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ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
As organizações internacionais fazem parte do direito internacional atual e são o resultado do aumento das relações internacionais e da necessidade da cooperação entre os estados. Nesse sentido, a anterior remissão à “Evolução institucional: do bilateralismo pontual ao multilateralismo institucional” (3.10.6.). Embora a multilateralidade seja característica do direito internacional e da diplomacia contemporâneas, não representa integralmente novidade, visto que alguns exemplos podem ser apontados no passado 294 . A instauração da Sociedade ou Liga das Nações (SdN), após a primeira guerra mundial, faz as organizações internacionais passarem a ter maior impacto na vida internacional. A SdN não nasceu abruptamente, mas resultou de projetos, cujo foco invariavelmente se punha em torno de mecanismos para assegurar a manutenção da paz, mediante instauração de sistemas mais ou menos utópicos de regulação da convivência organizada entre sujeitos de direito internacional, que, contudo, na época, não tiveram maior aceitação 295 . Discutiu-se se e em qual medida a SdN possuiria personalidade internacional, se esta poderia ser considerada sujeito de direitos e obrigações de direito internacional. A redação do Pacto não era de molde a auxiliar as interpretações daqueles que assim pensavam, ao contrário do que ocorre com a Carta das Nações Unidas, que reconhece a capacidade da organização de firmar tratados – a sua sede tem foros de extraterritorialidade, os seus funcionários gozam de prerrogativas e imunidades tendentes a facilitar-lhes o exercício de funções, e o artigo 104 regula que “a Organização gozará no território de cada um de seus membros da capacidade jurídica necessária ao exercício de suas funções e à realização de seus propósitos”. Em outras palavras, hoje não existem dúvidas a respeito da personalidade internacional das Nações Unidas, tampouco das organizações especializadas internacionais, bem como das principais organizações internacionais de vocação regional, como a União Europeia (UE) 296 e a Organização dos Estados Americanos (OEA) 297 . Organização internacional, no dizer de Abdullah EL-IRIAN, é “associação de estados (ou de outras entidades possuindo personalidade internacional), estabelecida por meio de tratado, possuindo constituição e órgãos comuns e tendo personalidade legal distinta da dos Estados-membros”. As organizações internacionais multiplicam-se à medida que aumenta a conscientização a respeito dos problemas especificamente internacionais, ante os quais são impotentes os estados, mesmo os que se arrogam a condição de mais poderosos, evidenciando as crescentes necessidades de operação coordenada por parte dos estados. Este seria o “modelo clássico” de expressão das organizações internacionais. Ao lado dessas respostas internacionalmente coordenadas dos estados, que se exprimem por meio das organizações intergovernamentais, é preciso contrapor as organizações não governamentais – as ONGs – que inovam o cenário e de certo modo conturbam a visão estatalmente ordenada do sistema internacional. Por isso cabe falar sucintamente a respeito das “Organizações não governamentais e sociedade civil internacional” (4.3.). As organizações intergovernamentais podem ser globais ou regionais: não importa a espécie, cada uma delas pode ter objetivo generalizado ou específico. O exemplo por excelência de organização generalizada são as Nações Unidas (4.1.1.) e, com anterioridade, a SdN. Como exemplo de organização regional generalizada, temos a OEA (4.2.2.). Variam as organizações – globais e regionais – especializadas, que podem ser classificadas segundo o seu objetivo seja preferencialmente econômico, cultural, social, judiciário, de comunicação, administrativo, de proteção ao meio ambiente ou tecnológico. Podem as organizações internacionais ser classificadas segundo o seu processo decisório, quer sejam supranacionais, como no caso da União Europeia (4.2.1.) ou intergovernamentais, por atuarem por meio de representantes estatais, que exprimem a posição e votam em nome e por conta de seus respectivos governos. Toda classificação é relativa, e todas as organizações internacionais têm finalidades administrativas, pois a maioria se ocupa da cooperação técnica e financeira. Com o surgimento da preocupação com os problemas ecológicos, verificou-se que diversas organizações passaram a tratar dos problemas com eles relacionados, conforme ocorreu com a FAO, a UNESCO, a Organização Marítima Internacional e a Organização Mundial de Meteorologia, além do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (a UNEP), que passou a ser a principal nessa área. Visando situar as organizações internacionais, serão a seguir consideradas: as “organizações internacionais de vocação universal” (4.1.), com menção detalhada da “Organização das Nações Unidas” (4.1.1.), com rápida menção às “organizações internacionais especializadas de vocação universal” (4.1.2.), antes de passar às “organizações internacionais de vocação regional” (4.2.) e prosseguir com as organizações não governamentais e sociedade civil internacional” (4.3.).
4.1. organizações internacionais de vocação universal
Dentre as organizações internacionais de vocação universal, lugar de destaque cabe à “Organização das Nações Unidas” (4.1.1.) e desta serão especificamente abordados: a “Assembleia Geral” (4.1.1.1.), o “Conselho de Segurança” (4.1.1.2.), a “Corte Internacional de Justiça” (4.1.1.3.); o “Secretariado” (4.1.1.4.); o “Conselho Econômico e Social (4.1.1.5.); o “Conselho de Tutela” (4.1.1.6.); e, a seguir, “funções, atribuições e ação coletiva” (4.1.1.7.).
4.1.1. Organização das Nações Unidas
A Organização das Nações Unidas (ONU) 298 é, no dizer da própria Carta, associação de Estados reunidos com os propósitos declarados de “manter a paz e a segurança internacionais”, “desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos”, “conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais para todos” e “ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos”. Resultou da segunda guerra mundial e veio substituir o organismo análogo que, sob a denominação de Sociedade das Nações, funcionou em Genebra após a primeira guerra mundial. Sua lei básica é a Carta das Nações Unidas, e foi assinada em São Francisco a 26 de junho de 1945. A Carta consta de preâmbulo e consiste em cento e onze artigos, e tem como anexo o Estatuto da Corte Internacional da Justiça, parte integrante da Carta. A Organização das Nações Unidas não é superestado, embora reúna a quase totalidade dos estados existentes. Os membros são originários ou eleitos, visto que os primeiros são os cinquenta e um países que participaram da Conferência de São Francisco e assinaram a Carta, bem como aqueles que previamente firmaram, a 1º de janeiro de 1942, a Declaração das Nações Unidas. Quanto aos membros eleitos, são admitidos pela Assembleia Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança. Poderão ser admitidos como membros todos os estados “amantes da paz”, que aceitaram as obrigações contidas na Carta “e que a juízo da Organização estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações”. Na realidade, considerações políticas têm exercido papel importante na admissão de alguns membros. Para coibir controvérsias políticas, relacionadas à admissão de novos estados como membros da ONU, por meio de Resolução, datada de 17 de novembro de 1947, a Assembleia Geral formulou à Corte Internacional de Justiça a pergunta quanto à possibilidade de membro das Nações Unidas ser chamado a se manifestar por meio de voto do estado, seja no Conselho de Segurança ou na Assembleia Geral, a respeito das condições de admissão de estado como membro da organização, e indaga quanto a ser juridicamente fundadofazer depender o consentimento de condições não estipuladas na Carta. A questão gira em torno das condições estipuladas no artigo 4º da Carta, em que a “admissão como membro das Nações Unidas fica aberta a todos os estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e que, a juízo da organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações” 299 . Devem os dispositivos do artigo 4º ser interpretados como excluindo qualquer apreciação política, por parte dos estados-membros, ao apreciar a candidatura de novo estado? A Corte respondeu não terem tais condições qualquer relação com as responsabilidades políticas, quer da Assembleia Geral, quer do Conselho de Segurança: são claras e devem como tal ser aplicadas, independentemente de quaisquer outras considerações 300 . Segundo parecer foi solicitado pela AGNU um ano mais tarde, conforme Resolução de 22 de novembro de 1949. A resposta da CIJ é incisiva, no sentido da “necessidade da recomendação do Conselho de Segurança”, sob pena de vício de procedimento, o que caracteriza ato essencial (acte condition). Na forma do artigo 4º a Corte acrescenta que tal recomendação do CS deve ser favorável, para que a admissão seja pronunciada pela AGNU 301 . Os membros da organização poderão ser suspensos do exercício dos direitos e privilégios que lhes competem como tais quando contra eles for levada a efeito qualquer ação preventiva ou coercitiva por parte do Conselho de Segurança, que poderá, depois, restabelecer o exercício desses direitos e privilégios. O membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os princípios da Carta poderá ser expulso pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. A organização compreende seis órgãos especiais a serem tratados: a “Assembleia Geral” (4.1.1.1.); o Conselho de Segurança (4.1.1.2.); a Corte Internacional de Justiça (4.1.1.3.); o “Secretariado” (4.1.1.4.); o “Conselho Econômico e Social” (4.1.1.5.); e o “Conselho de Tutela” (4.1.1.6.), Depois, passaremos ao exame das “funções, atribuições e ação coletiva” (4.1.1.7.). Terá, além disso, os órgãos subsidiários que forem considerados necessários.
