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Análise de Manchetes sobre Feminicídio no Portal Em Tempo

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FACULDADE BOAS NOVAS DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS SOCIAIS E 
BIOTECNOLOGIAS - FBNCSB 
CURSO DE BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM 
JORNALISMO 
 
 
 
 
 
NIELI DA COSTA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: 
UMA ANÁLISE DISCURSIVA E COGNITIVA DO GÊNERO MANCHETE QUE 
TRATARAM DO TEMA FEMINICIDIO NO PORTAL EM TEMPO NO ANO DE 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS – AM 
2019
 
 
 
NIELI DA COSTA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: 
UMA ANÁLISE DISCURSIVA E COGNITIVA DO GÊNERO MANCHETE QUE 
TRATARAM DO TEMA FEMINICIDIO NO PORTAL EM TEMPO NO ANO DE 2019 
 
 
 
Monografia apresentada como Trabalho de 
Conclusão de Curso (TCC) para obtenção do 
título de Jornalista no curso Comunicação Social 
habilitação em Jornalismo da Faculdade Boas 
Novas de Ciências Tecnológicas Sociais e 
Biotecnologia. 
 
Orientador: Prof. Esp. Cledione Moura Ferreira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS – AM 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elaborada pela Bibliotecária Aline Pereira Brasil CRB-11/765 
 
FACULDADE BOAS NOVAS – BIBLIOTECA PR. ALCEBIADES PEREIRA DE VASCONCELOS 
Av. General Rodrigo Otávio 1655 Japiim 
Manaus- AM CEP.69.077-000 
 
 S586v Silva, Nieli da Costa. 
 Violência contra a mulher: uma análise discursiva e cognitiva 
do gênero manchete que trataram do tema feminicídio no Portal 
Em Tempo no ano de 2019. / Nieli da Costa Silva. -- Manaus: 
FBN, 2019. 
 54 f. 
 
 Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em 
Comunicação Social com habilitação em Jornalismo) – 
Faculdade Boas Novas/ FBN, 2019. 
 
 Orientador: Prof. Esp. Cledione Moura Ferreira. 
 
1. Manchete. 2. Violência contra mulher. 3. Feminicídio. I. 
Ferreira, Cledione Moura. II. Título. 
 CDD 070.43 
 
 
 
 
NIELI DA COSTA SILVA 
 
 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: 
UMA ANÁLISE DISCURSIVA E COGNITIVA DO GÊNERO MANCHETE QUE 
TRATARAM DO TEMA FEMINICIDIO NO PORTAL EM TEMPO NO ANO DE 2019 
 
 
Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão 
de Curso (TCC) para obtenção do título de Jornalista no 
curso Comunicação Social habilitação em Jornalismo 
da Faculdade Boas Novas de Ciências Tecnológicas 
Sociais e Biotecnologia. 
 
 
 
Aprovado em ______/______/_______ 
 
 
Nota: _________________ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
_____________________________________ 
Prof. Esp. Cledione Moura Ferreira (Presidente) 
Faculdade Boas Novas de Ciências Teológicas, Sociais e 
 Biotecnológicas – FBNCTSB 
 
 
 
_____________________________________ 
 Prof. Me. Hernan Gutierrez Herrera (Membro) 
Faculdade Boas Novas de Ciências Teológicas, Sociais e 
Biotecnológicas – FBNCTS 
 
 
 
_____________________________________ 
Profª. Me. Maria do Rosário R. Nogueira (Membro) 
 Faculdade Boas Novas de Ciências Teológicas, Sociais e 
 Biotecnológicas – FBNCTS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todos aqueles que, 
assim como eu, lutam para um mundo mais 
justo, no qual vale a pena acreditar que as 
pessoas podem sim contribuir para que 
outras se tornem melhores socialmente. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente quero agradecer a Deus por sempre estar comigo em 
situações difíceis, ao meu pai Diozinaldo Silva, que nunca deixou faltar nada ao 
decorrer do curso e, de forma especial, agradeço a minha mãe Ana Brites, que 
foi o meu alicerce na minha vida acadêmica. Para finalizar com chave de honra, 
agradeço pela dedicação e paciência do professor Cledione Moura que permitiu 
que eu chegasse até a etapa final dessa árdua caminhada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A violência, seja qual for a maneira como ela se 
manifesta, é sempre uma derrota. 
 
(Jean-Paul Sartre) 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
O presente trabalho refere-se a uma análise de manchetes do Portal Em 
Tempo que tratam do tema Feminicídio, fazendo um link com o contexto histórico 
de como a temática violência contra a mulher é vista e tratada pela imprensa, e 
pela sociedade. O objetivo principal da pesquisa é analisar a forma do discurso 
empregado na construção das manchetes e se elas, de algum modo, deturpam ou 
distorcem informações levando o leitor a tirar conclusões preconcebidas a respeito 
dos autores envolvidos nas ocorrências noticiadas. Para tanto, serão analisadas 
cinco manchetes que tratam do mesmo tema, de jornalistas diferentes, para que 
seja possível avaliar se as estratégias empregadas na construção das manchetes 
trazem concepções ideológicas ou até mesmo impressões pessoais que podem 
influenciar na opinião do público leitor. Para embasar o estudo desenvolvido foi 
realizada uma pesquisa bibliográfica de autores que desenvolveram seus estudos 
analisando as subjetividades do discurso empregado principalmente em gêneros 
textuais, como a manchete, por exemplo. 
 
 
 
Palavra-chave: Manchete. Violência contra mulher. Feminicídio. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work refers to an analysis of headlines of the Portal In Time 
dealing with the theme feminicide. Linking with the historical context of how the 
theme violence against women is seen and treated by the press, and society. The 
main objective of the research is to analyze the form of the discourse employed in the 
construction of headlines and whether they somehow misrepresent or distort 
information leading the reader to draw preconceived conclusions about the authors 
involved in the occurrences news. To this end, five headlines that deal with the same 
theme will be analyzed, from different journalists, so that it is possible to evaluate 
whether the strategies employed in the construction of headlines bring ideological 
conceptions or even personal impressions that can influence the opinion of the 
reader audience. To support the study developed, a bibliographic research was 
conducted by authors who developed their studies analyzing the subjectivities of 
discourse used mainly in textual genres, such as the headline, for example. 
 
 
Keyword: Headline. Violence against women. Femicide. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11 
2 VIOLÊNCIA: CONCEITOS ......................................................................................... 13 
2.1 HOMICÍDIOS: CONCEITO, HISTÓRIA, NÚMEROS GERAIS E PESQUISA .................14 
2.2 FEMINICÍDIO: CONCEITOS E HISTÓRIA ........................................................................19 
2.3 A TIPIFICAÇÃO DO FEMINICÍDIO ...................................................................................22 
3 O FEMINICÍDIO COMO CRIME NO BRASIL ............................................................. 24 
4 LEIS E CÓDIGO ......................................................................................................... 30 
4.1 PROTEÇÃO – ÓRGÃOS NACIONAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS ...........................30 
5 FUNÇÕES DAS MANCHETES NO JORNALISMO ................................................... 34 
5.1 A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA ELABORAÇÃO DAS MANCHETES ..........................38 
5.2 ANÁLISE DE MANCHETES SOBRE FEMINICÍDIOS DO PORTAL EM TEMPO .........39 
5.3 POSICIONAMENTOS DO PORTAL EM TEMPO ............................................................48 
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 50 
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 51 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A violência generalizada e suas múltiplas facetas, nunca estiveram tão em 
voga quanto nos últimos anos no Brasil. E, o que é ainda mais preocupante, 
massificada por um discurso de intolerância às diferenças, além da total ojeriza a 
qualquer tentativa de explicação, esclarecimento e intermediação de diálogo. 
Nesse cenário, se por um lado o acesso a conteúdos informativos pode 
evidenciar tais práticas, expondo seus executores, por outro as informações rasas, 
distorcidas, muitas vezes falsas, a exemplo das Fake News, banalizam as mais 
diversas formas de violência, promovendo o que hoje é chamado de linchamento 
virtual nas redes sociais, atribuindo a qualquer um a função de juiz, carrasco e 
justiceiro. 
Neste contexto um tipo específico de violência ganha destaque, ao mesmo 
tempo em que alguns jornais, e demais plataformas de informação muitas vezes 
atenuam e a gravidade do tema. Não é de hoje que o feminicídio é tratado com 
descaso pela imprensa, muitas vezes expondo mais a vítima, que seu algoz, ou 
até mesmo dando a entender que fora a vítima a culpada por tal crime. 
Minimizam a culpabilidade do executor, por meio de eufemismo que dão a 
entender que o crime não passou de um ato isolado. 
Esse tipo de prática no meio jornalístico local é comum, haja vista que, 
muitas vezes, o texto final vem carregado das impressões pessoais de seus 
autores, sua visão de mundo, ou até mesmo influenciado pela linha editorial do 
veículo, com isso, de obedecerem aos Princípios Internacionais da Ética 
Profissional no Jornalismo, que estabelece em seu Princípio II, que: 
 
A tarefa primeira do jornalista é garantir o direito das pessoas à 
informação verdadeira e autêntica através de uma dedicação honesta 
para realidade objetiva por meio de que são informados fatos 
conscienciosamente no contexto formal deles/delas e mostram as 
conexões essenciais deles/delas e sem causar distorção, com 
desenvolvimento devido da capacidade criativa do jornalista, de forma 
que o público é provido com material adequado para facilitar a 
formação de um quadro preciso e compreensivo do mundo no qual a 
origem, a natureza e a essência dos acontecimentos, processos e 
estados dos casos são tão objetivamente quanto possível 
compreendidos. (ABI, 2019). 
 
