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Dialéticapara Principiantes Carlos Cirne-Lima Editora Unisinos Coleção Idéias 5 Sumário Prefácio Parte I – Nós e os Gregos 1. O Pátio de Heráclito 2. O Jogo dos Opostos 3. O Mito da Caverna 4. A Análise do Mundo 5. A Eplica!"o do Mundo Parte II – O que é Dialética? 1. O #uadrado $%gico 2. A &'ntese dos Opostos 3. Os (r)s Princ'pios 4. &er* +ada* ,evir 5. ,ial-tica e Antinoias Parte III – Um Projeto de Sistema 1. ,ial-tica e +ature/a 2. 0tica 3. Justi!a e Estado 4. O &entido da Hist%ria 5. O Asoluto Para aria e para meus alunos P!E"#CI$Escrevi esta ,ial-tica para principiantes pensando em meus alunos. Escrevi para eles. i! um te"to voltado para principiantes# ,ialectica ngredientius# como diria $%elardo. Para aqueles jovens de cara limpa e ol&os %ril&antes# atentos# l'cidos# sequiosos de aprender# que sa%em muito %em que n(o sa%em nada. E que por isso querem aprender. Para eles escrevi este livro# a eles o dedico. )uito justo# ali*s. Pois +oi com eles# com as perguntas# as discuss,es e de%ates com eles que esta ,ial-tica nasceu# cresceu e se consolidou. N(o que eu seja autodidata# ou que +a-a des+eita a meus mestres. Nada disso# ten&o na mais alta conta aqueles que +oram meus pro+essores. Devo muitssimo a eles. )as +oi com meus alunos que# neste passar dos anos# aprendi o que agora# com este livro# l&es devolvo. Principiante é aquele que n(o sa%e nada# ou quase nada. Principiante é quem se d* conta de que n(o sa%e nada. E por isso quer aprender# quer entender as palavras# quer captar o sentido das +rases# quer acompan&ar a montagem da argumenta-(o. Para eles escrevi. Escrevi em estilo simples e direto# escrevi uma iloso+ia singela# sem +rescura# sem en+eites# sem ran-o acad/mico e sem demonstra-,es aeró%icas de erudi-(o. $s idéias aqui e"postas s(o muito antigas. 0* novidades# sim# pois quem +a! iloso+ia e entra em contenda com as idéias# com as idéias mesmas# sempre desco%re alguma novidade. 1uando pegamos e levamos adiante a rique!a que &erdamos da tradi-(o# esta se revitali!a e cresce. Este tra%al&o nasceu da grande tradi-(o +ilosó+ica. 1ue ele condu!a os leitores de volta aos mestres2 pensadores da tradi-(o s(o os meus votos. % $ P#&I$ DE 'E!#CLI&$ %(% Per)untas iniciais De onde viemos? Para onde vamos? 1ual o sentido do mundo ede nossa vida? O universo teve um come-o? 3er* um +im? 0* leis que regem o curso do universo? Estas leis valem tam%ém para nós? Podemos deso%edecer a estas leis? O que acontece quando deso%edecemos a elas? 0* recompensa e castigo? 0* mesmo ou deve &aver? 4sso ocorre j* durante esta vida ou numa e"ist/ncia após a morte? Pode2se pensar# sem contradi-(o# uma vida eterna# uma e"ist/ncia após a morte? Pode &aver um tempo depois que todo tempo aca%a? Pode &aver um depois após o 'ltimo e de+initivo depois? $+inal# o que somos? Estas s(o as perguntas que# desde a $ntig5idade# toda pessoa que +ica adulta sempre se coloca. Estas s(o as perguntas que# desde os pré2socr*ticos# ocupam os +ilóso+os. iloso+ia é a tentativa# sempre +rustada e sempre de novo retomada# de dar uma resposta racional a essas quest,es. 6 isso que agora passamos# neste te"to# a desenvolver de +orma interativa. 7esposta +inal e de+initiva# que responda completamente a todas essas perguntas# n(o e"iste. )ais# uma tal resposta completa e aca%ada em iloso+ia é# como veremos# impossvel. )as# assim como muitas perguntas podem ser +eitas# muitas respostas podem e devem ser dadas. %(* "ilosofia é um )rande +ue,ra-ca,eça iloso+ia é a ci/ncia dos primeiros princpios# dos princpios que s(o universalmente v*lidos e que regem tanto o ser como o pensar. 0oje a iloso+ia é muitas ve!es pensada como a ci/ncia das justi+ica-,es racionais 'ltimas# isto é# como +undamento racional de todas as outras ci/ncias. O grande tema da iloso+ia é# assim# usando met*+ora tirada da $rquitetura# a quest(o de +undamenta-(o 'ltima. 6 neste sentido que j* na $ntig5idade $ristóteles +ala de iloso+ia Primeira. $ iloso+ia Primeira trata dos primeiros princpios do universo 8 do ser e do pensar 8# princpios estes que s(o o +undamento racional de todas as demais ci/ncias# como 9ógica# sica# $stronomia# :iologia# 6tica# Poltica# Estética etc.# que antigamente +a!iam parte daquela grande e a%rangente ci/ncia que ent(o se c&amava de iloso+ia. Nada ten&o a opor contra a concep-(o de iloso+ia como ci/ncia da +undamenta-(o 'ltima. Ela é isso# tam%ém. )as essa met*+ora aponta só para um dos n'cleos duros daquele todo maior que realmente é a iloso+ia. 6 como se se apontasse a para um osso nu# descarnado. $ imagem do +undamento é meio po%re. Eu pessoalmente pre+iro# para caracteri!ar o que seja iloso+ia# outra met*+ora# a de um que%ra2ca%e-a. iloso+ia é um grande jogo de que%ra2ca%e-a. No jogo de que%ra2ca%e-a temos que encai"ar cada pe-a com as pe-as vi!in&as# de modo que os contornos de cada uma coincidam com os contornos das pe-as vi!in&as# +ormando um todo coerente# sem %uracos e sem rupturas# e que no +inal mostra uma imagem. O jogo de que%ra2ca%e-a consiste em inserir pe-a por pe-a# uma na outra# com ajuste per+eito de contornos# até que todas as pe-as estejam corretamente colocadas e a imagem +inal# coerente e com sentido# +ique visvel. Se so%rarem pe-as# o jogo n(o +oi jogado até o +im. Se +altarem pe-as# o jogo est* des+alcado e a imagem +inal +icar* incompleta. Em jogos grandes pode per+eitamente acontecer que consigamos montar peda-os da grande imagem +inal# cada peda-o com +iguras próprias# mas sem a composi-(o +inal. Se jogarmos até o +im# e se o jogo n(o estiver des+alcado de pe-as# todas as pe-as estar(o# ent(o# devidamente encai"adas# n(o +altar(o pe-as# n(o so%rar(o pe-as# e a imagem glo%al estar* clara e visvel. a!er iloso+ia &oje é como montar um grande que%ra2ca%e-a. $s ci/ncias# como a sica# a 1umica# a $stronomia# a :iologia# a $rqueologia# a 0istória# a Psicologia# a Sociologia# etc.# s(o recortes parciais do grande que%ra2ca%e-a que é a iloso+ia# a ;i/ncia Universalssima. ;ada uma das ci/ncias particulares monta o seu peda-o particular# ou seja# cada uma delas trata de algumas +iguras. Nen&uma delas se preocupa e se encarrega da composi-(o total do grande mosaico# que é a iloso+ia# a ra!(o# o sentido do universo. $s ci/ncias particulares tra%al&am# sim# na montagem do grande jogo de que%ra2ca%e-a# mas cada uma delas se limita a um pequeno peda-o. a!er iloso+ia signi+ica jogar o jogo até o +im# isto é# montar todas as pe-as# de sorte que se possa ver a imagem glo%al. E aqui aparece a primeira di+eren-a entre o %rinquedo mencionado e a iloso+ia. Na iloso+ia n(o temos todas as pe-as. O universo ainda est* em curso# a 0istória n(o terminou. )uitas coisas# que nem sa%emos quais s(o# est(o por vir. O ilóso+o n(o disp,e de todas as pe-as 8 o +uturo ainda n(o c&egou 8# e# assim# o mosaico +inal sempre estar* incompleto. 4sso n(o o%stante# é preciso montar o jogo com todas as pe-as e"istentes# inclusive o próprio jogador. ;ada um de nós# que somos os jogadores concretos# temos que pular para dentro do mosaico +inal da iloso+ia# que é o sentido universal do universo em que vivemos# o sentido 'ltimo de nossa vida< a a iloso+ia +ica e"istencial. )as# como a 0istória e a Evolu-(o n(o terminaram# a imagem que aparece no mosaico# em%ora glo%al# sempre conter* grandes lacunas. 4sso signi+ica que a iloso+ia como sistema glo%al do con&ecimento é e sempre +icar*# enquanto correr o tempo da 0istória# um projeto inconcluso. $ Grande ;i/ncia nunca estar* completa e aca%ada# a iloso+ia sempre é e continuar* sendo apenas $mor = Sa%edoria. N(o se pode +a!er de conta que as ci/ncias particulares n(o e"istam. N(o se pode +a!er de conta# como alguns ilóso+os &oje +a!em# que iloso+ia seja apenas iloso+ia da 9inguagem ou 3eoria do ;on&ecimento. 4sso tam%ém é importante# isso tam%ém é parte da iloso+ia. )as iloso+ia é mais do que apenas uma 3eoria so%re )etalinguagens< iloso+ia é a Grande ;i/ncia# que contém dentrode si todas# repito# todas as ci/ncias particulares com suas teorias e suas quest,es ainda em a%erto. $ surge a pergunta> isso ainda é possvel? 0oje# em nosso século# com o incrvel e inédito desenvolvimento das ci/ncias particulares# ainda é possvel +a!er uma Grande Sntese? ;laro que é necess*rio e que é possvel. Pois assim como se desenvolveram as ci/ncias particulares# cresceram tam%ém os recursos = disposi-(o do ilóso+o para# sempre de novo# tentar construir o travejamento %*sico da Grande 3eoria Uni+icada. 6 meio vergon&oso# mas devemos admitir que muitos +ilóso+os &oje a%andonaram a idéia da Grande Sntese e se contentam com su%sistemas parciais< isso signi+ica# porém# que dei"aram de +a!er verdadeira iloso+ia. ;om alegria# entretanto# se v/ que os sicos continuam procurando a Grande 3eoria Sintética# na qual os su%sistemas atualmente tra%al&ados possam ser integrados. Só que a Grande Sntese é mais do que apenas a concilia-(o da teoria geral da relatividade com a mecnica quntica. $ tare+a program*tica da iloso+ia é ainda mais ampla que a da sica do incio do século @@4. $ :iologia# a Psicologia# a Sociologia# a 0istória# etc.# tam%ém t/m que entrar nessa teoria sintética que é a iloso+ia# pois queremos desco%rir quais as leis que s(o v*lidas para tudo# para todas as coisas. Essa grande tare+a era c&amada antigamente de eplicatio undi. a!er iloso+ia sempre +oi e continua sendo +a!er a e"plica-(o do mundo. Aoltaremos ainda muitas ve!es a esta palavra# pois com ela se di! realmente tudo o que a iloso+ia pode e deve pretender. %( Cr.tica da ra/ão p0s-moderna $pós o colapso intelectual do sistema de 0egel# na segunda metade do século passado# e após o colapso poltico do mar"ismo# que é um tipo de &egelianismo de esquerda# em BCC# com a queda do )uro de :erlim e# logo depois# com o es+arelamento da Uni(o Soviética# a iloso+ia parece ter c&egado a um %eco sem sada. $o invés da Grande Sntese temos apenas um grande impasse. $ ra!