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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL ANÁLISE CRÍTICA DO ARTIGO “O FINANCIAMENTO DO INVESTIMENTO PÚBLICO NO SISTEMA DE DRENAGEM URBANA DE ÁGUAS PLUVIAIS NO BRASIL” DE CRISTINA LENGLER E CARLOS ANDRÉ BULHÕES MENDES DISCIPLINA: SANEAMENTO BÁSICO Pato Branco 2019 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 3 2 OBJETIVOS ................................................................................................... 5 3 ANÁLISE CRÍTICA DO ARTIGO ................................................................... 5 4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................................ 7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 9 3 1 INTRODUÇÃO Durante duas décadas a agenda do saneamento básico no Brasil ficou parada, não houve praticamente nenhum investimento significativo nos anos 80 e 90, o que acarretou um enorme déficit em praticamente todas as cidades brasileiras. Um estudo divulgado recentemente pelo Instituto Trata Brasil, uma organização da sociedade civil de interesse público, mostrou que todos os dias são despejados no meio ambiente 5,9 bilhões de litros de esgoto sem tratamento algum gerados nas 81 maiores cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes. Situação que causa a contaminação de solos, rios, mananciais e praias, com impactos diretos na saúde da população. O Plano Nacional de Saneamento Básico - PLANSAB, promulgado em 2014 pela Presidência da República, apontou a necessidade de 304 bilhões de reais para que o Brasil tivesse os serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgotos universalizados até 2033. Assim, considerando os valores do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento destinados ao saneamento no período de 2007 a 2010, de 40 bilhões de reais, seriam necessários pelo menos sete PAC´s para a meta até 2033 ser alcançada. Ou seja, sete governos priorizando os investimentos em saneamento. Para suprir a carência de saneamento no Brasil, a receita genérica de impostos (IPTU) não é suficiente. Conforme Lengler e Mendes, a taxa de drenagem somente pode financiar serviços de operação e manutenção do sistema. Isso significa que são necessárias outros meios de arrecadação de verbas para o planejamento de serviços de drenagem urbana a longo prazo. Assim, não há dúvidas de que o financiamento próprio do setor de drenagem urbana é fundamental para permitir a definitiva estruturação e prestação do serviço, visando em última análise, o controle de enchentes e a melhoria da saúde pública. Dentre as formas de financiamento, há as medidas de recuperação total ou parcial do investimento em saneamento de obras públicas. Dentre elas, cita-se a contribuição de melhoria e a mais-valia. De acordo com os artigos 81º, 82º e 145º da Lei 5.172 de 25 de outubro de 1966, a contribuição de melhoria é o tributo cobrado pelo Estado em decorrência de obra pública que proporciona valorização do imóvel do indivíduo tributado, sendo 4 totalmente custeado pelos beneficiários das melhorias. Isso significa que a contribuição pode ser cobrada na construção de obras com cunho de preservação ambiental como praças, parques e arborização de logradouros, desde que comprovada a valorização imobiliária. Quanto à mais-valia, a mesma pode ser definida como o aumento do valor de um bem em razão de melhoria ou benfeitoria que lhe foi introduzida. Ou seja, quando há um investimento público e dele resultar valorização imobiliária ao particular, há a possibilidade de recuperar a mais-valia imobiliária auferida pelo proprietário do imóvel. Esta recuperação se dá através de um processo mediante o qual o total ou parte de um aumento no valor da terra, é recuperado pelo setor público através de sua conversão em receita fiscal mediante a cobrança de impostos, contribuições, exações ou outros mecanismos fiscais. Neste contexto, o artigo em análise retrata o estudo de caso da aplicação da contribuição de melhoria sobre a área de abrangência da bacia hidrográfica Almirante Tamandaré, onde foi executado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, no período de maio de 2005 a março de 2008, o Conduto Forçado Álvaro Chaves. 5 2 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise crítica sobre o tema “O financiamento do investimento público no sistema de drenagem urbana de águas pluviais no Brasil”. 3 ANÁLISE CRÍTICA DO ARTIGO O artigo em análise apresenta a mais-valia decorrente da obra pública como uma sugestão para recuperação do investimento em drenagem urbana, além de discutir a contribuição de melhoria e apresentar uma forma de cálculo para sua instituição, por lei complementar. Sendo a contribuição de melhoria decorrente de obras públicas introduzidas em certa área geográfica que levem a uma valorização dos imóveis nela situados. A contribuição de melhoria como forma de financiamento da drenagem urbana possui três grandes empecilhos. O primeiro, e mais crítico, é de que a população de grandes centros, independente da demanda pluvial, será mais taxada simplesmente pela localização geográfica de seu imóvel. O segundo se dá ao fato de que embates jurídicos frequentemente acontecem em razão da avaliação da mais-valia, que são atribuições de competência técnica de engenheiros e arquitetos em suas áreas de especialização. E o terceiro é de que, de acordo com o artigo 113 da Lei 5.175 (1966), a contribuição de melhoria só pode ser cobrada quando a obra em questão estiver pronta. Assim, após a conclusão da obra inicia-se a contagem do prazo de cinco anos para a publicação do edital de lançamento tributário da contribuição. Por estes motivos, o grupo buscou outras fontes que solucionassem o problema da recuperação do investimento em drenagem urbana de outra maneira. Assim, constatou-se que a cobrança pelo serviço de drenagem de águas pluviais é uma maneira eficaz de cobrança (NASCIMENTO et al., 2003; GOMES, 2005). O objetivo desta cobrança é que o município possa responder aos problemas ambientais causados pela urbanização na bacia e incentive internamente os 6 proprietários a promover o manejo e