4.1.1.1. Assembleia Geral
A Assembleia Geral das Nações Unidas é composta de todos os membros da organização, cabendo a cada estado-membro apenas um voto. Cada estado pode fazer-se representar no máximo por cinco representantes. A Assembleia Geral reúne-se em sessões ordinárias, uma vez por ano, e em sessões extraordinárias, quando as circunstâncias o exigirem. As sessões extraordinárias são convocadas pelo Secretário-Geral, a pedido do Conselho de Segurança ou da maioria dos estados-membros. As decisões da Assembleia Geral são tomadas pela maioria simples dos membros presentes e votantes. Nas questões importantes, as decisões são tomadas por dois terços dos membros presentes e votantes. Em 1971, durante a votação da proposta da Albânia de admissão da República Popular da China, como a representante da China, e a consequente exclusão da China Nacionalista, a Assembleia Geral opinou que a questão não era importante e, em consequência, bastou o voto de uma simples maioria. Nos termos da Carta, as questões importantes abrangem: recomendações acerca da manutenção da paz e da segurança internacionais; eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança; eleição dos membros do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela; admissão de novos membros na organização; suspensão dos direitos e privilégios dos membros; expulsão destes; questões relativas ao funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias. Suas decisões noutras questões, até mesmo a determinação de categorias adicionais de assuntos a serem resolvidos por maioria de dois terços, são tomadas por maioria dos membros presentes e que votem. Deixará de ter voto na Assembleia o membro da organização que estiver em atraso no pagamento de sua contribuição financeira, se o total de suas contribuições atrasadas igualar ou exceder a soma das respectivas contribuições correspondentes aos dois anos anteriores completos. A Assembleia poderá, no entanto, permitir que o referido membro vote, caso fique provado que a falta é devida a condições independentes de sua vontade. A Assembleia tem certas atribuições obrigatórias e outras facultativas. Entre as primeiras, que, na maioria dos casos, são privativas, figuram as seguintes: a consideração e aprovação do orçamento da organização; a eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança e dos membros do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela; a admissão de novos membros na organização; a suspensão e a expulsão destes; a nomeação do Secretário-Geral das Nações Unidas (estas quatro últimas atribuições devem ser precedidas de recomendação do Conselho de Segurança); a eleição, simultaneamente com o Conselho de Segurança, dos juízes da Corte Internacional de Justiça; a adoção de regras para as nomeações pelo Secretário-Geral, do pessoal do secretariado das Nações Unidas; o exame dos relatórios anuais do Conselho de Segurança, bem como dos relatórios dos outros órgãos das Nações Unidas; o estudo dos meios de promover a cooperação internacional, no terreno político, e a sua codificação, bem como dos meios de promover a cooperação internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário, e de favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. As últimas atribuições são, geralmente, exercidas sob a autoridade da Assembleia, pelo Conselho Econômico e Social. Entre as funções ou atribuições facultativas da Assembleia, indicam-se as seguintes: discutir quaisquer questões ou assuntos que estejam no âmbito das finalidades da Carta das Nações Unidas ou se relacionem com as atribuições e funções de qualquer dos órgãos nela previstos; considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais; discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais que lhe forem submetidas por qualquer membro das Nações Unidas, ou pelo Conselho de Segurança, ou por um estado que não seja membro; solicitar a atenção do Conselho de Segurança para situações que possam constituir ameaça à paz e à segurança internacionais. Enquanto, porém, o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou situação, as funções que lhe competem, a Assembleia não fará recomendação alguma a respeito de tal situação ou controvérsia a menos que o próprio Conselho a solicite.
4.1.1.2. Conselho de Segurança
Criado para ser o órgão principal das Nações Unidas, compunha-se, inicialmente, de onze membros, sendo cinco permanentes (China, Estados Unidos da América, França, Reino Unido e URSS) e seis eleitos pela Assembleia Geral para um prazo de dois anos e sem faculdade de reeleição para o período imediato. Em 1963, contudo, a composição do Conselho de Segurança foi modificada e passou a ter dez membros não permanentes, além dos mesmos cinco membros permanentes. Cada membro de Conselho tem ali apenas um representante e apenas um voto. O Conselho reúne-se periodicamente, podendo fazê-lo fora da sede da organização. As decisões do Conselho são tomadas pelo voto afirmativo de nove dos seus membros, quando se trata de questões processuais, e pelo voto afirmativo de nove membros, com a inclusão, entre estes, de todos os membros permanentes em todos os outros assuntos. Essa exigência do voto afirmativo de todos os membros permanentes do Conselho é o reconhecimento do chamado “direito de veto”, de qualquer deles contra a maioria, ou até a unanimidade dos demais. O uso abusivo do direito de veto paralisou durante longos anos o Conselho e acabou por enfraquecê-lo com o consequente fortalecimento da Assembleia Geral, que passou a opinar naqueles assuntos em que o Conselho de Segurança não conseguia alcançar uma solução. Deve abster-se de votar o membro do Conselho que for parte numacontrovérsia prevista no Capítulo VI da Carta das Nações Unidas (“controvérsia que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais”) ou numa controvérsia de caráter local, a respeito da qual o Conselho deva tomar alguma resolução, nos termos da alínea 3ª do artigo 52 da dita Carta. Qualquer membro das Nações Unidas que não for membro do Conselho poderá tomar parte, sem direito de voto, na discussão de qualquer questão submetida ao Conselho, se este considerar que os interesses do referido membro se acham, especialmente, em jogo. Analogamente, qualquer dos ditos membros ou qualquer estado que não pertença às Nações Unidas será convidado a participar, sem direito de voto, na discussão de qualquer controvérsia submetida ao Conselho, uma vez que seja parte em tal controvérsia. Segundo o artigo 24 da Carta das Nações Unidas, os membros desta conferiram ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais e concordaram em que, no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade, o Conselho proceda em nome deles. Suas atribuições específicas são, essencialmente, as enumeradas nos Capítulos VI, VII, VIII e XII da Carta. Cumpre-lhe, além disso, submeter à consideração da Assembleia relatórios anuais e, quando necessário, especiais. Entre aquelas atribuições figuram as seguintes: convidar as partes em uma controvérsia e resolvê-la por algum meio pacífico; recomendar procedimentos ou métodos de solução adequados para controvérsias ou situações que possam vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais; determinar a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão e fazer recomendações ou decidir medidas tendentes a manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais; tomar a iniciativa para a negociação de acordos com os membros da organização sobre as forças armadas, a assistência e as facilidades que cada um deles se comprometeu a proporcionar ao Conselho para a manutenção da paz e da segurança internacionais; fazer planos, com a assistência de uma comissão de estado-maior, para a aplicação das forças armadas de que possa dispor; estimular o desenvolvimento da solução pacífica de controvérsias locais mediante acordos ou entidades regionais e, eventualmente, utilizar tais acordos e entidades para ação coercitiva, sob sua própria autoridade; aprovar os acordos de tutela referentes às zonas designadas como estratégicas; e fiscalizar a execução de tais acordos, especialmente no tocante a matérias políticas, econômicas, sociais ou educacionais 302 . Cabe, a seguir, considerar a composição e a atuação do principal órgão judiciário das Nações Unidas, a Corte Internacional de Justiça.
