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Aspectos relativos ao problema da totalidade e o vazio referente no pensamento de Jean-Paul Sartre na obra O ser e o Nada: Ensaios de Ontologia Fenomenológica.

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ANTONIO SANCHES VALERA NETO
Aspectos relativos ao problema da totalidade e o vazio referente no pensamento de Jean-Paul Sartre na obra O ser e o Nada: Ensaios de Ontologia Fenomenológica.
 LONDRINA 
 2019
ANTONIO SANCHES VALERA NETO
Aspectos relativos ao problema da totalidade e o vazio referente no pensamento de Jean-Paul Sartre na obra O ser e o Nada: Ensaios de Ontologia Fenomenológica.
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Licenciatura em
Filosofia da Universidade Estadual de Londrina,
como requisito parcial para a obtenção do
Título de Licenciado em Filosofia.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Henrique Alves de Souza
Londrina
2019
Dedico esse trabalho a minha mãe, minha vó e o meu filho....sem eles seria apenas mais um vazio em uma situação qualquer.
 
Que estejam diante dos teus olhos, a cada dia, a morte, o exílio e todas as coisas que se afiguram terríveis, sobretudo a morte. Assim, jamais ponderarás coisas abjetas, nem aspirarás à coisa alguma excessivamente.
EPICTETO – O ENCHEIRÍDION.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................7
1.1 Fenômeno e o acesso transfenomenal...................................................................... 9
1.2 Consciência e negatividade....................................................................................... 17
2.Estrutura ontológica da consciência: O para-si......................................................... 34
2.1 Concepção de mundo: A ipseidade........................................................................... 43
3. Consciência e temporalidade: As estruturas fenomenológicas do tempo................ 46
3.1 Temporalidade Estática e Dinâmica......................................................................... 51
4. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 55
5. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 60
Resumo:
O presente trabalho apresenta uma analise acerca da condição existencial a partir da obra o Ser e o Nada de Jean-Paul Sartre. Condição que implica as diversas questões conjecturadas por Sartre em sua obra máxima tem como principal inspiração; o problema que há no significado da relação que existe entre a consciência e o ser, ou a sua ausência de ser. A partir desse parâmetro nosso estudo tem como o seu problema a sensação existencial da falta de plenitude, ou em termos mais precisos: a falta de totalidade. Portanto, para uma abordagem sobre tal problema. Faremos uma analise a partir da noção de Fenômeno e o seu acesso transfenomenal e o aspecto negativo da consciência, assim como uma analise das estruturas imediatas da consciência. E analisaremos por fim, a perspectiva da consciência e tempo. Sendo esses os pontos que iremos abordar no decorrer do nosso trabalho.
Palavras chave: Ontologia, Metafísica, Totalidade, Fenômeno, Consciência. 
INTRODUÇÃO:
A investigação levantada aqui neste presente trabalho possui em seu desígnio apresentar alguns pontos sobre as questões colocadas, ou ate mesmos impostas à situação existencial da realidade humana, expressadas por sua vez, na obra O Ser e Nada (1943) de Jean-Paul Sartre (1905-1980). Tais questões, em seu ato de curiosidade filosófica, Sartre com bases da fenomenologia husserliana aplica-se a estudar por diversos ângulos os aspectos da consciência e a condição “fatídica” da existência humana. 
Sua descrição fenomenológica dada em virtude de tal condição do existir para o filosofo, busca por seu pensamento compreender a relação da consciência e sua dimensão ontológica com o mundo através dos seus atributos fenomênicos que vem a configurar a totalidade da realidade humana, esta por sua vez, possuindo um caráter de total abandono em um mundo gratuito e com carência de sentido. 
Portanto, a presente investigação mediante as diversas questões conjecturadas por Sartre em sua obra máxima, tem como principal inspiração; o problema que há no significado da relação que existe entre a consciência e o ser, ou a sua ausência de ser. Este ultimo, situado devido à imprecisão da consciência com a totalidade do mundo definido por seus aspectos ontológico como um valor inacabado de seu próprio projeto. Ou seja, nosso estudo tem como o seu problema a sensação existencial da falta de plenitude, e da sua situação de completo abandono. Este dado, como consequência do absurdo da liberdade, descrita na doutrina existencialista de Sartre que tem por, todavia, indicar-se pela possibilidade da escolha e compreende-se na condição em que nos encontramos o ser humano nunca é um ser acabado, definido e predeterminado. 
E para uma melhor compreensão do problema aqui suscitado, temos por objetivo compreende-lo partir da trama conceitual desenvolvida por Sartre. No primeiro momento da nossa analise, partiremos da sua reflexão a cerca do fenômeno e da intencionalidade da consciência. Pois o esforço filosófico definido por Sartre foi feito para romper com a perspectiva apoiada pela metafísica moderna em ocorrência das suas realidades numênicas. Já que o próprio fenômeno manifesta em si mesmo a sua série de aparições, nada oculto ou de via substancial para definir sua natureza, sua aparição é o próprio desvelamento total de si. 
 Além desses pontos abordados pela fenomenologia empregada por Sartre, temos por considerar também no primeiro momento da presente investigação alguns aspectos da sua filosofia negativa; a negação como condição necessária da consciência e sua relação ontológica com o ser; e também o acesso para à angústia existencial; o surgimento do Nada como um fato concreto da realidade humana. Por esses pontos identificamos argumentos que confluem aos problemas da falta de totalidade que temos aqui o papel de investigar.
Na segunda parte, temos como proposito explorar os aspectos ontológicos da consciência, definida por Sartre, como ser-Para-si, ou simplesmente Para-si. Nesta abordagem, estudaremos a conduta da consciência em seu jogo dialético de não ser aquilo que não se é e não ser aquilo que é fundamentando assim sua perpétua negação. 
Em nossa terceira e ultima parte antes de nossas considerações finais temos por investigar o fenômeno da temporalidade ek-stática com a consciência e a sua noção de diáspora. Desempenhado assim, um papel importante dentro dessa concepção de temporalidade definida por Sartre, tanto como a noção do tempo para o Para-si como o tempo do mundo “organizado” pelo Em-si e caracterizado pelo ato de transcendência do Para-si. Sendo este um ponto de vista imprescindível para compreender a incompletude da conduta humana traçada pelo ser do Para-si e a sua falta de totalidade.
60
1.1 FENÔMENO E O ACESSO TRANSFENOMENAL 
Sartre, ao adotar a fenomenologia[footnoteRef:1] como método investigativo para compreender as condições das circunstancias factuais correspondentes aos fenômenos da realidade humana, condições que são formuladas pela relação da consciência com o Ser-em-si. A sua investigação possui como parâmetros, a oposição de uma filosofia marcada pela dualidade do fenômeno, interpretado por sua vez, através por bases de uma metafísica que ele identificou como ingênua, que tem como fundamento interrogar o que existe para além do existente. Essa dualidade da metafísica dos mundos possíveis, ou por nossa preferência a ilusão dos trás-mundos, é integrado ao fenômeno e o seu aspecto real é hipostasiada pela ideia da coisa em si, a sua finalidade é atribuir uma natureza interior ao próprio fenômeno. Ou seja, que ele possua uma essência oculta em si mesmo, impossível de se manifestar. [1: Ressaltamos que a fenomenologia é um movimento filosófico significativo porque lida muito bem como
problema dos aparecimentos. Considerando que a questão dos aparecimentos tem sido parte dos problemas
humanos desde a origem da filosofia. Portanto, o primeiro passo que Sartre dá no Ser e o Nada, tem a questão
do aparecimento do fenômeno.] 
Ao fazer uso da intencionalidade como seu instrumento filosófico Sartre quer entender, é claro, qual o fundamento da concepção ontológica da consciência com o Ser, ou com o Nada. O primeiro passo da sua investigação foi refutar tanto a subjetividade idealista, predominante na filosofia racional, como não por menos, o realismo considerado pela psicologia de critérios associacionistas. Diante dessas duas concepções de mundo ou de sujeito, o francês quer erradicar a herança metafísica que insiste em dar uma alma vital para qualquer tipo de manifestação nesse mundo. Entre essas concepções, a primeira é com base em representações intelectualistas da consciência, concedendo ao pensamento a primazia de organizar o mundo a partir da própria imanência do sujeito. Grandes méritos metafísicos dessa relação sujeito-objeto, perpetuando assim, a modernidade. Sua genialidade de dar ao homem a ideia de mundo como uma copia da copia do objeto[footnoteRef:2]. Resultando consequentemente na ideia da ideia, de modo que essas ideias fossem uma coleção sistematizada através das nossas representações subjetivas. Todas elas imanentes à consciência e todas dotadas de um conteúdo substancial em si. Ou seja, a alma, ou Platão caminhando entre nós. [2: SOUZA, 2003, p.4.] 
O realismo no seu turno participando desse grande problema da metafísica, entre aquilo que aparece e entre realmente “aquilo” que aparece, entende que a realidade externa possui autonomia, e não depende da consciência para o mundo existir como mundo. A consciência e mundo são definidos aqui, por sua correspondência causal que ocorre entre os eventos psíquicos e fisiológicos vinculados pela percepção humana, e o que serve de base para explicação total da realidade exterior. O ato perceptivo provocado por essa sucessão causal da realidade que é conduzida pela mudança do seu estado físico (C só existe, porque A vem antes de B) contém nessa formula ingênua que perpetua na psicologia cognitiva a responsabilidade de definir a relação sujeito-objeto, dentro dos moldes do realismo. Da mesma maneira a possibilidade de o mundo surgir para esse sujeito também é marcada por uma imanência subjetiva presa em seu interior. 
