANAUS – AM 2019 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Bibliotecária Aline Pereira Brasil CRB-11/765 FACULDADE BOAS NOVAS – BIBLIOTECA PR. ALCEBIADES PEREIRA DE VASCONCELOS Av. General Rodrigo Otávio 1655 Japiim Manaus- AM CEP.69.077-000 S586v Silva, Nieli da Costa. Violência contra a mulher: uma análise discursiva e cognitiva do gênero manchete que trataram do tema feminicídio no Portal Em Tempo no ano de 2019. / Nieli da Costa Silva. -- Manaus: FBN, 2019. 54 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo) – Faculdade Boas Novas/ FBN, 2019. Orientador: Prof. Esp. Cledione Moura Ferreira. 1. Manchete. 2. Violência contra mulher. 3. Feminicídio. I. Ferreira, Cledione Moura. II. Título. CDD 070.43 NIELI DA COSTA SILVA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE DISCURSIVA E COGNITIVA DO GÊNERO MANCHETE QUE TRATARAM DO TEMA FEMINICIDIO NO PORTAL EM TEMPO NO ANO DE 2019 Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do título de Jornalista no curso Comunicação Social habilitação em Jornalismo da Faculdade Boas Novas de Ciências Tecnológicas Sociais e Biotecnologia. Aprovado em ______/______/_______ Nota: _________________ BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Prof. Esp. Cledione Moura Ferreira (Presidente) Faculdade Boas Novas de Ciências Teológicas, Sociais e Biotecnológicas – FBNCTSB _____________________________________ Prof. Me. Hernan Gutierrez Herrera (Membro) Faculdade Boas Novas de Ciências Teológicas, Sociais e Biotecnológicas – FBNCTS _____________________________________ Profª. Me. Maria do Rosário R. Nogueira (Membro) Faculdade Boas Novas de Ciências Teológicas, Sociais e Biotecnológicas – FBNCTS Dedico este trabalho a todos aqueles que, assim como eu, lutam para um mundo mais justo, no qual vale a pena acreditar que as pessoas podem sim contribuir para que outras se tornem melhores socialmente. AGRADECIMENTOS Primeiramente quero agradecer a Deus por sempre estar comigo em situações difíceis, ao meu pai Diozinaldo Silva, que nunca deixou faltar nada ao decorrer do curso e, de forma especial, agradeço a minha mãe Ana Brites, que foi o meu alicerce na minha vida acadêmica. Para finalizar com chave de honra, agradeço pela dedicação e paciência do professor Cledione Moura que permitiu que eu chegasse até a etapa final dessa árdua caminhada. A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota. (Jean-Paul Sartre) RESUMO O presente trabalho refere-se a uma análise de manchetes do Portal Em Tempo que tratam do tema Feminicídio, fazendo um link com o contexto histórico de como a temática violência contra a mulher é vista e tratada pela imprensa, e pela sociedade. O objetivo principal da pesquisa é analisar a forma do discurso empregado na construção das manchetes e se elas, de algum modo, deturpam ou distorcem informações levando o leitor a tirar conclusões preconcebidas a respeito dos autores envolvidos nas ocorrências noticiadas. Para tanto, serão analisadas cinco manchetes que tratam do mesmo tema, de jornalistas diferentes, para que seja possível avaliar se as estratégias empregadas na construção das manchetes trazem concepções ideológicas ou até mesmo impressões pessoais que podem influenciar na opinião do público leitor. Para embasar o estudo desenvolvido foi realizada uma pesquisa bibliográfica de autores que desenvolveram seus estudos analisando as subjetividades do discurso empregado principalmente em gêneros textuais, como a manchete, por exemplo. Palavra-chave: Manchete. Violência contra mulher. Feminicídio. ABSTRACT The present work refers to an analysis of headlines of the Portal In Time dealing with the theme feminicide. Linking with the historical context of how the theme violence against women is seen and treated by the press, and society. The main objective of the research is to analyze the form of the discourse employed in the construction of headlines and whether they somehow misrepresent or distort information leading the reader to draw preconceived conclusions about the authors involved in the occurrences news. To this end, five headlines that deal with the same theme will be analyzed, from different journalists, so that it is possible to evaluate whether the strategies employed in the construction of headlines bring ideological conceptions or even personal impressions that can influence the opinion of the reader audience. To support the study developed, a bibliographic research was conducted by authors who developed their studies analyzing the subjectivities of discourse used mainly in textual genres, such as the headline, for example. Keyword: Headline. Violence against women. Femicide. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11 2 VIOLÊNCIA: CONCEITOS ......................................................................................... 13 2.1 HOMICÍDIOS: CONCEITO, HISTÓRIA, NÚMEROS GERAIS E PESQUISA .................14 2.2 FEMINICÍDIO: CONCEITOS E HISTÓRIA ........................................................................19 2.3 A TIPIFICAÇÃO DO FEMINICÍDIO ...................................................................................22 3 O FEMINICÍDIO COMO CRIME NO BRASIL ............................................................. 24 4 LEIS E CÓDIGO ......................................................................................................... 30 4.1 PROTEÇÃO – ÓRGÃOS NACIONAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS ...........................30 5 FUNÇÕES DAS MANCHETES NO JORNALISMO ................................................... 34 5.1 A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA ELABORAÇÃO DAS MANCHETES ..........................38 5.2 ANÁLISE DE MANCHETES SOBRE FEMINICÍDIOS DO PORTAL EM TEMPO .........39 5.3 POSICIONAMENTOS DO PORTAL EM TEMPO ............................................................48 2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 50 REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 51 11 1 INTRODUÇÃO A violência generalizada e suas múltiplas facetas, nunca estiveram tão em voga quanto nos últimos anos no Brasil. E, o que é ainda mais preocupante, massificada por um discurso de intolerância às diferenças, além da total ojeriza a qualquer tentativa de explicação, esclarecimento e intermediação de diálogo. Nesse cenário, se por um lado o acesso a conteúdos informativos pode evidenciar tais práticas, expondo seus executores, por outro as informações rasas, distorcidas, muitas vezes falsas, a exemplo das Fake News, banalizam as mais diversas formas de violência, promovendo o que hoje é chamado de linchamento virtual nas redes sociais, atribuindo a qualquer um a função de juiz, carrasco e justiceiro. Neste contexto um tipo específico de violência ganha destaque, ao mesmo tempo em que alguns jornais, e demais plataformas de informação muitas vezes atenuam e a gravidade do tema. Não é de hoje que o feminicídio é tratado com descaso pela imprensa, muitas vezes expondo mais a vítima, que seu algoz, ou até mesmo dando a entender que fora a vítima a culpada por tal crime. Minimizam a culpabilidade do executor, por meio de eufemismo que dão a entender que o crime não passou de um ato isolado. Esse tipo de prática no meio jornalístico local é comum, haja vista que, muitas vezes, o texto final vem carregado das impressões pessoais de seus autores, sua visão de mundo, ou até mesmo influenciado pela linha editorial do veículo, com isso, de obedecerem aos Princípios Internacionais da Ética Profissional no Jornalismo, que estabelece em seu Princípio II, que: A tarefa primeira do jornalista é garantir o direito das pessoas à informação verdadeira e autêntica através de uma dedicação honesta para realidade objetiva por meio de que são informados fatos conscienciosamente no contexto formal deles/delas e mostram as conexões essenciais deles/delas e sem causar distorção, com desenvolvimento devido da capacidade criativa do jornalista, de forma que o público é provido com material adequado para facilitar a formação de um quadro preciso e compreensivo do mundo no qual a origem, a natureza e a essência dos acontecimentos, processos e estados dos casos são tão objetivamente quanto possível compreendidos. (ABI, 2019). Este trabalho tem como objetivo principal analisar as manchetes veiculadas pelo Portal Em Tempo, no ano de 2019, que abordaram o tema feminicídio 12 considerando o discurso utilizado, além dos termos e nomenclaturas atualizadas para se referirem ao tema. Além disso, pretende-se também levantar a discussão do quanto é importante, para efeito de esclarecimento do público leitor a respeito do assunto, transmitir informações claras, coerentes e comprometidas com a verdade de forma imparcial, e justa. Para tanto foi desenvolvida uma pesquisa descritiva que de acordo com Fonseca (2008), nesse método os fatos são observados, registrados e analisados, classificados e interpretados, ou seja, o pesquisador não interfere diretamente no que está sendo observado. A pesquisa se define também como bibliográfica, pois segundo Gil (2010), a pesquisa bibliográfica necessita de materiais publicados isso inclui material impresso, como por exemplo jornais, revistas e livros. A abordagem da pesquisa é qualitativa porque envolve a realidade e as pessoas conforme explicam Lakatos e Marconi (2010): O método qualitativo é diferente do quantitativo não só por não empregar instrumentos estatístico, mas também pela forma de coleta e análise de dados. A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendência de comportamento e etc. (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 269). Esses métodos no darão os subsídios necessários para analisar da melhor forma um tema tão delicado que pode não apenas levar esclarecimento e informação, como também evitar que outras mulheres se tornem vítimas desse tipo de crime. 