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Fisiologia aplicada à Enfermagem Professora: Dra. Fabiana Maria Rodrigues Lopes de Oliveira Débito cardíaco e pressão arterial As paredes dos vasos sanguíneos são compostas por camadas de músculo liso, tecido conectivo elástico e tecido conectivo fibroso. O revestimento interno de todos os vasos sanguíneos é uma camada fina de endotélio, um tipo de epitélio. As células endoteliais secretam muitas substâncias parácrinas e desempenham um papel importante na regulação da pressão arterial, no crescimento dos vasos sanguíneos e na absorção de materiais. Na maioria dos vasos, as camadas de tecido conectivo e músculo liso circundam o endotélio. Juntos, o endotélio e seu tecido conectivo elástico adjacente formam a túnica íntima, frequentemente chamada apenas de íntima. A espessura do músculo liso e das camadas de tecido conectivo varia em diferentes vasos O músculo liso dos vasos sanguíneos é conhecido como músculo liso vascular. A maioria dos vasos sanguíneos possui músculo liso, arranjado em camadas circulares ou espirais. A vasoconstrição estreita o diâmetro do lúmen vascular, e a vasodilatação o alarga. Na maioria dos vasos sanguíneos, as células musculares lisas mantêm sempre um estado de contração parcial, criando a condição denominada tônus musculares. Moléculas sinalizadoras, incluindo neurotransmissores, hormônios e sinais parácrinos, influenciam o tônus do músculo liso vascular. Muitas substâncias parácrinas vasoativas são secretadas pelas células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos ou pelos tecidos que circundam os vasos. A aorta e as grandes artérias são caracterizadas por terem paredes que são rígidas e elásticas. As artérias têm uma camada espessa de músculo liso e grande quantidade de tecido conectivo fibroso e elástico. Devido à rigidez do tecido fibroso, uma quantidade significativa de energia é necessária para estirar a parede de uma artéria, contudo, essa energia pode ser armazenada pelas fibras elásticas estiradas e liberada durante a retração elástica As artérias e arteríolas são caracterizadas por um padrão divergente de fluxo sanguíneo. Quando as grandes artérias se dividem em artérias cada vez menores, a característica da parede muda, tornando-se menos elástica e mais muscular. A parede das arteríolas contém diversas camadas de músculo liso, as quais contraem e relaxam sob a influência de vários sinais químicos. As arteríolas, juntamente com os capilares e pequenos vasos pós-capilares, chamados de vênulas, formam a microcirculação. Os capilares são os menores vasos do sistema circulatório. Eles são o principal local de troca entre o sangue e o líquido intersticial. Uma pequena parte das trocas ocorre nas vênulas pós--capilares, nas extremidades distais dos capilares, mas isso não é significativo. Para facilitar as trocas de materiais, os capilares não possuem o reforço de músculo liso e tecido elástico ou fibroso. Em vez disso, suas paredes consistem em uma única camada achatada de endotélio e sustentada por uma matriz acelular, chamada de lâmina basal (membrana basal). Muitos capilares estão intimamente associados às células conhecidas como pericitos. Na maioria dos tecidos, essas células contráteis altamente ramificadas envolvem os capilares, formando uma camada externa semelhante a uma rede entre o endotélio capilar e o líquido intersticial. Os pericitos contribuem para diminuir a permeabilidade capilar: quanto mais pericitos, menos permeável é o endotélio capilar. Os pericitos secretam fatores que influenciam o crescimento capilar e eles podem se diferenciar, transformando-se em novas células endoteliais ou células de músculo liso. A perda de pericitos ao redor dos capilares da retina é uma característica da retinopatia diabética, principal causa de cegueira. Os cientistas agora estão tentando determinar se a perda de pericitos é causa ou consequência da retinopatia O sangue flui dos capilares para pequenos vasos, chamados de vênulas. As menores vênulas são semelhantes aos capilares, tendo um fino epitélio de troca e pouco tecido conectivo. As vênulas distinguem-se dos capilares pelo seu padrão convergente de fluxo. O músculo liso começa a aparecer na parede das vênulas maiores. O sangue flui das vênulas para as veias, que aumentam de diâmetro à medida que se dirigem para o coração. Por fim, as veias maiores – as veias cavas – desembocam no átrio direito. Para auxiliar o fluxo venoso, algumas veias têm valvas internas unidirecionais. Essas valvas, assim como as do coração, garantem que o sangue, passando pela valva, não possa retornar. Quando o sangue alcança a veia cava, as valvas desaparecem. As veias são mais numerosas do que as artérias e têm um diâmetro maior. Como resultado de seu grande volume, as veias contêm mais da metade do sangue do sistema circulatório, o que