(o# que era am%iciosa e andava sempre = procura da Grande Sntese# a ra!(o una# 'nica e universalssima# é destruda a golpes de marreta. $ 7a!(o# una# 'nica e com letra mai'scula# é declarada morta. $ 7a!(o morreu# vivam as m'ltiplas pequenas ra!,es# as ra!,es das muitas perspectivas di+erentes# como di! Niet!sc&e# as ra!,es dos m'ltiplos &ori!ontes# como quer 0eidegger# as ra!,es dos m'ltiplos jogos de linguagem# como a+irma ittgenstein. $ 7a!(o# una e 'nica# morreu# vivam as m'ltiplas ra!,es com seus relativismos. Esta a tese do pensamento pós2moderno. O lado positivo dessa dissolu-(o da ra!(o que era de+endida pelo 4luminismo é que +icamos em nosso século mais modestos# mais compreensivos# mais a%ertos para com as outras culturas# mais tolerantes para com o estrangeiro# mais atentos = alteridade. O particular# inclusive as ci/ncias particulares# progridem imensamente. $té a 9ógica# que era antes una# 'nica# no singular e com letra mai'scula# ou seja# a 9ógica de $ristóteles e dos mestres pensadores da 4dade )édia# trans+orma2se. 0oje temos# ao lado da lógica aristotélica# escrita em letra min'scula# muitas outras lógicas. 0oje +alamos de lógicas no plural e com letra min'scula. 4sso que ocorreu com a 9ógica aconteceu tam%ém com a 7a!(o como um todo. $o invés da 7a!(o# temos &oje as m'ltiplas ra!,es# no plural e com letra min'scula. $ ra!(o pós2moderna p,e um su%sistema ao lado de outro su%sistema# e mais outro# e ainda mais outro# sempre um ao lado do outro# sem uma unidade mais alta e mais ampla# que os a%ranja< os interstcios entre os v*rios su%sistemas +icam va!ios. $ ra!(o pós2moderna nega a e"ist/ncia de princpios ou leis que sejam universalssimos# que interliguem os diversos su%sistemas# ou seja# que sejam v*lidos sempre# em todos os m%itos# em todos os interstcios e para todas as coisas. )ais# ela di! que 8 a rigor 8 n(o &* proposi-(o que seja universalmente v*lida. Ora# quem +a! tal a+irma-(o# ao di!er# se desdi!. 3al a+irma-(o é uma contradi-(o em si mesma# ela detona uma implos(o lógica. 8 Aejamos o que ocorre em outro e"emplo# mais simples. 3omemos a proposi-(o +"o eiste nenua proposi!"o verdadeira. 1uem a+irma uma tal coisa est* implicitamente di!endo +"o eiste nenua proposi!"o ue sea verdadeira* eceto esta esa ue agora estou di/endo. $ssim# a e"ce-(o implicitamente +eita desmente a universalidade daquilo que +oi a+irmado> n(o é verdade que todas as proposi-,es sejam +alsas# eis que pelo menos esta# que est* sendo a+irmada# est* sendo a+irmada como sendo verdadeira. $ssim tam%ém ocorre com a proposi-(o pós2moderna +"o á nenua proposi!"o ue perpasse todos os susisteas< ao di!er e a+irmar isso# estamos di!endo que ao menos essa proposi-(o é v*lida para todos os su%sistemas. 6 o mesmo que ocorre em sala de aula# quando o pro+essor reclama das conversas e Fo(o!in&o di!> Pro6essor* n"o te ningu- 6alando. $o +alar e di!er isto# Fo(o!in&o desmente e"atamente o que est* di!endo. 6 por isso que a ra!(o pós2moderna é %oa# sim# enquanto respeito para com a alteridade e apre-o pela diversidade# é péssima# entretanto# como su%stituto da ra!(o universalmente v*lida. Ela n(o pode ser universali!ada< se o +a!emos# ela se detona. Este é o motivo por que uma iloso+ia pós2moderna# neste sentido# n(o e"iste e nunca e"istir*. 1uem quiser +a!er iloso+ia = maneira da ra!(o pós2moderna# justapondo su%sistemas# sem jamais +a!er uma teoria# por mnima que seja# a%rangente# est* +adado ao insucesso da autocontradi-(o. )eu amigo 0a%ermas me perdoe# mas n(o d*> implode. ica com isso demonstrado que se pode voltar a uma ra!(o una# 'nica e universalssima. Ela pode consistir de poucas regras e princpios< talve! ela consista de um 'nico princpio# mas que uma tal ra!(o e"iste# e"iste. 1uem o negar se detona e entra em autocontradi-(o. $ e"plica-(o do mundo pode ser# talve!# minimalista. )as que ela é possvel# é. O lado mais negativo da ra!(o pós2moderna é o li"o que se acumula nos interstcios entre os diversos su%sistemas. 6 para a# para esses interstcios va!ios# que varremos as contradi-,es e os pro%lemas mal resolvidos. Entre um su%sistema e outro +ica o li"o da ra!(o. $s teorias particulares# articuladas somente como su%sistemas# permitem que entre um su%sistema e outro %rotem e vicejem os maiores a%surdos. $s contradi-,es n(o +oram resolvidas# +oram apenas varridas. E isto n(o %asta. 6 preciso pensar tanto a multiplicidade como tam%ém a unidade. Sem unidade a multiplicidade entra# como vimos# em contradi-(o. )ultiplicidade na Unidade# Unidade na )ultiplicidade 8 é preciso conciliar am%os os pólos igualmente legtimos e necess*rios. 6 preciso repensar tanto Parm/nides como tam%ém 0er*clito. %(1 2 esfera de Parm3nides Parm/nides# um dos grandes pensadores da iloso+ia pré2 socr*tica# +oi de certo modo o precursor da ra!(o pós2moderna. Ele contrap,e# um ao outro# dois grandes su%sistemas> o ser realmente real e a doa# a mera apar/ncia. Parm/nides di! que a realidade realmente real é apenas o ser imóvel# o que é puro repouso# sem nen&um movimento. Este ser imóvel e imut*vel é sim%oli!ado pela es+era que n(o tem limites# onde o dedo corre sem nunca c&egar a um come-o ou a um +im. E as coisas deste mundo# que est(o em movimento# que se movem# que nascem e morrem# %em# estas coisas# declara Parm/nides# n(o s(o uma realidade realmente real# elas s(o uma doa# uma mera apar/ncia# so% a qual n(o &* um ser realmente real. $s apar/ncias enganam. De um lado# o su%sistema do ser realmente real< de outro lado# o su%sistema das apar/ncias. )as Parm/nides n(o é um pós2 moderno. Ele +oi mais radical# sacri+icou todas as apar/ncias# as m'ltiplas coisas deste mundo em que vivemos# no altar de uma racionalidade e"acer%ada# de um $ogos uno# 'nico# imóvel# imut*vel# in+inito. O que é# di! Parm/nides# é. O que n(o é n(o é. E o que n(o é n(o é nada# n(o signi+ica nada e n(o +a! nada. O n(o2ser n(o e"iste# ele n(o pode nem mesmo ser pensado. )ovimento é sempre a passagem do ser para o n(o2ser# ouseja# o perecer. Ou ent(o# a passagem do n(o2ser para o ser# isto é# o nascer. Ora# como o n(o2ser n(o e"iste# como ele n(o é nada# n(o &* passagem para o n(o2ser. N(o &*# por igual# passagem a partir do n(o2ser< do n(o2ser n(o pode sair nada. 4sso signi+ica que n(o &* perecimento nem nascimento. Perecer e nascer s(o ilus,es# s(o meras apar/ncias. Pois# pela lógica# o n(o2ser n(o é nada. E tudo aquilo que o n(o2ser determina est* sendo determinado como sendo nada# isto é# n(o é nada# é pura ilus(o. 9ogo# argumenta Parm/nides# n(o e"iste movimento. E# se pensamos que algo est* em movimento# trata2se de uma ilus(o. en(o de Eléia# discpulo de Parm/nides# para demonstrar o que ele pensava ser a impossi%ilidade lógica do movimento# tra! o e"emplo da corrida entre $quiles e a tartaruga e o e"emplo da +lec&a parada. $quiles aposta uma corrida com uma tartaruga. ;omo $quiles é um grande &erói e e"mio corredor# a tartaruga pede de! metros de vantagem. $quiles concorda# e a corrida come-a. 7eparem# a+irma en(o# como o movimento é algo contraditório# reparem que $quiles n(o vai conseguir gan&ar. :asta pensar. Pois antes de percorrer a distncia que o separa da tartaruga# $quiles deve percorrer a metade dessa distncia. E antes de percorrer essa metade# ele tem que percorrer a metade dessa metade. E antes de cru!ar a metade dessa metade# ele tem que percorrer a metade dessa metade. E assim por diante. ;omo a quantidade é in+initamente divisvel e sempre &* uma nova metade da metade# conclui2se que $quiles n(o avan-a um passo# n(o consegue reconquistar a vantagem e# assim# perde a corrida para a tartaruga. Por qu/? Porque o movimento# di! en(o# é contraditório# ele n(o pode ser pensado até o +im sem que surja uma contradi-(o insol'vel. 8 O mesmo raciocnio é aplicado = +lec&a disparada pelo arqueiro contra um alvo qualquer. $ +lec&a# tendo que percorrer as in+initas metades da metade# +ica parada. $ +lec&a parada e a corrida de $quiles com a tartaruga demonstram# pensa en(o# a tese de Parm/nides de que o movimento é impossvel e que# por isso# temos que nos ater somente ao ser uno# 'nico# in+inito e sem movimento que é o ser que realmente é. Eis a es+era de Parm/nides. Parm/nides# o grande pensador do ser uno# 'nico e imut*vel# é# apesar desse grande erro# o pai intelectual de toda a verdadeira iloso+ia# pois +oi ele que primeiro pensou t(o a sério a unidade da ra!(o e do ser. 3udo é o Uno. O 3odo e o Uno# Hen 7ai Pan# s(o o come-o e o +im de toda a iloso+ia# de toda a ci/ncia que se queira e entenda como a Grande Sntese. O erro que cometeu# visvel para todos# é n(o ter levado igualmente a sério o momento da diversidade e do movimento. Ele n(o conseguiu pensar o n(o2 ser como algo que de certo modo é. Parm/nides tem o 3odo e o Uno# +alta2l&e o movimento que em tudo +lui. alta 0er*clito. %(5 $ pátio de 'eráclito Segundo 0er*clito# tudo +lui# Panta 8ei# tudo est* em constante +luir# tudo é movimento. $ realidade realmente real n(o é a es+era imóvel e imut*vel# sem limites# dos Eleatas# mas sim o movimento que# sem jamais cessar# sempre de novo come-a. N(o &* come-o e n(o &* +im# nisso 0er*clito concorda com Parm/nides# mas n(o porque n(o e"ista movimento# e sim porque tudo est* sempre em constante trans+orma-(o. O que para os Eleatas era doa# mera apar/ncia e ilus(o# agora é a própria realidade realmente real. $ realidade n(o é apenas Ser# ela n(o é# por igual# apenas N(o2 Ser. $ realidade realmente real é uma tens(o que liga e concilia Ser e N(o2Ser. $parece aqui# pela primeira ve! na 0istória da iloso+ia# a Dialética. Ser e N(o2Ser# tese e anttese# s(o conciliados# num plano mais alto# através de uma sntese. Ser e N(o2Ser# que = primeira vista se op,em e se e"cluem# na realidade realmente real constituem uma unidade sintética# que é o Ser em )ovimento# o Devir. No Devir e"iste um elemento que é o Ser# mas e"iste por igual um outro elemento igualmente essencial que é o N(o2Ser. Ser e N(o2Ser# %em misturados# n(o mais se repelem e se e"cluem# mas entram em am*lgama e se +undem para constituir uma nova realidade. 