Este trabalho tem como objetivo principal analisar as manchetes veiculadas 
pelo Portal Em Tempo, no ano de 2019, que abordaram o tema feminicídio 
12 
 
considerando o discurso utilizado, além dos termos e nomenclaturas atualizadas 
para se referirem ao tema. Além disso, pretende-se também levantar a discussão do 
quanto é importante, para efeito de esclarecimento do público leitor a respeito do 
assunto, transmitir informações claras, coerentes e comprometidas com a verdade 
de forma imparcial, e justa. 
Para tanto foi desenvolvida uma pesquisa descritiva que de acordo com 
Fonseca (2008), nesse método os fatos são observados, registrados e analisados, 
classificados e interpretados, ou seja, o pesquisador não interfere diretamente no 
que está sendo observado. A pesquisa se define também como bibliográfica, pois 
segundo Gil (2010), a pesquisa bibliográfica necessita de materiais publicados 
isso inclui material impresso, como por exemplo jornais, revistas e livros. 
A abordagem da pesquisa é qualitativa porque envolve a realidade e as 
pessoas conforme explicam Lakatos e Marconi (2010): 
 
O método qualitativo é diferente do quantitativo não só por não 
empregar instrumentos estatístico, mas também pela forma de coleta e 
análise de dados. A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar 
e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade 
do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as 
investigações, hábitos, atitudes, tendência de comportamento e etc. 
(LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 269). 
 
Esses métodos no darão os subsídios necessários para analisar da melhor 
forma um tema tão delicado que pode não apenas levar esclarecimento e 
informação, como também evitar que outras mulheres se tornem vítimas desse tipo 
de crime. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
2 VIOLÊNCIA: CONCEITOS 
 
O termo violência se origina do latim violentia, que, de modo geral, 
expressa o ato de violar o outro ou a si mesmo. O termo ainda nos faz concluir que 
a natureza da violência reside no fato de que, por meio da força, tal ação possa 
ter como consequência tanto danos físicos, quanto psíquicos, caracterizando 
assim como atitudes contrárias à liberdade, e à integridade do outro. 
Apesar disso, as características gerais do termo variam conforme o tempo, 
o espaço, seguindo padrões culturais preestabelecidos em cada país, cidade, ou 
grupos sociais em uma determinada época. 
De acordo com o Dicionário Michaelis ( 2019) o termo violência pode ser 
conceituado da seguinte maneira: 
 
vi·o·lên·ci·a 
 
*substantivo feminino 
 
1 Qualidade ou característica de violento. 2 Ato de crueldade. 3 
Emprego de meios violentos. 4 Fúria repentina. 5 Jur Coação que 
leva uma pessoa à sujeição de alguém. EXPRESSÕES, violência 
arbitrária, Jur: prática criminosa cometida por alguém do meio jurídico, 
que se vale de seu cargo.Violência carnal, Jur: ato sexual no qual se 
emprega a força; estupro. Não violência: rejeição positiva da violência em 
qualquer circunstância. ETIMOLOGIA, lat violentĭa. (MICHAELIS, 2019). 
 
Michaelis conceitua de maneira genérica o termo, atribuindo algumas 
interpretações jurídicas do termo para incluir no seu conceito algumas formas de 
violência. Já o Dicionário Online de Português, destaca outros conceitos do termo: 
 
Significado de Violência 
Substantivo feminino. Qualidade ou caráter de violento, do que age 
com força, ímpeto. Ação violenta, agressiva, que faz uso da força 
bruta: cometer violências. [Jurídico] Constrangimento físico ou moral 
exercido sobre alguém, que obriga essa pessoa a fazer o que lhe é 
imposto: violência física, violência psicológica. Ato de crueldade, de 
perversidade, de tirania: regime de violência. Ato de oprimir, de 
sujeitar alguém a fazer alguma coisa pelo uso da força; opressão, 
tirania: violência contra a mulher. Ato ou efeito de violentar, de violar, de 
praticar estupro. Etimologia (origem da palavra violência). Do latim 
violentia. ae, "qualidade de violento". (DICIONÁRIO ONLINE DE 
PORTUGUÊS, 2019). 
 
No entanto, para Paviani (2016, pág. 08), “o conceito de violência é 
ambíguo, complexo, implica vários elementos e posições teóricas e variadas 
14 
 
maneiras de solução ou eliminação. As formas de violência são tão numerosas, 
que é difícil elencá-las de modo satisfatório”. O senso comum refere-se ao termo 
de modo superficial, parcial e simplificado, porém classificar as formas de 
violência depende de uma série de critérios que considerem a realidade dos 
envolvidos em atos violentos, e o modo de combatê-los. Essa necessidade de 
conceituação de violência é importante para que se possam identificar suas mais 
variadas formas. 
Entre as mais diversas formas de violência podemos aqui destacar as 
diferentes modalidades de violência contra a mulher, como a violência doméstica, 
o assédio sexual, o abuso sexual, a exploração sexual, a importunação sexual, o 
estupro, e o feminicídio. Muitos desses conceitos são relativamente novos, ou 
ganharam uma conotação mais grave recentemente, haja vista que a violência 
contra a mulher esteve, durante muitos anos, amparada numa cultura patriarcal 
cristã que se propagou na grande mídia por meio dos mais diversos meios de 
comunicação, presente, implícita, ou explicitamente em jornais, novelas, folhetins, 
revistas, entre outros. 
 
2.1 HOMICÍDIOS: CONCEITO, HISTÓRIA, NÚMEROS GERAIS E PESQUISA 
 
A definição de homicídio para Masson (2014) está relacionada “a 
supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa”. Parao 
autor, o homicídio é considerado como um ato comum, pois o crime é praticado 
por qualquer pessoa, seja por forma isolada, ou com auxílio de outra pessoa. O 
crime é realizado por coautor ou pelo participante. 
O primeiro homicídio da história evidenciado pelo homem encontra-se 
registrado no primeiro livro da Bíblia Sagrada, Gênesis, capítulo quatro. De acordo 
com o teólogo Francesco (2015), em seu artigo sobre o homicídio e suas razões 
numa perspectiva histórica- social, a morte foi cometida por Caim contra o seu 
irmão Abel, devido à raiva, inveja e o ciúme. Francesco faz, inclusive, menção do 
texto bíblico: 
 
E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma 
oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas 
ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua 
oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim 
fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por 
que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não 
15 
 
é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, 
e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou 
Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se 
levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou. (FRANCESCO, 
2015). 
 
Ao se referir a morte de Abel citada pela Bíblia Sagrada, Francesco (2015) 
explica que o texto foi escrito na época que a Lei oculum pro oculo, dentem pro 
dente magnum pro manu de Tailão estava em vigor. O teólogo releva que a morte 
de Abel demostra uma situação importante, onde Deus teria colocado em Caim 
um owth que no hebraico significa sinal ou marca. Para o autor, a palavra foi 
atribuída a Caim para indicar que apesar dele ter cometido o crime, ele não 
deveria ser morto. 
Nos dias atuais, segundo o Diário do Senado Federal (2011), o homicídio 
é caracterizado como crime, conforme o Código Penal Brasileiro por meio do Art. 
121, e descrito como o ato de matar alguém. O homicídio é classificado como 
simples, qualificado ou culposo. A pena para esse tipo de crime varia de 
acordo com a situação em que é praticado. Conforme detalhado a seguir: 
 
 
Homicídio simples Art 121. 
Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição 
de pena 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor 
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida 
a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a 
um terço. Homicídio qualificado 
§ 2° Se o homicídio é cometido: I – mediante paga ou promessa de 
recompensa, ou por outro motivo torpe; II – por motivo fútil; III – com 
emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV – à 
traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que 
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V – para assegurar a 
execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena 
– reclusão, de doze a trinta anos. 
Homicídio culposo 
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena – 
detenção, de um a três anos. Aumento de pena 
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), 
se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte 
ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, 
não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar 
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada 
de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (BRASIL, Diário do 
Senado Federal, 2011). 
 
De acordo com o que foi instituído pelo Senado Federal, é possível verificar 
que os fatores condicionantes para o homicídio determinarão a sua gravidade e 
16 
 
consequentemente a sua punição. Importante salientar também que dependendo 
da classificação do homicídio o juiz poderá reduzir a pena do infrator. Outro 
aspecto relevante diz respeito ao contexto em que o crime for cometido, como no 
caso do homicídio culposo, em que a punição pode ser aplicada se o agente deixa 
de prestar socorro às vítimas decorrentes de acidentes de ordem técnica 
profissional. Se doloso, o juiz poderá aumentar a pena se o crime for cometido 
contra menores de 14 anos, ou maior de sessenta. (BRASIL, 2011). 
No Brasil, conforme os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do 
Ministério da Saúde (SIM/MS), somente no ano de 2017 houve 65.602 homicídios, uma 
média de 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes. É o maior índice de letalidade 
violenta intencional já registrada no país, conforme o gráfico a seguir: 
 
 
GRÁFICO 1 - NÚMERO E TAXA DE HOMICÍDIO (2007 - 2017) 
 
FONTE: Atlas da Violência 2019 
1
 
 
 
A leitura superficial do gráfico já apresenta um aumento significativo nas 
taxas de homicídios no país, com ligeiras quedas, e a retomada da escalada 
com crescimento ainda maior. 
Esses dados alarmantes não atingem todas as pessoas de maneira 
 
1
Disponível em: 
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 
 
17 
 
homogênea. As taxas apresentadas evidenciam um processo extremamente 
preocupante quando considerado o aumento de homicídios contra grupos 
específicos, incluindo jovens, a população negra, população LGBTI, e mulheres, 
nos casos de feminicídios. 
A violência letal acomete principalmente os jovens. Para se ter uma ideia 
59,1% do total de mortes de homens com idade entre 15 a 19 anos foram 
ocasionados por homicídios, conforme dados apresentados na tabela 1.1. 
A tabela ainda revela que a taxa de jovens do gênero feminino é muito mais 
baixa quando comparado às mortes de homens com a mesma faixa etária. A taxa 
de homicídios de mulheres com idade entre 15 e 19 anos é de 17,4%, ou seja 
41,7% a menos. Esse dado revela que o índice de criminalidade que estimula 
crimes violentos tem os jovens do gênero masculino como seus principais alvos. 
 