as torna o reservatório de volume do sistema circulatório. Elas se situam mais próximas à superfície do corpo do que as artérias, formando os vasos azulados que você vê debaixo da pele. As veias têm paredes mais finas que as artérias e com menos tecido elástico. Como consequência, elas expandem-se mais facilmente quando se enchem de sangue Como o sangue circula? A contração ventricular é a força que cria o fluxo sanguíneo através do sistema circulatório. Como o sangue sob pressão é ejetado a partir do ventrículo esquerdo, a aorta e as artérias expandem-se para acomodá-lo. Quando o ventrículo relaxa e a valva da aorta fecha, as paredes arteriais elásticas retraem, propelindo o sangue para a frente, em direção às pequenas artérias e arteríolas. Por sustentar a pressão direcionadora do fluxo sanguíneo durante o relaxamento ventricular, as artérias mantêm o sangue fluindo continuamente através dos vasos sanguíneos. Do ponto de vista físico, a distensão da aorta durante a ejeção do ventrículo esquerdo representa a transformação da energia cinética em potencial elástica. Essa energia potencial é dissipada durante a diástole à medida que o sangue ejetado na aorta se desloca para a circulação periférica. Progressivamente a aorta retorna ao seu diâmetro original. Tendo em vista que a valva aórtica se encontra fechada, a retração aórtica (volta ao seu diâmetro basal) se encarregará de fazer com que aquele contingente sanguíneo, inicialmente ali armazenado, progrida para a periferia, completando, então, a fase diastólica do ciclo cardíaco. A título de curiosidade, alguns pesquisadores até atribuem à aorta um papel de “segundo coração/segunda bomba”, tal a importância deste mecanismo de transformação de energia potencial elástica em cinética para o deslocamento do sangue para a periferia durante a diástole Regra dos fluidos Os fluidos fluem por gradiente de pressão Uma resposta mecânica simples para “Por que o sangue flui?” é que os líquidos e os gases fluem por gradientes de pressão (ΔP) de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão. Por essa razão, o sangue pode fluir no sistema circulatório apenas se uma região desenvolver pressão mais elevada do que outras. Nos seres humanos, o coração gera alta pressão quando se contrai. O sangue flui para fora do coração (a região de pressão mais alta) para o circuito fechado de vasos sanguíneos (uma região de menor pressão). Conforme o sangue se move pelo sistema, a pressão diminui, devido ao atrito entre o sangue e a parede dos vasos sanguíneos. Consequentemente, a pressão cai de forma contínua com o movimento do sangue para longe do coração. A pressão mais alta nos vasos do sistema circulatório é encontrada na aorta e nas artérias sistêmicas, as quais recebem sangue do ventrículo esquerdo. A pressão mais baixa ocorre nas veias cavas, imediatamente antes de desembocarem no átrio direito. A pressão do líquido em movimento diminui com o aumento da distância A pressão em um líquido é a força exercida pelo líquido no seu recipiente. No coraçãoe nos vasos sanguíneos, a pressão é normalmente mensurada em milímetros de mercúrio (mmHg). Se o fluido não está se movendo, a pressão que ele exerce é chamada de pressão hidrostática, e a força é exercida igualmente em todas as direções. Por exemplo, uma coluna de líquido em um tubo exerce pressão hidrostática na base e nos lados do tubo. Em um sistema no qual o líquido está em movimento, a pressão cai com a distância à medida que a energia é perdida devido ao atrito. Além disso, a pressão exercida por um líquido em movimento tem dois componentes: um dinâmico, que é o componente do movimento e que representa a energia cinética do sistema, e um componente lateral, que representa a pressão hidrostática (energia potencial) exercida sobre as paredes do sistema. A pressão dentro do nosso sistema circulatório geralmente é denominada pressão hidrostática, embora se saiba que é um sistema no qual o líquido está em movimento. Alguns livros-texto estão começando a substituir o termo pressão hidrostática pelo termo pressão hidráulica. A hidráulica é o estudo do líquido em movimento. Se as paredes de um recipiente cheio de líquido se contraem, a pressão exercida sobre o líquido no recipiente aumenta. Você pode demonstrar este princípio enchendo um balão com água e apertando-o com a mão. A água é minimamente compressível, de modo que a pressão aplicada ao balão será transmitida para todo o líquido. À medida que você aperta, a pressão mais alta no líquido faz as partes do balão tornarem-se salientes. Se a pressão for elevada o suficiente, a tensão nas paredes do balão faz ele se romper. O volume de água dentro do balão não se alterou, mas a pressão no líquido aumentou. No coração humano, a contração dos ventrículos cheios de sangue é similar a apertar um balão com água: a pressão gerada pela contração