3emos a# j* em 0er*clito# os tra-os +undamentais da Dialética. Numa primeira etapa temos dois pólos contr*rios que se e"cluem mutuamente. 3ese e anttese se contrap,em# uma contra a outra# uma e"cluindo a outra. Nesta primeira etapa um pólo anula e liquida o outro# eles s(o e"cludentes. Só que a coisa n(o p*ra a. 0* um movimento# &* um desenvolvimento# &* um progresso. E ent(o# nessa segunda etapa# os pólos se conciliam e se uni+icam# constituindo# num patamar mais alto# uma nova unidade. $ lira# o instrumento musical dos antigos gregos# serve de e"emplo a 0er*clito. $ lira se comp,e de um arco e das cordas. 1uem quer construir uma lira pega uma pe-a de madeira apropriada e a verga# +ormando um arco. Só que o arco# dei"ado solto# volta = sua +orma retilnea. Para manter o arco vergado# é preciso amarr*2lo com uma corda# ou com v*rias cordas. O arco e a corda# nessa primeira etapa# est(o em tens(o# um contra o outro. O arco quer re%entar a corda# a corda quer vergar o arco. Essa oposi-(o# que e"iste nessa primeira etapa da Dialética# se e quando devidamente dosada# +a! surgir algo completamente novo# algo maravil&oso> a m'sica. $ tens(o e"istente na primeira etapa# o arco contra a corda# a corda contra o arco# cede o lugar = sntese que é a m'sica# ou antes# com letra mai'scula# a )'sica# que é uma das nove Deusas que regem e inspiram as $rtes. Na primeira etapa &* oposi-(o e"cludente e con+lito< na segunda etapa# concilia-(o sinteti!ante que +a! surgir algo de novo# mais alto# mais comple"o# mais no%re. Um dos mais %elos e"emplos de Dialética# muito con&ecido na $ntig5idade# mas raramente mencionado &oje em dia# é o movimento de 6'lesis# anti6'lesis e 6il'a# ou seja# o movimento dialético que leva de um amor inicial# que prop,e e pergunta# passando pelo amor que# perguntado# responde a+irmativamente# para c&egar ao amor que# amando# se sa%e correspondido# amor este que# sendo sintético# n(o é mais e"clusividade de um ou de outro dos amantes# e sim unidade de am%os. Os gregos c&amavam isso de 6il'a# ami!ade. O amor tem come-o. $lguém tem que come-ar. O come-o é um ato estritamente unilateral e sempre arriscado. N(o se sa%e# de antem(o# como o outro# ou a outra# vai reagir e o que vai responder. Este ato unilateral e arriscado é c&amado em grego de 6'lesis. 0eitor ama 0elena. 0eitor ama e sa%e que ama< 0elena perce%e o convite +eito# mas ainda n(o se decide. 8 O outro# ou a outra# pode responder que sim# como pode tam%ém responder que n(o. 4sso de incio est* em a%erto e é contingente. Se o outro# a outra# porém# responder que sim# ent(o temos uma anti6'lesis# que tam%ém é um ato unilateral# mas n(o é mais um ato arriscado# pois n(o é mais só uma pergunta e só um convite# e sim uma resposta e a aceita-(o de um convite j* +eito. 0elena decide2se a aceitar o amor de 0eitor e o ama de volta. Este amor de volta é a anti6'lesis. 9'lesis e anti6'lesis s(o# am%os# atos unilaterais< 6'lesis contém risco# e anti6'lesis n(o. 3rata2se de dois atos independentes# completos e aca%ados# um di+erente do outro# um em oposi-(o relativa ao outro< um é tese# o outro é anttese. )as quando am%os se cru!am e# num plano mais alto# se +undem numa 'nica realidade mais comple"a# mais alta e mais no%re# ent(o temos 6il'a. Na 6il'a* os dois pólos inicialmente di+erentes e opostos# um que pergunta e outro que responde# se +undem# +ormando um am*lgama# algo de novo. Na 6il'a* am%os os amores individuais dei"am de ser atos unilaterais e trans+ormam2se num 'nico ato# que é %ilateral# no qual n(o importa mais quem pergunta e quem responde# pois am%os os amores iniciais perderam seu car*ter individual# o Eu e o 3u# para se uni+icar como algo de novo# o Nós. 0eitor e 0elena# ao se amarem# primeiro se perdem. Pois o sentido de toda a e"ist/ncia passa a residir no outro. 6 o outro que reali!a o sentido da vida# é o outro# a pessoa amada# que é o centro do universo.0eitor ama perdidamente 0elena. 0eitor primeiro se perde> quem ama vive se perdendo. )as# como 0elena ama 0eitor de volta# o sentido do universo per+a! um crculo completo e retorna a 0eitor# que# agora pro+undamente enriquecido# se sa%e novamente c&eio de sentido e de vida. Só que esta nova vida e este novo sentido do universo n(o s(o um ato unilateral só dele# e sim um ato conjunto# um ato %ilateral# um ato em que o Eu +oi mediado através do 3u para constituir um Nós. 6 por isso que o amor de ami!ade# 6il'a* é t(o +orte e t(o precioso. 6 por isso que gregos e troianos lutaram por tantos anos. 6 por isso# somente por amor de ami!ade# que $quiles# Ulisses e $gamemnon# os pastores de povos# condu!em os gregos com suas naves curvas para a intermin*vel guerra. 6 só por isso que os troianos# c&e+iados por 0eitor# lutam até morrer. 3udo só por causa de uma mul&er# di! 0omero na 4lada. 3udo só por causa da 6il'a* que transcende os indivduos e se constitui em sntese mais alta e mais +orte. $mor a vira 0istória. $ 0istória de gregos e troianos# a 4lada e a Odisséia# os come-os de nossa civili!a-(o. 3ese e anttese s(o# na primeira etapa# pólos opostos que se repelem e se e"cluem. Numa segunda etapa# am%os se uni+icam numa sntese que é algo mais alto e mais no%re. Na sntese# dir* 0egel muito mais tarde# os pólos iniciais est(o superados e guardados H Au6eenI. Por um lado# eles est(o superados# pois perderam algumas de suas caractersticas. No e"emplo do amor de ami!ade# o car*ter de unilateralidade e o de risco s(o superados e# assim# desaparecem. )as# pelo outro lado# os pólos est(o guardados na sntese# pois o cerne positivo# que j* estava neles# continua sendo conservado. O amor# ao dei"ar de ser ato unilateral# +ica mais amor ainda# +ica um amor mais alto e mais no%re. 3ese# anttese e sntese constituem aquilo que os +ilóso+os gregos c&amam de jogo dos opostos. Eis o come-o e a rai! da Dialética. 0er*clito# o pai da Dialética# di! que n(o podemos entrar duas ve!es no mesmo rio. O rio n(o é o mesmo# nós n(o somos os mesmos. 3udo est* em movimento# é o movimento que é a realidade realmente real. $ realidade# ensina# constitui2se dialeticamente através do jogo dos opostos. No come-o# tudo é luta e guerra# pois os opostos se op,em e se e"cluem> P%leos pat-r pánton# A luta - o coe!o de tudo. )as depois &*# muitas ve!es# uma sntese conciliadora que +a! nascer algo de novo# mais comple"o# mais alto# mais no%re. No jogo de opostos# nem sempre surge um resultado positivo. )uitas ve!es# o que ocorre é só morte e destrui-(o. Os pólos opostos nesse caso atuam só como agentes destrutivos. O primeiro anula o segundo# ou vice2versa# ou am%os se anulam mutuamente. $ n(o surge sntese# a n(o se +a! Dialética. Perce%e2se# de imediato# que a grande quest(o# para que se possa compreender o universo# passa a ser a Sntese. 1uando e por que &* sntese? 1ue e"istam snteses no universo é claro. A/2se# %asta ol&ar o cosmos. )as a pergunta é> por que =s ve!es &* sntese# =s ve!es n(o? 1uem desco%rir isso desco%rir* a resposta = pergunta so%re a &armonia no universo# que é um cosmos ordenado. $ pergunta central de toda a iloso+ia# ;i/ncia da Grande Sntese# é> por que os opostos =s ve!es se e"cluem# =s ve!es se conciliam? 6 entre Parm/nides e 0er*clito que se a%re o espa-o em que# desde ent(o# se +a! iloso+ia. Parm/nides# di!endo que 3udo é o Uno# +ornece o elemento do $ogos universal que a%range tudo< 0er*clito# di!endo que 3udo +lui# que tudo é movimento de pólos opostos# +ornece o elemento da Dialética. Hen 7ai Pan e Panta 8ei# O (odo e o :no e (udo 6lui s(o# desde ent(o# lemas de toda e qualquer iloso+ia. 6 por isso que num p*tio que se queira sim%ólico de nossa iloso+ia ocidental tem que &aver# em seu ponto central# uma es+era de pedra# uma es+era que remeta ao Ser2 Uno de Parm/nides. )as# como a +iloso+ia de Parm/nides tem que ser %ali!ada e corrigida pela de 0er*clito# é preciso que esta es+era esteja em perpétuo movimento de +luir. Jgua tem que %rotar dela# como de uma +onte# para que a es+era# envolta pelo +luir da *gua# seja o sm%olo da Grande Sntese entre 7epouso e )ovimento# entre 3otalidade e Dialética. Aoltar * $ 4$$ D$S $P$S&$S *(% 2 "ilosofia da 6ature/a dos Pré-Socráticos Os +ilóso+os pré2socr*ticos +oram os primeiros# em nossa cultura# a es%o-ar uma vis(o racional do mundo# di!endo como a Nature!a se srcina# como e de que ela se comp,e# qual o lugar do &omem nela. $ntes desses primeiros construtores da racionalidade# &avia apenas o )ito. O )ito é uma primeira +orma# ainda n(o crtica# de +iloso+ar# isto é# de pensar o mundo como um todo# de pensar o universo em sua totalidade. O )ito# entre os gregos# assume a +igura-(o da genealogia. No come-o# %em no come-o# contam os antigos gregos# &* apenas caos. ;aos é o come-o de tudo e o primeiro dos deuses# pai e srcem de todas as coisas. Do deus ;aos surgem# ent(o# outros deuses numa seq5/ncia genealógica em que um deus sucede a outro por +ilia-(o# até c&egarmos aos deuses atuais# aos atuais &a%itantes do Olimpo# um grupo de deuses que é comandado por eus. 3am%ém na tradi-(o judaico2crist( o )ito assume a +orma %*sica de genealogia. No come-o# di! a :%lia dos judeus e dos crist(os# &avia somente Deus. Deus# antes de criar as coisas# era só ele mesmo# estava so!in&o. Ent(o# no primeiro dia# Deus# o Pai de todas as coisas# cria a lu!