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Cirne Lima - Dialética para principiantes 5

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Dialéticapara
Principiantes
Carlos Cirne-Lima
Editora Unisinos
Coleção Idéias 5
 
Sumário
Prefácio
Parte I – Nós e os Gregos
1. O Pátio de Heráclito 
2. O Jogo dos Opostos 
3. O Mito da Caverna 
4. A Análise do Mundo 
5. A Eplica!"o do Mundo 
Parte II – O que é Dialética?
1. O #uadrado $%gico 
2. A &'ntese dos Opostos 
3. Os (r)s Princ'pios 
4. &er* +ada* ,evir 
5. ,ial-tica e Antinoias 
Parte III – Um Projeto de Sistema
1. ,ial-tica e +ature/a 
2. 0tica 
3. Justi!a e Estado 4. O &entido da Hist%ria 
5. O Asoluto 
 
Para aria
e para meus alunos
P!E"#CI$Escrevi esta ,ial-tica para principiantes pensando em meus
alunos. Escrevi para eles. i! um te"to voltado para principiantes#
 ,ialectica ngredientius# como diria $%elardo. Para aqueles
 jovens de cara limpa e ol&os %ril&antes# atentos# l'cidos#
sequiosos de aprender# que sa%em muito %em que n(o sa%em
nada. E que por isso querem aprender. Para eles escrevi este livro#
a eles o dedico. )uito justo# ali*s. Pois +oi com eles# com as
 perguntas# as discuss,es e de%ates com eles que esta
 ,ial-tica nasceu# cresceu e se consolidou. N(o que eu seja
autodidata# ou que +a-a des+eita a meus mestres. Nada disso#
ten&o na mais alta conta aqueles que +oram meus pro+essores.
Devo muitssimo a eles. )as +oi com meus alunos que# neste
 passar dos anos# aprendi o que agora# com este livro# l&es
devolvo.
Principiante é aquele que n(o sa%e nada# ou quase nada.
Principiante é quem se d* conta de que n(o sa%e nada. E por isso
quer aprender# quer entender as palavras# quer captar o sentido
das +rases# quer acompan&ar a montagem da argumenta-(o. Para
eles escrevi. Escrevi em estilo simples e direto# escrevi uma
iloso+ia singela# sem +rescura# sem en+eites# sem ran-o
acad/mico e sem demonstra-,es aeró%icas de erudi-(o. $s idéias
aqui e"postas s(o muito antigas. 0* novidades# sim# pois quem
+a! iloso+ia e entra em contenda com as idéias# com as idéias
mesmas# sempre desco%re alguma novidade. 1uando pegamos e
levamos adiante a rique!a que &erdamos da tradi-(o# esta se
revitali!a e cresce. Este tra%al&o nasceu da grande tradi-(o
+ilosó+ica. 1ue ele condu!a os leitores de volta aos mestres2
 pensadores da tradi-(o s(o os meus votos.
 
% $ P#&I$ DE 'E!#CLI&$
%(% Per)untas iniciais
De onde viemos? Para onde vamos? 1ual o sentido do mundo ede nossa vida? O universo teve um come-o? 3er* um +im? 0* leis
que regem o curso do universo? Estas leis valem tam%ém para
nós? Podemos deso%edecer a estas leis? O que acontece quando
deso%edecemos a elas? 0* recompensa e castigo? 0* mesmo ou
deve &aver? 4sso ocorre j* durante esta vida ou numa e"ist/ncia
após a morte? Pode2se pensar# sem contradi-(o# uma vida eterna#
uma e"ist/ncia após a morte? Pode &aver um tempo depois que
todo tempo aca%a? Pode &aver um depois após o 'ltimo e
de+initivo depois? $+inal# o que somos?
Estas s(o as perguntas que# desde a $ntig5idade# toda pessoa que
+ica adulta sempre se coloca. Estas s(o as perguntas que# desde os
 pré2socr*ticos# ocupam os +ilóso+os. iloso+ia é a tentativa#
sempre +rustada e sempre de novo retomada# de dar uma resposta
racional a essas quest,es. 6 isso que agora passamos# neste te"to#
a desenvolver de +orma interativa. 7esposta +inal e de+initiva# que
responda completamente a todas essas perguntas# n(o e"iste.
)ais# uma tal resposta completa e aca%ada em iloso+ia é# como
veremos# impossvel. )as# assim como muitas perguntas podem
ser +eitas# muitas respostas podem e devem ser dadas.
%(* "ilosofia é um )rande +ue,ra-ca,eça
iloso+ia é a ci/ncia dos primeiros princpios# dos princpios que
s(o universalmente v*lidos e que regem tanto o ser como o
 pensar. 0oje a iloso+ia é muitas ve!es pensada como a ci/ncia
das justi+ica-,es racionais 'ltimas# isto é# como +undamento
racional de todas as outras ci/ncias. O grande tema da iloso+ia é#
assim# usando met*+ora tirada da $rquitetura# a quest(o de
+undamenta-(o 'ltima. 6 neste sentido que j* na $ntig5idade
 
$ristóteles +ala de iloso+ia Primeira. $ iloso+ia Primeira trata
dos primeiros princpios do universo 8 do ser e do pensar 8#
 princpios estes que s(o o +undamento racional de todas as demais
ci/ncias# como 9ógica# sica# $stronomia# :iologia# 6tica#
Poltica# Estética etc.# que antigamente +a!iam parte daquela
grande e a%rangente ci/ncia que ent(o se c&amava de iloso+ia.
 Nada ten&o a opor contra a concep-(o de iloso+ia como ci/ncia
da +undamenta-(o 'ltima. Ela é isso# tam%ém. )as essa met*+ora
aponta só para um dos n'cleos duros daquele todo maior que
realmente é a iloso+ia. 6 como se se apontasse a para um osso
nu# descarnado. $ imagem do +undamento é meio po%re. Eu
 pessoalmente pre+iro# para caracteri!ar o que seja iloso+ia# outra
met*+ora# a de um que%ra2ca%e-a. iloso+ia é um grande jogo de
que%ra2ca%e-a.
 No jogo de que%ra2ca%e-a temos que encai"ar cada pe-a com as
 pe-as vi!in&as# de modo que os contornos de cada uma coincidam
com os contornos das pe-as vi!in&as# +ormando um todo coerente#
sem %uracos e sem rupturas# e que no +inal mostra uma imagem.
O jogo de que%ra2ca%e-a consiste em inserir pe-a por pe-a# uma
na outra# com ajuste per+eito de contornos# até que todas as pe-as
estejam corretamente colocadas e a imagem +inal# coerente e com
sentido# +ique visvel. Se so%rarem pe-as# o jogo n(o +oi jogado
até o +im. Se +altarem pe-as# o jogo est* des+alcado e a imagem
+inal +icar* incompleta. Em jogos grandes pode per+eitamente
acontecer que consigamos montar peda-os da grande imagem
+inal# cada peda-o com +iguras próprias# mas sem a composi-(o
+inal. Se jogarmos até o +im# e se o jogo n(o estiver des+alcado de
 pe-as# todas as pe-as estar(o# ent(o# devidamente encai"adas# n(o
+altar(o pe-as# n(o so%rar(o pe-as# e a imagem glo%al estar* clara
e visvel.
a!er iloso+ia &oje é como montar um grande que%ra2ca%e-a. $s
ci/ncias# como a sica# a 1umica# a $stronomia# a :iologia# a
$rqueologia# a 0istória# a Psicologia# a Sociologia# etc.# s(o
 
recortes parciais do grande que%ra2ca%e-a que é a iloso+ia# a
;i/ncia Universalssima. ;ada uma das ci/ncias particulares
monta o seu peda-o particular# ou seja# cada uma delas trata de
algumas +iguras. Nen&uma delas se preocupa e se encarrega da
composi-(o total do grande mosaico# que é a iloso+ia# a ra!(o# o
sentido do universo. $s ci/ncias particulares tra%al&am# sim# na
montagem do grande jogo de que%ra2ca%e-a# mas cada uma delas
se limita a um pequeno peda-o. a!er iloso+ia signi+ica jogar o
 jogo até o +im# isto é# montar todas as pe-as# de sorte que se possa
ver a imagem glo%al.
E aqui aparece a primeira di+eren-a entre o %rinquedo
mencionado e a iloso+ia. Na iloso+ia n(o temos todas as pe-as.
O universo ainda est* em curso# a 0istória n(o terminou. )uitas
coisas# que nem sa%emos quais s(o# est(o por vir. O ilóso+o n(o
disp,e de todas as pe-as 8 o +uturo ainda n(o c&egou 8# e# assim#
o mosaico +inal sempre estar* incompleto. 4sso n(o o%stante# é
 preciso montar o jogo com todas as pe-as e"istentes# inclusive o
 próprio jogador. ;ada um de nós# que somos os jogadores
concretos# temos que pular para dentro do mosaico +inal da
iloso+ia# que é o sentido universal do universo em que vivemos#
o sentido 'ltimo de nossa vida< a a iloso+ia +ica e"istencial.
)as# como a 0istória e a Evolu-(o n(o terminaram# a imagem
que aparece no mosaico# em%ora glo%al# sempre conter* grandes
lacunas. 4sso signi+ica que a iloso+ia como sistema glo%al do
con&ecimento é e sempre +icar*# enquanto correr o tempo da
0istória# um projeto inconcluso. $ Grande ;i/ncia nunca estar*
completa e aca%ada# a iloso+ia sempre é e continuar* sendo
apenas $mor = Sa%edoria.
 N(o se pode +a!er de conta que as ci/ncias particulares n(o
e"istam. N(o se pode +a!er de conta# como alguns ilóso+os &oje
+a!em# que iloso+ia seja apenas iloso+ia da 9inguagem ou
3eoria do ;on&ecimento. 4sso tam%ém é importante# isso tam%ém
é parte da iloso+ia. )as iloso+ia é mais do que apenas uma
 
3eoria so%re )etalinguagens< iloso+ia é a Grande ;i/ncia# que
contém dentrode si todas# repito# todas as ci/ncias particulares
com suas teorias e suas quest,es ainda em a%erto. $ surge a
 pergunta> isso ainda é possvel? 0oje# em nosso século# com o
incrvel e inédito desenvolvimento das ci/ncias particulares# ainda
é possvel +a!er uma Grande Sntese? ;laro que é necess*rio e
que é possvel. Pois assim como se desenvolveram as ci/ncias
 particulares# cresceram tam%ém os recursos = disposi-(o do
ilóso+o para# sempre de novo# tentar construir o travejamento
 %*sico da Grande 3eoria Uni+icada. 6 meio vergon&oso# mas
devemos admitir que muitos +ilóso+os &oje a%andonaram a idéia
da Grande Sntese e se contentam com su%sistemas parciais< isso
signi+ica# porém# que dei"aram de +a!er verdadeira iloso+ia. ;om
alegria# entretanto# se v/ que os sicos continuam procurando a
Grande 3eoria Sintética# na qual os su%sistemas atualmente
tra%al&ados possam ser integrados. Só que a Grande Sntese é
mais do que apenas a concilia-(o da teoria geral da relatividade
com a mecnica quntica. $ tare+a program*tica da iloso+ia é
ainda mais ampla que a da sica do incio do século @@4. $
:iologia# a Psicologia# a Sociologia# a 0istória# etc.# tam%ém t/m
que entrar nessa teoria sintética que é a iloso+ia# pois queremos
desco%rir quais as leis que s(o v*lidas para tudo# para todas as
coisas. Essa grande tare+a era c&amada antigamente de eplicatio
undi. a!er iloso+ia sempre +oi e continua sendo +a!er a
e"plica-(o do mundo. Aoltaremos ainda muitas ve!es a esta
 palavra# pois com ela se di! realmente tudo o que a iloso+ia pode
e deve pretender.
%( Cr.tica da ra/ão p0s-moderna
$pós o colapso intelectual do sistema de 0egel# na segunda
metade do século passado# e após o colapso poltico do mar"ismo#
que é um tipo de &egelianismo de esquerda# em BCC# com a
queda do )uro de :erlim e# logo depois# com o es+arelamento da
 