do músculo ventricular é transferida para o sangue. O sangue sob alta pressão flui para fora do ventrículo, para os vasos sanguíneos, deslocando o sangue sob baixa pressão que já está nos vasos. A pressão criada dentro dos ventrículos é denominada pressão propulsora, pois é a força que impulsiona o sangue pelos vasos sanguíneos. Quando as paredes de um recipiente preenchido com líquido se expandem, a pressão exercida sobre o líquido diminui. Por isso, quando o coração relaxa e se expande, a pressão dentro das câmaras cheias de líquido cai. Variações na pressão também podem ocorrer nos vasos sanguíneos. Se os vasos sanguíneos dilatarem, a pressão dentro do sistema circulatório cai. Se os vasos sanguíneos contraírem, a pressão sanguínea no sistema aumenta. As mudanças no volume dos vasos sanguíneos e no coração são os principais fatores que influenciam a pressão sanguínea no sistema circulatório Resistência ao fluxo Em um sistema ideal, uma substância em movimento permaneceria em movimento. Contudo, nenhum sistema é ideal, pois qualquer movimento gera atrito. Assim como uma bola rolando em um gramado perde energia devido ao atrito, o sangue que flui pelos vasos sanguíneos gera atrito com a parede dos vasos e entre as próprias células do sangue. A tendência de o sistema circulatório se opor ao fluxo sanguíneo é denominada resistência ao fluxo. A resistência (R) é um termo que a maioria de nós entende a partir da nossa vida cotidiana. Falamos de pessoas que resistem a mudanças ou escolhem caminhos que ofereçam menor resistência. Esse conceito se adapta bem ao sistema circulatório, visto que o fluxo sanguíneo também escolhe o caminho com menor resistência. Um aumento na resistência de um vaso sanguíneo resulta em redução do fluxo por ele. Se a resistência aumenta, o fluxo diminui; se a resistência diminui, o fluxo aumenta Quais parâmetros determinam a resistência? Para um líquido que flui por um tubo, a resistência é influenciada por três componentes: o raio do tubo (r), o comprimento do tubo (L) e a viscosidade (“espessura”) do líquido (η, a letra grega eta). A velocidade de fluxo depende da taxa de fluxo e da área de secção transversal A velocidade é maior em partes mais estreitas e mais lenta em partes mais largas. O líquido flui mais rapidamente nas partes estreitas do que nas partes largas. Para ver este princípio em ação, observe uma folha que flutua em uma correnteza. Onde o rio se estreita, a folha se move mais rapidamente, carregada pela maior velocidade da água. Nas partes onde o rio é mais largo, a velocidade da água diminui e a folha é levada mais lentamente Pressão arterial A pressão arterial é maior nas artérias e diminui continuamente à medida que o sangue flui através do sistema circulatório (FIG. 15.6). A diminuição da pressão ocorre porque é perdida energia, como consequência da resistência ao fluxo oferecida pelos vasos. A resistência ao fluxo sanguíneo também resulta do atrito entre as células sanguíneas. Na circulação sistêmica, a maior pressão ocorre na aorta e resulta da pressão gerada pelo ventrículo esquerdo. A pressão aórtica alcança uma média de 120 mmHg durante a sístole ventricular (pressão sistólica) e, após, cai constantemente até 80 mmHg durante a diástole ventricular (pressão diastólica). Lembre-se que o fluxo sanguíneo através do coração é regido pelo mesmo princípio que rege o fluxo de todos os líquidos e gases: o fluxo vai de áreas de maior pressão para áreas de menor pressão. Quando o coração contrai, a pressão aumenta e o sangue flui para as áreas de menor pressão. O lado esquerdo do coração gera pressões mais elevadas do que o lado direito, o qual envia o sangue para a circulação pulmonar, que é mais curta. Há um padrão oscilatório da pressão no lado arterial da circulação; o qual é, basicamente, composto por reestabelecimentos constantes da pressão arterial, devido à ejeção ventricular e pela característica elástica das grandes artérias, que receberão e acomodarão o volume sistólico ejetado. Isso se dá pela latência entre o coração receber (fases de enchimento ventricular) e devolver (ejeção) o sangue para a circulação arterial durante o ciclo cardíaco Em um indivíduo adulto o volume de sangue contido no sistema circulatório é de, aproximadamente, 5 ℓ. Caso o coração parasse e não ocorresse alteração no calibre dos vasos sanguíneos, a pressão interna em todo o sistema circulatório seria a mesma, e com um valor de aproximadamente 7 mmHg, o qual representa, segundo Guyton et al. (1954), a pressão média de enchimento circulatório. Assim, a pressão arterial não é gerada, simplesmente, pela restrição da massa de sangue no interior dos vasos sanguíneos, mas sim pela contração cíclica do coração, a qual injeta no sistema arterial, aproximadamente, 80 mℓ de sangue, a cada batimento. O tônus dos vasos arteriais, por sua vez, se opõe