4.1.1.3. Corte Internacional de Justiça
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) 303 é o resultado de décadas de sedimentação da ideia de órgão jurisdicional capaz de assegurar solução de controvérsias entre estados 304 . Criada em 1945, a CIJ constitui o principal órgão judicial da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela compõe, juntamente com a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Secretariado e o Conselho de Tutela, os seis principais órgãos da organização. À semelhança da ONU, concebida com base na extinta Sociedade das Nações (SdN), a Corte Internacional de Justiça modelou-se a partir da também extinta Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI), que constituía órgão complementar da SdN, mas, diversamente da sensação de fracasso que marca o fim da SdN, a Corte Permanente de Justiça Internacional foi muito bem sucedida em sua atuação. Tanto que gerou a dúvida, entre os representantes dos estados em Dumbarton Oaks, local onde boa parte do “projeto ONU” foi idealizado, se a nova organização mundial que surgia deveria ou não manter a CPJI. No final, chegou-se à conclusão de que uma nova corte mundial deveria ser criada, condizente com o “novo mundo” do pós-guerra, com as novas superpotências e com as novas instituições de direito internacional. Em reconhecimento ao monumental trabalho realizado pela CPJI, foi decidido que o projeto da nova Corte deveria ser ou a adaptação do Estatuto da CPJI, mantida em vigor com as modificações julgadas necessárias, ou novo Estatuto para cuja redação deveria servir de base o da CPJI. Esta última opção acabou por prevalecer: o Estatuto da CIJ é substancialmente idêntico ao da CPJI. No início dos trabalhos da Corte Internacional de Justiça, em 1946, as decisões e pareceres prolatados pela antiga CPIJ foram aceitos como precedentes da nova Corte. Em realidade, devem-se entender o esforço empreendido e o trabalho realizado não a partir de 1946, mas sim todo o respeitável conjunto de decisões e pareceres, desde 1922, quando tem início o trabalho da CPJI. Não por coincidência, a Corte Internacional de Justiça encontra-se localizada no mesmo local onde outrora estava instalada a antiga CPIJ, no Palácio da Paz (Vredespaleis), na cidade da Haia, Países Baixos. A base legal de funcionamento da CIJ está pautada pelo Capítulo XIV da Carta da ONU, pelo Estatuto da CIJ e pelas chamadas Regras da Corte – instrumento criado pela própria Corte, em 1978, para funcionar como espécie de código de processo. O Estatuto da Corte é extenso, contendo 70 artigos, de tal modo que pareceu preferível não inseri-lo diretamente no corpo do texto da Carta da ONU. No entanto, o Estatuto da Corte é parte integrante da Carta da ONU, vale dizer, o estado que se torna Membro das Nações Unidas aceita integralmente o Estatuto da CIJ. Estados não membros da ONU podem postular perante a CIJ, bastando, para tanto, que o estado em referência cumpra os requisitos exigidos pela Assembleia Geral, atuando esta mediante recomendação do Conselho de Segurança. Tais condições, obviamente, não poderão colocar o estado requerente em posição desfavorável ou desigual perante outros estados. Essas condições chamam pouco a atenção nos dias hoje, quando a quase totalidade dos estados-nação encontra-se presente e integrada à organização mundial. Em resolução de 15 de outubro de 1946, o Conselho de Segurança determinou tais condições, essencialmente as seguintes: 1ª) o estado que não seja parte no Estatuto deverá depositar no Cartório da Corte declaração pela qual manifesta a aceitação da jurisdição desta, de acordo com a Carta das Nações Unidas e com os termos e condições do Estatuto e do Regulamento da Corte, e se compromete a cumprir de boa-fé as decisões da Corte e a aceitar as obrigações incumbentes aos membros das Nações Unidas, nos termos do artigo 94 da Carta; 2ª) a referida declaração poderá ser particular ou geral, sendo considerada particular a que aceita a jurisdição da Corte somente com relação a controvérsia específica, como em relação a certas disputas que já se tenham suscitado, e geral a que aceita a dita jurisdição a respeito de quaisquer disputas ou a respeito de uma ou várias categorias particulares de disputas já surgidas ou que possam surgir no futuro; e 3ª) à Corte caberá decidir sobre todas as questões relativas à validade e aos efeitos das declarações. Assim, aos membros das Nações Unidas, a Corte estará aberta sem outras condições. Aos outros estados estará aberta nas condições que o Conselho de Segurança determinar, ressalvadas as disposições especiais dos tratados vigentes. Em nenhum caso tais condições colocarão as partes em posição de desigualdade perante a Corte. Serão considerados a seguir: “competência da Corte” (4.1.1.3.1.); seu “funcionamento” (4.1.1.3.2.); e as “questões processuais” (4.1.1.3.3.).
4.1.1.3.1. competência da Corte
A Corte possui competência ampla, podendo apreciar qualquer tipo de demanda. No tocante às matérias que poderá analisar (ratione materiae), sua competência estende-se a todas as questões que as partes lhe submetam, bem como a todos os assuntos previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções em vigor. No tocante a quem poderá postular perante a Corte (ratione personae), sua competência abrange apenas os estados,sejam ou não membros das Nações Unidas. Dessa forma, o locus standi está restrito a estados, devendo quaisquer pessoas jurídicas e físicas solicitar aos seus respectivos governos que levem ao conhecimento da Corte, em seu nome, suas demandas jurídicas 305 . A Corte Internacional de Justiça tem “competência contenciosa” (4.1.1.3.1.1.) e “competência consultiva” (4.1.1.3.1.2.). Cada uma destas passa a ser considerada.
4.1.1.3.1.1. competência contenciosa
Para acionar a Corte Internacional de Justiça e pleitear a decisão, os estados poderão proceder de três formas distintas: (I) por meio de uma notificação prévia de uma ou ambas as partes enviada à Corte, fundada em tratados que estipulem a CIJ como foro competente para julgar os litígios; (II) mediante acordo especial posterior ao litígio, em que ambas as partes aceitam a jurisdição da Corte para resolver a controvérsia, estipulando-se a competência depois do fato; ou, ainda, (III) utilizando-se um estado de petição para interpelar o outro, por acreditar o autor ter o réu violado alguma obrigação de direito internacional – de forma equivalente ao que seria o meio mais comum nos direitos internos. Falta à Corte Internacional de Justiça, como faltou à CPJI, a competência compulsória que obrigasse os estados a submeterem suas contendas à Corte. No fundo, os estados decidem se querem ou não se submeter ao sistema jurídico internacional. Nesse sentido de obrigatoriedade, o Estatuto da CIJ admite a possibilidade de os estados virem a declarar a CIJ compulsoriamente competente sobre disputas que versem sobre: (I) interpretação de tratados; (II) questões de direito internacional; (III) disputas sobre a existência de qualquer tipo de fato que venha a significar quebra de obrigação legal; e (IV) contestações sobre a natureza e a extensão de reparações a serem pagas devido a quebras legais. Esse mecanismo é possível por meio da chamada “cláusula opcional” de competência, que constitui declaração feita a critério de cada estado signatário, com estipulação tanto dos limites de aceitação da compulsoriedade da competência da CIJ, quanto exclusões expressas de áreas em que o estado declarante não reconhece a competência da Corte. Corresponde à chamada cláusula facultativa de jurisdição obrigatória do Estatuto da extinta Corte Permanente de Justiça Internacional. Cabe notar que os poucos Estados que fizeram declarações de aceitação da compulsoriedade de competência da CIJ fizeram-no com o intuito de estipular diversos e distintos limites, seja de competência material, de forma a excluir determinadas matérias, seja de competência temporal, a ponto de condicionar a declaração a tempo certo e findável. Portanto a questão da competência compulsória da Corte é fundamental para seu funcionamento. Infelizmente, é também um ponto duramente criticado pelos céticos do direito internacional devido às claras falhas de imposição de obrigatoriedade. Segundo o artigo 38 do Estatuto da Corte, compete à CIJ a função de “decidir, de acordo com o direito internacional, as controvérsias que lhe forem submetidas”. Nessa função, ela poderá aplicar: “a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos estados litigantes; b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo direito; c) os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas; e d) as decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados, como meio subsidiário para a determinação das regras de direito”. A Corte possui também a faculdade de decidir uma questão ex aequo et bono. Com isso, poderão ser aplicados os princípios de justiça objetiva a um dado caso, ou seja, aquilo que, ao ver dos juízes, é “certo e bom”. Em outras palavras, quando as partes permitem que o julgamento seja pautado não por diretrizes positivas de direito internacional, mas por questões de justiça e equidade, permitem no fundo que a decisão seja prolatada com base nos princípios mais basilares de justiça e direito, aplicados caso a caso pelos juízes. A Corte só julgará ex aequo et bono se essa faculdade lhe for concedida pelas partes. Se as partes desejam e solicitam uma decisão puramente ex aequo et bono, a Corte não deverá decidir segundo o direito estrito. Poderá, contudo, declarar-se incompetente ou apresentar outra razão que justifique sua eventual recusa de julgar sobre tal base. Enquanto associação de estados, uma organização internacional, sobretudo no caso da ONU, poderá requerer parecer consultivo à Corte. A competência especial, em matéria consultiva, foi atribuída pelo artigo 96 da Carta da ONU, e se acha regulada no Capítulo IV do Estatuto.
