Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ECONOMIA POLÍTICA Aline Krüger Dalcin Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as escolas clássica, marxista, keynesiana, neoclássica e atual de pensamento econômico. Comparar as diferentes correntes de pensamento econômico. Analisar as relações entre as correntes de pensamento econômico atuais e suas origens na história do pensamento econômico. Introdução O pensamento econômico vem evoluindo continuamente durante os sé- culos. No século XVIII, surgiu a escola clássica do pensamento econô mico, que marcou o nascimento da economia como uma ciência social. Por volta da segunda metade do século XIX, a escola marxista surgiu como uma crítica à escola clássica e sua falta de perspectiva histórica. A escola neoclássica também surgiu na segunda metade do século XIX, mas com o objetivo de redesenhar a teoria clássica e desenvolvê-la ainda mais. Já no século XX, a escola keynesiana despontou em resposta à Grande Depressão e sua falta de explicações pelas teorias anteriores. Neste capítulo, você vai aprender sobre as escolas clássica, marxista, neoclássica e keynesiana e vai visualizar comparações entre essas escolas. Por fim, você vai conhecer sobre as origens do pensamento econômico atual. História do pensamento econômico: escolas clássica, marxista, neoclássica e keynesiana O pensamento econômico existe desde a Idade Antiga e evoluiu continuamente durante os séculos. Entre 1500 e 1776, o mercantilismo, de Thomas Mun, Gerard Malynes, Charles Davenant, Jean Baptiste Colbert e Sir William Petty, foi a escola do pensamento econômico predominante na Europa. Entre 1756 e 1776, o mercantilismo dividiu espaço com a fi siocracia, de François Quesnay e Anne Robert Jacques Turgot, principalmente entre os pensadores franceses. Mas foi apenas a escola clássica (ou liberal) que marcou o nascimento da economia como uma ciência social (BRUE, 2006). A seguir, são brevemente descritas as escolas de pensamento econômico com grande destaque a partir da escola clássica. Escola clá ssica Duas revoluções infl uenciaram a formação da escola clássica: a Revolução Científi ca e a Revolução Industrial. A Revolução Científi ca do século XVII foi marcada por Isaac Newton e outros cientistas famosos, como Galileu Galilei e René Descartes, que confi avam na evidência experimental e na ideia de que o universo é governado por leis naturais. O nascimento da ciência mo- derna inspirou os economistas liberais a organizarem o conhecimento sobre o funcionamento da economia de forma semelhante aos modelos da física. O pensamento liberal e a Revolução Industrial se desenvolveram juntos, inicial- mente, na Inglaterra. As mudanças causadas por essa revolução infl uenciaram diversos pressupostos gerais da teoria liberal e teorias específi cas de alguns dos principais pensadores da escola (BRUE, 2006). Assim, em 1776, a publicação do livro A riqueza das nações, de Adam Smith, marcou a origem da teoria liberal, que dominou a economia até meados dos séculos XIX. Além de Adam Smith, outros nomes de pensadores clássicos foram Thomas Malthus, David Ricardo, Jeremy Bentham, Jean-Baptiste Say, Nassau William Senior e John Stuart Mill. De acordo com Brue (2006), os pressupostos da teoria liberal podem ser resumidos da seguinte forma: Leis econômicas: para os pensadores liberais, a economia era governada por leis universais e imutáveis. Em outras palavras, o comportamento geral da economia (como, por exemplo, o que determina a riqueza das nações) não dependia de condições históricas ou particularidades dos países em questão. Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica2 Comportamento econômico de autointeresse: de acordo com os pensa- dores liberais, é da natureza humana ter comportamento de autointeresse. Em outras palavras, os produtores e os mercadores forneciam bens e serviços em busca de lucros, os trabalhadores ofereciam sua mão de obra em busca de salários e os consumidores compravam produtos em busca da satisfação de seus desejos. Harmonia de interesses: os pensadores liberais acreditavam que a busca do interesse individual produzia os maiores benefícios econômicos possíveis para a sociedade. Em outras palavras, quando os indivíduos buscavam atender a seus interesses próprios, eles também atendiam aos interesses da sociedade. A orientação das decisões autointeressadas para o bem comum da sociedade seria feita pela (“mão invisível” da) economia de mercado, cujo instrumento seria o