ao deslocamento do sangue da aorta para os vasos periféricos, o que contribui para a manutenção de valores mais elevados da pressão nas artérias ao longo de todo o ciclo cardíaco. Após a pressão arterial atingir o seu valor máximo no pico da sístole, ela vai decaindo progressivamente à medida que o sangue flui dos vasos arteriais para a microcirculação, atingindo seu valor mínimo ao final da diástole. Assim, a pressão arterial sistólica corresponde à pressão máxima do sangue no pico da sístole, e a pressão arterial diastólica corresponde à pressão mínima ao final da diástole (ou início de uma nova sístole). Em uma análise simplificada, o trabalho cardíaco mantém um nível constante da pressão arterial à custa de ejeções intermitentes de sangue no sistema circulatório. Assim, a fase de ejeção ventricular gera picos de pressão no sistema circulatório (sístole) seguidos por períodos latentes, nos quais ocorrem a dissipação da pressão (diástole). Dessa forma, a pressão gerada pelo trabalho cardíaco no sistema arterial pode ser vista de duas formas: (1) uma onda de pressão que percorre o sistema arterial (onda de pulso); (2) uma unidade relativade força que está contida no sistema circulatório responsável por deslocar o sangue no sentido anterógrado (saindo dos ventrículos, por meio de vasos, e retornando aos átrios). Pulso arterial O rápido aumento da pressão que ocorre quando o ventrículo esquerdo empurra o sangue para dentro da aorta pode ser percebido como um pulso, ou onda de pressão, transmitido ao longo das artérias preenchidas com líquido. A onda de pressão viaja cerca de 10 vezes mais rápido que o próprio sangue. Mesmo assim, o pulso que é percebido no braço ocorre um pouco depois da contração ventricular que gerou a onda. Devido ao atrito, a amplitude da onda de pressão diminui com a distância e, por fim, desaparece nos capilares. A pressão de pulso, uma medida de amplitude da onda de pressão, é definida como a pressão sistólica menos a pressão diastólica O pulso arterial tem seu início a partir da pressão arterial mínima (pressão arterial diastólica) observada durante a fase diastólica do ciclo cardíaco, se elevando, em seguida, até alcançar um nível de pressão máximo (pressão arterial sistólica), caracterizando, então, a variação da pressão arterial em cada ciclo cardíaco. Em síntese, a diferença entre as pressões sistólica e diastólica caracteriza o pulso arterial. A pressão sanguínea arterial reflete a pressão de propulsão do fluxo sanguíneo (Pressão arterial media) As artérias atuam como um reservatório de pressão durante a fase de relaxamento do coração, mantendo a pressão arterial média (PAM), que é a força impulsora do fluxo sanguíneo. A pressão arterial média é influenciada por dois parâmetros: o débito cardíaco (volume sanguíneo que o coração bombeia por minuto) e a resistência periférica (resistência dos vasos sanguíneos ao fluxo sanguíneo por eles) A pressão sanguínea arterial, ou simplesmente “pressão arterial”, reflete a pressão de propulsão criada pela ação de bombeamento do coração. Já que a pressão ventricular é difícil de ser medida, é comum assumir que a pressão sanguínea arterial reflete a pressão ventricular. Como você aprendeu, a pressão arterial é pulsátil, então usamos um único valor – a pressão arterial média (PAM) – para representar a pressão direcionadora. A PAM é estimada somando-se a pressão diastólica mais um terço da pressão de pulso A pressão arterial média é mais próxima da pressão diastólica do que da pressão sistólica, uma vez que a diástole dura o dobro do tempo da sístole. Pressão sanguínea arterial muito alta ou muito baixa pode ser um indicativo de problemas no sistema circulatório. Debito cardíaco Como podemos avaliar a eficácia do coração como uma bomba? Uma forma é medir o débito cardíaco (DC), o volume sanguíneo ejetado pelo ventrículo esquerdo em um determinado período de tempo. Uma vez que todo o sangue que deixa o coração flui através dos tecidos, o débito cardíaco é um indicador do fluxo sanguíneo total do corpo. Entretanto, o débito cardíaco não nos informa como o sangue é distribuído aos vários tecidos. Esse aspecto do fluxo sanguíneo é regulado nos tecidos. O débito cardíaco (DC) pode ser calculado multiplicando-se a frequência cardíaca (batimentos por minuto) pelo volume sistólico (mL por batimento, ou por contração) A média do volume total de sangue é de aproximadamente 5 litros. O volume de sangue ejetado pelo ventrículo a cada ejeção (fase sistólica) é chamado de débito sistólico. Em um indivíduo em repouso, o débito sistólico situa-se em torno de 70 a 80 mℓ por batimento. Dessa forma, o débito cardíaco pode ser calculado pelo produto do débito sistólico (volume sistólico) × frequência cardíaca. Se considerarmos, por exemplo, que um indivíduo em repouso apresenta 70 batimentos por minuto, com débito