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Legislação Aduaneira e Tributária

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LEGISLAÇÃO ADUANEIRA E TRIBUTÁRIA
CAPÍTULO 1 - QUAIS OS FUNDAMENTOS 
JURÍDICOS, CONSTITUCIONAIS E 
ECONÔMICOS DA LEGISLAÇÃO ADUANEIRA 
E TRIBUTÁRIA?
Alan Martins
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Introdução
A Legislação Aduaneira e Tributária é um tema jurídico relevante para gestores de negócios internacionais ou de
empresas que atuam no plano do comércio exterior. Este tema não trata de um conjunto de leis fechado em si
mesmo, mas sim de um universo cujos princípios orbitam outros temas jurídicos, como a Teoria Geral do Direito
Constitucional, o Direito Internacional Público, o Direito Internacional Econômico e o Direito Monetário
Internacional.
Portanto, a fim de nivelar os conhecimentos básicos sobre o tema, no primeiro capítulo desta disciplina você vai
estudar todo um arcabouço de conceitos e princípios gerais que norteiam essa legislação, com foco na gestão
relacionada aos negócios internacionais. A partir de exemplos e aplicações práticas, você será direcionado a
tornar mais concretas as abordagens sobre essa teoria geral que protagoniza este capítulo inaugural, iniciando
pelo próprio Direito Constitucional.
E isso sem esquecer que, ao final dos estudos da disciplina, o objetivo é que você seja capaz de compreender o
conjunto de princípios fundamentais do sistema constitucional tributário, incluindo os tratados internacionais
sobre questões econômicas, legislação aduaneira, regimes aduaneiros, detalhes do despacho aduaneiro tanto na
importação quanto na exportação, incluindo os tributos aplicáveis a bens e serviços, bem como os demais
aspectos de controle aduaneiro e fiscal aplicados ao comércio exterior.
Vamos começar?
1.1 Teoria Geral do Direito Constitucional
A Constituição Federal de 1988 é a norma mais importante da legislação de nosso país, porque prevalece sobre
as demais. Ela surgiu como parte de um movimento social, político e jurídico denominado “constitucionalismo”.
Entender o constitucionalismo moderno é compreender o papel das constituições das nações. No caso da
Constituição brasileira, esse papel é de dar legitimidade ao que se chama de “Estado Democrático de Direito”.
A teoria da Constituição é parte importante do arcabouço de conceitos e princípios que, adiante, serão
importantes para uma melhor compreensão legislação aduaneira e tributária.
Vamos empreender esse estudo?
1.1.1 Constitucionalismo
Sem maiores considerações sobre a evolução histórica e jurídica dos ideais constitucionalistas, que fugiria aos
objetivos e ao tema central desta disciplina, este tópico vai focar no constitucionalismo moderno. Segundo
TAVARES (2017, p. 33), “o constitucionalismo moderno revela-se na ideia básica de registrar por escrito o
documento fundamental do povo.”
No Brasil, esse documento escrito fundamental foi publicado no dia 5 de outubro de 1988 por uma Assembleia
Nacional Constituinte, composta por deputados e senadores escolhidos por votação popular em eleições gerais
realizadas no ano de 1986.
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Figura 1 - Registro do deputado Ulysses Guimarães, Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, quando 
declarou promulgada a Constituição Federal de 1988.
Fonte: CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1988.
Uma vez elaborada por representantes do povo brasileiro, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) exprime a
vontade dos representantes da sociedade. Isso caracteriza a ideia de Estado Democrático de Direito, no qual o
povo (população, sociedade) possui o poder de criar sua legislação, e confere esse poder ao Estado, ficando a
elaboração das normas por conta dos representantes que o povo elege.
Isso, aliás, consta expressamente do artigo 1º, parágrafo único, da CF/88: “Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
E surgem nesse ponto duas diferentes visões, fundamentais para a compreensão do constitucionalismo
brasileiro.
Formalmente, a Constituição Federal está acima de todas as outras normas da legislação. Por isso, ela não pode
VOCÊ QUER VER?
O documentário (TV Senado, 2008), faz um registro dos trabalhosA Constituição da Cidadania
de elaboração do texto constitucional pela Assembleia Nacional Constituinte, contextualizando
sua instalação como um marco na transição do Regime Militar para o Estado Democrático de
Direito, momento histórico em que os anseios populares estavam voltados para a conquista de
direitos e garantias. Assista em
< >.https://www.senado.leg.br/noticias/TV/Embed.asp?y=Nc-1GIZD1t0
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Formalmente, a Constituição Federal está acima de todas as outras normas da legislação. Por isso, ela não pode
ser contrariada por nenhuma outra norma, isto é, por todas as normas que não são constitucionais, porque
possuem hierarquia inferior à Constituição. Algumas dessas normas de hierarquia inferior são muito comuns na
legislação aduaneira e tributária, a exemplo das leis, medidas provisórias, decretos, instruções normativas,
portarias etc.
Figura 2 - As normas jurídicas seguem uma hierarquia, sendo a posição número 1, mais elevada, ocupada pela 
Constituição.
Fonte: Shutterstock, 2018.
Sob a outra visão, a que chamamos de material, pois diz respeito aos conteúdos tratados na Constituição, a
autora Leal (2003, p. 26-29) se baseia no pensamento do constitucionalista Paulo Bonavides para esclarecer que
a Constituição não se restringe ao “conjunto de normas pertinentes à organização do poder, à distribuição da
competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo e aos direitos da pessoa humana”, mas, também, se
refere à “tentativa de – através de uma lei formal – limitar e controlar o poder político e vincular o exercício
desse poder a normas bilateralmente vinculantes para os detentores do poder e para os cidadãos”.
Enfim, no moderno constitucionalismo em que se insere, a Constituição Federal brasileira, além de ser a norma
superior da legislação, também faz o papel de instituir o Estado Democrático de Direito, ao qual confere poderes
jurídicos e políticos para o exercício do governo e da autoridade, limitado pelo dever de respeitar os direitos e
garantias previstos na própria Constituição.
Resta saber de que maneira isso tudo é imposto à legislação aduaneira e tributária, tendo em vista os anseios
populares e as necessidades financeiras do Estado brasileiro.