4.1.1.3.1.2. competência consultiva Além da competência em matéria contenciosa, possui a Corte uma competência especial, em matéria consultiva, a qual lhe foi atribuída pelo artigo 96 da Carta das Nações Unidas, e acha-se mais bem regulada no Capítulo IV do Estatuto da Corte. Poderá a CIJ emitir parecer consultivo sobre qualquer questão de direito internacional, a pedido da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança, ou de qualquer outro órgão das Nações Unidas ou entidade especializada que, em qualquer época, tenha sido devidamente autorizada a fazer um questionamento à Corte pela Assembleia Geral. Isso foi reconhecido pela própria Corte, em relação à Organização das Nações Unidas, mediante parecer consultivo, de 11 de abril de 1949, a respeito dos danos sofridos a serviço das Nações Unidas 306 . Por grande que seja o valor dos pareceres consultivos da Corte, existe diferença essencial entre estes e as sentenças da própria Corte: falta-lhes a força obrigatória. É verdade, contudo, que quando o parecer versa, não sobre simples ponto de direito, mas sobre determinado litígio, este apresenta, por assim dizer, o caráter de sentença não executória. De qualquer maneira, a possibilidade de a Corte emitir pareceres sobre direito internacional, independentemente de litígios que lhes sejam submetidos, faz desta eminente órgão produtor de doutrina internacional, algo inexistente nos judiciários internos – que somente se manifestam por meio de decisões contenciosas. Para requerer à Corte um parecer jurídico, o procedimento é mais simples que o procedimento contencioso, bastando três requisitos: (I) a pergunta feita à Corte deve versar sobre direito internacional; (II) deve ser feita de forma clara e objetiva; e (III) a entidade que faz a pergunta deve ser habilitada a fazê-lo. Exemplo de tal pergunta foi submetido pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas à Corte Internacional de Justiça em 15 de dezembro de 1994: “É permitido em direito internacional recorrer à ameaça ou ao uso de armas nucleares, em qualquer circunstância?” 307 . Esvaiu-se sem manifestação de fundo, por parte da Corte, a grande oportunidade de formular condenação definitiva da ameaça e do uso de armas nucleares!
4.1.1.3.2. funcionamento
A Corte pode ser dividida entre os juízes que a compõem e o Cartório da Corte (registry, em inglês, ou greffe, em francês). Os juízes cuidarão do julgamento dos casos e da prolação de opiniões e pareceres jurídicos. O chefe do cartório, o cartorário ou escrivão (register, em inglês, ou greffier, em francês), cuidará para que os aspectos administrativos sejam cumpridos; não apenas aqueles típicos de cartório judicial (como registro de documentos), mas também aqueles deveres de administração de órgão internacional (como comunicação com os outros órgãos internacionais, administração financeira e do pessoal). A Corte é composta por quinze juízes eleitos. A eleição é feita a partir de lista de candidatos, apresentados pelos grupos nacionais de árbitros da Corte Permanente de Arbitragem (CPA), de Haia 308 , ou, quando se tratar de membros das Nações Unidas não representados na CPA, por grupos nacionais designados para esse especifico fim pelos respectivos governos. A lista é submetida, simultaneamente, à Assembleia Geral e ao Conselho de Segurança. Os nomes mais votados, em ambas ascasas, serão os eleitos para as vagas disponíveis. O Estatuto prevê procedimento específico no caso de não serem preenchidas todas as vagas disponíveis pelo procedimento normal. A escolha dos juízes, segundo diz o artigo 1º do Estatuto da CIJ, dar-se-á “sem atenção à sua nacionalidade, de entre pessoas que gozem de alta consideração moral e possuam as condições exigidas em seus respectivos países para o desempenho das mais altas funções judiciárias ou que sejam jurisconsultos de reconhecida competência em direito internacional”. Ainda por definição do Estatuto, não poderão figurar dois nacionais do mesmo estado na Corte, ao mesmo tempo. O mandato dos juízes é de nove anos. Há a possibilidade de recondução. A única vez que efetivamente houve quinze vagas livres foi quando a CIJ foi instaurada, pois o Estatuto prevê a gradual renovação parcial dos Membros da Corte a cada três anos. Os primeiros juízes eleitos tiveram tempo de mandato distinto, terminando um terço deles em três anos e outro terço, em seis anos. Desde então, todos os juízes cumprem mandato completo de nove anos ou até mesmo de dezoito anos, se reeleitos. A cada três anos, cinco vagas são novamente disputadas. A CIJ consegue, com isso, renovar-se continuamente. Para exercerem seus cargos de forma independente e imparcial, os juízes gozam de privilégios e imunidades diplomáticas, não apenas por serem juízes de tribunal superior, mas por serem funcionários de órgão internacional. Por outro lado, devem os membros da Corte respeitar imposições e obrigações que os impeçam de se tornarem suspeitos para julgamento. Assim, nenhum deles poderá exercer qualquer função política ou administrativa, ou dedicar-se a outra ocupação de natureza profissional. Além disso, não poderão servir como agentes, consultores ou advogados, em qualquer questão, nem mesmo participar de decisão de qualquer caso em que tenham intervindo anteriormente sob qualquer maneira. A Corte tem um presidente e um vice-presidente eleitos dentre os juízes membros da CIJ por três anos e passíveis de reeleição. Seu cartorário é nomeado pelos próprios juízes membros da Corte. A CIJ tem funcionamento permanente, exceto durante as férias judiciárias, cuja época e duração são por ela mesma fixados. Ordinariamente a Corte funciona em sessão plenária, mas, para constituí-la, é suficiente o quorum de nove juízes. Poderá periodicamente formar uma ou mais câmaras, compostas de três ou mais juízes, conforme sua própria determinação, para tratar de questões de caráter especial, como, por exemplo, questões trabalhistas e assuntos referentes a trânsito e comunicações. Poderá igualmente, em qualquer tempo, formar a câmara especial, com o número de juízes que acordar com as partes, para decidir determinadas questões. Além disso, a fim de apressar a solução dos assuntos, a Corte constitui anualmente câmara, composta de cinco juízes, que, a pedido das partes, poderá considerar e resolver sumariamente as questões. Qualquer dessas câmaras poderá, com o consentimento das partes, reunir-se ou exercer suas funções fora da cidade de Haia. Assim como a antiga CPJI, o Estatuto da CIJ reconhece a possibilidade de nomeação de juízes ad hoc, de nacionalidade das partes, para compor o banco de juízes (bench). Com essa fórmula, o estado que não possua, dentre os Membros da Corte, juiz de sua nacionalidade, poderá exigir que outro seja nomeado para aquele caso específico. Ambas as partes que estiverem sob julgamento poderão assim proceder, ou, se decidirem em sentido contrário, poderão abrir mão de tal direito. Os juízes ad hoc nomeados comporão o banco de juízes que julgará o caso específico e, pelo período certo que ali ficarão, gozarão de todos os privilégios e imunidades que gozam todos os outros juízes, assim como deverão respeitar e cumprir todas as obrigações que lhes correspondem. 
