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A_tradicao_do_pensamento_politico_na_nov

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GRUPO DE PESQUISA OPINIÃO PÚBLICA, MARKETING 
POLÍTICO E COMPORTAMENTO ELEITORAL 
 
 
 
Em Debate 
Periódico de Opinião Pública e Conjuntura Política 
 
 
Missão 
Publicar artigos e ensaios que debatam a conjuntura política e temas das áreas de opinião 
pública, marketing político, comportamento eleitoral e partidos. 
 
 
 
 
Coordenação: 
Helcimara de Souza Telles – UFMG 
 
Conselho Editorial 
 Antônio Lavareda – IPESPE 
Aquilles Magide – UFPE 
Arthur Leando Alves da Silva - UFPE 
Cloves Luiz Pereira Oliveira – UFBA 
Denise Paiva Ferreira – UFG 
Gabriela Tarouco – UFPE 
Gustavo Venturi Júnior – USP 
Helcimara de Souza Telles – UFMG 
Heloisa Dias Bezerra – UFG 
Julian Borba – UFSC 
Letícia Ruiz Rodrigues – Universidad 
Complutense de Madrid 
Luciana Fernandes Veiga – UFPR 
 
Jornalista Responsável 
Érica Anita Baptista 
 
Equipe Técnica: 
Angélica Bicego 
Joscimar Silva 
 
Parceria 
Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e 
Econômicas – IPESPE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luiz Ademir de Oliveira – UFSJ 
Luiz Cláudio Lourenço – UFBA 
Malco Braga Camargos – PUC-MINAS 
Moritz Lohe – Freie Unversität Berlim 
Paulo Victor Melo – UFMG 
Pedro Floriano Ribeiro – UFSCar 
Pedro Santos Mundim – UFG 
Ricardo Costa – FMU/FIAMFAM 
Rubens de Toledo Júnior – UNILA 
Silvana Krause – UFRGS 
Thiago da Silva Sampaio – UFMG 
Yan de Souza Carreirão – UFPR 
 
 
 
Endereço 
Universidade Federal de Minas Gerais 
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas 
Departamento de Ciência Política – DCP 
Av. Antônio Carlos, 6.627 – Belo Horizonte 
Minas Gerais – Brasil –CEP:31.270-901 
+ (55) 31 3409 3823 
Email: marketing-politico@uol.com.br 
Facebook: Grupo Opinião Pública 
Twitter: @OpPublica 
 
 
 As opiniões expressas nos artigos são de inteira 
responsabilidade dos autores. 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.3-4, abril 2018. 
 
3 
EM DEBATE 
Periódico de Opinião Pública e Conjuntura Política 
 Ano X, Número I, Abril de 2018 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Editorial 5-9 
 
Pesquisando 
 
Dossiê: 
 
 10-11 
 
 A direita na rede: mobilização online no 
impeachment de Dilma Rousseff 
Claudio Luis de Camargo Penteado, Celina Lerner 
 
 Democracia de democratas insatisfeitos e a 
emergência dos Alternative Right (AR) 
Helcimara Telles 
 
 O dispositivo pentecostal e a agência dos 
governados 
Mariana Côrtes 
 
 Outro olhar sobre as forças armadas: os grupos de 
pressão política formados por militares da reserva 
Eduardo Heleno 
 
 A tradição do pensamento político na nova 
hegemonia das direitas: Algumas questões 
preliminares 
Fabrício Pereira da Silva 
 
 12-24 
 
 
 
 
 25-30 
 
 
 
 31-38 
 
 
 
 
 39-45 
 
 
 
 46-53 
 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.3-4, abril 2018. 
 
4 
 
 
 Interesse, neoliberalismo e cinismo político 
Luiz Carlos Bresser-Pereira 
 
 
 
 
Opinião 
 
 À procura de inspirações para a reforma políticaa 
brasileira: visitando o sistema eleitoral e o 
financiamento de campanha no regime políticoo 
alemão 
Marina Rodrigues Siqueira 
 
 
Resenha 
 
 Tem Saída? Ensaios críticos sobre o Brasil 
Alessandra Margotti, Pedro Mateus Almeida 
 
 
Colaboradores desta edição 
 
 
 54-62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 63-76 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 77-89 
 
 
 
 90-93 
5 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.5-9, abril 2018. 
 
EDITORIAL 
 “Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos Insurgentes” 
 
A presente edição da Revista Em Debate traz uma rica contribuição de 
ensaios teóricos e fundamentados em resultados de pesquisas sobre 
“Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos Insurgentes”. Esta edição é fruto de 
uma parceria do periódico Em Debate com a Associação Brasileira de Ciência 
Política – Regional Sudeste (ABCP-Sudeste), e inspirado no Seminário 
“Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos Insurgentes”, realizado pela ABCP-
Sudeste e pelo Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (NEAMP) da 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 
O Seminário ocorrido no dia 29 de março de 2018 na PUC-SP contou com 
participação de diversos pesquisadores de 17 instituições de ensino e pesquisa que 
debateram, dentre outros, os seguintes temas: A direita nas ruas, redes e o governo 
Dilma Rousseff (mesa 1); Conservadorismo, novos grupos de direita e religião 
(mesa 2); A direita nas forças armadas, lideranças e instituições (mesa 3); O 
pensamento conservador e as Direitas na América Latina e no Brasil (mesa 4). O 
Seminário contou, ainda, com uma conferência de abertura, proferida pelo 
professor João Feres Júnior (IESP-UERJ) sobre a genealogia da nova direita 
brasileira e a genealogia da atual crise da democracia brasileira. Algumas das 
importantes falas do debate sobre Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos 
Insurgentes expostas e debatidas nesse Seminário estão reunidas aqui. 
O artigo de Claudio Penteado, professor da Universidade Federal do ABC 
(UFABC), intitulado “A direita na rede: mobilização online no impeachment de 
Dilma Rousseff”, traz uma análise importante sobre diferentes grupos de Direita 
atuando no Facebook durante o processo de impeachment da presidenta Dilma 
Rousseff em 2016. A partir de mineração de dados e análise de redes, utilizando-se 
de ferramentas e métodos digitais, Penteado nos apresenta a pluralidade de grupos 
de direita que se entrelaçavam e até se sobrepunham sobre alguns pontos 
6 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.5-9, abril 2018. 
 
específicos, sendo o de maior destaque o anti-petismo. O autor organiza também 
uma análise sobre o comportamento desses atores na rede, o que contribui muito 
para o enriquecimento teórico do campo de estudos em social media e política a 
partir de pesquisas empíricas. 
O ensaio de Helcimara Telles, professora da Universidade Federal de Minas 
Gerais (UFMG) e coordenadora do grupo Opinião Pública, traz uma densa 
reflexão tecida a partir de resultados de pesquisas empíricas situando a conjuntura 
dos novos conservadorismos brasileiros no debate sobre os novos 
conservadorismos globais, em especial o contexto europeu. Seu texto sobre a 
relação entre a avaliação da democracia e o desenvolvimento dos Alternative Rights 
utiliza-se de resultados de pesquisa sobre como a fragilidade das instituições 
democráticas corrobora para o surgimento, consolidação e atuação dos Alternative 
Rights. O ensaio contribui com uma síntese teórica e empírica que dá subsídios e 
respostas avançadas a partir da perspectiva comparativa sobre pouco 
compreendido fenômeno dos novos conservadorismos no Brasil. 
Mariana Côrtes, professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), 
colabora nesta edição com uma análise sobre a relação mútua entre 
neopentecostalismo e a governabilidade neoliberal. Com uma nova perspectiva de 
olhar para o neopentecostalismo, o artigo rejeita as teorias deste como reflexo de 
um aparente atraso e o analisa enquanto uma das expressões mais contemporâneas 
das faces da governança neoliberal. Baseando-se principalmente em estudos 
empíricos sobre a Igreja Universal do Reino de Deus, Mariana Côrtes consegue 
desenvolver categorias analíticas capazes de lançar compreensão sobre outras 
denominações e ramificações do pentecostalismo e neopentecostalismo brasileiro. 
Eduardo Heleno Santos, professor da Universidade Federal Fluminense 
(UFF), contempla em seu artigo “Outro olhar sobre as forças armadas: os grupos 
de pressão política formado por militares da reserva” uma importante abordagem 
sobre a composição dos representantes civis em meio às forças armadas e as 
estratégias de opinião pública das forças militares. Essa análise lança luz sobre para 
7 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.5-9, abril 2018. 
 