 
TABELA 1 – PROPORÇÃO DE ÓBITOS CAUSADOS POR HOMICÍDIOS, 
POR FAIXA ETÁRIA – BRASIL (2017) 
 
FONTE: Atlas da Violência 2019
2
 
 
 
 
Ainda segundo dados do Mapa da Violência (2019) é possível perceber que 
o aumento na taxa de homicídios entre 2007e 2017 variou de região para região 
por conta de uma série de fatores. Enquanto as regiões Sudeste e Centro-Oeste 
apresentaram uma diminuição de casos de homicídios, os números se mantiveram 
estáveis no Sul do país, e tiveram um crescimento acentuado nas regiões Norte e 
Nordeste. Conforme apresenta o gráfico 2. 
 
 
 
 
 
 
2
 Disponível em: 
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432. 
 
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432
18 
 
GRÁFICO 2 – TAXA DE HOMICÍDIO NO BRASIL E REGIÕES (2007-2017) 
 
FONTE: Atlas da Violência 2019
3
 
 
 
O forte aumento na letalidade nas regiões Norte e Nordeste 
possivelmente se deve à influência da guerra entre facções criminosas, 
deflagradas no período de 2015 a 2017. Além de rebeliões que também 
aconteceram em presídios localizados nessas regiões. 
A mesma versão do Atlas da Violência destaca que houve um aumento 
no número de homicídios femininos em 2017, com uma média de 13 
assassinatos por dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas nesse ano, maior 
número já registrado desde 2007. Entre os anos de 2007 a 2017 houve um 
aumento de 20,7% na taxa nacional de homicídios de mulheres, quando os 
registros passaram de 3,9 para 4,7 mulheres assassinadas por grupo de 100 mil 
mulheres (Mapa da Violência, 2019). No gráfico a seguir pode-se visualizar a 
taxa de homicídio por 100 mil mulheres nas Unidades Federativas em 2017:3 Disponível em: 
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 
19 
 
 
GRÁFICO 3 - TAXA DE HOMICÍDIOS POR 100 MIL MULHERES NAS UF’S (2017) 
 
FONTE: Atlas da Violência 2019
4
 
 
 
 
Chama a atenção a taxa apresentada no gráfico referente ao estado de 
Roraima que, apesar de não ser considerada um grande centro urbano, alcançou um 
número de homicídios assustador no período. O que nos leva a concluir que fatores 
de ordem sociocultural também influenciam nessas ocorrências. 
 
2.2 FEMINICÍDIO: CONCEITOS E HISTÓRIA 
 
A palavra “femicídio” ou “feminicídio” como é conhecida atualmente é 
utilizada para designar a morte de mulheres em que o assassinato é motivado 
pela vítima ser do sexo feminino. Isto significa que as mortes são cometidas em 
função de poder e gênero, ou seja, onde o indivíduo se sente no direito de tirar a 
 
4Disponível em: 
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784&Itemid=432 
20 
 
vida por achar-se em posição superior. 
 
Trata-se de um crime cuja verificação se encontra diretamente 
relacionada à cultura patriarcal, que justifica socioculturalmente a 
dominação da mulher pelo homem, a sua submissão e a sua 
objetificação. Tal cenário contribui para que a vida da mulher seja 
também considerada como um objeto, de propriedade do homem, 
estando ao seu arbítrio o direito sobre a sua vida e sobre a sua morte. 
(GRASSI, 2013, p. 95). 
 
 
Portanto, segundo Grassi (2013),o feminicídio, enquanto a sua 
significação, é um nome dado para o crime em que a mulher é vista como um 
objeto dominável, pois, a autora relata que o homem acredita ter o poder de decidir 
o modo de vida da vítima, ou até mesmo, a sua morte. Nessa lógica, o feminicídio 
é um ato motivado pelo ódio por consequência de uma cultura machista. 
Conforme Pasinato (2011), a palavra feminicídio que vem do termo 
femicídio – originalmente femicide em inglês – foi citado pela primeira vez por 
Diana Russel, no ano de 1976, em um depoimento no Tribunal Internacional de 
Crime Contra as Mulheres, em Bruxelas, na Bélgica. Segundo a autora, na 
ocasião havia cerca de duas mil mulheres de quarenta países que denunciaram 
casos de violência e abuso contra mulheres. 
Além disso, posteriormente, Diana Russel em parceria com a escritora Jill 
Radford escreveu o livro Femicide: the politics of woman killing (Femicídio: A 
política de matar mulheres) em que elas classificam o termo femicídio como 
assassinatos de mulheres em razão de serem mulheres. O livro tornou- se a 
principal referência para os estudos que envolvem o assunto. 
Ainda conforme Pasinato (2011), na obra as autoras mencionam, como 
exemplo, o Massacre da Escola Politécnica da Universidade de Montreal, Canadá, 
que aconteceu em 6 de dezembro do ano de 1986. O autor do crime, Marck 
Lepina, de 25 anos, após não conseguir concluir a matricula na escola, matou 14 
mulheres e deixou 13 pessoas feridas (nove mulheres e quatro homens). Em 
sequência, Lepina cometeu suicídio e deixou uma carta em que alegava ter 
assassinado as mulheres devido elas estarem ocupando o espaço dos homens. 
Claramente, o massacre cometido pelo homem foi baseado no ódio, em 
função de gênero e de uma ideologia de supremacia masculina, como é 
caracterizado atualmente o crime de feminicídio. No entanto, apesar do 
surgimento da nomenclatura, na época do ocorrido, a mesma era apenas um 
21 
 
termo utilizado por movimentos feministas que lutavam contra a violência de 
mulheres e os valores impostos pelo patriarcado. 
Anos mais tarde, por volta de 2000, a partir da antropóloga e deputada 
Marcela Lagarde, o termo volta a aparecer e, desta vez, com mais rigor, para 
denunciar uma onda de assassinatos de mulheres em massa que aconteceu em 
Ciudad Juarez, no México, como afirma a obra Diretrizes Nacionais Feminicídio 
investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de 
mulheres (2016): 
 
 
O conceito de femicídio foi utilizado pela primeira vez na década de 
1970, mas foi nos anos de 2000 que seu emprego se disseminou no 
continente latino-americano em consequência das mortes de mulheres 
ocorridas no México, país em que o conceito ganhou nova formulação e 
novas características com a designação de “feminicídio”. (Diretrizes 
Nacionais Feminicídio investigar, processar e julgar com perspectiva de 
gênero, 2016, p. 19). 
 
 
Por outro lado, a definição proposta de femicídio por Fragoso (2005) 
engloba uma série de atos violentos, como por exemplo, abuso emocional, 
psicológicos, espancamentos, insultos, tortura, estupro, prostituição, assédio 
sexual, abuso infantil, infanticídio, mutilação genital, violência doméstica e qualquer 
outro tipo de violação contra as mulheres que o estado permite. 
O femicídio para Fragoso (2005) surgiu para relatar à dificuldade que o 
Estado Latino possui ao definir o crime em uma perspectiva de gênero e 
denominação de poder. Outro problema encontrado é que o Estado não 
reconhece que o crime é causado de maneira diferente, e varia conforme a 
experiência da vítima. 
Em decorrência dessa dificuldade em diferenciar os crimes. De acordo 
com Gonçalves (2015), o fato de não existir figura jurídica, os países da América 
Latina possuíam leis especificas voltadas para a violência, mas que se limitavam 
ao se referir e caracterizar as mortes de mulheres em situações em que os caos 
se variavam nas condições vividas pelas vítimas. 
Assim, o conceito femicídio ganhou uma nova reformulação porque 
havia uma necessidade de caracterizar os assassinatos de forma ampla, com o 
intuito de relatar ausência de políticas públicas do Estado em relação às mortes de 
mulheres de acordo com os perfis, e as similitudes dos crimes. Como afirma 
Lagarde (2004): 
22 
 
 
Para que se dê o feminicídio concorrem de maneira criminal o silêncio, a 
omissão, a negligência e a conveniência de autoridades encarregadas 
de prevenir e erradicar esses crimes. Há feminicídio quando o Estado 
não dá garantias para as mulheres e não cria condições de segurança 
para suas vidas na comunidade, em suas casas, nos espaços de 
trabalho e de lazer. Mais ainda quando as autoridades não realizam 
com eficiência suas funções. Por isso o feminicídio é um crime de 
Estado (LAGARDE, 2004, p. 5 apud PASSINATO, 2011, p. 232). 
 