sistólico médio de 70 mℓ nesse intervalo, seu débito cardíaco será de 4.900 mℓ/min ou, aproximadamente, 5 ℓ/min. Isso significa que, em repouso, um lado do coração bombeia todo o sangue através do corpo em apenas 1 minuto. Em geral, o DC é o mesmo em ambos os ventrículos. Contudo, se por alguma razão um lado do coração começa a falhar e se torna incapaz de bombear de maneira eficiente, o débito cardíaco torna-se desigual. Nessa situação, o sangue é represado na circulação atrás do lado mais fraco do coração Durante o exercício físico, o débito cardíaco pode chegar de 30 a 35 L/min. Alterações homeostáticas no débito cardíaco são provocadas por mudanças na frequência cardíaca, no volume sistólico ou em ambos Frequência cardíaca A frequência cardíaca é iniciada pelas células autoexcitáveis do nó SA, porém, ela é modulada por estímulos neurais e hormonais. As porções simpática e parassimpática do sistema nervoso autônomo influenciam a frequência cardíaca através de um controle antagônico. A atividade parassimpática diminui a frequência cardíaca, ao passo que a atividade simpática a aumenta. Ambas as subdivisões autonômicas também alteram a velocidade de condução no nó AV. A acetilcolina desacelera a condução dos potenciais de ação através do nó AV, aumentando, assim, o retardo elétrico nessa estrutura. Em contrapartida, as catecolaminas, adrenalina e noradrenalina, aceleram a condução dos potenciais de ação através do nó AV e do sistema de condução. Controle parassimpático O neurotransmissor parassimpático acetilcolina (ACh) diminui a frequência cardíaca. A acetilcolina ativa os receptores colinérgicos muscarínicos que influenciam os canais de K e Ca2 nas células marca-passo. A permeabilidade ao K aumenta, hiperpolarizando a célula, de modo que o potencial marca-passo inicia em um valor mais negativo. Ao mesmo tempo, a permeabilidade ao Ca2 diminui nas células marca-passo. A diminuição da permeabilidade ao Ca2 retarda a taxa em que o potencial marca-passo despolariza. A combinação dos dois efeitos faz a célula levar mais tempo para alcançar o limiar, atrasando o início do potencial de ação no marca-passo e diminuindo a frequência cardíaca. Em geral, o controle tônico da frequência cardíaca é dominado pela porção parassimpática. Esse controle pode ser demonstrado experimentalmente bloqueando-se todos os sinais autonômicos de entrada para o coração. Quando todos os sinais simpáticos e parassimpáticos para o coração são bloqueados, a frequência de despolarização espontânea do nó SA é de 90 a 100 vezes por minuto. Para alcançar uma frequência cardíaca em repouso de 70 batimentos por minuto, a atividade parassimpática tônica deve diminuir a frequência intrínseca de 90 bpm. Controle simpático A estimulação simpática nas células marca-passo acelera a frequência cardíaca. As catecolaminas noradrenalina (dos neurônios simpáticos) e adrenalina (da medula da glândula suprarrenal) aumentam o fluxo iônico através dos canais If e de Ca2. A entrada mais rápida de cátions acelera a taxa de despolarização, fazendo a célula atingir o limiar mais rapidamente e, assim, aumentando a taxa de disparo do potencial de ação. Quando o marca-passo dispara potenciais de ação mais rapidamente, a frequência cardíaca aumenta. As catecolaminas exercem seus efeitos ligando-se e ativando receptores β1 adrenégicos nas células autoexcitáveis. Os receptores β1 utilizam o sistema de segundo mensageiro AMPc para alterar as propriedades de transporte dos canais iônicos. No caso dos canais If, que são canais dependentes de nucleotídeos cíclicos, o próprio AMPc é o mensageiro. Quando o AMPc se liga para abrir os canais If eles permanecem abertos por mais tempo. A permeabilidade aumentada ao Na e ao Ca2 durante as fases do potencial marca-passo acelera a despolarização e a frequência cardíaca. À primeira vista, aumentos da frequência cardíaca determinarão aumento do débito cardíaco. Essa relação, entretanto, não é tão simples. Isso porque o débito sistólico não se mantém constante quando ocorrem grandes variações da frequência cardíaca. Quando há taquicardia, o intervalo entre os dois batimentosdiminui, principalmente à custa de uma redução da duração da diástole. Como consequência, em frequências cardíacas muito elevadas, o tempo de enchimento ventricular diminui e, consequentemente, o volume diastólico final do ventrículo assume também valores mais baixos. Mantendo-se fixa a fração de ejeção, o volume ejetado em cada batimento (débito sistólico) também irá diminuir. Assim, os estudos hemodinâmicos mostram que o débito cardíaco aumenta inicialmente com o aumento da frequência cardíaca, até atingir um valor máximo. A partir desse ponto, aumentos adicionais da frequência cardíaca são acompanhados de queda progressiva do débito Volume sistólico O débito sistólico, o volume sanguíneo bombeado por cada ventrículo em