13 2 VIOLÊNCIA: CONCEITOS O termo violência se origina do latim violentia, que, de modo geral, expressa o ato de violar o outro ou a si mesmo. O termo ainda nos faz concluir que a natureza da violência reside no fato de que, por meio da força, tal ação possa ter como consequência tanto danos físicos, quanto psíquicos, caracterizando assim como atitudes contrárias à liberdade, e à integridade do outro. Apesar disso, as características gerais do termo variam conforme o tempo, o espaço, seguindo padrões culturais preestabelecidos em cada país, cidade, ou grupos sociais em uma determinada época. De acordo com o Dicionário Michaelis ( 2019) o termo violência pode ser conceituado da seguinte maneira: vi·o·lên·ci·a *substantivo feminino 1 Qualidade ou característica de violento. 2 Ato de crueldade. 3 Emprego de meios violentos. 4 Fúria repentina. 5 Jur Coação que leva uma pessoa à sujeição de alguém. EXPRESSÕES, violência arbitrária, Jur: prática criminosa cometida por alguém do meio jurídico, que se vale de seu cargo.Violência carnal, Jur: ato sexual no qual se emprega a força; estupro. Não violência: rejeição positiva da violência em qualquer circunstância. ETIMOLOGIA, lat violentĭa. (MICHAELIS, 2019). Michaelis conceitua de maneira genérica o termo, atribuindo algumas interpretações jurídicas do termo para incluir no seu conceito algumas formas de violência. Já o Dicionário Online de Português, destaca outros conceitos do termo: Significado de Violência Substantivo feminino. Qualidade ou caráter de violento, do que age com força, ímpeto. Ação violenta, agressiva, que faz uso da força bruta: cometer violências. [Jurídico] Constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, que obriga essa pessoa a fazer o que lhe é imposto: violência física, violência psicológica. Ato de crueldade, de perversidade, de tirania: regime de violência. Ato de oprimir, de sujeitar alguém a fazer alguma coisa pelo uso da força; opressão, tirania: violência contra a mulher. Ato ou efeito de violentar, de violar, de praticar estupro. Etimologia (origem da palavra violência). Do latim violentia. ae, "qualidade de violento". (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2019). No entanto, para Paviani (2016, pág. 08), “o conceito de violência é ambíguo, complexo, implica vários elementos e posições teóricas e variadas 14 maneiras de solução ou eliminação. As formas de violência são tão numerosas, que é difícil elencá-las de modo satisfatório”. O senso comum refere-se ao termo de modo superficial, parcial e simplificado, porém classificar as formas de violência depende de uma série de critérios que considerem a realidade dos envolvidos em atos violentos, e o modo de combatê-los. Essa necessidade de conceituação de violência é importante para que se possam identificar suas mais variadas formas. Entre as mais diversas formas de violência podemos aqui destacar as diferentes modalidades de violência contra a mulher, como a violência doméstica, o assédio sexual, o abuso sexual, a exploração sexual, a importunação sexual, o estupro, e o feminicídio. Muitos desses conceitos são relativamente novos, ou ganharam uma conotação mais grave recentemente, haja vista que a violência contra a mulher esteve, durante muitos anos, amparada numa cultura patriarcal cristã que se propagou na grande mídia por meio dos mais diversos meios de comunicação, presente, implícita, ou explicitamente em jornais, novelas, folhetins, revistas, entre outros. 2.1 HOMICÍDIOS: CONCEITO, HISTÓRIA, NÚMEROS GERAIS E PESQUISA A definição de homicídio para Masson (2014) está relacionada “a supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa”. Parao autor, o homicídio é considerado como um ato comum, pois o crime é praticado por qualquer pessoa, seja por forma isolada, ou com auxílio de outra pessoa. O crime é realizado por coautor ou pelo participante. O primeiro homicídio da história evidenciado pelo homem encontra-se registrado no primeiro livro da Bíblia Sagrada, Gênesis, capítulo quatro. De acordo com o teólogo Francesco (2015), em seu artigo sobre o homicídio e suas razões numa perspectiva histórica- social, a morte foi cometida por Caim contra o seu irmão Abel, devido à raiva, inveja e o ciúme. Francesco faz, inclusive, menção do texto bíblico: E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não 15 é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou. (FRANCESCO, 2015). Ao se referir a morte de Abel citada pela Bíblia Sagrada, Francesco (2015) explica que o texto foi escrito na época que a Lei oculum pro oculo, dentem pro dente magnum pro manu de Tailão estava em vigor. O teólogo releva que a morte de Abel demostra uma situação importante, onde Deus teria colocado em Caim um owth que no hebraico significa sinal ou marca. Para o autor, a palavra foi atribuída a Caim para indicar que apesar dele ter cometido o crime, ele não deveria ser morto. Nos dias atuais, segundo o Diário do Senado Federal (2011), o homicídio é caracterizado como crime, conforme o Código Penal Brasileiro por meio do Art. 121, e descrito como o ato de matar alguém. O homicídio é classificado como simples, qualificado ou culposo. A pena para esse tipo de crime varia de acordo com a situação em que é praticado. Conforme detalhado a seguir: Homicídio simples Art 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II – por motivo fútil; III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena – reclusão, de doze a trinta anos. Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena – detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (BRASIL, Diário do Senado Federal, 2011). De acordo com o que foi instituído pelo Senado Federal, é possível verificar que os fatores condicionantes para o homicídio determinarão a sua gravidade e 16 consequentemente a sua punição. Importante salientar também que dependendo da classificação do homicídio o juiz poderá reduzir a pena do infrator. Outro aspecto relevante diz respeito ao contexto em que o crime for cometido, como no caso do homicídio culposo, em que a punição pode ser aplicada se o agente deixa de prestar socorro às vítimas decorrentes de acidentes de ordem técnica profissional. Se doloso, o juiz poderá aumentar a pena se o crime for cometido contra menores de 14 anos, ou maior de sessenta. (BRASIL, 2011). No Brasil, conforme os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/MS), somente no ano de 2017 houve 65.602 homicídios, uma média de 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes. É o maior índice de letalidade violenta intencional já registrada no país, conforme o gráfico a seguir: GRÁFICO 1 - NÚMERO E TAXA DE HOMICÍDIO (2007 - 2017) FONTE: Atlas da Violência 2019 1 A leitura superficial do gráfico já apresenta um aumento significativo nas taxas de homicídios no país, com ligeiras quedas, e a retomada da escalada com crescimento ainda maior. Esses dados alarmantes não atingem todas as pessoas de maneira 1 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 17 homogênea. As taxas apresentadas evidenciam um processo extremamente preocupante quando considerado o aumento de homicídios contra grupos específicos, incluindo jovens, a população negra, população LGBTI, e mulheres, nos casos de feminicídios. A violência letal acomete principalmente os jovens. Para se ter uma ideia 59,1% do total de mortes de homens com idade entre 15 a 19 anos foram ocasionados por homicídios, conforme dados apresentados na tabela 1.1. A tabela ainda revela que a taxa de jovens do gênero feminino é muito mais baixa quando comparado às mortes de homens com a mesma faixa etária. A taxa de homicídios de mulheres com idade entre 15 e 19 anos é de 17,4%, ou seja 41,7% a menos. Esse dado revela que o índice de criminalidade que estimula crimes violentos tem os jovens do gênero masculino como seus principais alvos. TABELA 1 – PROPORÇÃO DE ÓBITOS CAUSADOS POR HOMICÍDIOS, POR FAIXA ETÁRIA – BRASIL (2017) FONTE: Atlas da Violência 2019 2 Ainda segundo dados do Mapa da Violência (2019) é possível perceber que o aumento na taxa de homicídios entre 2007e 2017 variou de região para região por conta de uma série de fatores. Enquanto as regiões Sudeste e Centro-Oeste apresentaram uma diminuição de casos de homicídios, os números se mantiveram estáveis no Sul do país, e tiveram um crescimento acentuado nas regiões Norte e Nordeste. Conforme apresenta o gráfico 2. 