4.1.1.3.3. questões processuais As regras de processo da Corte
As regras de processo da Corte estão indicadas no Capítulo III do seu Estatuto (artigos 39 a 64) e, principalmente, nas Regras da Corte, que são, conforme apontamos, espécie de “código de processo” feito pela própria Corte em 1978. Vamos aqui mencionar, sumariamente, as principais regras. As línguas oficiais da Corte são o francês e o inglês. No entanto, as partes poderão pôr-se de acordo para que todo o processo se efetue em qualquer das duas línguas, e nesse caso a sentença poderá, em suas alegações, usar o francês ou o inglês. A Corte poderá autorizar, a pedido de uma das partes, o uso de qualquer outra língua, embora a sentença deva sempre ser proferida numa das línguas oficiais. As partes são representadas por agentes, que podem se fazer assistir por consultores ou advogados. O processo tem duas fases: a primeira, escrita, composta de memoriais e contramemoriais; e a segunda, oral. Em caso de não comparecimento (non-appearance, em inglês) da parte citada, em processos de jurisdição obrigatória, não será impedido o julgamento à revelia, conforme estipula o artigo 53 do Estatuto da Corte: 1) “Se uma das partes deixar de comparecer perante a Corte ou deixar de apresentar a sua defesa, a outra parte poderá solicitar à Corte que decida a favor de sua pretensão”; e 2) “A Corte, antes de decidir nesse sentido, deve certificar-se não só de que o assunto é de sua competência, de conformidade com os artigos 36 e 37, mas também de que a pretensão é bem fundada, de fato e de direito”. Visando limitar os efeitos danosos desse problema, o Instituto de Direito Internacional, na sessão de Basileia, em 1991, adotou Resolução sobre a revelia perante a Corte Internacional de Justiça 309 . Em todo caso, a Corte só toma conhecimento de determinado litígio quando uma das partes lhe tiver submetido, formalmente, notificação ou petição a respeito. Em caso de julgamentos à revelia, a Corte poderá julgar o caso em favor dos pedidos do estado autor. Porém, para tanto, a competência da CIJ dever ser atestada, bem como os pedidos do autor devem ser suficientemente calcados em fatos e em direitos, não bastando o mero pedido. As audiências são públicas, a menos que a própria Corte decida em contrário mas as deliberações são sempre secretas. As decisões são adotadas por maioria simples de votos dos juízes presentes. Em caso de empate, o voto do presidente prepondera. A sentença deve ser motivada, sob pena de perda de sua validade. Por consequência, não apenas é exigida que a sentença seja devidamente fundamentada, como também é facultado aos juízes exporem suas razões individualmente, de forma que: – os juízes que votarem com a maioria e desejarem expor suas razões, poderão apensar à decisão suas declarações de votos; – os juízes que votarem com a maioria, mas discordarem de certos aspectos ou possuírem fundamentação diversa daquela dada pela maioria, poderão apensar à decisão seus votos em separado; e – os juízes vencidos na decisão pela maioria poderão juntar à sentença seus votos divergentes. A sentença é definitiva e inapelável, mas somente tem força obrigatória (res judicata) para as partes em litígio e em relação ao caso decidido, conforme estipula o artigo 59 do Estatuto. Se houver controvérsia quanto ao seu sentido ou ao seu alcance, caberá à Corte interpretá-la, a pedido de qualquer das partes. Como não há grau ou instância superior à CIJ, quaisquer dúvidas quanto à interpretação da sentença ou qualquer pedido de revisão desta deverá ser feito à própria Corte. A revisão da sentença poderá, eventualmente, ser solicitada à Corte, em razão do descobrimento de algum fato suscetível de exercer influência decisiva e que, antes de proferida a sentença, era desconhecido da Corte e também da parte que solicite a revisão. Tal pedido deverá ser feito no prazo de seis meses, desde o descobrimento do fato novo e até dez anos contados da data da sentença. Por fim, existem ainda as chamadas questões incidentais, questões que são objeto próprio de julgamento, verdadeiros processos autônomos que incidem sobre o processo principal. São estas: a) medidas provisórias (interim protection, em inglês),que podem ser obtidas pelas partes para resolver questões urgentes; b) objeções preliminares, que buscam refutar a competência da Corte para aceitar ou julgar o caso principal; c) reconvenção, que se dá quando o réu reconvém e faz ele próprio acusações contra o autor, que se torna réu reconvinte no processo incidental de reconvenção; d) intervenção, quando terceiro estado com interesse direto sobre o processo principal nele intervém; e e) descontinuidade, quando o autor retira suas acusações antes de o réu ser citado, ou, no caso de o estado réu já haver sido citado, ambas as partes resolvem, de comum acordo, descontinuar o processo principal. A competência da Corte para julgar tais questões incidentais não depende da aceitação das partes, pois está fundamentada no próprio Estatuto e nas Regras da Corte. São questões fundamentais para o processo principal, mas cuja análise e julgamento devem ser feitos em processo próprio, separados do processo principal, mas que sobre este incidem. 
4.1.1.4. Secretariado
É o órgão administrativo, por excelência, da Organização das Nações Unidas. Tem uma sede permanente, que se acha estabelecida em Nova Iorque. Compreende um Secretário-Geral, que o dirige e é auxiliado por pessoal numeroso, este escolhido segundo o mais amplo critério geográfico possível. O Secretário-Geral é eleito pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. O pessoal do Secretariado é nomeado pelo SecretárioGeral, de acordo com regras estabelecidas pela Assembleia. Como funcionários internacionais, o Secretário-Geral e os demais componentes do Secretariado são responsáveis somente perante a Organização e gozam de certas imunidades. O Secretário-Geral atua nessa qualidade em todas as reuniões da Assembleia Geral, do Conselho de Segurança, do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela, e desempenhará outras funções que lhe foram atribuídas por esses órgãos. Entre suas obrigações ordinárias, figura a de apresentar um relatório anual à Assembleia, sobre os trabalhos da organização. Uma de suas mais importantes faculdades é a de chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que, em sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais. Dentre as funções do Secretariado, merece ser citado o artigo 102, que prevê que todo tratado firmado por estado-membro deverá ser registrado e publicado pelo Secretariado depois de sua entrada em vigor. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969) ocupa-se da matéria minuciosamente nos artigos 76 a 80.
4.1.1.5. Conselho Econômico e Social
É composto atualmente de cinquenta e quatro Membros das Nações Unidas, eleitos para um período de três anos pela Assembleia Geral, sendo permitida a reeleição. Cada ano, um terço dos seus membros é renovado. Cada um destes terá nele apenas um representante. Suas decisões são tomadas por maioria dos membros presentes e votantes. Entre as atribuições do Conselho Econômico e Social, figura, em primeiro lugar, a de realizar estudos e apresentar relatórios acerca de assuntos internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, sendo-lhe facultado fazer recomendações a respeito de tais assuntos à Assembleia Geral, aos membros das Nações Unidas e às entidades especializadas interessadas. Esse Conselho poderá, além disso: fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância dos direitos do homem e das liberdades fundamentais; preparar projetos de convenções, a serem submetidos à Assembleia Geral, sobre assuntos de sua competência; convocar conferências sobre tais assuntos; formular acordos com as entidades especializadas, vinculadas às Nações Unidas, e coordenar as atividades dessas entidades; fornecer informações ao Conselho de Segurança e, a pedido deste, dar-lhe assistência; prestar, mediante autorização prévia da Assembleia, os serviços que lhe forem solicitados pelos membros das Nações Unidas ou pelas entidades especializadas. 
4.1.1.6. Conselho de Tutela
Nos termos da Carta das Nações Unidas, o Conselho de Tutela deveria ser composto de três categorias de Membros: 1) os que se encontrem à frente da administração de territórios tutelados; 2) os membros permanentes do Conselho de Segurança que não administraram territórios tutelados; 3) outros membros eleitos para um período de três anos pela Assembleia Geral, em número suficiente para que o total dos Membros do Conselho de Tutela ficasse dividido em partes iguais, entre os membros das Nações Unidas que administravam e os que não administravam territórios tutelados. Tal composição foi possível nos primeiros anos da organização, mas atualmente não mais existem territórios sob tutela, não mais existe qualquer atuação do Conselho de Tutela. Este, embora tenha as suas atividades suspensas, formalmente continua a existir. Embora superado pela evolução posterior, o Conselho de Tutela desempenhou seu papel quanto ao direito de autodeterminação dos povos. Este ficou superado pela evolução posterior, e torna-se incompatível com as fontes do direito internacional consuetudinário. A menção na Carta da ONU, artigo 1º, parágrafo 2º, antes utilizada de maneira a justificar e promover a instituição do Conselho de Tutela, nos termos do Capítulo XIII da Carta, tornou-se obsoleta diante do advento de textos como a mencionada Resolução 2625 (XXV) da Assembleia Geral, segundo a qual “todo Estado tem o dever de favorecer, conjuntamente com outros, ou separadamente, a realização do princípio da igualdade dos direitos dos povos e do direito destes de dispor de si mesmos”.