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1.1.2 Teoria da Constituição
O estudo da teoria constitucional deve abordar temas que possam ser relevantes ao estudar a legislação
aduaneira e tributária. Por essa linha de raciocínio, serão abordados os assuntos apresentados nos itens a seguir.
Clique para ver.
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Espécies de Constituição
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Constituições analíticas e sintéticas
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Constituições flexíveis, rígidas, semirrígidas e super-rígidas
• 
Poder Constituinte
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Espécies de “Poder Constituinte”
• 
Funções de Poder
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Poder Legislativo
• 
Poder Executivo
• 
Poder Judiciário
• 
Constitucionalidade e inconstitucionalidade
Vamos percorrer esses temas?
Espécies de Constituição
Os estudiosos do Direito costumam fazer várias classificações das Constituições, fundamentadas nos mais
diferentes critérios. Com foco no conteúdo programático e objetivos da presente disciplina, duas classificações
merecem ser destacadas. São elas as seguintes:
• Quanto à extensão: classificam-se em ou .analíticas sintéticas
• Quanto à alterabilidade: podem ser , , e flexíveis rígidas semirrígidas super-rígidas.
Na sequência, abordaremos cada uma das categorias dessas duas classificações.
Constituições analíticas e sintéticas
Tavares (2017, p. 178) apresenta as como sendo aquelas “também denominadasconstituições sintéticas
breves, sumárias ou básicas, sucintas ou concisas... que se restringem apenas aos elementos substancialmente
constitucionais, emitindo, especialmente, princípios, organizando e limitando o poder”. Em outras palavras,
registram apenas o básico dos direitos fundamentais dos cidadãos e da estrutura e poder do Estado.
O exemplo mais conhecido, embora existam vários outros no mundo, é a Constituição norte-americana, que
possui apenas sete artigos. Ou seja, é bem sintéticamesmo.
Já as , ainda segundo Tavares (2017, p. 178), também são chamadas de “prolixas,constituições analíticas
extensas, inchadas, amplas, minuciosas, detalhistas ou desenvolvidas”. Caracterizam-se por veicularem normas
que não são tipicamente constitucionais.
De fato, em termos simples, são constituições bem detalhistas. Só para citar um exemplo, a Constituição Federal
brasileira chega a minúcias tal como a de prever uma Contribuição para Custeio da Iluminação Pública e, ainda,
facultar a sua cobrança na fatura de consumo de energia elétrica.
E é justamente por ser analítica, que Constituição Federal de 1988 tem seu texto repleto de normas sobre
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E é justamente por ser analítica, que Constituição Federal de 1988 tem seu texto repleto de normas sobre
tributação do comércio exterior. O artigo 237 trata da sua fiscalização e controle: “A fiscalização e o controle
sobre o comércio exterior, essenciais à defesa dos interesses fazendários nacionais, serão exercidos pelo
Ministério da Fazenda”.
Ou seja, a Constituição estabelece um sistema de fiscalização que tem impactos diretos sobre a atuação dos
empresários e profissionais do comércio exterior. Suas atividades e negócios são controlados e fiscalizados pela
Fazenda Nacional, por intermédio das autoridades aduaneiras da Receita Federal.
Constituições flexíveis, , e rígidas semirrígidas super-rígidas
As constituições também podem ser classificadas quanto à estabilidade ou alterabilidade, ou seja, quanto à
possibilidade de terem o seu texto original alterado ao longo do tempo.
Nessa classificação, veja as espécies de constituição nas abas a seguir. Clique para ver.
•
Flexíveis
Podem ser alteradas por processo legislativo idêntico ao das leis de hierarquia inferior, ou seja, o
procedimento para alteração no Poder Legislativo é mesmo de uma lei comum, não tendo
nenhuma solenidade ou grau de dificuldade a mais.
•
Rígidas
Alterações exigem um processo legislativo mais solene do que o das leis de hierarquia inferior, por
exemplo, um maior número de votos favoráveis dos deputados e senadores, de modo que o grau
de dificuldade para alterar uma constituição dessa espécie é muito maior.
•
Semirrígidas ou semiflexíveis
É exigido um processo mais difícil apenas para uma parte das normas constitucionais, podendo o
restante ser alterado por procedimento igual ao das leis ordinárias, correspondendo a um misto
entre constituição rígida e constituição flexível.
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Super-rígidas
Estão um passo além das constituições rígidas, porque, além de dependerem de um processo mais
solene para serem alteradas, possuem algumas normas inalteráveis, isto é, que não são passíveis
de modificação, as chamadas cláusulas pétreas, a exemplo do regime federativo, que é inalterável
na constituição brasileira.
Partindo dessa classificação como premissa, pode-se afirmar que a Constituição brasileira é de natureza super-
rígida, pois, embora possa ser alterada ao longo do tempo, possui normas que não podem ser alteradas, as
chamadas cláusulas pétreas. São elas: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e
periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais (CF, art. 60, § 4º).
Portanto, a Constituição de 1988 pode ser alterada, seguindo o procedimento formal das emendas
constitucionais e respeitando-se os limites impostos pelas cláusulas pétreas.
É nesse contexto que se revela uma das espécies de poder constituinte que serão estudadas na sequência.
Poder constituinte
Denomina-se constituinte o poder de elaborar e promulgar (publicar) a Constituição.
Segundo Moraes (2106, p. 28), o poder constituinte revela-se pela “manifestação soberana da suprema vontade
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Segundo Moraes (2106, p. 28), o poder constituinte revela-se pela “manifestação soberana da suprema vontade
política de um povo, social e juridicamente organizado”, razão pela qual, modernamente, prevalece a ideia de que
o poder constituinte pertence ao povo.
O poder constituinte, exercido pelo povo por intermédio de seus representantes, subdivide-se em dois tipos. Veja
na interação a seguir.
Originário
É aquele que promulga o texto original da Constituição, que instaura o Estado Constitucional
de Direito, a exemplo do exercido pela Assembleia Nacional Constituinte que promulgou a
Constituição Federal de 1988.