# c&amando a lu! de dia e as trevas de noite. No segundo dia# Deus +a! o +irmamento e separa as *guas# &avendo ent(o *guas a%ai"o do +irmamento# os mares e os rios# e *guas acima do +irmamento# que depois caem como c&uva. No terceiro dia# Deus separa a terra e o mar# +a!endo assim aparecer o solo# a terra verde# as plantas e as *rvores +rut+eras. No quarto dia# Deus# o Pai# cria as lu!es no +irmamento do céu# uma maior# o sol# e outra menor# a lua# dividindo assim o dia da noite. Ele cria tam%ém as pequenas lu!es do +irmamento# que s(o as estrelas. No quinto dia# Deus# o ;riador# engendra os animais que vivem nas *guas# os pei"es# %em como os que vivem em terra# as %estas# e tam%ém os que voam# as aves# cada qual segundo sua espécie. Deus ent(o os a%en-oa e manda que se multipliquem. No se"to dia# Deus +a! o &omem = sua imagem e semel&an-a# para que ele presida os pei"es do mar# as aves do céu# as %estas e todos os répteis# e domine assim so%re a terra. Deus# ent(o# p*ra# ol&a para as coisas que criou e v/ que todas elas s(o %oas. E no sétimo dia# di! o mito %%lico# Deus descansou. $ partir deste primeiro come-o# toda a :%lia é uma &istória genealógica# é uma &istória dos patriarcas e de seus povos# com /n+ase espec+ica no povo dos judeus. 3anto o mito dos gregos como o mito dos judeus e crist(os contam a &istória da srcem do universo desde seu come-o até a seq5/ncia &istórica dos tempos. O tempo passado é sinteti!ado como uma &istória que tem come-o e que condu! até o tempo presente# dando sentido =s coisas e# assim# =s nossas vidas. Esse apan&ado &istórico do tempo passado# que sempre contém ju!os de valor 8 o :em e o :elo 8# constitui o pano de +undo em que se insere o tempo presente. eito assim o travejamento entre passado e presente# tam%ém o cotidiano se entran&a de valores éticos e estéticos# permitindo que se projete o tempo +uturo. 0eródoto# de um lado# e o G/nese judaico2crist(o# do outro# s(o uma &istória do primeiro come-o do mundo e da seq5/ncia &istórica das gera-,es. $m%os os mitos t/m grande valor poético e +uncionam como arquétipos estruturadores de uma determinada vis(o do mundo. No mito judaico2crist(o &* uma estrutura que contrap,e# de um lado# uma primeira causa# Deus# que engendra tudo# e# de outro lado# as coisas criadas# as criaturas que# depois# entram em seq5/ncia genealógica. Deus# causa primeira de tudo# é pensado a tam%ém de +orma genealógica como o ;riador e o Pai de todas as coisas. Por isso Ele é# em 'ltima instncia# respons*vel por tudo e escreve direito até por lin&as tortas. No mito grego &* um deslocamento.$ causa# no pensamento grego# n(o é pensada como uma causa e+iciente e"terna ao processo do universo# mas como uma causa interna# um princpio interno de autodetermina-(o que molda o universo de dentro para +ora. O deus inicial é o caos. O deus ;aos# como o nome di!# é totalmente indeterminado< n(o &* nele coisas ou seres com limites e contornos. )as é de dentro desse caos# é de dentro desse deus ;aos que o universo %em ordenado vai surgindo. O caos se organi!a# se amolda e# a partir de si mesmo# engendra suas determina-,es. O caos# ao determinar2se a si mesmo# se d* +orma e +igura. Surgem a os outros deuses e# na seq5/ncia destes# tam%ém os &omens. Os +ilóso+os pré2socr*ticos con&ecem o )ito e apreciam sua %ele!a selvagem e sua relevncia pedagógica. )as &* que se pensar e argumentar racionalmente. 4sso é iloso+ia# e é por isso e para isso que e"istem +ilóso+os. 4sso signi+ica que o processo de g/nese do universo deve ser analisado e descrito com a e"atid(o e a +rie!a o%jetiva que caracteri!am a ci/ncia. 6 na geometria que os primeiros pensadores se inspiram em seu nimo de o%jetividade cient+ica. $ iloso+ia da Nature!a deveria ser t(o e"ata# t(o o%jetiva e t(o convincente quanto a geometria. Os pré2 socr*ticos %em que tentaram# mas n(o c&egaram até l*. 3ales de )ileto pensava que a srcem e o princpio 8 a ar7- 8 de todas as coisas é a *gua. $s coisas se constituem e di+erem umas das outras pelo grau de umidade. O deus Oceano é# assim# o Pai de todas as coisas. $na"imandro# tam%ém de )ileto# provavelmente discpulo de 3ales# di! que o primeiro princpio é um ser totalmente indeterminado# sem limites e sem determina-,es# o ápeiron# ser este que vai sendo ent(o ulteriormente caracteri!ado por determina-,es que o limitam mais e mais# até +ormar as coisas determinadas que vemos no mundo sensvel. Este ser indeterminado inicial# o ápeiron* a%arca e circunscreve todas as coisas# ele rege e governa tudo. $na"menes de )ileto# discpulo de $na"imandro# aceita a doutrina de seu mestre so%re o ser in+inito# que constitui o come-o de todas as coisas# mas n(o o toma de +orma t(o a%strata# de+inindo2o como o ar> o ar# segundo ele# é o princpio de todas as coisas. 8 O%servamos aqui# na iloso+ia da Nature!a dos +ilóso+os jKnicos# uma primeira e primitiva +orma do jogo dos opostos. O primeiro princpio é contraposto =s coisas di+erenciadas# que dele se srcinam e através dele se e"plicam. iloso+ia aqui j* é uma eplicatio undi# uma e"plica-(o do mundo< o mundo é conce%ido como um processo que se srcina a partir de um só princpio e se desenvolve de acordo com determinadas regras. N(o se trata ainda da doutrina da sica contempornea so%re o ;ig ;ang # mas é o primeiro come-o dela. Pit*goras e os pitagóricos d(o um passo adiante e desco%rem o n'mero como princpio de todas as coisas. ;ome-a a# para nunca mais terminar# a matemati!a-(o do mundo. $s rela-,es que os n'meros esta%elecem entre si constituem as regras que determinam o processo de e"plica-(o do mundo. O universo se desenvolve a partir de um primeiro princpio# segundo regras e propor-,es numéricas# que determinam o processo e d(o +orma =s coisas. ;ada n'mero possui a um sentido próprio e d* =s coisas uma +orma determinada. O n'mero BL é considerado o n'mero per+eito e é visuali!ado como um tringulo equil*tero# no qual cada lado se +orma por quatro n'meros< no centro do tringulo assim delineado# &* um 'nico ponto# o ponto central# totali!ando o n'mero BL. $ assim c&amada mstica dos n'meros dos +ilóso+os pitagóricos# que vai in+luenciar depois Plat(o e toda a escola neoplatKnica# é o %er-o de onde v/m as equa-,es da sica contempornea. Em paralelo com a doutrina so%re os n'meros# os +ilóso+os pitagóricos desenvolvem ulteriormente o jogo dos opostos. F* os n'meros t/m entre si a rela-(o de contr*rios. O Um se op,e ao Outro# que ent(o é c&amado de Dois. Dessa primeira oposi-(o saem os n'meros B e M. )as é preciso &aver sntese# é preciso pensar tanto o B como o M como um novo conjunto# e a surge o . 3ese é o B# anttese é o M# a sntese é o . 6 por isso que# segundo os pitagóricos# os n'meros mpares s(o mais per+eitos> neles se pensa# além da oposi-(o dos dois pólos contr*rios# tam%ém sua sntese. O tringulo +ormado de de! pontos# ou o BL em +orma de tringulo# é a própria per+ei-(o. Depois de atingirmos o BL# tudo é apenas uma repeti-(o. Surge assim# para n(o sair mais de nossa civili!a-(o# o sistema decimal de contagem e de c*lculo. $ essa mstica dos n'meros soma2se# ent(o# a lista dos de! pares de contr*rios 8 as su%stncias elementares 8# que# con+orme com%inados entre si# d(o +orma a todas as coisas> B. 9imitado 4limitado M. mpar Par . Uno )'ltiplo . Direita Sinistra Q. )ac&o /mea R. 1uieto )óvel . 7eto ;urvo . 9u! 3revas C. :em )al BL. 1uadrado 7etngulo O jogo dos contr*rios aqui se apresenta como uma ta%ela %*sica dos contr*rios. Segundo os +ilóso+os pitagóricos# quem aprende a jogar com esses de! pares de contr*rios# que s(o como que os elementos constitutivos dos seres e"istentes# pode compor a constitui-(o interna de cada coisa. Eis aqui a primeira +orma# ainda muito tosca e primitiva# daquilo que &oje c&amamos na 1umica de 3a%ela dos Elementos. Os *tomos# na 1umica de &oje# s(o pensados con+orme o modelo atKmico de Niels e 7ut&er+ord. Um elétron gira em torno de um n'cleo atKmico# a eletricidade positiva e a negativa entram em equil%rio e assim temos uma molécula est*vel# a temos o &idrog/nio. Se# em ve! de um elétron# &ouver dois a girar em ór%ita# ent(o j* se trata do segundo elemento da 3a%ela dos Elementos# e assim por diante até c&egarmos ao elemento BBM# que só surge em la%oratório. Os qumicos &oje usualmente n(o se d(o conta# mas eles s(o descendentes diretos dos +ilóso+os pitagóricos. Na mesma lin&a de seus antecessores# sempre +a!endo o jogo dos opostos# Empédocles é o primeiro que e"pressamente tenta resolver o pro%lema colocado por Parm/nides e en(o de Eléia. Ele se d* conta de que o N(o2Ser n(o e"iste e n(o pode nem mesmo ser pensado. $ceita essa premissa inicial do argumento dos Eleatas# mas n(o aceita a conclus(o. N(o se pode concluir# a+irma ele# que o movimento seja impens*vel# seja contraditório e# por isso mesmo# seja impossvel e# assim# seja ine"istente. Pelo contr*rio# o movimento e"iste# só que n(o é a passagem do Ser para o N(o2Ser# ou vice2versa# e sim misturas e dissolu-,es de quatro su%stncias +undamentais# que permanecem eternas e indestrutveis> a *gua# a terra# o ar e o +ogo. Os elementos %*sicos n(o s(o de! pares de opostos e sim dois. $s determina-,es das coisas variam con+orme a composi-(o nelas desses quatro elementos. $ dosagem de lquido e de sólido# de +ogo e de ar# a propor-(o em que esses elementos se misturam é o que d* +orma e +igura =s coisas. $na"*goras de ;la!omene tam%ém aceita a premissa de que o N(o2Ser n(o pode e"istir e continua pensando o mundo como um processo de composi-(o e de dissolu-(o de elementos %*sicos. Em oposi-(o a Empédocles# julga $na"*goras que só dos quatro elementos n(o é possvel construir a diversidade real das coisas. Postula# para isso# a e"ist/ncia de sperata# de espermas. $ própria palavra# que j* em grego signi+ica o espermato!