além das instituições militares, pensando o poder das forças militares bem como 
seu papel comoator político na opinião pública e na democracia brasileira. 
O artigo de Fabrício Pereira da Silva, professor da Universidade Federal do 
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), situa o conservadorismo brasileiro em sua 
conjuntura regional latino-americana, ao mesmo tempo em que pensa uma 
genealogia desse perfil conservador brasileiro através de uma retomada aos 
clássicos do pensamento político brasileiro e ao mesmo tempo costurando essas 
interpretações com momentos, fatos históricos e conjunturas. Dessa forma, o 
artigo carrega com primor um rico convite a compreender as linhagens do 
conservadorismo brasileiro, ao mesmo tempo em que auxilia o leitor a trilhar 
passos importantes nesse caminho. 
No ensaio “Interesse, Neoliberalismo e Cinismo Político”, Luiz Carlos 
Bresser-Pereira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), discute os 
resultados da radicalização do neoliberalismo impactando a igualdade política, a 
virtude cívica, o nacionalismo patriótico, da solidariedade e a proteção do 
ambiente. Numa análise teórica, histórica e de conjunturas, Bresser-Pereira 
desnuda as faces e os riscos do neoliberalismo mais que como forma econômica, 
mas suas formas e implicações sociais, políticas e históricas, dentre elas o cinismo 
político. 
Na segunda parte desta edição da Revista Em Debate, reflexões riquíssimas 
em formato de síntese de opinião, resenha, novas descobertas científicas e críticas 
ilustram preocupações dessa conjuntura contemporânea. 
Em seu artigo de opinião intitulado “À procura de inspirações para a 
Reforma Política brasileira: visitando o sistema eleitoral e o financiamento de 
campanha no regime político alemão”, Marina Siqueira, doutoranda em Ciência 
Política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), discute a Reforma 
Política brasileira a partir do Sistema Eleitoral e de Financiamento de Campanha 
alemão. Para além de um comparativo entre as duas realidades, Marina Siqueira 
8 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.5-9, abril 2018. 
 
consegue abstrair e pensar resultados e impactos possíveis de mudanças em 
sistemas eleitorais. 
Na resenha do livro “Tem Saída? Ensaios Críticos sobre o Brasil”, 
organizado por Winnie Bueno, Joanna Burigo, Rosana Pinheiro-Machado e Esther 
Solano, somos convidados à leitura a partir de uma convidativa degustação. 
Alessandra Margotti, doutoranda em Direito na Universidade Federal de Minas 
Gerais (UFMG), e Pedro Almeida, graduando em Ciências Sociais na mesma 
instituição, além de trazerem uma síntese convidativa de cada capítulo de um livro 
sobre conjuntura político democrática escrito exclusivamente por mulheres, 
conseguem também manter viva na resenha o espírito crítico, combativo e 
provocador. 
Para concluir esta edição trazemos dois ensaios de Gláucio Soares, professor 
do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro (IESP-UERJ). Apaixonado pela ciência e todas suas interfaces, 
especialmente aquelas que causam impactos diretos na vida dos cidadãos comuns, 
o professor traz duas importantes reflexões. No primeiro texto “O novo pó que 
matará milhões”, Gláucio Soares faz uma provocativa reflexão sobre as drogas 
sintéticas que tem exercido muito mais violência física e agressividade mortal que 
os clássicos indicadores de violência. No segundo escrito, sob o título de “O 
crescimento de escritos baseados na globalização”, o autor conclui através de 
análise computacional de difusão científica na rede de internet que há uma 
tendência teórica a redução dos trabalhos que retratam a globalização. E nos deixa 
a provocação do que isso possa significar. 
Esperamos que esta 1ª Edição do Ano 10 da Revista Em Debate possa ser 
tão instigante aos nossos leitores e leitoras, quanto é à nossa equipe e aos nossos 
colaboradores desta edição. Que seja um convite à defesa da democracia, das suas 
instituições e das suas conquistas! 
 
Joscimar Silva 
9 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.5-9, abril 2018. 
 
Revista Em Debate 
Equipe Opinião Pública/UFMG 
10 
PESQUISANDO 
GLÁUCIO SOARES 
O CRESCIMENTO DE ESCRITOS BASEADOS NA GLOBALIZAÇÃO 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.10-11, abril 2018. 
 
O CRESCIMENTO DE ESCRITOS BASEADOS 
NA GLOBALIZAÇÃO 
Gláucio Soares 
Pesquisador do IESP/UERJ 
soares.glaucio@gmail.com 
 
Nas versões anteriores dessa coluna, vimos que o conceito de desenvolvimento 
econômico, associado às teorias estruturalistas, associado também a autores, como 
Prebisch e Celso Furtado, e a subconceitos que compunham a teoria, como 
substituição de importações, e também a instituições, como a CEPAL, tiveram um 
percurso semelhante na literatura (usando os Google Books) em diferentes idiomas. 
Houve algum conceito, ou conjunto de teorias, elaboradas ou não, que 
ocupasse o vazio deixado pela ênfase à outrance no desenvolvimento econômico 
constatada nas décadas anteriores? 
Houve. A partir de meados e do fim da década de 80, houve um crescimento 
aceleradíssimo de teorias que se baseavam, ou pelo menos incluíam, a globalização. 
Os ngrams em diferentes idiomas refletem esse crescimento. Os valores absolutos 
variam muito entre os corpora; por isso usei pesos ao calcular os ngrams para que o 
leitor possa melhor aquilatar a sincronicidade dessa explosão. 
Várias teorias – e não somente na economia – passaram a enfatizar a 
globalização (em Francês chamada de mundialização). O estruturalismo latino-
americano, baseado em conceitos como o crescimento “para dentro” e a 
“substituição de importações”, entre outros, não conseguia acomodar o crescimento 
do comércio mundial, nem as peregrinações do capital, que acabaram por engendrar 
economias poderosas como a da China e, em grau menor, a da Índia. 
11 
PESQUISANDO 
GLÁUCIO SOARES 
O CRESCIMENTO DE ESCRITOS BASEADOS NA GLOBALIZAÇÃO 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.10-11, abril 2018. 
 
Não há como testar seriamente a relação entre o decréscimo de um e o 
crescimento do outro. Teorias causais e teorias de simples ocupação de vazios 
poderão ser desenvolvidas. 
Não obstante, uma nota de precaução: uma análise preliminar de dados entre 
2000 e 2008 mostra o início do que poderá ser a queda dessa presença forte do 
pensamento globalizante. Em alguns corpora houve redução dos ngrams. 
Mais uma “onda” teórica? Com ascensão, auge e queda? 
Figura 1 - O Crescimento Ultra-rápido da Globalização nos Livros de 1900 a 2000 
 
Fonte: Autor (2018). 
0,00E+00
5,00E-06
1,00E-05
1,50E-05
2,00E-05
2,50E-05
3,00E-05
3,50E-05
4,00E-05
1
9
0
0
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1
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1
9
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9
9
2
1
9
9
6
2
0
0
0
Inglês Espanhol Francês Italiano Alemão
12 
CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE 
NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF1 
 
 
Claudio Luis de Camargo Penteado 
Professor e pesquisador na UFABC 
claudio.penteado@ufabc.edu.br 
 
Celina Lerner 
Doutoranda na UFABC 
celina.lerner@ufabc.edu.br 
 
 
Resumo: O artigo apresenta uma análise sobre a mobilização online dos grupos de direita no 
debate sobre o impeachment de Dilma Rousseff no Facebook. Com o objetivo de descobrir as 
características desses grupos de direita na rede, o artigo realizou um estudo das comunidades de 
direita que atuaram diretamente no debate nas redes sociais, por meio da extração e análise de 
dados do Facebook. Os resultados apontam que existe uma grande variedade de clusters, com 
diferentes características temáticas e ideológicas, que se articularam em torno da produção de uma 
narrativa discursiva antipetista. 
Palavras-chave: Direita na rede; Impeachment Dilma Rousseff; mobilizaçãoonline; 
Facebook. 
 
Abstract: The article presents an analysis of the online mobilization of right-wing groups in the 
debate on Dilma Rousseff's impeachment on Facebook. With the objective of discovering the 
characteristics of these right-wing groups in the network, the article carried out a study of the right-
wing communities that acted directly in the debate on social networks, through the extraction and 
analysis of data from Facebook. The results indicate that there is a great variety of clusters, with 
different thematic and ideological characteristics, that have been articulated around the production 
of an antipetista discursive narrative. 
Keywords: Right on the network; Impeachment Dilma Rousseff; online mobilization; 
Facebook. 
 