 
Nesse sentido, a autora acredita que o conceito de feminicídio envolve o 
ato de impunidade nos casos, e que é importante o Estado atribuir medidas 
eficientes capazes de proporcionar segurança e combater a violência contra as 
mulheres, para amenizar o descaso, negligência e o silêncio das autoridades ao 
investigar o crime. 
Por sua vez, o termo femicídio de acordo com Gonçalves (2015), foi 
utilizado no Brasil através de Saffioti e Almeida em 1995, para atribuir um processo 
de análise sobre homicídios de mulheres nas relações íntimas, que no ano de 
1998, foi novamente usado entre as autoras para o trabalho de Almeida que 
consistia na reflexão sobre mortes de mulheres em consequência de conflitos 
íntimos. 
Enquanto ao uso do termo femicídio no Brasil, Passinato (2011), afirma que o 
conceito não contribuirá para o reconhecimento e a compreensão dos crimes, 
porque ao invés de aplicar uma categoria homogeneizante seria melhor conhecer 
as causas e os contextos que ocorreram o crime, para assim qualificar os eventos e 
as relações de poder em torno de sua prática. 
 
2.3 A TIPIFICAÇÃO DO FEMINICÍDIO 
 
Antes de a Lei ser sancionada o feminicídio era um crime frequente em 
que os casos estavam sem uma especificação de acordo com Rebello (2017), e 
devido a isso a necessidade de uma tipificação era de extrema importância para 
tratar os homicídios de mulheres no Brasil de uma forma separada. 
Segundo Rebello (2017), os assassinatos que envolvem as mulheres são 
cometidos por parceiros, e mesmo coma Lei Maria da Penha havia uma 
necessidade de mostrar que a violência estava sendo cometida frequentemente, 
mas por ser algo constante à sociedade estava normalizando sem perceber que 
a vítima foi assassinada por ser mulher. A tipificação do feminicídio em sua visão foi 
23 
 
uma forma de combater e atentar políticas públicas. 
A tipificação do feminicídio na visão de Rebello (2017) é de extrema 
importância para conscientizar as pessoas que a morte de mulheres não deve ser 
tratada no geral, pois trata de casos em que mulheres são mortas por serem do 
sexo feminino. Sendo assim, reconhecer o feminicídio na sociedade com intuito de 
não normalizar, torna-se um passo importante para solucionar o problema desse 
tipo de violência. 
Goldberg (1988), no seu livro Educação Sexual uma proposta, um desafio, 
explica que os crimes passionais precisavam ganhar um novo nome, pois casos de 
violência ou assassinatos envolvendo as mulheres sempre sofriam duras críticas 
que tornava a vida pessoal da vítima uma disputa, em que a vítima era taxada de 
prostituta e o marido como um homem exemplar, ou ao contrário, mas sempre as 
vítimas eram culpadas. 
 
Por isso, é bom desmistificarmos tais crimes, a começar do próprio 
nome. Eles não são crimes de paixão, crimes de amor, porque quem 
ama não mata. São isso sim, crimes contra a propriedade carnal 
praticados por quem se julga senhor da vida e da morte. São crimes de 
poder, do dono que não se conforma com a perda do objeto possuído. 
(GOLDBERG, 1988, p. 59). 
 
O questionamento de Goldeberg no ano de 1988 em relação à 
desmistificação do nome envolvendo crimes contra mulher era preocupante, mas 
que atualmente é uma conquista reconhecida no Código Penal Brasileiro como um 
crime grave denominado feminicídio. 
Pereira, Bueno, Bohnenberger e Sobral (2019), defendem que a tipificação 
do feminicídio é um aliado no momento em que ocorre o crime, e é de extrema 
importância ter um olhar diferenciado para acionar medidas cabíveis que possa 
beneficiar a investigação dos casos existentes. Essas medidas aplicadas 
 
Parte da importância da lei que tipificou o feminicídio é permitir um 
diagnóstico mais complexo do problema. Se todos os homicídios de 
mulheres seguissem uma única lógica investigava, seria mais difícil 
compreender as diferentes expressões das violências baseadas em 
gênero e traçar os caminhos institucionais para enfrenta-las. (PEREIRA; 
BUENO; BOHNENBERGER; SOBRAL, 2019, p.109). 
 
 
Conforme citado acima, a Lei que tipificou o feminicídio foi aprovada a fim 
de tratar o problema de forma mais focada em que se diferencia do homicídio 
comum, para assim facilitar o processo de reconhecimento do crime que envolve 
24 
 
mortes de mulheres tanto no requisito familiar como também por a vítima ser morta 
por condição de ser mulher. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 O FEMINICÍDIO COMO CRIME NO BRASIL 
 
No Brasil, o feminicídio é um crime considerado como circunstância 
25 
 
qualificadora de homicídio, conforme o Código Penal, através da Lei nº 13.104 de 9 
de março de 2015. De acordo com a referida determinação, assinada pela então 
presidente da república, Senhora Dilma Vana Rousseff, o feminicídio trata-se da 
morte cometida em razão à condição da vítima ser do sexo feminino, conforme 
o artigo 121, inciso 2º. 
 
FIGURA 1 - RELATÓRIO FINAL DA CPMI 
 
FONTE: Brasil, Senado Federal, 2013
5
 
 
 
A Lei em vigor altera o artigo 121 do decreto da Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 e inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos (inafiançável e 
insuscetível de graça, anistia ou indulto). 
A alteração foi feita devido uma pesquisa realizada pelo Mapa da 
Violência d e 2012, que indicou que o Brasil entre o ano de 2006 e 2010 ocupava 
a sétima posição no ranking de 84 países do mundo com taxa de 4,4 homicídios 
por 100 mil mulheres. Por consequência aos dados da violência, o Governo 
Federal sugeriu, assim, a recomendação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista 
de Inquérito), responsável por investigar a violência contra a mulher no ano de 
 
5
 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a- violencia/pdfs/relatorio-final-
da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres. 
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/relatorio-final-da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/relatorio-final-da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/relatorio-final-da-comissao-parlamentar-mista-de-inquerito-sobre-a-violencia-contra-as-mulheres
26 
 
2013, nos estados brasileiros, para aplicar no Código Penal, o feminicídio 
como circunstância qualificadora do crime de homicídio. FIGURA 1. 
De acordo com o relatório, a CPMI pôde constatar o descaso com os 
dados sobre a violência contra as mulheres, conforme as principais conclusões 
apresentadas no relatório da CPI presidida pela Deputada Federal Sandra Starling, 
tendo como relatora a também Deputada Federal Etevalda Grassi de Menezes: 
 
 
Dentre suas principais conclusões destacam-se: a) inúmeras 
dificuldades no tocante ao levantamento de dados sobre os índices de 
violência solicitados às Delegacias da Mulher e às Comarcas; b) 
inexistência de uma nomenclatura unificada referente aos dados sobre 
violência contra a mulher; c) dados incompletos ou que chegaram 
tardiamente à CPI. A carência de informações foi considerada reveladora 
do descaso por parte das autoridades governamentais que não supriram 
as comarcas e as delegacias de recursos humanos e tecnológicos 
para fazer o levantamento necessário, conforme solicitado à época pela 
CPI. (BRASIL, 2013, p. 19). 
 
 
No entanto o relatório esclareceu que o Brasil é signatário de importantes 
instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos das mulheres. 
Destaque para a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra a Mulher – Convenção CEDAW, (BRASIL, 2013), mesmo 
assim o Comitê manifestou preocupação com a falta de experiência do judiciário 
em casos de violência doméstica e familiar, e com a ausência de dados precisos 
sobre as ocorrências de violência contra mulher. Neste sentido o comitê faz 
algumas recomendações ao estado brasileiro: 
 
 
a) Fornecer treinamento sistemático aos juízes/as, promotores/as e 
advogados/as sobre direitos das mulheres, bem como sobre a 
constitucionalidade da Lei Maria da Penha, conforme decidido pelo 
Supremo Tribunal Federal. 
b) Fortalecer o sistema judicial para garantir que as mulheres, em 
particular os grupos mais desfavorecidos tenham acesso efetivo à 
justiça e facilitar o acesso das mulheres à justiça aumentando tanto o 
número de tribunais que tratam, e os juízes com experiência em casos 
de violência doméstica e familiar; 
c) Melhorar o sistema de coleta e análise de dados estatísticos que 
visam avaliar e monitorar o impacto da Lei Maria da Penha regular; 
d) Fornecer a todas as entidades que participam da implementação do 
Plano Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, recursos 
humanos,técnicos e financeiros, incluindo a criação de abrigos para 
mulheres vítimas de violência. (BRASIL, 2013, p. 33). 
 
Para auxiliar na identificação dos casos de feminicídio no Brasil, o Escritório 
Regional da ONU Mulheres elaborou e disponibilizou, no ano de 2016, o livro 
27 
 
“Diretrizes Nacionais Feminicídio”, que faz uma análise sobre a forma de investigar, 
processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres. O 
documento tem como finalidade transmitir conhecimento às intuições de segurança 
civil e criminal, órgãos de perícias, medicina legal,e também ministérios públicos, 
defensorias públicas e poder judiciário. 
 