2 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432. http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 18 GRÁFICO 2 – TAXA DE HOMICÍDIO NO BRASIL E REGIÕES (2007-2017) FONTE: Atlas da Violência 2019 3 O forte aumento na letalidade nas regiões Norte e Nordeste possivelmente se deve à influência da guerra entre facções criminosas, deflagradas no período de 2015 a 2017. Além de rebeliões que também aconteceram em presídios localizados nessas regiões. A mesma versão do Atlas da Violência destaca que houve um aumento no número de homicídios femininos em 2017, com uma média de 13 assassinatos por dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas nesse ano, maior número já registrado desde 2007. Entre os anos de 2007 a 2017 houve um aumento de 20,7% na taxa nacional de homicídios de mulheres, quando os registros passaram de 3,9 para 4,7 mulheres assassinadas por grupo de 100 mil mulheres (Mapa da Violência, 2019). No gráfico a seguir pode-se visualizar a taxa de homicídio por 100 mil mulheres nas Unidades Federativas em 2017:3 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 19 GRÁFICO 3 - TAXA DE HOMICÍDIOS POR 100 MIL MULHERES NAS UF’S (2017) FONTE: Atlas da Violência 2019 4 Chama a atenção a taxa apresentada no gráfico referente ao estado de Roraima que, apesar de não ser considerada um grande centro urbano, alcançou um número de homicídios assustador no período. O que nos leva a concluir que fatores de ordem sociocultural também influenciam nessas ocorrências. 2.2 FEMINICÍDIO: CONCEITOS E HISTÓRIA A palavra “femicídio” ou “feminicídio” como é conhecida atualmente é utilizada para designar a morte de mulheres em que o assassinato é motivado pela vítima ser do sexo feminino. Isto significa que as mortes são cometidas em função de poder e gênero, ou seja, onde o indivíduo se sente no direito de tirar a 4Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 20 vida por achar-se em posição superior. Trata-se de um crime cuja verificação se encontra diretamente relacionada à cultura patriarcal, que justifica socioculturalmente a dominação da mulher pelo homem, a sua submissão e a sua objetificação. Tal cenário contribui para que a vida da mulher seja também considerada como um objeto, de propriedade do homem, estando ao seu arbítrio o direito sobre a sua vida e sobre a sua morte. (GRASSI, 2013, p. 95). Portanto, segundo Grassi (2013),o feminicídio, enquanto a sua significação, é um nome dado para o crime em que a mulher é vista como um objeto dominável, pois, a autora relata que o homem acredita ter o poder de decidir o modo de vida da vítima, ou até mesmo, a sua morte. Nessa lógica, o feminicídio é um ato motivado pelo ódio por consequência de uma cultura machista. Conforme Pasinato (2011), a palavra feminicídio que vem do termo femicídio – originalmente femicide em inglês – foi citado pela primeira vez por Diana Russel, no ano de 1976, em um depoimento no Tribunal Internacional de Crime Contra as Mulheres, em Bruxelas, na Bélgica. Segundo a autora, na ocasião havia cerca de duas mil mulheres de quarenta países que denunciaram casos de violência e abuso contra mulheres. Além disso, posteriormente, Diana Russel em parceria com a escritora Jill Radford escreveu o livro Femicide: the politics of woman killing (Femicídio: A política de matar mulheres) em que elas classificam o termo femicídio como assassinatos de mulheres em razão de serem mulheres. O livro tornou- se a principal referência para os estudos que envolvem o assunto. Ainda conforme Pasinato (2011), na obra as autoras mencionam, como exemplo, o Massacre da Escola Politécnica da Universidade de Montreal, Canadá, que aconteceu em 6 de dezembro do ano de 1986. O autor do crime, Marck Lepina, de 25 anos, após não conseguir concluir a matricula na escola, matou 14 mulheres e deixou 13 pessoas feridas (nove mulheres e quatro homens). Em sequência, Lepina cometeu suicídio e deixou uma carta em que alegava ter assassinado as mulheres devido elas estarem ocupando o espaço dos homens. Claramente, o massacre cometido pelo homem foi baseado no ódio, em função de gênero e de uma ideologia de supremacia masculina, como é caracterizado atualmente o crime de feminicídio. No entanto, apesar do surgimento da nomenclatura, na época do ocorrido, a mesma era apenas um 21 termo utilizado por movimentos feministas que lutavam contra a violência de mulheres e os valores impostos pelo patriarcado. Anos mais tarde, por volta de 2000, a partir da antropóloga e deputada Marcela Lagarde, o termo volta a aparecer e, desta vez, com mais rigor, para denunciar uma onda de assassinatos de mulheres em massa que aconteceu em Ciudad Juarez, no México, como afirma a obra Diretrizes Nacionais Feminicídio investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres (2016): O conceito de femicídio foi utilizado pela primeira vez na década de 1970, mas foi nos anos de 2000 que seu emprego se disseminou no continente latino-americano em consequência das mortes de mulheres ocorridas no México, país em que o conceito ganhou nova formulação e novas características com a designação de “feminicídio”. (Diretrizes Nacionais Feminicídio investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero, 2016, p. 19). Por outro lado, a definição proposta de femicídio por Fragoso (2005) engloba uma série de atos violentos, como por exemplo, abuso emocional, psicológicos, espancamentos, insultos, tortura, estupro, prostituição, assédio sexual, abuso infantil, infanticídio, mutilação genital, violência doméstica e qualquer outro tipo de violação contra as mulheres que o estado permite. O femicídio para Fragoso (2005) surgiu para relatar à dificuldade que o Estado Latino possui ao definir o crime em uma perspectiva de gênero e denominação de poder. Outro problema encontrado é que o Estado não reconhece que o crime é causado de maneira diferente, e varia conforme a experiência da vítima. Em decorrência dessa dificuldade em diferenciar os crimes. De acordo com Gonçalves (2015), o fato de não existir figura jurídica, os países da América Latina possuíam leis especificas voltadas para a violência, mas que se limitavam ao se referir e caracterizar as mortes de mulheres em situações em que os caos se variavam nas condições vividas pelas vítimas. Assim, o conceito femicídio ganhou uma nova reformulação porque havia uma necessidade de caracterizar os assassinatos de forma ampla, com o intuito de relatar ausência de políticas públicas do Estado em relação às mortes de mulheres de acordo com os perfis, e as similitudes dos crimes. Como afirma Lagarde (2004): 22 Para que se dê o feminicídio concorrem de maneira criminal o silêncio, a omissão, a negligência e a conveniência de autoridades encarregadas de prevenir e erradicar esses crimes. Há feminicídio quando o Estado não dá garantias para as mulheres e não cria condições de segurança para suas vidas na comunidade, em suas casas, nos espaços de trabalho e de lazer. Mais ainda quando as autoridades não realizam com eficiência suas funções. Por isso o feminicídio é um crime de Estado (LAGARDE, 2004, p. 5 apud PASSINATO, 2011, p. 232). Nesse sentido, a autora acredita que o conceito de feminicídio envolve o ato de impunidade nos casos, e que é importante o Estado atribuir medidas eficientes capazes de proporcionar segurança e combater a violência contra as mulheres, para amenizar o descaso, negligência e o silêncio das autoridades ao investigar o crime. Por sua vez, o termo femicídio de acordo com Gonçalves (2015), foi utilizado no Brasil através de Saffioti e Almeida em 1995, para atribuir um processo de análise sobre homicídios de mulheres nas relações íntimas, que no ano de 1998, foi novamente usado entre as autoras para o trabalho de Almeida que consistia na reflexão sobre mortes de mulheres em consequência de conflitos íntimos. Enquanto ao uso do termo femicídio no Brasil, Passinato (2011), afirma que o conceito não contribuirá para o reconhecimento e a compreensão dos crimes, porque ao invés de aplicar uma categoria homogeneizante seria melhor conhecer as causas e os contextos que ocorreram o crime, para assim qualificar os eventos e as relações de poder em torno de sua prática. 