Uni(o Soviética# a iloso+ia parece ter c&egado a um %eco sem
sada. $o invés da Grande Sntese temos apenas um grande
impasse. $ ra!(o# que era am%iciosa e andava sempre = procura
da Grande Sntese# a ra!(o una# 'nica e universalssima# é
destruda a golpes de marreta. $ 7a!(o# una# 'nica e com letra
mai'scula# é declarada morta. $ 7a!(o morreu# vivam as
m'ltiplas pequenas ra!,es# as ra!,es das muitas perspectivas
di+erentes# como di! Niet!sc&e# as ra!,es dos m'ltiplos
&ori!ontes# como quer 0eidegger# as ra!,es dos m'ltiplos jogos
de linguagem# como a+irma ittgenstein. $ 7a!(o# una e 'nica#
morreu# vivam as m'ltiplas ra!,es com seus relativismos. Esta a
tese do pensamento pós2moderno.
O lado positivo dessa dissolu-(o da ra!(o que era de+endida pelo
4luminismo é que +icamos em nosso século mais modestos# mais
compreensivos# mais a%ertos para com as outras culturas# mais
tolerantes para com o estrangeiro# mais atentos = alteridade. O
 particular# inclusive as ci/ncias particulares# progridem
imensamente. $té a 9ógica# que era antes una# 'nica# no singular
e com letra mai'scula# ou seja# a 9ógica de $ristóteles e dos
mestres pensadores da 4dade )édia# trans+orma2se. 0oje temos#
ao lado da lógica aristotélica# escrita em letra min'scula# muitas
outras lógicas. 0oje +alamos de lógicas no plural e com letra
min'scula. 4sso que ocorreu com a 9ógica aconteceu tam%ém
com a 7a!(o como um todo. $o invés da 7a!(o# temos &oje as
m'ltiplas ra!,es# no plural e com letra min'scula.
$ ra!(o pós2moderna p,e um su%sistema ao lado de outro
su%sistema# e mais outro# e ainda mais outro# sempre um ao lado
do outro# sem uma unidade mais alta e mais ampla# que os
a%ranja< os interstcios entre os v*rios su%sistemas +icam va!ios.
$ ra!(o pós2moderna nega a e"ist/ncia de princpios ou leis que
sejam universalssimos# que interliguem os diversos su%sistemas#
ou seja# que sejam v*lidos sempre# em todos os m%itos# em todos
 
os interstcios e para todas as coisas. )ais# ela di! que 8 a rigor 8
n(o &* proposi-(o que seja universalmente v*lida.
Ora# quem +a! tal a+irma-(o# ao di!er# se desdi!. 3al a+irma-(o é
uma contradi-(o em si mesma# ela detona uma implos(o lógica. 8
Aejamos o que ocorre em outro e"emplo# mais simples. 3omemos
a proposi-(o +"o eiste nenua proposi!"o verdadeira. 1uem
a+irma uma tal coisa est* implicitamente di!endo +"o eiste
nenua proposi!"o ue sea verdadeira* eceto esta esa ue
agora estou di/endo. $ssim# a e"ce-(o implicitamente +eita
desmente a universalidade daquilo que +oi a+irmado> n(o é
verdade que todas as proposi-,es sejam +alsas# eis que pelo menos
esta# que est* sendo a+irmada# est* sendo a+irmada como sendo
verdadeira. $ssim tam%ém ocorre com a proposi-(o pós2moderna
 +"o á nenua proposi!"o ue perpasse todos os susisteas<
ao di!er e a+irmar isso# estamos di!endo que ao menos essa
 proposi-(o é v*lida para todos os su%sistemas. 6 o mesmo que
ocorre em sala de aula# quando o pro+essor reclama das conversas
e Fo(o!in&o di!> Pro6essor* n"o te ningu- 6alando. $o +alar e
di!er isto# Fo(o!in&o desmente e"atamente o que est* di!endo. 6
 por isso que a ra!(o pós2moderna é %oa# sim# enquanto respeito
 para com a alteridade e apre-o pela diversidade# é péssima#
entretanto# como su%stituto da ra!(o universalmente v*lida. Ela
n(o pode ser universali!ada< se o +a!emos# ela se detona. Este é o
motivo por que uma iloso+ia pós2moderna# neste sentido# n(o
e"iste e nunca e"istir*. 1uem quiser +a!er iloso+ia = maneira da
ra!(o pós2moderna# justapondo su%sistemas# sem jamais +a!er
uma teoria# por mnima que seja# a%rangente# est* +adado ao
insucesso da autocontradi-(o. )eu amigo 0a%ermas me perdoe#
mas n(o d*> implode. ica com isso demonstrado que se pode
voltar a uma ra!(o una# 'nica e universalssima. Ela pode
consistir de poucas regras e princpios< talve! ela consista de um
'nico princpio# mas que uma tal ra!(o e"iste# e"iste. 1uem o
 
negar se detona e entra em autocontradi-(o. $ e"plica-(o do
mundo pode ser# talve!# minimalista. )as que ela é possvel# é.
O lado mais negativo da ra!(o pós2moderna é o li"o que se
acumula nos interstcios entre os diversos su%sistemas. 6 para a#
 para esses interstcios va!ios# que varremos as contradi-,es e os
 pro%lemas mal resolvidos. Entre um su%sistema e outro +ica o li"o
da ra!(o. $s teorias particulares# articuladas somente como
su%sistemas# permitem que entre um su%sistema e outro %rotem e
vicejem os maiores a%surdos. $s contradi-,es n(o +oram
resolvidas# +oram apenas varridas. E isto n(o %asta. 6 preciso
 pensar tanto a multiplicidade como tam%ém a unidade. Sem
unidade a multiplicidade entra# como vimos# em contradi-(o.
)ultiplicidade na Unidade# Unidade na )ultiplicidade 8 é preciso
conciliar am%os os pólos igualmente legtimos e necess*rios. 6
 preciso repensar tanto Parm/nides como tam%ém 0er*clito.
%(1 2 esfera de Parm3nides
Parm/nides# um dos grandes pensadores da iloso+ia pré2
socr*tica# +oi de certo modo o precursor da ra!(o pós2moderna.
Ele contrap,e# um ao outro# dois grandes su%sistemas> o ser
realmente real e a doa# a mera apar/ncia. Parm/nides di! que a
realidade realmente real é apenas o ser imóvel# o que é puro
repouso# sem nen&um movimento. Este ser imóvel e imut*vel é
sim%oli!ado pela es+era que n(o tem limites# onde o dedo corre
sem nunca c&egar a um come-o ou a um +im. E as coisas deste
mundo# que est(o em movimento# que se movem# que nascem e
morrem# %em# estas coisas# declara Parm/nides# n(o s(o uma
realidade realmente real# elas s(o uma doa# uma mera apar/ncia#
so% a qual n(o &* um ser realmente real. $s apar/ncias enganam.
De um lado# o su%sistema do ser realmente real< de outro lado# o
su%sistema das apar/ncias. )as Parm/nides n(o é um pós2
moderno. Ele +oi mais radical# sacri+icou todas as apar/ncias# as
m'ltiplas coisas deste mundo em que vivemos# no altar de uma
 
racionalidade e"acer%ada# de um $ogos uno# 'nico# imóvel#
imut*vel# in+inito. O que é# di! Parm/nides# é. O que n(o é n(o é.
E o que n(o é n(o é nada# n(o signi+ica nada e n(o +a! nada. O
n(o2ser n(o e"iste# ele n(o pode nem mesmo ser pensado.
)ovimento é sempre a passagem do ser para o n(o2ser# ouseja# o
 perecer. Ou ent(o# a passagem do n(o2ser para o ser# isto é# o
nascer. Ora# como o n(o2ser n(o e"iste# como ele n(o é nada# n(o
&* passagem para o n(o2ser. N(o &*# por igual# passagem a partir
do n(o2ser< do n(o2ser n(o pode sair nada. 4sso signi+ica que n(o
&* perecimento nem nascimento. Perecer e nascer s(o ilus,es# s(o
meras apar/ncias. Pois# pela lógica# o n(o2ser n(o é nada. E tudo
aquilo que o n(o2ser determina est* sendo determinado como
sendo nada# isto é# n(o é nada# é pura ilus(o. 9ogo# argumenta
Parm/nides# n(o e"iste movimento. E# se pensamos que algo est*
em movimento# trata2se de uma ilus(o.
en(o de Eléia# discpulo de Parm/nides# para demonstrar o que
ele pensava ser a impossi%ilidade lógica do movimento# tra! o
e"emplo da corrida entre $quiles e a tartaruga e o e"emplo da
+lec&a parada. $quiles aposta uma corrida com uma tartaruga.
;omo $quiles é um grande &erói e e"mio corredor# a tartaruga
 pede de! metros de vantagem. $quiles concorda# e a corrida
come-a. 7eparem# a+irma en(o# como o movimento é algo
contraditório# reparem que $quiles n(o vai conseguir gan&ar.
:asta pensar. Pois antes de percorrer a distncia que o separa da
tartaruga# $quiles deve percorrer a metade dessa distncia. E
antes de percorrer essa metade# ele tem que percorrer a metade
dessa metade. E antes de cru!ar a metade dessa metade# ele tem
que percorrer a metade dessa metade. E assim por diante. ;omo a
quantidade é in+initamente divisvel e sempre &* uma nova
metade da metade# conclui2se que $quiles n(o avan-a um passo#
n(o consegue reconquistar a vantagem e# assim# perde a corrida
 para a tartaruga. Por qu/? Porque o movimento# di! en(o# é
contraditório# ele n(o pode ser pensado até o +im sem que surja
 
uma contradi-(o insol'vel. 8 O mesmo raciocnio é aplicado =
+lec&a disparada pelo arqueiro contra um alvo qualquer. $ +lec&a#
tendo que percorrer as in+initas metades da metade# +ica parada. $
+lec&a parada e a corrida de $quiles com a tartaruga demonstram#
 pensa en(o# a tese de Parm/nides de que o movimento é
impossvel e que# por isso# temos que nos ater somente ao ser uno#
'nico# in+inito e sem movimento que é o ser que realmente é. Eis
a es+era de Parm/nides.
Parm/nides# o grande pensador do ser uno# 'nico e imut*vel# é#
apesar desse grande erro# o pai intelectual de toda a verdadeira
iloso+ia# pois +oi ele que primeiro pensou t(o a sério a unidade
da ra!(o e do ser. 3udo é o Uno. O 3odo e o Uno# Hen 7ai Pan#
s(o o come-o e o +im de toda a iloso+ia# de toda a ci/ncia que se
queira e entenda como a Grande Sntese. O erro que cometeu#
visvel para todos# é n(o ter levado igualmente a sério o momento
da diversidade e do movimento. Ele n(o conseguiu pensar o n(o2
ser como algo que de certo modo é. Parm/nides tem o 3odo e o
Uno# +alta2l&e o movimento que em tudo +lui. alta 0er*clito.
%(5 $ pátio de 'eráclito
Segundo 0er*clito# tudo +lui# Panta 8ei# tudo est* em constante
+luir# tudo é movimento. $ realidade realmente real n(o é a es+era
imóvel e imut*vel# sem limites# dos Eleatas# mas sim o
movimento que# sem jamais cessar# sempre de novo come-a. N(o
&* come-o e n(o &* +im# nisso 0er*clito concorda com
Parm/nides# mas n(o porque n(o e"ista movimento# e sim porque
tudo est* sempre em constante trans+orma-(o. O que para os
Eleatas era doa# mera apar/ncia e ilus(o# agora é a própria
realidade realmente real.
$ realidade n(o é apenas Ser# ela n(o é# por igual# apenas N(o2
Ser. $ realidade realmente real é uma tens(o que liga e concilia
Ser e N(o2Ser. $parece aqui# pela primeira ve! na 0istória da
iloso+ia# a Dialética. Ser e N(o2Ser# tese e anttese# s(o
 