Derivado
É o poder conferido pela própria Constituição ao Poder Legislativo para alterar a
Constituição (poder constituinte derivado ) ou às unidades da federaçãoreformador
(estados-membros) para elaborarem as suas próprias constituições estaduais (poder
constituinte derivado ).decorrente
No contexto desta disciplina, interessa o poder derivado reformador, regido por um processo legislativo
diferenciado, previsto no artigo 60 da Constituição Federal, que resulta na aprovação das chamadas emendas à
constituição:
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se,
cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa
ou de estado de sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, com o respectivo número de ordem.
Para melhor compreensão do procedimento, observe o seguinte fluxograma.
VOCÊ QUER LER?
A ideia de que o poder do Estado emana do povo permeia o pensamento político e jurídico-
constitucional contemporâneo. Na obra “Do Contrato Social”, o pensador iluminista Jean-
Jacques Rousseau defende a existência de um contrato em que os membros da sociedade
pactuam submeter a liberdade individual ao bem comum. Leia a obra completa em:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?
select_action=&co_obra=2244
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Figura 3 - Fluxograma do processo legislativo da Emenda à Constituição.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
Portanto, a Constituição é elaborada e aprovada pelo poder constituinte originário e, ao longo dos tempos,
alterado pelo poder constituinte derivado, o que está de acordo com o artigo 1º da Constituição Federal, segundo
o qual: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição”.
Os representantes do povo é que exercem o poder constituinte, tanto o originário quanto o derivado, em nome
do povo.
As três funções de poder
Costuma-se dizer que o poder do Estado, por ter uma origem única, que é o povo, possui natureza una e
indivisível.
Quando a Constituição Federal dispõe em seu artigo 2 sobre serem “Poderes da União, independentes eo
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”, está fazendo referência, na verdade, a três funções
do poder de um povo, que tem natureza una e indivisível.
Em outras palavras, Legislativo, Executivo e Judiciário não são esferas de poder totalmente separadas. A
independência dos poderes mencionada na Constituição não é um isolamento entre eles, mesmo porque deve ser
uma independência harmônica, em que nenhum dos três poderes pode prevalecer sobre os demais.
Isso apenas é viabilizado pela existência de um sistema que o constitucionalismo norte-americano denominou
sistema de , (“freios e contrapesos”), estabelecido na Constituição para evitar que um poderchecks and balances
seja mais forte do que o outro, o que poderia gerar desiquilíbrio na atuação do Estado e consequências ruins
para o povo.
Voltando ao sistema de , pode-se afirmar que está estruturado a partir de normas dachecks and balances
VOCÊ O CONHECE?
Charles-Louis de Secondat (1689 – 1765), tendo recebido o título deBarão de Montesquieu, é
um pensador iluminista que se tornou mais conhecido simplesmente como Montesquieu.
Notabilizou-se pela obra (O espírito das leis), em que apresentou a teseDe l'Esprit des lois 
conhecida como teoria da tripartição dos poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário, com
independência e harmonia entre si.
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Voltando ao sistema de , pode-se afirmar que está estruturado a partir de normas dachecks and balances
Constituição estabelecidas para colocar freios na atuação de cada um dos poderes e, assim, tentar
contrabalancear o grau de importância que cada um deles representa para a sociedade. Clique na interação a
seguir para ver alguns exemplos.
O Tribunal de Contas da União (órgão auxiliar do Poder Legislativo) exerce o controle e fiscalização financeira,
contábil e patrimonial de todos os órgãos dos demais poderes, o que representa um freio do Poder Legislativo
sobre Executivo e o Judiciário.
O Presidente da República pode vetar leis aprovadas pelo Congresso Nacional, ou seja, um freio do Poder
Executivo (Presidente da República) sobre o Poder Legislativo (Congresso Nacional).
O Poder Judiciário pode anular os atos ilegais praticados pelas autoridades dos demais poderes, de forma que a
Justiça pode anular o ato ilegal, por exemplo, de um Ministro, que é membro do Poder Executivo.
Esse sistema também promove reflexos sobre as legislações aduaneira e tributária.
Alguns reflexos importantes são os apresentados na interação a seguir. Clique para ver.
O Poder Legislativo elabora a legislação aduaneira e tributária, influindo até mesmo no campo dos tratados
internacionais, que dependem de ratificação (aprovação) do Congresso Nacional para valerem no Brasil.
O Poder Executivo exerce não apenas as funções de arrecadar e fiscalizar os tributos, mas, também, a jurisdição
aduaneira, isto é, o poder de fiscalização e controle sobre o comércio exterior.
O Poder Judiciário julga todos os conflitos que surgirem sobre tributação e comércio exterior.
Constitucionalidade e inconstitucionalidade
Você já estudou que a norma mais importante da União é a Constituição Federal, pois o Brasil é um Estado
Federativo, composto pela união indissolúvel do Estados, Municípios e do Distrito Federal (CF, art. 1º).
O papel da Constituição é definir a organização e estrutura do Estado, as funções de exercício do poder, divididas
entre os chamados poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como promover a declaração e a garantia dos
direitos humanos fundamentais (vide tópico 2 deste capítulo).
Para tanto, as normas de hierarquia superior da legislação brasileira estão previstas na Constituição, existindo
também uma hierarquia entre todas as demais normas da legislação, em que as normas superiores devem
sempre prevalecer sobre as inferiores. Para melhor visualização, confira a ilustração a seguir:
Figura 4 - Relação entre sistema jurídico tributário e as leis: a Constituição Cidadã está acima e prevalece sobre 
todas as normas legislativas inferiores.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
Segundo KELSEN (1999, p. 141), “...devemos conduzir-nos como a Constituição prescreve, quer dizer, de
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Segundo KELSEN (1999, p. 141), “...devemos conduzir-nos como a Constituição prescreve, quer dizer, de
harmonia com o sentido subjetivo do ato de vontade constituinte, de harmonia com as prescrições do autor da
Constituição”. Isso porque a Constituição é a norma de hierarquia mais elevada no sistema jurídico, isto é, no
conjunto de normas de toda a legislação.
E, dessa maneira, as normas que ficam abaixo da Constituição na hierarquia da legislação nunca podem
contrariar as normas e princípios constitucionais, nem ultrapassar os limites de poder estabelecidos na própria
Constituição.