FIGURA 2 - CAPA DO DOCUMENTO DIRETRIZESNACIONAIS FEMINICÍDIO 
 
FONTE: ONU Mulheres, 2016
6
 
 
 
 
 
Neste sentido, o documento tem uma grande contribuição, pois além de 
debater sobre o crime, proporciona técnicas para facilitar a identificação de casos 
de mortes de mulheres em uma perspectiva de gênero. Mas embora o documento 
exista, ainda há uma grande resistência da população sobre o descaso do 
feminicídio no Brasil. Com indefinição ainda pela justiça, tem-se como exemplo o 
caso da Vereadora Marielle Franco, que segundo notícia veiculada pelo portal EL 
PAÍS (2019) foi morta brutalmente junto com Anderson Gomes por consequência 
 
6
 Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2016/04/diretrizes_ 
feminicidio.pdf 
http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2016/04/diretrizes_feminicidio.pdf
28 
 
de 14 tiros disparados pelo policial Roniee Lessa, no dia 14 de março do ano de 
2018. 
O caso de Marielle Franco é um crime de repercussão nacional, pois se 
trata da morte de uma mulher da periferia negra que usava o seu espaço na 
política para defender as causas LBGTi e femininas. O caso envolvendo o seu 
assassinato possui mais de ano, e ainda permanece sem uma classificação 
definida. Em uma entrevista concedida ao Huffpost, a Deputada Renata Souza, 
amiga de Marielle, utiliza o termo feminicídio para o assassinato. 
Segundo Souza (2019) a Vereadora foi morta pelo papel que exercia na 
política e por todas as lutas contra diferentes tipos de opressões. Souza sugere 
ainda que quem matou Marielle não tinha noção de que o crime ganharia 
repercussão, pois aos olhos do criminoso, a Marielle não deveria ter lugar de fala em 
uma casa legislativa, ou muito menos deveria está no meio que sempre foi 
dominado por homens, ou seja, na concepção de Souza, a Marielle foi 
assassinada porque incomodava os opositores. Conforme a manchete inserida do 
portal Huffpost abaixo: 
FIGURA 3 - MANCHETE MARIELLE 
 
FONTE: Antunes, 2019
7
 
O crime de feminicídio que envolveu o caso de Marielle Franco é uma 
hipótese que não deve ser descartada conforme Souza, pois é um crime que 
apresenta vários fatores relacionados ao cargo político exercido por uma mulher, 
 
7 Disponível em: https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle- franco_br_ 
5c898bf0e4b038892f4a27d1. 
https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle-franco_br_5c898bf0e4b038892f4a27d1
https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle-franco_br_5c898bf0e4b038892f4a27d1
https://www.huffpostbrasil.com/entry/renata-souza-marielle-franco_br_5c898bf0e4b038892f4a27d1
29 
 
no qual estava incomodando. Atitudes essas que despertava ódio aos opositores, 
principalmente repulsa aos homens da casa legislativa. 
Assim, o caso de Marielle é um exemplo que, desde 2015, ano em que a lei 
do feminicídio foi sancionada como crime no Brasil. A definição de feminicídio 
gera dúvidas, já que este crime é considerado pelo Código Brasileiro como casos 
em que a vítima é morta pelo menosprezo e discriminação à condição de ser mulher. 
Conforme a imagem abaixo: 
 
FIGURA 4 - LEI DO FEMINICÍDIO 
 
FONTE: Brito, 2015
8
 
 
A subprocuradora-geral da República, Ela Wiecko, em entrevista também 
ao HUFFPOST avalia que o crime cometido contra Marielle não está relacionado 
ao ato político como acredita as feministas, pois segundo Wiecko (2018), o 
assassinato de Marielle se caracteriza como feminicídio, pois a vereadora estava 
em um cargo que os homens sempre mantiveram no patriarcado. 
Sendo assim, o crime de feminicídio enquanto sua definição no Brasil é um 
problema que não deve ser tratado apenas quando houver violência doméstica, 
pois deve- se considerar que o menosprezo e discriminação à condição de ser 
 
8 Disponível em: https://aurineybrito.jusbrasil.com.br/artigos/172479028/lei-do-feminicidio-
entenda-o-que-mudou 
30 
 
mulher em uma perspectiva de gênero se fazem necessário no processo de 
tipificar o crime como feminicídio. 
 
4 LEIS E CÓDIGO 
 
 
 
Para a pesquisadora Silvestre e Natal (2018), a Lei que reconhece o 
feminicídio foi de extrema importância para dar visibilidade ao problema, mas é 
preciso que algumas mudanças sejam feitas tanto no processo do crime de 
feminicídio como também no momento de fazer os registros. 
Conforme Silvestre e Natal, a Lei foi um passo importante para atentar 
políticas públicas para amenizar o descaso dos registros envolvendo morte de 
mulher, mas é preciso que tenha mais cuidado na identificação do crime no tribunal, 
e principalmente mais atenção dos órgãos responsáveis por coletar dados sobre 
esse crime que leva às mulheres a morte. 
 
 
 
4.1 PROTEÇÃO – ÓRGÃOS NACIONAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS 
 
Segundo Scaranse (2015), no Código Penal Brasileiro no ano de 1940 
em relação à proteção às mulheres, o crime sexual tinha punição, mas tendo como 
o principal interesse a honra da família perante a sociedade, e não necessariamente 
na mulher que sofreu a violência. 
Então percebe- se conforme o pensamento de Scaranse, que no Código 
Penal Brasileiro no ano de 1940 a Lei focava mais nas questões conservadoras e 
familiares do que aparar a vítima que sofreu a violência sexual, assim o estado 
físico e psicológico da mulher era tratado como caso isolado. 
No ano de 2006, o então presidente da república, Luís Inácio Lula da 
Silva, sancionou a Lei nº 13.340, Lei Maria da Penha, com o intuito de proteger 
as mulheres da violência doméstica, psicológica e patrimonial. A lei surgiu devido 
à luta por justiça da farmacêutica Maria da Penha que em 1983 foi vítima de 
violência e dupla tentativa de feminicídio do marido Antônio Viveros. 
Ferreira, Coelho e Alves (2017), consideram o reconhecimento do 
feminicídio, a partir da Lei Maria da Penha, que identificou a necessidade de uma 
legislação voltada para tratar o crime de forma separada dos homicídios comuns, 
31 
 
para garantir que casos de violência doméstica e familiar contra a mulher tivesse um 
tratamento especificado. Conforme a seguir: 
 
Embora crimes de violência contra a pessoa já fossem punidos segundo 
o código penal, a Lei Maria da Penha trouxe visibilidade ao feminicídio 
e a necessidade de legislação especifica, a fim de combater os crimes 
de violência doméstica e familiar contra a mulher, trazendo inovações 
como as tipificações. (COELHO; ALVES; FEREIRA, p. 147). 
 
 
A Lei Maria da Penha, como citado acima, é uma conquista porque 
trata a violência doméstica contra as mulheres como um caso preocupante em 
que politicas públicas deve atender às necessidades da vítima, principalmente ao 
combate a violência que em 1940 era voltada para fins tradicionais e não como um 
problema social. 
De acordo com Garcia (2013), com base dos dados obtidos pelo 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Lei Maria da Penha não teve 
tanta diferença na redução das taxas de mortalidade, pois fazendo uma 
comparação com antes e depois da aprovação da Lei envolvendo mortes de 100 mil 
mulheres, o estudo indicou que foram de 5,28 homicídios entre o ano de 2001-2006 
e 5,22 no ano de 2007 – 2011. Segundo a demonstração do gráfico abaixo: 
 
GRÁFICO 4 - MORTALIDADE DE MULHERES VÍTIMAS DE AGRESSÕES 
ANTES E DEPOIS DA LEI MARIA DA PENHA 
 
FONTE: Garcia, 2013
9
 
Com base do estudo realizado por Garcia a partir dos dados do IPEA, é 
possível perceber que mesmo com a Lei Maria da Penha sancionada, a taxa de 
mortalidade envolvendo as mulheres ainda era alarmante, no qual teve uma 
pequena redução de 5,22 sem tanta diferença entre o ano de 2007 e 2011. 
 
9
 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.pdf. 
32 
 
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) identificou ainda que no 
ano de 2009 e 2011, estima- se que houve 13.071 casos de feminicídio com 
faixa de 4,48 mortes por100.000 mulheres. Durante a correção feita, o IPEA relata 
de acordo com os novos dados que foram 16.993 mortes, e 5,82 Óbidos por 100 
mulheres. O índice de crime envolvendo o feminicídio se encontra na figura 
abaixo: 
 
FIGURA 5 - TAXAS DE FEMINICÍDIO REGIONAL POR CADA 100 MIL MULHERES, 2009 - 2011 
 
FONTE: Garcia, 2013
10
. 
 