óide masculino# mostra a tend/ncia %iológica dessa iloso+ia. Os espermas seriam numericamente in+initos# de in+inita variedade# cada um divisvel em si mesmo# sem com isso perder sua +or-a germinadora e determinante. Essa massa inicial de esperma é a matéria2prima do mundo. $s determina-,es das coisas s(o ent(o produ!idas por uma 4ntelig/ncia Ordenadora# o nous# que mistura os espermas de +orma ordenada. $ +igura do Deus criador aparece aqui# n(o como uma causa e"terna# mas como uma causa interna# que# a partir de dentro do caos# +a! com que este se organi!e. Depois dos espermas de $na"*goras temos# ent(o# os *tomos de 9eucipo e de Demócrito# os primeiros atomistas. Segundo eles# que tam%ém aceitam o princpio de que o N(o2Ser n(o pode e"istir# essesprimeiros princpios de todas as coisas# todos eles qualitativamente iguais# s(o Ta2tomos# isto é# s(o indivisveis. (oein signi+ica cortar# *tomo é aquilo que n(o é mais divisvel# o que n(o pode ser cortado por ser um elemento primeiro. Os *tomos# indi+erenciados uns dos outros# constituem inicialmente uma massa in+orme. Estes *tomos# incont*veis# se encontram inicialmente em queda livre. O acaso 8 eis aqui# de novo# o deus ;aos 8 +a! que &aja# nessas lin&as verticais de queda livre# pequenos desvios para um lado e para outro. Esses pequenos desvios tornam a concentra-(o de *tomos mais ou menos densa. Essas varia-,es de densidade constituem o n'cleo da e"plica-(o do mundo. ;ada coisa é o que é devido = mudan-a da concentra-(o de *tomos. Os *tomos e o acaso constituem os dois elementos que e"plicam a nature!a das coisas. Os *tomos# vamos reencontr*2los no modelo atKmico da sica moderna. Só que eles n(o est(o em queda livre e# sim# em movimentos circulares. Os elétrons giram em ór%ita em torno de um n'cleo. $umentando o n'mero de elétrons em ór%ita# aumenta o peso espec+ico dos elementos# do &idrog/nio# elemento nV B# até o elemento nV BBM. O acaso# vamos reencontr*2lo na rela-(o de indeterminidade de 0eisen%erg# na sica# e# principalmente# na muta-(o pelo acaso da moderna :iologia. *(* $s Sofistas TSo+ista é um termo que signi+ica inicialmente o s*%io# s o6'a signi+ica sa%edoria< da iloso+ia signi+icar etimologicamente amor = sa%edoria. O termo Tso+ista %em como a palavra Tso+isma só mais tarde# depois da pol/mica com Plat(o e $ristóteles# v(o adquirir sentido pejorativo. S(o os so+istas que primeiro transplantam o jogo dos opostos de 0er*clito do plano da iloso+ia da Nature!a para o plano das rela-,es sociais. Os so+istas se ocupam# n(o tanto da Nature!a# e sim da vida do povo nas cidades< eles se interessam pelo deos# o povo# e pela polis. 6 a época em que# na Grécia# a vel&a aristocracia entra em lenta# mas ine"or*vel decad/ncia e em que surge# cada ve! mais +orte# o poder do povo. 6 o povo que +a! comércio# que vai de uma cidade para outra# que rompe com os estreitos limites do mundo antigo e# por intermédio das viagens e dos viajantes# a%re novos &ori!ontes e inaugura novos valores e novas virtudes. $ polis n(o é mais a cidade isolada# com sua constitui-(o própria e suas virtudes tradicionais# ela se desco%re como uma cidade entre muitas outras. Surge a uma novidade# surge a a necessidade intelectual e poltica de rediscutir e de rede+inir o que é a virtude# o que é o :em# o que é o )al. N(o é mais lquido e certo que uma determinada maneira de agir seja virtuosa apenas por ser oriunda da tradi-(o. $ +or-a da inércia# que a tradi-(o possui# n(o serve mais como +onte 'nica de legitima-(o das virtudes. $o surgirem novos &ori!ontes# surgem novas quest,es so%re o que é :em e o que é )al. $ virtude tem que ser rediscutida e rede+inida. $+inal# o que é virtude? O que é o certo? O que est* moralmente errado? Eis as perguntas que os novos tempos colocavam# eis as quest,es que se impun&am. $s primeiras respostas +oram dadas pelos so+istas. Os so+istas +oram# em sua época# importantssimos pensadores. Prot*goras# Górgias e Pródico +oram &omens de seu tempo que procuraram pensar criticamente os pro%lemas de seu tempo. $ grande caracterstica 8 positiva 8 dos so+istas +oi a ela%ora-(o ulterior do jogo dos opostos como uma maneira metódica de pensar e de agir< surge a# mais e mais ntida# a Dialética. O jogo dos opostos# transportado para a trama das rela-,es sociais# signi+ica que cada &omem é apenas um pólo da oposi-(o. Para entender um pólo# para sa%er o que um pólo em realidade é e o que ele signi+ica# é preciso sempre pensar esse primeiro pólo em sua rela-(o de oposi-(o ao segundo pólo. Pois# em se tratando do jogo de opostos# cada pólo só pode ser entendido# em si# se e enquanto +or pensado em rela-(o a seu pólo oposto. ;ada &omem# em suas rela-,es sociais# é apenas um pólo# uma parte. Para entender esse primeiro &omem# é preciso v/2lo em sua rela-(o de oposi-(o para com o outro &omem# que é o seu contr*rio. $ 6'lesis só se entende %em se a pensamos em rela-(o = anti6'lesis< mais ainda# am%os os pólos contr*rios só podem ser entendidos correta e plenamente quando conciliados na unidade maior e mais alta# na 6il'a# na qual am%os est(o superados e guardados. $s rela-,es &umanas s(o# assim# analisadas = lu! do jogo dos opostos. 4sso é v*lido especialmente em dois campos das rela-,es &umanas> no Direito e na Poltica. No Direito# o jogo dos opostos se encarna como uma das mais antigas e mais importantes regras de toda e qualquer justi-a> &ea ouvida sepre ta- a outra parte# Audiatur et altera pars. O &omem que procura justi-a diante de um tri%unal é sempre uma parte. Ele é apenas uma 'nica parte de um todo maior. 6 preciso sempre# para que possa ser +eita justi-a# ouvir a outra parte. Esta outra parte# o outro pólo no jogo dos opostos# nem sempre precisa ter ra!(o. Pode ser que só a primeira parte ten&a ra!(o# pode ser que só a outra parte ten&a ra!(o# pode ser que am%as as partes ten&am alguma ra!(o# ou seja# que am%as estejam parcialmente certas e parcialmente erradas. Em todo caso# sempre# para que &aja justi-a# é preciso ouvir tam%ém a outra parte. $ primeira parte# o primeiro pólo da oposi-(o# é sempre apenas Tparte no sentido literal# um peda-o de um todo maior. $ justi-a e"ige que a ra!(o de cada parte seja medida e avaliada no conte"to maior da posi-(o sintética# isto é# daquele todo maior e mais no%re dentro do qual cada parte é apenas um peda-o# um elemento constitutivo de uma unidade maior. E"atamente isso e somente isso é justi-a. Fusti-a# pois# o que c&amamos de Direito# é o e"erccio constante e sistem*tico do jogo dos opostos. 3am%ém o Direito Penal é< neste uma das partes é sempre o povo. $té &oje os processos penais nos pases de tradi-(o anglo2sa"( cont/m a men-(o do Tpovo versus $. Smit& HTt&e people against $. Smit&I. 6 por isso que até &oje os juristas +alam da necessidade do Tcontraditório. O termo Tcontraditório signi+ica aqui o conte"to dialético que nos vem desde a $ntig5idade# o preceito de ouvir a outra parte# pois justi-a é sempre o processo de +orma-(o da sntese# jamais a tese ou a anttese isoladas# uma sem a outra. $ parte# no sistema de Direito# é sempre parte# um peda-o que e"ige a sua contraparte# o seu oposto# para que se esta%ele-a justi-a. $té &oje. Os juristas &oje muitas ve!es n(o se d(o conta disso> eles s(o dialéticos# todos nós somos dialéticos. 3(o importante quanto no Direito é a +un-(o do jogo dos opostos na Poltica# especialmente nas assem%léias de cidad(os# que se constituem em democracia. $ntes que surja a decis(o por consenso poltico# &* discuss(o e de%ate. Nestes costuma &aver uma polari!a-(o# =s ve!es uma ruptura. $ opini(o e a vontade de um grupo de cidad(os divergem da opini(o e da vontade de outro grupo de cidad(os. ormam2se# assim# dois grupos com opini,es e vontades diversas. $ unidade se que%ra em duas partes# e surgem a os partidos polticos. O partido poltico só se entende e só se justi+ica se e enquanto contraposto a seu partido oposto. $m%os os grupos precisam de%ater e dialogar# pois a identidade de cada um deles é determinada pela identidade do outro. $ssim se +a! Poltica. Pode ser que um grupo ten&a cem por cento de ra!(o e consiga convencer o outro grupo disso< pode tam%ém ser que cada grupo ten&a ra!(o apenas parcialmente e que# &avendo concess,es de parte a parte# se +orme a vontade geral. $ vontade geral é a aquela unidade mais alta e mais no%re# a posi-(o sintética# na qual e somente na qual os partidos# que s(o apenas peda-os# adquirem sentido e t/m justi+ica-(o. Por outro lado# v/2se# de imediato# que Poltica só e"iste quando &* dois partidos. Em Poltica# partido 'nico é um mostrengo< isso vale tanto para os regimes despóticos dos antigos gregos como para os totalitarismos do século @@. )ais uma ve! temos aqui o vel&o jogo dos opostos. Osso+istas n(o +oram os inventores do Direito e da Poltica# por certo# mas +oram os primeiros +ilóso+os# em nossa cultura# que pensaram teoricamente o jogo dos opostos como elemento constitutivo e essencial das rela-,es sociais. Esse mérito tem que l&es ser dado. Nisso eles acertaram. ora disso# cometeram alguns erros graves e +i!eram %o%agens que a 0istória até &oje n(o l&es perdoa. $té &oje os so+istas t/m m* +ama# e a palavra Tso+isma tem conota-(o altamente negativa. 4sso porque cometeram um grande erro teórico# que &oje podemos temati!ar com precis(o> em ve! de di!er que tanto a tese como a anttese s(o +alsas e que a sntese e só a sntese é a verdade inteira# os so+istas algumas ve!es inverteram os sinais e disseram que tanto tese como anttese s(o# por igual# verdadeiras. Esquemati!emos. $ dialética verdadeira e correta a+irma que cada parte é apenas parte# ou seja# que tanto tese como anttese s(o +alsas porque parciais. Os so+istas =s ve!es di!em> tanto tese quanto anttese s(o# por igual# verdadeiras. $s conseq5/ncias desse erro lógico s(o incrveis e politicamente pesadssimas. Pois# se tanto tese como anttese s(o verdadeiras# pode2se de+ender tanto uma como outra. Os so+istas# agora no mau sentido da palavra# passaram ent(o a de+ender tanto uma parte como outra# como se am%as tivessem ra!(o. Fusti-a ent(o dei"a de e"istir. O senso do direito e do correto vai para o ar# e instala2se a mentalidade so+stica de que qualquer posi-(o é %oa# desde que se possua desenvoltura ver%al para argumentar. Os so+istas# no mau sentido# de+endem qualquer pessoa# qualquer parte# qualquer partido como se +osse# ele so!in&o# a verdade total. E agora ainda pior> os so+istas o +a!em porque s(o pagos para isso# porque e"igem e rece%em pagamento. O pagamento em din&eiro# e"igido e aceito para que um partido# uma parte# seja apresentado como se +osse o todo# eis o grande erro e a grande culpa dos so+istas. Sócrates# Plat(o# $ristóteles# ninguém jamais os perdoou. ;om ra!