E por esses contextos teóricos essencialistas que debateram por tanto tempo sobre o que é uma alma, o que é o mundo, Sartre dirige suas criticas. Por conta do seu aspecto interno ou substancialista da consciência, mesmo que ambos possuírem nuanças significativas em razão da relação entre consciência e realidade; as quais são ponderadas as perspectivas de que o mundo pode existir sem nenhuma consciência para dar sentido, ou lhe atribuir alguma dimensão real. Contexto esse, adepto do Realismo naturalista, ou empírico. Ou através de sua contradição idealista que da poderes para a consciência existir apenas como substância e sem nenhum mundo físico agregado por fenômenos e mudanças de estados. 
Postas essas diferenças acerca do estudo filosófico entre a relação consciência e mundo que delinearam e desgastaram os traços da subjetividade disputada na filosofia moderna, mesmo sendo tão diferentes, ainda assim ambos os contextos convergem para a mesma concepção metafísica de sujeito-objeto, já que ambas ponderam uma natureza substancial inerente à consciência; a alma, ou a necessidade dela. Essa concepção isola toda apreensão de mundo em círculos de conceitos e representações imanentes a si mesmo, e o objeto ou o fenômeno como Sartre põe, é identificado por esses contextos apenas mera representação virtual do mundo. Desconsiderando o verdadeiro aspecto existencial que esta mais intrínseca ao que realmente existe, do que dos trás-mundos 
E na contramão dessas perspectivas embasadas pelo equivoco da dualidade provocada entre a distinção do ser e o seu aparecer, Sartre, com fundamentos concedidos pela fenomenologia, sobretudo com a descrição intencional da consciência acerca do fenômeno, da à filosofia o seu autêntico proposito: “O primeiro passo de uma filosofia deve ser, portanto, expulsar as coisas da consciência e restabelecer a verdadeira relação entre esta e o mundo, a saber, consciência como consciência posicional do mundo.”[footnoteRef:3] Em consideração por essa filosofia autenticada por Sartre, que se questiona através da descrição da fenomenologia e suas investigações relativo a consciência e da sua capacidade dativa de manifestar-se, e indicar-se ontologicamente como consciência posicional do mundo como presença. Dessa maneira ser posicional no mundo, Sartre quer demonstrar que a realidade é articulada através de uma series de diferentes fenômenos desvelados à consciência[footnoteRef:4]. [3: SARTRE, 1997, p.22.] [4: Sobre a capacidade de manifestação da consciência para o mundo, Sokolowski (2012, p.24) pondera a seguinte observação que achamos relevante indicar aqui, sobre quais são os aspectos dos fenômenos que configuram o sentido daquilo que a entendemos de mundo: “(...) as coisas que tinham sido declaradas ser meramente psicológicas são agora declaradas ontológicas, parte do ser das coisas. Retratos, palavras, símbolos, objetos vistos, estados de coisas, outras mentes, leis e convenções sociais são todos reconhecidos como verdadeiramente aí, como compartilhando em ser e como capazes de aparecer de acordo com seus próprios modos de ser”. ] 
A consciência ao intencionar-se diretamente para a manifestação do fenômeno e sua aparição como um fato existente no mundo, tem por esse ato intencional revelar à consciência, o aparecimento do ser do fenômeno. Essa relação tem inicio pela intencionalidade da consciência, atribuindo ao fenômeno uma serie de diferentes aspectos de seu modo de ser para consciência: “o existente, com efeito, não pode se reduzir a uma série finita de manifestações, porque cada uma delas é uma relação com um sujeito em perpétua mudança”.[footnoteRef:5] Ora, o ato intencional da consciência em acesso ao ser do fenômeno é compreendido pela analise sartriana de que essa relação possui a sua perspectiva de uma espera para o sentido do fenômeno que aparece, para que assim, a consciência possua a possibilidade de existir algum um sentido de ser para si própria. [5: SARTRE, 1997, p.17.] 
O ser é manifestado mediante a seus arranjos compostos para a realidade, alguns harmoniosos como os arranjos de Bach, outros atonais como Schoenberg. Possui em seu acesso em coincidir ao fenômeno como uma aparição em série para a consciência. O fenômeno denota-se por si mesmo. Desvincular a metafísica da consciência é subtrair essa essência que protege o homem. O fenômeno de ser manifesta a sua essência apenas como mais um aspecto particular que convém de suas diversas serie infinitas de aparecer, a sua essência não é uma qualidade escondida como uma coisa em si. Sua essência é reconhecida pela consciência, já que toda consciência é “consciência posicional (de) mundo”. 
Considerada assim, a noção fenomenológica circunscrita no ato posicional e intencional da consciência compreende que a existência do fenômeno e “as aparições que manifestam o existente não são interiores nem exteriores: equivalem-se entre si, remetem todas as outras aparições e nenhuma é privilegiada (...) o ser de um existente é exatamente o que o existente aparenta.”[footnoteRef:6]. Por esses termos que a fenomenologia, ao invés de igualar o objeto físico a um suposto fundamento ou substrato, iguala o objeto intencionado a todas suas aparências, as atuais e possíveis. [6: SARTRE, 1997, p.15-16.] 
É em virtude do fato que as aparências ao serem manifestadas pelos fenômenos e por seus possíveis aspectos reveladas para a consciência, que Sartre reconhece o acesso transfenomenico do ser do fenômeno em sua presença à consciência[footnoteRef:7], conferindo-lhe uma concepção original do seu pensamento. Observando que esta concepção do fenômenomanifestado para consciência e adquirido em seu caráter transfenomenal apresenta um ponto vital do argumento sartriano em questão à realidade. A realidade dos fenômenos descrita nas condições transfenomenal, é constituída pela distinção entre o fenômeno de ser e o ser do fenômeno. Analisando que por essas perspectivas a premissa intencional da consciência é indicar a outro ser que não seja si mesma, reivindica ela não somente que o ser que aparece exista simplesmente como um aparecimento, ou aparência, mas no mesmo tempo como ser revelado. Sua essência é pública. [7: Pelo termo presença para Sartre, é o modo da consciência como não sendo, ou seja, a consciência é testemunha de si somente em presença a outro ser como não sendo o ser. ] 
Através desse discernimento analisado entre o fenômeno de ser (aparição do ser) e o ser do fenômeno (ser que aparece), tem por fim projetar os aspectos desvelados em referencia ao seu contato com a consciência. Possuindo como principio o acesso transfenomenal, na maneira que esse acesso se identificaria a modo de ser do fenômeno como a marca do real[footnoteRef:8]. Ou melhor, o seu acesso garantiria a validade ontológica do fenômeno que se manifesta como ser revelado. Ponderando que essa perspectiva reveladora do fenômeno ao possui seu pilar transfenomenal no qual o objeto é intencionado, ele não se configura a uma simples aparência, ou circunscrito pelo velho dualismo metafísico da aparência e da realidade, mas sim em uma série infinita de possíveis aparências. [8: COX, 2007. p.30.] 
E por essas estruturas de infinitos possíveis referentes ao ato intencional da consciência, que Sartre observa a consciência como uma ausência de ser[footnoteRef:9] e privada de seu sentido. A ausência que a consciência possui no seu cerne é o fundamento de transcender-se ao fenômeno. Procurando na sua conduta superar a sua própria negação de ser, e de mundo. Dessa forma, o modo negativo da consciência de ser posicional na realidade possui em seu ato, basicamente transcender o fenômeno que aparece de encontro com a perspectiva ao que não aparece. [9: A respeito do conceito de ausência no campo da fenomenologia desenvolvida por Husserl que tem uma significativa influencia sobre Sartre, Sokolowski (2012, p.46) indica as seguintes definições que contempla toda a tradição fenomenológica, lógico que para Sartre esta definição não divergir das suas considerações, apesar refutar Husserl referente a falta de uma concepção ontológica para a consciência: “As ausências que circundam a condição humana são de diferentes tipo. Umas coisas são ausentes porque são futuras, outras porque são contemporâneas, porém distantes, outras porque são esquecidas, outras porque são escondidas ou secretas, e ainda outras porque estão além de nossa compreensão e ainda são dadas para nós enquanto tais: sabemos que isso é algo que não compreendemos. As ausências chegam em muitas cores e sabores, e é uma grande tarefa filosófica diferenciá-las e descrevê-las. Um dos insights mais originais de Husserl foi chamar nossa atenção para as intenções vazias, nosso modo de intencionar a ausência, e destacar sua importância na exploração filosófica do ser, da mente e da condição humana.”] 
Sartre observa que o fenômeno de ser, e seu ser revelado. É uma característica atuante da consciência para a realidade, devido à intuição reveladora, não que por essa intuição ela deva necessariamente possuir um caráter redutível do fenômeno de ser ao ser do fenômeno. Como é retratada na teoria do conhecimento da filosofia moderna, que descreve a subjetividade com um perfil de apreensão imanente e representativa da realidade, e consequente sua apreensão conceitual sobre a razão de ser e realidade se converte em uma metafisica substancial da dualidade das coisas, todas elas coisa em si. Segundo ele, a intuição que revela o fundamento ontológico do fenômeno vai a contramão ao caráter redutível atribuído a teoria do conhecimento. 
Sua real dimensão, analisada pelo filosofo relacionado à intuição reveladora do ser, na verdade essa dimensão “é um apelo ao ser; exige, enquanto fenômeno, um fundamento que seja transfenomenal. O fenômeno de ser exige a transfenomenalidade do ser. Não significa que o ser se encontre escondido atrás do fenômeno (...) o fenômeno é enquanto aparência, que dizer, indica a si mesmo sobre o fundamento do ser”.[footnoteRef:10]. Nessas circunstâncias, a exigência que Sartre quer resgatar em seu argumento através da razão provinda da intuição reveladora possui a mesma analogia recorrente à prova ontológica da existência de Deus argumentada por Santo Anselmo, pois o seu argumento quer desvincular o ser de Deus do relativismo subjetivo do homem. Não como um ser possível, mas sim necessário. A esse respeito, Bornheim destaca: [10: SARTRE, 1997, p.20.] 