sistema de preços. Interferência mínima do governo (laissez-faire): por causa da ideia da “mão invisível”, para os pensadores liberais, a economia funcionaria melhor sem a interferência direta do governo. O papel do governo deveria limitar-se à definição e defesa dos direitos de propriedade, ao fornecimento de defesa nacional, educação pública e outras obras públicas. Por causa do funcionamento do sistema de preços, a economia era vista como autoajustável e tendendo na direção do pleno emprego (desemprego involuntário zero), sem a necessidade de interferência do governo. Importância de todos os recursos e atividades econômicas: para os pensadores liberais, todos os recursos econômicos (isto é, terra, mão de obra, capital e habilidade empresarial) e todas as atividades econômi- cas (isto é, agricultura, comércio, produção e comércio internacional) contribuíam para a riqueza de uma nação. Escola marxista Karl Marx estudou os autores da economia política clássica e apontou como maior defi ciência a esses autores a falta de perspectiva histórica (HUNT, 2005). Então, por volta da metade do século XIX, Marx desenvolveu sua própria teoria, baseada no materialismo histórico. O materialismo histórico está relacionado com a concepção de desenvol- vimento histórico como processo de transformação ininterrupta de todos os aspectos da vida coletiva humana, cuja força motriz fundamental é a evolução dos modos de produção ou das condições materiais de produção (tecnologia, 3Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica tipos de capital, nível de habilidade da mão de obra). Os modos de produção são dinâmicos, isto é, estão em constante evolução, e são capazes de transformar os demais aspectos estáticos da vida humana (regras, relações sociais entre as pessoas, relações de propriedade) (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2009; BRUE, 2006). Assim, de acordo com essa perspectiva, as características das instituições e dos valores políticos em cada época e situação histórica são determinadas pelas várias fases da evolução do modo de produção. A sociedade europeia já havia passado por várias épocas históricas distintas, com modos de pro- dução distintos, como a sociedade escravista e a sociedade feudal. Naquele momento, estava organizada no sistema capitalista. Assim, o modelo liberal de Estado, relacionado com o modo de produção capitalista, estaria histo- ricamente destinado a ser superado com a passagem ao modo de produção socialista. Resumidamente, Marx via seis estágios da evolução da sociedade: (1) comunista primitiva; (2) escravista; (3) feudal; (4) capitalista; (5) socialista; (6) comunista (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2009; BRUE, 2006). Utilizando sua teoria, Marx procurou expor como ocorreria a queda do sistema capitalista. Segundo o autor, toda mercadoria possui valor de troca, que é igual ao tempo de trabalho necessário para sua produção, considerando as condições normais de produção, a competência média e a intensidade do trabalho no tempo. Para obter lucro, o capitalista compra a mercadoria que cria um valor maior do que seu próprio valor, isto é, a força de trabalho. O valor da força de trabalho é igual ao tempo de trabalho necessário para produzir as necessidades do trabalhador e sua família. A diferença entre o valor produzido pelo trabalhador e o valor de sua mão de obra é apropriado pelo empregador (mais-valia).O capitalismo leva ao acúmulo de capital, o que ocorre porque a empresa que se orienta para uma produção mais eficiente por meio do uso de mais e melhor capital recebe, temporariamente, lucros extras. A empresa que não acompanha essa mecanização não sobrevive devido à concorrência. Há substituição de mão de obra por capital, o que leva ao desemprego. Como a mão de obra é a fonte da mais-valia, a taxa de lucro cai. O investimento rápido em capital aumenta temporariamente a demanda e eleva os salários. Os salários mais altos, por sua vez, reduzem a taxa de lucro, levando a economia à crise. A crise destrói o valor monetário do capital fixo, fechando algumas empresas e permitindo que os capitalistas maiores adquiram todas as demais empresas menores que sobreviveram. Esse cenário produz centralização de capital, acúmulo de riqueza, desemprego e empobrecimento dos trabalhadores. Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica4 Miséria, opressão, escravidão, degradação e exploração aumentam a disposição dos trabalhadores em se ajudar e a se revoltar contra os capitalistas. Assim, a classe trabalhadora derruba o Estado capitalista e estabelece a própria ditadura do proletariado (BRUE, 2006). Escola neoclássica A escola neoclássica, de Alfred Marshall, destacou-se entre 1870 e a Primeira Guerra Mundial e buscou redesenhar a teoria econômica clássica a partir da teoria subjetiva do valor da utilidade marginal. Esse valor subjetivo está relacio- nado com a utilidade e a capacidade de satisfazer as necessidades humanas que cada bem possui. Mais especifi camente, os pensadores neoclássicos defendiam que o mecanismo de interação entre oferta e demanda era explicado por um critério psicológico como força reguladora da atividade econômica (isto é, a maximização do lucro pelos produtores e a maximização da utilidade pelos consumidores). O equilíbrio entre produção e consumo é resultado dessa busca pela maximização de lucro e de utilidade (BRUE, 2006). Os principais pressupostos da escola neoclássica estão, então, também presentes na escola clássica: os indivíduos agem em busca do autointeresse; a busca do interesse individual produz os maiores benefícios econômicos possíveis para a sociedade; a economia é autoajustável e tende ao equilíbrio; assim, as crises econômicas só acontecem como consequência de erros ou como acidente (BRUE, 2006). Além disso, a análise da escola neoclássica tem ênfase microeconômica; em outras palavras, ela está baseada no comportamento dos indivíduos e nas condições de um equilíbrio estático. Outra característica da análise neoclássica é a utilização da matemática para elaboração de modelos teóricos da realidade, os quais geram previsões a respeito do comportamento dos agentes no mundo real (BRUE, 2006). Escola keynesiana O keynesianismo surgiu em 1936, em resposta à Grande Depressão. Em 1936, a publicação da obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de John Maynard Keynes, marcou a origem da teoria keynesiana, que dominou a economia até meados das décadas de 1960 e 1970. 5Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica De acordo com Brue (2006), os pressupostos da teoria keynesiana podem ser resumidos da seguinte forma: Ênfase macroeconômica: os economistas keynesianos estavam mais interessados nos determinantes das quantias totais ou agregadas de consumo, poupança, renda, produção e emprego na economia (ma- croeconomia) do que em, por exemplo, como uma empresa individual decide sobre quantos pessoas empregar (microeconomia). Orientação pela demanda: os economistas keynesianos defendiam a demanda efetiva ou os gastos agregados (que consistem na soma dos gastos de consumo, de investimentos, do governo e da exportação líquida) como determinante da renda, da produção e do emprego na economia. As empresas produzem uma determinada quantidade que esperam vender. Porém, nem sempre os gastos agregados são suficientes para comprar todos esses bens e serviços produzidos. Nesse caso, há demissão de funcionários e diminuição da produção. Assim, a demanda efetiva estabelece o nível de produção na economia, o qual pode ser menor do que a produção potencial (o nível de produção em caso de pleno emprego). Instabilidade na economia: para os economistas keynesianos, a eco- nomia é instável. A economia é suscetível a flutuações econômicas devido, principalmente, à irregularidade dos gastos planejados com investimentos. Inflexibilidade nos salários e nos preços: os economistas keynesianos apontavam que os salários tendem a ser inflexivelmente decrescentes por causa de fatores institucionais como as negociações com sindicatos, as leis de salário mínimo, etc. Políticas fiscais e monetárias ativas: os economistas keynesianos defendiam a intervenção do governo por meio de políticas fiscais e monetárias adequadas para promover o pleno emprego e o crescimento econômico. Para combater uma recessão ou depressão, o governo deveria aumentar seus gastos ou diminuir impostos para aumentar o consumo privado. Nessa situação, o governo também deveria aumentar a oferta de moeda para baixar a taxa de juros na expectativa de estimular os investimentos. Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica6 As diferentes correntes do pensamento econômico Em geral, os fundadores de uma nova escola de pensamento econômico re- correm às ideias de escolas anteriores para desenvolvê-las ainda mais ou para reagir em oposição. O Quadro 1, a seguir, resume algumas semelhanças e diferenças entre as quatro escolas discutidas aqui. Comparação Semelhanças Diferenças Escola clássica versus Escola marxista Teoria do valor do trabalho: toda mer- cadoria possui valor de troca, o qual está relacionado ao tempo de trabalho necessário para sua produção. Economistas clássicos defendem que o comportamento geral da economia não depende das condições históricas ou particularidades de cada país. Para eles, a economia é governada por leis univer- sais e imutáveis. Marxistas criticam a falta de perspectiva histórica dos clássicos. Economistas marxistas defendem que o capitalismo é caracterizado pela exis- tência de um conflito de classes (empre- gadores capitalistas versus proletariado), que levaria o sistema ao seu fim, en- quanto os economistas clássicos defen- dem que, quando os indivíduos buscam atender a seus interesses próprios, eles também atendem aos interesses da so- ciedade, isto é, há uma harmonia social. Para economistas clássicos, o papel do governo deve limitar-se à definição e defesa dos direitos de propriedade, ao fornecimento de defesa nacional, educação pública e outras obras públi- cas. Para os economistas marxistas, o governo em uma sociedade capitalista atende apenas aos interesses burgueses. Para os economistas clássicos, a econo- mia de mercado é autorregulável. Para os economistas marxistas, o capitalismo apresenta crises econômicas recorrentes. Quadro 1. Comparação entre as diferentes correntes do pensamento econômico (Continua) 7Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica Comparação Semelhanças Diferenças Escola clássica versus Escola neoclássica Os indivíduos agem em busca do autointeresse. A busca do interesse individual produz os maiores benefícios econômicos possíveis para a sociedade. A economia é auto- ajustável e tende ao equilíbrio. Assim, as crises econômicas só acontecem como consequência de erros ou como acidente. Os economistas neoclássicos uti- lizam matemática para a elabora- ção de suas teorias, enquanto os clássicos elaboravam suas teorias apenas de forma textual. Os economistas neoclássicos busca- ram redesenhar a teoria econômica clássica (que defendia a teoria do valor trabalho) a partir da teoria subjetiva do valor da utilidade marginal. Escola clássica versus Escola keynesiana Os economistas clássicos defendem que toda oferta gera sua própria demanda (Lei de Say), ou seja, as condições de oferta determinam a rendada economia. Os economistas keynesianos, por sua vez, defendem a demanda efetiva como determinante da renda na economia. Para os economistas keynesianos, a economia é instável. Para os eco- nomistas clássicos, a economia é autoajustável e tende ao equilíbrio. Os economistas keynesianos apon- tavam que os salários tendem a ser inflexivelmente decrescentes por causa de fatores institucionais. Os clássicos acreditavam em salá rios flexíveis. Enquanto, por causa da ideia da “mão invisível”, para os pensadores clássicos, a economia funcionaria melhor sem a interferência direta do governo, os economistas keynesianos defendem a intervenção do governo por meio de políticas fiscais e monetárias ade- quadas para promover o pleno em- prego e o crescimento econômico. Quadro 1. Comparação entre as diferentes correntes do pensamento econômico (Continuação) (Continua) Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica8 Comparação Semelhanças Diferenças Escola marxista versus Escola neoclássica Economistas neoclássicos defendem que o comportamento geral da eco- nomia não depende das condições históricas ou particularidades de cada país. Para eles, a economia é gover- nada por leis universais e imutáveis. Marxistas criticam a falta de perspec- tiva histórica dos (neo)clássicos. Economistas marxistas defendem que o capitalismo é caracterizado pela existência de um conflito de classes (empregadores capitalistas versus proletariado) que levaria o sistema ao seu fim, enquanto os economistas neoclássicos defendem que, quando os indivíduos buscam atender a seus interesses próprios, eles também atendem os interesses da sociedade, isto é, há uma harmonia social. Para economistas neoclássicos, o papel do governo deve se limitar à definição e defesa dos direitos de propriedade, ao fornecimento de defesa nacional, educação pública e outras obras públi- cas. Para os economistas marxistas, o governo em uma sociedade capitalista atende apenas aos interesses burgueses. Para os economistas neoclássicos, a economia de mercado é autor- regulável. Para os economistas marxistas, o capitalismo apresenta crises econômicas