(o. Depois de resgatar e reinventar a dialética# dela se a+astam. Esqueceram que parte é sempre e somente parte# parte essa que só com a contraparte correspondente +orma um todo maior. O jogo dos opostos# quando desvirtuado e invertido# de ótimo que era trans+orma2se em péssimo. *( S0crates7 o 8ltimo dos sofistas Sócrates é# muitas ve!es# c&amado de 'ltimo dos so+istas. Est* certo# se entendemos o termo Tso+ista em sua conota-(o positiva. Sócrates +oi o grande pensador da Dialética# o grande de+ensor# nos assuntos morais e polticos# do jogo de opostos que se completam e se unem para constituir um todo maior. Sócrates é a grande vo! que# em $tenas# se levanta para criticar o desvirtuamento que os so+istas +i!eram com a Dialética. N(o é possvel de+ender tanto a tese como tam%ém a anttese# como se am%as +ossem verdadeiras. N(o é isso# é e"atamente o contr*rio. $m%as as posi-,es s(o +alsas. Aerdadeira é apenas a sntese que de am%as se engendra. $ virtude# pois# n(o consiste em de+ender uma tese 8 ou uma anttese 8# como se esta +osse a verdade toda inteira# e sim# pelo contr*rio# em desmascarar tanto tese como anttese como sendo erradas# isto é 8 o que é o mesmo 8# como sendo apenas elementos parciais de um todo maior. Só o todo maior# só a sntese é que é verdadeira. Os so+istas argumentavam# =s ve!es# a +avor da tese< =s ve!es# a +avor da anttese. Em muitos casos concretos# na vida poltica# o mesmo so+ista# pago por um grupo# argumentava primeiro a +avor da verdade da tese# e depois# pago pelo outro grupo# a +avor da verdade da anttese. E# em seguida# com o din&eiro em%olsado# ia em%ora# dei"ando os cidad(os entregues = perple"idade e = contradi-(o. 6 contra isso que se levanta a vo! de Sócrates. O jogo dos opostos tem que ser reali!ado corretamente. $ parte é somente parte# ela n(o é o todo. Ou seja# é preciso argumentar primeiro mostrando a +alsidade# isto é# a parcialidade da tese# depois mostrando a +alsidade da anttese# que tam%ém é parcial# para que ent(o possa surgir# na concilia-(o de am%as# a verdade do todo maior e mais alto. Sócrates é um pensador da )oral e da Poltica. ;omo os so+istas# ele se ocupa do jogo dos opostos nas rela-,es sociais# mas# em oposi-(o aos so+istas# ele resta%elece a +orma e a estrutura correta do jogo de opostos. N(o é verdade que tanto tese como anttese sejam verdadeiras< o certo é que geralmente am%as s(o parciais e por isso +alsas. 6 por isso que se deve sempre ouvir tam%ém a outra parte. Só assim se desco%re e se engendra a verdade. Sa%er ouvir a outra parte signi+ica# na vida pr*tica# esta%elecer um di*logo# di*logo de pessoa com pessoa. 4sso# di! Sócrates# é +a!er Poltica numa cidade de cidad(os racionais e livres. )ais ainda# só assim se adquire con&ecimento verdadeiro e se desco%re qual das antigas virtudes n(o é apenas tradi-(o %o%a e sim atitude moralmente correta# ou seja# virtude moral. iloso+ar para Sócrates é sa%er enta%ular di*logos. Para Sócrates# a virtude# sempre +ruto do jogo entre tese e anttese# se encontra apenas através do di*logo real que se +a! nas esquinas e na pra-a p'%lica. Sócrates ouve# Sócrates pergunta# Sócrates responde. Sócrates perscruta a vo! interior da consci/ncia# que ele# personi+icando2a# c&ama de daion# o %om demKnio# o %om esprito. Sócrates n(o escreve. N(o temos dele nem um 'nico escrito. Pois# se o importante é dialogar concretamente# di*logo de pessoa com pessoa# para que escrever? 1uando Plat(o# discpulo e seguidor de Sócrates# ensina e escreve na $cademia# continua valendo a regra de que a +orma liter*ria de tratar de assuntos +ilosó+icos# mesmo quando se escreve# é sempre o di*logo. Da os Di*logos de Plat(o. Sócrates# o &omem do di*logo ético e poltico# +oi# como sa%emos# condenado = morte por seus concidad(os. Ele teria# com seus di*logos# cometido grave crime contra os deuses da cidade de $tenas e atentado contra os %ons costumes# pervertendo a juventude. O grande pensador do TSei que n(o sei nada# o grande mestre do di*logo na 6tica e na Poltica# morre dialogando. O di*logo T$ $pologia de Sócrates# em que Plat(o relata os acontecimentos e as idéias que cercam a condena-(o e a morte de Sócrates# constitui2se numa das o%ras2primas de nossa civili!a-(o. $ I&$ D2 C29E!62 (% Platão e o :o)o dos opostos No jogo dos opostos# mesmo quando o esquema lógico é transposto para o plano das rela-,es sociais# podem acontecer tr/s coisas. Primeiro# pode ser que o primeiro pólo seja verdadeiro< a o segundo pólo é +also e tem que ser a%andonado. Segundo# pode ser que o segundo pólo seja o verdadeiro# e a é o primeiro que tem que ser a%andonado. )as pode ser tam%ém que am%os os pólos sejam +alsos# e a &* que se desco%rir# de parte a parte# as verdades apenas parciais contidas nos pólos opostos# para# unindo2as e conciliando2as# engendrar a unidade verdadeira de uma sntese mais alta. 8 N(o ocorre nunca# pois é logicamente impossvel que am%os os pólos sejam verdadeiros# que tanto a tese como a anttese sejam verdadeiras. Este é o erro lógico em que os so+istas incorreram# este o +undamento lógico2sistem*tico dos erros morais e polticos que cometeram. O jogo dos opostos em Plat(o é levado = per+ei-(o. Per+eito é aquilo que é +eito até o +im# aquilo que +ica completo e aca%ado# em que nada +alta e nada est* so%rando. Per+ei-(o é aquilo para o que Plat(o nos aponta# quando +a! iloso+ia. Nunca antes dele# nunca depois# o &omem apontou para t(o alto. 8 ;omo assim? N(o é e"atamente o contr*rio? Pois todo o mundo sa%e que Plat(o é um +ilóso+o de apor'as# isto é# de %ecos sem sada. Plat(o# em seus di*logos# es%o-a a tese# traceja a anttese# mas sntese que seja %oa ele quase nunca ela%ora. ;omo ent(o c&amar Plat(o de pensador sintético# que leva o jogo dos opostos = per+ei-(o# se ele nunca# ou quase nunca# aponta para a sntese? Sem sntese a Dialética se desarticula# e tese e anttese +icam uma contra a outra# am%as negativas e cientes de sua +alsidade# sem que jamais se c&egue a uma conclus(o. 4ssoj* sa%emos e j* vimos através do erro cometido pelos so+istas. E n(o é verdade que os di*logos de Plat(o s(o quase sempre aporéticos# sem sntese +inal? 6 pura verdade. 0* em Plat(o duas doutrinas que se complementam e se completam. $ doutrina e"otérica e a doutrina esotérica. $ doutrina e"otérica 8 o pre+i"o Te" est* a indicar 8 destina2se ao uso das pessoas de +ora# ela é +eita e e"plicada para os principiantes e para os que# vindos de +ora# sem os pressupostos necess*rios# ainda n(o est(o em condi-,es de entender o n'cleo duro da doutrina. $ doutrina e"otérica é mais +*cil# é mais did*tica# é mais introdutória. Nela o jogo dos opostos realmente +ica quase sempre em a%erto# sem uma sntese +inal. Plat(o a levanta uma tese< ele a discute# de%ate# e"amina por v*rios lados e# +inalmente# a re+uta. $ tese é sempre demonstrada como +alsa. Ent(o é levantada a anttese# que tam%ém é e"aminada e de%atida# sendo# no +im# invariavelmente re+utada. icamos# ent(o# com uma tese +alsa e uma anttese igualmente +alsa# am%as imprest*veis# nas m(os. 4sso é a apor'a# isso é o %eco sem sada. Os di*logos de Plat(o# quase todos 8 e"cetuam2se alguns di*logos da vel&ice 8 s(o aporéticos# isto é# desem%ocam num %eco sem sada. $ Dialética# o jogo dos opostos# a n(o é levada a termo. alta sempre a sntese# como# ali*s# entre os contemporneos da Escola de ranW+urt> a Dialética a é uma dialética negativa# uma dialética sem sntese. )as isso# diremos# n(o é %oa dialética. ;erto. E Plat(o# discpulo do +ilóso+o &eraclitiano ;r*tilo# %em como de Sócrates# sa%ia muito %em disso. ;omo sa%ia tam%ém que a Dialética n(o se +a! por um passe de m*gica# num instante# com um piscar de ol&os# e sim num longo# sério# tra%al&oso# muitas ve!es doloroso processo de supera-(o das contradi-,es e"istentes entre tese e anttese. Dialética é educa-(o e# como esta# se reali!a num processo lento de aprendi!ado e de matura-(o. $ crian-a n(o se +a! &omem num dia# a *rvore n(o cresce numa semana# assim tam%ém a Dialética requer tempo# es+or-o e tra%al&o. Os opostos t/m que ser tra%al&ados seriamente< se n(o o +orem# a sntese ser* c&oc&a e va!ia. 6 por isso que# para os principiantes e para os de +ora# a Dialética n(o é e"posta e e"plicada de imediato em sua completude# ela aparece so% a +orma de doutrina e"otérica. Na doutrina e"otérica# os contr*rios s(o levantados# em toda a sua seriedade# um re+utando o seu oposto# mas# no +inal# Plat(o dei"a seus ouvintes e seus leitores em suspenso. 7ealmente n(o &* a sntese e"pressamente +ormulada# dita ou escrita# é preciso que o próprio leitor# so!in&o# procure acertar as pe-as do que%ra2ca%e-a# é preciso que ele mesmo tente e e"perimente juntar as pe-as# assumindo o risco intelectual da tare+a. 6 preciso que essa massa meio in+orme de oposi-,es contr*rias sem sntese# de opostos sem concilia-(o# +ique um %om tempo +ermentando para que# ent(o# da surjam as grandes idéias sintéticas. Essas grandes snteses# quando %rotam e emergem# constituem ent(o a doutrina esotérica# a doutrina que os iniciados discutem entre eles# a doutrina que os principiantes n(o conseguem captar nem entender. Pois as snteses +inais s(o t(o simples e t(o luminosas# que quem as %usca diretamente# sem antes passar pelo longo processo de matura-(o dos pólos opostos# +ica o+uscado e n(o en"erga mais nada. 6 como o ol&o a ol&ar diretamente para o sol. O iniciante# se ol&ar direto para as grandes snteses da doutrina esotérica# +ica t(o o+uscado# que pensa n(o estar vendo a%solutamente nada. Por isso é que o tra%al&o penoso de jogar com os contr*rios tem que ser reali!ado previamente. 