 
1 Artigo apresentado no seminário "Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos Insurgentes" organizado 
pela Associação Brasileira de Ciência Política - Regional Sudeste e NEAMP / PUC SP. São Paulo, 29 de 
março de 2018. 
13 
CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
Introdução 
 A eclosão da onda de protestos que tomaram as ruas em junho de 2013 em 
várias cidades brasileiras chamou a atenção para o poder das mídias sociais como 
ferramenta de mobilização política e expressão de indignação e esperança 
(CASTELLS, 2017), como espaço alternativo de produção de informação política 
(PERUZZO, 2013) e colocando em discussão os modelos emergentes de 
participação institucional (ROMÃO, 2013). 
 No campo da comunicação política, o uso das redes sociais já havia se 
destacado a partir da campanha digital vitoriosa Obama em 2008, principalmente 
pela arrecadação online e o engajamento de jovens por meio das redes sociais. A 
campanha de Obama não foi a primeira a usar os recursos, mas a repercussão 
alcançada criou um novo paradigma de marketing político digital, que passou a dar 
maior destaque para o uso das redes sociais (GOMES et al., 2009). 
 No Brasil, as Jornadas de junho de 2013 despertaram a atenção da Ciências 
Sociais e da sociedade em geral para a importância das redes sociais dentro do atual 
contexto social de crise de representação e a emergência de novas formas de 
mobilização e expressão política (GOHN, 2014; MARICATO et al., 2013; 
SINGER, 2013). A arquitetura em rede distribuída da internet e a popularização 
das redes sociais possibilitou que diversos grupos, organizações, coletivos e pessoas 
utilizarem as redes sociais para expressarem e compartilharem suas posições 
políticas de diferentes matizes ideológicas. As manifestações que tiveram início 
com um protesto contra o aumento da tarifa na cidade de São Paulo, se espalharam 
pelo país aglutinando novas demandas e pautas (SINGER, 2013), e um 
deslocamento discursivo em direção a valores conservadores (JARDIM PINTO, 
2017). 
 Nas eleições de 2014 às redes sociais foram um espaço para o embate não 
somente entre as campanhas, mas também entre os eleitores e militantes. A 
14 
CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
campanha de 2014 foi marcada pela radicalização ideológica entre direita e 
esquerda (CHAIA, BRUGNAGO, 2014), expressões de ódio (WAINBERG, 
MILLER, 2017) e um clima hostil contra Dilma Rousseff em sua campanha de 
reeleição (PENTEADO et al., 2014). 
 As redes sociais também foram um importante espaço e ferramenta de 
mobilização dos grupos em favor do impeachment de Dilma Rousseff, recém eleita 
em 2014 por uma pequena margem de votos, nos anos de 2015 e 2016 (DE 
FRANÇA et al., 2018a; PENTEADO, GUERBALI, 2016). ordem alfabética 
 A mobilização online em prol do impeachment, principalmente pelo uso de 
mídias sociais, teve a importância participação de grupos políticos de direita 
emergentes como Movimento Brasil Livre (MBL) e o VemPraRua, assim como 
outros perfis de direita já com grande visibilidade dentro das redes sociais como 
Movimento Contra a Corrupção e o Revoltados Online. O movimento pró 
impeachment também contou com o apoio de partidos políticos da oposição ao 
governo petista, de segmentos da mídia (grandes empresas de comunicação, 
jornalistas, grupos de mídia online e celebridades), grupos conservadores e 
militaristas como o Força Patriótica - Comando Nacional de Caça aos Corruptos e 
alguns a favores da intervenção militar na divulgação de conteúdos antipetista e 
anticomunista na sua rede. 
 O MBL é um grupo político que se caracteriza pelo rápido crescimento de 
seguidores dentro das redes sociais2. Fundado em novembro de 2014, o MBL está 
associado a organização Estudantes Pela Liberdade e defesa de valores e ideais 
liberais e um posicionamento antipetista (SILVA, 2016). Suas lideranças são 
formadas por jovens com grande capacidade de comunicação nas mídias sociais e 
com trânsito no meio político tradicional. Nas eleições municipais de 2016, 
 
2 Há rumores que o MBL recebeu apoio financeiro de grupos de think tanks conservadores americanos e 
empresários nacionais. Reportagem publicada pela Agência Pública em 23/06/2015. Disponível em: 
<https://apublica.org/2015/06/a-nova-roupa-da-direita/> 
https://apublica.org/2015/06/a-nova-roupa-da-direita/
15 
CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
algumas das lideranças foram eleitas vereadores, com expressivas votações, por 
diferentes legendas (DEM, PSDB, PRB e PV). Após o impeachment o grupo 
começa a defender pautas conservadoras como o projeto Escola Sem Partido e 
censura à expressões artísticas como a exposição “Queermuseu - Cartografias da 
Diferença na Arte Brasileira”. 
O VemPraRua é um grupo que se apropriou de um dos gritos de ordem das 
Jornadas de Junho de 2013. Criado também no fim de 2014 (outubro de 2014), o 
VemPraRua se autodenomina como um movimento suprapartidário que atua na 
mobilização política, principalmente com o discurso de luta contra a corrupção e 
valores liberais. 
O perfil do Revoltados On Line (ROL) no Facebook, um dos mais 
populares durante os protestos do impeachment, foi suspenso em agosto de 2016 
(dia do afastamento de Dilma Rousseff). Liderado por Marcello Reis, o ROL 
ganhou destaque desde as manifestações de 2013 e se caracterizou por publicar 
conteúdos de críticas radicais ao PT, principalmente contra Lula. Ainda busca atuar 
nas mídias sociais com vídeos com a tag #LulaNaCadeia para o YouTube, contudo 
não alcança a mesma popularidade da época da página do Facebook3. 
O Movimento Contra a Corrupção (MCC) tem início em janeiro de 2013. 
Como indica um dos seus fundadores, Ernani Fernandes4, o MCC tem o objetivo 
de produzir informações para combater a corrupção e conseguir mobilizar a 
população na “luta contra a corrupção”. Com forte crítica aos grupos de esquerda 
na política, principalmente contra o PT, suas publicações no Facebook também 
fazem apologia ao juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato. 
 
3 Informações extraídas da reportagem publicada em 26/05/2017 na Revista 
<http://www.contracorrupcao.org/2013/05/por-que-lutar-contra-corrupcao.html> Piauí: 
<http://piaui.folha.uol.com.br/o-ostracismo-do-maior-revoltado-online/>. Acesso em 19/02/2018. 
4 Entrevista de Ernani Fernandes está disponível em: <http://www.contracorrupcao.org/2013/05/por-
que-lutar-contra-corrupcao.html>. Acesso em 23/02/2018. 
http://piaui.folha.uol.com.br/o-ostracismo-do-maior-revoltado-online/
http://www.contracorrupcao.org/2013/05/por-que-lutar-contra-corrupcao.html
http://www.contracorrupcao.org/2013/05/por-que-lutar-contra-corrupcao.html16 
CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
As empresas de mídia, tradicional e alternativa, assim como jornalistas 
(blogueiros e twiteiros) tiveram um papel importante na difusão de conteúdos, 
principalmente em favor do impeachment dentro das redes sociais (DE FRANÇA 
et al., 2018B). 
As celebridades, favoráveis ao impeachment, também tiveram um 
importante papel na difusão de informações (PENTEADO, GUERBALI, 2016). 
Por possuírem um número grande de seguidores, suas publicações possuem grande 
capacidade de difusão e influência. Os grupos organizadores dos protestos 
utilizaram em seus feeds publicações e declarações de celebridades para ajudar na 
mobilização das manifestações. 
As manifestações em favor do impeachment de Dilma Rousseff ainda 
contaram com a participação de grupos e perfis defensores da intervenção militar, 
com a apresentação de faixas e gritos de ordem. Segundo a pesquisa de Pimentel 
Junior (2015), sobre o perfil e as motivações dos participantes das manifestações de 
março e abril de 2015 na cidade de São Paulo, 36% das pessoas eram favoráveis ao 
impeachment e a intervenção militar. 
Um dos grupos favoráveis a intervenção militar que se destaca dentro das 
redes sociais é o Força Patriótica - Comando Nacional de Caça aos Corruptos. 
Com publicação de conteúdos ligados a temas militares, discurso de ordem e 
referências a valores liberais. 
Como aponta Telles (2015, p. 38), a “nova direita” se caracteriza por um 
discurso antipartidário e antipetista, e “encontrou nas mídias sociais um espaço 
para expandir sua clientela”. Com o objetivo de descobrir quais são as 
características da atuação desses grupos de direita na rede, o artigo apresenta um 
estudo dos clusters de direita que atuaram diretamente no debate nas redes sociais, 
mais especificamente no Facebook (rede social mais popular no Brasil), durante o 
impeachment de Dilma Rousseff. 
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CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
Por meio da extração e análise de dados do Facebook, detalhado abaixo, o 
artigo apresenta e analisa as principais comunidades que atuaram no debate online em 
prol do impeachment. 
Comunidades de direita no Impeachment de Dilma Rousseff 
Inicialmente identificamos as páginas públicas do Facebook dedicadas à 
defesa do Impeachment de Dilma Rousseff através da busca por palavras-chave: 
Impeachment Dilma, Fora Dilma, Fora PT, Fora Lula, Contra corrupção, Tchau querida e 
outras. As buscas com a aplicativo Netvizz (RIEDER, 2013) retornaram mais de 
1.500 páginas. Filtramos as páginas com um mínimo de 20 mil fãs, resultando num 
grupo de 63 páginas pró-impeachment5. 
A partir destes dados, montamos a rede de páginas curtidas por essas 63 
páginas iniciais e as páginas curtidas por aquelas com o programa Gephi (BASTIAN 
et al., 2009). Aplicamos algoritmos de espacialização (JACOMY et al, 2014) e de 
detecção de comunidades (BLONDEL et al, 2008; LAMBIOTTE et al, 2009) e 
excluímos as comunidades não relacionadas à defesa do impeachment. O resultado 
é a rede representada na figura 1, com quase 6 mil nós (páginas) e mais de 40 mil 
arestas (curtidas entre as páginas). 
Figura 1 - Rede páginas pró-impeachment de Dilma Rousseff no Facebook 
 
 
 
5 Os dados para esta pesquisa foram colhidos em agosto de 2017. 
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A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
 
Fonte: Autores (2018). 
 