Consequentemente, toda e qualquer norma que vier a contrariar a Constituição Federal deverá ser declarada
inconstitucional, isto é, anulada por vício de inconstitucionalidade.
Situações similares à do caso prático acima descrito não são raras, não apenas nos campos da da tributação do
comércio exterior e da legislação aduaneira, mas, também, em relação a muitas outras questões jurídicas.
Nesse ponto, resta apenas apontar a existência de duas modalidades distintas de violações à Constituição, que
são a inconstitucionalidade formal e a material, conforme distinção a apresentada na interação a seguir.
Inconstitucionalidade material
É o conteúdo da norma que está em desacordo com a Constituição. Exemplo: se uma lei instituísse no Brasil a
prisão perpétua, seria inconstitucional em seu conteúdo, porque se sabe que “não haverá penas de caráter
perpétuo” nos termos do art. 5º, XLVII, “b”, da CF.
Inconstitucionalidade formal
Embora o conteúdo da norma não seja contrário à Constituição, essa norma seguiu um processo de aprovação
que não respeita o procedimento legislativo previsto na Constituição. Por exemplo, o Congresso Nacional aprova
uma lei ordinária de matéria tributária proposta por um Deputado, quando se sabe que o artigo 61, § 1º, “b”, da
CF, exige iniciativa do Chefe do Poder Executivo (Presidente da República) para a tramitação de uma lei dessa
natureza.
Em termos resumidos, podemos dizer que a inconstitucionalidade material é uma violação de conteúdo,
enquanto a formal é de procedimento ou forma.
CASO
A Constituição brasileira estabelece que, na importação, a base de cálculo dos tributos
denominados contribuições sociais corresponde ao valor aduaneiro. Entre as contribuições
sociais incidentes sobre as importações, destacam-se a contribuição para o Programa de
Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
Ocorre que, quando a lei federal criou essas duas contribuições, definiu uma base de cálculo
diferente, mais ampla, incluindo nessa base o ICMS (imposto estadual) e as próprias
contribuições. Nitidamente, a previsão legal foi estabelecida em desacordo com a Constituição
Federal, que determinava que fosse base de cálculo apenas e tão somente o valor aduaneiro.
Essa lei federal, portanto, era claramente inconstitucional e, por isso, vários contribuintes
entraram com processos na Justiça. Em um desses processos, uma decisão do Supremo
Tribunal Federal considerou inconstitucional a lei que ampliava indevidamente a base de
cálculo das contribuições. Posteriormente, foi elaborada uma nova lei, agora respeitando a
Constituição, prevendo corretamente que a base de cálculo de PIS e Cofins passava a
corresponder somente ao valor aduaneiro. Isso reflete no quanto o importador tem que pagar,
reduzindo o valor do tributo que tem a pagar, de modo que a decisão impacta diretamente nos
negócios de quem trabalha com comércio exterior.
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Mas, voltando ao caso prático relatado, logo se percebe que o vício foi de inconstitucionalidade material, pois a
lei contrariou o conteúdo da Constituição, que estabelecia o valor aduaneiro como base de cálculo das
contribuições devidas na importação. E a consequência disso não é puramente jurídica, pois reflete diretamente
no quanto o importador vai pagar de PIS/Cofins.
Antes do STF dizer que era inconstitucional incluir o ICMS e as próprias contribuições no cálculo de PIS/Cofins, o
valor pago pelos importadores era muito mais elevado, isto é, o tributo representava um custo muito maior para
o importador. Com a decisão do Supremo, ao se calcular PIS/Cofins apenas sobre o valor aduaneiro, o valor das
contribuições fica bem menor, o que representa uma economia para o importador.
1.2 Teoria Geral do Direito Constitucional II
Além de veicular as normas que conferem ao Estado a sua estrutura fundamental, regendo a organização político-
administrativa, o regime federativo e a divisão das funções de poderes, a Constituição de 1988 segue uma
tradição constitucional brasileira de declarar e garantir os direitos fundamentais.
É praticamente impossível, porém, tratar dos direitos e garantias fundamentais sem antes conhecer a origem
histórica das declarações de direitos e, também, percorrer as gerações de direitos humanos.
1.2.1 Direitos fundamentais emespécie
Tratada por muitos constitucionalistas como o principal antecedente histórico do constitucionalismo, o
momento precursor mais marcante das declarações de direitos humanos remonta à Carta Magna (Inglaterra,
1215). Na interação a seguir, falaremos sobre a Carta Magna e outros precedentes históricos do
constitucionalismo. Acompanhe!
A Magna Carta foi uma verdadeira petição de direitos dirigida pelos barões ingleses ao rei apelidado de “João
Sem Terra”, que subjugava as pessoas de posses com pesada tributação. Por intermédio do histórico documento,
foram pleiteados inúmeros direitos posteriormente reconhecidos pelas declarações de direitos humanos dos
tempos contemporâneos. Surgiram ali os primeiros rudimentos de direitos fundamentais, com destaque para o
princípio da legalidade tributária (itens 12 e 14 da Carta).
Houve, ainda, outros precedentes, entre os quais se pode destacar a , que significa Declaração deBill of Rigths
Direitos, também na Inglaterra, ano de 1689, desta vez elaborada pelo Parlamento Inglês e admitida pelos
soberanos da época a título de manifestação expressa dos direitos dos ingleses.
A partir daí e de uma viagem da Inglaterra para a França de um século depois (século XVIII), o contexto histórico
é o da Revolução Francesa, ambiente social e político propício para que nascesse a chamada “Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão”.
Foi a declaração francesa que inaugurou a chamada primeira geração de direitos humanos, em que foram
VOCÊ SABIA?
A aprovação de leis ordinárias, leis complementares e emendas constitucionais exigem
diferentes quóruns legislativos. De acordo com a Constituição Federal, uma lei ordinária
precisa de maioria simples (metade mais um dos deputados ou senadores presentes à
votação), enquanto para uma lei complementar é necessária maioria absoluta (metade mais
um dos membros do Congresso Nacional), e para a Emenda à Constituição exige-se a maioria
qualificada (três quintos dos membros de cada casa do Congresso Nacional).