recorrentes. Escola marxista versus Escola keynesiana A economia é ins- tável e apresenta crises recorrentes. Os economistas keynesianos defen- dem que o sistema capitalista pode ser salvo a partir de políticas fiscais e monetárias ativas adequadas, en- quanto os economistas marxistas veem o capitalismo como destinado a ser superado pelo socialismo. Quadro 1. Comparação entre as diferentes correntes do pensamento econômico (Continuação) (Continua) 9Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica Fonte: Adaptado de Bobbio, Matteucci e Pasquino (2009), Brue (2006) e Hunt (2005). Comparação Semelhanças Diferenças Escola neoclássica versus Escola keynesiana A escola neoclássica tem ênfase micro- econômica, enquanto a escola keyne- siana tem ênfase macroeconômica. Assim como os economistas clássicos, os neoclássicos defendem que toda oferta gera sua própria demanda (Lei de Say), ou seja, as condições de oferta determinam a renda da economia. Os economistas keynesianos, por sua vez, defendem a demanda efetiva como determinante da renda na economia. Para os economistas keynesianos, a economia é instável. Para os econo- mistas neoclássicos, a economia é autoajustável e tende ao equilíbrio. Os economistas keynesianos apontavam que os salários tendem a ser inflexi- velmente decrescentes por causa de fatores institucionais. Os neoclássicos acreditavam em salários flexíveis. Enquanto, por causa da ideia da “mão invisível”, para os pensadores neoclás- sicos, a economia funcionaria melhor sem a interferência direta do governo, os economistas keynesianos defen- dem a intervenção do governo por meio de políticas fiscais e monetárias adequadas para promover o pleno emprego e o crescimento econômico. Quadro 1. Comparação entre as diferentes correntes do pensamento econômico Origens do pensamento econômico atual Brue (2006) faz algumas conclusões sobre o estudo do pensamento econômico. Para o autor, a economia é uma disciplina dinâmica: as ideias econômicas evoluíram ao longo do tempo e continuam nesse processo de desenvolvimento. Novas ideias surgem principalmente para abordar problemas atuais que antes eram inexistentes ou inexpressivos. Essas novas ideias recorrem às ideias (Continuação) Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica10 antigas para desenvolvê-las ainda mais ou para reagir em oposição. Assim, ideias se generalizam, formando um grupo de princípios básicos da economia quase universalmente aceitos. O pensamento econômico moderno é muito influenciado pelas escolas neoclássicas e keynesianas. A maior influência da primeira é em relação ao método. A teoria econômica moderna é fundamentada em modelos teóricos ló gico-matemá ticos nos moldes de Alfred Marshall e Leon Walras. As análises microeconômicas, por exemplo, são feitas utilizando modelos matemáticos de equilíbrio parcial ou geral. A influência keynesiana, por sua vez, ocorre principalmente na teoria macroeconômica. Os modelos macroeconômicos da economia atual levam em conta os insights de Keynes em relação à presença de rigidez nos preços de diversos mercados importantes, como, por exemplo, o mercado de trabalho. Nesse aspecto em particular, as escolas keynesianas e neoclássicas se combinam, pois o pensamento moderno buscou fundamentar a existência de rigidez salarial a partir de modelos microeconômicos nos moldes neoclássicos. Gregory Mankiw, um dos expoentes do pensamento moderno, fundamentou a rigidez de preços da economia a partir do modelo microeconômico chamado “Custos de Menu”. As empresas incorrem em pequenos custos para mudar seus preços (a analogia é feita com o menu de um restaurante, que precisa ser refeito toda vez que o preço aumenta) e isso, em nível da economia como um todo, pode gerar efeitos recessivos nos moldes propostos por Keynes (BRUE, 2006). O pensamento econômico atual também teve influência de pensadores clássicos na medida em que ele também busca estudar as causas da riqueza das nações, como fez Adam Smith. A pergunta “O que faz as nações ficarem ricas?” deu origem a uma linha de pesquisa chamada “Crescimento Econômico”. Ela se insere no guarda-chuva da macroeconomia, mas se difere da macroeconomia keynesiana, pois essa se preocupa com o curto prazo da economia, enquanto as teorias de crescimento econômico estão preocupadas com questões de longo prazo. Nessa área de crescimento, também há influência dos economistas neoclássicos, pois os modelos de crescimento são matematizados. Nessa área, o ganhador do prêmio Nobel