 
 
Os resultados apresentados no gráfico feito por IPEA mostram o quanto 
os dados são componentes importantes para analisar a proporção e os casos de 
feminicídio nas regiões do Brasil em que no ano entre 2009 e 2011, foram 100 
mil mulheres de diferentes estados vítimas do crime. 
Segundo dados realizados pelo Anuário de Segurança Pública (2019), o 
crime de feminicídio aumenta 4% no Brasil desde que a Lei foi sancionada, e 
com base de uma comparação feita no ano de 2017 em que os homicídios de 
mulher foram de 1.151, no período de 2018 o Brasil sofreu o aumento de 1.206 
casos de feminicídio, que de 29,6% subiu para 62,7% atualmente. Conforme o 
 
10 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio 
_leilagarcia.pdf. 
33 
 
gráfico abaixo: 
 
GRÁFICO 5 - AUMENTO DO NÚMERO DE FEMINICÍDIOS 
FONTE: Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 
 
 
Referente aos dados obtidos pelo Anuário de 2019, o número de crimes 
de feminicídio aumenta no Brasil 62,7% fazendo uma comparação com ano de 
2017 e 2018, com isso é evidente que até o fim do ano de 2019, o aumento com 
casos de mortes de mulher se torna preocupante. 
Os casos que envolvem o crime de feminicídio no Brasil partem dos parceiros 
que enxergam as mulheres como objetos sexuais e também tratam a vítima como 
se fosse uma propriedade, os autores desse crime acreditam que a mulher 
pertence a eles, e que a parceira não tem o poder de escolha. 
Bandeira (2018) acredita que os casos de crime de feminicídio no Brasil 
quase sempre envolvem os parceiros afetivos das vítimas, e que durante a 
defesa os acusados usam a desculpa de fim de relacionamento como um dos 
principais motivos para cometer o assassinado. 
Dessa forma, os crimes de feminicídio são motivados por causa de 
sentimento de pose, no qual os autores acreditam ter um domínio sobre a vítima 
e por isso acham no direito de cometer o ato, tendo como justificativa, o fim de 
relacionamento da parte da mulher. 
34 
 
5 FUNÇÕES DAS MANCHETES NO JORNALISMO 
 
Ao longo da história o jornal, como meio de comunicação de massa 
impresso, passou por diversas transformações estruturais, estéticas e linguísticas. 
Cada um dos gêneros textuais que compõem o jornal acompanhou essa 
transformação e foram ganhando funções específicas fundamentais para a 
circulação e venda dos jornais. A manchete foi um desses gêneros que ganhou 
enorme importância ao longo desse processo. O referido gênero é caracterizado por 
ser um texto curto que antecede uma determinada notícia. Sua construção depende 
de uma série de critérios e fatores técnicos normativos prescritos para que ocorra o 
processo de impressão. Por fim, tem a função de atrair a atenção dos leitores do 
jornal, funcionando como uma espécie de vitrine. (SALLORENZO, 2018). 
Com funções comunicativas bem definidas a manchete é fundamental para 
que o jornal atraia o público leitor, e consequentemente alcance o maior número de 
vendas. No entanto é possível pensarmos a Manchete mais do que um processo 
jornalístico se considerarmos seus aspectos cognitivos e sua função de gênero 
discursivo, conforme expõe Wachowicz: 
 
Se gênero é um instrumento de interação social, a manifestação de 
linguagem que o sustém manifesta vozes da interação. Quer dizer, a 
comunicação humana não pode ser concebida simplesmente como 
manifestação e decodificação de informação. Há agentes envolvidos, 
que participam do processo comunicativo no controle do gênero, na 
depreensão da situação social e também na leitura das vozes implícitas 
ou explícitas que compõem o discurso. (WACHOWICZ, 2012, p. 28). 
 
Sendo assim o gênero manchete exerce uma força fundamental no processo 
de propagação da informação que se pretende repassar, tanto quanto a própria 
informação em si, pois nela já se encontra todos os elementos linguísticos 
necessários para alcançar o público pretendido, e disseminar a notícia, mesmo que 
este não leia o texto que a sucede. O gênero manchete é um dos gêneros textuais 
que compõe o jornal. É uma espécie de resumo da notícia, um título, uma chamada, 
que por questões técnicas obedece uma a certas exigências estruturais, como o 
número de caracteres, por exemplo. “O título anuncia o fato, resume a notícia e 
embeleza a página, numa conjugação de técnica que jornais, revistas, livros e outros 
meios visuais procuram aprimorar.” (BAHIA, 1990, p. 47). 
Na sua definição de gênero discursivo, onde se enquadra o gênero 
35 
 
manchete Wachowicz (2012) se vale de Bakhtin (1992): 
 
A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e 
escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou 
doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições 
específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu 
conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção 
operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e 
gramaticais -, mas também, e sobretudo, por sua construção 
composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e 
construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do 
enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera 
de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, 
claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus 
tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que 
denominamos de gêneros do discurso. (BAKHTIN, 1992, apud 
WACHOWICZ, 2012, p. 30). 
 
Sendo assim, a manchete atende a todos esses pressupostos, não apenas 
pela sua estruturação dentro da plataforma jornal, quanto pela função comunicativa. 
Quando entendemos a manchete como a introdução ao tema de um texto, 
percebemos seu aspecto cognitivo (SALLORENZO, 2018), a partir do momento que 
a manchete está carregada de aspectos tendenciosos que influenciam na 
interpretação do leitor sem que este tenha lido a notícia. A manchete tem como 
principal objetivo atrair os leitores para as notícias, e proporcionar uma identidade 
visual para identificar as informações, ou seja, a manchete é um elemento decisivo 
para os leitores, e uma estratégia para quem produz conteúdos informativos de 
acordo com Azeredo (2001), pois esse recurso permite que os leitores tenham uma 
visualização melhor para identificar do que se trata a matéria. 
 
As funções de manchetes e títulos são, pois: em primeiro lugar, atrair, o 
olhar do leitor, em segundo, permitir- lhe decidir o que quer ler, mas ao 
mesmo tempo estimulá-lo a ler o texto toda da notícia. Visualmente, eles 
ajudam a estruturar a página, tornando- a mais atraente. E por fim, 
manchetes títulos contribuem para dar ao leitor crítico uma imagem da 
identidade do jornal ou de sua linha de informações. (AZEREDO, 2001, 
p. 196). 
 
Então, percebe- se a importância da manchete para atrair os leitores, e 
também a contribuição que esse recurso possui em relação à identidade do veiculo 
de comunicação, que por sua vez, ajuda a diferenciar dos outros que oferece o 
mesmo serviço de transmitir informações à sociedade. Segundo Pereira (2006), a 
manchete é usada em noticiário de forma excessiva, e devido a isso, as notícias que 
requer uma apuração com profundidade, como por exemplo, manchetes relatando o 
36 
 
feminicídio, se torna um assunto banalizado por conta douso constante de 
declarações de pessoas com cargo oficiais. 
 
No extremo oposto a esse expediente, o jornalista também se isenta de 
responsabilidades com o jornalismo declaratório, aquele que dá 
manchetes ou primeiro plano a declarações dos poderosos do mundo 
político, empresarial, artístico e esportivo, mesmo quando não o 
merecem. É o reflexo invertido do “fala povo”, pois a proeminência do 
autor das aspas basta para notificar a mais irrelevante afirmação. O 
recurso banalizou-se, virou muleta de manchetes e noticiários inteiros, 
substituindo na maioria das vezes uma apuração em profundidade. 
(PEREIRA, 2006, p. 94). 
 
Conforme o autor, a manchete é um recurso que não pode substituir uma 
apuração de uma notícia. O jornalista que usa declarações e afirmações indevidas 
como título de manchetes em noticiários inteiros, se torna um profissional que 
acrescenta juízos de valores, ao invés de manter a neutralidade e o cuidado com a 
apuração. 
A manchete para Dias (2003),é uma forma para obter sucesso de venda, e 
também gerar uma compreensão dos leitores através de uma linguagem acessiva 
que prende atenção por meio de metáforas que fazem parte do cotidiano das 
pessoas. 
 
Em princípio, são nas manchetes que se encontram as mais frequentes 
marcas de oralidade, as metáforas populares. Segundo os jornalistas, as 
manchetes merecem cuidados especiais porque delas depende o 
sucesso da venda do jornal, sendo necessário, portanto, motivar o leitor 
e facilitar o entendimento. A rigor o gosto e o interesse do leitor 
determinam diariamente a construção da manchete. (DIAS, 2003, p. 64). 
 
Com base do que os jornalistas relataram para Dias, a manchete precisa ser 
tratada com cuidado, pois ela é um dos motivos para que as pessoas comprem os 
jornais e leia o conteúdo, e a linguagem popular é uma maneira também de instigar 
o interesse das pessoas para a informação. Para alcançar tal intento a partir de 1980 
começaram a surgir os manuais de redação e estilo dos grandes jornais brasileiros. 
 
Trazem, entre outras instruções, a prescrição da empresa jornalística 
para confeccionar uma manchete perfeita. Essas publicações são 
verdadeiros compêndios sobre padrões editoriais e instruções de boas 
normas sintáticas e lexicais para produzir corretamente o texto de um 
jornal – manchete inclusive. (SALLORENZO, 2018). 
 
O jornal A Folha de S. Paulo foi o primeiro a produzir seu manual se redação 
seguido de O Estado de S. Paulo e O Globo. Cada um deles expõe em seus 
37 
 
manuais as condições e características fundamentais para a construção das suas 
manchetes. Sallorenzo destaca algumas das principais características, e orientações 
linguísticas e jornalísticas para a confecção de manchetes presentes em dois destes 
jornais na tabela a seguir: 
 
FONTE: Sallorenzo, 2018. 
 