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Foi a declaração francesa que inaugurou a chamada primeira geração de direitos humanos, em que foram
consagradas as liberdades públicas, direitos descritos por Ferreira Filho (p. 44/45) da seguinte maneira:
“Em termos técnico-jurídicos essas liberdades são direitos subjetivos. São poderes de agir reconhecidos e
protegidos pela ordem jurídica a todos os seres humanos. E, eventualmente, a entes a eles assimilados. Porém,
são direitos subjetivos oponíveis ao Estado. Isto, antes de 1789, era desconhecido no direito positivo”.
Quanto à expressão “entes assemelhados”, diz respeito, por exemplo, aos direitos que se reconhece às pessoas
jurídicas. E quanto à oponibilidade ao Estado, não significa que as liberdades públicas devam ser exclusivamente
exercidas em face do poder público.
Na verdade, o ensinamento do autor foi no sentido de que o respeito às liberdades compete não apenas às
pessoas físicas e jurídicas privadas, mas, também, às pessoas políticas e demais entidades estatais.
Mas quais são essas liberdades?
Quais os direitos fundamentais de primeira geração?
A resposta a essa pergunta perpassa antes por se afirmar que, além de terem sido consagrados verdadeiros
princípios representativos de direitos humanos fundamentais, a declaração também objetivou a garantia desses
direitos, entre os quais vale citar: liberdade (arts. 1º, 2º, 4º, 10 e 11), propriedade (arts. 2º e 17), segurança (art.
2º), locomoção (art. 7º), presunção de inocência, entre outros.
Mais ainda, a declaração reconheceu direitos dos homens e dos cidadãos, referindo-se o termo “cidadão” à
consagração pela carta de 1789 também dos chamados direitos políticos, a exemplo do direito à participação
política e à eleição de representantes (art. 6º) ou a própria tripartição dos poderes (art. 16).
Consagrados os direitos de primeira geração, uma nova linha do tempo foi iniciada, rumo à segunda geração de
direitos humanos. Gradativamente, foram sendo reconhecidos os chamados direitos sociais.
Entre os precedentes, pode-se citar:
- Constituição Mexicana de 1917;
- Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado (Rússia, 1918);
- Tratado de Versalhes (1919);
- Constituição Weimar (Constituição da Alemanha de 1919).
Êxitos de conquistas da classe trabalhadora em reação à opressão capitalista a partir da revolução industrial, o
reconhecimento dos direitos sociais teve o seu auge com a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” de
1948.
O histórico documento, porém, não se restringiu a contemplar direitos humanos fundamentais dessa nova
geração. Além de declarar os chamados direitos sociais de segunda geração (em uma outra espécie de reação, só
que desta vez aos horrores da Segunda Guerra mundial), foram também reafirmados os direitos humanos de
primeira geração, especialmente as liberdades. É o que ensina Ferreira Filho (2016, p. 69):
“Com efeito, nela estão a liberdade pessoal, a igualdade, com a proibição das discriminações, os
direitos à vida e à segurança, a proibição das prisões arbitrárias, o direito ao julgamento pelo juiz
natural, a presunção de inocência, a liberdade de ir e vir, o direito de propriedade, a liberdade de
pensamento e de crença, inclusive religiosa, a liberdade de opinião, de reunião, de associação, mas
também direitos “novos” como o direito de asilo, o direito a uma nacionalidade, a liberdade de casar,
bem como direitos políticos — direito de participar da direção do país —, de um lado, e, de outro, os
direitos sociais — o direito à seguridade, ao trabalho, à associação sindical, ao repouso, aos lazeres, à
saúde, à educação, à vida cultural —, enfim, num resumo de todos estes — o direito a um nível de
vida adequado (o que compreende o direito à alimentação, ao alojamento, ao vestuário etc.) numa
palavra —, aos meios de subsistência”.
De qualquer maneira, percebe-se que, além das liberdades públicas e dos direitos políticos (primeira geração),
que foram reafirmados, passaram a ser consagrados como direitos humanos fundamentais os direitos sociais,
isto é, aqueles direitos relativos a:
• seguridade;
• trabalho;
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• trabalho;
• associação sindical;
• repouso;
• lazer:
• saúde;
• educação;
• cultura.
A linha do tempo não para e outras naturezas de direitos humanos fundamentais virão.
Todavia, para os fins a que se destina o presente tópico, já foi traçado o panorama histórico e evolutivo suficiente
para se tratar do título constitucional relativo aos direitos e garantias fundamentais. Vamos aos exemplos na
Constituição Federal
Direitos fundamentais na Constituição brasileira
Os direitos e garantias fundamentais relativos às liberdades públicas estão estabelecidos no artigo 5º da
Constituição Federal de 1988, veiculado no capítulo denominado “Dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos”. São 78 incisos (itens) repletos de normas relacionadas ao seguinte preceito geral: “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...” (CF, art. 5º).
Cabem aqui algumas observações relevantes.
A primeira é de que, além de enunciar as liberdades, o artigo 5º também veicula as suas respectivas garantias,
bem como instrumentos de defesa desses direitos.
Um exemplo é o direito à liberdade, para o qual é prevista a garantia da presunção de inocência, segundo a qual
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (CF, art. 5º, inciso
LVII). Mas, se esse direito for desrespeitado e alguém, por exemplo, for preso antes de ser condenado, existe um
instrumento para defesa da pessoa detida injustamente, que é o , uma medida judicial prevista nahabeas corpus
Constituição que pode ser intentada sempre que alguém “sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” (CF, art. 5º, LXVIII).
Vale ressaltar que esses instrumentosde garantias de direitos também podem ser utilizados no caso de violação
a direitos de quem realiza comércio exterior. Imagine que um importador tem suas mercadorias legalmente
importadas sendo indevidamente apreendidas pela Receita Federal. Para obter a liberação dessas mercadorias e
garantir o seu direito ao exercício do comércio exterior, o importador poderá se valer do mandado de segurança,
um instrumento de proteção a direitos líquidos e certos contra violações ou abusos de poder por parte de
autoridades públicas, previsto no artigo 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal.