conciliados# num plano mais alto# através de uma sntese. Ser e
 N(o2Ser# que = primeira vista se op,em e se e"cluem# na realidade
realmente real constituem uma unidade sintética# que é o Ser em
)ovimento# o Devir. No Devir e"iste um elemento que é o Ser#
mas e"iste por igual um outro elemento igualmente essencial que
é o N(o2Ser. Ser e N(o2Ser# %em misturados# n(o mais se repelem
e se e"cluem# mas entram em am*lgama e se +undem para
constituir uma nova realidade.
3emos a# j* em 0er*clito# os tra-os +undamentais da Dialética.
 Numa primeira etapa temos dois pólos contr*rios que se e"cluem
mutuamente. 3ese e anttese se contrap,em# uma contra a outra#
uma e"cluindo a outra. Nesta primeira etapa um pólo anula e
liquida o outro# eles s(o e"cludentes. Só que a coisa n(o p*ra a.
0* um movimento# &* um desenvolvimento# &* um progresso. E
ent(o# nessa segunda etapa# os pólos se conciliam e se uni+icam#
constituindo# num patamar mais alto# uma nova unidade.
$ lira# o instrumento musical dos antigos gregos# serve de
e"emplo a 0er*clito. $ lira se comp,e de um arco e das cordas.
1uem quer construir uma lira pega uma pe-a de madeira
apropriada e a verga# +ormando um arco. Só que o arco# dei"ado
solto# volta = sua +orma retilnea. Para manter o arco vergado# é
 preciso amarr*2lo com uma corda# ou com v*rias cordas. O arco e
a corda# nessa primeira etapa# est(o em tens(o# um contra o outro.
O arco quer re%entar a corda# a corda quer vergar o arco. Essa
oposi-(o# que e"iste nessa primeira etapa da Dialética# se e
quando devidamente dosada# +a! surgir algo completamente novo#
algo maravil&oso> a m'sica. $ tens(o e"istente na primeira etapa#
o arco contra a corda# a corda contra o arco# cede o lugar = sntese
que é a m'sica# ou antes# com letra mai'scula# a )'sica# que é
uma das nove Deusas que regem e inspiram as $rtes. Na primeira
etapa &* oposi-(o e"cludente e con+lito< na segunda etapa#
concilia-(o sinteti!ante que +a! surgir algo de novo# mais alto#
mais comple"o# mais no%re.
 
Um dos mais %elos e"emplos de Dialética# muito con&ecido na
$ntig5idade# mas raramente mencionado &oje em dia# é o
movimento de 6'lesis# anti6'lesis e 6il'a# ou seja# o movimento
dialético que leva de um amor inicial# que prop,e e pergunta#
 passando pelo amor que# perguntado# responde a+irmativamente#
 para c&egar ao amor que# amando# se sa%e correspondido# amor
este que# sendo sintético# n(o é mais e"clusividade de um ou de
outro dos amantes# e sim unidade de am%os. Os gregos c&amavam
isso de 6il'a# ami!ade.
O amor tem come-o. $lguém tem que come-ar. O come-o é um
ato estritamente unilateral e sempre arriscado. N(o se sa%e# de
antem(o# como o outro# ou a outra# vai reagir e o que vai
responder. Este ato unilateral e arriscado é c&amado em grego de
 6'lesis. 0eitor ama 0elena. 0eitor ama e sa%e que ama< 0elena
 perce%e o convite +eito# mas ainda n(o se decide. 8 O outro# ou a
outra# pode responder que sim# como pode tam%ém responder que
n(o. 4sso de incio est* em a%erto e é contingente. Se o outro# a
outra# porém# responder que sim# ent(o temos uma anti6'lesis# que
tam%ém é um ato unilateral# mas n(o é mais um ato arriscado#
 pois n(o é mais só uma pergunta e só um convite# e sim uma
resposta e a aceita-(o de um convite j* +eito. 0elena decide2se a
aceitar o amor de 0eitor e o ama de volta. Este amor de volta é a
anti6'lesis. 9'lesis e anti6'lesis s(o# am%os# atos unilaterais< 6'lesis
contém risco# e anti6'lesis n(o. 3rata2se de dois atos
independentes# completos e aca%ados# um di+erente do outro# um
em oposi-(o relativa ao outro< um é tese# o outro é anttese. )as
quando am%os se cru!am e# num plano mais alto# se +undem numa
'nica realidade mais comple"a# mais alta e mais no%re# ent(o
temos 6il'a. Na 6il'a* os dois pólos inicialmente di+erentes e
opostos# um que pergunta e outro que responde# se +undem#
+ormando um am*lgama# algo de novo. Na 6il'a* am%os os amores
individuais dei"am de ser atos unilaterais e trans+ormam2se num
'nico ato# que é %ilateral# no qual n(o importa mais quem
 
 pergunta e quem responde# pois am%os os amores iniciais
 perderam seu car*ter individual# o Eu e o 3u# para se uni+icar
como algo de novo# o Nós. 0eitor e 0elena# ao se amarem#
 primeiro se perdem. Pois o sentido de toda a e"ist/ncia passa a
residir no outro. 6 o outro que reali!a o sentido da vida# é o outro#
a pessoa amada# que é o centro do universo.0eitor ama
 perdidamente 0elena. 0eitor primeiro se perde> quem ama vive se
 perdendo. )as# como 0elena ama 0eitor de volta# o sentido do
universo per+a! um crculo completo e retorna a 0eitor# que#
agora pro+undamente enriquecido# se sa%e novamente c&eio de
sentido e de vida. Só que esta nova vida e este novo sentido do
universo n(o s(o um ato unilateral só dele# e sim um ato conjunto#
um ato %ilateral# um ato em que o Eu +oi mediado através do 3u
 para constituir um Nós. 6 por isso que o amor de ami!ade# 6il'a* é
t(o +orte e t(o precioso. 6 por isso que gregos e troianos lutaram
 por tantos anos. 6 por isso# somente por amor de ami!ade# que
$quiles# Ulisses e $gamemnon# os pastores de povos# condu!em
os gregos com suas naves curvas para a intermin*vel guerra. 6 só
 por isso que os troianos# c&e+iados por 0eitor# lutam até morrer.
3udo só por causa de uma mul&er# di! 0omero na 4lada. 3udo só
 por causa da 6il'a* que transcende os indivduos e se constitui em
sntese mais alta e mais +orte. $mor a vira 0istória. $ 0istória de
gregos e troianos# a 4lada e a Odisséia# os come-os de nossa
civili!a-(o.
3ese e anttese s(o# na primeira etapa# pólos opostos que se
repelem e se e"cluem. Numa segunda etapa# am%os se uni+icam
numa sntese que é algo mais alto e mais no%re. Na sntese# dir*
0egel muito mais tarde# os pólos iniciais est(o superados e
guardados H Au6eenI. Por um lado# eles est(o superados# pois
 perderam algumas de suas caractersticas. No e"emplo do amor
de ami!ade# o car*ter de unilateralidade e o de risco s(o superados
e# assim# desaparecem. )as# pelo outro lado# os pólos est(o
guardados na sntese# pois o cerne positivo# que j* estava neles#
 
continua sendo conservado. O amor# ao dei"ar de ser ato
unilateral# +ica mais amor ainda# +ica um amor mais alto e mais
no%re. 3ese# anttese e sntese constituem aquilo que os +ilóso+os
gregos c&amam de jogo dos opostos. Eis o come-o e a rai! da
Dialética.
0er*clito# o pai da Dialética# di! que n(o podemos entrar duas
ve!es no mesmo rio. O rio n(o é o mesmo# nós n(o somos os
mesmos. 3udo est* em movimento# é o movimento que é a
realidade realmente real. $ realidade# ensina# constitui2se
dialeticamente através do jogo dos opostos. No come-o# tudo é
luta e guerra# pois os opostos se op,em e se e"cluem> P%leos
 pat-r pánton# A luta - o coe!o de tudo. )as depois &*# muitas
ve!es# uma sntese conciliadora que +a! nascer algo de novo# mais
comple"o# mais alto# mais no%re.
 No jogo de opostos# nem sempre surge um resultado positivo.
)uitas ve!es# o que ocorre é só morte e destrui-(o. Os pólos
opostos nesse caso atuam só como agentes destrutivos. O
 primeiro anula o segundo# ou vice2versa# ou am%os se anulam
mutuamente. $ n(o surge sntese# a n(o se +a! Dialética.
Perce%e2se# de imediato# que a grande quest(o# para que se possa
compreender o universo# passa a ser a Sntese. 1uando e por que
&* sntese? 1ue e"istam snteses no universo é claro. A/2se# %asta
ol&ar o cosmos. )as a pergunta é> por que =s ve!es &* sntese# =s
ve!es n(o? 1uem desco%rir isso desco%rir* a resposta = pergunta
so%re a &armonia no universo# que é um cosmos ordenado. $
 pergunta central de toda a iloso+ia# ;i/ncia da Grande Sntese# é>
 por que os opostos =s ve!es se e"cluem# =s ve!es se conciliam?
6 entre Parm/nides e 0er*clito que se a%re o espa-o em que#
desde ent(o# se +a! iloso+ia. Parm/nides# di!endo que 3udo é o
Uno# +ornece o elemento do $ogos universal que a%range tudo<
0er*clito# di!endo que 3udo +lui# que tudo é movimento de pólos
opostos# +ornece o elemento da Dialética. Hen 7ai Pan e Panta
 8ei# O (odo e o :no e (udo 6lui s(o# desde ent(o# lemas de toda e
 
qualquer iloso+ia. 6 por isso que num p*tio que se queira
sim%ólico de nossa iloso+ia ocidental tem que &aver# em seu
 ponto central# uma es+era de pedra# uma es+era que remeta ao Ser2
Uno de Parm/nides. )as# como a +iloso+ia de Parm/nides tem
que ser %ali!ada e corrigida pela de 0er*clito# é preciso que esta
es+era esteja em perpétuo movimento de +luir. Jgua tem que
 %rotar dela# como de uma +onte# para que a es+era# envolta pelo
+luir da *gua# seja o sm%olo da Grande Sntese entre 7epouso e
)ovimento# entre 3otalidade e Dialética.
Aoltar 
* $ 4$$ D$S $P$S&$S
*(% 2 "ilosofia da 6ature/a dos Pré-Socráticos
Os +ilóso+os pré2socr*ticos +oram os primeiros# em nossa cultura#
a es%o-ar uma vis(o racional do mundo# di!endo como a Nature!a
se srcina# como e de que ela se comp,e# qual o lugar do &omem
nela. $ntes desses primeiros construtores da racionalidade# &avia
apenas o )ito. O )ito é uma primeira +orma# ainda n(o crtica# de
+iloso+ar# isto é# de pensar o mundo como um todo# de pensar o
universo em sua totalidade. O )ito# entre os gregos# assume a
+igura-(o da genealogia. No come-o# %em no come-o# contam os
antigos gregos# &* apenas caos. ;aos é o come-o de tudo e o
 primeiro dos deuses# pai e srcem de todas as coisas. Do deus
;aos surgem# ent(o# outros deuses numa seq5/ncia genealógica
em que um deus sucede a outro por +ilia-(o# até c&egarmos aos
deuses atuais# aos atuais &a%itantes do Olimpo# um grupo de
deuses que é comandado por eus.
3am%ém na tradi-(o judaico2crist( o )ito assume a +orma %*sica
de genealogia. No come-o# di! a :%lia dos judeus e dos crist(os#
&avia somente Deus. Deus# antes de criar as coisas# era só ele
mesmo# estava so!in&o. Ent(o# no primeiro dia# Deus# o Pai de
todas as coisas# cria a lu!# c&amando a lu! de dia e as trevas de
 
