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Análise do discurso francesa

Para a Análise de Discurso (AD) ou Análise de Discurso Francesa (ADF), as mesmas palavras ou os mesmos dizeres podem ser usados por diferentes discursos e diferentes sujeitos. No entanto, embora sejam os “mesmos”, as palavras não dizem as mesmas coisas, pois podem produzir diferentes efeitos de sentido. Conforme a posição do sujeito que fala e o lugar de quem escuta, a mesma palavra ou o mesmo dizer poderá trazer consequências diversas. A partir do que expomos, leia as duas manchetes (fictícias) inseridas abaixo:




Após a leitura das manchetes, responda a seguinte questão: as manchetes 1 e 2 produzem os mesmos efeitos de sentido? Justifique a sua resposta a partir da discussão da AD/ADF.

💡 1 Resposta

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Aye Lén

A partir da perspectiva da ADF/AD, é importante apontar, em um primeiro momento, que a língua não é transparente, nem caracterizada como um conjunto de regras abstratas. O “sentido” também não é visto como oculto, velado, nem escondido no texto ou no discurso: tratando o sentido no plural por meio da expressão efeitos de sentidos, não há o sentido em si, ou seja, na sua relação transparente com a língua. A língua é opaca e observada pela AD/ADF como uma materialidade significante, que está sempre a significar. Dito de outro modo, a língua é uma possibilidade de significação e não significa para o sujeito o mesmo discurso. A partir disso, é importante apresentar, em um segundo ponto, que os efeitos de sentidos são determinados pelas ideologias que estão em jogo na relação do sujeito com a história, a sociedade, a memória, as palavras, etc.

Pelo exposto, podemos observar o seguinte:

embora as manchetes usem das mesmas palavras/expressões (e/ou da materialidade linguística) para veicular o caso, a manchete 2 referencia o acontecimento de forma distinta da manchete 1. Isso não se dá somente por uma “simples” inversão da ordem da proposição na manchete, como se poderia supor; tal inversão não é, ainda, simples nem ingênua, embora ela possa o parecer para o sujeito que a escreve. Dizemos isso porque essa inversão aponta para quais expressões estão sendo destacadas como pontos de partida para o desenvolvimento do caso: na manchete do Jornal Aqui (manchete 1), o destaque é para os corpos de duas adolescentes; na Folha Agora (manchete 2), ele recai para mãe suspeita.

Além disso, a primeira manchete apresenta um deslocamento do discurso que é destacado na segunda manchete: “mãe é suspeita”. Esses dizeres são colocados à margem do título, inseridos em um discurso à parte, complementar, como se fosse um discurso segundo a respeito dos corpos que foram referidos no início do enunciado. Modificadas as condições de produção do discurso sobre o caso pela manchete 2, os fragmentos enunciativos que aparecem no início (“mãe é suspeita...”) adquirem outros efeitos de sentidos que não são os mesmos da manchete 1.

Assim, os efeitos de sentidos construídos pela manchete 1 se relacionam ao destaque da consequência do crime (corpos, adolescentes e mortas), enquanto que na manchete 2 os efeitos são produzidos a partir do sujeito que comete o crime (o destaque está na agente que é a mãe).


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