Sabe-se que Santo Anselmo parte da ideia de Deus presente no pensamento humano e conclui afirmando a necessidade da existência objetiva de Deus. No pensamento assim imbuído de Deus há, diria Sartre, um apelo para a existência de Deus (...) Tanto Santo Anselmo quanto Sartre estão empenhados em salvar o ser das amarras do subjetivismo, e ambos se situam numa perspectiva que parte da subjetividade; a partir dela deve-se atingir a afirmação de uma existência objetiva plenamente estabelecida.[footnoteRef:11] [11: BORNHEIM, 1971, p.29.] 
A intenção de desvincular o ser do subjetivismo, com o mesmo valor da prova de Deus de Santo Anselmo, Sartre indica a transfenomenalidade como o acesso ao ser daquilo que aparece para a consciência. Ou seja, a consciência em ato reivindica que o ser do fenômeno que aparece para ela, não exista somente enquanto aparecimento, mas também enquanto ser. Observando esse ato, a formula da intencionalidade no seu sentido de definir a consciência como consciência de algo, articulando-se assim, o seu aspecto transcendental que é concebida pela intuição que revela o seu modo de existir ontologicamente, ou seja, o seu modo de ser. Pois, “consciência é consciência de alguma coisa significa que não existe ser para a consciência fora dessa necessidade precisa de ser intuição reveladora de alguma coisa, quer dizer, um ser transcendente”[footnoteRef:12], já que a consciência surge por um objeto que não é ela mesma. A consciência que intenciona o ser daquilo que aparece em seu alcance transfenomenico tem em seu ato ultrapassar rumo ao seu sentido de ser, ou como Sartre define essa relação; transcende o ôntico rumo ao ontológico. Desse modo, a intuição reveladora de tudo que existe no acesso ao ser transfenomenal da consciência é em si mesmo, evidenciando assim o primeiro ponto ontológico que Sartre quer resgatar em seu percurso em razão da busca pelo ser, e delimitado por suas estruturas ontológicas o ser destacado por ele como o ser-Em-si. [12: SARTRE, 1997, p.34.] 
O Em-si identificado por Sartre é ontologicamente a primeira região do ser a se manifestar, e é apresentado como o ser que é o que é, contendo em si mesmo sua positividade absoluta; “o Em-si não tem segredo: é maciço. Em certo sentido, podemos designá-lo como síntese. Mas a mais indissolúvel de todas: síntese de si mesmo (...) que o ser esta isolado em seu ser e não mantem relação alguma com o que não é”[footnoteRef:13]. Dessa maneira, o Em-si é determinado a rigor através de sua diferença ontológica revelada para a consciência, e é correspondida pelo principio de identidade ao afirmar a si mesmo sem nenhuma contradição que exprime ser contrario a exatamente o que è: [13: SARTRE, 1997, p.39.] 
A partir do momento em que existem seres que hão de ser o que são, o fato de ser o que se é não constitui de modo algum características puramente axiomáticas: é um principio contingente do ser-Em-si. Neste sentido, o principio de identidade, principio dos juízos analíticos, é também principio regional sintético do ser. Designa a opacidade do ser-Em-si. Opacidade que não depende de nossa posição com respeito ao Em-si, no sentido de que seriamos obrigados a apreende-lo ou observa-lo por estarmos“de fora”. O ser-Em-si não possui um dentro que se oponha a um fora e seja análogo a um juízo, uma lei, uma consciência de si.[footnoteRef:14] [14: SARTRE, 1997, p.39.] 
Essa definição estática do Em-si, devido a sua contingência de negar que seu ser seja decorrente de outro qualquer. E consequentemente ser reduzido a duas importantes concepções ontológicas definidas pela tradição, nas quais procura indicar as perspectiva do ser, se ele é possível ou necessário. O Em-si em nada deriva, ele simplesmente é, não é possível ou necessário, ele é. E a partir dessa definição que Sartre indica sobre a positividade plena do Em-si como o ser que é o que é sem distinção alguma. A consciência por sua vez é o nada; se definido como ausência de ser e isto pode ser observado através da descrição fenomenológica realizada pelo o filosofo para ela. 
Sua analise é compreender como o que pode ser real para a consciência é capaz ter sentido a partir das seguintes perspectivas; o fato posicional no mundo organizado intencionalmente; e a consciência como pura negação, sempre em deslizo a outro ser que não seja si mesma. Mediante a essa indicação referida à ausência de ser da consciência, e pelo ato de implicar outro ser que não seja ela mesma em consonância da sua conduta posicional, e os Em-si arranjados no mundo, foi possível identificar o primeiro ponto que temos aqui a relacionar ao nosso problema suscitado. Que questiona a falta de totalidade da existência humana.
 A consciência posicional por sua vez, é identificada por Sartre também como a consciência tética dos objetos físico que estão presente no mundo. Essa inferência é seguida por um ato irrefletido e anterior a qualquer conduta reflexiva da consciência referente à dualidade do ato que Sartre identificou como reflexo-refletidor. Além do ato tético da consciência posicional dos objetos intencionais, ela é capaz de ser consciência do si como objeto intencional também: “Em outros termos, toda consciência posicional do objeto é ao mesmo tempo consciência não-posicional de si.[footnoteRef:15]. [15: SARTRE, 1997, p.24.] 
Possibilidade que ocorre referente ao seu acesso ao mundo em linhas circunscrita do ato não-posicional da consciência, e é conceitualmente identificada como o cogito pré-reflexivo, ou consciência não-tética de si. No qual o ato pré-reflexivo atribuído pela analise de Sartre, é reconhecido como a condição necessária para a existência do cogito cartesiano: 
Tem sido observado que a consciência não-tética não é separada da consciência tética. De maneira semelhante, a autoconsciência tética ou a consciência reflexiva não esta separada da consciência refletida. Contudo, é incorreto deduzir disso que as consciências reflexivas e refletidas são idênticas. Na verdade, seu relacionamento é paradoxal. É no desenvolvimento de um relato do relacionamento paradoxal entre a consciência reflexiva e refletida que o melhor senso da consciência reflexiva pode ser construído.[footnoteRef:16] [16: COX, 2007, p.60.] 
Por essas circunstâncias paradoxais estabelecidas entre o mundo e a consciência, que por um lado o mundo arranjado pelo Em-si é completo por si mesmo, e a consciência por sua vez, é pura negação e sua conduta é identificada por sua ausência de ser. Essa relação que ressoa na falta de plenitude da existência, “(...) ainda que o conceito de ser tenha a particularidade de cindir-se em duas regiões incomunicáveis, é preciso explicar como ambas podem ser colocadas sob a mesma rubrica”.[footnoteRef:17] Descartando as concepções essencialistas definidas por idealistas e realistas em proposito do fundamento ontológico daquilo que é real, encontra-se as questões através da descrição fenomenológica de Sartre os problemas que suscitarão ao proposito do nosso trabalho: Em razão a esse distanciamento dessas regiões completamente distintas como ambas podem pertencer ao ser? Qual o seu sentindo? Como pode existir uma relação entre elas considerando serem incomunicáveis por direito?[footnoteRef:18] E através dessas dúvidas ontológicas que o problema se coloca; a falta de plenitude da existência com a totalidade do mundo e sua possível síntese que surge por meio dessas regiões distintas. Posto isto, temos como próximo passo compreender a postura interrogativa da consciência e sua dimensão nadificante para uma melhor elucidação dessas questões. [17: SARTRE, 1997, p.36.] [18: SARTRE, 1997, p.40.] 
 
1.2 CONSCIÊNCIA E NEGATIVIDADE
Após esse movimento inicial que expõe as implicações recorrentes sobre a noção do fenômeno e a manifestações advindas de suas infinitas series de aparições, que tem por possibilidade exigir o seu alcance transfenomenal de ser como uma marca do real, que tais implicações sucedem-se a partir da diferença que tem entre a consciência e o Em-si. Já que a diferença se apresenta como parâmetro imprescindível para compreender o acesso ontológico referente a essa complexa relação da consciência e mundo, ou em termos problemáticos, afinal de que maneira o homem se encontra no mundo? Como essa relação é possível? Por serem regiões completamente distintas entre si, essa relação se configura a partir da deriva das consequências ocasionadas pela conduta humana, já que ela, por si, é responsável pela realidade apreensível em seu acesso imediato.[footnoteRef:19] E a primeira conduta que Sartre localiza para ser o fio condutor que intervém sobre essa possível síntese decorrente da comunicação entre o encontro do existir humano com o mundo, é atribuído por seu aspecto interrogativo como processo original de tal conduta. [19: SASS, 2003, p.20] 
A interrogação tem como principio se colocar a outro ser que não seja o mesmo ser daquele que interroga, não que isso seja necessariamente uma relação primitiva do ser da consciência com o Em-si, mas no limite oposto da sua relação. Ou seja, a conduta interrogativa tem como liame dessa relação revelar o aspecto transcendente do ser, “(...) a interrogação corresponde à espera: espero uma resposta do ser interrogado. (...) sobre o fundo de uma familiaridade pré-interrogativa com o ser, espero uma revelação de seu ser ou maneira de ser.”[footnoteRef:20] E diante do ato interrogativo da consciência que é constituído pelo esperar e por alguma mudança de estado, convém existir a possibilidade de duas respostas objetivas que correspondente ao principio de interrogar algo, ou seja, seu ato é procurar uma afirmação ou uma negação daquilo que esta sendo posto em dúvida. Por esse principio básico do ponto de interrogação levantado pela existência, é importante destacar o papel objetivo da negação da consciência que é estabelecida no âmbito do não-ser, pois na sua relação com o ser ela se manifesta como uma negação do próprio ser que ela transcende. [20: SARTRE, 1997, p.45.] 