As comunidades identificadas estão marcadas em cores distintas. No centro 
da rede, em azul, com 496 páginas, estão páginas identificadas com pautas da 
direita conservadora. As páginas de maior centralidade6 desta comunidade são: 
Jair Messias Bolsonaro; Olavo de Carvalho; Danilo Gentili; Canal da Direita; 
FORA Corrupção; Direita Conservadora; Direita Vive 3.0; Campanha do 
Armamento; Eduardo Bolsonaro; e Reinaldo Azevedo. À esquerda, estão as 
comunidades verde claro e verde escuro. Em escuro, páginas ligadas às forças 
armadas e, em verde claro, páginas de caráter punitivista, em especial com 
relação ao PT e à Lula. As duas comunidades são puxadas pela página Conacc - 
Comando Nacional de Caça aos Corruptos, que tem um comportamento bastante 
anômalo tendo curtido sozinha mais de 2 mil páginas. De toda forma, há várias 
ligações entre páginas da comunidade azul e as duas comunidades verdes. 
 
6 Centralidade é uma medida de importância de um vértice em um grafo. Em análises de rede, existem 
diferentes tipos de medidas de centralidade. Nos referimos aqui à centralidade de grau indegree, isto é, o 
número de ligações direcionadas para o nó. Em outras palavras, os nós com maior centralidade 
representam as páginas que receberam mais curtidas dentro da rede. 
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CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
À direita e na parte inferior do gráfico está a comunidade roxa, também com 
forte ligação com a comunidade azul. Com 381 nós, ela concentra páginas ligadas 
principalmente aos ideais liberais. As páginas de maior centralidade são: MBL - 
Movimento Brasil Livre; Instituto Mises Brasil; Paulo Eduardo Martins; O 
Reacionário; Marcel van Hattem; Implicante; SFLB - Students For Liberty Brasil; 
Movimento Endireita Brasil; Socialista de iPhone; e La Banda Loka Liberal. Logo 
acima, está a comunidade turquesa, com 431 páginas relacionadas ao movimento 
Vem Pra Rua. A página nacional - VemPraRua Brasil - é a página de maior 
centralidade, seguida pela página O Antagonista, do blog de ex-jornalistas da Veja, 
e por várias páginas locais do Vem Pra Rua. 
Figura 2 - Detalhe da Rede páginas pró-impeachment de Dilma Rousseff no 
Facebook. O tamanho maior dos títulos indica a maior centralidade (indegree) da 
página na rede. 
 
 
Fonte: Autores (2018) 
 
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Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
Em rosa, na parte superior da rede, a maior comunidade com 810 páginas 
reúne veículos de imprensa tradicional como VEJA, Folha de S.Paulo, O Globo, 
Exame, Época e Portal R7, além de políticos ligados, principalmente ao partido 
DEM, como Ronaldo Caiado e Onyx Lorenzoni. Logo acima, está o grupo 
amarelo, com 404 páginas e forte ligação ao PSDB. As páginas de maior 
centralidade são: Aécio Neves, PSDB, Álvaro Dias, Fernando Henrique Cardoso, 
José Serra, Geraldo Alckmin, Carlos Sampaio, Aloysio Nunes Ferreira, Conversa 
com os Brasileiros e Observador Político. A esquerda desses agrupamentos e mais 
ao centro do gráfico está a comunidade laranja, com 359 páginas, relacionadas ao 
MCC - Movimento Contra Corrupção. Além da página do movimento, as de 
maior centralidade são: Juventude Contra Corrupção, Movimento Contra 
Corrupção - São Paulo, Dia do Basta, NasRuas e Política na Rede. Destaca-se 
também na comunidade laranja a presença de veículos próprios das mídias digitais 
e aparentemente não ligados a grandes empresas como Folha Política e TV 
Revolta. Há forte ligação entre a comunidade laranja e a comunidade verde claro. 
Comentários gerais sobre os resultados 
 Os dados encontrados ilustram que os grupos que atuaram dentro do debate 
em favor do impeachment de Dilma Rousseff no Facebook é composto por 
diferentes comunidades (cada qual com seu viés específico), mas que se interligam e 
em alguns casos até se sobrepõem. Os diversos grupos mostramuma coesão (a 
formação de uma rede) pois têm o mesmo objetivo político: o afastamento de 
Dilma Rousseff. 
Muitas páginas identificadas são responsáveis pela conexão entre as 
comunidades, por exemplo, a página de Jair Bolsonaro tem maior popularidade na 
comunidade da direita conservadora, contudo também possui conexões com as 
comunidades do Exército e da direita com discurso “punitivista”. 
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A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
 Os dados também ilustram que existe uma forte densidade entre as 
comunidades da direita conservadora (que de certa forma serviu como referência 
ideológica para os demais clusters da direita), as páginas ligadas aos grupos militares 
(aqui identificados como exército), a comunidade punitivista e a comunidade liberal 
(agrupado em torno do MBL). A figura também indica que existe maior 
proximidade entre os clusters do VemPraRua, com as páginas de mídia, políticos da 
oposição (principalmente PSDB e DEM) e a comunidade das páginas contra a 
corrupção. 
 A figura 2 ajuda, ainda, a identificar as páginas que tiveram maior 
centralidade: Exército Brasileiro, Jair Bolsonaro, MBL, Veja, Folha de São Paulo, 
Aécio Neves, Movimento Contra a Corrupção, Estadão, VemPraRua e Olavo de 
Carvalho. Essa variedade de perfis permite verificar que os principais nós da rede 
da direita reúnem páginas diversas que variam desde políticos tradicionais (Aécio 
Neves), políticos representantes do setor conservador e militar (Jair Bolsonaro), 
novos grupos de direita (MBL, MCC e VemPraRua), ideólogos de direita (Olavo de 
Carvalho) e a mídia tradicional (Veja, Folha SP e Estadão). 
 
Considerações finais 
 A direita nas redes sociais de internet conseguiu mobilizar diferentes setores 
e segmentos da sociedade durante os protestos contra Dilma Rousseff nos anos de 
2015 e 2016. Como aponta Castells (2013), o poder na sociedade em rede é o 
poder da comunicação, isto é, os grupos de direita, com diferentes matizes, 
conseguiram programar as diferentes comunidades com a produção de conteúdos que 
conseguiram tecer uma narrativa que associou as investigações de corrupção 
ligadas à Lava-jato com o governo petista e direcionar os protestos para pressionar 
em favor do impeachment. A rede de direita se caracteriza por conseguir 
estabelecer conexões com diferentes setores da sociedade, com celebridades, setores 
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A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
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e atores da mídia tradicional e apoio de empresários, criando condições para a 
ampliação do poder mobilização política e de recursos. 
A direita na rede que atuou no debate político do impeachment também 
conseguiu se articular em torno de uma identidade anti PT, anti Corrupção e anti 
Comunismo. A produção do discurso que conseguiu associar o Partido dos 
Trabalhadores com a corrupção e os “perigos do comunismo”, permitiu formar 
uma frente ampla de direita que se articulou na construção de uma identidade de 
um “nós” (cidadãos de bem) em oposição a “eles” (esquerda, petistas, comunistas). 
Como indica Mouffe (2005) em sua construção teórica de seu modelo de 
democracia agonística, o político, em sua essência passional e conflitiva, inerente às 
relações humanas, se estabelece pela distinção discursiva da criação de um nós em 
oposição a eles. Assim, a rede de direita conseguiu agrupar em torno de si perfis e 
páginas com posicionamentos políticos, sociais e ideológicos diferenciados, mas 
agrupados em uma “identidade de direita” na luta para “tirar o PT do poder”. 
O referencial de network analysis (PORTUGAL, 2007) ainda permite destacar 
que a rede de direita no Facebook se caracteriza pela existência de alguns nós, que 
por seu capital social (dentro e fora da internet), ajudaram a produção do discurso 
e, principalmente, na difusão de uma interpretação de uma conjuntura específica. A 
presença da mídia tradicional na rede, demonstra que esta também teve um papel 
central: na produção de conteúdos que alimentaram a construção da narrativa; na 
divulgação e mobilização para os eventos de protesto; e na validação da perspectiva 
que criminalização do PT expressa em suas reportagens e análises. 
Com o afastamento de Dilma Rousseff em 2016, a direita nas redes perde 
seu elemento unificador (identidade). Os grupos políticos rumam por caminhos 
diferentes e mostram sua fragmentação temática e ideológica, assim como 
contradições. Alguns actantes importantes da rede perdem a centralidade, outros 
migram dentro das comunidades para se realinhar a uma nova conjuntura. Essa 
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CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.12-24, abril 2018. 
 
fragmentação deve ser expressa na formação das chapas presidenciais para as 
eleições de 2018, principalmente se Lula não puder ser candidato à presidência. 
 
 
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CLAUDIO PENTEADO, CELINA LERNER 
A DIREITA NA REDE: MOBILIZAÇÃO ONLINE NO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF 
 
 
 
 
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HELCIMARA TELLES 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.25-30, abril 2018. 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS 
INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR)1 
 
Helcimara Telles 
Professora e pesquisadora na UFMG 
mara-telles@uol.com.br 
 
Resumo: O presente artigo parte do descontentamento e desafeição à democracia apontando para o crescimento 
de partidos insurgentes, analisando, assim, suas características e efeitos emergentes de uma política 
predominantemente radical. Além disso, pondera sobre o avanço de movimentos de outsiders que se expandiram 
através da internet, definidos como alternative right (AR) e indaga os limites das lideranças e instituições 
brasileiras acerca da expressão institucional desta nova força. 
 