4.1.1.7. funções, atribuições e ação coletiva da Organização das Nações Unidas
O principal objetivo das Nações Unidas é a manutenção da paz e da segurança internacionais, e, para alcançar esses objetivos, a Carta menciona, entre outros: os métodos amistosos de solução pacífica de controvérsias; a ação coletiva contra as ameaças à paz, ruptura da paz ou atos de agressão; e os acordos regionais 310 . O Capítulo VI da Carta das Nações Unidas (artigos 33 a 38) estabelece a série de medidas ou métodos de natureza amistosa, destinados a evitar que as controvérsias entre estados degenerem em guerra. Esse dispositivo está em harmonia com o preâmbulo da Carta, que enumera, em primeiro lugar, como um dos motivos determinantes da criação do Organismo, a resolução dos povos das Nações Unidas de “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra”. Os métodos previstos para esse fim são os seguintes: 1) as partes numa controvérsia que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais deverão, antes de tudo, procurar chegar a acordo, por qualquer meio pacífico; 2) o Conselho de Segurança poderá exortar as partes a recorreram a tais meios; 3) o Conselho poderá investigar sobre uma controvérsia ou uma situação suscetível de provocar atritos internacionais, a fim de determinar se a continuação da controvérsia ou da situação pode constituir ameaça à manutenção da paz e da segurança entre as nações; 4) qualquer Membro das Nações Unidas poderá solicitar a atenção do Conselho ou da Assembleia Geral para uma controvérsia ou situação dessa natureza; 5) o mesmo poderá fazer qualquer estado que não seja membro das Nações Unidas com relação a qualquer controvérsia em que figure como parte, contanto que aceite, previamente, em relação a esse caso, as obrigações de solução pacífica contidas na Carta; 6) a intervenção da Assembleia, em tais assuntos, limitar-se-á à possibilidade de discutir o caso e de apresentar recomendações ao estado ou estados interessados ou ao Conselho de Segurança, não lhe sendo lícito, porém, fazer qualquer recomendação a esse respeito enquanto o Conselho de Segurança estiver discutindo o assunto, salvo se isso lhe for solicitado pelo próprio Conselho; 7) em qualquer fase da controvérsia ou da situação ameaçadora, o Conselho poderá recomendar procedimentos ou métodos de solução apropriados, mas, ao fazer tais recomendações, deverá ter em consideração que as controvérsias de caráterjurídico devem, em regra geral, ser submetidas, pelas partes, à Corte Internacional de Justiça, de acordo com as disposições do respectivo Estatuto; 8) as partes, caso não consigam chegar a acordo por qualquer outro meio pacífico, deverão submeter a controvérsia ao Conselho de Segurança, que recomendará os métodos ou as condições que lhe parecerem apropriadas para a solução. Se se trata de assunto ou questão que dependa essencialmente da jurisdição interna de um Estado, nada autoriza as Nações Unidas a intervirem em tal assunto, e nenhum dos Membros da Organização é obrigado a submeter assuntos dessa natureza às soluções previstas na Carta das Nações Unidas: é nesse sentido que dispõe o n. 7 do artigo 2º da referida Carta, segundo o qual acrescenta, entretanto, que semelhantes preceitos não prejudicam a aplicação das medidas coercitivas constantes do capítulo referente à ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão. Disposição, sem dúvida, tanto vaga e elástica, porquanto dizer que uma questão depende essencialmente é pouco claro, podendo prestar-se a grandes ampliações. O vocábulo exclusivamente que se nos depara no projeto de Dumbarton Oaks era preferível. Além disso, favorece o arbítrio não atribuir a alguém a decisão nessa matéria ou não adotar critério para a respectiva qualificação. O projeto de Dumbarton Oaks falava em “situações ou controvérsias baseadas em questões que segundo o direito internacional, pertencem à jurisdição interna do Estado”. Havia ali, ao menos, um critério mais ou menos seguro: era o do direito internacional. No artigo 15 do Pacto da Sociedade das Nações (alínea 8) havia mais do que isso, pois havia quem decidisse sobre a alegação, por uma das partes, de que a controvérsia versava sobre “uma questão que o direito internacional deixa à competência exclusiva dessa parte”: era o Conselho da Liga. Embora o direito internacional não tenha sido expressamente invocado no texto citado da Carta das Nações Unidas, convém examinar, segundo o referido direito, o que se deve entender por questões que dependem da jurisdição interna ou da competência exclusiva de um estado. A Corte Permanente de Justiça Internacional, em parecer consultivo emitido a 7 de fevereiro de 1923, relativamente a decretos de nacionalidade promulgados na Tunísia e em Marrocos, procurou definir tal questão em termos que se tornaram locus classicus na matéria: “as palavras competência exclusiva parecem ter em vista certas matérias que, embora podendo tocar muito de perto os interesses de mais de um estado, não são, em princípio, reguladas pelo direito internacional. No que concerne a essas matérias, o estado é o único juiz para decidi-las”. E acrescentou: “A questão de saber se certa matéria entra, ou não, no domínio exclusivo de um estado é questão essencialmente relativa: depende do desenvolvimento das relações internacionais. É assim que, no estado atual do direito internacional, as questões de nacionalidade estão, em princípio, na opinião da Corte, compreendidas nesse domínio reservado”. Assim, pois, parece que se deve considerar como pertencendo à competência exclusiva de um estado tudo o que está dentro das suas funções normais e ainda não foi regulamentado pelo direito internacional. Além das questões de nacionalidade que a CPJI declarou pertencerem, em princípio, a esse domínio reservado, podem também ser assim considerados: as leis de imigração, os regulamentos aduaneiros e, em geral, tudo quanto concerne à constituição interna do estado; sua forma de governo, organização administrativa e judiciária; as matérias relativas ao estado e capacidade das pessoas, às medidas de segurança interna e externa e à utilização do território nacional para o bem comum. Convém, entretanto, considerar que, embora uma questão seja, em princípio, da competência exclusiva de um estado, este pode ver-se privado de tal competência, se essa questão assume caráter internacional. Isso ocorrerá quando o estado, em virtude de compromisso internacional, obrigou-se a reconhecer a outro estado certos direitos ligados diretamente à matéria do seu domínio reservado ou se comprometeu, para com outro estado, a fazer ou não fazer alguma coisa que era da sua competência exclusiva. Cumpre apontar a evolução da matéria desde a abordagem desenvolvida por N. POLITIS (1925) 311 , que restringe o âmbito de atuação do voluntarismo unilateralista dos estados e o papel das organizações internacionais, com destaque para a ONU na matéria. A temática inscreve-se na linha da evolução institucional do direito internacional, no contexto pós-moderno. Como já observava A. A. CANÇADO TRINDADE (1979) 312 : “não existe resposta estritamente jurídica para o problema do domínio reservado” 313 . Nesse contexto, assinala o papel das organizações internacionais, especialmente da Organização das Nações Unidas, no sentido de regulamentar práticas, em relação às quais os estados não mais possam pretender invocar a exceção do “domínio reservado”, bem como o fato de que a alegação de tal natureza, por parte do estado interessado, não exime a possibilidade de exame e de regulação da matéria por parte das organizações internacionais. Cumpre apontar a progressiva redução do âmbito do domínio reservado, na exata medida e proporção do progresso da regulação das matérias pelo direito internacional. A existência de qualquer ameaça à paz internacional, ruptura da paz ou ato de agressão será determinada pelo Conselho de Segurança, que, a fim de manter a paz e a segurança internacionais, fará as recomendações ou adotará as medidas que considere apropriadas (artigos. 39 a 51). Preliminarmente, a fim de evitar que a situação se agrave, o Conselho poderá, antes de tais medidas ou recomendações, convidar as partes interessadas a aceitarem certas medidas provisórias que não prejudiquem os direitos ou pretensões nem a situação das referidas partes. Para tornar efetivas suas decisões, o Conselho poderá adotar medidas que não envolvam o emprego de forças armadas e convidar os Membros das Nações Unidas a aplicá-las, ou, se as referidas medidas forem julgadas ou tiverem demonstrado que são inadequadas, poderá levar a efeito a ação armada que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. As medidas sem emprego de força armada poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicações de qualquer espécie e o rompimento das relações diplomáticas. As medidas com emprego de força armada poderão compreender: demonstrações, bloqueio e outras operações por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas. Na Carta das Nações Unidas, os artigos 41 e seguintes foram considerados os mais importantes, visto que proporcionavam ao Conselho de Segurança os elementos necessários para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Com efeito, o artigo 43 previa a assinatura de tratados especiais em cujos termos os estados-membros colocariam à disposição da organização as forças armadas necessárias; por sua vez, o artigo 47 previa a criação de Comissão de estado-maior, esta destinada a orientar e a assistir o Conselho de Segurança em todas as questões relativas às exigências militares 314 . Ao Conselho, conforme vimos, cabe a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais. Mas a ação paralisante do veto pode impedir que ele exerça as atribuições que lhe correspondem nessa matéria, o que levou a Assembleia Geral, em