A atitude interrogativa como perspectiva de conexão entre a consciência e o ser e consequentemente delineada por sua transcendência, é possível verificar a frente a essa conduta o surgimento de um aspecto original da realidade humana; o surgimento do não-ser como um fato concreto no mundo. Dessa forma, Sartre quer demonstrar a possibilidade negativa como um componente do real, já que sua posição possui como ênfase expor o problema ontológico a partir do contraste entre o ser e o nada. Caracterizando assim, a sua filosofia como um acesso negativo do mundo[footnoteRef:21], pois o seu pensamento levantado na questão da conduta interrogativa como um ato precedente de negação é conduzido pela existência e se justifica a partir da simples tese de que o ser é e o não-ser não é: [21: Sobre essa conduta negativa do mundo, achamos importante destacar uma critica feita ao pensamento de Sartre em relação do acesso do Para-si ao Em-si, que ressalta um importante aspecto ao problema abordado na nossa tese, sobre a critica Sokolowski (2007, p.232) diz: “(...) O contraste radical de Sartre entre o “em si” e o “para si” negligencia distinções intermediárias que deveriam ser respeitadas, tais como aquelas queocorrem na consciência animal. Em particular, quando fala do fenômeno do nada, le néant, como sendo fundado na consciência humana, ele enfatiza assim a diferença e a diversidade como para omitir elementos da identidade que sempre vêm juntos com esses negativos. Sua descrição do le rien como permitindo ao ego tornar-se alienado para si mesmo na consciência antecipa a introdução de Derrida da différance e “traço”, mas ambos os pensadores franceses parecem negligenciar a correspondente similaridade e identidade que Husserl reconheceria nesses fenômenos. Sartre fez uso da fenomenologia dentro de uma filosofia que não era somente analítica, mas também exortativa, um tipo de humanismo dramático, e nesses escritos retóricos alguém sempre enfatiza alguns aspectos das coisas para negligenciar outros.” ] 
Para o investigador existe, portanto, a possibilidade permanente e objetiva de uma resposta negativa. Com relação a isso, aquele que interroga, pelo fato mesmo de interrogar, fica em estado de não-determinação: não sabe se a resposta será afirmativa ou negativa. Assim, a interrogação é uma ponte lançada entre dois não-seres: o não-ser do saber, no homem, e a possibilidade de não-ser, no ser transcendente. Por fim, a pergunta encerra a existência de uma verdade. Pela própria pergunta o investigador afirma esperar resposta objetiva, como se lhe fosse dito: “É assim e não de outro modo”.[footnoteRef:22] [22: SARTRE, 1997, p.45.] 
A pergunta ao modo interrogativo é traçada como uma conduta proeminente do existir humano. Por sua vez, é identificada por Sartre como a primeira condição que corresponde ao ato esboçado pela intuição reveladora da consciência, e a sua possibilidade de síntese com o Em-si, concebendo assim, o acesso transfenomenal do fenômeno para o seu ser, considerando dessa forma, que o momento essencial e primordial dessa aparição é a negação. A possibilidade de localizar o nada como uma condição perene na conduta humana é captada por questões que refletem sobre a perda da totalidade e está colocada como um ponto inalcançável da existência, já que o existir é organizado por possibilidades que podem ser ou não realizadas, mas nunca por completo. 
Dessa “(...) forma como um Existente sempre pode revelar-se como nada, toda interrogação subentende um recuo nadificador com relação ao dado, que se converte em simples apresentação, oscilando entre o ser e o Nada.”[footnoteRef:23]. Esse afastamento ou recuo do ser todo é reconhecido pelo existente e por sua conduta expressada pela dúvida como um acesso eminente da condição humana ao mundo, sendo necessário que seu ato interrogativo seja justificável para definir-se a si mesmo diante do todo que ela jamais será, representando-se assim o existir no mundo como um ponto inacessível para a totalidade do ser. [23: SARTRE, 1997, p.66.] 
Podemos observa que a atitude interrogativa traz consigo a possibilidade do não-ser como ato constitutivo da transcendência e se determinando como fato instaurado no mundo é importante ponderar que nesse contexto suscitado por Sartre, o nada simplesmente não é uma qualidade inerente ao mundo, mas sim provinda da relação que existe entre a síntese da consciência e o mundo. Por sua vez, o último como conceito é pertencente ao ser-Em-si, revelando-se como mundo por meio dessa relação e concebido exclusivamente pela realidade humana. Tendo em conta que é “(...) inútil contestar que a negação aparece sobre o fundo primitivo de uma relação entre o homem e o mundo; o mundo não revela seus não-seres a quem não os colocou previamente como possibilidades”[footnoteRef:24]. Já que o Em-si que é pleno e coincide somente consigo mesmo, participa apenas como uma peça simplória desse arranjo primitivo e se fundamentando como forma de mundo[footnoteRef:25] pelo ato intencional da consciência. [24: SARTRE, 1997, p.45.] [25: Destacando outra importante critica (ver nota 21): “Há uma armadilha no pensamento do negativo: se dissemos que é, destruímos sua negatividade, mas se mantivermos estritamente que não é, ainda o elevamos a uma espécie de positividade porque é fixado em seu poder de recusar e eludir. Um pensamento negativista é do mesmo modo um pensamento positivista, e nessa reviravolta permanece o mesmo, no seu propósito de, considerando o vazio do nada ou o pleno absoluto do ser, ignorar em todo caso a espessura, a profundidade de planos”. (SASS Apud MERLEAU-PONTY, 2003, p.23). ] 
A consciência nessa relação é o nada, não que ele seja como uma essência que a habite como uma coisa-em-si, Sartre na sua definição quer evitar as analogias dos conceitos essencialistas defendidos pela metafisica moderna, mas, sim ressaltar sob a forma intencional de consciência de negação; já que seu fundamento é redefinido a partir da sua conduta nadificadora no mundo. Sartre identificou de ser pré-judicativa, pois o nada revelou-se por modos de ser da consciência frente ao ser todo. Como por exemplo, Sartre atribui ao ser; a conduta de esperar que algo aconteça ou não se define pela ausência daquilo que é intencionado pela consciência, ou seja, a relação da realidade humana com o mundo é posta em um fundo prévio regulado por seus arranjos negativos. A negação nesse contexto não é apenas uma propriedade do juízo para formular ou não uma questão negativa a partir de uma conduta interrogativa do existir humano, mas a negação é uma propriedade de direito como um fato revelado no mundo. 
E a disposição pré-judicativa diferentemente do juízo formal, pode manifestar-se naturalmente de diversas maneiras, a tal que “posso interrogar com o olhar, com o gesto; por meio da interrogação me mantenho de certo modo frente ao ser, e esta relação com o ser é uma relação de ser, da qual o juízo constitui apenas uma expressão facultativa”.[footnoteRef:26] No momento em que a negação se concebe a partir da relação com o ser, é capaz de identifica-la na atividade do cotidiano da ação humana. Como é possível notar-se nos próprios exemplos que o filosofo usa tal como a analise dos objetos-utensílios, e da sua relação corriqueira com existir humano através da sua situação posicional de estar no meio do mundo. [26: SARTRE, 1997, p.48.] 
Nesse sentido, os exemplos citados por ele são relatados o mau funcionamento das peças do seu carro e do seu relógio, pois a espera da revelação de algo pode determinar a mudança de seu estado, como citado no exemplo, essa mudança depende da manutenção e o bom funcionamento desses objetos-utensílios. O primeiro fato a se consumir em esperar algo nesse tipo de cenário ordinário criado por Sartre relativo ao cotidiano. É a ausência que é revelada, assumindo o papel negativo referente à atitude interrogativa, mesmo que seja em seu aspecto mais trivial consequente do cotidiano humano; se espero uma revelação de ser, significa que estou preparado ao mesmo tempo para a eventualidade de um não-ser.
É importante ressaltar que além da conduta pré-judicativa delineada por Sartre a partir da natureza da interrogação como modo objetivo da negação em termos de possibilidade concreta no mundo. Ele nos chama atenção que “convém notar que muitas condutas não-judicativas trazem na sua pureza original a essa compreensão imediata do não-ser sobre o fundo de ser”[footnoteRef:27]. A relação original da negação como uma qualidade revelada por características do não-ser em posse concreta do mundo, tem essas linhas a indicação de Sartre um perfil traçado exclusivamente para a realidade humana. [27: SARTRE, 1997, p.48.] 
Vinculando a esse perfil como uma manifestação negativa e seu horizonte de mundo sendo recorrente pela a concepção objetificada da experiência apreensível da consciência com a realidade; podemos, ”por exemplo, se encararmos a destruição, vamos reconhecer que é uma atividade apta sem dúvida a empregar o juízo como instrumento, mas não poderia ser definida como única ou mesmo principalmente judicativa”[footnoteRef:28]. A destruição manifesta-se como condição exclusiva a apreensão da consciência e seu acesso ao ser do Em-si, além de ser implicadasua ação destrutiva, este se apresenta como outro ponto fundamental para considerar os traços do não-ser em seu âmago. [28: SARTRE, 1997, p.48.] 