TABELA 2 - PRESCRIÇÕES DOS JORNAIS O GLOBO E FOLHA DE S. PAULO 
PARA A CONFECÇÃO DE MANCHETE 
INSTRUÇÃO O GLOBO FOLHA DE S. PAULO 
 
 
 
 
 
Verbos 
Verbos agentivos – dar preferência 
Não há menção a voz ativa ou 
passiva. 
Querer – evitar 
Poder – evitar 
Ver – nunca com o sentido de encontrar 
ou examinar 
Tempo verbal: preferencialmente presente 
do indicativo, inclusive para indicar 
passado e futuro recentes. 
Usar passado e futuro apenas 
quando se referir a momentos muito 
distantes do presente 
Não usar o modo imperativo. 
Verbos agentivos 
Voz ativa 
Tempo verbal: preferencialmente 
presente do indicativo, inclusive 
para indicar passado e futuro 
recentes. 
Usar passado e futuro apenas 
quando se referir a momentos 
muito distantes do presente. 
Títulos sem verbo Em submatérias, gráficos e mapas Em editoriais e textos opinativos 
Classes / 
palavras a serem 
evitadas ou 
proibidas 
Artigos definidos ou indefinidos 
Já, nem, só, algum, vários, 
Muitos, poucos, bastante 
 Não menciona 
Abreviaturas / 
Siglas 
 Não usar nem uma nem outra 
 
Usar abreviaturas / evitar siglas 
Metáforas 
Propositais 
 
Usar com moderação 
 
Não menciona 
 Pontuação / 
sinais gráficos 
Evitar sinais gráficos 
Não usar ponto, dois pontos, 
interrogação, exclamação, 
reticências, travessão, 
parênteses; Evitar ponto e vírgula 
 
Aspas 
Para ganhar espaço em manchetes; 
ou em declaração na primeira pessoa 
 
Não menciona 
Lugar-comum Evitar Não menciona 
Regras gerais de 
redação de 
títulos 
Clareza 
Precisão 
Especificidade 
Reproduzir o lead 
com palavras 
diferentes 
Clareza 
Precisão 
Especificidade 
Reproduzir o lead com palavras 
diferentes 
38 
 
5.1 A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA ELABORAÇÃO DAS MANCHETES 
 
Para entender a importância da Ética na divulgação das manchetes, é 
preciso fazer uma análise sobre a diferença da Moral, pois são conceitos diferentes 
que embora as pessoas acreditem que sejam parecidos. Os termos estão 
relacionados à linha de pensamentos e funções distintas. 
Em uma análise feita por Heródoto (2002), a Ética se diferencia da Moral, 
pois conforme a sua reflexão, a Ética é uma crítica sobre a moralidade em que ela é 
praticada de acordo com o histórico em que a sociedade está inserida, e a sua 
existência serve para proporcionar juízos de valores que contribui no meio social e 
se encontra em constantes modificações. 
 
A ética se vincula ao conjunto de valores estabilizados na figura de 
normas, está codificada e, portanto, quem não as cumpre está sujeito a 
punições. A moral é uma excelente servidora da ética, mas é uma 
péssima senhora dela. Entre moral e ética há uma tensão permanente: a 
ação moral busca uma compreensão e uma justificativa crítica universal; 
e a ética exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral para 
reforça-la ou modificá-la. (HERÓTÓDO, 2002, p. 23). 
 
Ao contrário da Moral que se baseia em características universais de uma 
sociedade de normas estabelecidas, a Ética procura se modificar conforme o 
histórico vivenciado pela a sociedade, e ela se diferencia da Moral por estabelecer 
valores e punições para determinada conduta, tendo como base principal se 
adequar as necessidades humanas. Para Paiva apud Argolo (2002) a definição de 
Ética é mais complexa do que as pessoas imaginam, por esse motivo ela não pode 
ser definida de forma rasa, ou muito menos pode ser comprida apenas por causa 
das regras atribuídas ao Código de normas de determinada sociedade. 
 
Ninguém ousaria falar em Código de Ética, mas em Código 
Deontológico, porque Ética é uma porção da Filosofia e da Moral que 
não pode ser comprida ou reduzida a um conjunto de normas 
pragmáticas de condutas. Ética situa-se numa espera superior e íntima, 
obviamente mais abrangente e muito mais complexa. (PAIVA citado por 
ARGOLO, 2002, p. 15). 
 
O Código de ética baseado no conceito acima é mais do que práticas 
aplicadas a condutas, pois a Ética envolve um conjunto que precisa da Filosofia e da 
moral, ou seja, a Ética é uma questão pessoal que deve ser tratada de forma ampla 
por ser algo difícil de compreender. 
39 
 
Em relação à Ética como um instrumento da ciência, Nalini (2004) explica 
que a moral é um objeto que está ligado ao comportamento humano, enquanto a 
ética é um conceito amplo que se trata da moral dos homens na sociedade. A ética é 
considerada uma ciência, pois ela procura averiguar os fatos morais existentes em 
um contexto geral em que eles são aplicados no cotidiano. 
Ao analisar a ética como ciência e a moral como objeto de estudo, nota-se o 
quanto a ética é fundamental para a sociedade, pois ao se tratar de condutas 
relacionadas às ações humanas, a ética como ciência necessita se atentar de forma 
geral aos acontecimentos, tendo um olhar cientifico que possa comprovar e estudar 
o objeto com clareza. 
 
5.2 ANÁLISE DE MANCHETES SOBRE FEMINICÍDIOS DO PORTAL EM TEMPO 
 
Para que possamos desenvolver nossa análise se faz necessário ainda 
fazermos algumas considerações a respeito da manchete quanto gênero discursivo 
para que possamos compreender suasfunções e objetivos práticos, e avaliarmos se 
nas manchetes analisadas a função comunicativa do gênero é posta em prática, 
seguindo os preceitos técnicos estabelecidos nos manuais de redação e ética 
jornalística. 
Primeiramente é preciso assimilar que texto é um produto social que reflete 
uma série de detalhes implícitos da sociedade onde os indivíduos estão inseridos, 
como experiência de letramento, escolaridade, condição financeira, ideologia, entre 
outros. E é um instrumento por meio do qual as relações entre os indivíduos se 
entrelaçam, a história pode ser criada, uma vez que sem o texto não há registro 
histórico, e as estruturas sociais podem se manter, ou ser subvertidas Wachowicz 
(2012). 
Sendo assim, o gênero passa a ser um instrumento de interação social, que 
agrega valores com base de experiências passadas por geração e geração, por 
meio de objeto, auxiliando o individuo a ter uma percepção individual que parte da 
ideia de adquirir determinado comportamento, no qual desperta a partir do convívio 
com objeto, o modo de agir no meio social. 
Essa interação resulta devido ao aprendizado individual de cada indivíduo, 
que faz com que possíveis decisões sejam tomadas indevidamente, ou de certa 
maneira praticadas por ações ligadas a forma com que o ser humano reage e decide 
40 
 
em qual necessidade se deve, ou não reagir. Assim conforme postula Schneuwly 
(2004): 
 
Na perspectiva do interacionismo social, a atividade é necessariamente 
concebida como tripolar: a ação é mediada por objetos específicos, 
socialmente elaborados, frutos de experiências das gerações 
precedentes, através das quais se transmitem e se alargam as 
experiências possíveis. Os instrumentos encontram-se entre o indivíduo 
que age e o objeto sobre o qual ou a situação na qual ele age: eles 
determinam seu comportamento, guiam-no, afinam e diferenciam sua 
percepção da situação na qual é levado a agir. A intervenção do 
instrumento – objeto socialmente elaborado – nessa estrutura dá à 
atividade uma certa forma; a transformação do instrumento transforma 
evidentemente as maneiras de nos comportarmos numa situação. 
(SCHNEUWLY, 2004, citado por WACHOWICZ, 2012, p. 26) 
 
Podemos então compreender que manchete é um gênero discursivo que 
promove a interação social, influenciando na maneira como seus interlocutores se 
comportam, pensam, e opinam diante de temas cotidianos. Para tanto a manchete 
segue a alguns estilos e critérios específicos que visam atender a necessidade de 
um público leitor cada vez mais sem tempo. 
Exatamente por isso a grande maioria das manchetes encerra em si a 
notícia, é com base nessas afirmações que será feita a análise das manchetes a 
seguir, destacando pontos do estilo, da gramática, bem como do discurso 
empregado na construção das mesmas: 
 
 
FIGURA 6 – MANCHETE 01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Portal Em Tempo, 201911. 
 
 
 
11
 Disponível em: <https://d.emtempo.com.br/policia/138144/ciume- homem-mata-ex-mulher-apos-
ver-mensagens-no facebook?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name= 
SocialMediaShare >. 
41 
 
Na manchete apresentada acima podemos notar alguns aspectos estruturais 
importantes na questão gramatical, como o uso de um verbo agentivo, na voz ativa, 
com o tempo verbal no presente do indicativo indicando um fato ocorrido num 
passado recente, evita o uso de pronomes indefinidos, e não faz uso de abreviatura 
nem de metáforas. 
A manchete faz uso de sinais de pontuação, o que não é recomendado por 
alguns manuais de instrução como do jornal O Globo. Seu estilo atende as 
necessidades da plataforma utilizada, no caso internet, com o título em destaque, e 
com a estrutura da pirâmide invertida, por razões claras, conforme descreve Willis 
(2017): 
 
Há vantagens de se usar a estrutura de pirâmide invertida para escrever 
notícias, já que muitas vezes as pessoas estão com pressa e raramente 
têm tempo para ler tudo, nessa estrutura, a informação mais importante 
aparece primeiro. Nas histórias que utilizam a pirâmide invertida, a 
informação mais significante vai no primeiro parágrafo, e as menos 
pertinentes aparecem no final. O título que utiliza esse estilo consiste 
geralmente de três linhas, a primeira atravessa a divisão entre colunas e 
as outras duas linhas são mais curtas. Esse tipo de manchete é criado a 
partir dos fatos informativos apresentados no início da história. (WILLIS, 
2017). 
 
Além disso, a manchete ainda apresenta em sua estrutura um título 
principal, juntamente com um título auxiliar. As razões para o uso dessa estratégia 
discursiva é apresentada por Diana (2016): 
 
A notícia é formada por dois títulos, ou seja, um principal, também 
chamado de Manchete, que sintetiza o tema que será abordado, e m 
outro um pouco maior, o qual auxilia o entendimento do título 
principal, ou seja, é um recorte do assunto que será explorado. 
(DIANA, 2019). 
 