2.3 A TIPIFICAÇÃO DO FEMINICÍDIO Antes de a Lei ser sancionada o feminicídio era um crime frequente em que os casos estavam sem uma especificação de acordo com Rebello (2017), e devido a isso a necessidade de uma tipificação era de extrema importância para tratar os homicídios de mulheres no Brasil de uma forma separada. Segundo Rebello (2017), os assassinatos que envolvem as mulheres são cometidos por parceiros, e mesmo coma Lei Maria da Penha havia uma necessidade de mostrar que a violência estava sendo cometida frequentemente, mas por ser algo constante à sociedade estava normalizando sem perceber que a vítima foi assassinada por ser mulher. A tipificação do feminicídio em sua visão foi 23 uma forma de combater e atentar políticas públicas. A tipificação do feminicídio na visão de Rebello (2017) é de extrema importância para conscientizar as pessoas que a morte de mulheres não deve ser tratada no geral, pois trata de casos em que mulheres são mortas por serem do sexo feminino. Sendo assim, reconhecer o feminicídio na sociedade com intuito de não normalizar, torna-se um passo importante para solucionar o problema desse tipo de violência. Goldberg (1988), no seu livro Educação Sexual uma proposta, um desafio, explica que os crimes passionais precisavam ganhar um novo nome, pois casos de violência ou assassinatos envolvendo as mulheres sempre sofriam duras críticas que tornava a vida pessoal da vítima uma disputa, em que a vítima era taxada de prostituta e o marido como um homem exemplar, ou ao contrário, mas sempre as vítimas eram culpadas. Por isso, é bom desmistificarmos tais crimes, a começar do próprio nome. Eles não são crimes de paixão, crimes de amor, porque quem ama não mata. São isso sim, crimes contra a propriedade carnal praticados por quem se julga senhor da vida e da morte. São crimes de poder, do dono que não se conforma com a perda do objeto possuído. (GOLDBERG, 1988, p. 59). O questionamento de Goldeberg no ano de 1988 em relação à desmistificação do nome envolvendo crimes contra mulher era preocupante, mas que atualmente é uma conquista reconhecida no Código Penal Brasileiro como um crime grave denominado feminicídio. Pereira, Bueno, Bohnenberger e Sobral (2019), defendem que a tipificação do feminicídio é um aliado no momento em que ocorre o crime, e é de extrema importância ter um olhar diferenciado para acionar medidas cabíveis que possa beneficiar a investigação dos casos existentes. Essas medidas aplicadas Parte da importância da lei que tipificou o feminicídio é permitir um diagnóstico mais complexo do problema. Se todos os homicídios de mulheres seguissem uma única lógica investigava, seria mais difícil compreender as diferentes expressões das violências baseadas em gênero e traçar os caminhos institucionais para enfrenta-las. (PEREIRA; BUENO; BOHNENBERGER; SOBRAL, 2019, p.109). Conforme citado acima, a Lei que tipificou o feminicídio foi aprovada a fim de tratar o problema de forma mais focada em que se diferencia do homicídio comum, para assim facilitar o processo de reconhecimento do crime que envolve 24 mortes de mulheres tanto no requisito familiar como também por a vítima ser morta por condição de ser mulher. 3 O FEMINICÍDIO COMO CRIME NO BRASIL No Brasil, o feminicídio é um crime considerado como circunstância 25 qualificadora de homicídio, conforme o Código Penal, através da Lei nº 13.104 de 9 de março de 2015. De acordo com a referida determinação, assinada pela então presidente da república, Senhora Dilma Vana Rousseff, o feminicídio trata-se da morte cometida em razão à condição da vítima ser do sexo feminino, conforme o artigo 121, inciso 2º. FIGURA 1 - RELATÓRIO FINAL DA CPMI FONTE: Brasil, Senado Federal, 2013 5 A Lei em vigor altera o artigo 121 do decreto da Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 e inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos (inafiançável e insuscetível de graça, anistia ou indulto). A alteração foi feita devido uma pesquisa realizada pelo Mapa da Violência d e 2012, que indicou que o Brasil entre o ano de 2006 e 2010 ocupava a sétima posição no ranking de 84 países do mundo com taxa de 4,4 homicídios por 100 mil mulheres. Por consequência aos dados da violência, o Governo Federal sugeriu, assim, a recomendação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), responsável por investigar a violência contra a mulher no ano de 5 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a- violencia/pdfs/relatorio-final- da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres. https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/relatorio-final-da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/relatorio-final-da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/relatorio-final-da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres 26 2013, nos estados brasileiros, para aplicar no Código Penal, o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. FIGURA 1. De acordo com o relatório, a CPMI pôde constatar o descaso com os dados sobre a violência contra as mulheres, conforme as principais conclusões apresentadas no relatório da CPI presidida pela Deputada Federal Sandra Starling, tendo como relatora a também Deputada Federal Etevalda Grassi de Menezes: Dentre suas principais conclusões destacam-se: a) inúmeras dificuldades no tocante ao levantamento de dados sobre os índices de violência solicitados às Delegacias da Mulher e às Comarcas; b) inexistência de uma nomenclatura unificada referente aos dados sobre violência contra a mulher; c) dados incompletos ou que chegaram tardiamente à CPI. A carência de informações foi considerada reveladora do descaso por parte das autoridades governamentais que não supriram as comarcas e as delegacias de recursos humanos e tecnológicos para fazer o levantamento necessário, conforme solicitado à época pela CPI. (BRASIL, 2013, p. 19). No entanto o relatório esclareceu que o Brasil é signatário de importantes instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos das mulheres. Destaque para a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – Convenção CEDAW, (BRASIL, 2013), mesmo assim o Comitê manifestou preocupação com a falta de experiência do judiciário em casos de violência doméstica e familiar, e com a ausência de dados precisos sobre as ocorrências de violência contra mulher. Neste sentido o comitê faz algumas recomendações ao estado brasileiro: a) Fornecer treinamento sistemático aos juízes/as, promotores/as e advogados/as sobre direitos das mulheres, bem como sobre a constitucionalidade da Lei Maria da Penha, conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal. b) Fortalecer o sistema judicial para garantir que as mulheres, em particular os grupos mais desfavorecidos tenham acesso efetivo à justiça e facilitar o acesso das mulheres à justiça aumentando tanto o número de tribunais que tratam, e os juízes com experiência em casos de violência doméstica e familiar; c) Melhorar o sistema de coleta e análise de dados estatísticos que visam avaliar e monitorar o impacto da Lei Maria da Penha regular; d) Fornecer a todas as entidades que participam da implementação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, recursos humanos,técnicos e financeiros, incluindo a criação de abrigos para mulheres vítimas de violência. (BRASIL, 2013, p. 33). Para auxiliar na identificação dos casos de feminicídio no Brasil, o Escritório Regional da ONU Mulheres elaborou e disponibilizou, no ano de 2016, o livro 27 “Diretrizes Nacionais Feminicídio”, que faz uma análise sobre a forma de investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres. O documento tem como finalidade transmitir conhecimento às intuições de segurança civil e criminal, órgãos de perícias, medicina legal,e também ministérios públicos, defensorias públicas e poder judiciário. FIGURA 2 - CAPA DO DOCUMENTO DIRETRIZESNACIONAIS FEMINICÍDIO FONTE: ONU Mulheres, 2016 6 Neste sentido, o documento tem uma grande contribuição, pois além de debater sobre o crime, proporciona técnicas para facilitar a identificação de casos de mortes de mulheres em uma perspectiva de gênero. Mas embora o documento exista, ainda há uma grande resistência da população sobre o descaso do feminicídio no Brasil. Com indefinição ainda pela justiça, tem-se como exemplo o caso da Vereadora Marielle Franco, que segundo notícia veiculada pelo portal EL PAÍS (2019) foi morta brutalmente junto com Anderson Gomes por consequência 6 Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2016/04/diretrizes_ feminicidio.pdf http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2016/04/diretrizes_feminicidio.pdf 28 de 14 tiros disparados pelo policial Roniee Lessa, no dia 14 de março do ano de 2018. O caso de Marielle Franco é um crime de repercussão nacional, pois se trata da morte de uma mulher da periferia negra que usava o seu espaço na política para defender as causas LBGTi e femininas. O caso envolvendo o seu assassinato possui mais de ano, e ainda permanece sem uma classificação definida. Em uma entrevista concedida ao Huffpost, a Deputada Renata Souza, amiga de Marielle, utiliza o termo feminicídio para o assassinato. Segundo Souza (2019) a Vereadora foi morta pelo papel que exercia na política e por todas as lutas contra diferentes tipos de opressões. Souza sugere ainda que quem matou Marielle não tinha