A consciência nesse caso é a testemunha interrogativa presente a essa ação que atribui à diferença relativa do estado de mudança qualitativa no mundo que é ocasionado pelo ato destrutivo, já que “(...) para colocar a alteridade, falta um testemunho capaz de reter de alguma maneira o passado e compara-lo ao presente sob a forma do já não”[footnoteRef:29]. Conferindo assim, a sua alteridade como um perfil negativo do mundo para a realidade humana; “o homem é o único ser pelo qual pode realizar-se uma destruição. Uma rachadura geológica, uma tempestade, não destroem – ou, ao menos, não destroem diretamente: apenas modificam a distribuição de massa dos seres (...) não há menos que antes, há outra coisa.”[footnoteRef:30]. Ou seja, a destruição como um ato não-judicativo e sua qualidade negativa é reconfigurada como um estado de mudança no mundo. Concebido através da relação do homem com o ser do real e seu limite transcendental para a possibilidade da apreensão da realidade do Em-si como um ser destrutível. [29: SARTRE, 1997, p.48.
] [30: SARTRE, 1997, p.48] 
A possibilidade do não-ser existir manifesto no aspecto objetificado da realidade, e a experiência formal que também é enfatizada por julgamentos pré-judicativos da consciência pela perspectiva com o Em-si. Além dessa noção formal, Sartre também chama a atenção para o fenômeno da ausência existencial, a qual à manifestação do não-ser não é essencialmente vinculada a um julgamento formulado pela a consciência após seu encontro com o mundo. O não-ser da ausência existencial se distingue, porque sua compreensão ontológica do não-ser é pertencente a própria natureza do mundo, tal qual o mundo é apresentado para a consciência. O exemplo usado por Sartre para constatar a ausência existencial como o nada é descrito pela ausência sentida de seu amigo em um bar, colocando o fundo em contraste com a plenitude que o local apresenta:
Na realidade, Pedro esta ausente de todo o bar; sua ausência fixa o bar na sua evanescencia, o bar mantém-se como fundo, persiste em oferecer-se como totalidade indiferenciada unicamente à minha atenção marginal, desliza para trás, continua a sua nadificação. Só faz-se fundo para uma forma determinada, leva-a aonde quer que seja diante de si, apresenta-a a mim por todo lado, e essa forma que desliza constantemente entre o meu olhar e os objetos sólidos e reais do bar é precisamente um perpetuo desvanecer-se, é Pedro que se destaca como nada sobre o fundo de nadificação do bar. De modo que é oferecida à intuição uma espécie de ofuscação do nada, é o nada do fundo, cuja nadificação atrai e exige a aparição da forma, é a forma “nada”, que desliza na superfície do fundo como nada. Portanto, o fundamento para o juízo “Pedro não está” é a captação intuitiva de dupla nadificação.[footnoteRef:31] [31: SARTRE, 1997p.51.] 
	Nesse exemplo é analisada a conduta interrogativa e sua experiência direta com a plenitude de ser apresentado pelo ambiente configurado pelo o bar, servindo-se como um “fundo vazio” para que a possibilidade de mudança do seu estado de ser deva surgir; “(...) eu esperava ver Pedro, e minha espera fez chegar a ausência de Pedro como acontecimento real alusivo a este bar; é fato objetivo que descobri tal ausência (...) Pedro ausente infesta este bar e é a condição nadificadora como fundo.”[footnoteRef:32] O não-ser revelado nessa relação é inerente a esfera de plenitude do ambiente em presença à consciência, a ausência não depende necessariamente de uma formulação formal para constatar sua mudança, e o seu estado negativo de se manifestar, ela é a sua condição necessária identificando-se como um estado concreto. A ausência existencial sendo condição necessária para o acesso negativo da consciência para o mundo se apresenta como a primeira negação que é decorrente de sua projeção ao ser de algo presente para o si da consciência. [32: SARTRE, 1997p.51.] 
A negação encontrada na síntese da consciência e o mundo do Em-si através do perfil interrogativo da consciência, no que é referida sua primeira negação, e é compreendida pela a intuição reveladora expressada por meios de tal síntese. Sartre, ao perceber essa conduta de negação relativo a existência. Coloca como questão uns dos problemas que mais o instigou na filosofia em perspectiva da sua concepção de mundo; mas de onde vem o nada? E ao reformular esse problema, ele nos chama a atenção para a sua relevância como a primeira condição para uma indagação de caráter filosófico ou cientifico. Constituindo-se que o aspecto da existência de algo no mundo é justificado através do seu fundamento de não-ser como uma possibilidade concreta, ou seja, ele é revelado a partir de sua experiência ôntica rumo ao seu acesso ontológico como foi observado anteriormente. 
Pois a consciência concebida nesse acesso é descrita como um não-ser em relação ao ser do Em-si, que por sua vez existe como uma negação de ser para a consciência. E para uma melhor perspectiva para o problema da origem do nada, a analise sartriana tem inicio a partir da posição entre as concepções de dois de seus maiores influenciadores; Hegel e Martin Heidegger.[footnoteRef:33] [33: Em relação às criticas que Sartre faz a esses dois pensadores, não temos a intenção de fazer uma analise comparativa do tema, mas apenas expor o ponto de vista de Sartre, considerando que um trabalho dessa natureza exigiria maior profundidade e por essa razão achamos melhor fazer essa analise em um próximo trabalho.] 
 A primeira concepção a ser analisada por Sartre é a concepção dialética indicada pelo pensamento de Hegel, sobretudo partindo de sua lógica, que segundo o filósofo francês ela estabelece que o “ser puro e o não-ser puro seriam abstrações cuja reunião estaria na base das realidades concretas.”[footnoteRef:34]. A critica levanta por Sartre para à concepção hegeliana, possui o seu ponto de vista que a relação interna da sua lógica constitui que o ser e o não-ser por mais que possuam polos contraditórios. Ainda assim são idênticos um ao outro por pertencerem à natureza abstrata do pensamento, em tal noção abstrata é resultante do conteúdo concreto da realidade para a sua representação. [34: SARTRE, 1997, p.53.] 
Suas abstrações são determinações puras do pensamento; “os pensamentos, tais como geralmente os representamos, não são pensamentos puros, porque se entende por ser pensado um ser cujo conteúdo é empírico. Na lógica, os pensamentos são captados de tal modo que não tem outro conteúdo senão o do pensamento puro, por este engendrado”.[footnoteRef:35] Portanto para Hegel, o puro ser e o puro não-ser são exatamente a mesma coisa. Apresentando a virtude pelo fato do não-ser, sendo indeterminado pelo ser, e se compreendendo por sua noção de devir, que não é originalmente difundido no pensamento filosófico por Hegel: [35: SARTRE, 1997, p.53.] 
Vale a pena notar que a idéia de que o puro ser e o puro não-ser são a mesma coisa não se originou de Hegel, mesmo que ele seja creditado com o fato de haver dado a explicação tão detalhada que a situação esperou por muito tempo. Assim como Hegel mesmo disse, Heráclito, o filósofo pré-socrático, argumentou que “ser como é, como nada é, ou, tudo flui, o que eu quer dizer tudo é o devir” (HEGEL, 1998:83). A ideia Heraclitiana do devir como a unidade original e síntese do ser e do não-ser é o foco central da ontologia de Hegel. Para Hegel, ontologicamente e fundamentalmente, não existe o ser e o não-ser, somente o devir.(...) Através da abstração, o pensamento pode capturar o fluxo do devir e fixar o ser e o não-ser em sua oposição. (...) Para Hegel, a verdade não-abstrata é a de que nem o ser ou o não-ser determinam-se como tal, mas sim que cada um é determinado pelo outro.[footnoteRef:36] [36: COX, 2007, p.19.] 
	A prioridade lógica que Hegel quer fundamentar para o ser em ocorrência da sua relação com o não-ser, além de apresentar-secomo uma noção abstrata do pensamento confirmado pelo movimento do devir, ele recusa o nada como um fato existente da realidade diante dessa noção, definindo-a como concepções de natureza idênticas. Em contramão a essa perspectiva dialética, a analise critica desenvolvida por Sartre para a lógica hegeliana considera diferentemente que “o ser é anterior ao nada e o fundamenta. Entenda-se isso não apenas no sentido de que o ser tem sobre o nada uma precedência lógica, mas também que o nada extrai concretamente do ser a sua eficácia. Expressávamos isso ao dizer que o nada invade o ser.”[footnoteRef:37] [37: SARTRE, 1997, p.58.] 
Por isso, para Sartre o ser não possui qualquer necessidade do nada para se conceber, como definido por Hegel, e relacionado à sua perspectiva de contemporaneidade que é justificada a partir da relação do ser e o não-ser, marcada por ser uma noção indeterminada do pensamento. O ser para Sartre é revelado ser em-si mesmo. E o nada ou o não-ser, só é possível ser nada de alguma coisa determinada, manifestando-se através da síntese oriunda da consciência e seu envolvimento com a realidade. 