Paul Romer desenvolveu modelos de crescimento econômico baseados no progresso tecnológico. A economia cresceria, no longo prazo, em função do setor de pesquisas, que, ao gerar novas ideias e produtos, aumentaria a capacidade produtiva da economia (BRUE, 2006). O pensamento moderno econômico também tem influências das escolas clássica e marxista na área de Economia Política. Economistas como Daron Acemoglu, autor do livro Por que as nações fracassam, buscam entender como as relações econômicas entre uma “elite” e os demais membros da 11Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica sociedade determinam instituições políticas e econômicas e como isso afeta a distribuição de renda da sociedade. Além dos estudos de Acemoglu, existem muitos outros economistas da corrente principal da economia que estão preocupados com questões de desigualdades, como, por exemplo, Amartya Sen (BRUE, 2006). E, assim, a economia tem evoluído e se especializado cada vez mais. Por exemplo, na classificação tradicional do Journal of Economic Literature, já existem muitos outros campos em economia além da microeconomia e macroeconomia, e os economistas vencedores do Prêmio Nobel contribuíram para a evolução desses diversos campos. Para entender como o pensamento econômico chegou aoestágio atual, é essencial conhecer as principais escolas do pensamento econômico em cada fase da história. Sistema de classificação do Journal of Economic Literature: economia e ensino geral; metodologia e história do pensamento econômico; métodos matemáticos e quantitativos; microeconomia; macroeconomia e economia monetária; economia internacional; economia financeira; economia pública; saúde, educação e bem-estar; trabalho e economia demográfica; direito e economia; organização industrial; administração de empresas e economia empresarial; marketing; contabilidade; história econômica; desenvolvimento econômico, mudança tecnológica e crescimento; sistemas econômicos; economia dos recursos agrícolas e naturais; economia urbana, rural e regional; outros tópicos especiais. Fonte: American Economic Association (2019, documento on-line). Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica12 Laureados com o Nobel de Economia no século XXI: Ano Nome Principais contribuições 2001 George Akerlof Michael Spence Joseph Stiglitz Análise de mercados com informações assimétricas 2002 Daniel Kahneman Vernon Smith Pesquisa psicológica na economia: análise econômica empírica 2003 Robert Engle III Clive Ganger Métodos de análise econômica 2004 Finn Kydland Edward Prescott Macroeconomia 2005 Robert Aumann Thomas Schelling Teoria dos jogos 2006 Edmund Phelps Trabalho sobre relações dos efeitos a curto prazo de uma política econômica 2007 Leonid Hurwicz Eric Maskin Teoria do desenho de mecanismos 2008 Paul Krugman Teoria que integra comércio e geográfica econômica 2009 Elinor Ostrom Oliver Williamson Análise de governança econômica 2010 Peter A. Diamond Dale T. Mortensen Christopher A. Pissarides Estudo das relações entre política econômica e desemprego 2011 Thomas Sargent Christopher Sims Pesquisa empírica sobre causa e efeito na macroeconomia 2012 Alvin Roth Lloyd Shapley Pesquisas sobre como relacionar os agentes de determinados mercados 13Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica AMERICAN ECONOMIC ASSOCIATION. JEL Classification System/EconLit Subject Descriptors. 01 abr. 2019. Disponível em: https://www.aeaweb.org/econlit/jelCodes. php?view=jel. Acesso em: 24 abr. 2019. BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília: UnB, 2009. BRUE, S. L. História do pensamento econômico. São Paulo: Thomson Learning, 2006. ESTADÃO. Conheça todos os vencedores do Prêmio Nobel de Economia. 8 out. 2018. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/galerias/geral,conheca-todos-os- -vencedores-do-premio-nobel-de-economia,21786. Acesso em: 24 abr. 2019. HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Ano Nome Principais contribuições 2013 Robert Shiller Lars Peter Hansen Eugene Fama Análise empírica do preço dos ativos 2014 Jean Tirole Estudo sobre o poder de mercado das empresas 2015 Angus Deaton Estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar 2016 Oliver Hart Bengt Holmstrom Teoria dos contratos 2017 Richard H. Thaler Economia Comportamental 2018 William D. Nordhaus Paul M. Romer Métodos para favorecer o crescimento sustentável Fonte: Adaptado de Estadão (2018). Reproduzir os conceitos de cada corrente econômica14
Compartilhar