noção de que o crime ganharia repercussão, pois aos olhos do criminoso, a Marielle não deveria ter lugar de fala em uma casa legislativa, ou muito menos deveria está no meio que sempre foi dominado por homens, ou seja, na concepção de Souza, a Marielle foi assassinada porque incomodava os opositores. Conforme a manchete inserida do portal Huffpost abaixo: FIGURA 3 - MANCHETE MARIELLE FONTE: Antunes, 2019 7 O crime de feminicídio que envolveu o caso de Marielle Franco é uma hipótese que não deve ser descartada conforme Souza, pois é um crime que apresenta vários fatores relacionados ao cargo político exercido por uma mulher, 7 Disponível em: https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle- franco_br_ 5c898bf0e4b038892f4a27d1. https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle-franco_br_5c898bf0e4b038892f4a27d1 https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle-franco_br_5c898bf0e4b038892f4a27d1 https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle-franco_br_5c898bf0e4b038892f4a27d1 29 no qual estava incomodando. Atitudes essas que despertava ódio aos opositores, principalmente repulsa aos homens da casa legislativa. Assim, o caso de Marielle é um exemplo que, desde 2015, ano em que a lei do feminicídio foi sancionada como crime no Brasil. A definição de feminicídio gera dúvidas, já que este crime é considerado pelo Código Brasileiro como casos em que a vítima é morta pelo menosprezo e discriminação à condição de ser mulher. Conforme a imagem abaixo: FIGURA 4 - LEI DO FEMINICÍDIO FONTE: Brito, 2015 8 A subprocuradora-geral da República, Ela Wiecko, em entrevista também ao HUFFPOST avalia que o crime cometido contra Marielle não está relacionado ao ato político como acredita as feministas, pois segundo Wiecko (2018), o assassinato de Marielle se caracteriza como feminicídio, pois a vereadora estava em um cargo que os homens sempre mantiveram no patriarcado. Sendo assim, o crime de feminicídio enquanto sua definição no Brasil é um problema que não deve ser tratado apenas quando houver violência doméstica, pois deve- se considerar que o menosprezo e discriminação à condição de ser 8 Disponível em: https://aurineybrito.jusbrasil.com.br/artigos/172479028/lei-do-feminicidio- entenda-o-que-mudou 30 mulher em uma perspectiva de gênero se fazem necessário no processo de tipificar o crime como feminicídio. 4 LEIS E CÓDIGO Para a pesquisadora Silvestre e Natal (2018), a Lei que reconhece o feminicídio foi de extrema importância para dar visibilidade ao problema, mas é preciso que algumas mudanças sejam feitas tanto no processo do crime de feminicídio como também no momento de fazer os registros. Conforme Silvestre e Natal, a Lei foi um passo importante para atentar políticas públicas para amenizar o descaso dos registros envolvendo morte de mulher, mas é preciso que tenha mais cuidado na identificação do crime no tribunal, e principalmente mais atenção dos órgãos responsáveis por coletar dados sobre esse crime que leva às mulheres a morte. 4.1 PROTEÇÃO – ÓRGÃOS NACIONAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS Segundo Scaranse (2015), no Código Penal Brasileiro no ano de 1940 em relação à proteção às mulheres, o crime sexual tinha punição, mas tendo como o principal interesse a honra da família perante a sociedade, e não necessariamente na mulher que sofreu a violência. Então percebe- se conforme o pensamento de Scaranse, que no Código Penal Brasileiro no ano de 1940 a Lei focava mais nas questões conservadoras e familiares do que aparar a vítima que sofreu a violência sexual, assim o estado físico e psicológico da mulher era tratado como caso isolado. No ano de 2006, o então presidente da república, Luís Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei nº 13.340, Lei Maria da Penha, com o intuito de proteger as mulheres da violência doméstica, psicológica e patrimonial. A lei surgiu devido à luta por justiça da farmacêutica Maria da Penha que em 1983 foi vítima de violência e dupla tentativa de feminicídio do marido Antônio Viveros. Ferreira, Coelho e Alves (2017), consideram o reconhecimento do feminicídio, a partir da Lei Maria da Penha, que identificou a necessidade de uma legislação voltada para tratar o crime de forma separada dos homicídios comuns, 31 para garantir que casos de violência doméstica e familiar contra a mulher tivesse um tratamento especificado. Conforme a seguir: Embora crimes de violência contra a pessoa já fossem punidos segundo o código penal, a Lei Maria da Penha trouxe visibilidade ao feminicídio e a necessidade de legislação especifica, a fim de combater os crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher, trazendo inovações como as tipificações. (COELHO; ALVES; FEREIRA, p. 147). A Lei Maria da Penha, como citado acima, é uma conquista porque trata a violência doméstica contra as mulheres como um caso preocupante em que politicas públicas deve atender às necessidades da vítima, principalmente ao combate a violência que em 1940 era voltada para fins tradicionais e não como um problema social. De acordo com Garcia (2013), com base dos dados obtidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Lei Maria da Penha não teve tanta diferença na redução das taxas de mortalidade, pois fazendo uma comparação com antes e depois da aprovação da Lei envolvendo mortes de 100 mil mulheres, o estudo indicou que foram de 5,28 homicídios entre o ano de 2001-2006 e 5,22 no ano de 2007 – 2011. Segundo a demonstração do gráfico abaixo: GRÁFICO 4 - MORTALIDADE DE MULHERES VÍTIMAS DE AGRESSÕES ANTES E DEPOIS DA LEI MARIA DA PENHA FONTE: Garcia, 2013 9 Com base do estudo realizado por Garcia a partir dos dados do IPEA, é possível perceber que mesmo com a Lei Maria da Penha sancionada, a taxa de mortalidade envolvendo as mulheres ainda era alarmante, no qual teve uma pequena redução de 5,22 sem tanta diferença entre o ano de 2007 e 2011. 9 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.pdf. 32 O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) identificou ainda que no ano de 2009 e 2011, estima- se que houve 13.071 casos de feminicídio com faixa de 4,48 mortes por100.000 mulheres. Durante a correção feita, o IPEA relata de acordo com os novos dados que foram 16.993 mortes, e 5,82 Óbidos por 100 mulheres. O índice de crime envolvendo o feminicídio se encontra na figura abaixo: FIGURA 5 - TAXAS DE FEMINICÍDIO REGIONAL POR CADA 100 MIL MULHERES, 2009 - 2011 FONTE: Garcia, 2013 10 . Os resultados apresentados no gráfico feito por IPEA mostram o quanto os dados são componentes importantes para analisar a proporção e os casos de feminicídio nas regiões do Brasil em que no ano entre 2009 e 2011, foram 100 mil mulheres de diferentes estados vítimas do crime. Segundo dados realizados pelo Anuário de Segurança Pública (2019), o crime de feminicídio aumenta 4% no Brasil desde que a Lei foi sancionada, e com base de uma comparação feita no ano de 2017 em que os homicídios de mulher foram de 1.151, no período de 2018 o Brasil sofreu o aumento de 1.206 casos de feminicídio, que de 29,6% subiu para 62,7% atualmente. Conforme o 10 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio _leilagarcia.pdf. 33 gráfico abaixo: GRÁFICO 5 - AUMENTO DO NÚMERO DE FEMINICÍDIOS FONTE: Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Referente aos dados obtidos pelo Anuário de 2019, o número de crimes de feminicídio aumenta no Brasil 62,7% fazendo uma comparação com ano de 2017 e 2018, com isso é evidente que até o fim do ano de 2019, o aumento com casos de mortes de mulher se torna preocupante. Os casos que envolvem o crime de feminicídio no Brasil partem dos parceiros que enxergam as mulheres como objetos sexuais e também tratam a vítima como se fosse uma propriedade, os autores desse crime acreditam que a mulher pertence a eles, e que a parceira não tem o poder de escolha. Bandeira (2018) acredita que os casos de crime de feminicídio no Brasil quase sempre envolvem os parceiros afetivos das vítimas, e que durante a defesa os acusados usam a desculpa de fim de relacionamento como um dos principais motivos para cometer o assassinado. Dessa forma, os crimes de feminicídio são motivados por causa de sentimento de pose, no qual os autores acreditam ter um domínio sobre a vítima e por isso acham no direito de cometer o ato, tendo como justificativa, o fim de relacionamento da parte da mulher. 