Por esses impasses correspondidos pela posição dialética caracterizada pelo pensamento de Hegel, que Sartre não encontra um caminho seguro para configurar sua teoria para a primazia do ser e a possibilidade da identificação do nada na existência de algo no mundo. Portanto, a solução encontrada pelo filosofo para a resolução a esse problema sobre a condição do surgimento do nada no mundo é reposto em outra perspectiva. Em tal que a sua abordagem vai de encontro à outra concepção para o seguinte problema, buscando apoio na filosofia de Martin Heidegger[footnoteRef:38]. [38: Em questão a essa concepção do nada que serviu como um fundamento inspirador para Sartre desenvolver sua reflexão no Ser e o Nada, tem na aula inaugural de Heidegger de 1929 na Universidade de Freiburg a definição conceitual sobre o tema que é recorrente a uma boa parte como fio condutor na obra de Sartre. Por esses motivos, achamos imprescindível colocar algumas observações feita por Heidegger em sua aula, que também vem de encontro com o nosso problema analisado aqui, o problema da totalidade: “Onde procuramos o nada? Onde encontramos o nada? Para que algo encontramos não precisamos, por acaso, já saber que existe? Realmente! Primeiramente e o mais das vezes o homem somente então é capaz de buscar se antecipou a presença do que busca. Agora, porém, aquilo que se busca é o nada. Existe afinal um buscar sem aquela antecipação, um buscar ao qual pertence um puro encontra? Seja como for, nós conhecemos o nada, mesmo que seja apenas aquilo sobre o que cotidianamente falamos inadvertidamente. Podemos até, sem hesitar, ordenar numa “definição” este nada vulgar, em toda palidez do óbvio, que tão discretamente ronda em nossa conversa: O nada é a plena negação da totalidade do ente. Não no dará, por acaso, esta característica do nada um indicação da direção na qual unicamente teremos possibilidade de encontrá-lo? A totalidade do ente deve ser previamente dada para que possa ser submetida enquanto tal simplesmente à negação, na qual, então, o próprio nada se deverá manifestar.” (HEIDEGGER, 1991, p.38)] 
 Que por tal filosofia, a sua indicação situada na relação do homem e o “mundo é o complexo sintético das realidades-utensílios na medida em que estas se indicam mutuamente segundo círculos cada vez mais amplos e na medida em que o homem, a partir deste complexo, faz-se anunciar o que é.”[footnoteRef:39] Esse princípio complexo que se refere a filosofia de Heidegger que é concernente ao tema da existência do nada e do seu surgimento manifestado em relação ao ser. Que Sartre observou um salto significativo em correlação à concepção decorrente da abstração como um ponto insólito de acesso ao nada considerado por Hegel. [39: SARTRE, 1997, p.59.] 
Este salto deduzido por Sartre referente ao problema do nada na filosofia de Heidegger em relação a Hegel é analisado a partir da condição “pré-ontológica” do Dasein, que é decorrente dos projetos postulados pelas condutas orientadas pela a realidade humana. Já que Heidegger, segundo a interpretação sartriana, a própria realidade humana revelada ao Dasein já envolveria em si uma compreensão do nada resultante de algumas atitudes essencialmente humanas; (...) o ódio, a proibição, o pesar. “Há inclusive para o Dasein possiblidade permanente de encontrar-se “frente ao nada e descobri-lo como fenômeno: é a angústia.”[footnoteRef:40] [40: SARTRE, 1997, p.59.] 
A angústia e o seu acesso existencial caracteriza-se em traço de atonalidade emotiva do ser, em tal qual é um fenômeno que se revela a partir da manifestação do nada, da capacidade, ou impotência da existência por si só. Sendo a angústia um ponto acessível subsequente pela posição frequente da realidade humana em compreender a impossibilidade dos aspectos da sua existência enquanto tal. Temos por desenvolver melhor essa temática da angústia no decorrer do nosso trabalho, já que sua compreensão é fundamental para entender do vazio percebido defronte a possibilidade da totalidade de ser como um projeto inalcançável da existência.
 De tal maneira a característica que Sartre quer ressaltar na filosofia de Heidegger contrária a de Hegel em perspectiva ao nada é que ele não conserva no não-ser um ser puro e abstrato. O nada se nadifica se apresentando como um estado concreto enraizado na realidade humana, e independente de qualquer ato consequente do pensamento em seu nível abstrato como defende Hegel. Ele esta no mundo, nadifica todos os acessos da transcendência da consciência. Sendo esta por sua vez, empregado por Sartre como uma analogia direta com o conceito usado por Heidegger para interpretar o Dasein, já que para Heidegger nas linhas de Sartre, o ser do Dasein expressado na realidade humana se interpreta como “ser-no-mundo”: 
Significa ao mesmo tempo que a “realidade	humana” surge enquanto investida pelo ser e “se encontra” (sich befinden) no ser – e, ao mesmo tempo, que a realidade humana faz com que esse ser que a assedia se distribua à sua volta em forma de mundo. Mas a realidade humana não pode fazer aparecer o ser como totalidade organizada em mundo a menos que o transcenda. Toda determinação, para Heidegger, é transcendência, pois subentende recuo, tomada de ponto de vista. Este transcender o mundo, condição do próprio surgimento do mundo como tal, é operado para si mesmo pelo Dasein.[footnoteRef:41] [41: SARTRE, 1997, p.59.] 
	A totalidade classificada como mundo existe apenas como uma realidade a ser transcendida. O projeto do Dasein é empreendido ao movimento de transcender em direção ao seu ser. Desse modo, Sartre encontra na filosofia de Heidegger uma condição adequada de fundamentar a consciência como um ser imergido ao mundo. Contudo com uma diferença, o exercício incessante da consciência e seu processo de negação como um ato de transcendência; “Certo, não há como negar que a apreensão do mundo como mundo é nadificador. Assim que o mundo aparece como mundo, mostra-se como não sendo isso. O oposto necessário desta apreensão é portanto a emergência da “realidade humana” no nada”.[footnoteRef:42] [42: SARTRE, 1997, p.60.] 
Recordando que essa concepção fenomenológica que esclarece qual é o acesso nadificador do mundo é retratada a partir da característica da ipseidade (selbstheit). Que conceitualmente tem a definir o isolamento da existência humana daquilo que é por si mesmo, e também do que ela não é, ou seja o mundo. Expressando-se nessa interação como uma espessura de ser proveniente da relação da consciência e o ato de transcender para o mundo. A existência evidencia-se a si mesmo do outro lado do mundo, retornando para si a partir da perspectiva do projeto concebido em seu horizonte de mundo: o homem é “um ser das lonjuras”. E nesse movimento de voltar-se a si mesmo que percorre todo o ser é apresentado uma organização de mundo, sem preferência de si mesmo para o mundo, ou do mundo para si mesmo. O princípiode si mesmo que se lança ao horizonte do mundo que motiva a “realidade humana” para o nada:
O nada acha-se na origem do juízo negativo porque ele próprio é negação. Fundamenta a negação como ato porque é negação como ser. O nada não pode ser nada, a menos que se nadifique expressamente como nada; quer dizer, que, na sua nadificação, dirige-se expressamente a este mundo de modo a se constituir como negação do mundo. O nada carrega o ser em seu coração. Mas como a emergência capta esta negação nadificadora? A transcendência que é “projeto de si para além de...”, está longe de fundamentar o nada; ao contrário, o nada é que se encontra no seio da transcendência e a condiciona.[footnoteRef:43]	 [43: SARTRE, 1997, p.60.] 
	E com a retificação do pensamento de Heidegger, Sartre não tem somente o intuito de demonstrar o ser negativo do mundo, que por sua vez fundamenta toda a atitude negativa da conduta humana que além de indicar que o nada não precede ao ser nem sequer existe fora dos arranjos de mundo, mas sim como atitude de negação. A realidade humana efetua o nada através de uma atitude direcionada ao mundo e si mesmo. Sendo essa uma importante nuança em relação à filosofia de Heidegger, que segundo Sartre, Heidegger rejeita a negação como própria manifestação da transcendência, e “além disso, faz do Nada espécie de correlato intencional da transcendência, sem notar que já tinha inserido na própria transcendência como sua estrutura original”.[footnoteRef:44] Por esse argumento que Sartre nega a asserção de Heidegger de posicionar a transcendência apenas como uma ultrapassagem do mundo. A realidade humana não ultrapassa o mundo em revelação ao seu sentido, primeiramente ela o nega, e então o transcende. A negação opera, segundo Sartre, como manifestação da própria transcendência; “o nada não pode nadificar-se a não ser sobre um fundo de ser: se um nada pode existir, não é antes ou depois do ser, nem de modo geral, fora do ser, mas no bojo do ser, em seu coração, como um verme”.[footnoteRef:45] [44: SARTRE, 1997, p.61.] [45: SARTRE, 1997, p.64.] 
Após essas analises referente às concepções dialética e fenomenológica relativas ao tema do Nada na filosofia, é apresentada agora a posição de Sartre relacionado ao tema entendendo que o nada é “o paradoxo da realidade humana lhe advém dessa singular unidade entre o ser e o nada; o homem é um ser habitado pelo seu próprio nada, e que permanece em sua negatividade.”[footnoteRef:46] E Sartre ao questionar o ser e suas series de aparições constatou que possibilidade do nada é um ato particular expressado pela existência humana em razão do seu ser na realidade. Possibilidade que refere o nada e suas qualidades negativas para a sua insurgência na realidade, que é provocada enquanto dúvida, viabilizando assim o possível concreto da ocorrência do não-ser no ser: [46: BORNHEIM, 1971, p.44.] 
Concluímos então que, se a negação não existisse, nenhuma pergunta poderia ser formulada, sequer, em particular, a do ser. Mas esta negação, vista mais de perto, remeteu-nos ao Nada com sua origem e fundamento: para que haja negação no mundo e, por conseguinte, possamos interrogar sobre o Ser, é necessário que o Nada se dê de alguma maneira. Compreendemos que não se podia conceber o Nada fora do ser, nem como noção complementar e abstrata, nem como meio infinito onde o ser estivesse em suspenso. É preciso que o Nada seja dado no miolo do ser para que possamos captar esse tipo particular de realidades que denominamos Negatividades.[footnoteRef:47] [47: SARTRE, 1997, p.64.] 
Em reconhecimento a essas observações que recoloca a interrogação como um acesso incisivo no coração do ser para a revelação do ato negativo pertencente à existência através de um fato determinado nele próprio. No entanto, ainda é revelada uma dificuldade no pensamento de Sartre em encontro a essa perspectiva construída por sua filosofia. Se o Em-si é positividade pura, como o nada pode originar-se em seu âmago? E pra uma melhor compreensão desse problema já suscitado no decorrer de nossa tese, temos que relembrar que estrutura do Em-si anula qualquer possibilidade de fissura, devido seu aspecto de ser pleno consigo mesmo, ele rejeita a origem de qualquer negação em seu ser.