noite. No segundo dia# Deus +a! o +irmamento e separa as *guas#
&avendo ent(o *guas a%ai"o do +irmamento# os mares e os rios# e
*guas acima do +irmamento# que depois caem como c&uva. No
terceiro dia# Deus separa a terra e o mar# +a!endo assim aparecer o
solo# a terra verde# as plantas e as *rvores +rut+eras. No quarto
dia# Deus# o Pai# cria as lu!es no +irmamento do céu# uma maior# o
sol# e outra menor# a lua# dividindo assim o dia da noite. Ele cria
tam%ém as pequenas lu!es do +irmamento# que s(o as estrelas. No
quinto dia# Deus# o ;riador# engendra os animais que vivem nas
*guas# os pei"es# %em como os que vivem em terra# as %estas# e
tam%ém os que voam# as aves# cada qual segundo sua espécie.
Deus ent(o os a%en-oa e manda que se multipliquem. No se"to
dia# Deus +a! o &omem = sua imagem e semel&an-a# para que ele
 presida os pei"es do mar# as aves do céu# as %estas e todos os
répteis# e domine assim so%re a terra. Deus# ent(o# p*ra# ol&a para
as coisas que criou e v/ que todas elas s(o %oas. E no sétimo dia#
di! o mito %%lico# Deus descansou. $ partir deste primeiro
come-o# toda a :%lia é uma &istória genealógica# é uma &istória
dos patriarcas e de seus povos# com /n+ase espec+ica no povo dos
 judeus.
3anto o mito dos gregos como o mito dos judeus e crist(os
contam a &istória da srcem do universo desde seu come-o até a
seq5/ncia &istórica dos tempos. O tempo passado é sinteti!ado
como uma &istória que tem come-o e que condu! até o tempo
 presente# dando sentido =s coisas e# assim# =s nossas vidas. Esse
apan&ado &istórico do tempo passado# que sempre contém ju!os
de valor 8 o :em e o :elo 8# constitui o pano de +undo em que se
insere o tempo presente. eito assim o travejamento entre passado
e presente# tam%ém o cotidiano se entran&a de valores éticos e
estéticos# permitindo que se projete o tempo +uturo. 0eródoto# de
um lado# e o G/nese judaico2crist(o# do outro# s(o uma &istória do
 primeiro come-o do mundo e da seq5/ncia &istórica das gera-,es.
$m%os os mitos t/m grande valor poético e +uncionam como
 
arquétipos estruturadores de uma determinada vis(o do mundo.
 No mito judaico2crist(o &* uma estrutura que contrap,e# de um
lado# uma primeira causa# Deus# que engendra tudo# e# de outro
lado# as coisas criadas# as criaturas que# depois# entram em
seq5/ncia genealógica. Deus# causa primeira de tudo# é pensado a
tam%ém de +orma genealógica como o ;riador e o Pai de todas as
coisas. Por isso Ele é# em 'ltima instncia# respons*vel por tudo e
escreve direito até por lin&as tortas. No mito grego &* um
deslocamento.$ causa# no pensamento grego# n(o é pensada
como uma causa e+iciente e"terna ao processo do universo# mas
como uma causa interna# um princpio interno de
autodetermina-(o que molda o universo de dentro para +ora. O
deus inicial é o caos. O deus ;aos# como o nome di!# é totalmente
indeterminado< n(o &* nele coisas ou seres com limites e
contornos. )as é de dentro desse caos# é de dentro desse deus
;aos que o universo %em ordenado vai surgindo. O caos se
organi!a# se amolda e# a partir de si mesmo# engendra suas
determina-,es. O caos# ao determinar2se a si mesmo# se d* +orma
e +igura. Surgem a os outros deuses e# na seq5/ncia destes#
tam%ém os &omens.
Os +ilóso+os pré2socr*ticos con&ecem o )ito e apreciam sua
 %ele!a selvagem e sua relevncia pedagógica. )as &* que se
 pensar e argumentar racionalmente. 4sso é iloso+ia# e é por isso e
 para isso que e"istem +ilóso+os. 4sso signi+ica que o processo de
g/nese do universo deve ser analisado e descrito com a e"atid(o e
a +rie!a o%jetiva que caracteri!am a ci/ncia. 6 na geometria que
os primeiros pensadores se inspiram em seu nimo de
o%jetividade cient+ica. $ iloso+ia da Nature!a deveria ser t(o
e"ata# t(o o%jetiva e t(o convincente quanto a geometria. Os pré2
socr*ticos %em que tentaram# mas n(o c&egaram até l*.
3ales de )ileto pensava que a srcem e o princpio 8 a ar7- 8 de
todas as coisas é a *gua. $s coisas se constituem e di+erem umas
das outras pelo grau de umidade. O deus Oceano é# assim# o Pai
 
de todas as coisas. $na"imandro# tam%ém de )ileto#
 provavelmente discpulo de 3ales# di! que o primeiro princpio é
um ser totalmente indeterminado# sem limites e sem
determina-,es# o ápeiron# ser este que vai sendo ent(o
ulteriormente caracteri!ado por determina-,es que o limitam mais
e mais# até +ormar as coisas determinadas que vemos no mundo
sensvel. Este ser indeterminado inicial# o ápeiron* a%arca e
circunscreve todas as coisas# ele rege e governa tudo. $na"menes
de )ileto# discpulo de $na"imandro# aceita a doutrina de seu
mestre so%re o ser in+inito# que constitui o come-o de todas as
coisas# mas n(o o toma de +orma t(o a%strata# de+inindo2o como o
ar> o ar# segundo ele# é o princpio de todas as coisas. 8
O%servamos aqui# na iloso+ia da Nature!a dos +ilóso+os jKnicos#
uma primeira e primitiva +orma do jogo dos opostos. O primeiro
 princpio é contraposto =s coisas di+erenciadas# que dele se
srcinam e através dele se e"plicam. iloso+ia aqui j* é uma
eplicatio undi# uma e"plica-(o do mundo< o mundo é
conce%ido como um processo que se srcina a partir de um só
 princpio e se desenvolve de acordo com determinadas regras.
 N(o se trata ainda da doutrina da sica contempornea so%re o
 ;ig ;ang # mas é o primeiro come-o dela.
Pit*goras e os pitagóricos d(o um passo adiante e desco%rem o
n'mero como princpio de todas as coisas. ;ome-a a# para nunca
mais terminar# a matemati!a-(o do mundo. $s rela-,es que os
n'meros esta%elecem entre si constituem as regras que
determinam o processo de e"plica-(o do mundo. O universo se
desenvolve a partir de um primeiro princpio# segundo regras e
 propor-,es numéricas# que determinam o processo e d(o +orma =s
coisas. ;ada n'mero possui a um sentido próprio e d* =s coisas
uma +orma determinada. O n'mero BL é considerado o n'mero
 per+eito e é visuali!ado como um tringulo equil*tero# no qual
cada lado se +orma por quatro n'meros< no centro do tringulo
assim delineado# &* um 'nico ponto# o ponto central# totali!ando
 
o n'mero BL. $ assim c&amada mstica dos n'meros dos +ilóso+os
 pitagóricos# que vai in+luenciar depois Plat(o e toda a escola
neoplatKnica# é o %er-o de onde v/m as equa-,es da sica
contempornea.
Em paralelo com a doutrina so%re os n'meros# os +ilóso+os
 pitagóricos desenvolvem ulteriormente o jogo dos opostos. F* os
n'meros t/m entre si a rela-(o de contr*rios. O Um se op,e ao
Outro# que ent(o é c&amado de Dois. Dessa primeira oposi-(o
saem os n'meros B e M. )as é preciso &aver sntese# é preciso
 pensar tanto o B como o M como um novo conjunto# e a surge o .
3ese é o B# anttese é o M# a sntese é o . 6 por isso que# segundo
os pitagóricos# os n'meros mpares s(o mais per+eitos> neles se
 pensa# além da oposi-(o dos dois pólos contr*rios# tam%ém sua
sntese. O tringulo +ormado de de! pontos# ou o BL em +orma de
tringulo# é a própria per+ei-(o. Depois de atingirmos o BL# tudo é
apenas uma repeti-(o. Surge assim# para n(o sair mais de nossa
civili!a-(o# o sistema decimal de contagem e de c*lculo.
$ essa mstica dos n'meros soma2se# ent(o# a lista dos de! pares
de contr*rios 8 as su%stncias elementares 8# que# con+orme
com%inados entre si# d(o +orma a todas as coisas>
B. 9imitado 4limitado
M. mpar Par 
. Uno )'ltiplo
. Direita Sinistra
Q. )ac&o /mea
R. 1uieto )óvel
. 7eto ;urvo
. 9u! 3revas
C. :em )al
BL. 1uadrado 7etngulo
O jogo dos contr*rios aqui se apresenta como uma ta%ela %*sica
dos contr*rios. Segundo os +ilóso+os pitagóricos# quem aprende a
 
 jogar com esses de! pares de contr*rios# que s(o como que os
elementos constitutivos dos seres e"istentes# pode compor a
constitui-(o interna de cada coisa. Eis aqui a primeira +orma#
ainda muito tosca e primitiva# daquilo que &oje c&amamos na
1umica de 3a%ela dos Elementos. Os *tomos# na 1umica de
&oje# s(o pensados con+orme o modelo atKmico de Niels e
7ut&er+ord. Um elétron gira em torno de um n'cleo atKmico# a
eletricidade positiva e a negativa entram em equil%rio e assim
temos uma molécula est*vel# a temos o &idrog/nio. Se# em ve! de
um elétron# &ouver dois a girar em ór%ita# ent(o j* se trata do
segundo elemento da 3a%ela dos Elementos# e assim por diante
até c&egarmos ao elemento BBM# que só surge em la%oratório. Os
qumicos &oje usualmente n(o se d(o conta# mas eles s(o
descendentes diretos dos +ilóso+os pitagóricos.
 Na mesma lin&a de seus antecessores# sempre +a!endo o jogo dos
opostos# Empédocles é o primeiro que e"pressamente tenta
resolver o pro%lema colocado por Parm/nides e en(o de Eléia.
Ele se d* conta de que o N(o2Ser n(o e"iste e n(o pode nem
mesmo ser pensado. $ceita essa premissa inicial do argumento
dos Eleatas# mas n(o aceita a conclus(o. N(o se pode concluir#
a+irma ele# que o movimento seja impens*vel# seja contraditório e#
 por isso mesmo# seja impossvel e# assim# seja ine"istente. Pelo
contr*rio# o movimento e"iste# só que n(o é a passagem do Ser
 para o N(o2Ser# ou vice2versa# e sim misturas e dissolu-,es de
quatro su%stncias +undamentais# que permanecem eternas e
indestrutveis> a *gua# a terra# o ar e o +ogo. Os elementos %*sicos
n(o s(o de! pares de opostos e sim dois. $s determina-,es das
coisas variam con+orme a composi-(o nelas desses quatro
elementos. $ dosagem de lquido e de sólido# de +ogo e de ar# a
 propor-(o em que esses elementos se misturam é o que d* +orma
e +igura =s coisas.
$na"*goras de ;la!omene tam%ém aceita a premissa de que o
 N(o2Ser n(o pode e"istir e continua pensando o mundo como um
 