A segunda observação diz respeito a normas do § 2º do artigo 5º da Constituição Federal:
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Significa que as liberdades públicas não são apenas aquelas que constam do artigo 5º, da Constituição, mas
também podem decorrer das situações apresentadas na interação a seguir.
Outras normas e princípios constitucionais, a exemplo do princípio da legalidade tributária, segundo o qual é
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VOCÊ SABIA?
No período Pós-Segunda Guerra, gradativamente, consolidou-se uma terceira geração de
direitos humanos, conhecida como direitos da solidariedade. Não se trata de direitos
individuais, mas de direitos que beneficiam destinatários indeterminados, tais como os
relacionados à paz e ao meio ambiente.
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Outras normas e princípios constitucionais, a exemplo do princípio da legalidade tributária, segundo o qual é
vedado à União, aos Estado e ao Distrito Federal “exigir ou aumentar tributos sem que lei o estabeleça” (CF, art.
150, I).
Tratados internacionais de que seja parte o Brasil, tal como o Pacto de São José da Costa Rica, avençado no
âmbito da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que proíbe a prisão por dívidas, salvo quando for por
falta de pagamento de pensão alimentícia.
A seguir, falaremos sobre direitos sociais e políticos. Acompanhe!
1.2.2 Direitos sociais e políticos
Além das liberdades públicas estabelecidas no capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos, o título
constitucional dos direitos e garantias fundamentais também compreende:
• os direitos da nacionalidade;
• os direitos políticos;
• os direitos sociais.
Também são direitos humanos de primeira geração os direitos da nacionalidade e os direitos políticos.
Os direitos da nacionalidade estão previstos nos artigos 12 e 13, que definem quem são os brasileiros natos e
naturalizados, além de estabelecerem direitos tais como os cargos privativos de brasileiros natos (art. 12, § 3º) e
impossibilidade de a lei estabelecer outras diferenças entre brasileiros natos e naturalizados (art. 12, § 2º).
Já a previsão os direitos políticos estão previstos entre os artigos 14 e 16, com normas, entre outras, relativas a:
• exercício da soberania popular pelo voto secreto e direito, ou por plebiscito, referendo ou iniciativa 
popular;
• alistamento eleitoral, voto obrigatório ou facultativo e elegibilidade;
• possiblidade de perda ou suspensão dos direitos políticos, sendo vedada a cassação.
Por fim, os direitos humanos fundamentais de segunda geração também ganham reconhecimento na
Constituição brasileira, sobretudo no capítulo dos “direitos sociais” (arts. 6º a 11º), mas também em outros
artigos da Constituição. Os principais deles são apresentados nos itens a seguir. Clique para ver.
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Educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à
maternidade e à infância, assistência aos desamparados (art. 6º).
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Trabalho (art. 7º).
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Seguridade social (art. 195).
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Saúde (art. 196).
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Educação (art. 205).
• 
Cultura (art. 215).
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Lazer pelo desporto (art. 217).
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Família (art. 226).
Estes são os fundamentos constitucionais que dão fundamento à legislação aduaneira e tributária interna. Mas, e
no plano internacional?
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1.3 Teoria Geral do Direito Internacional
Uma vez que a presente disciplina trata da legislação aduaneira e da tributária relacionada a transações e
operações internacionais, é importante tratar de alguns aspectos da teoria geral do direito internacional.
Neste tópico, a proposta é buscar alguns fundamentos internacionais para a legislação aduaneira e tributária.
Para tanto, a ideia é partir do conceito e das fontes do Direito Internacional, com ênfase aos tratados, que são
diplomas de grande importância no âmbito do comércio exterior e demais negócios jurídicos realizados no plano
internacional.
1.3.1 Conceito e fontes
O primeiro passo para o estudo de um ramo jurídico é estabelecer seu conceito e as fontes de onde advém sua
força para reger relações jurídicas.
Comecemos pelo conceito. Valendo-se de três critérios ou elementos conceituais (sujeitos intervenientes,
matérias reguladas e fontes normativas), Mazzuoli (2018, p. 19) conceitua o Direito Internacional Público nos
seguintes termos:
“o Direito Internacional Público pode ser conceituado como o conjunto de princípios e regras
jurídicas (costumeiras e convencionais) que disciplinam e regem a atuação e a conduta da sociedade
internacional (formada pelos Estados, pelas organizações internacionais intergovernamentais e
também pelos indivíduos), visando alcançar as metas comuns da humanidade e, em última análise, a
paz, a segurança e a estabilidade das relações internacionais”
Delineado o conceito, também é importante conhecer as fontes, ou seja, de onde provém o direito. Em outras
palavras, estudar as fontes do direito é saber a origem das normas da legislação.
No caso do direito internacional, cabe investigar de que fontes emanam as normas que estabelecem os direitos e
obrigações das pessoas internacionais. A partir das classificações adotadas por Accioly (2012, p. 146 – 211) e
Mazzuoli (2018, p. 60 – 116), propõe-se aqui a seguinte classificação:
• Fontes materiais: em direito internacional, são fontes de produção, isto é, que vão determinar o 
conteúdo da legislação, correspondentes, em direito internacional, aos princípios do (normas jus cogens 
cogentes de direito internacional), tais como a boa-fé e o (autonomia da vontade) e a pacta sunt servanda 
boa-fé.
Princípios do são normas fundamentais obrigatoriamente observadas no plano internacional. E osjus cogens
exemplos destacados estão amplamente presentes nas relações internacionais.
Pela autonomia da vontade ( ), nenhum País ou outra pessoa internacional qualquer épacta sunt servanda
obrigada a firmar um acordo com outra. Assim, cada Estado ou pessoa internacional é signatária dos tratados e
convenções que livremente desejar pactuar.
A boa-fé, por sua vez, diz respeito à lealdade com que cada Estado ou pessoa internacional deve se comportar ao
firmar um tratado, acordo ou convenção, de modo a propiciar um ambiente de negociação caracterizado pela
confiança recíproca entre as partes.
•
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Figura 5 - Princípios cultivados no comércio internacional podem ser fontes materiais do direito internacional.