6 por isso que a doutrina de Plat(o# para o iniciante# parece ser um sistema de iloso+ia dualista# um jogo de opostos em que os opostos nunca se uni+icam. 1uem só ouve e só estuda a doutrina e"otérica# sem jamais c&egar = sntese +inal da doutrina esotérica# +ica pensando que Plat(o considera o mundo das idéias e o mundo das coisas como duas es+eras de ser e"istentes uma ao lado da outra# uma +ora da outra# uma em oposi-(o = outra. O mundo das coisas e o mundo das idéias s(o# a# dois pólos opostos# um contra o outro# sem que entre am%os &aja 8 = primeira vista 8 verdadeira concilia-(o. 0* em Plat(o per+eita concilia-(o# só que ela só vai aparecer# com clare!a e plenitude# na doutrina esotérica# na assim c&amada Doutrina N(o2Escrita. $ doutrina e"otérica é# assim# uma iloso+ia estritamente dualista# em que os pólos opostos nunca se conciliam plenamente. )undo material# por um lado# e mundo espiritual das idéias# por outro# se op,em como pólos contr*rios e e"cludentes. )atéria e esprito a jamais se uni+icam na devida &armonia. O esprito se op,e = matéria# as idéias se op,em =s coisas. O dualismo duro# os opostos sem concilia-(o sintética# a Dialética sem sntese# eis o ei"o intelectual da doutrina e"otérica. )uitos autores# quando +alam de Plat(o# só estudam e só mencionam essa doutrina e"otérica. Esta é apenas uma primeira apro"ima-(o na escalada que leva ao sa%er +ilosó+ico# mas muitas ve!es é tomada 8 erroneamente 8 como sendo a iloso+ia de Plat(o. Plat(o é violentamente desvirtuado. $o invés de ser compreendido como o pensador da Grande Sntese# ele é pensado como um novo so+ista que pega os pólos opostos sem os uni+icar e sem os conciliar# dei"ando2os como dois princpios opostos# con+litantes# irredutveis. 4sso desde a $ntig5idade se c&ama tra%al&ar por dicotoias. ;ortar em dois# construir os pólos opostos# ati-ar um contra o outro# dei"ar um destruir o outro# ou mel&or# dei"ar que am%os os pólos girem um em torno do outro# como dois guerreiros em luta mortal# eis a Dialética sem sntese. O Plat(o de verdade é um pensador da Grande Sntese# da Dialética em seu sentido pleno de uni+ica-(o e de concilia-(o dos opostos. )as o Plat(o que geralmente se estuda nos livros e 8 muito grave isso 8 o Plat(o de parte grande da tradi-(o acad/mica é apenas o Plat(o da doutrina e"otérica# o Plat(o dos opostos sem sntese# o Plat(o dualista. E isso é# ent(o# um desastre intelectual# pois vai gerar dicotomias em que os pólos opostos jamais s(o reuni+icados. Pólos opostos# numa Dialética plena e levada = sua devida sntese# s(o ótimos# pois s(o momentos que apontam e condu!em para mais adiante. Numa Dialética negativa# sem sntese# os pólos dicotKmicos tornam2se pro%lemas sem solu-(o. 9amentavelmente# em nossa tradi-(o +ilosó+ica# isso ocorreu muitas ve!es. O mundo das coisas e o mundo das idéias# matéria e esprito# a grande oposi-(o de dois pólos que deveriam ser uni+icados e conciliados# trans+ormam2se num pro%lema dicotKmico sem solu-(o# que passam pelos +ilóso+os posteriores e entram em nossa cultura e em nossa educa-(o# dei"ando um rastro de erros teóricos e de graves de+orma-,es éticas. Pensemos na idéia errada 8 atri%uda a Plat(o 8 que entrou em nossa tradi-(o crist( de que o esprito é %om# a carne# porém# e principalmente o se"o# um mal moral. $ doutrina agostiniana# que depois é assimilada pela esmagadora maioria dos pensadores crist(os e que vem até nosso século# di! que a concupisc/ncia# o desejo se"ual# o que &oje c&amaramos de tes(o# é um mal em si# que nisso consiste o próprio pecado srcinal. E# sendo pecado# é sempre algo moralmente negativo# algo que é uma culpa# algo de que devemos nos envergon&ar. Eis aqui# num e"emplo %em concreto# como um mal2entendido aparentemente pequeno no come-o leva a erros de grande gravidade no +im. 1uando a Doutrina E"otérica é tomada como se +osse a Doutrina Esotérica# quando a Dialética negativa é tomada como se +osse a legtima Dialética# a Dialética da Grande Sntese# a ocorrem desastres intelectuais e culturais de grandes dimens,es. O desejo se"ual# ent(o# vira pecado# o corpo é re%ai"ado# o &omem perde a unidade sintética# que é de corpo e alma# para trans+ormar2se num ser completamente ridculo. O &omem nessa dialética sem sntese vira uma caricatura# vira um anjo a cavalgar um porco. 6 nisso que d* quando n(o se +a! a sntese devida. 6 por isso que devemosestudar com aten-(o esse primeiro %inKmio da +iloso+ia platKnica# o mundo das idéias e o mundo das coisas# e"aminando2o cuidadosamente pelos dois lados. Primeiro como dois pólos opostos que aparentemente se e"cluem# depois como dois elementos que se uni+icam# se +undem e assim se trans+ormam numa unidade mais no%re e mais alta. Nós &omens n(o somos anjos montados em porcos nem centauros# e sim &omens# uma unidade sintética# dentro da qual os pólos primeiramente opostos# corpo e alma# desaparecem enquanto opostos e se trans+ormam em uma nova# per+eita e aca%ada realidade. (* $ mundo das idéias e o mundo das coisas Os so+istas argumentavam a +avor dos dois pólos# de+endendo indistintamente tanto um como o outro# muitas ve!es argumentando a +avor dos dois> arguentari in utraue parte. Sócrates# o 'ltimo dos so+istas# nos ensina que assim n(o d*> dois pólos contr*rios n(o podem ser simultaneamente verdadeiros. Sócrates nos ensina a perguntar e a encontrar as respostas# a desco%rir a sntese entre tese e anttese. Essa sntese n(o consiste na +or-a do mais +orte# como di!ia o so+ista Górgias# e sim na virtude. O que é virtude? Sócrates di!ia que n(o sa%ia e mandava dialogar. Este ainda é o tema central e o grande pro%lema de Plat(o. $+inal# o que é virtude? Se n(o é a +or-a %ruta do pólo mais +orte que decide tudo# ent(o em que consiste a virtude? $ resposta a esta quest(o é o come-o de toda a +iloso+ia de Plat(o> virtude é aquilo que deve ser. O mundo que de +ato e"iste# como ele est* a +rente a nossos ol&os# nem sempre coincide com aquilo que deve ser. O Dever2Ser é o ideal a ser atingido# o Dever2Ser é a idéia. Nasce assim a idéia platKnica. $ condena-(o 8 injusta 8 e a morte de Sócrates mostraram com clare!a a Plat(o que o )undo21ue2De2 ato26 nem sempre coincide com o )undo24deal21ue2Deve2Ser. Os so+istas pensavam que a virtude# o Dever2Ser# era algo +lutuante# algo relativo# algo que variava de situa-(o para situa-(o# e que n(o &avia princpios v*lidos para todos os casos. Plat(o n(o aceita um tal relativismo. 0* princpios éticos que valem sempre e para todos# e estes princpios s(o universalmente v*lidos porque eles# antes mesmo de serem adotados pelos &omens em suas comunidades polticas# s(o princpios gerais da ordem do mundo. O universo é um cosmos< 7%sos signi+ica aquilo que é ordenado. Plat(o ela%ora uma +iloso+ia pr*tica# a 6tica e a Poltica# %aseando2se em princpios que o &omem tem que adotar porque s(o princpios de ordem de todo o universo cósmico. $ 6tica de Plat(o se %aseia numa Ontologia# numa doutrina so%re o ser em geral# numa doutrina so%re a ordem do Universo. ;omo podemos sa%er que uma determinada regra n(o é apenas uma inven-(o de algum governante tirnico ou# n(o t(o mau assim# uma mera conven-(o construda pelos &omens? ;onven-,es# mesmo quando %oas e 'teis# s(o contingentes# isto é# podem ser assim# mas podem ser di+erentes. ;omo sa%er que uma determinada regra ou determinado princpio é# mais do que uma mera conven-(o# uma regra inquestion*vel# uma regra que n(o pode ser negada# que n(o pode ser mudada ou trans+ormada# que é assim e tem que ser assim# agora e para todo o sempre# em todos os lugares do mundo? 6 possvel encontrar e tra!er = lu! tais princpios +undamentais da ordem do Universo? Plat(o sorri e mostra que sim. No Di*logo )enon# um escravo anal+a%eto é tra!ido = presen-a de Sócrates# que discutia com amigos so%re a e"ist/ncia ou n(o2e"ist/ncia de princpios gerais do ser do Universo e de todo con&ecer. $lguns duvidavam de que se pudesse desco%rir e ela%orar tais princpios. $+inal# onde estariam inscritos tais princpios? Onde# em que livro# em que monumento estariam eles escritos? Sócrates# sempre o personagem central de Plat(o# responde> Os primeiros princpios est(o inscritos no mago do ser e por isso tam%ém no mago de nossa alma. 1uerem ver? Esse escravo nunca estudou nada# n(o sa%e ler# n(o sa%e escrever e nunca estudou Geometria. Se ele nunca estudou Geometria# n(o con&ece o teorema de Pit*goras. Pois %em# vou dialogar com ele# vou +a!er perguntas 8 só perguntas 8 e dei"ar que responda. E Sócrates come-a# ent(o# a perguntar# docemente# desen&ando na areia do c&(o e +ormando as +iguras. TE se tra-o esta lin&a aqui# o que ocorre? E se ali tra-o mais esta outra? E assim# passo a passo# Sócrates sempre só perguntando# o escravo vai avan-ando# vai desco%rindo os ne"os e consegue +ormular o grande teorema da Geometria. ;omo é que o escravo conseguiu? ;omo é que ele sa%e? Plat(o responde> Ele j* sa%ia# desde sempre ele j* sa%ia# ele precisava somente recordar o que j* sa%ia e tin&a apenas esquecido. Esse con&ecimento estava inato# estava dentro da alma do escravo. E estava l* dentro porque é um princpio que est* dentro de cada ser# de cada coisa# porque é um princpio da própria ordem do Universo. Esses princpios de ordem do Universo# nsitos em cada coisa# s(o universalmente v*lidos e est(o sempre presentes. Eles organi!am o Universo de dentro para +ora# s(o eles que +a!em com que as coisas do mundo n(o sejam uma massa desordenada e caótica de eventos# e sim um Universo cósmico# ou seja# %em ordenado. $ 4déia# di! Plat(o# que pela ontologia da participa-(o e"iste no mago de cada coisa# é o princpio de ordem que a determina e que comanda seu desenvolvimento. No ovo de um pato &* um tal princpio de ordem# que +a! com que daquele ovo se desenvolvam sempre patos. Do ovo de galin&a sai sempre galin&a. E assim com todas as coisas. Esse princpio +ormador de cada coisa Plat(o c&ama de T+orma. $ orma determina o que a coisa é e como ela vai desenvolver2se. Os muitos patos que e"istem t/m# todos eles# a mesma +orma de ser pato. $s muitas galin&as possuem todas a +orma galin*cea. Uma 'nica +orma# um 'nico desen&o %*sico que é reali!ado em diversos indivduos. $ orma é como que o desen&o +eito pelo projetista< uma coisa é o projeto de um motor# o desen&o %*sico# outra coisa s(o os mil&ares de motores individuais que s(o +eitos de acordo com o projeto. 