 processo de composi-(o e de dissolu-(o de elementos %*sicos.
Em oposi-(o a Empédocles# julga $na"*goras que só dos quatro
elementos n(o é possvel construir a diversidade real das coisas.
Postula# para isso# a e"ist/ncia de sperata# de espermas. $
 própria palavra# que j* em grego signi+ica o espermato!óide
masculino# mostra a tend/ncia %iológica dessa iloso+ia. Os
espermas seriam numericamente in+initos# de in+inita variedade#
cada um divisvel em si mesmo# sem com isso perder sua +or-a
germinadora e determinante. Essa massa inicial de esperma é a
matéria2prima do mundo. $s determina-,es das coisas s(o ent(o
 produ!idas por uma 4ntelig/ncia Ordenadora# o nous# que mistura
os espermas de +orma ordenada. $ +igura do Deus criador aparece
aqui# n(o como uma causa e"terna# mas como uma causa interna#
que# a partir de dentro do caos# +a! com que este se organi!e.
Depois dos espermas de $na"*goras temos# ent(o# os *tomos de
9eucipo e de Demócrito# os primeiros atomistas. Segundo eles#
que tam%ém aceitam o princpio de que o N(o2Ser n(o pode
e"istir# essesprimeiros princpios de todas as coisas# todos eles
qualitativamente iguais# s(o Ta2tomos# isto é# s(o indivisveis.
(oein signi+ica cortar# *tomo é aquilo que n(o é mais divisvel#
o que n(o pode ser cortado por ser um elemento primeiro. Os
*tomos# indi+erenciados uns dos outros# constituem inicialmente
uma massa in+orme. Estes *tomos# incont*veis# se encontram
inicialmente em queda livre. O acaso 8 eis aqui# de novo# o deus
;aos 8 +a! que &aja# nessas lin&as verticais de queda livre#
 pequenos desvios para um lado e para outro. Esses pequenos
desvios tornam a concentra-(o de *tomos mais ou menos densa.
Essas varia-,es de densidade constituem o n'cleo da e"plica-(o
do mundo. ;ada coisa é o que é devido = mudan-a da
concentra-(o de *tomos. Os *tomos e o acaso constituem os dois
elementos que e"plicam a nature!a das coisas. Os *tomos# vamos
reencontr*2los no modelo atKmico da sica moderna. Só que eles
n(o est(o em queda livre e# sim# em movimentos circulares. Os
 
elétrons giram em ór%ita em torno de um n'cleo. $umentando o
n'mero de elétrons em ór%ita# aumenta o peso espec+ico dos
elementos# do &idrog/nio# elemento nV B# até o elemento nV BBM. O
acaso# vamos reencontr*2lo na rela-(o de indeterminidade de
0eisen%erg# na sica# e# principalmente# na muta-(o pelo acaso
da moderna :iologia.
*(* $s Sofistas
TSo+ista é um termo que signi+ica inicialmente o s*%io# s o6'a
signi+ica sa%edoria< da iloso+ia signi+icar etimologicamente
amor = sa%edoria. O termo Tso+ista %em como a palavra
Tso+isma só mais tarde# depois da pol/mica com Plat(o e
$ristóteles# v(o adquirir sentido pejorativo. S(o os so+istas que
 primeiro transplantam o jogo dos opostos de 0er*clito do plano
da iloso+ia da Nature!a para o plano das rela-,es sociais. Os
so+istas se ocupam# n(o tanto da Nature!a# e sim da vida do povo
nas cidades< eles se interessam pelo deos# o povo# e pela polis. 6
a época em que# na Grécia# a vel&a aristocracia entra em lenta#
mas ine"or*vel decad/ncia e em que surge# cada ve! mais +orte# o
 poder do povo. 6 o povo que +a! comércio# que vai de uma cidade
 para outra# que rompe com os estreitos limites do mundo antigo e#
 por intermédio das viagens e dos viajantes# a%re novos &ori!ontes
e inaugura novos valores e novas virtudes. $ polis n(o é mais a
cidade isolada# com sua constitui-(o própria e suas virtudes
tradicionais# ela se desco%re como uma cidade entre muitas
outras. Surge a uma novidade# surge a a necessidade intelectual
e poltica de rediscutir e de rede+inir o que é a virtude# o que é o
:em# o que é o )al. N(o é mais lquido e certo que uma
determinada maneira de agir seja virtuosa apenas por ser oriunda
da tradi-(o. $ +or-a da inércia# que a tradi-(o possui# n(o serve
mais como +onte 'nica de legitima-(o das virtudes. $o surgirem
novos &ori!ontes# surgem novas quest,es so%re o que é :em e o
que é )al. $ virtude tem que ser rediscutida e rede+inida. $+inal#
 
o que é virtude? O que é o certo? O que est* moralmente errado?
Eis as perguntas que os novos tempos colocavam# eis as quest,es
que se impun&am. $s primeiras respostas +oram dadas pelos
so+istas. Os so+istas +oram# em sua época# importantssimos
 pensadores. Prot*goras# Górgias e Pródico +oram &omens de seu
tempo que procuraram pensar criticamente os pro%lemas de seu
tempo.
$ grande caracterstica 8 positiva 8 dos so+istas +oi a ela%ora-(o
ulterior do jogo dos opostos como uma maneira metódica de
 pensar e de agir< surge a# mais e mais ntida# a Dialética. O jogo
dos opostos# transportado para a trama das rela-,es sociais#
signi+ica que cada &omem é apenas um pólo da oposi-(o. Para
entender um pólo# para sa%er o que um pólo em realidade é e o
que ele signi+ica# é preciso sempre pensar esse primeiro pólo em
sua rela-(o de oposi-(o ao segundo pólo. Pois# em se tratando do
 jogo de opostos# cada pólo só pode ser entendido# em si# se e
enquanto +or pensado em rela-(o a seu pólo oposto. ;ada &omem#
em suas rela-,es sociais# é apenas um pólo# uma parte. Para
entender esse primeiro &omem# é preciso v/2lo em sua rela-(o de
oposi-(o para com o outro &omem# que é o seu contr*rio. $
 6'lesis só se entende %em se a pensamos em rela-(o = anti6'lesis<
mais ainda# am%os os pólos contr*rios só podem ser entendidos
correta e plenamente quando conciliados na unidade maior e mais
alta# na 6il'a# na qual am%os est(o superados e guardados. $s
rela-,es &umanas s(o# assim# analisadas = lu! do jogo dos
opostos.
4sso é v*lido especialmente em dois campos das rela-,es
&umanas> no Direito e na Poltica. No Direito# o jogo dos opostos
se encarna como uma das mais antigas e mais importantes regras
de toda e qualquer justi-a> &ea ouvida sepre ta- a outra
 parte# Audiatur et altera pars. O &omem que procura justi-a
diante de um tri%unal é sempre uma parte. Ele é apenas uma 'nica
 parte de um todo maior. 6 preciso sempre# para que possa ser +eita
 
 justi-a# ouvir a outra parte. Esta outra parte# o outro pólo no jogo
dos opostos# nem sempre precisa ter ra!(o. Pode ser que só a
 primeira parte ten&a ra!(o# pode ser que só a outra parte ten&a
ra!(o# pode ser que am%as as partes ten&am alguma ra!(o# ou
seja# que am%as estejam parcialmente certas e parcialmente
erradas. Em todo caso# sempre# para que &aja justi-a# é preciso
ouvir tam%ém a outra parte. $ primeira parte# o primeiro pólo da
oposi-(o# é sempre apenas Tparte no sentido literal# um peda-o
de um todo maior. $ justi-a e"ige que a ra!(o de cada parte seja
medida e avaliada no conte"to maior da posi-(o sintética# isto é#
daquele todo maior e mais no%re dentro do qual cada parte é
apenas um peda-o# um elemento constitutivo de uma unidade
maior. E"atamente isso e somente isso é justi-a. Fusti-a# pois# o
que c&amamos de Direito# é o e"erccio constante e sistem*tico do
 jogo dos opostos. 3am%ém o Direito Penal é< neste uma das partes
é sempre o povo. $té &oje os processos penais nos pases de
tradi-(o anglo2sa"( cont/m a men-(o do Tpovo versus $. Smit&
HTt&e people against $. Smit&I. 6 por isso que até &oje os juristas
+alam da necessidade do Tcontraditório. O termo Tcontraditório
signi+ica aqui o conte"to dialético que nos vem desde a
$ntig5idade# o preceito de ouvir a outra parte# pois justi-a é
sempre o processo de +orma-(o da sntese# jamais a tese ou a
anttese isoladas# uma sem a outra. $ parte# no sistema de Direito#
é sempre parte# um peda-o que e"ige a sua contraparte# o seu
oposto# para que se esta%ele-a justi-a. $té &oje. Os juristas &oje
muitas ve!es n(o se d(o conta disso> eles s(o dialéticos# todos nós
somos dialéticos.
3(o importante quanto no Direito é a +un-(o do jogo dos opostos
na Poltica# especialmente nas assem%léias de cidad(os# que se
constituem em democracia. $ntes que surja a decis(o por
consenso poltico# &* discuss(o e de%ate. Nestes costuma &aver
uma polari!a-(o# =s ve!es uma ruptura. $ opini(o e a vontade de
um grupo de cidad(os divergem da opini(o e da vontade de outro
 
grupo de cidad(os. ormam2se# assim# dois grupos com opini,es e
vontades diversas. $ unidade se que%ra em duas partes# e surgem
a os partidos polticos. O partido poltico só se entende e só se
 justi+ica se e enquanto contraposto a seu partido oposto. $m%os
os grupos precisam de%ater e dialogar# pois a identidade de cada
um deles é determinada pela identidade do outro. $ssim se +a!
Poltica. Pode ser que um grupo ten&a cem por cento de ra!(o e
consiga convencer o outro grupo disso< pode tam%ém ser que cada
grupo ten&a ra!(o apenas parcialmente e que# &avendo concess,es
de parte a parte# se +orme a vontade geral. $ vontade geral é a
aquela unidade mais alta e mais no%re# a posi-(o sintética# na qual
e somente na qual os partidos# que s(o apenas peda-os# adquirem
sentido e t/m justi+ica-(o. Por outro lado# v/2se# de imediato# que
Poltica só e"iste quando &* dois partidos. Em Poltica# partido
'nico é um mostrengo< isso vale tanto para os regimes despóticos
dos antigos gregos como para os totalitarismos do século @@.
)ais uma ve! temos aqui o vel&o jogo dos opostos. Osso+istas
n(o +oram os inventores do Direito e da Poltica# por certo# mas
+oram os primeiros +ilóso+os# em nossa cultura# que pensaram
teoricamente o jogo dos opostos como elemento constitutivo e
essencial das rela-,es sociais. Esse mérito tem que l&es ser dado.
 Nisso eles acertaram.
ora disso# cometeram alguns erros graves e +i!eram %o%agens
que a 0istória até &oje n(o l&es perdoa. $té &oje os so+istas t/m
m* +ama# e a palavra Tso+isma tem conota-(o altamente
negativa. 4sso porque cometeram um grande erro teórico# que &oje
 podemos temati!ar com precis(o> em ve! de di!er que tanto a tese
como a anttese s(o +alsas e que a sntese e só a sntese é a
verdade inteira# os so+istas algumas ve!es inverteram os sinais e
disseram que tanto tese como anttese s(o# por igual# verdadeiras.
Esquemati!emos. $ dialética verdadeira e correta a+irma que cada
 parte é apenas parte# ou seja# que tanto tese como anttese s(o
+alsas porque parciais. Os so+istas =s ve!es di!em> tanto tese
 
quanto anttese s(o# por igual# verdadeiras. $s conseq5/ncias
desse erro lógico s(o incrveis e politicamente pesadssimas. Pois#
se tanto tese como anttese s(o verdadeiras# pode2se de+ender
tanto uma como outra. Os so+istas# agora no mau sentido da
 palavra# passaram ent(o a de+ender tanto uma parte como outra#
como se am%as tivessem ra!(o. Fusti-a ent(o dei"a de e"istir. O
senso do direito e do correto vai para o ar# e instala2se a
mentalidade so+stica de que qualquer posi-(o é %oa# desde que se
 possua desenvoltura ver%al para argumentar. Os so+istas# no mau
sentido# de+endem qualquer pessoa# qualquer parte# qualquer
 partido como se +osse# ele so!in&o# a verdade total. E agora ainda
 pior> os so+istas o +a!em porque s(o pagos para isso# porque
e"igem e rece%em pagamento. O pagamento em din&eiro# e"igido
e aceito para que um partido# uma parte# seja apresentado como se
+osse o todo# eis o grande erro e a grande culpa dos so+istas.
Sócrates# Plat(o# $ristóteles# ninguém jamais os perdoou. ;om
ra!(o. Depois de resgatar e reinventar a dialética# dela se a+astam.
Esqueceram que parte é sempre e somente parte# parte essa que só
com a contraparte correspondente +orma um todo maior. O jogo
dos opostos# quando desvirtuado e invertido# de ótimo que era
trans+orma2se em péssimo.
*( S0crates7 o 8ltimo dos sofistas
Sócrates é# muitas ve!es# c&amado de 'ltimo dos so+istas. Est*
certo# se entendemos o termo Tso+ista em sua conota-(o positiva.
Sócrates +oi o grande pensador da Dialética# o grande de+ensor#
nos assuntos morais e polticos# do jogo de opostos que se
completam e se unem para constituir um todo maior. Sócrates é a
grande vo! que# em $tenas# se levanta para criticar o
desvirtuamento que os so+istas +i!eram com a Dialética. N(o é
 possvel de+ender tanto a tese como tam%ém a anttese# como se
am%as +ossem verdadeiras. N(o é isso# é e"atamente o contr*rio.
$m%as as posi-,es s(o +alsas. Aerdadeira é apenas a sntese que
 