Palavras-chave: partidos insurgentes; alternative right; ar; democratas insatisfeitos; direita radical. 
 
Abstract: The present article starts from the discontent and disaffection to the democracy pointing to the growth of 
insurgent parties, analyzing, their characteristics and emerging effects from a predominantly radical politics. In 
addition, there is the weighting 
about the progress of outsiders' movements that have expanded through the internet, defined as alternative right 
(AR), and investigates the limits of Brazilian leadership and institutions about the institutional expression of this 
new force. 
 
 
Keywords: insurgent parties; alternative right; ar; Democrats dissatisfied; radical right. 
 
A literatura mais recente demonstra o crescimento da corrosão da 
confiança do público nas instituições políticas democráticas. Trata-se de um 
fenômeno que tem atingido diversas democracias, inclusive as mais 
consolidadas, o que tem sido denominado como democracia 
de democratas insatisfeitos. Quais os impactos do descontentamento e a 
desafeição à democracia pode ter sobre a estabilidade dos regimes 
democráticos? E ainda, a insatisfação com a democracia pode ameaçar o seu 
 
1
 Artigo apresentado no seminário "Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos Insurgentes" 
organizado pela Associação Brasileira de Ciência Política - Regional Sudeste e NEAMP / PUC SP. São 
Paulo, 29 de março de 2018. 
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HELCIMARA TELLES 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.25-30, abril 2018. 
funcionamento? Alguns cientistas consideram que a insatisfação não se 
constitui em um problema para a estabilidade democrática, uma vez que as 
críticas a ela podem ser reduzidas em função da ação das lideranças e da força 
das instituições, que estariam aptas e fortalecidas para barrar os movimentos 
dos grupos autoritários ou dos democratas ambivalentes, e prover as 
demandas dos cidadãos por maior qualidade da democracia e das políticas 
públicas. 
Contudo, é inegável que existe um crescimento de grupos que se 
insurgem contra o sistema político e que passaram a controlar agendas 
nacionais e internacionais. Em toda a Europa, a elite política está sendo 
questionada pelos novos partidos menores e ágeis, de ideologias de esquerda 
e de direita, que têm conseguido forçar mudanças na agenda da União 
Europeia, além de influenciarem os partidos convencionais a adotar suas 
posições. A decisão dos britânicos de abandonar a União Europeia, cujo 
plebiscito foi organizado pela nacionalista UKIP, é uma manifestação das 
forças anti-establishment. Os partidos não convencionais estão ganhando 
assentos em governos locais, regionais, nacionais e europeus, e questionando 
as posições dos grupos políticos tradicionais sobre a forma de legislar. Eles 
têm representação, desempenham funções em governos de inúmeros estados 
membros da União Europeia e possuem centenas de assentos em 
parlamentos. 
O Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) identificou 45 
partidos insurgentes, sendo 27 deles de “direita radical”. Dessemelhante dos 
partidos nazistas, vistos como “patológicos”, a direita radical seria sintoma de 
uma malaise democrática – crise de confiança na democracia representativa. 
Uma característica básica dos partidos de direita radical é sua retórica 
antissistema. O núcleo desta família ideológica deve ser definido por duas 
características: a xenofobia etno-nacionalista e o populismo anti-establishment. 
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HELCIMARA TELLES 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.25-30, abril 2018. 
Rotulados como alternativa à direita, populistas, extrema direita, fascista, 
protesto das organizações de base, eles são partidos autoritários, têm 
posicionamento anti-pluralista, rechaçam a democracia liberal e não podem 
ser classificados a partir de uma clivagem econômica, porque a ênfase que dão 
ao papel do Estado pode variar entre eles do liberalismo econômico a um 
Estado forte. Em termos programáticos, estas formações em geral são céticas 
sobre a União Europeia (eurocepticismo), críticos em relação aos Estados 
Unidos, mas menos críticos em relação à Rússia. Em geral eles são favoráveis 
a limitar a imigração e a sair da União Europeia. Além disso, preferem 
fronteiras fechadas, imigração escassa e protecionismo comercial. 
O quanto e como influem? As principais alavancas de influência são 
a sua capacidade de gerar debates na mídia em vez de trabalhar a partir das 
instituições. Estas formações não são todas semelhantes, muito embora a 
questão da migração seja o elemento que mais os unifique e, além do 
eurocepticismo ser outro dos pilares ideológicos da direita radical europeia. 
Contudo, suas condutas dentro do Parlamento Europeu nem sempre são 
coesas e a falta de unidade dentro do Parlamento Europeu fornece evidências 
de pouca coesão em suas estratégias e débeis laços de organização 
transnacional. 
Por sua descrença nos políticos tradicionais usam o populismo para 
criticar as elites e “castas” e “devolver o poder ao povo" através da 
democracia direta. As estratégias utilizadas são o uso das mídias e redes 
sociais, a pressão popular e cargos políticos que ocupam para forçar 
referendos nacionais sobre questões que anteriormente estavam sob o 
controle dos governos. Eles são mais enraizados na sociedade do que 
ocupam cargos públicos. Em consequência, são excluídos dos recursos 
públicos, que consistem principalmente de financiamento estatal, mais 
disponível aos partidos cartel. Os partidos da direita radical estão cientes das 
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HELCIMARA TELLES 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.25-30, abril 2018. 
vantagens que têm com a representação institucional em parlamentos, pois o 
financiamento público tornou-se importante para a sobrevivência dos 
partidos na contemporaneidade. Direta ou indiretamente, participar da vidainstitucional é um grande negócio para a sobrevivência financeira e 
organizacional dos pequenos partidos radicais. 
Por que emerge a direita radical? A direita radical é dividida em 
uma infinidade de posições e preferências políticas e antagonismo político. 
Seus fundamentos ideológicos e programáticos e as suas características 
organizacionais são tão diversos que é complicado difícil agrupá-las sob um 
nome distinto de uma família de partidos. Estas formações surgiram a partir 
das alterações do clima da política: insatisfação com os partidos, sobretudo 
os de matriz de esquerda, acusados de não representarem as demandas 
sociais; a cartelização dos partidos tradicionais, que fracassam em sua função 
de representação e que enfatizam a função de recrutamento de elites e 
participação em governos. Além disso, a própria proposta da União Europeia 
e a globalização, que desfez as identidades, teve como consequência um 
movimento de “retorno às identidades”, o nacionalismo, e o medo da 
“invasão” de valores não europeus, gerando a islamofobia. 
Após o resultado das eleições alemãs, na qual a direita e a social 
democracia perderam territórios eleitorais importantes, ficam mais fortes duas 
hipóteses explicativas (e alternativas) para o crescimento da direita radical: 
uma primeira tem o seu foco nas características dos partidos (ofertas), a outra 
se concentra no perfil dos eleitores. A primeira explicação argumenta que a 
convergência (ou indiferenciação) dos partidos social democratas e dos 
conservadores moderados, assim como o longo período de governo destes 
últimos, encorajou os eleitores a abandonar a sua fidelidade aos partidos 
conservadores estabelecidos. Para outros, ao contrário, é a radicalização 
política e a polarização do sistema partidário que explica a emergência da 
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DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
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extrema-direita. Os partidos radicais seriam efeito da "revolução pós-
materialista". Isso significa que a adoção de temas pós-materialistas pelos 
partidos, ao invés de terem levado gradualmente ao "progressismo", teriam 
impactos neoconservadores do ponto de vista político-cultural (retorno de 
valores tradicionais como ordem, família, Estado forte) e econômico (crítica 
do Estado de Bem-Estar, individualismo, elogio da empresa), assim como 
uma “direitização” dos partidos conservadores. 
Combinam-se duas explicações para o crescimento da direita radical: 
a polarização crescente a partir de 1945, um processo de convergência dos 
partidos dominantes no período e a “cartelização dos partidos”, cada vez mais 
afastados da função de “representar” e mais aptos para apenas “governar”. 
Os últimos resultados na França, Espanha e Alemanha - fracasso eleitoral 
histórico dos sociais democratas -, indicam uma “onda” em direção a um 
populismo do tipo autoritário. Não se pode desconsiderar que o patriotismo, 
a identidade e o nativismo – o exclusivismo da Nação, que exclui outros 
grupos -, são fortes elementos discursivos destas formações, o que se pode 
notar nas campanhas da AFP, que obteve um resultado inédito na Alemanha 
em 24 de setembro, combinando patriotismo, islamofobia e desejo de 
segurança. Os eleitores destes partidos podem ser cunhados como os 
“perdedores da globalização”. 
Historicamente, na construção dos regimes autoritários, o binômio 
“lei e ordem” foi fundamental para dar legitimidade e criar adesão e 
cooperação com regimes totalitários, como o Nazismo. Na “Front Nacional” 
francesa, o discurso xenófobo e racista foi afastado e, em seu lugar, foi 
inserido o eixo “lei e ordem” como justificativa racionalizada de “segurança”. 
A FN se aproximou mais do cidadão médio, que recusa o racismo e ofereceu 
uma justificativa para aderir à FN. Segurança e “soberanismo radical” têm 
sido a base da extrema direita, assim como o “populismo autoritário”. A 
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HELCIMARA TELLES 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.25-30, abril 2018. 
“segurança” – física ou simbólica (segurança de bens imateriais, como a 
cultura e os valores, por exemplo) é fundamental para o Nativismo que 
caracteriza a direita radical europeia. 
Alternative Right (AR) - Falamos muito da associação entre direita 
radical e outsiders para nos referirmos a pessoas da direita radical que podem 
“entrar” no sistema político com discursos populistas e sem capital político. 
Os outsiders são uma referência ao recrutamento de novos quadros políticos 
fora das elites tradicionais. Mas, existem os outsiders sociais, que são 
fundamentais para o entendimento do pensamento da direita radical. Eles 
são os “marginais sociais” - grupos que não seguem os valores propostos. 
Outro tema é o da segurança, pois o reforço ao Estado policial foi 
fundamental para os regimes autoritários e totalitários. Além do consenso e 
da tolerância para a limpeza dos social outsiders, outro elemento para garantir a 
política de varredura e de eugenia no nazismo foi a ascensão da polícia à custa 
do Estado de Direito para realizar ações contra os “criminosos”. Cada vez 
mais foram aumentando os poderes da Polícia, sem qualquer referência aos 
tribunais. 
Recentemente a literatura cunhou o termo Alt-Right (AR) para 
denominar movimentos que se expandiram através da Internet. Os AR 
cresceram junto aos jovens por usarem de uma linguagem adequada a estes 
grupos, na forma de memes produzidos por profissionais. A sua ascensão 
ocorre durante o Brexit e atinge seu apogeu na campanha de Trump. Atacam 
a esquerda e os liberais, de forma geral, são racistas e anti-multiculturalismo. 
Além do extremo nacionalismo e xenofobia, há um aspecto específico nesta 
“ideologia”: a “Masculinidade”. O movimento vem atraindo mais os homens 
que as mulheres, especialmente por ser antifeminista. 
O movimento se caracteriza também por defender a radical liberdade 
de expressão e são contra qualquer “censura”. Isso significa que se pode 
31 
HELCIMARA TELLES 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.25-30, abril 2018. 
encontrar um AR por aí na Internet disseminando discursos de ódios e 
justificando isso como “defesa da liberdade de expressão”. O AR é irracional, 
dogmático e combate a ciência (e a universidade). Na realidade, os AR negam 
qualquer verdade verificável - por isso são dogmáticos. Não adianta 
demonstrar que algumas de suas afirmativas são “pós-verdade”, pois eles 
agem pela fé e movidos por suas crenças. Assim, podem relativizar tudo e 
contestam até mesmo a existência de ditaduras e reinterpretam os fenômenos 
sem sustentação científica ou factual, do tipo “Nazismo é Esquerda, Ditadura 
no Brasil nunca existiu”. Mas, muito embora desinformados, os AR recrutam 
seu exército entre os mais escolarizados. 
O AR é um fenômeno online, surgido depois dos NEOCON e seu 
foco é o “nacionalismo branco”. E, o que permitiu sua emergência? A 
globalização que retirou a "identidade" da pauta, a perda da soberania dos 
Estados Nacionais, os limites enfrentados pela socialdemocracia e para 
manter o Estado de Bem-Estar, além do sequestro dos Estados pelas 
corporações explicam muito os AR, que criticam o sistema político, propõem 
devolver a “democracia ao povo” e se consideram numa cruzada contra os 
“politicamente corretos”, leia-se, contra os direitos civis e minorias. É uma 
reação total e radical aos direitos. 
O ethos discursivo bolsonariano possui muito dos elementos da direita 
radical, ideologia trasladada para os trópicos com novos elementos. Mas não 
se trata de um grupo nazista. Os nazistas eram considerados uma patologia, a 
direita radical é explicada como um sintoma da malaise democrática, que supõe 
uma crisede confiança nas democracias representativas em um contexto de 
globalização econômica. Contudo, este mal-estar iniciado na Europa 
transbordou para as Américas e Trump foi eleito Presidente dos Estados 
Unidos. O Brasil já está no caminho de expressar institucionalmente a 
extrema direita e ela agora já tem o seu líder. Resta saber se as lideranças e as 
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HELCIMARA TELLES 
DEMOCRACIA DE DEMOCRATAS INSATISFEITOS E A EMERGÊNCIA DOS 
ALTERNATIVE RIGHT (AR) 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.25-30, abril 2018. 
instituições brasileiras, absolutamente fragilizadas, num período de crise 
institucional, caos social, insatisfação com a democracia e sob um governo 
fraco, terão capacidade de reduzir o peso da expressão institucional desta 
nova força, uma vez que ela já existe em parcelas cada vez mais significativas 
da opinião pública brasileira. 
 
