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nou. — Criadora da Vida, Senhora de todos os mundos. Mais uma vez se manifesta aqui, aos nossos olhos, um símbolo de Teu poder magnânimo. As forças que manipulas no macrocosmo representamos aqui em nosso pequeno símbolo de Teu poder criador. Sabemos que Tu, nossa Mãe, geras a vida e a alimentas, assim como nós. Teus filhos, fazemos com nossas crianças, des- de o homem até os animais, nossos irmãos menores. Nesse momento, alguns harpistas e violinistas passaram a tocar, em seus instrumentos, uma meiodia divina, que encantou- nos todos, enquanto Atônis prosseguia com sua oração divina. — Senhora da Vida, abre nossos olhos para percebermos sempre a beleza das pequenas coisas que vemos na natureza e o quão é importante mantermos a harmonia da obra que criaste. Nós dominamos a tecnologia do Vril, manipulamos a Tua obra criadora, por meio da engenharia genética, aperfeiçoando nossa forma de manifestação física. Atingimos o saber, mapeamos a vida, mas, em nenhum momento, esquecemos que tudo isso nos foi permitido por Tua infinita bondade. Caso contrário, nada disso nos seria possível. Também não esquecemos que o avanço deve ocorrer sempre em harmonia, jamais provocando destrui- ção ou desarmonia. Permite-nos, ó, Grande Mãe, que jamais nos escape da memória que o progresso deve trilhar o caminho do amor. Atônis manteve-se em silêncio por alguns instantes e ficou observando o disco solar no horizonte. Em seguida, voltou-se para nós e passou a examinar o público presente. Eu estranhei aquele procedimento. Meu pai parecia estar nos suplicando algo, no imo de sua aima. Em seguida, vi duas grossas lágrimas correndo em seus olhos e apertei firme a mão de Evelyn. Senti um aperto no peito. O que estava se passando com Atônis? Ele, 66 Roger Bottini Paranhos então, esclareceu-nos: — Desculpem-me, meus irmãos, por essa minha demons- tração exterior que não condiz com o momento. Mas meu co- ração sofre com os rumos que nossa sociedade está seguindo. Quero aproveitar esse instante, em que essa cerimônia está sen- do transmitida para os sessenta e quatro miihões de habitantes de nosso país, para expor minhas preocupações. Mais um ano se inicia, e, a cada novo ano, vemos que nosso povo está perden- do seus valores. Todos nós sabemos que uma nova humanidade está reencamando neste paraíso que chamamos terra de Possei- don. Os pais precisam saber orientar seus filhos, para que eles também consigam perceber a importância de amar e proteger sua terra e seus semelhantes. As novas gerações trarão em seus corações dúvidas e dilemas internos de suas vivências anterio- res do mundo em que vieram. O inconsciente de nossos filhos está povoado de pequenos dramas, que nem mesmo eles sabe- rão interpretar. Cabe-nos dedicar-lhes muito amor e orientá-los a vencerem tendências que, algumas vezes, podem ser mais for- tes do que eles mesmos. Enquanto meu pai falava, percebi minha mãe, Criste, sen- tada elegantemente ao seu lado, de pernas cruzadas e com seu porte nobre, digno de uma rainha, olhando-me com carinho, como se estivesse depositando em mim toda a esperança de que eu correspondesse às palavras de meu pai. Atônis era um gran- de homem, um idealista como poucas vezes o mundo conheceu, um coração de ouro, ou melhor, de oricalco! Eu olhei para Criste com firmeza e lhe disse, telepatica- mente: — Pode confiar em mim! Ela sorriu e respondeu-me da mesma forma: — Eu sei que posso, meu amado filho. Os atlantes tinham bastante facilidade para se comunicar por pensamento, principalmente com seus afins. Mãe e filho ti- nham, então, capacidade de realizar isso a quilômetros de dis- tância, sem contato ocular. Atônis abaixou os braços, estendeu as palmas das mãos para o público à sua frente e disse, sorrindo: — Talvez eu esteja me preocupando demasiadamente. La- Atlântida - No reino da luz 67 mento por esse