de am%as se engendra. $ virtude# pois# n(o consiste em de+ender
uma tese 8 ou uma anttese 8# como se esta +osse a verdade toda
inteira# e sim# pelo contr*rio# em desmascarar tanto tese como
anttese como sendo erradas# isto é 8 o que é o mesmo 8# como
sendo apenas elementos parciais de um todo maior. Só o todo
maior# só a sntese é que é verdadeira. Os so+istas argumentavam#
=s ve!es# a +avor da tese< =s ve!es# a +avor da anttese. Em muitos
casos concretos# na vida poltica# o mesmo so+ista# pago por um
grupo# argumentava primeiro a +avor da verdade da tese# e depois#
 pago pelo outro grupo# a +avor da verdade da anttese. E# em
seguida# com o din&eiro em%olsado# ia em%ora# dei"ando os
cidad(os entregues = perple"idade e = contradi-(o.
6 contra isso que se levanta a vo! de Sócrates. O jogo dos opostos
tem que ser reali!ado corretamente. $ parte é somente parte# ela
n(o é o todo. Ou seja# é preciso argumentar primeiro mostrando a
+alsidade# isto é# a parcialidade da tese# depois mostrando a
+alsidade da anttese# que tam%ém é parcial# para que ent(o possa
surgir# na concilia-(o de am%as# a verdade do todo maior e mais
alto.
Sócrates é um pensador da )oral e da Poltica. ;omo os so+istas#
ele se ocupa do jogo dos opostos nas rela-,es sociais# mas# em
oposi-(o aos so+istas# ele resta%elece a +orma e a estrutura correta
do jogo de opostos. N(o é verdade que tanto tese como anttese
sejam verdadeiras< o certo é que geralmente am%as s(o parciais e
 por isso +alsas. 6 por isso que se deve sempre ouvir tam%ém a
outra parte. Só assim se desco%re e se engendra a verdade. Sa%er
ouvir a outra parte signi+ica# na vida pr*tica# esta%elecer um
di*logo# di*logo de pessoa com pessoa. 4sso# di! Sócrates# é +a!er
Poltica numa cidade de cidad(os racionais e livres. )ais ainda#
só assim se adquire con&ecimento verdadeiro e se desco%re qual
das antigas virtudes n(o é apenas tradi-(o %o%a e sim atitude
moralmente correta# ou seja# virtude moral. iloso+ar para
Sócrates é sa%er enta%ular di*logos.
 
Para Sócrates# a virtude# sempre +ruto do jogo entre tese e
anttese# se encontra apenas através do di*logo real que se +a! nas
esquinas e na pra-a p'%lica. Sócrates ouve# Sócrates pergunta#
Sócrates responde. Sócrates perscruta a vo! interior da
consci/ncia# que ele# personi+icando2a# c&ama de daion# o %om
demKnio# o %om esprito. Sócrates n(o escreve. N(o temos dele
nem um 'nico escrito. Pois# se o importante é dialogar
concretamente# di*logo de pessoa com pessoa# para que escrever?
1uando Plat(o# discpulo e seguidor de Sócrates# ensina e escreve
na $cademia# continua valendo a regra de que a +orma liter*ria de
tratar de assuntos +ilosó+icos# mesmo quando se escreve# é sempre
o di*logo. Da os Di*logos de Plat(o.
Sócrates# o &omem do di*logo ético e poltico# +oi# como
sa%emos# condenado = morte por seus concidad(os. Ele teria# com
seus di*logos# cometido grave crime contra os deuses da cidade
de $tenas e atentado contra os %ons costumes# pervertendo a
 juventude. O grande pensador do TSei que n(o sei nada# o grande
mestre do di*logo na 6tica e na Poltica# morre dialogando. O
di*logo T$ $pologia de Sócrates# em que Plat(o relata os
acontecimentos e as idéias que cercam a condena-(o e a morte de
Sócrates# constitui2se numa das o%ras2primas de nossa civili!a-(o.
 $ I&$ D2 C29E!62
(% Platão e o :o)o dos opostos
 No jogo dos opostos# mesmo quando o esquema lógico é
transposto para o plano das rela-,es sociais# podem acontecer tr/s
coisas. Primeiro# pode ser que o primeiro pólo seja verdadeiro< a
o segundo pólo é +also e tem que ser a%andonado. Segundo# pode
ser que o segundo pólo seja o verdadeiro# e a é o primeiro que
tem que ser a%andonado. )as pode ser tam%ém que am%os os
 pólos sejam +alsos# e a &* que se desco%rir# de parte a parte# as
verdades apenas parciais contidas nos pólos opostos# para#
 
unindo2as e conciliando2as# engendrar a unidade verdadeira de
uma sntese mais alta. 8 N(o ocorre nunca# pois é logicamente
impossvel que am%os os pólos sejam verdadeiros# que tanto a
tese como a anttese sejam verdadeiras. Este é o erro lógico em
que os so+istas incorreram# este o +undamento lógico2sistem*tico
dos erros morais e polticos que cometeram.
O jogo dos opostos em Plat(o é levado = per+ei-(o. Per+eito é
aquilo que é +eito até o +im# aquilo que +ica completo e aca%ado#
em que nada +alta e nada est* so%rando. Per+ei-(o é aquilo para o
que Plat(o nos aponta# quando +a! iloso+ia. Nunca antes dele#
nunca depois# o &omem apontou para t(o alto. 8 ;omo assim?
 N(o é e"atamente o contr*rio? Pois todo o mundo sa%e que Plat(o
é um +ilóso+o de apor'as# isto é# de %ecos sem sada. Plat(o# em
seus di*logos# es%o-a a tese# traceja a anttese# mas sntese que
seja %oa ele quase nunca ela%ora. ;omo ent(o c&amar Plat(o de
 pensador sintético# que leva o jogo dos opostos = per+ei-(o# se ele
nunca# ou quase nunca# aponta para a sntese? Sem sntese a
Dialética se desarticula# e tese e anttese +icam uma contra a outra#
am%as negativas e cientes de sua +alsidade# sem que jamais se
c&egue a uma conclus(o. 4ssoj* sa%emos e j* vimos através do
erro cometido pelos so+istas. E n(o é verdade que os di*logos de
Plat(o s(o quase sempre aporéticos# sem sntese +inal? 6 pura
verdade.
0* em Plat(o duas doutrinas que se complementam e se
completam. $ doutrina e"otérica e a doutrina esotérica. $
doutrina e"otérica 8 o pre+i"o Te" est* a indicar 8 destina2se ao
uso das pessoas de +ora# ela é +eita e e"plicada para os
 principiantes e para os que# vindos de +ora# sem os pressupostos
necess*rios# ainda n(o est(o em condi-,es de entender o n'cleo
duro da doutrina. $ doutrina e"otérica é mais +*cil# é mais
did*tica# é mais introdutória. Nela o jogo dos opostos realmente
+ica quase sempre em a%erto# sem uma sntese +inal. Plat(o a
levanta uma tese< ele a discute# de%ate# e"amina por v*rios lados
 
e# +inalmente# a re+uta. $ tese é sempre demonstrada como +alsa.
Ent(o é levantada a anttese# que tam%ém é e"aminada e de%atida#
sendo# no +im# invariavelmente re+utada. icamos# ent(o# com
uma tese +alsa e uma anttese igualmente +alsa# am%as
imprest*veis# nas m(os. 4sso é a apor'a# isso é o %eco sem sada.
Os di*logos de Plat(o# quase todos 8 e"cetuam2se alguns di*logos
da vel&ice 8 s(o aporéticos# isto é# desem%ocam num %eco sem
sada. $ Dialética# o jogo dos opostos# a n(o é levada a termo.
alta sempre a sntese# como# ali*s# entre os contemporneos da
Escola de ranW+urt> a Dialética a é uma dialética negativa# uma
dialética sem sntese. )as isso# diremos# n(o é %oa dialética.
;erto. E Plat(o# discpulo do +ilóso+o &eraclitiano ;r*tilo# %em
como de Sócrates# sa%ia muito %em disso. ;omo sa%ia tam%ém
que a Dialética n(o se +a! por um passe de m*gica# num instante#
com um piscar de ol&os# e sim num longo# sério# tra%al&oso#
muitas ve!es doloroso processo de supera-(o das contradi-,es
e"istentes entre tese e anttese. Dialética é educa-(o e# como esta#
se reali!a num processo lento de aprendi!ado e de matura-(o. $
crian-a n(o se +a! &omem num dia# a *rvore n(o cresce numa
semana# assim tam%ém a Dialética requer tempo# es+or-o e
tra%al&o. Os opostos t/m que ser tra%al&ados seriamente< se n(o o
+orem# a sntese ser* c&oc&a e va!ia. 6 por isso que# para os
 principiantes e para os de +ora# a Dialética n(o é e"posta e
e"plicada de imediato em sua completude# ela aparece so% a
+orma de doutrina e"otérica. Na doutrina e"otérica# os contr*rios
s(o levantados# em toda a sua seriedade# um re+utando o seu
oposto# mas# no +inal# Plat(o dei"a seus ouvintes e seus leitores
em suspenso. 7ealmente n(o &* a sntese e"pressamente
+ormulada# dita ou escrita# é preciso que o próprio leitor# so!in&o#
 procure acertar as pe-as do que%ra2ca%e-a# é preciso que ele
mesmo tente e e"perimente juntar as pe-as# assumindo o risco
intelectual da tare+a. 6 preciso que essa massa meio in+orme de
oposi-,es contr*rias sem sntese# de opostos sem concilia-(o#
 
+ique um %om tempo +ermentando para que# ent(o# da surjam as
grandes idéias sintéticas. Essas grandes snteses# quando %rotam e
emergem# constituem ent(o a doutrina esotérica# a doutrina que os
iniciados discutem entre eles# a doutrina que os principiantes n(o
conseguem captar nem entender. Pois as snteses +inais s(o t(o
simples e t(o luminosas# que quem as %usca diretamente# sem
antes passar pelo longo processo de matura-(o dos pólos opostos#
+ica o+uscado e n(o en"erga mais nada. 6 como o ol&o a ol&ar
diretamente para o sol. O iniciante# se ol&ar direto para as grandes
snteses da doutrina esotérica# +ica t(o o+uscado# que pensa n(o
estar vendo a%solutamente nada. Por isso é que o tra%al&o penoso
de jogar com os contr*rios tem que ser reali!ado previamente.
6 por isso que a doutrina de Plat(o# para o iniciante# parece ser
um sistema de iloso+ia dualista# um jogo de opostos em que os
opostos nunca se uni+icam. 1uem só ouve e só estuda a doutrina
e"otérica# sem jamais c&egar = sntese +inal da doutrina esotérica#
+ica pensando que Plat(o considera o mundo das idéias e o mundo
das coisas como duas es+eras de ser e"istentes uma ao lado da
outra# uma +ora da outra# uma em oposi-(o = outra. O mundo das
coisas e o mundo das idéias s(o# a# dois pólos opostos# um contra
o outro# sem que entre am%os &aja 8 = primeira vista 8 verdadeira
concilia-(o. 0* em Plat(o per+eita concilia-(o# só que ela só vai
aparecer# com clare!a e plenitude# na doutrina esotérica# na assim
c&amada Doutrina N(o2Escrita. $ doutrina e"otérica é# assim#
uma iloso+ia estritamente dualista# em que os pólos opostos
nunca se conciliam plenamente. )undo material# por um lado# e
mundo espiritual das idéias# por outro# se op,em como pólos
contr*rios e e"cludentes. )atéria e esprito a jamais se uni+icam
na devida &armonia. O esprito se op,e = matéria# as idéias se
op,em =s coisas. O dualismo duro# os opostos sem concilia-(o
sintética# a Dialética sem sntese# eis o ei"o intelectual da doutrina
e"otérica.
 