34 5 FUNÇÕES DAS MANCHETES NO JORNALISMO Ao longo da história o jornal, como meio de comunicação de massa impresso, passou por diversas transformações estruturais, estéticas e linguísticas. Cada um dos gêneros textuais que compõem o jornal acompanhou essa transformação e foram ganhando funções específicas fundamentais para a circulação e venda dos jornais. A manchete foi um desses gêneros que ganhou enorme importância ao longo desse processo. O referido gênero é caracterizado por ser um texto curto que antecede uma determinada notícia. Sua construção depende de uma série de critérios e fatores técnicos normativos prescritos para que ocorra o processo de impressão. Por fim, tem a função de atrair a atenção dos leitores do jornal, funcionando como uma espécie de vitrine. (SALLORENZO, 2018). Com funções comunicativas bem definidas a manchete é fundamental para que o jornal atraia o público leitor, e consequentemente alcance o maior número de vendas. No entanto é possível pensarmos a Manchete mais do que um processo jornalístico se considerarmos seus aspectos cognitivos e sua função de gênero discursivo, conforme expõe Wachowicz: Se gênero é um instrumento de interação social, a manifestação de linguagem que o sustém manifesta vozes da interação. Quer dizer, a comunicação humana não pode ser concebida simplesmente como manifestação e decodificação de informação. Há agentes envolvidos, que participam do processo comunicativo no controle do gênero, na depreensão da situação social e também na leitura das vozes implícitas ou explícitas que compõem o discurso. (WACHOWICZ, 2012, p. 28). Sendo assim o gênero manchete exerce uma força fundamental no processo de propagação da informação que se pretende repassar, tanto quanto a própria informação em si, pois nela já se encontra todos os elementos linguísticos necessários para alcançar o público pretendido, e disseminar a notícia, mesmo que este não leia o texto que a sucede. O gênero manchete é um dos gêneros textuais que compõe o jornal. É uma espécie de resumo da notícia, um título, uma chamada, que por questões técnicas obedece uma a certas exigências estruturais, como o número de caracteres, por exemplo. “O título anuncia o fato, resume a notícia e embeleza a página, numa conjugação de técnica que jornais, revistas, livros e outros meios visuais procuram aprimorar.” (BAHIA, 1990, p. 47). Na sua definição de gênero discursivo, onde se enquadra o gênero 35 manchete Wachowicz (2012) se vale de Bakhtin (1992): A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais -, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos de gêneros do discurso. (BAKHTIN, 1992, apud WACHOWICZ, 2012, p. 30). Sendo assim, a manchete atende a todos esses pressupostos, não apenas pela sua estruturação dentro da plataforma jornal, quanto pela função comunicativa. Quando entendemos a manchete como a introdução ao tema de um texto, percebemos seu aspecto cognitivo (SALLORENZO, 2018), a partir do momento que a manchete está carregada de aspectos tendenciosos que influenciam na interpretação do leitor sem que este tenha lido a notícia. A manchete tem como principal objetivo atrair os leitores para as notícias, e proporcionar uma identidade visual para identificar as informações, ou seja, a manchete é um elemento decisivo para os leitores, e uma estratégia para quem produz conteúdos informativos de acordo com Azeredo (2001), pois esse recurso permite que os leitores tenham uma visualização melhor para identificar do que se trata a matéria. As funções de manchetes e títulos são, pois: em primeiro lugar, atrair, o olhar do leitor, em segundo, permitir- lhe decidir o que quer ler, mas ao mesmo tempo estimulá-lo a ler o texto toda da notícia. Visualmente, eles ajudam a estruturar a página, tornando- a mais atraente. E por fim, manchetes títulos contribuem para dar ao leitor crítico uma imagem da identidade do jornal ou de sua linha de informações. (AZEREDO, 2001, p. 196). Então, percebe- se a importância da manchete para atrair os leitores, e também a contribuição que esse recurso possui em relação à identidade do veiculo de comunicação, que por sua vez, ajuda a diferenciar dos outros que oferece o mesmo serviço de transmitir informações à sociedade. Segundo Pereira (2006), a manchete é usada em noticiário de forma excessiva, e devido a isso, as notícias que requer uma apuração com profundidade, como por exemplo, manchetes relatando o 36 feminicídio, se torna um assunto banalizado por conta douso constante de declarações de pessoas com cargo oficiais. No extremo oposto a esse expediente, o jornalista também se isenta de responsabilidades com o jornalismo declaratório, aquele que dá manchetes ou primeiro plano a declarações dos poderosos do mundo político, empresarial, artístico e esportivo, mesmo quando não o merecem. É o reflexo invertido do “fala povo”, pois a proeminência do autor das aspas basta para notificar a mais irrelevante afirmação. O recurso banalizou-se, virou muleta de manchetes e noticiários inteiros, substituindo na maioria das vezes uma apuração em profundidade. (PEREIRA, 2006, p. 94). Conforme o autor, a manchete é um recurso que não pode substituir uma apuração de uma notícia. O jornalista que usa declarações e afirmações indevidas como título de manchetes em noticiários inteiros, se torna um profissional que acrescenta juízos de valores, ao invés de manter a neutralidade e o cuidado com a apuração. A manchete para Dias (2003),é uma forma para obter sucesso de venda, e também gerar uma compreensão dos leitores através de uma linguagem acessiva que prende atenção por meio de metáforas que fazem parte do cotidiano das pessoas. Em princípio, são nas manchetes que se encontram as mais frequentes marcas de oralidade, as metáforas populares. Segundo os jornalistas, as manchetes merecem cuidados especiais porque delas depende o sucesso da venda do jornal, sendo necessário, portanto, motivar o leitor e facilitar o entendimento. A rigor o gosto e o interesse do leitor determinam diariamente a construção da manchete. (DIAS, 2003, p. 64). Com base do que os jornalistas relataram para Dias, a manchete precisa ser tratada com cuidado, pois ela é um dos motivos para que as pessoas comprem os jornais e leia o conteúdo, e a linguagem popular é uma maneira também de instigar o interesse das pessoas para a informação. Para alcançar tal intento a partir de 1980 começaram a surgir os manuais de redação e estilo dos grandes jornais brasileiros. Trazem, entre outras instruções, a prescrição da empresa jornalística para confeccionar uma manchete perfeita. Essas publicações são verdadeiros compêndios sobre padrões editoriais e instruções de boas normas sintáticas e lexicais para produzir corretamente o texto de um jornal – manchete inclusive. (SALLORENZO, 2018). O jornal A Folha de S. Paulo foi o primeiro a produzir seu manual se redação seguido de O Estado de S. Paulo e O Globo. Cada um deles expõe em seus 37 manuais as condições e características fundamentais para a construção das suas manchetes. Sallorenzo destaca algumas das principais características, e orientações linguísticas e jornalísticas para a confecção de manchetes presentes em dois destes jornais na tabela a seguir: FONTE: Sallorenzo, 2018. TABELA 2 - PRESCRIÇÕES DOS JORNAIS O GLOBO E FOLHA DE S. PAULO PARA A CONFECÇÃO DE MANCHETE INSTRUÇÃO O GLOBO FOLHA DE S. PAULO Verbos Verbos agentivos – dar preferência Não há menção a voz ativa ou passiva. Querer – evitar Poder – evitar Ver – nunca com o sentido de encontrar ou examinar Tempo verbal: preferencialmente presente do indicativo, inclusive para indicar passado e futuro recentes. Usar passado e futuro apenas quando se referir a momentos muito distantes do presente Não usar o modo imperativo. Verbos agentivos Voz ativa Tempo verbal: preferencialmente presente do indicativo, inclusive para indicar passado e futuro recentes. Usar passado e futuro apenas quando se referir a momentos muito distantes do presente. Títulos sem verbo Em submatérias, gráficos e mapas Em editoriais e textos opinativos Classes / palavras a serem evitadas ou proibidas Artigos definidos ou indefinidos Já, nem, só, algum, vários, Muitos, poucos, bastante Não menciona Abreviaturas / Siglas Não usar nem uma nem outra Usar abreviaturas / evitar siglas Metáforas Propositais Usar com moderação Não menciona Pontuação / sinais gráficos Evitar sinais gráficos Não usar ponto, dois pontos, interrogação, exclamação, reticências, travessão, parênteses; Evitar ponto e vírgula Aspas Para ganhar espaço em manchetes; ou em declaração na primeira pessoa Não menciona Lugar-comum Evitar Não menciona Regras gerais de redação de títulos Clareza Precisão Especificidade Reproduzir o lead com palavras diferentes Clareza Precisão Especificidade Reproduzir o lead com palavras diferentes 38 5.1 A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA ELABORAÇÃO DAS MANCHETES Para entender a importância da Ética na divulgação das manchetes, é preciso fazer uma análise sobre a diferença da Moral, pois são conceitos diferentes que embora as pessoas acreditem que sejam parecidos. Os termos estão relacionados à linha de pensamentos e funções distintas. Em uma análise feita por Heródoto (2002), a Ética se diferencia da Moral, pois conforme a sua reflexão, a Ética é uma crítica sobre a moralidade em que ela é praticada de acordo com o histórico em que a sociedade está inserida, e a sua existência serve para proporcionar juízos de valores que contribui no meio social