O argumento utilizado por Sartre, propõe que o não-ser não pode conceder a causa de si mesmo, nem possuir ímpeto para realizar sua nadificação; “(...) embora o verbo “nadificar” tenha sido cunhado para suprimir do Nada a mínima aparência de ser, há que convir que só o Ser pode nadificar-se, pois, como quer que seja, para nadificar-se é preciso ser”.[footnoteRef:48] Isto quer dizer que o nada não tem forças suficiente para nadificar-se, ou ser ato de negação de pura autonomia de si. Recordando que para a insurgência da negação, o nada é sublinhado sempre partir de um fundo de ser antecipado. [48: SARTRE, 1997, p.65.] 
Dessa forma o não-ser tem como fundamento surgir de alguma determinação. A identificação negativa de um ato é apoiada por outro ser, nunca disseminada por si própria pois “seria inconcebível um Ser que fosse plena positividade e mantivesse e criasse fora de si um Nada de ser transcendente, porque não haveria nada no Ser por meio do qual este pudesse transcender-se para o Não-Ser”.[footnoteRef:49] A determinação como fundamento do não-ser possui um duplo aspecto definido por Sartre, em que o nada só é possível existir em razão de outrem, e que o Em-si anula qualquer negatividade autônoma em suas estruturas: [49: SARTRE, 1997, p.65.] 
 O ser pelo qual o Nada vem ao mundo deve nadificar-se o Nada em seu ser, e, assim mesmo, correndo o risco de estabelecer o Nada como transcendente no bojo da imanência, caso não nadifique Nada em seu ser a propósito de seu ser. O Ser pelo qual o Nada vem ao mundo é um ser para qual o Nada vem ao mundo deve ser seu próprio Nada. E por isso deve-se entender não um ato nadificador, que requisesse por sua vez um fundamento no Ser, e sim uma característica ontológica do Ser requerido.[footnoteRef:50] [50: SARTRE, 1997, p.65.] 
 
	Por esse argumento exposto, vem a conduzir por partes, apresentar uma resposta ao problema referente à origem do nada configurada na realidade humana. Assim essa resposta é analisada por vias de uma mediação encontrada pela conduta questionadora concebida pelo o nada da dúvida que infesta o ser do homem. Essa hipótese por sua vez, conduz a uma dificuldade de possuir uma perspectiva direcionada para elucidação do modo de ser da existência do homem no mundo. Admitindo que o homem é a causa do nada na sua relação estabelecida com o mundo, e é importante salientar que de alguma forma em seu perfil transcendente ele se coloca fora do ser. Debilitando-se assim, diante da positividade do Em-si.
	Essa condição positiva do Em-si que é vedada para a realidade humana por negar o ser do mundo, é obstruída devido sua falta de causa e origem existencial. Sendo dessa maneira, o condicionante necessário para a sua possibilidade de modificar sua relação com o mundo. Possibilidade da qual a existência nega o ser do mundo sem poder aniquila-lo. Assim, a influência resultante dessa relação pode ser remodelada através da sua respectiva dimensão de realidade, já que a possibilidade correspondida por essa transformação é dada pelo ato de isolar um ser do fundo de positividade em que o homem esta situado.
	A essa concepção do possível, isolamos aquilo que buscamos de outros seres o que ele não é, segregando sua massa de ser daquilo que antes lhe dava forma. Possibilidade esta que é exclusiva ao ser do homem, ou seja, a consciência, já que ela, um ser dos possíveis como define Sartre, a sua ação modifica drasticamente sua relação com o opaco ser-Em-si destacando-se assim através de sua nova forma de relação com ser, que é chamada pelo filósofo de liberdade[footnoteRef:51]. O negativo de mundo expressado na realidade humana é o resultado do seu exercício da liberdade sendo ela uma característica essencial do ser humano, uma propriedade especifica da sua conduta existencial; “(...)se a liberdade é o ser da consciência, a consciência deve existir como consciência de liberdade”.[footnoteRef:52] Mas como essa consciência se revela para existência? Resposta que Sartre, apresenta pelo sentimento da angústia. A liberdade que é captada mediante a angústia, se estabelece como sua estrutura essencial, sendo notada pela consciência através da sua apreensão reflexiva advinda da experiência intencional da própria consciência. [51: Sabemos que a liberdade é o ponto central de toda teoria de Sartre acerca da realidade humana, não temos como intenção nesse trabalho fazer uma analise sobre o tema, pois sabemos que ela percorre toda a sua obra, mas deixamos esclarecido que ela pertence a modo de ser da consciência com o mundo e tempo. Portanto, o seu aspecto é importante ressaltar que a “liberdade não é uma capacidade de consciência; a liberdade é da natureza da consciência. A liberdade não é uma essência, assim como a consciência não é uma essência. Ela não é um potencial que existe antes do exercício do ser. A liberdade é seu exercício. Entender ação e escolha, portanto, é a chave para entender a teoria de Sartre sobre a liberdade.” (COX, 2007, p.93)] [52: SARTRE, 1997, p.72.] 
	Por ser reflexiva ela toma o si-mesmo como o centro das atenções colocando-o como um objeto intencional Revelando à apreensão que a consciência toma de si-mesmo, é do mesmo modo da consciência que esta separada pelo seu nada, ou seja, surge uma distancia que separa a consciência do si-mesmo. E a angústia por ser uma consciência intrínseca à liberdade também se apresenta como uma condição original da realidade humana enquanto se manifesta frente a si-mesmo como consciência de liberdade. “(...) A angústia como captação do si-mesmo na medida em que este existe como modo perpétuo de arrancamento àquilo que é; ou melhor, na medida em que o si-mesmo se faz existir como tal”.[footnoteRef:53] Ou seja, a angústia indica em sua revelação que a consciência esta separada do si-mesmo por um nada. [53: SARTRE, 1997, p.79.] 
	Tomando como premissa do pressuposto de que a experiência primordial da realidade humana é a angústia, é notável admitir que da mesma forma a realidade humana é invadida por um nada que a isola de seu ser ultimo, em sua própria essência. Essência aqui, definida como a totalidade dos caracteres explicativos de um ser, percebendo dessa maneira, que a realidade humana está distanciada de sua essência dando a perspectiva de que a existência carrega consigo apenas uma noção vaga de sua própria essência. Essa perspectiva é um aspecto determinante para o problema da totalidade ressaltado por Sartre pois, a angústia como consciência de um distanciamento de si-mesmo é também consequência da assimilação reflexiva da liberdade, e também do tom afetivo que temos por causa de nossas condutas. “Na angústia, a liberdade se angustia diante de si porque nada a solicita ou obstrui jamais. Dir-se-á que a liberdade esta sendo aqui definida como estrutura permanente do ser humano: mas, se a angustia manifesta tal estrutura, deveria então ser um estado permanente de minha afetividade.”[footnoteRef:54] Em vista disso, o aspecto permanente observado por Sartre é um aspecto que tentamos negar a todo custo, resumindo assim, todo o nosso esforço inútil para evitar a angústia separando-a da consciência através do espirito da seriedade, já que recorremos ao relativismo dos valores que recebemos ao sermos instruídos no mundo. [54: SARTRE, 1997, p.79-80.] 
A angústia é a condição primeira da liberdade. Esse esforço relacionado ao espirito da seriedade surge como a tentativa de se opor para apreender-se como não consciente da angústia, aspirando à existência a se restabelecer igual à positividade plena do Em-si:
A angústia, portanto, é a captação reflexiva da liberdade por ela mesma. Nesse sentido, é mediação, porque, embora consciência imediata de si, surge da negação dos chamados do mundo, aparece se me desgarro do mundo em que havia me comprometido de modo a me apreender como consciência dotada de compreensão pré-ontológica de sua essência e de sentido pré-judicativo de seus possíveis. Opõe-se ao “espirito de seriedade”, que capta os valores a partir do mundo e reside na substancialização tranquilizadora e coisista dos valores. Na seriedade, defino-me a partir do objeto, deixando de lado a priori, como impossíveis, todas as empresas que não vou realizar e captando como proveniente do mundo e constitutivo de minhas obrigações e meu ser e sentido que minha liberdade deu ao mudo. Na angústia, capto-me ao mesmo tempo como totalmente livre e não podendo evitar que o sentido do mundo provenha de mim.[footnoteRef:55] [55: SARTRE, 1997, p.84.] 
	O esforço para esquivar-se da angústia é o dado da reflexão que pretende separar a consciência da sua situação de liberdade. Essa conduta de negar a angústia é chamada por Sartre como fenômeno de alheamento. Uma tentativa de fugir da própria consciência da liberdade que tem por representar a possibilidade da existência de consentir que seus atos sejam orientados por forças ou leis antagônicas[footnoteRef:56], pelo fato dessa consciência poder conduzir-se livremente. A atividade alheia revelada por esse tipo de conduta de fuga busca expor que a existência nega a responsabilidade dos seus próprios atos para propiciar-se através da tranquilidade positiva do Em-si. [56: SASS, 2003, p.41.] 
Tranquilidade que se desenha por entre as desculpas e justificativas intencionadas pelo agente em dada situação existencial que se define pela liberdade procurando afastar de si toda responsabilidade sobre seus atos; “(...) Neste caso, tento escapar de minha própria transcendência, na medida em que sustenta e ultrapassa minha essência. Afirmo que sou minha essência à maneira de ser do Em-si.”[footnoteRef:57] Ou seja, o fenômeno do alheamento como ato correspondido à consciência de fugir diante da sua estrutura de possíveis busca em sua fuga esquivar-se do nada para fundir-se a positividade do Em-si. [57: SARTRE, 1997, p.87.] 