)uitos autores# quando +alam de Plat(o# só estudam e só
mencionam essa doutrina e"otérica. Esta é apenas uma primeira
apro"ima-(o na escalada que leva ao sa%er +ilosó+ico# mas muitas
ve!es é tomada 8 erroneamente 8 como sendo a iloso+ia de
Plat(o. Plat(o é violentamente desvirtuado. $o invés de ser
compreendido como o pensador da Grande Sntese# ele é pensado
como um novo so+ista que pega os pólos opostos sem os uni+icar
e sem os conciliar# dei"ando2os como dois princpios opostos#
con+litantes# irredutveis. 4sso desde a $ntig5idade se c&ama
tra%al&ar por dicotoias. ;ortar em dois# construir os pólos
opostos# ati-ar um contra o outro# dei"ar um destruir o outro# ou
mel&or# dei"ar que am%os os pólos girem um em torno do outro#
como dois guerreiros em luta mortal# eis a Dialética sem sntese.
O Plat(o de verdade é um pensador da Grande Sntese# da
Dialética em seu sentido pleno de uni+ica-(o e de concilia-(o dos
opostos. )as o Plat(o que geralmente se estuda nos livros e 8
muito grave isso 8 o Plat(o de parte grande da tradi-(o acad/mica
é apenas o Plat(o da doutrina e"otérica# o Plat(o dos opostos sem
sntese# o Plat(o dualista. E isso é# ent(o# um desastre intelectual#
 pois vai gerar dicotomias em que os pólos opostos jamais s(o
reuni+icados. Pólos opostos# numa Dialética plena e levada = sua
devida sntese# s(o ótimos# pois s(o momentos que apontam e
condu!em para mais adiante. Numa Dialética negativa# sem
sntese# os pólos dicotKmicos tornam2se pro%lemas sem solu-(o.
9amentavelmente# em nossa tradi-(o +ilosó+ica# isso ocorreu
muitas ve!es. O mundo das coisas e o mundo das idéias# matéria e
esprito# a grande oposi-(o de dois pólos que deveriam ser
uni+icados e conciliados# trans+ormam2se num pro%lema
dicotKmico sem solu-(o# que passam pelos +ilóso+os posteriores e
entram em nossa cultura e em nossa educa-(o# dei"ando um rastro
de erros teóricos e de graves de+orma-,es éticas. Pensemos na
idéia errada 8 atri%uda a Plat(o 8 que entrou em nossa tradi-(o
crist( de que o esprito é %om# a carne# porém# e principalmente o
 
se"o# um mal moral. $ doutrina agostiniana# que depois é
assimilada pela esmagadora maioria dos pensadores crist(os e que
vem até nosso século# di! que a concupisc/ncia# o desejo se"ual# o
que &oje c&amaramos de tes(o# é um mal em si# que nisso
consiste o próprio pecado srcinal. E# sendo pecado# é sempre
algo moralmente negativo# algo que é uma culpa# algo de que
devemos nos envergon&ar. Eis aqui# num e"emplo %em concreto#
como um mal2entendido aparentemente pequeno no come-o leva
a erros de grande gravidade no +im. 1uando a Doutrina E"otérica
é tomada como se +osse a Doutrina Esotérica# quando a Dialética
negativa é tomada como se +osse a legtima Dialética# a Dialética
da Grande Sntese# a ocorrem desastres intelectuais e culturais de
grandes dimens,es. O desejo se"ual# ent(o# vira pecado# o corpo é
re%ai"ado# o &omem perde a unidade sintética# que é de corpo e
alma# para trans+ormar2se num ser completamente ridculo. O
&omem nessa dialética sem sntese vira uma caricatura# vira um
anjo a cavalgar um porco. 6 nisso que d* quando n(o se +a! a
sntese devida.
6 por isso que devemosestudar com aten-(o esse primeiro
 %inKmio da +iloso+ia platKnica# o mundo das idéias e o mundo das
coisas# e"aminando2o cuidadosamente pelos dois lados. Primeiro
como dois pólos opostos que aparentemente se e"cluem# depois
como dois elementos que se uni+icam# se +undem e assim se
trans+ormam numa unidade mais no%re e mais alta. Nós &omens
n(o somos anjos montados em porcos nem centauros# e sim
&omens# uma unidade sintética# dentro da qual os pólos
 primeiramente opostos# corpo e alma# desaparecem enquanto
opostos e se trans+ormam em uma nova# per+eita e aca%ada
realidade.
(* $ mundo das idéias e o mundo das coisas
Os so+istas argumentavam a +avor dos dois pólos# de+endendo
indistintamente tanto um como o outro# muitas ve!es
 
argumentando a +avor dos dois> arguentari in utraue parte.
Sócrates# o 'ltimo dos so+istas# nos ensina que assim n(o d*> dois
 pólos contr*rios n(o podem ser simultaneamente verdadeiros.
Sócrates nos ensina a perguntar e a encontrar as respostas# a
desco%rir a sntese entre tese e anttese. Essa sntese n(o consiste
na +or-a do mais +orte# como di!ia o so+ista Górgias# e sim na
virtude. O que é virtude? Sócrates di!ia que n(o sa%ia e mandava
dialogar.
Este ainda é o tema central e o grande pro%lema de Plat(o. $+inal#
o que é virtude? Se n(o é a +or-a %ruta do pólo mais +orte que
decide tudo# ent(o em que consiste a virtude? $ resposta a esta
quest(o é o come-o de toda a +iloso+ia de Plat(o> virtude é aquilo
que deve ser. O mundo que de +ato e"iste# como ele est* a +rente
a nossos ol&os# nem sempre coincide com aquilo que deve ser. O
Dever2Ser é o ideal a ser atingido# o Dever2Ser é a idéia. Nasce
assim a idéia platKnica. $ condena-(o 8 injusta 8 e a morte de
Sócrates mostraram com clare!a a Plat(o que o )undo21ue2De2
ato26 nem sempre coincide com o )undo24deal21ue2Deve2Ser.
Os so+istas pensavam que a virtude# o Dever2Ser# era algo
+lutuante# algo relativo# algo que variava de situa-(o para
situa-(o# e que n(o &avia princpios v*lidos para todos os casos.
Plat(o n(o aceita um tal relativismo. 0* princpios éticos que
valem sempre e para todos# e estes princpios s(o universalmente
v*lidos porque eles# antes mesmo de serem adotados pelos
&omens em suas comunidades polticas# s(o princpios gerais da
ordem do mundo. O universo é um cosmos< 7%sos signi+ica
aquilo que é ordenado. Plat(o ela%ora uma +iloso+ia pr*tica# a
6tica e a Poltica# %aseando2se em princpios que o &omem tem
que adotar porque s(o princpios de ordem de todo o universo
cósmico. $ 6tica de Plat(o se %aseia numa Ontologia# numa
doutrina so%re o ser em geral# numa doutrina so%re a ordem do
Universo.
 
;omo podemos sa%er que uma determinada regra n(o é apenas
uma inven-(o de algum governante tirnico ou# n(o t(o mau
assim# uma mera conven-(o construda pelos &omens?
;onven-,es# mesmo quando %oas e 'teis# s(o contingentes# isto é#
 podem ser assim# mas podem ser di+erentes. ;omo sa%er que uma
determinada regra ou determinado princpio é# mais do que uma
mera conven-(o# uma regra inquestion*vel# uma regra que n(o
 pode ser negada# que n(o pode ser mudada ou trans+ormada# que é
assim e tem que ser assim# agora e para todo o sempre# em todos
os lugares do mundo?
6 possvel encontrar e tra!er = lu! tais princpios +undamentais da
ordem do Universo? Plat(o sorri e mostra que sim. No Di*logo
)enon# um escravo anal+a%eto é tra!ido = presen-a de Sócrates#
que discutia com amigos so%re a e"ist/ncia ou n(o2e"ist/ncia de
 princpios gerais do ser do Universo e de todo con&ecer. $lguns
duvidavam de que se pudesse desco%rir e ela%orar tais princpios.
$+inal# onde estariam inscritos tais princpios? Onde# em que
livro# em que monumento estariam eles escritos? Sócrates# sempre
o personagem central de Plat(o# responde> Os primeiros princpios
est(o inscritos no mago do ser e por isso tam%ém no mago de
nossa alma. 1uerem ver? Esse escravo nunca estudou nada# n(o
sa%e ler# n(o sa%e escrever e nunca estudou Geometria. Se ele
nunca estudou Geometria# n(o con&ece o teorema de Pit*goras.
Pois %em# vou dialogar com ele# vou +a!er perguntas 8 só
 perguntas 8 e dei"ar que responda. E Sócrates come-a# ent(o# a
 perguntar# docemente# desen&ando na areia do c&(o e +ormando as
+iguras. TE se tra-o esta lin&a aqui# o que ocorre? E se ali tra-o
mais esta outra? E assim# passo a passo# Sócrates sempre só
 perguntando# o escravo vai avan-ando# vai desco%rindo os ne"os e
consegue +ormular o grande teorema da Geometria. ;omo é que o
escravo conseguiu? ;omo é que ele sa%e? Plat(o responde> Ele j*
sa%ia# desde sempre ele j* sa%ia# ele precisava somente recordar o
que j* sa%ia e tin&a apenas esquecido. Esse con&ecimento estava
 
inato# estava dentro da alma do escravo. E estava l* dentro porque
é um princpio que est* dentro de cada ser# de cada coisa# porque
é um princpio da própria ordem do Universo. Esses princpios de
ordem do Universo# nsitos em cada coisa# s(o universalmente
v*lidos e est(o sempre presentes. Eles organi!am o Universo de
dentro para +ora# s(o eles que +a!em com que as coisas do mundo
n(o sejam uma massa desordenada e caótica de eventos# e sim um
Universo cósmico# ou seja# %em ordenado.
$ 4déia# di! Plat(o# que pela ontologia da participa-(o e"iste no
mago de cada coisa# é o princpio de ordem que a determina e
que comanda seu desenvolvimento. No ovo de um pato &* um tal
 princpio de ordem# que +a! com que daquele ovo se desenvolvam
sempre patos. Do ovo de galin&a sai sempre galin&a. E assim com
todas as coisas. Esse princpio +ormador de cada coisa Plat(o
c&ama de T+orma. $ orma determina o que a coisa é e como ela
vai desenvolver2se.
Os muitos patos que e"istem t/m# todos eles# a mesma +orma de
ser pato. $s muitas galin&as possuem todas a +orma galin*cea.
Uma 'nica +orma# um 'nico desen&o %*sico que é reali!ado em
diversos indivduos. $ orma é como que o desen&o +eito pelo
 projetista< uma coisa é o projeto de um motor# o desen&o %*sico#
outra coisa s(o os mil&ares de motores individuais que s(o +eitos
de acordo com o projeto. 3emos a# de um lado# a pluralidade dos
indivduos que e"istem no mundo das coisas e# de outro lado# a
unidade da orma.
;ada coisa tem sua +orma determinada e espec+ica. Pato é pato#
galin&a é galin&a e &omem é &omem. Surge ent(o a pergunta>
onde est(o as ormas? Onde e"istem as ormas? Onde podemos
v/2las? Se as ormas s(o t(o importantes# se elas s(o as +or-as
+ormadoras do mundo# onde encontr*2las? ;omo con&ec/2las?
;omo sa%er que o que estou con&ecendo é uma verdadeira orma
e n(o uma ilus(o? Plat(o responde aqui# na doutrina e"otérica
 para principiantes# com um )ito.
 