 
31 
MARIANA CÔRTES 
O DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA DOS GOVERNADOS 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.31-38, abril 2018. 
O DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA 
DOS GOVERNADOS1 
 
Mariana Cortês 
Pesquisadora e Professora da UFU 
marianampcortes@gmail.com 
 
Resumo: O presente ensaio-síntese pretende analisar a relação entre o pentecostalismo e a chamada “onda 
conservadora” no Brasil a partir da relação entre o estabelecimento de uma governamentalidade neoliberal que 
governa a partir de recortes das populações marginais e a criação de um dispositivo pentecostal que gere os sujeitos 
periféricos segundo critérios de vulnerabilidade e perigo. 
Palavras-chave: Neoliberalismo; pentecostalismo; governamentalidade; dispositivo. 
 
Abstract: The present essay-synthesis intends to analyze the relationship between Pentecostalism and the so-
called "conservative wave" in Brazil from the relationship between the establishment of a neoliberal 
governmentality that governs from cuts of the marginal populations and the creation of a pentecostal device that 
generates the peripheral subjects according to criteria of vulnerability and danger. 
Keywords: Neoliberalism; Pentecostalism; governmentality; device. 
 
 
Ronaldo de Almeida (2017) propôs um mapeamento do que tem sido 
denominado de “onda conservadora” e sua relativa ascensão em anos recentes no 
Brasil. Reconhecendo a imprecisão do termo e a dificuldade de se definir, do ponto 
de vista metodológico, o que é exatamente o conservadorismo, o autor, contudo, 
delineia as linhas de força que o atravessam e tenta situar o papel da Frente 
Parlamentar Evangélica nesse processo. O sociólogo reconhece quatro frentes de 
atuação da Bancada Evangélica no Congresso Nacional: 1) econômica, com agenda 
liberal de valorização da disposição empreendedora e do mérito individual e 
rejeição da políticas redistributivas de transferência de renda; 2) moral, com 
proposta ativa de regulação dos comportamentos, corpos e vínculos primários e 
recusa clara das reivindicações dos direitos à diferença de grupos minoritários; 3) 
securitária, com demanda por radicalização das ações punitivas dos aparelhos de 
 