e se encontra em constantes modificações. A ética se vincula ao conjunto de valores estabilizados na figura de normas, está codificada e, portanto, quem não as cumpre está sujeito a punições. A moral é uma excelente servidora da ética, mas é uma péssima senhora dela. Entre moral e ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificativa crítica universal; e a ética exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral para reforça-la ou modificá-la. (HERÓTÓDO, 2002, p. 23). Ao contrário da Moral que se baseia em características universais de uma sociedade de normas estabelecidas, a Ética procura se modificar conforme o histórico vivenciado pela a sociedade, e ela se diferencia da Moral por estabelecer valores e punições para determinada conduta, tendo como base principal se adequar as necessidades humanas. Para Paiva apud Argolo (2002) a definição de Ética é mais complexa do que as pessoas imaginam, por esse motivo ela não pode ser definida de forma rasa, ou muito menos pode ser comprida apenas por causa das regras atribuídas ao Código de normas de determinada sociedade. Ninguém ousaria falar em Código de Ética, mas em Código Deontológico, porque Ética é uma porção da Filosofia e da Moral que não pode ser comprida ou reduzida a um conjunto de normas pragmáticas de condutas. Ética situa-se numa espera superior e íntima, obviamente mais abrangente e muito mais complexa. (PAIVA citado por ARGOLO, 2002, p. 15). O Código de ética baseado no conceito acima é mais do que práticas aplicadas a condutas, pois a Ética envolve um conjunto que precisa da Filosofia e da moral, ou seja, a Ética é uma questão pessoal que deve ser tratada de forma ampla por ser algo difícil de compreender. 39 Em relação à Ética como um instrumento da ciência, Nalini (2004) explica que a moral é um objeto que está ligado ao comportamento humano, enquanto a ética é um conceito amplo que se trata da moral dos homens na sociedade. A ética é considerada uma ciência, pois ela procura averiguar os fatos morais existentes em um contexto geral em que eles são aplicados no cotidiano. Ao analisar a ética como ciência e a moral como objeto de estudo, nota-se o quanto a ética é fundamental para a sociedade, pois ao se tratar de condutas relacionadas às ações humanas, a ética como ciência necessita se atentar de forma geral aos acontecimentos, tendo um olhar cientifico que possa comprovar e estudar o objeto com clareza. 5.2 ANÁLISE DE MANCHETES SOBRE FEMINICÍDIOS DO PORTAL EM TEMPO Para que possamos desenvolver nossa análise se faz necessário ainda fazermos algumas considerações a respeito da manchete quanto gênero discursivo para que possamos compreender suasfunções e objetivos práticos, e avaliarmos se nas manchetes analisadas a função comunicativa do gênero é posta em prática, seguindo os preceitos técnicos estabelecidos nos manuais de redação e ética jornalística. Primeiramente é preciso assimilar que texto é um produto social que reflete uma série de detalhes implícitos da sociedade onde os indivíduos estão inseridos, como experiência de letramento, escolaridade, condição financeira, ideologia, entre outros. E é um instrumento por meio do qual as relações entre os indivíduos se entrelaçam, a história pode ser criada, uma vez que sem o texto não há registro histórico, e as estruturas sociais podem se manter, ou ser subvertidas Wachowicz (2012). Sendo assim, o gênero passa a ser um instrumento de interação social, que agrega valores com base de experiências passadas por geração e geração, por meio de objeto, auxiliando o individuo a ter uma percepção individual que parte da ideia de adquirir determinado comportamento, no qual desperta a partir do convívio com objeto, o modo de agir no meio social. Essa interação resulta devido ao aprendizado individual de cada indivíduo, que faz com que possíveis decisões sejam tomadas indevidamente, ou de certa maneira praticadas por ações ligadas a forma com que o ser humano reage e decide 40 em qual necessidade se deve, ou não reagir. Assim conforme postula Schneuwly (2004): Na perspectiva do interacionismo social, a atividade é necessariamente concebida como tripolar: a ação é mediada por objetos específicos, socialmente elaborados, frutos de experiências das gerações precedentes, através das quais se transmitem e se alargam as experiências possíveis. Os instrumentos encontram-se entre o indivíduo que age e o objeto sobre o qual ou a situação na qual ele age: eles determinam seu comportamento, guiam-no, afinam e diferenciam sua percepção da situação na qual é levado a agir. A intervenção do instrumento – objeto socialmente elaborado – nessa estrutura dá à atividade uma certa forma; a transformação do instrumento transforma evidentemente as maneiras de nos comportarmos numa situação. (SCHNEUWLY, 2004, citado por WACHOWICZ, 2012, p. 26) Podemos então compreender que manchete é um gênero discursivo que promove a interação social, influenciando na maneira como seus interlocutores se comportam, pensam, e opinam diante de temas cotidianos. Para tanto a manchete segue a alguns estilos e critérios específicos que visam atender a necessidade de um público leitor cada vez mais sem tempo. Exatamente por isso a grande maioria das manchetes encerra em si a notícia, é com base nessas afirmações que será feita a análise das manchetes a seguir, destacando pontos do estilo, da gramática, bem como do discurso empregado na construção das mesmas: FIGURA 6 – MANCHETE 01 FONTE: Portal Em Tempo, 201911. 11 Disponível em: <https://d.emtempo.com.br/policia/138144/ciume- homem-mata-ex-mulher-apos- ver-mensagens-no facebook?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name= SocialMediaShare >. 41 Na manchete apresentada acima podemos notar alguns aspectos estruturais importantes na questão gramatical, como o uso de um verbo agentivo, na voz ativa, com o tempo verbal no presente do indicativo indicando um fato ocorrido num passado recente, evita o uso de pronomes indefinidos, e não faz uso de abreviatura nem de metáforas. A manchete faz uso de sinais de pontuação, o que não é recomendado por alguns manuais de instrução como do jornal O Globo. Seu estilo atende as necessidades da plataforma utilizada, no caso internet, com o título em destaque, e com a estrutura da pirâmide invertida, por razões claras, conforme descreve Willis (2017): Há vantagens de se usar a estrutura de pirâmide invertida para escrever notícias, já que muitas vezes as pessoas estão com pressa e raramente têm tempo para ler tudo, nessa estrutura, a informação mais importante aparece primeiro. Nas histórias que utilizam a pirâmide invertida, a informação mais significante vai no primeiro parágrafo, e as menos pertinentes aparecem no final. O título que utiliza esse estilo consiste geralmente de três linhas, a primeira atravessa a divisão entre colunas e as outras duas linhas são mais curtas. Esse tipo de manchete é criado a partir dos fatos informativos apresentados no início da história. (WILLIS, 2017). Além disso, a manchete ainda apresenta em sua estrutura um título principal, juntamente com um título auxiliar. As razões para o uso dessa estratégia discursiva é apresentada por Diana (2016): A notícia é formada por dois títulos, ou seja, um principal, também chamado de Manchete, que sintetiza o tema que será abordado, e m outro um pouco maior, o qual auxilia o entendimento do título principal, ou seja, é um recorte do assunto que será explorado. (DIANA, 2019). No entanto, se de um lado, do ponto de vista estrutural do gênero, temos uma construção que atende as especificações, e expectativas de possíveis leitores, por outro a análise do processo cognitivo do discurso empregado, traz à tona alguns aspectos relevantes acerca do tema da manchete. O tema feminicídio ocupa lugar de destaque na manchete, apesar de o título principal trazer à luz as possíveis razões que levaram o autor a cometer o crime, dando assim uma justificativa para a sua ação, e atribuindo à vítima parte da culpabilidade do ato cometido pelo autor. Quanto a isto Van Dijk citado por Sallorenzo (2018), em sua análise, prevê que as manchetes podem ser 42 incompletas ou tendenciosas, “promovendo macroproposições de nível mais baixo para uma posição mais destacada na estrutura temática. Esse tópico tendencioso também pode influenciar a interpretação do texto do lead.” (VAN DIJK, 1988, p. 144). Esta feita pode fazer com que o leitor dê pouca importância para a gravidade do crime cometido, ainda mais se considerarmos o título auxiliar que traz de imediato o desfecho da matéria sem ao menos oferecer subsídios que estimule a continuação da leitura para compreender a gravidade dos casos. FIGURA 7 - MANCHETE 02 FONTE: Portal Em Tempo, 2019 12 . A FIGURA 7 apresenta uma estrutura semelhante à estrutura da manchete anterior. A construção gramatical apresenta o uso de um verbo agentivo, na voz ativa, com o tempo verbal no presente do indicativo indicando um fato ocorrido num passado recente, evita o uso de pronomes indefinidos, e não faz uso de abreviatura nem de metáforas. A manchete evita o uso de sinais de pontuação, conforme recomendado por alguns manuais de instrução como do jornal O Globo e Folha de São Paulo. No que compete a questão estrutural, seu estilo atende as necessidades da plataforma utilizada, no caso internet, com o título em destaque, e com a estrutura da pirâmide invertida. Apresenta clareza, precisão, especificidade, e reproduz o lead com palavras diferentes. A manchete dá ênfase ao tema da matéria, apresenta um título principal e um título auxiliar que se complementam. Mesmo assim, ao analisarmos o discurso empregado nesta matéria é possível perceber que valores moralistas ultrapassados foram empregados, para que o leitor pudesse fazer um pré- julgamento da vítima, mesmo sem ler a matéria em si. Mais uma vez o tema fica em primeiro plano, porém o verbo dizer 12 Disponível em: https://d.emtempo.com.br/policia/139969/homem-diz-que matou-esposa-apos-ver- mensagens-no-celular-dela-no-am?