novembro de 1950, a adotar Resolução destinada a obviar aquele inconveniente, com o título de “União para a Paz” 315 . A ação coercitiva do Conselho de Segurança, por mais rápida que seja, poderá sempre sofrer algum atraso. Por isso, a Carta das Nações Unidas não podia deixar de reconhecer o direito de legítima defesa, individual ou coletiva. É o que consta do seu artigo 51, cuja redação prevê que esse direito poderá ser exercido no caso de ataque armado contra qualquer Membro das Nações Unidas, até que o Conselho haja tomadoas medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais. As medidas de legítima defesa serão, no entanto, comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão atingir a autoridade nem a responsabilidade que lhe correspondem para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que julgar adequada para a manutenção ou estabelecimento da paz e da segurança internacionais. Após o exame da Organização das Nações Unidas, das suas estruturas institucionais, e das funções, atribuições e ação coletiva da organização, passa-se a rápida menção das “organizações internacionais especializadas de vocação universal” (4.1.2.), antes de prosseguir com não menos rápida menção às “organizações internacionais de vocação regional” (4.2.) e às “organizações não governamentais e sociedade civil internacional (4.3.). O exame do conjunto das organizações internacionais faz-se de maneira conceitual, na extensão compatível com este Manual, voltado ao exame do vasto conjunto do direito internacional, dito público, no contexto pós-moderno. Existe necessidade de cursos inteiros para abranger o conjunto da disciplina das organizações internacionais
4.1.2. organizações internacionais especializadas de vocação universal
Dentre os princípios das Nações Unidas figura a cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, cultural ou humano (artigos. 1, 3). A Carta encarrega o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da principal tarefa nesse sentido. Com tal objetivo, o artigo 55 prevê a criação de entidades especializadas, criadas por acordos intergovernamentais e com amplas responsabilidades internacionais, definidas, em seus instrumentos básicos, nos campos econômico, social, cultural, educacional, sanitários e conexos, que serão vinculadas à Organização por meio de acordos que serão submetidos à aprovação da Assembleia Geral. Estas compõem a chamada “família da ONU”. Com anterioridade, a Sociedade das Nações (SdN) tentara colocar todas as organizações especializadas sob o seu controle, desde que os respectivos membros com isso concordassem. O Pacto ainda estabelecia que as repartições internacionais que fossem constituídas no futuro seriam colocadas sob o seu controle. Com efeito, algumas das grandes entidades especializadas de hoje foram criadas antes da SdN, embora com denominações e objetivos ligeiramente distintos, como é o caso da União Telegráfica, criada em 1863 e que se fundiu com a Organização Radiotelegráfica em 1932; da Organização de Meteorologia de 1874; da Organização para a Proteção da Propriedade Intelectual de 1883; da União Postal de 1926 e da Organização Internacional do Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes em 1919. As organizações especializadas adquiriram com o passar do tempo prestígio internacional, tanto assim que o seu direito de assinar tratados internacionais foi reconhecido expressamente pela Convenção de Viena II (1986) sobre o direito de tratados de organizações internacionais. As respectivas sedes gozam, em virtude de acordos, de inúmeros privilégios e imunidades; os estados-membros possuem representantes permanentes junto às mais importantes, que, por sua vez, possuem escritórios em diversos países. As organizações internacionais especializadas de vocação universal adotam estrutura tripartite semelhante. Possuem: – órgão colegiado pleno, integrado por todos os estados-membros (com a denominação de Assembleia, Conferência Geral ou Congresso), que se reúne geralmente uma vez por ano, incumbido de aprovar as linhas políticas gerais e o orçamento, eleger o Secretário-Geral e os membros do Conselho; – órgão colegiado restrito (com a denominação de Conselho ou Board of Governors), que lhe compete executar as diretrizes recebidas e se reunir com maior frequência conforme a agenda; – secretariado, que garante a continuidade da atuação de cada organização internacional, sob a responsabilidade de Secretário-Geral ou Diretor-Geral; – outros órgãos subalternos, nas organizações internacionais especializadas de vocação universal, bem como podem criar e manter comissões ou colegiados encarregados de problemas específicos; – regime uniforme do pessoal administrativo (os funcionários internacionais), e as classes e os salários são semelhantes; as questões administrativas são julgadas por tribunais específicos, visto que alguns desses tribunais se ocupam dos problemas de dois ou mais organismos 317 . A bibliografia a respeito é bastante extensa e não isenta de controvérsias 318 . A atualização pode e deve ser feita através dos sites eletrônicos, que, ademais, permitem viagem interna, ao “mundo maravilhoso”, em alguns casos contando milhares de páginas de informação a respeito de cada uma destas organizações 319 . São numerosas as organizações internacionais especializadas de vocação universal, e podem ser lembradas: – Organização Internacional do Trabalho (OIT ou ILO) 320 , com sede em Genebra; – Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), com sede em Roma; – Organização para a educação, ciência e cultura (UNESCO), com sede em Paris; – Organização Mundial de Saúde (OMS ou WHO) 321 , com sede em Genebra; – Organização Meteorológica Mundial (OMM ou WMO), com sede em Genebra; – União Postal Universal (UPU ou IPU), com sede em Berna; – Organização Marítima Internacional (OMI ou IMO) 322 , com sede em Londres; – União Internacional de Telecomunicações (UIT ou ITU), com sede em Genebra; – Organização Mundial para a Propriedade Intelectual (OMPI ou WIPO) 323 , com sede em Genebra; – Organização para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI ou UNIDO), com sede em Viena; – Banco Mundial, com sede em Washington; – Fundo Monetário Internacional, com sede em Washington, é o eixo do sistema monetário internacional – aspectos legais e institucionais desse conjunto merecem análise 324 , aliás, por contar esse sistema com mecanismos de sanção específica 325 ; – Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA ou IAEA), com sede em Viena – esta não é subordinada ao ECOSOC, mas ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. A regulação da energia atômica é tema crucial para a sobrevivência da vida no planeta. – a Organização Mundial do Comércio, com sede em Genebra, passa a receber breve enfoque específico (4.1.2.1.).
4.1.2.1. Organização Mundial do Comércio (OMC)
O antigo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, 1947) não era organização internacional, propriamente dita, mas acordo “temporário”, cuja vigência se estendeu de 1948 até 1994, quando veio a ser “absorvido” pelo conjunto institucional mais amplo e mais estruturado da Organização Mundial do Comércio 326 . Assim, pôs-se fim à lacuna institucional remanescente desde o fracasso da pretendida instauração da Organização Internacional do Comércio, que, nunca tendo entrado em vigor, dera lugar ao “acordo” de “vigência provisória”, sobre o qual se estrutura e desenvolve, em considerável extensão, o sistema mundial de livre comércio. O término da oitava e mais longa rodada de negociações do GATT 327 , a rodada Uruguai, estendeu-se de 1986 até o encerramento em 15 de dezembro de 1993, que foi assinalado pela Ata final, firmada no curso da Reunião ministerial de Marraqueche, de 12 a 15 de abril de 1994, mediante a ratificação de que se dá a entrada em vigor da OMC, em 1º de janeiro de 1995 328 . Desde lá, colocam-se as perspectivas em relação à evolução subsequente do comércio internacional 329 . Os países tinham a opção de aceitação ou recusa integral da Ata Final de Marraqueche, não sendo tal conjunto passível de aposição de reservas. O Brasil 330 , membro originário do GATT (1947), igualmente integra, desde o início, a OMC 331 . Se o País, em tantas instâncias internacionais, se pauta pela omissão, pelo conservadorismo e pela pouca consistência de posições, que caracterizam tanto a política interna como mais ainda a externa do atual governo 332 , com certeza não pode ser considerado omisso na presença e defesa de seus interesses no âmbito da OMC. A passagem do modelo provisório do Acordo geral, dedicado tãosomente a regular tarifas e comércio para a nova organização 333 , como referem V. MAROTTA RANGEL (1998) 334 , G. SACERDOTI (1998) 335 et al., representou mutação conceitual relevante da ordenação de todo o sistema internacional de comércio, baseado nas premissas: das restrições, e da eliminação progressiva, das barreiras comerciais e da multilateralidade da aplicação da claúsula da nação mais favorecida. A transição do GATT para a OMC 336 representou extensão considerável não somente quanto ao número de participantes, como ao aumento da abrangência dos temas regulados pelos diferentes acordos setoriais, inseridos no conjunto da Ata final de Marraqueche, de 1994, cuja adoção conduz à entrada em vigor da OMC, com a implantação da rede de acordos multilaterais setoriais, até mesmo em matéria de proteção da propriedade intelectual (TRIPs), como também pela implementação de sistema institucionalmente aperfeiçoado de solução de controvérsias, com mecanismo de revisão 337 . Em vários aspectos se constitui ramo autônomo do direito internacional do comércio, conforme apontam M. BRONCKERS (2000) 338 , Peter J. KUYPER (1998) 339 , e vários autores no volume, sob a coordenação de M. BRONCKERS e G. N. 