cada contração, está diretamente relacionado à força gerada pelo músculo cardíaco durante uma contração. Em geral, quando a força de contração aumenta, o volume sistólico aumenta. No coração isolado, a força de contração ventricular é afetada por dois parâmetros: o comprimento da fibra muscular no início da contração e a contratilidade do coração. O volume sanguíneo no ventrículo no início da contração (o volume diastólico final) determina o comprimento do músculo. Contratilidade é a capacidade intrínseca de uma fibra muscular cardíaca de se contrair em qualquer comprimento da fibra e é uma função da interação do Ca2 com os filamentos contráteis. Comprimento da fibra muscular no início da contração Nos músculos estriados, a força gerada por uma fibra muscular é diretamente relacionada com o comprimento do sarcômero, como indicado pelo comprimento inicial da fibra muscular. Quanto mais alongada estiver a fibra muscular e o sarcômero no início da contração, maior será a tensão desenvolvida, até um limite máximo. A relação comprimento-tensão observada no músculo isolado também pode ser vista no coração intacto: conforme o estiramento das paredes ventriculares aumenta, o mesmo acontece com o volume sistólico. Se mais sangue chegar ao ventrículo, as fibras musculares se estiram mais, aumentando a força de contração, ejetando mais sangue. O grau de estiramento do miocárdio antes do início da contração é chamado de pré-carga sobre o coração, pois esse estiramento representa a carga colocada sobre o músculo cardíaco antes que ele contraia. Quando mais sangue chega ao coração, ele se contrai com mais força e ejeta mais sangue. Essa relação é conhecida como lei de Frank-Starling do coração Retorno venoso (pré-carga) Uma das descobertas mais importantes para a compreensão da homeostase cardiocirculatória foi feita pelo fisiologista inglês E. Starling, em 1910. Trabalhando com uma preparação de coração-pulmão isolados, Starling observou que, quanto maior era a pressão de enchimento da câmara ventricular, maior era o volume de sangue ejetado em cada sístole. Ou seja, quanto maior a pressão de enchimento, maior o estiramento da câmara cardíaca. Essa descoberta serviu como base para o seguinte enunciado, que é conhecido como lei do coração ou relação de Frank-Starling: “A força desenvolvida por uma câmara cardíaca durante a contração é diretamente proporcional ao grau de estiramento a que as fibras miocárdicas estão submetidas no período imediatamente anterior ao início da contração.” É importante observar que essa constatação foi feita no coração isolado, isto é, desconectado das influências excitatórias ou inibitórias do sistema nervoso autônomo. Do ponto de vista funcional, a existência da relação de Frank-Starling é fundamental para a homeostase cardiocirculatória, porque faz com que o coração seja capaz de ajustar seu débito, em cada batimento, em função do retorno venoso que ocorreu durante a diástole imediatamente anterior. A partir de determinado ponto, entretanto, estiramentos adicionais levam a uma diminuição da força contrátil e, consequentemente, do volume de sangue ejetado pela câmara cardíaca. Contratilidade do coração Toda substância química que afeta a contratilidade é chamada de agente inotrópico, e sua influência é chamada de efeito inotrópico. Se uma substância química aumenta a força de contração, ela possui um efeito inotrópico positivo. Por exemplo, as catecolaminas adrenalina e noradrenalina e fármacos, como os digitálicos, aumentam a contratilidade e, portanto, possuem efeitos inotrópicos positivos. Substâncias químicas com efeito inotrópico negativo diminuem a contratilidade. A contratilidade aumenta conforme a quantidade de cálcio disponível para a contração aumenta. A contratilidade foi considerada distinta das mudanças na força, resultantes da variação no comprimento do músculo (sarcômero). Contudo, parece que o aumento do comprimento do sarcômero também torna o músculo cardíaco mais sensível ao Ca2+, associando, assim, a contratilidade ao comprimento muscular Em um animal sadio, a força ventricular deve ser usada para vencer a resistência criada pelo enchimento de sangue no sistema arterial. Em outras palavras, para ejetar sangue do ventrículo, o coração deve gerar força para deslocar o sangue para a aorta, empurrando-o ainda mais adiante. A carga combinada do sangue no ventrículo (o VDF) e da resistência durante a contração ventricular é chamada de pós-carga. Uma analogia pode ser feita com garçons que atravessam uma porta giratória carregando bandejas de comida. A bandeja é a carga equivalente ao sangue nos ventrículos no início da contração. A porta é uma carga adicional que o garçom deve empurrar para sair da cozinha. Em geral, essa carga adicional é relativamente menos importante. Se alguém resolver fazer uma travessura e decidir empilhar mobílias