imprevisto na cerimônia, mas algo dentro de mim me dizia que eu deveria falar-lhes sobre isso. Vamos, então, orar à Grande Deusa e encerrar as festividades. E que esse novo ano seja de grandes realizações para todo o nosso povo! Que a Senhora da Vida nos abençoe! Enquanto meu pai prosseguia com suas exposições, per- di-me em meus pensamentos. Olhei para Arnach e os demais amigos de minha geração e comecei a analisar nosso compor- tamento e compará-lo com o de nossos pais. Seria somente um conflito de gerações? Impetuosidade dos jovens? Sim! Éramos diferentes deles. Parecia-me que eles eram mais devotados a Deus e aos valores da alma. Eles ouviam de forma mais clara e intensa a “voz interior”. Entre os jovens, muitos colocavam isso em segundo plano, até mesmo por não terem a profundidade espiritual necessária. Decididamente, nossos pais eram espíritos nobres, senhores de si, enquanto nós possuíamos um imenso “porão” de traumas interiores que desconhecíamos. A nova geração de Atlântida era como os icebergs dos mares gelados do norte. Tínhamos uma gigantesca área inconsciente submersa em nossas mentes, que não sabíamos reconhecer, nem dominar. Assim, aquele mesmo medo interior que eu havia narrado a Evelyn, antes de chegarmos à cerimônia, tomou-me de assal- to repentinamente. Em meu pensamento ecoava: “O que será isso? Por que tantas perguntas sem respostas? Por que Atô- nis e Criste parecem ser tão resolvidos, enquanto eu e meus amigos parecemos tão instáveis e suscetíveis às paixões? O que era Arnach e sua estranha instabilidade emocional? E Atlas, então, que preocupava cada vez mais os anciãos da capital por causa de seu gênio instável, lá na Atlântida Européia? Por sua vez, Gadeir demonstrava perigosa ambição política no lado oci- dental da Grande Ilha. Ele era diplomático e gentil, mas todos sabiam que aspirava ao mesmo que Atlas: o poder absoluto!”. Muitas perguntas povoavam minha mente, e eu não encontrava as respostas. Além disso, havia a questão da supremacia dos atlantes sobre a nova geração. Eles eram mais completos e perfeitos; tanto nos esportes como em todas as áreas, mostravam maior 68 Roger Bottini Paranhos destreza e equilíbrio. Desde uma simples dança, passando por atividades esportivas e terminando na competência profissio- nal. Em tudo eles sempre eram superiores. Eu e meus amigos, pelo menos, tínhamos grande habilida- de com o Vril, o que diminuía esse sentimento de rancor. Já os milhões de habitantes comuns da nova geração nem isso pos- suíam, eram seres medíocres, que não se destacavam dentro da perfeita sociedade atlante, o que agravava seu sentimento de inferioridade. Isso, para espíritos exilados por sua arrogância, era algo muito amargo para digerir. Não foram poucas as vezes que vi a nova geração olhando com preocupante despeito para os atlan- tes da era de ouro. Os atlantes-capelinos irradiavam discreta raiva, que passava despercebida. Inclusive, invejávamos seu lento processo de envelhecimen- to. Alguns pareciam tão jovens quanto nós, mesmo tendo vinte ou trinta anos a mais. Nossas almas imperfeitas aceleravam o processo degenerativo dos perfeitos corpos que recebíamos de nossos pais, ao ingressar na vida física. Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que perdemos o campeonato de um esporte muito parecido com o voleibol para um time de atlantes da era de ouro. Eles eram bem mais velhos que nós, mas demonstravam incrível destreza, resistência e equilíbrio para vencer, enquanto nos desesperávamos, vítimas de nossa ansiedade descontrolada e imperícia. No final da partida, Ryu, ofegante, com as mãos sobre os joelhos, olhou para nós e falou, em tom de fracasso: — Não adianta lutarmos, eles são superiores a nós. São como garças elegantes, enquanto nós parecemos patos desajei- tados. Aquela triste declaração de Ryu desmoronou nossos egos. Caímos de joelhos no chão e reconhecemos