( $ ito da Estrela
$s ormas e"istem desde sempre# pois s(o elas as +or-as
ordenadoras da ordem do cosmos. $ntes do cosmos e"istir#
 portanto# elas j* e"istem e valem. 6 por isso tam%ém que possuem
valide! universal. $s coisas ordenadas do universo cósmico v/m
depois. Primeiro# antes de e"istirem as coisas# antes que as coisas
de nosso mundo ten&am come-ado a e"istir# j* e"istiam as
ormas. Este nosso cosmos n(o é regido e determinado por elas?
9ogo# elas e"istem j* antes. Elas +ormam um mundo inteiro que
consiste só de +ormas. Este mundo Plat(o c&ama de )undo das
4déias e o locali!a numa estrela +ictcia. Nesse )undo das 4déias#
que e"iste desde sempre na Estrela# separado do )undo das
;oisas# e"istem tam%ém as almas individuais de todos os &omens
que v(o nascer. $s almas v/em as 4déias +ace a +ace e sa%em#
 portanto# as determina-,es espec+icas de cada coisa# elas sa%em
tudo de tudo. 1uando aqui no )undo das ;oisas nasce o &omem#
a alma dele# que j* e"istia desde sempre na Estrela# no )undo das
4déias# é jogada no c*rcere do corpo. Esse violento deslocamento
+a! que a alma se esque-a de tudo ou de quase tudo que ela &avia
visto na Estrela. )as quando o &omem se desenvolve e cresce# ao
encontrar2se com as coisas do mundo# ao es%arrar nelas# ele se
lem%ra da 4déia que viu na Estrela durante a pree"ist/ncia de sua
alma e# relem%rando# con&ece. ;on&ecer é sempre uma
relem%ran-a# umaanánesis# con&ecer é lem%rar2se da 4déia
Universal de uma coisa e a# diante da coisa individual# di!er>
$&a# isto é um &omem# isto est* reali!ando a +orma de &omem#
aquilo é um pato# naquilo est* se concreti!ando a +orma do pato.
4sso e"plica por que as idéias s(o sempre universais# em%ora as
coisas sejam sempre individuais. $s idéias s(o de outro mundo. E
nossa linguagem# coisa estran&ssima# di! o individual sempre de
maneira universal. Porque os nomes# na linguagem# representam
+ormas e as +ormas s(o sempre universais. Em%ora estejamos
 
vivendo neste mundo de coisas individuais# nossa linguagem# o
logos# possui car*ter de idéia universal.
3emos a uma %elssima e"plica-(o do mundo. $s coisas do
mundo s(o aquilo que s(o# s(o determinadas assim e n(o de outra
maneira# porque elas participam da orma srcinal que e"iste na
Estrela# no )undo das 4déias. Esta é a Ontologia de Participa-(o.
;omo o motor individual participa do projeto desen&ado de motor
ideal# assim as coisas participam de uma determinada idéia e por
isso s(o assim como s(o. Em cima dessa Ontologia# isto é# dessa
Doutrina do Ser# Plat(o +undamenta# ent(o# sua 3eoria do
;on&ecimento. ;on&ecer é o ato pelo qual a alma agora relem%ra
aquilo que j* tin&a visto antes# durante a pree"ist/ncia na Estrela#
no )undo das 4déias. O con&ecimento é correto# e a ci/ncia é
universalmente v*lida# di! Plat(o# porque se apóia em 4déias que
s(o as ormas do Universo.
)as como é que eu sei# quando es%arro numa coisa# que estou de
+ato relem%rando a orma dela? N(o e"istem erros? 4lus,es? 6
claro que e"istem. 6 por isso que o +ilóso+o tem que dialogar#
discutir# questionar e e"aminar cada quest(o# para ter certe!a de
que encontrou e"atamente a 4déia da coisa. N(o menos e tam%ém
n(o mais. E Plat(o a# sempre no )ito para Principiantes# em sua
Doutrina E"otérica# pergunta> E"iste uma 4déia para cada coisa? 6
certo que e"ista a 4déia de 0omem# di! ele no Di*logo O &o6ista#
e tam%ém a 4déia do :em# da Fusti-a. )as ser* que precisa &aver
uma 4déia do 9odo? 9odo# uma coisa t(o simples e t(o %ai"a#
 precisa ter uma idéia que l&e seja própria? Plat(o dei"a a pergunta
no ar. $+inal# tais perguntas n(o podem ser respondidas no m%ito
do )ito da Estrela. 3ais quest,es só podem ser tra%al&adas
satis+atoriamente na Doutrina Esotérica com aqueles que j* sa%em
mais do que apenas os primeiros princpios.
(1 $ ito da Ca;erna
 
Encontramos no sétimo 9ivro da 7ep'%lica o mais importante e o
mais con&ecido )ito de Plat(o> o )ito da ;averna. Em nen&uma
outra imagem a doutrina de Plat(o é t(o %em representada.
4maginemos &omens que moram em uma caverna. Desde o
nascimento eles est(o presos l* dentro# acorrentados pelos pés e
 pelo pesco-o# de maneira que os ol&os est(o sempre voltados para
o +undo da caverna. Eles só conseguem en"ergar essa parede no
+undo. $tr*s dos prisioneiros amarrados# =s costas deles# na
entrada da caverna# &* um muro da altura apro"imada de um
&omem. $tr*s desse muro andam &omens# para l* e para c*#
carregando so%re os om%ros +iguras que se erguem acima do
muro. )ais atr*s ainda# %em na entrada da caverna# &* uma
grande +ogueira. $ +ogueira d* lu!# a lu! ilumina a cena e projeta
as som%ras das +iguras por so%re o muro até a parede no +im da
caverna. Os prisioneiros v/em apenas as som%ras projetadas pelas
+iguras. Ouvem tam%ém ecos de vo!es 8 dos &omens que
carregam as +iguras atr*s do muro 8 e pensam que esses ecos s(o
as vo!es das próprias +iguras. O que os prisioneiros v/em é
apenas esse jogo de som%ras e de ecos. Eles est(o acorrentados ali
desde a nascen-a e pensam que o mundo é isso e t(o2somente
isso. O mundo é isso mesmo# di!em# e apenas isso.
4maginemos agora que um dos prisioneiros consiga li%ertar2se de
suas amarras. Aoltando2se para a entrada# ele de imediato v/ o
muro e perce%e que as som%ras projetadas no +undo da caverna
s(o apenas isso# a sa%er# som%ras. Perce%e tam%ém que as +iguras
s(o apenas +iguras. Ele pula o muro e sai< a v/ os &omens que
carregam as +iguras# ouve suas vo!es# v/ a +ogueira# v/ a entrada
da caverna e# l* +ora# v/ a lu!. 1uando sai da caverna e tenta ol&ar
 para o sol# +ica o+uscado. Ele desce o ol&ar# %ai"a a ca%e-a#
recomp,e2se. 1uando esse &omem volta = caverna# para li%ertar
seus compan&eiros# ele sa%e. Sa%e que as som%ras s(o apenas
som%ras. Ele sa%e que s(o# n(o apenas som%ras# mas som%ras de
meros simulacros. $ realidade realmente real é a realidade da lu!
 
e do sol# a realidade das coisas mesmas = lu! do sol. 3odo o resto
s(o som%ras e ilus,es. O &omem# quando se li%erta das amarras
que o mant/m preso# se desco%re livre e vidente# ele v/ ent(o a
realidade que é realmente real# a luminosa realidade das 4déias.
Ele nunca mais con+undir* a realidade com a som%ra do
simulacro da realidade. 1uem viu a lu! sa%e.
$ temos Plat(o de corpo inteiro. $ temos toda uma Ontologia da
Participa-(o# uma 3eoria do ;on&ecimento# uma 6tica# uma
Pedagogia# uma Poltica. )as a temos principalmente# e sempre
de novo# o )ito que coloca os dois pólos opostos em sua
contraposi-(o# um +ortemente contra o outro# sem nos condu!ir a
uma posi-(o verdadeiramente sintética. $+inal# onde est* a
concilia-(o uni+icadora entre o )undo das 4déias e o )undo das
;oisas? Entre orma universal e ;oisa individual? Entre orma
necess*ria e ;oisa contingente? Plat(o n(o nos d* resposta nos
)itos da Doutrina Esotérica. alta sempre a sntese. Esta só ser*
apresentada e discutida# quando os principiantes tiverem
amadurecido intelectualmente# quando os principiantes dei"arem
de ser principiantes e trans+ormarem2se em iniciados. Para os
iniciados# para estes sim# &* resposta. Plat(o pensava que essa
doutrina# por ser t(o importante e t(o di+cil# n(o podia ser escrita.
Da e"istir o di*logo 8 jamais escrito pelo próprio Plat(o# mas
cuja e"ist/ncia est* muito %em documentada 8 &ore o e* em
que é e"posta a Doutrina Esotérica.
$ntes# porém# de voltarmo2nos para a Doutrina N(o2Escrita de
Plat(o# vejamos# para poder +a!er o devido contraste# a concep-(o
do mundo de $ristóteles. $ristóteles +oi por muitos anos discpulo
de Plat(o# e# no entanto# ninguém criticou Plat(o t(o duramente#
ninguém ela%orou um projeto +ilosó+ico t(o di+erente# ninguém é
t(o pouco platKnico como ele. Depois de temati!ar a iloso+ia de
$ristóteles# voltaremos# ent(o# = Doutrina Esotérica de Plat(o# =
doutrina para os iniciados.
 
1 2 26#LISE D$ U6D$
1(% Passa)em da Dialética para a 2nal.tica
$té $ristóteles toda a iloso+ia tra%al&a com o jogo dos opostos.
Os diversos pares de opostos s(o os elementos a partir dos quais
se constroem as coisas. Plat(o# no di*logo O &o6ista* di! que a
Dialética é o próprio método da iloso+ia. 1uem aprendeu a
Dialética e sa%e +a!er o jogo dos opostos# pensa Plat(o# sa%e
compor o grande mosaico do sentido da vida# sa%e +a!er a
e"plica-(o do mundo# possui a Grande Sntese. $ristóteles# ao
tra-ar para seus alunos e leitores um panorama sinóptico da
0istória da iloso+ia desde os +ilóso+os pré2socr*ticos até o dia
dele# menciona sempre o jogo dos opostos como n'cleo metódico
em torno do qual se estruturam as diversas opini,es. Ele mesmo#
 porém# a%andona o jogo dos opostos e envereda por um camin&o
totalmente di+erente> a $naltica. $ $naltica# desco%erta e
largamente ela%orada por $ristóteles# vai constituir2se num
método e numa vis(o do mundo que in+luenciar(o de +orma
decisiva nosso pensamento ocidental.
3udo o que pensamos e que somos vem de duas vertentes> a
Dialética e a $naltica. De 0er*clito e Plat(o temos a vertente da
Dialética. De Parm/nides e $ristóteles temos a $naltica. $m%as
as correntes perpassam toda a 0istória da iloso+ia e toda a nossa
cultura e nos acompan&am até &oje. O projeto platKnico passa# de
m(o em m(o# por Plotino# Proclo e# em parte# por Santo
$gostin&o na $ntig5idade< por Fo&annes Scotus Eri'gena# pela
Escola de ;&artres e tantos outros pensadores neoplatKnicos na
4dade )édia< por Nicolaus ;usanus# icino# Giordano :runo na
7enascen-a< por Espinosa# Sc&elling# 0egel e Xarl )ar" na
)odernidade.

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