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name= SocialMediaShare. https://d.emtempo.com.br/policia/139969/homem-diz-que%20matou-esposa-apos-ver-mensagens-no-celular-dela-no-am?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/139969/homem-diz-que%20matou-esposa-apos-ver-mensagens-no-celular-dela-no-am?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaSharehttps://d.emtempo.com.br/policia/139969/homem-diz-que%20matou-esposa-apos-ver-mensagens-no-celular-dela-no-am?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/139969/homem-diz-que%20matou-esposa-apos-ver-mensagens-no-celular-dela-no-am?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/139969/homem-diz-que%20matou-esposa-apos-ver-mensagens-no-celular-dela-no-am?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare 43 conjugado na 3ª pessoa do singular no presente do indicativo, dá a entender que o autor do crime justifica a sua ação durante abordagem seja, pela polícia, ou pela imprensa, afirmando que “após ver” mensagens no celular da vítima resolve assassiná-la. O quadro de orientações linguísticas e jornalísticas de O Globo sugere que o verbo VER nunca deverá ser utilizado com o sentido de encontrar ou examinar (SALLORENZO, 2018). Ao ler a manchete pode-se notar o sentido de descoberta, flagra a um possível adultério por parte da vítima, mais uma vez dando ao leitor informações vagas que o faça construir um julgamento prévio. É justamente esse tipo de abordagem discursiva utilizada nas manchetes que leva o leitor a tira conclusões precipitadas sem ao menos ter lido a notícia toda. Esse desdobramento discursivo do gênero manchete se amplia quando destrinchado como extensão da linguagem humana: O enunciado é um fenômeno complexo, polimorfo, desde que o analisemos não mais isoladamente, mas em sua relação com o autor (o locutor) e enquanto elo da cadeia da comunicação verbal, em sua relação com outros anunciados [...] O anunciado reflete o processo verbal, os enunciados dos outros e, sobretudo, os elos anteriores (às vezes, os próximos, mas também os distantes, nas áreas da comunicação cultural). (BAKHTIN, 1992, 2004, citado por WACHOWICZ, 2012, p. 30). Ou seja, um enunciado tendencioso pode ir de encontro a posicionamentos ideológicos pré estabelecidos por uma sociedade machista, misógina e moralista, que pode muito bem colocar a vítima de feminicídio numa posição de responsável pelo crime, uma vez que ela possivelmente desobedecera as regras matrimoniais. É o tipo de abordagem que preconiza pensamentos que vão contra à luta das políticas públicas de combate ao preconceito e violência contra mulher que resulta em feminicídio. FIGURA 8 - MANCHETE 03 13 . 13 Disponível em: https://d.emtempo.com.br/policia/140155/ex-pastor-surta-mata-esposa-a-facadas- e-ameaca-o-filho?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare. https://d.emtempo.com.br/policia/140155/ex-pastor-surta-mata-esposa-a-facadas-e-ameaca-o-filho?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/140155/ex-pastor-surta-mata-esposa-a-facadas-e-ameaca-o-filho?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/140155/ex-pastor-surta-mata-esposa-a-facadas-e-ameaca-o-filho?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare 44 Ainda conforme o resumo apresentado por Sallorenzo (2018), das orientações linguísticas e jornalísticas de O Globo e o Folha de S. Paulo, gramaticalmente analisada a manchete representada pela FIGURA 8 apresenta a mesma estrutura que as manchetes anteriores. A manchete apresenta o uso de três verbos agentivos, na voz ativa, com o tempo verbal no presente do indicativo indicando um fato ocorrido num passado recente, evita o uso de pronomes indefinidos, e não faz uso de abreviatura nem de metáforas. O j o r n a l i s t a t a mb é m evita o uso de sinais de pontuação, conforme recomendado por alguns manuais de instrução como do jornal O Globo e Folha de São Paulo. No que compete a questão estrutural, seu estilo atende as necessidades da plataforma utilizada, no caso Portal Em Tempo. Contudo esta manchete em específico não classifica o nome do crime cometido no título em destaque. A manchete mantém a estrutura da pirâmide invertida. Apresenta clareza, precisão, especificidade, e reproduz o lead com palavras diferentes, apesar de o tema feminicídio na manchete ser secundário. Mesmo assim apresenta um título principal e um título auxiliar que se complementam. Conforme já foi exposto, a manchete representa a linha editorial do periódico e ela evidenciará de imediato alguns pontos primordiais para que o público alvo possa se identificar e comprar o jornal, ou replicar a matéria, por meio das mídias sociais, sem ao menos ler o conteúdo da matéria. Souza (2008, p. 18), em relação as manchetes, comenta que “[...] seu estilo que demonstra (de cara) se a publicação é ousada, tradicional, conservadora, se está ligada a certas esferas do poder e, ainda, ao público que se destina”. Ainda relacionada à manchete em análise, o enunciado sugere ao público leitor que a ação criminosa foi pontual e extraordinária, e que o autor não tinha histórico algum desse tipo de atitude uma vez que ele “surtou”. Em relação a isso, o autor tratou o crime de feminicídio como um caso isolado, na tentativa de levar aos internautas um fato extraordinário ao invés de grave. De acordo com Sallorenzo (2018), o jornalista que escreveu o fato em uma perspectiva feita a partir do trabalho de Kozminsky, no qual fez a utilização cujo nome se chama “Compreensão alterada, explica o efeito que os títulos tendenciosos faz a partir da compreensão textual (1977)”. Em relação a esse estudo, a autora explica que apesar de o estudioso em 45 momento algum mencionar a culpa da vítima na manchete, a forma com que ele escreveu torna o crime feminicídio algo impactante e entendido como assunto banal, sendo que o mais importante na manchete deveria ser o fato da mulher ter sido morta, o que não fica evidente para quem faz a leitura. Conforme explica, Sallorenzo (2018): [...] não invalida a aplicação dos resultados de sua pesquisa na percepção cognitiva oferecida por uma manchete de jornal. Ainda assim, trata-se de um excelente balizador do impacto de um título no sistema cognitivo humano – e pode ajudar a explicar: 1) o comportamento dos leitores após uma sessão de leitura de (manchetes de) jornal e 2) nem sempre o leitor percebe que está sendo manipulado. (SALLORENZO, 2018, p. 25). O título auxiliar nos revela ainda algo assustador e cada vez mais comum, e normatizado pela imprensa, a justiça feita com as próprias mãos, a barbárie cometida por pessoas comuns que assumem papel de representantes e aplicadores de punições cruéis e desumanas. FIGURA 9 - MANCHETE 04 FONTE: Portal Em Tempo, 2019 14 . A manchete representada pela FIGURA 09 apresenta uma construção gramatical que apresenta o uso de um verbo agentivo, na voz ativa, com o tempo verbal no presente do indicativo indicando um fato ocorrido num passado recente, evita o uso de pronomes indefinidos, e não faz uso de abreviatura nem 14 Disponível em: https://d.emtempo.com.br/policia/169461/video- assassino-de-esposa-diz-que- matou-porque-era-maltratado-em-casa?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name =SocialMediaShare. https://d.emtempo.com.br/policia/169461/video-assassino-de-esposa-diz-que-matou-porque-era-maltratado-em-casa?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/169461/video-assassino-de-esposa-diz-que-matou-porque-era-maltratado-em-casa?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/169461/video-assassino-de-esposa-diz-que-matou-porque-era-maltratado-em-casa?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare https://d.emtempo.com.br/policia/169461/video-assassino-de-esposa-diz-que-matou-porque-era-maltratado-em-casa?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare
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