Fonte: Travel mania, Shutterstock, 2018.
• Fontes formais: correspondem aos tratados, que são documentos assinados pelos Estados, onde são 
estabelecidas as normas que devem ser obedecidas nas negociações e demais relações internacionais, 
bem como aos costumes internacionais, práticas habituais que, embora não sejam normas escritas, 
também devem ser respeitadas no plano internacional.
Tanto os tratados quanto os costumes são considerados fontes primárias do direito internacional, isto é, são as
primeiras fontes a que se deve recorrer para buscar as normas de Direito Internacional e que devem ser
seguidas em qualquer situação.
Mas, se as fontes mais importantes são chamadas de primárias, é porque existem também fontes secundárias, a
que se recorre em um segundo momento. São elas:
• Fontes auxiliares: o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça consagra como tais a 
doutrinainternacional, isto é, os ensinamentos dos estudiosos de Direito Internacional apresentados 
principalmente em artigos e livros, e a jurisprudência dos tribunais internacionais, ou seja, as decisões 
reiteradas (repetidas muitas vezes) dos tribunais internacionais sobre determinados assuntos.
1.3.2 Tratados internacionais
Entre todas as fontes citadas, para o objeto principal desta disciplina, que diz respeito à legislação aduaneira e
tributária, a fonte de real interesse e que merecerá abordagem na sequência refere-se aos tratados
internacionais.
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Figura 6 - Tratados internacionais são normas de direito que conferem estabilidade jurídica nas negociações 
entre dois ou mais países.
Fonte: Leifdtiller, Shutterstock, 2018.
No capítulo de sua obra de Direito Internacional Público que trata das fontes, Mazzuoli (2018, p. 65), apresenta
os tratados internacionais nos seguintes termos:
“Os tratados internacionais são, incontestavelmente, a principal e mais concreta fonte do Direito
Internacional Público na atualidade, não apenas em relação à segurança e estabilidade que trazem
nas relações internacionais, mas também porque tornam o direito das gentes mais representativo e
autêntico, na medida em que se consubstanciam na vontade livre e conjugada dos Estados e das
organizações internacionais, sem a qual não subsistiriam”.
Os tratados, portanto, são normas escritas de direito internacional, conferindo estabilidade às relações jurídicas
nessa amplitude territorial. Possuem grande relevância em matéria de tributação internacional, a exemplo dos
acordos de não bitributação da renda e das normas sobre valoração aduaneira do Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio (GATT – ).General Agreement on Tariffs and Trade
Também os chamados blocos econômicos, por meio dos quais os países se associam para aprofundamento dos
negócios e relações econômicas entre si, são criados a partir de tratados internacionais. Assim, por exemplo, a
União Europeia foi formalmente fundada pelo Tratado de Masstricht (1992), enquanto o Mercosul pelo Tratado
de Assunção (1991).
Interessante anotar que, entre as normas do Tratado de Assunção, havia a previsão de adoção pelos países-
membros de alíquotas uniformes, sem diferenças entre os países, a serem cobradas nas operações de comércio
exterior que realizassem entre si. E, realmente, dentro do prazo estabelecido no tratado, a partir de 1995, houve
a adoção no âmbito do Mercosul da chamada Tarifa Externa Comum (TEC).
Tratados são pactuados entre sujeitos de direito internacional, sobretudo os Estados, podem ser bilaterais ou
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Tratados são pactuados entre sujeitos de direito internacional, sobretudo os Estados, podem ser bilaterais ou
multilaterais e, conforme ensina Mazzuoli (2018, p. 65), tratado é uma expressão-gênero, existindo outros atos
internacionais de mesma natureza reconhecidos por outras denominações:
“A expressão ‘tratado’ é uma expressão-gênero, que alberga dentro de si diferentes nomenclaturas.
Assim, na prática convencional geral pode-se identificar um sem-número de denominações que
recebem os tratados, dependendo do assunto por eles versado, de sua finalidade, da qualidade das
partes, do número de contratantes etc.”.
Na verdade, os sujeitos de direito internacional costumam utilizar a denominação tratado mais para os atos
multilaterais de importância política, valendo-se de outras nomenclaturas para atos de diversas outras
naturezas e amplitudes, tais como convenções, pactos, ajustes, protocolos e convênios.
O estudo dos tratados é uma matéria bastante vasta, sendo relevante para a presente disciplina, saber como que
o tratado se incorpora ao direito interno.
Especificamente em matéria tributária, os tratados e convenções internacionais, nos termos do artigo 96 do CTN,
Porém, para que produzam esse efeito, esses tratadospassam a integrar a legislação interna brasileira. 
necessitam ser internalizados, isto é, transpostos para a legislação interna, conforme decisões do Supremo
Tribunal Federal (STF - CR 8279 AgR).
A competência para internalização dos tratados é exclusiva do Congresso Nacional (CF, art. 49, I), que a exerce
por meio de decreto legislativo (Regimentos Internos da Câmara dos Deputados, art. 109, inciso II, e do Senado
Federal, arts. 213, inciso II e artigo 172, inciso II, alínea “c”).
Ou seja, depois que o tratado é assinado pela diplomacia brasileira, para vigorar no país, ele ainda terá que ser
ratificado (adotado internamente) por meio de um decreto legislativo, espécie de norma jurídica aprovada pelo
Congresso Nacional.
1.4 Direito Internacional Econômico
Neste tópico, serão traçadas breves considerações sobre o Direito Econômico Internacional, a sociedade
internacional e o sistema monetário internacional.
Essas noções serão úteis para contextualizar você no cenário em que se inserem alguns temas que serão
abordados nos próximos capítulos da disciplina.
VOCÊ QUER LER?
No site do Governo do Brasil, há um texto bastante elucidativo sobre algumas das principais
espécies de atos internacionais. Apresenta uma outra visão, mais prática, que utiliza “ato
internacional” como uma expressão mais geral e “tratado internacional” como uma espécie de
ato internacional, juntamente com acordo, convenção, protocolo e outros. Acesse em
< >.http://www.brasil.gov.br/governo/2012/05/atos-internacionais
- -19
1.4.1 Direito Econômico Internacional e sociedade internacional
Segundo Mazzuoli (2018, p. 29), o Direito Internacional Público disciplina a “sociedade internacional, formada
por Estados e organizações internacionais interestatais, com reflexos voltados também para a atuação dos
indivíduos no plano internacional”.