contra o outro lado da porta (aumento da pós-carga), o garçom precisará gastar consideravelmente mais força para empurrar a porta. De forma similar, a contração ventricular deve empurrar uma carga de sangue através da valva semilunar e para dentro de artérias cheias de sangue O aumento da pós-carga é visto em várias situações patológicas, incluindo a pressão sanguínea arterial elevada e a perda da distensibilidade (complacência) da aorta. Para manter constante o volume sistólico quando a pós-carga aumenta, o ventrículo deve aumentar sua força de contração. Isso, então, aumenta a necessidade de oxigênio e de produção de ATP para o músculo cardíaco. Nessa condição, o ventrículo esquerdo precisa elevar a pressão intracavitária até valores mais altos para vencer a pressão do sangue arterial (pressão arterial diastólica). Portanto, em um indivíduo com pressão elevada, o trabalho cardíaco e o gasto de trifosfato de adenosina (ATP) pelo miocárdio é mais alto. Se o aumento da pós-carga se torna uma situação crônica, as células miocárdicas hipertrofiam, resultando em um aumento da espessura da parede ventricular. Clinicamente, a pressão sanguínea arterial é usada com frequência como um indicador indireto da pós-carga. Resistência à ejeção (pós-carga). O terceiro determinante do débito sistólico é a resistência à ejeção, em geral referido como pós-carga, isto é, a carga pressórica contra a qual o ventrículo deve ejetar o sangue. Com o aumento da resistência à ejeção (devido ao aumento da resistência vascular periférica ou pulmonar e/ou um estreitamento das valvas aórtica ou pulmonar), ocorre aumento da força de contração ventricular, com o intuito de manter o débito cardíaco. Do ponto de vista fisiopatológico o aumento da pós-carga para o ventrículo esquerdo determina hipertrofia cardíaca e maior gasto de energia durante a contração. Essa situação, a longo prazo, predispõe ao aparecimento de insuficiência cardíaca (uma síndrome na qual o ventrículo é incapaz de manter o débito cardíaco adequado para os diversos territórios do organismo). Em resumo, pode-se dizer que o volume sistólico está na dependência de três fatores básicos: o primeiro é intrínseco ao músculo cardíaco, ou seja, o grau deestiramento das fibras na diástole (pré-carga); o segundo, a contratilidade miocárdica, é dependente em grande parte do grau de ativação simpática, sendo, portanto, extrínseco ao coração; e o terceiro é puramente mecânico, sendo dependente da resistência hidráulica contra a qual a ejeção deve ser realizada (pós-carga). Efeitos inotrópicos positivos das catecolaminas As moléculas sinalizadoras ligam-se e ativam os receptores β1- adrenérgicos na membrana das células contráteis do miocárdio. Os receptores β1 ativados utilizam o sistema de segundo mensageiro do AMP cíclico para fosforilar proteínas intracelulares específicas. A fosforilação dos canais de Ca2+ dependentes de voltagem aumenta a probabilidade de eles abrirem e permanecerem abertos por mais tempo. Mais canais abertos permitem que mais Ca2+ entre na célula. As catecolaminas aumentam o armazenamento de Ca2+ por meio de uma proteína reguladora, chamada de fosfolambam. A fosforilação do fosfolambam aumenta a atividade da Ca2-ATPase no retículo sarcoplasmático. A Ca2 –ATPase concentra o Ca2+ no retículo sarcoplasmático, fazendo que mais Ca2+ fique disponível para a liberação de cálcio induzida pelo cálcio extracelular. Como mais Ca2+ citosolico significa mais ligações cruzadas ativas, e como a força de contração é proporcional ao número de ligações cruzadas ativas, o efeito resultante da estimulação das catecolaminas é uma contração mais forte. Além de aumentar a força da contração cardíaca, as catecolaminas também encurtam a duração da contração. O aumento da atividade da Ca2-ATPase acelera a remoção do Ca2+ citosol. Isso, por sua vez, reduz o tempo em que o Ca2+ fica ligado à troponina e diminui o tempo ativo das ligações cruzadas de miosina. O abalo muscular, portanto, é mais curto. Um mecanismo diferente para aumentar a contratilidade pode ser desencadeado administrando-se glicosídeos cardíacos, uma classe de moléculas primeiramente descobertas na planta Digitalis purpurea (dedaleira). Os glicosídeos cardíacos incluem a digoxina e o composto relacionado ouabaína, uma molécula utilizada para inibir o transporte de sódio em estudos experimentais. Os glicosídeos aumentam a contratilidade por retardar a remoção de Ca2 do citosol. Na célula miocárdica, os glicosídeos cardíacos diminuem a capacidade para remoção do Ca2 pelo trocador Na-Ca2+. O aumento resultante de Ca2+ citosolico gera contrações miocárdicas mais eficazes. Esse mecanismo é um efeito farmacológico e não ocorre na ausência do fármaco, utilizado no tratamento da insuficiência cardíaca. A PAM é a força propulsora do fluxo sanguíneo, mas o que a determina? A pressão