No entanto, se de um lado, do ponto de vista estrutural do gênero, temos 
uma construção que atende as especificações, e expectativas de possíveis 
leitores, por outro a análise do processo cognitivo do discurso empregado, traz 
à tona alguns aspectos relevantes acerca do tema da manchete. 
O tema feminicídio ocupa lugar de destaque na manchete, apesar de o 
título principal trazer à luz as possíveis razões que levaram o autor a cometer o 
crime, dando assim uma justificativa para a sua ação, e atribuindo à vítima parte da 
culpabilidade do ato cometido pelo autor. Quanto a isto Van Dijk citado por 
Sallorenzo (2018), em sua análise, prevê que as manchetes podem ser 
42 
 
incompletas ou tendenciosas, “promovendo macroproposições de nível mais baixo 
para uma posição mais destacada na estrutura temática. Esse tópico tendencioso 
também pode influenciar a interpretação do texto do lead.” (VAN DIJK, 1988, p. 144). 
Esta feita pode fazer com que o leitor dê pouca importância para a 
gravidade do crime cometido, ainda mais se considerarmos o título auxiliar que 
traz de imediato o desfecho da matéria sem ao menos oferecer subsídios que 
estimule a continuação da leitura para compreender a gravidade dos casos. 
FIGURA 7 - MANCHETE 02 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Portal Em Tempo, 2019
12
. 
 
 
A FIGURA 7 apresenta uma estrutura semelhante à estrutura da manchete 
anterior. A construção gramatical apresenta o uso de um verbo agentivo, na voz 
ativa, com o tempo verbal no presente do indicativo indicando um fato ocorrido 
num passado recente, evita o uso de pronomes indefinidos, e não faz uso de 
abreviatura nem de metáforas. A manchete evita o uso de sinais de pontuação, 
conforme recomendado por alguns manuais de instrução como do jornal O Globo e 
Folha de São Paulo. No que compete a questão estrutural, seu estilo atende as 
necessidades da plataforma utilizada, no caso internet, com o título em destaque, 
e com a estrutura da pirâmide invertida. Apresenta clareza, precisão, 
especificidade, e reproduz o lead com palavras diferentes. 
A manchete dá ênfase ao tema da matéria, apresenta um título principal e 
um título auxiliar que se complementam. Mesmo assim, ao analisarmos o discurso 
empregado nesta matéria é possível perceber que valores moralistas 
ultrapassados foram empregados, para que o leitor pudesse fazer um pré-
julgamento da vítima, mesmo sem ler a matéria em si. 
Mais uma vez o tema fica em primeiro plano, porém o verbo dizer 
 
12
 Disponível em: https://d.emtempo.com.br/policia/139969/homem-diz-que matou-esposa-apos-ver-
mensagens-no-celular-dela-no-am?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name= 
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43 
 
conjugado na 3ª pessoa do singular no presente do indicativo, dá a entender que o 
autor do crime justifica a sua ação durante abordagem seja, pela polícia, ou pela 
imprensa, afirmando que “após ver” mensagens no celular da vítima resolve 
assassiná-la. O quadro de orientações linguísticas e jornalísticas de O Globo 
sugere que o verbo VER nunca deverá ser utilizado com o sentido de encontrar ou 
examinar (SALLORENZO, 2018). Ao ler a manchete pode-se notar o sentido de 
descoberta, flagra a um possível adultério por parte da vítima, mais uma vez dando 
ao leitor informações vagas que o faça construir um julgamento prévio. É 
justamente esse tipo de abordagem discursiva utilizada nas manchetes que leva o 
leitor a tira conclusões precipitadas sem ao menos ter lido a notícia toda. 
Esse desdobramento discursivo do gênero manchete se amplia quando 
destrinchado como extensão da linguagem humana: 
 
O enunciado é um fenômeno complexo, polimorfo, desde que o 
analisemos não mais isoladamente, mas em sua relação com o autor 
(o locutor) e enquanto elo da cadeia da comunicação verbal, em sua 
relação com outros anunciados [...] O anunciado reflete o processo 
verbal, os enunciados dos outros e, sobretudo, os elos anteriores (às 
vezes, os próximos, mas também os distantes, nas áreas da 
comunicação cultural). (BAKHTIN, 1992, 2004, citado por 
WACHOWICZ, 2012, p. 30). 
 
Ou seja, um enunciado tendencioso pode ir de encontro a 
posicionamentos ideológicos pré estabelecidos por uma sociedade machista, 
misógina e moralista, que pode muito bem colocar a vítima de feminicídio numa 
posição de responsável pelo crime, uma vez que ela possivelmente desobedecera 
as regras matrimoniais. É o tipo de abordagem que preconiza pensamentos que 
vão contra à luta das políticas públicas de combate ao preconceito e violência 
contra mulher que resulta em feminicídio. 
FIGURA 8 - MANCHETE 03 
 
 
 
 
 
 
13
. 
 
 
 
13
 Disponível em: https://d.emtempo.com.br/policia/140155/ex-pastor-surta-mata-esposa-a-facadas-
e-ameaca-o-filho?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare. 
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https://d.emtempo.com.br/policia/140155/ex-pastor-surta-mata-esposa-a-facadas-e-ameaca-o-filho?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare
44 
 
Ainda conforme o resumo apresentado por Sallorenzo (2018), das 
orientações linguísticas e jornalísticas de O Globo e o Folha de S. Paulo, 
gramaticalmente analisada a manchete representada pela FIGURA 8 apresenta a 
mesma estrutura que as manchetes anteriores. A manchete apresenta o uso de 
três verbos agentivos, na voz ativa, com o tempo verbal no presente do 
indicativo indicando um fato ocorrido num passado recente, evita o uso de 
pronomes indefinidos, e não faz uso de abreviatura nem de metáforas. O 
j o r n a l i s t a t a mb é m evita o uso de sinais de pontuação, conforme 
recomendado por alguns manuais de instrução como do jornal O Globo e Folha 
de São Paulo. No que compete a questão estrutural, seu estilo atende as 
necessidades da plataforma utilizada, no caso Portal Em Tempo. Contudo esta 
manchete em específico não classifica o nome do crime cometido no título em 
destaque. 
A manchete mantém a estrutura da pirâmide invertida. Apresenta clareza, 
precisão, especificidade, e reproduz o lead com palavras diferentes, apesar de o 
tema feminicídio na manchete ser secundário. Mesmo assim apresenta um título 
principal e um título auxiliar que se complementam. 
Conforme já foi exposto, a manchete representa a linha editorial do 
periódico e ela evidenciará de imediato alguns pontos primordiais para que o 
público alvo possa se identificar e comprar o jornal, ou replicar a matéria, por 
meio das mídias sociais, sem ao menos ler o conteúdo da matéria. Souza (2008, 
p. 18), em relação as manchetes, comenta que “[...] seu estilo que demonstra 
(de cara) se a publicação é ousada, tradicional, conservadora, se está ligada a 
certas esferas do poder e, ainda, ao público que se destina”. 
Ainda relacionada à manchete em análise, o enunciado sugere ao público 
leitor que a ação criminosa foi pontual e extraordinária, e que o autor não tinha 
histórico algum desse tipo de atitude uma vez que ele “surtou”. Em relação a isso, 
o autor tratou o crime de feminicídio como um caso isolado, na tentativa de levar 
aos internautas um fato extraordinário ao invés de grave. 
De acordo com Sallorenzo (2018), o jornalista que escreveu o fato em uma 
perspectiva feita a partir do trabalho de Kozminsky, no qual fez a utilização cujo 
nome se chama “Compreensão alterada, explica o efeito que os títulos 
tendenciosos faz a partir da compreensão textual (1977)”. 
Em relação a esse estudo, a autora explica que apesar de o estudioso em 
45 
 
momento algum mencionar a culpa da vítima na manchete, a forma com que ele 
escreveu torna o crime feminicídio algo impactante e entendido como assunto 
banal, sendo que o mais importante na manchete deveria ser o fato da mulher ter 
sido morta, o que não fica evidente para quem faz a leitura. Conforme explica, 
Sallorenzo (2018): 
 
[...] não invalida a aplicação dos resultados de sua pesquisa na 
percepção cognitiva oferecida por uma manchete de jornal. Ainda 
assim, trata-se de um excelente balizador do impacto de um título no 
sistema cognitivo humano – e pode ajudar a explicar: 1) o 
comportamento dos leitores após uma sessão de leitura de (manchetes 
de) jornal e 2) nem sempre o leitor percebe que está sendo 
manipulado. (SALLORENZO, 2018, p. 25). 
 
O título auxiliar nos revela ainda algo assustador e cada vez mais 
comum, e normatizado pela imprensa, a justiça feita com as próprias mãos, a 
barbárie cometida por pessoas comuns que assumem papel de representantes e 
aplicadores de punições cruéis e desumanas. 
 
 
 
FIGURA 9 - MANCHETE 04 
 
FONTE: Portal Em Tempo, 2019
14
. 
 
 
 
A manchete representada pela FIGURA 09 apresenta uma construção 
gramatical que apresenta o uso de um verbo agentivo, na voz ativa, com o 
tempo verbal no presente do indicativo indicando um fato ocorrido num passado 
recente, evita o uso de pronomes indefinidos, e não faz uso de abreviatura nem 
 
14 Disponível em: https://d.emtempo.com.br/policia/169461/video- assassino-de-esposa-diz-que-
matou-porque-era-maltratado-em-casa?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name 
=SocialMediaShare. 
https://d.emtempo.com.br/policia/169461/video-assassino-de-esposa-diz-que-matou-porque-era-maltratado-em-casa?utm_source=emtempo&utm_medium=celular&utm_name=SocialMediaShare
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