3emos a# de um lado# a pluralidade dos indivduos que e"istem no mundo das coisas e# de outro lado# a unidade da orma. ;ada coisa tem sua +orma determinada e espec+ica. Pato é pato# galin&a é galin&a e &omem é &omem. Surge ent(o a pergunta> onde est(o as ormas? Onde e"istem as ormas? Onde podemos v/2las? Se as ormas s(o t(o importantes# se elas s(o as +or-as +ormadoras do mundo# onde encontr*2las? ;omo con&ec/2las? ;omo sa%er que o que estou con&ecendo é uma verdadeira orma e n(o uma ilus(o? Plat(o responde aqui# na doutrina e"otérica para principiantes# com um )ito. ( $ ito da Estrela $s ormas e"istem desde sempre# pois s(o elas as +or-as ordenadoras da ordem do cosmos. $ntes do cosmos e"istir# portanto# elas j* e"istem e valem. 6 por isso tam%ém que possuem valide! universal. $s coisas ordenadas do universo cósmico v/m depois. Primeiro# antes de e"istirem as coisas# antes que as coisas de nosso mundo ten&am come-ado a e"istir# j* e"istiam as ormas. Este nosso cosmos n(o é regido e determinado por elas? 9ogo# elas e"istem j* antes. Elas +ormam um mundo inteiro que consiste só de +ormas. Este mundo Plat(o c&ama de )undo das 4déias e o locali!a numa estrela +ictcia. Nesse )undo das 4déias# que e"iste desde sempre na Estrela# separado do )undo das ;oisas# e"istem tam%ém as almas individuais de todos os &omens que v(o nascer. $s almas v/em as 4déias +ace a +ace e sa%em# portanto# as determina-,es espec+icas de cada coisa# elas sa%em tudo de tudo. 1uando aqui no )undo das ;oisas nasce o &omem# a alma dele# que j* e"istia desde sempre na Estrela# no )undo das 4déias# é jogada no c*rcere do corpo. Esse violento deslocamento +a! que a alma se esque-a de tudo ou de quase tudo que ela &avia visto na Estrela. )as quando o &omem se desenvolve e cresce# ao encontrar2se com as coisas do mundo# ao es%arrar nelas# ele se lem%ra da 4déia que viu na Estrela durante a pree"ist/ncia de sua alma e# relem%rando# con&ece. ;on&ecer é sempre uma relem%ran-a# umaanánesis# con&ecer é lem%rar2se da 4déia Universal de uma coisa e a# diante da coisa individual# di!er> $&a# isto é um &omem# isto est* reali!ando a +orma de &omem# aquilo é um pato# naquilo est* se concreti!ando a +orma do pato. 4sso e"plica por que as idéias s(o sempre universais# em%ora as coisas sejam sempre individuais. $s idéias s(o de outro mundo. E nossa linguagem# coisa estran&ssima# di! o individual sempre de maneira universal. Porque os nomes# na linguagem# representam +ormas e as +ormas s(o sempre universais. Em%ora estejamos vivendo neste mundo de coisas individuais# nossa linguagem# o logos# possui car*ter de idéia universal. 3emos a uma %elssima e"plica-(o do mundo. $s coisas do mundo s(o aquilo que s(o# s(o determinadas assim e n(o de outra maneira# porque elas participam da orma srcinal que e"iste na Estrela# no )undo das 4déias. Esta é a Ontologia de Participa-(o. ;omo o motor individual participa do projeto desen&ado de motor ideal# assim as coisas participam de uma determinada idéia e por isso s(o assim como s(o. Em cima dessa Ontologia# isto é# dessa Doutrina do Ser# Plat(o +undamenta# ent(o# sua 3eoria do ;on&ecimento. ;on&ecer é o ato pelo qual a alma agora relem%ra aquilo que j* tin&a visto antes# durante a pree"ist/ncia na Estrela# no )undo das 4déias. O con&ecimento é correto# e a ci/ncia é universalmente v*lida# di! Plat(o# porque se apóia em 4déias que s(o as ormas do Universo. )as como é que eu sei# quando es%arro numa coisa# que estou de +ato relem%rando a orma dela? N(o e"istem erros? 4lus,es? 6 claro que e"istem. 6 por isso que o +ilóso+o tem que dialogar# discutir# questionar e e"aminar cada quest(o# para ter certe!a de que encontrou e"atamente a 4déia da coisa. N(o menos e tam%ém n(o mais. E Plat(o a# sempre no )ito para Principiantes# em sua Doutrina E"otérica# pergunta> E"iste uma 4déia para cada coisa? 6 certo que e"ista a 4déia de 0omem# di! ele no Di*logo O &o6ista# e tam%ém a 4déia do :em# da Fusti-a. )as ser* que precisa &aver uma 4déia do 9odo? 9odo# uma coisa t(o simples e t(o %ai"a# precisa ter uma idéia que l&e seja própria? Plat(o dei"a a pergunta no ar. $+inal# tais perguntas n(o podem ser respondidas no m%ito do )ito da Estrela. 3ais quest,es só podem ser tra%al&adas satis+atoriamente na Doutrina Esotérica com aqueles que j* sa%em mais do que apenas os primeiros princpios. (1 $ ito da Ca;erna Encontramos no sétimo 9ivro da 7ep'%lica o mais importante e o mais con&ecido )ito de Plat(o> o )ito da ;averna. Em nen&uma outra imagem a doutrina de Plat(o é t(o %em representada. 4maginemos &omens que moram em uma caverna. Desde o nascimento eles est(o presos l* dentro# acorrentados pelos pés e pelo pesco-o# de maneira que os ol&os est(o sempre voltados para o +undo da caverna. Eles só conseguem en"ergar essa parede no +undo. $tr*s dos prisioneiros amarrados# =s costas deles# na entrada da caverna# &* um muro da altura apro"imada de um &omem. $tr*s desse muro andam &omens# para l* e para c*# carregando so%re os om%ros +iguras que se erguem acima do muro. )ais atr*s ainda# %em na entrada da caverna# &* uma grande +ogueira. $ +ogueira d* lu!# a lu! ilumina a cena e projeta as som%ras das +iguras por so%re o muro até a parede no +im da caverna. Os prisioneiros v/em apenas as som%ras projetadas pelas +iguras. Ouvem tam%ém ecos de vo!es 8 dos &omens que carregam as +iguras atr*s do muro 8 e pensam que esses ecos s(o as vo!es das próprias +iguras. O que os prisioneiros v/em é apenas esse jogo de som%ras e de ecos. Eles est(o acorrentados ali desde a nascen-a e pensam que o mundo é isso e t(o2somente isso. O mundo é isso mesmo# di!em# e apenas isso. 4maginemos agora que um dos prisioneiros consiga li%ertar2se de suas amarras. Aoltando2se para a entrada# ele de imediato v/ o muro e perce%e que as som%ras projetadas no +undo da caverna s(o apenas isso# a sa%er# som%ras. Perce%e tam%ém que as +iguras s(o apenas +iguras. Ele pula o muro e sai< a v/ os &omens que carregam as +iguras# ouve suas vo!es# v/ a +ogueira# v/ a entrada da caverna e# l* +ora# v/ a lu!. 1uando sai da caverna e tenta ol&ar para o sol# +ica o+uscado. Ele desce o ol&ar# %ai"a a ca%e-a# recomp,e2se. 1uando esse &omem volta = caverna# para li%ertar seus compan&eiros# ele sa%e. Sa%e que as som%ras s(o apenas som%ras. Ele sa%e que s(o# n(o apenas som%ras# mas som%ras de meros simulacros. $ realidade realmente real é a realidade da lu! e do sol# a realidade das coisas mesmas = lu! do sol. 3odo o resto s(o som%ras e ilus,es. O &omem# quando se li%erta das amarras que o mant/m preso# se desco%re livre e vidente# ele v/ ent(o a realidade que é realmente real# a luminosa realidade das 4déias. Ele nunca mais con+undir* a realidade com a som%ra do simulacro da realidade. 1uem viu a lu! sa%e. $ temos Plat(o de corpo inteiro. $ temos toda uma Ontologia da Participa-(o# uma 3eoria do ;on&ecimento# uma 6tica# uma Pedagogia# uma Poltica. )as a temos principalmente# e sempre de novo# o )ito que coloca os dois pólos opostos em sua contraposi-(o# um +ortemente contra o outro# sem nos condu!ir a uma posi-(o verdadeiramente sintética. $+inal# onde est* a concilia-(o uni+icadora entre o )undo das 4déias e o )undo das ;oisas? Entre orma universal e ;oisa individual? Entre orma necess*ria e ;oisa contingente? Plat(o n(o nos d* resposta nos )itos da Doutrina Esotérica. alta sempre a sntese. Esta só ser* apresentada e discutida# quando os principiantes tiverem amadurecido intelectualmente# quando os principiantes dei"arem de ser principiantes e trans+ormarem2se em iniciados. Para os iniciados# para estes sim# &* resposta. Plat(o pensava que essa doutrina# por ser t(o importante e t(o di+cil# n(o podia ser escrita. Da e"istir o di*logo 8 jamais escrito pelo próprio Plat(o# mas cuja e"ist/ncia est* muito %em documentada 8 &ore o e* em que é e"posta a Doutrina Esotérica. $ntes# porém# de voltarmo2nos para a Doutrina N(o2Escrita de Plat(o# vejamos# para poder +a!er o devido contraste# a concep-(o do mundo de $ristóteles. $ristóteles +oi por muitos anos discpulo de Plat(o# e# no entanto# ninguém criticou Plat(o t(o duramente# ninguém ela%orou um projeto +ilosó+ico t(o di+erente# ninguém é t(o pouco platKnico como ele. Depois de temati!ar a iloso+ia de $ristóteles# voltaremos# ent(o# = Doutrina Esotérica de Plat(o# = doutrina para os iniciados. 1 2 26#LISE D$ U6D$ 1(% Passa)em da Dialética para a 2nal.tica $té $ristóteles toda a iloso+ia tra%al&a com o jogo dos opostos. Os diversos pares de opostos s(o os elementos a partir dos quais se constroem as coisas. Plat(o# no di*logo O &o6ista* di! que a Dialética é o próprio método da iloso+ia. 1uem aprendeu a Dialética e sa%e +a!er o jogo dos opostos# pensa Plat(o# sa%e compor o grande mosaico do sentido da vida# sa%e +a!er a e"plica-(o do mundo# possui a Grande Sntese. $ristóteles# ao tra-ar para seus alunos e leitores um panorama sinóptico da 0istória da iloso+ia desde os +ilóso+os pré2socr*ticos até o dia dele# menciona sempre o jogo dos opostos como n'cleo metódico em torno do qual se estruturam as diversas opini,es. Ele mesmo# porém# a%andona o jogo dos opostos e envereda por um camin&o totalmente di+erente> a $naltica. $ $naltica# desco%erta e largamente ela%orada por $ristóteles# vai constituir2se num método e numa vis(o do mundo que in+luenciar(o de +orma decisiva nosso pensamento ocidental. 3udo o que pensamos e que somos vem de duas vertentes> a Dialética e a $naltica. De 0er*clito e Plat(o temos a vertente da Dialética. De Parm/nides e $ristóteles temos a $naltica. $m%as as correntes perpassam toda a 0istória da iloso+ia e toda a nossa cultura e nos acompan&am até &oje. O projeto platKnico passa# de m(o em m(o# por Plotino# Proclo e# em parte# por Santo $gostin&o na $ntig5idade< por Fo&annes Scotus Eri'gena# pela Escola de ;&artres e tantos outros pensadores neoplatKnicos na 4dade )édia< por Nicolaus ;usanus# icino# Giordano :runo na 7enascen-a< por Espinosa# Sc&elling# 0egel e Xarl )ar" na )odernidade.
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