Esse processo é na verdade uma negação mais acentuada que procura rejeitar toda negação que antes era reconhecida pela consciência de angústia. A sua tentativa de remodelar-se a positividade das coisas é uma postura de neutralizar a virulência que havia antes com o nada. Por consequência disso, o vazio indeterminado que é marcado pelas estruturas de possibilidade da existência é destruída e simultaneamente a realização existencial do agente é limitada ao seu esforço para que ela seja completa em si mesmo. “Assim, escapamos da angústia tentando captar-nos de fora, como um outro ou como uma coisa.”[footnoteRef:58] Em suma, negar a angústia é a tentativa do homem de imaginar-se inteiramente de fora. [58: SARTRE, 1997, p.88.] 
 A intenção de alheamento provinda do agente de esforça-se para negar a angústia é uma conduta de revelar e reafirmar a essência da liberdade como uma forma consciente. A revelação possibilita de que “(...) posso ser angústia sob a forma de “não sê-la”. (...) Este poder nadifica a angústia enquanto dela fujo e nadifica a si enquanto sou angústia para dela fugir. É o que se chama de má-fé.”[footnoteRef:59] Tal poder nadificante é apontado por Sartre como a negação da negação, visando nada mais que preencher o nada revelado na realidade humana. Pretendendo preencher o vazio de todo ato humano como um dado possível. De tal modo, essa pretensão é também uma consciência reflexiva da angústia, consequentemente dessa maneira, é uma consciência inevitável dessa negação, já que para ela seja possível, se deve reconhece-la como um fato configurado para a realidade humana. Para anular essa primeira negação que é angústia o agente dever afirmar em sua condição com o mundo o reconhecimento de sua existência. Portanto, todo ato decorrente da má-fé[footnoteRef:60] incide ao fracasso. [59: SARTRE, 1997, p.89.] [60: Em um futuro trabalho temos a intenção de fazer uma analise mais detalhada do fenômeno da má-fé. Considerando que ela é ultima negação da consciência sobreo seu ser, assim como a liberdade a sua noção também perpassa por todo os aspecto da relação da consciência com o si. ] 
Através da angústia o nada é identificado como indeterminação, aceitando a ideia de que a existência é concebida para um ato original de nadificação. A identificação da má-fé é apontada por Sartre de que o homem pode referir-se ao seu próprio ser de dois modos, naquilo que ele chamou como ek-stases, em que tal concepção, é indicar as duas maneiras do homem situar-se fora de si para conceber consciência de seu ser; o ek-stases[footnoteRef:61] que nos joga no ser-Em-si e o que nos engaja no não-ser. Reconhecendo essas duas ek-stases, notou-se que a conduta humana frente ao Em-si expõe sua distinção diante da sua positividade. Implicando também o fato do não-ser demonstrado por meio da realidade humana por sua condição de transcendência, para um ser que tenciona ao seu próprio projeto. A influência do nada aparece, dessa maneira, como o meio da qual a significação da realidade humana pode ser dada. [61: Em relação ao conceito de ek-stases, será investigado os seus aspectos com melhor elaboração na terceira parte do nosso trabalho.] 
Posto isto, temos por finalizar a primeira parte de nosso trabalho, que identificou no projeto ontológico empregado por Sartre para à consciência os seus aspectos relacionados aos fenômenos que comportam a realidade humana, que por meio de suas series infinitas de aparições, possibilitou o seu acesso transfenonal ao ser daquilo que aparece. E também ressaltamos, à sua critica ao modo representativo da consciência apoiado pela metafísica essencialista, diferentemente Sartre, a identificou na sua proposta fenomenológica os polos ambíguos do ser que se apresenta a ela, um definindo-se pela sua positividade, que é o opaco ser-Em-si, e o outro por sua própria negação, ou seja, a consciência. Chegando ao problema da origem do nada que é delineada pela a conduta interrogativa do homem, até o projeto ultimo que é a negação de si-mesmo, a má-fé. 
2. ESTRUTURA ONTOLÓGICA DA CONSCIÊNCIA: O PARA-SI
Nossa analise feita ate aqui, se conduziu através dos aspectos dos fenômenos e suas aparições, e também o seu acesso feito pelo o ser da consciência. Sendo ela, a consciência, sua própria negação de ser, e essa negação é revelada pela conduta humana a partir da sua condição de liberdade guiada pela conduta de má-fé, que tal conduta enquanto negação da angústia é negação de si mesmo e da liberdade que caracteriza a existência humana e toda a sua estrutura de possibilidade. Sartre aponta que essas exigências retornam para a descrição do cogito pré-reflexivo. O cogito como principio funciona unicamente na condição de que se possa, em um momento decorrente vir a servir-se de condição para que a consciência possa transcender o seu próprio fundamento. 
Sendo assim, na característica do cogito como principio de transcendência da consciência ao mundo, Sartre tem agora como objeto recolocar o cogito em interrogação, e das condições recorrente ao seu ser. Com a intenção de identificar qual o melhor instrumento para compreender os princípios da realidade humana e sua totalidade de ser pois, as “condições de interrogar o cogito sobre o seu ser e nos fornecer o instrumento dialético que nos permitisse encontrar no próprio cogito o meio de escaparmos da instantaneidade rumo à totalidade de ser que constitui a realidade humana.”[footnoteRef:62] A razão de indagar a estrutura imediata da consciência é possível por essa indagação indicar a relação existente entre o debate acerca da ontologia e a possibilidade de alguma determinação do ser todo. E por essa investigação, sobre o surgimento do nada no coração do ser, que Sartre expressa o jogo dialético que fornece o instrumento necessário para entender o fundamento do cogito na consciência humana. Significando o jogo dialético como a necessidade da consciência de ser o que não é e não ser o que é. [62: SARTRE,1997, p.112.] 
A consciência estabelecida a partir dessa definição dialética diferencia-se radicalmente do Em-si, entendendo dessa forma, que por meio da sua estrutural intencional ela é organizada por ser determinada de não identidade consigo mesma. Dessa maneira, ela não apresenta identidade plena, e também não representa nenhum tipo de adaptação entre o que é e o que visa ser. Já que ao contrario do Em-si que é compressão de ser, ela é descompressão de ser, carecendo de coincidência consigo mesma. Em respeito a essa carência, Sartre dispõe de uma nova terminologia conceitual para expressar o ser da consciência em seu nível ontológico, o ser-Para-si.
E o primeiro momento que Sartre faz suas analises relacionadas às estruturas imediatas do Para-si é determinada pela formula da presença a si. O ser da consciência agora é tomado como um ser que é a sua própria volta para si:
Na verdade, o si não pode ser apreendido como existente real: o sujeito não pode ser si, porque a coincidência consigo mesmo faz desaparecer o si, como vimos. Mas também não pode não ser si, já que o si é indicação do próprio sujeito. O si representa, portanto, uma distância ideal na imanência entre o sujeito e si mesmo, uma maneira de não ser sua própria coincidência, de escapar à identidade colocando-a como unidade; em suma, um modo de ser em equilíbrio perpetuamente instável entre a identidade enquanto coesão absoluta, sem traço de diversidade, e a unidade enquanto síntese de uma multiplicidade. É o que chamamos de presença a si. A lei de ser do Para-si, como fundamento ontológico da consciência, consiste em ser si mesmo sob a forma de presença a si.[footnoteRef:63] [63: SARTRE, 1997, p.125.] 
Essa definição do Para-si, com efeito, apresenta agora um novo aspecto de significado para à consciência, esse aspecto possui a vantagem de não tomar a consciência como plenitude, tal como o Em-si. Essa vantagem indica outra dimensão do ser da consciência que é a sua presença a si, revelando dessa forma, uma separação radical do seu próprio ser. Presença a si é situar a consciência nessa dualidade de ser o que não é e não ser o que é. Já o Em-si não existe essa relação de separação e nem distância pelo fato de que a negação em nenhum momento habita seu interior, ele é opaco. “O principio de identidade é a negação de qualquer tipo de relação no âmago do ser-Em-si. Ao contrário, a presença a si pressupõe que uma fissura impalpável deslizou pelo ser. Se o ser é presença a si, significa que não é inteiramente si. A presença é uma degradação imediata da consciência, pois pressupõe separação.[footnoteRef:64] [64: SARTRE, 1997, p.126.] 
A consciência enquanto presença a si é notável que seu requisito seja de ser algo buscando a definir a si mesmo, no entanto, ela jamais é capaz de encontrar-se para poder alcançar a sua identidade. O Para-si quando revelado, é perceptível que a consciência está o tempo todo, visando um ser além de si mesmo. O seu ato de buscar o ser além de si, na verdade, é uma incessante busca de si a si, existindo dessa forma, como um ser que se move incessantemente de uma inconsistência de ser. “Por outro lado, esta inconsistência não remete a outro ser; não passa de uma perpétua remissão de si a si, do reflexo ao refletidor, do refletidor ao reflexo.”[footnoteRef:65] No entanto, tal remissão não provoca no âmago do Para-si um deslocamento contínuo, ela é dada na unidade de um único ato. [65: SARTRE, 1997, p.127.] 
O seu deslocamento pertence ao aspecto reflexivo da consciência, que por sua vez, pretende assimilar o fenômeno em sua totalidade, e dessa forma, se encontra lançada ao movimento que vai do reflexo ao refletidor e do refletidor ao reflexo, sem cessar jamais. O Para-si reconhecido pelo modo da consciência na qualidade de presença a si possui no surgimento do nada a questão que é colocada pelo ser em referencia ao seu próprio ser. Dessa forma, “(...) o nada é esse buraco no ser, essa queda do Em-si rumo a si, pela qual se constitui o Para-si. (...) Este ato perpétuo pelo qual o Em-si se degenera em presença a si é

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