controle das águas pluviais no perímetro urbano, além de sinalizar à população a existência de valor nos serviços de drenagem urbana. A implantação de uma taxa de drenagem é uma forma de sinalizar ao usuário que os serviços de drenagem urbana possuem valor, com custos que variam principalmente em função da parcela de solo impermeabilizada (GOMES, BAPTISTA e NASCIMENTO, 2008). A cobrança possibilita uma distribuição socialmente mais justa dos custos com o sistema, onerando mais aos usuários que mais o utilizam. Assim, a implementação de uma taxa de drenagem não significa um aumento de impostos na população. Significa que o custo da drenagem é individualizado para cada contribuinte por meio de uma taxa, o que deve desonerar a cobrança realizada por meio do IPTU. Em alguns casos, como em áreas não ocupadas, o valor de impostos, incluindo o IPTU, pode baixar. Em contrapartida, propriedades com maior demanda pluvial escoada à rede pública poderão pagar mais caro. Desta forma, a cobrança pelo uso da água na drenagem, além de atuar como um instrumento econômico de incitação à mudança do comportamento do usuário frente ao meio ambiente, pode contribuir para o financiamento de investimentos do sistema (FORGIARINI et al., 2007). A análise de experiências existentes, principalmente em nível internacional, forneceu subsídios para um modelo legal de taxa para municípios de pequeno porte (Tasca, F. A, 2016). Nos Estados Unidos, por exemplo, existemtaxas em quase 80% dos Estados (Tasca, F. A, 2016). Cobranças por meio de taxas também são encontradas na Alemanha, Canadá, Dinamarca, França, Inglaterra, Polônia, Suécia e Suíça. A maneira mais usual de taxação nos países citados é através dos utilitários de águas pluviais (stormwater utilities), os quais podem ser entendidos como empresas privadas que realizam um serviço público estando sujeitas a regulamentação governamental especial (POMPÊO, 2000). Os utilitários são um mecanismo de financiamento sustentável dedicadas a recuperar os custos de gestão das águas pluviais, incluindo o planejamento, a manutenção, infraestruturas de controle de enchentes, melhorias de capital, custos administrativos, programas educacionais, benfeitorias e programas de qualidade da água (LINDSEY e DOLL, 1998; KASPERSEN, 2000). 7 4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Diante de todos os pontos expostos, não há como negar que o país ainda não alcançou a universalização do saneamento por falta de vontade política e má gestão. Pesquisas estão sendo divulgadas regularmente para comprovar que o investimento em saneamento é, antes de mais nada, uma ação de saúde preventiva. Com a coleta e tratamento dos esgotos os governantes estariam economizando em saúde, preservando o meio ambiente, aumentando a qualidade de vida da população e melhorando a educação. A solução de financiamento do investimento público em drenagem urbana trazida pelo artigo não é vista, pelo grupo, como a mais viável visto que para resolver este problema, diversos trabalhos defendem a cobrança pelo serviço de drenagem de águas pluviais (TUCCI, 2002; NASCIMENTO et al., 2003; GOMES, 2005). Com a cobrança, os cidadãos, que pensavam que estavam recebendo os serviços das águas pluviais de graça, esperam um nível de serviço melhor do que antes (DEBO e REESE, 1995). Por fim, é importante ressaltar que a cobrança de águas pluviais, seja administrada pelo município ou por um utilitário, ou mesmo a utilização da contribuição de melhoria (através da valorização imobiliária), não são soluções para os problemas, mas meios de garantir os recursos financeiros adequados para uma gestão eficaz das águas pluviais. 8 9 REFERÊNCIAS1 http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/de-olho-no-pac/2015/De-Olho-no-PAC.pdf BILAC PINTO. Contribuição de Melhoria. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. 212p. BRASIL. Lei Federal no 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 31 out. 1966. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/ L5172.htm>. Acesso em: 21 nov. 2019. DEBO, T.; REESE, A. Municipal stormwater management. 2. ed. New York: Lewis Publishers, 1995. 1153 p. Tasca, F. A. et. al. International experiences in stormwater fee. Revista Water Science & Technology. Bonus Issue 1, 2017. IWA Publishing 2017. Disponível em: < https://iwaponline.com/wst/article/2017/1/287/38769/International-experiences-in- stormwater-fee>. Acesso em 03 dez. 2019. Tasca, F. A. Simulação de uma Taxa para Manutenção e Operação de Drenagem Urbana para Municípios de Pequeno Porte. Tese (Pós Graduação em Engenharia Ambiental) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016b. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/167590/339438.pdf?se quence=1&isAllowed=y>. Acesso em 21 de nov. 2016. TUCCI, C. E. M. ; MELLER, A. Regulação das águas pluviais urbanas. Rega – Revista de Gestão da América Latina, Porto Alegre: Vol.4 – Nº1 - Jan./Jun. 2007. NASCIMENTO, N. O. et al. Drenagem Urbana – Características econômicas e definição de uma taxa sobre os serviços. Belo Horizonte: Financiamento de Estudos e Projetos – FINEP, 2003, 308 p. Relatório. FORGIARINI, F. R. et al. Avaliação de cenários de cobrança pela drenagem urbana de águas pluviais. In: XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 2007, São Paulo. XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 2007. GOMES, C. A. B. de M. Drenagem urbana – Análise e proposição de modelos de gestão e financiamento. Tese (Doutorado em Saneamento, Meio ambiente e Recursos Hídricos) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 290 f., 2005. 1 De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT NBR 6023). http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/de-olho-no-pac/2015/De-Olho-no-PAC.pdf 10 GOMES, C.A.B.M.; BAPTISTA, M. B.; NASCIMENTO, N.O. Financiamento da Drenagem Urbana: uma reflexão. RBRH: Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v.13, n.3, p.93-104, jul./set. 2008. POMPÊO, C.A. Development of a State policy for sustainable urban drainage. Urban Water. Elsevier Science, Londres, 2000.
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