HORLICK (2004) 340 . É enorme a extensão dos estudos a respeito do tema 341 no curso dos anos transcorridos desde a sua implementação. Como refere Ph. FOUCHARD (2001, nova ed., 2007) 342 : “atualmente as autoridades estatais se mostram desejosas, ainda que fosse somente para lutar contra a sobrecarga da justiça pública, de encorajar o recurso a todos os meios de solução de controvérsias, sejam estes amigáveis ou jurisdicionais” 343 . O desenvolvimento dos meios institucionais de solução de controvérsias é dado crucial para qualquer sistema de convivência organizada, desde as menores células de pessoas físicas, aos mais complexos sistemas de coordenação entre estados e organizações internacionais. Mostra-se a sua importância, pela frequência da utilização, não somente para o funcionamento da OMC e do sistema multilateral de comércio, como também para o conjunto do direito internacional 344 . A evolução do livre comércio no contexto interamericano, em análise coordenada por L. PERRET e J. KORECKY (1999) 345 , prepara o caminho para o exame das organizações internacionais de vocação regional 346 e na interação entre blocos regionais, na linha de C. FLAESCH-MOUGIN e J. LEBULLENGER (1999) 347 . Como se passsa a examinar, em suas grandes linhas conceituais.
4.2. organizações internacionais de vocação regional
Tendência verificada, desde o final da segunda guerra mundial, foi a de tomar o regionalismo. Este se configura no direito internacional a partir do momento em que se institucionaliza, por meio de tratados, celebrados entre sujeitos de direito internacional, estabelecendo direitos e obrigações regidos pelo direito internacional. A compreensão da base, a partir da qual se formam os espaços regionais economicamente integrados, é vital para o entendimento da inserção de todos esses processos regionais, no âmbito do direito internacional geral. Seguem lógica jurídica e dinâmica econômica convergentes, no sentido de progressiva aproximação, no que se passa de direito internacional clássico, de mútua abstenção ou mera coexistência, para setores nos quais se enceta a instauração de modelo internacional de cooperação. Este pode passar a patamares de implementação da integração, em alguns contextos regionais específicos, como se considerou, esquematicamente, em relação, por exemplo, à União Europeia 348 . O regionalismo, enquanto expressão jurídica, é fato central no movimento de evolução do direito internacional, em contexto pós-moderno. Razões de ordem geográfica, condições históricas e culturais particulares, enfim, interesses comuns, conjugados com os acontecimentos das últimas décadas 349 , levaram à formação, em todos os continentes, de alianças e de acordos regionais, instituidores de dezenas de organizações internacionais regionais ou subregionais, entidades, embora restritas a regiões geograficamente determinadas, que têm concepção e aplicam conceitos do direito internacional geral. Essa foi a base da estruturação de sistemas jurídicos internacionais europeu, interamericano, em escala continental ou sub-regional, como o africano, entre outros que seguem o mesmo modelo. Nessa perspectiva, a Comunidade britânica seria considerada entidade regional. Na abordagem de manifestações jurídicas peculiares a determinado grupo de estados, unidos tanto pela geografia como pela história, e conscientes da ocorrência de interesses regionais compartilhados, destaca-se, progressivamente, a percepção de direito internacional africano, em evolução a partir do processo de descolonização, da luta pela autodeterminação dos povos, ao mesmo tempo que também se coloca a necessidade de preservar a integridade territorial dos estados, criados, muitas vezes de modo arbitrário, pelos antigos colonizadores, ao estabelecerem as respectivas zonas de influência e de gestão de interesses “coloniais”, em detrimento dos laços históricos, étnicos, linguísticos e culturais dos povos do continente 350 . De modo equivalente, a aplicação do princípio do uti possidetis foi igualmente acolhida no contexto africano, posterior à independência dos estados do continente 351 . No contexto asiático, circunstâncias históricas, derivadas da enorme diversidade cultural e religiosa, agravada por questões políticas e ideológicas, que repercutiram nesse vasto continente, bem como a grande instabilidade política, presente em numerosos estados da região, não ensejaram, todavia, manifestações de movimentos pan-asiáticos, ou a emergência de conjunto de normas internacionais, aptas a alicerçar direito internacional asiático, sem prejuízo de rede de organizações internacionais regionais, de matizes variados, já presentes em vários cortes geográficos e temáticos sub-regionais. A Carta das Nações Unidas (artigos 52 a 54) diz que os acordos ou entidades regionais poderão ocupar-se da manutenção da paz e da segurança internacionais em assuntos suscetíveis de ser regulados por ação regional, desde que tais acordos ou entidades e atividade prevista sejam compatíveis com os propósitos e princípios das Nações Unidas. Os Membros das Nações Unidas que forem partes em tais acordos ou constituírem tais entidades deverão procurar resolver pacificamente as controvérsias locais por meio de seu sistema regional, antes de as submeter ao Conselho de Segurança. Nada obsta, contudo, a que este exerça a autoridade, que lhe é própria, de investigar sobre qualquer controvérsia ou situação suscetível de provocar atritos entre nações, ou a que a atenção do Conselho ou da Assembleia seja solicitada por qualquer Estado para uma controvérsia ou situação dessa natureza. O Conselho de Segurança será sempre informado de qualquer ação empreendida ou projetada, em virtude de acordos regionais ou por entidades regionais, para a manutenção da paz e da segurança internacionais. Por sua parte, o próprio Conselho poderá utilizar tais acordos ou entidades para uma ação coletiva, sob a sua autoridade. Segundo o artigo 53 da Carta, nenhuma ação coercitiva poderá ser levada a efeito por meio dos acordos ou entidades regionais, sem autorização do Conselho, salvo contra estado que, durante a segunda guerra mundial, foi inimigo de qualquer dos signatários da Carta das Nações Unidas e isso somente até o momento em que a organização possa, a pedido dos governos interessados, tomar o encargo de impedir toda nova agressão por parte de tal estado 352 . Isso não pode significar, contudo, impedimento às medidas de legítima defesa, individual ou coletiva, autorizadas, conforme vimos, pelo artigo 51. As organizações internacionais de vocação regional, como dito, além de suas agendas e objetivos internos têm-se ocupado de problemas de direito internacional. Trata-se de vasto universo esse das organizações internacionais, sejam estas de vocação regional ou de vocação universal. Cumpre notar ter este experimentado considerávelexpansão, sobretudo nas décadas transcorridas desde o final da segunda guerra mundial. Serão, exemplificativamente 353 , mencionadas: a “União Europeia” (4.2.1.), ao lado de outras organizações europeias, tais como o Conselho da Europa, as organizações interamericanas, com menção expressa da “Organização dos Estados Americanos” (OEA) 354 (4.2.2.), e outras 355 , bem como a “Unidade Africana” (4.2.3.), a “Liga árabe” (4.2.4.) e a “Organização de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico” (APEC) (4.2.5.).

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