1 Artigo apresentado no seminário "Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos Insurgentes" organizado 
pela Associação Brasileira de Ciência Política - Regional Sudeste e NEAMP / PUC SP. São Paulo, 29 de 
março de 2018. 
32 
MARIANA CÔRTES 
O DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA DOS GOVERNADOS 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.31-38, abril 2018. 
segurança do Estado; 4) interacional, com o impacto que a polarização política entre 
“direita” e “esquerda” produziu nas relações interpessoais ao gerar um acirramento 
dos afetos. Das quatro dimensões analisadas por Ronaldo de Almeida (2017), o 
conservadorismo moral da bancada evangélica talvez seja o que tenha mais 
chamado a atenção da produção acadêmica sobre o tema (MACHADO, 2017; 
MARIANO, 2016). Contudo, para os fins desse ensaio-síntese, gostaria de analisar 
a dimensão propriamente econômica do chamado conservadorismo evangélico. 
Em outros termos, gostaria de propor uma reflexão sobre as afinidades eletivas 
entre o pentecostalismo (mais especificamente, o neopentecostalismo) e o 
neoliberalismo. Para compreender a relação entre ambos, faz-se necessário analisar 
o deslocamento da questão social no Brasil contemporâneo a partir da perspectiva 
das populações marginais, que compõem as camadas portadoras por excelência do 
pentecostalismo. O contexto da redemocratização, durante os anos 1980, foram 
marcados por movimentos sociais que lutaram por direitos sociais e a 
concretização do sonho de construção de uma cidadania universal. Contudo, na 
década de 1990, a difusão do fatalismo neoliberal e o fim da “hipótese superadora” 
(TELLES, 2010) produziram resultados dramáticos na vida dos habitantes das 
periferias das grandes cidades. Observou-se a emergência de uma nova 
configuração societária nas periferias das grandes cidades, principalmente para o 
contexto de São Paulo: a estabilidade do emprego fordista cedeu lugar ao 
desemprego ou ao subemprego precário; o mundo do crime tornou-se uma 
alternativa sedutora para jovens que viram suas perspectivas de futuro fraturadas; 
os setores progressistas da Igreja Católica saíram de cena ao passo que proliferaram 
igrejas pentecostais que prometiam a libertação do mal por meio da expulsão de 
demônios e a conquista da prosperidade (FELTRAN, 2007). Diante da 
perplexidade da dissolução de uma promessa de constituição de uma sociedade 
mais democrática, justa e igual, as análises de parte dos autores das ciências sociais 
durante os anos 1990 enfatizavam a potência destruidora do neoliberalismo – o 
33 
MARIANA CÔRTES 
O DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA DOS GOVERNADOS 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.31-38, abril 2018. 
“desmanche” neoliberal (SCHWARZ, 1999) havia criado um clima de “terra 
arrasada”. Contudo, durante os anos 2000, começou-se a se suspeitar de que o 
neoliberalismo não operava apenas por meio da destruição, não era possível 
interpretá-lo somente sob a perspectiva do que ele desmontava (no caso do Brasil, 
muito mais um projeto ideado do que uma realidade concreta), mas também sob o 
ponto de vista do que ele criava. 
Desse modo, o que estava acontecendo não poderia exclusivamente ser 
descrito como um desmanche. Os processos em curso indicavam a criação de uma 
nova tecnologia de poder, uma nova racionalidade governamental. Portanto, o 
neoliberalismo não é simplesmente uma ideologia da meritocracia que mascara a 
intensificação da exploração do trabalho sob o capitalismo flexível, ou um 
conjunto de políticas econômicas, que incluem a austeridade fiscal, o corte nos 
gastos públicos, o enxugamento do Estado, a dissolução de direitos sociais, a 
privatização de serviços públicos, a flexibilização das relações de trabalho. O 
neoliberalismo, nesse sentido, não pode ser entendido apenas como ideologia ou 
política econômica. Trata-se disso, mas não apenas. Na esteira dos estudos de 
Michel Foucault (2008a; 2008b) e do trabalho de Christian Laval e Pierre Dardot 
(2016), pode-se pensar o neoliberalismo como uma nova modalidade de 
governamentalidade, ou seja, uma forma emergente de conduzir a conduta dos 
indivíduos. A arte de governar neoliberal não visa direcionar o povo rumo a um 
telos civilizatório ou a uma escatologia emancipatória. Não quer planificar um 
povo, mas administrar uma população (FOUCAULT, 2008a; 2008b). O 
neoliberalismo gere a população não como um bloco homogêneo que deve ser 
direcionado por um plano que foi previamente traçado, mas por cesuras 
biopolíticas diferenciais. Com a derrocada do horizonte do universalismo da 
cidadania, institui-se um governo seletivo que produz recortes nos sujeitos que 
habitam as margens, conforme parâmetros de vulnerabilidade e perigo 
(FELTRAN, 2014). Desse modo, estabelece-se uma relação entre o Estado e suas 
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MARIANA CÔRTESO DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA DOS GOVERNADOS 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.31-38, abril 2018. 
margens, pois os próprios sujeitos moradores das periferias passam, segundo os 
critérios a partir dos quais foram recortados (pobres, carentes, precários, 
vulneráveis, perigosos, sofridos, jovens em conflito com a lei, mulheres vítimas de 
violência doméstica, adolescentes grávidas, catadores de lixo, viciados em craque), 
a criar dispositivos de gestão de seus dramas cotidianos, que foram, por sua vez, 
previamente nomeados, classificados, catalogados por um governo que só funciona 
por meio de cesuras biopolíticas. Com isso estamos em condições de decifrar uma 
das estratégias mais sutis da racionalidade neoliberal: o neoliberalismo não governa 
contra a liberdade. A liberdade não representa um obstáculo para o governo: é sua 
condição de possibilidade (DARDOT, LAVAL, 2016; FOUCAULT, 2008a, 
2008b). A governamentalidade só é possível a partir da agência dos governados; 
sua criatividade, produtividade, engajamento. 
Assim, a partir desse preâmbulo sobre a especificidade do neoliberalismo, 
gostaria de argumentar que, a partir dos recortes fomentados pelo governo 
seletivo, o pentecostalismo é uma das agências sociais que produziu, a partir do 
engenho dos próprios governados, uma das formas mais inventivas de gestão da 
conduta das populações marginais no Brasil. Recortados como marginais (e suas 
infinitas variantes) os pentecostais criaram suas próprias estratégias para lidar com 
o sofrimento nas periferias. Com isso, é necessário revisitar o diagnóstico de parte 
da sociologia da religião dos anos 1990 sobre a expansão das igrejas pentecostais 
naquele contexto. Na apreensão de Pierucci e Prandi (1996), por exemplo, a 
remagificação do religioso, a democratização do êxtase e a exacerbação do 
emocional eram sintomas do renitente atraso brasileiro, próprio de um país que 
não levou o processo de secularização às últimas consequências. Contudo, 
dificilmente poderíamos continuar descrevendo o movimento pentecostal, 
principalmente o neopentecostal, como apenas uma espécie de “pronto-socorro” 
mágico para desesperados, sinal inequívoco da nossa inoperância civilizacional. O 
pentecostalismo tornou-se, de fato, uma tecnologia social de condução da conduta 
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MARIANA CÔRTES 
O DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA DOS GOVERNADOS 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.31-38, abril 2018. 
extremamente eficaz e absolutamente adequada à racionalidade neoliberal – mais 
avant garde impossível. Desde os anos 1990, observa-se, por exemplo, a 
disseminação de uma indústria pentecostal de bens materiais e simbólicos, que 
institui, como argumentei em outros trabalhos (CÔRTES, 2007; 2017), um 
mercado de pregações e testemunhos, em que o passado mundano de pregadores-
itinerantes é vendido como mercadoria simbólica – o sofrimento torna-se valor 
agregado em uma espécie de capitalismo religioso altamente competente. A partir 
da década de 2010, a Igreja Universal do Reino de Deus, uma das principais 
denominações da corrente neopentecostal, passa a instituir um novo agenciamento 
da subjetividade de seus fieis: não se trata apenas de resolver de forma pontual um 
demanda aguda de uma população flutuante, mas de praticar uma “fé racional” – 
estabelecer uma nova relação de si para consigo, que implica racionalizar a vida 
cotidiana, cumprir desafios, estabelecer metas, trabalhar para a criação de si 
próprio como um capital humano que deve ser sistemática e infinitamente 
valorizável. Em uma estratégia de fidelização do cliente, para usar um dos mantras 
do new manegement, a Universal criou grupos específicos (como o Godlywood, voltado 
para as mulheres; e o Intellimen, direcionado aos homens), em que os participantes 
são instados a vencer desafios semanais na execução de “tarefas” (as mais variadas, 
desde preparar um jantar para a família como ser vigilante nos cuidados higiênicos 
com o corpo) (ABREU, 2017; GUTIERREZ, 2017). Nessa modulação da 
subjetividade, o mundo da casa torna-se análogo ao mundo corporativo – todas as 
ações são meios de produção para a valorização permanente do capital de si 
mesmo. Se, por princípio, pode parecer contraditório que no Brasil uma pauta 
conservadora se combine como uma agenda neoliberal, o mecanismo de 
subjetivação da Universal resolve a aparente contradição: afirmar valores 
tradicionais e revitalizar velhos papéis sociais do que significa ser homem ou 
mulher, ou seja, ser conservador, ou melhor, tornar-se de forma mais eficaz um “bom 
conservador”, faz parte de um empreendimento racionalizado de intensificação do 
36 
MARIANA CÔRTES 
O DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA DOS GOVERNADOS 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.31-38, abril 2018. 
capital humano, um dos princípios fundamentais da racionalidade neoliberal. Além 
disso, a Universal, direcionada aos grupos dominados, desestimula a permanência 
em empregos formais que implicam a subordinação a um patrão, e incita todos e 
todas a se tornar empreendedores em um mercado informal, ainda que na figura 
estranha de uma ralé-empreendedora. Outros exemplos poderiam ser dados sobre 
o dispositivo pentecostal que reelabora o neoliberalismo nos seus próprios termos. 
Contudo, para os fins desse breve ensaio-síntese, pode-se concluir que para além 
da luta político-ideológica entre “progressistas” e “conservadores” e a guerra 
parlamentar no Congresso Nacional, neoliberalismo e pentecostalismo devem ser 
compreendidos como tecnologias de poder de modulação da conduta que rebatem 
uma sobre a outra: entre o governo seletivo que recorta a população marginalizada 
e os dispositivos pentecostais criados pelos sujeitos periféricos previamente 
delimitados como tais, há uma relação que se retroalimenta nas formas de gerir os 
marginais, por meio de uma racionalidade governamental que só é capaz de 
governar a partir da agência dos governados. A criatividade pentecostal, surgida de 
dentro das margens, é uma das pré-condições, entre outras, que permite a 
perpetuação da governamentalidade neoliberal. 
 