Desenvolvem-se relações econômicas nessa sociedade internacional, que passam a ser disciplinadas pelo
chamado Direito Internacional Econômico.
Em uma acepção estrita defendida por Cretella Neto (2012, p. 70), o Direito Internacional Econômico é
“constituído pelo conjunto de normas e princípios que regulam a organização das relações econômicas
internacionais”.
Diante desse objeto, o Direito Econômico Internacional impõe reflexos às relações econômicas entre particulares
no plano internacional, sendo justamente no âmbito dessas relações que ocorrem os fatos geradores dos tributos
incidentes sobre o comércio exterior.
Em termos mais precisos, as normas do Direito Econômico Internacional devem ser observadas quando se
realiza, entre duas pessoas no âmbito da sociedade internacional, uma operação de comércio exterior – por
exemplo, uma importação. A importação constitui fato gerador de vários tributos, tal como acontece no Brasil,
em que entrada no território aduaneiro de uma mercadoria estrangeira impõe a exigência de vários impostos e
contribuições.
1.4.2 Direito monetário internacional
No que se refere ao Direito Monetário Internacional, iremos focar no regime de taxa de câmbio, pois a conversão
cambial é necessária para o cálculo de tributos, a exemplo dos cobrados sobre o comércio exterior.
Segundo o Banco Central do Brasil (2014), taxa de câmbio é “o preço de uma moeda estrangeira medido em
unidades ou frações (centavos) da moeda nacional”, ou seja, é o preço de troca de uma moeda pela outra.
Existem duas modalidades de câmbio. A primeira delas é o câmbio fixo, por meio do qual se adota o valor de uma
moeda (dólar, por exemplo) ou de uma outra unidade de valor (a exemplo do ouro), como um padrão fixo de
referência para a taxa de câmbio.
A outra modalidade é o câmbio flutuante, em que não há uma moeda ou unidade valor padrão para o câmbio, que
fica livre para flutuar de acordo com as variações de oferta e demanda do mercado em relação às diversas
moedas. Ou seja, no câmbio flutuante é o mercado que vai definir a taxa de câmbio, e não um padrão fixado pelas
autoridades monetárias.
Na história, existiram três sistemas monetários de câmbio fixo. Da leitura da obra de Caparroz (2018, p. 686 -
692) é possível definir o padrão de cada um desses sistemas. Clique nas abas para conhecê-los.
•
Padrão-ouro ou padrão-ouro clássico( , 1873 – 1914)gold standard
Taxa de câmbio vinculada a uma quantidade de moedas de ouro.
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Padrão câmbio-ouro ( , 1914 – 1939)gold exchange standard
Foi uma retomada do padrão-ouro adotado no período entre guerras, mas que começou a entrar
em colapso a partir de 1931, depois da Grande Depressão de 1929.
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Sistema Bretton Woods (padrão dólar-ouro)
Após a Segunda Guerra Mundial (1944-1971), o novo padrão para o câmbio fixo passou a ser o
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Após a Segunda Guerra Mundial (1944-1971), o novo padrão para o câmbio fixo passou a ser o
dólar norte-americano. Nesse sistema, o dólar era vinculado ao ouro e todas as demais moedas ao
dólar. Porém, em razão de diversos fatores relacionados à economia norte-americana, entre eles a
Guerra do Vietnã e o déficit público, bem como a economia internacional, tal como a disparidade
entre os níveis de inflação dos diversos países, o sistema Bretton Woods também fracassou.
Foi então que, depois do fracasso do sistema Bretton Woods, o câmbio fixo foi abandonado, passando os países a
adotarem o câmbio flutuante, isto é, permitir a variação da taxa cambial segundo a oferta e a demanda do
mercado, muito embora, conforme esclarece Caparroz (2018, p. 695), os bancos centrais dos países possam
influenciar nas flutuações cambiais “por meio de operações de compra e venda de divisas,”
Figura 7 - Nos dias atuais, prevalece o câmbio flutuante.
Fonte: Modella, Shutterstock, 2018.
Assista ao vídeo abaixo e conheça mais sobre as normas de tributação que utilizam os conceitos de câmbio e taxa
de câmbio.
https://cdnapisec.kaltura.com/p/1972831/sp/197283100/embedIframeJs/uiconf_id/30443981/partner_id
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https://cdnapisec.kaltura.com/p/1972831/sp/197283100/embedIframeJs/uiconf_id/30443981/partner_id
/1972831?iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1545318892&entry_id=1_nvej2xod
Em síntese, não se tem hoje um sistema monetário internacional baseado em câmbio fixo, mas compreender o
que é taxa de câmbio é bem relevante para o estudo da legislação aduaneira e tributária.
Síntese
Você está concluindo o primeiro capítulo da disciplina Legislação Aduaneira e Tributária, que foi todo voltado
para o entendimento dos fundamentos jurídicos, constitucionais e econômicos que embasam o comércio
exterior.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• compreender que a legislação aduaneira e tributária deve estar de acordo com a Constituição Federal, lei 
analítica e superior a todas as demais da União, havendo, caso contrário, vício de inconstitucionalidade;
• identificar nos três poderes detalhes relevantes para a legislação aduaneira e tributária: o Legislativo 
elabora as leis e influencia no campo dos tratados; o Executivo arrecada e administra tributos e também 
fiscaliza o comércio exterior; e o Judiciário julga os conflitos existentes acerca do cumprimento, aplicação 
e interpretação das normas sobre tributação e comércios exterior;
• aprender que, no plano internacional, há tratados aplicáveis à tributação internacional e ao comércio 
exterior, e que nessas relações econômicas ocorrem os fatos geradores dos tributos incidentes sobre o 
comércio entre países;
• compreender a importância da taxa de câmbio para a legislação aduaneira e tributária, inclusive porque 
essa taxa é utilizada no cálculo do valor dos tributos exigidos no âmbito do comércio exterior.
Bibliografia
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