 
 
 
 
Referências 
 
ABREU, Nayara. “Magia” neopentecostal e “espírito” neoliberal. (Dissertação) Mestrado em Ciências 
Sociais. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Universidade Federal de Uberlândia. 
2017. 
ALMEIDA, Ronaldo de. A onda quebrada – evangélicos e conservadorismo. In: Dossiê 
Conservadorismo, direitos, moralidade e violência. Cadernos Pagu, n. 50, 2017. 
CÔRTES, Mariana. O bandido que virou pregador. São Paulo: Hucitec, 2007. 
_____ Diabo e fluoxetina: pentecostalismo e psiquiatria na gestão da diferença. Curitiba: Appris, 2017. 
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São 
Paulo: Boitempo, 2016. 
37 
MARIANA CÔRTES 
O DISPOSITIVO PENTECOSTAL E A AGÊNCIA DOS GOVERNADOS 
 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.31-38, abril 2018. 
FELTRAN, Gabriel. Vinte anos depois: a construção democrática brasileira vista da periferia de São Paulo. 
Lua Nova: Revista de Cultura Política, n. 72, 2007. 
Valor dos pobres: A aposta no dinheiro como mediação para o conflito social contemporâneo. Caderno CRH 
(UFBA. Impresso), v. 27, pp. 495-512, 2014. 
FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008a. 
_____. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008b. 
GUTIERREZ, Carlos. Reflexividade evangélica a partir da produção crítica e construção de projetos de vida 
na Igreja Universal do Reino de Deus. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Unicamp, 
Campinas, 2017. 
MACHADO, Maria das Dores C. Pentecostais, sexualidade e família no Congresso Nacional. Horizontes 
Antropológicas (UFRGS. Impresso), v. 47, p. 351-280, 2017. 
MARIANO, Ricardo. Expansão e ativismo político de grupos evangélicos conservadores: Secularização e 
pluralismo em debate. Civitas:Revista de Ciências Sociais, v. 16, p. 710-728, 2016. 
PIERUCCI, Flávio; PRANDI, Reginaldo. A realidade social das religiões no Brasil. São Paulo: 
Hucitec, 1996. 
SCHARWZ, Roberto. Sequências brasileiras: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 
TELLES, Vera. A cidade entre as fronteiras do legal e do ilegal. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2010. 
39 
EDUARDO HELENO DE J. SANTOS 
OUTRO OLHAR SOBRE AS FORÇAS ARMADAS: OS GRUPOS DE PRESSÃO POLÍTICA FORMADOS 
POR MILITARES DA RESERVA 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.39-45, abril 2018. 
 
OUTRO OLHAR SOBRE AS FORÇAS ARMADAS: 
OS GRUPOS DE PRESSÃO POLÍTICA 
FORMADOS POR MILITARES DA RESERVA1 
 
Eduardo Heleno de J. Santos 
Professor e pesquisador INEST/UFF 
eduardoheleno@id.uff.br 
 
Resumo: Este artigo mostra como se articularam grupos de pressão política formados por militares da reserva ao 
longo da redemocratização aos dias atuais. Eles buscam influenciar a opinião pública a respeito de temas como o 
avanço das esquerdas, a anistia dos crimes cometidos no regime cívico-militar e a assunção de maior papel político 
dos militares. 
Palavras-chave: Grupos de pressão política; militares; Forças Armadas; Sociedade 
 
Abstract: This article shows how the pressure groups formed by retired military are formed throughout the re-
democratization to the present day in Brazil. Among its objectives were to influence public opinion on issues such 
as the advancement of the leftist, the amnesty of crimes committed in the civil-military regime and the assumption of 
a greater political role of the military. 
Keywords: Pressure Group; military; Armed Forces; Society 
 
Embora haja uma extensa literatura sobre as Forças Armadas no Brasil e 
sua relação com o poder civil, mostraremos nesse breve artigo um aspecto pouco 
conhecido, presente desde a redemocratização: a existência de grupos de pressão 
política formados por militares da reserva, constituídos para recuperar o status quo 
ante e se contrapor à agenda dos partidos e movimentos de esquerda. Esses grupos 
são formados por oficiais de alta patente (generais, coronéis), muitos com 
experiência na área de informações e inteligência, atuantes durante o regime cívico-
militar e na redemocratização. Atuando em várias cidades, alguns grupos contam 
com centenas de integrantes. Os discursos pelos quais seus integrantes buscam 
 
1 Artigo apresentado no seminário "Conservadorismo, Novas Direitas e Grupos Insurgentes" organizado 
pela Associação Brasileira de Ciência Política - Regional Sudeste e NEAMP / PUC SP. São Paulo, 29 de 
março de 2018. 
40 
EDUARDO HELENO DE J. SANTOS 
OUTRO OLHAR SOBRE AS FORÇAS ARMADAS: OS GRUPOS DE PRESSÃO POLÍTICA FORMADOS 
POR MILITARES DA RESERVA 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.39-45, abril 2018. 
 
influenciar a opinião pública estão marcados pela prédica com forte viés 
anticomunista, pelo retorno do papel político das Forças Armadas, e pelo 
ressentimento em relação aos media, em particular, e à sociedade, como um todo. 
Presente por muito tempo nos rituais e cerimônias, assim como no 
imaginário de alguns oficiais e praças, o discurso de viés anticomunista balizou, 
desde 1935, a criação do novo Exército no período Vargas.2 Embora a década de 
1930 seja marcada por um golpe de Estado, pela fragmentação do Exército da 
República Velha, pela guerra civil de 1932, e por quase uma centena de quarteladas, 
é a narrativa da Intentona Comunista que causa marcas profundas no processo de 
institucionalização da memória da corporação. No âmbito interno, os comunistas, 
mais do que os integralistas, serão vistos como traidores e inimigos da instituição.3 
Essa percepção será continuada no período da Guerra Fria, por exemplo, nos 
debates no Clube Militar na década de 1950. Cabe lembrar que os expurgos de 
oficiais associados ao comunismo, que tem início em 1935, ganharão novo fôlego a 
partir de 1964. Segundo Paulo Cunha e Marcus Figueiredo, os militares serão a 
categoria mais afetada com as perseguições e expulsões ocorridas no regime cívico 
militar: 7500 militares serão punidos. O anticomunismo, revigorado pelas doutrinas 
de Guerra Revolucionária e de Segurança Nacional no âmbito militar, e pelos mais 
diversos grupos no âmbito civil, marcará a identidade das Forças Armadas por 
muitos anos. 
Outro aspecto ideológico presente por gerações nas Forças Armadas e 
visível nesses grupos de pressão política é a concepção de uma autonomia 
ampliada da instituição, capaz de projetá-la a realizar um papel político distinto, 
reconhecível e instrumentalizável por suas lideranças, de salvaguarda das 
 
2 O primeiro ensaio dessa propaganda está presente no cerimonial instituído em seu governo e no livro 
Em Guarda contra o Comunismo, uma compilação de artigos da imprensa e do governo contra a quartelada 
protagonizada pelos militares comunistas em novembro de 1935, publicado pela então Biblioteca Militar. 
3 Curiosamente, no âmbito externo, os pracinhas brasileiros atuarão na segunda guerra mundial, no 
grande esforço global com democratas e comunistas, na contenção do nazismo. 
41 
EDUARDO HELENO DE J. SANTOS 
OUTRO OLHAR SOBRE AS FORÇAS ARMADAS: OS GRUPOS DE PRESSÃO POLÍTICA FORMADOS 
POR MILITARES DA RESERVA 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.39-45, abril 2018. 
 
instituições nacionais, de promotora do desenvolvimento nacional e árbitro das 
crises políticas. Relacionado com a própria instauração da República, construído ao 
longo do processo de modernização do Exército na década de 1920 e 
gradativamente efetivado a partir da década de 1930, esse processo de autonomia 
política seria a base para a Política Laudatória, segundo interpretação de Edmundo 
Campos Coelho, ou o Poder Moderador, para Alfred Stepan. Essa autonomia tem 
o seu clímax em 1964, com o golpe e com o regime por ele instaurado, tendo 
consequências nos mais diversos campos da administração pública, incluindo, é 
claro, as Forças Armadas. Essa autonomia será lentamente reduzida, em avanços e 
retrocessos, de tal forma que somente a partir de 1990 o poder civil não sofrerá a 
tutela dos militares. 
O ressentimento com a sociedade presente nos discursos desses grupos de 
pressão política não virá somente dessa redução do papel político das Forças 
Armadas, como também da constante e silenciosa tensão entre o poder civil e o 
poder militar, devido à possibilidade de um maior enquadramento dos militares ao 
novo status quo, em especial no que tange ao julgamento, como ocorrera na 
Argentina, dos agentes envolvidos na repressão. Nesse aspecto, o papel da mídia e 
dos políticos críticos ao regime cívico-militar ampliou a sensação de revanchismo 
presente, reforçando entre esses militares o anticomunismo e a defesa de maior 
representação política. Tendo como base esses elementos discursivos, notamos o 
surgimento de 22 grupos de pressão política formados por militares da reserva 
desde 1984. Relatamos aqui, de forma sucinta, a atuação de alguns deles. 
Na transição, militares da ativa e da reserva ligados ao Centro de 
Informações do Exército (CIE) utilizaram o jornal Letras em Marcha, que tinha 
tiragem de 15 mil exemplares e era distribuído para a tropa, como instrumento de 
pressão para fazer campanha contra o candidato Tancredo Neves. A disseminação 
da propaganda feita pelo jornal era parte da Operação Bruxos, planejada pela 
cúpula do CIE para impedir a vitória de Neves. A operação chegou a contar com 
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EDUARDO HELENO DE J. SANTOS 
OUTRO OLHAR SOBRE AS FORÇAS ARMADAS: OS GRUPOS DE PRESSÃO POLÍTICA FORMADOS 
POR MILITARES DA RESERVA 
 
 
Em Debate, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.39-45, abril 2018. 
 
ataques a gráficas em várias cidades. Na visão desses militares estava em jogo a 
possibilidade de julgamentos como o que vinha acontecendo na Argentina. 
Ao longo do

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