arterial é um balanço entre o fluxo sanguíneo para dentro das artérias e o fluxo sanguíneo para fora das artérias. Se o fluxo para dentro excede o fluxo para fora, o volume sanguíneo nas artérias aumenta e a pressão arterial média também. Se o fluxo para fora excede o para dentro, o volume diminui e a pressão arterial média cai. Se o débito cardíaco aumenta, o coração bombeia mais sangue para dentro das artérias por unidade de tempo. Se a resistência ao fluxo sanguíneo para fora das artérias não mudar, o fluxo para dentro das artérias fica maior que o fluxo para fora, o volume sanguíneo nas artérias aumenta, e a pressão sanguínea arterial sobe. Em outro exemplo, considere que o débito cardíaco permanece inalterado, mas a resistência periférica aumenta. O fluxo para dentro das artérias está inalterado, mas o fluxo para fora diminui. O sangue novamente se acumula nas artérias e a pressão arterial aumenta outra vez. Na maioria dos casos de hipertensão, acredita-se que ela seja causada pelo aumento da resistência periférica sem que ocorram alterações no débito cardíaco. Dois fatores adicionais podem influenciar a pressão sanguínea arterial: a distribuição de sangue na circulação sistêmica e o volume total de sangue. A distribuição relativa de sangue entre os lados arterial e venoso da circulação pode ser um fator importante para manter a pressão sanguínea arterial. As artérias são vasos que contêm pouco volume sanguíneo e contêm somente cerca de 11% do volume total de sangue em qualquer momento. As veias, ao contrário, são vasos com grande volume sanguíneo, que contêm cerca de 60% do volume sanguíneo circulante em qualquer momento. As veias atuam como um reservatório de volume para a circulação sistêmica, armazenando sangue, que pode ser redistribuído para as artérias se necessário. Se a pressão arterial cai, a aumentada atividade simpática constringe as veias, diminuindo sua capacidade de reter volume. O retorno venoso aumenta, enviando sangue para o coração, o qual, de acordo com a lei de Frank-Starling do coração, bombeia todo o retorno venoso para o lado sistêmico da circulação. Assim, a constrição das veias redistribui sangue para o lado arterial da circulação e eleva a pressão arterial média. Embora o volume sanguíneo na circulação seja relativamente constante, mudanças no volume sanguíneo podem afetar a pressão arterial. Se o volume sanguíneo aumenta, a pressão arterial aumenta. Quando o volume sanguíneo diminui, a pressão arterial diminui. Para entender a relação entre volume sanguíneo e pressão, pense no sistema circulatório como um balão elástico cheio de água. Se o balão tem apenas uma pequena quantidade de água, pouca pressão é exercida sobre as paredes, e o balão fica mole e murcho. Quanto mais água for adicionada ao balão, mais pressão é exercida sobre as paredes elásticas. Se você encher excessivamente o balão, arrisca estourá-lo. A melhor maneira de reduzir essa pressão é remover um pouco de água. Pequenos aumentos no volume sanguíneo ocorrem durante o dia, devido à ingestão de alimentos e líquidos, contudo, em geral, esses aumentos não geram mudanças duradouras na pressão sanguínea, devido às compensações homeostáticas. Ajustes ao volume sanguíneo aumentado são de responsabilidade dos rins. Se o volume sanguíneo aumenta, os rins restabelecem o volume normal por excretar o excesso de água na urina A compensação para a diminuição do volume sanguíneo É mais difícil e necessita de uma resposta integrada dos rins e do sistema circulatório. Se o volume sanguíneo diminui, os rins não podem restabelecer a perda de líquidos. Os rins podem apenas conservar o volume sanguíneo e, assim, prevenir diminuições adicionais da pressão arterial. A única forma de restaurar o volume de líquido perdido é pela ingestão de líquidos ou por infusão intravenosa. O volume perdido para o meio externo deve ser reposto a partir do meio externo. A compensação cardiovascular para o volume sanguíneo diminuído inclui vasoconstrição e aumento da estimulação simpática ao coração, a fim de aumentar o débito cardíaco. Contudo, há limites para a efetividade da compensação cardiovascular – se a perda de líquidos é muito grande, o corpo não pode manter uma pressão arterial adequada. Eventos típicos que podem causar mudanças significativas no volume sanguíneo, incluem a desidratação, a hemorragia e a ingestão de grande quantidade de líquido. Resistencia das arteríolas As arteríolas são o principal local de resistência variável do sistema circulatório e contribuem com mais de 60% da resistência total ao fluxo no sistema. A resistência nas arteríolas é variável devido à grande quantidade de músculo liso nas paredes arteriolares. Quando o músculo liso contrai ou relaxa, o raio das arteríolas muda. A resistência arteriolar é influenciada por mecanismos de controle sistêmico e por controle local: 1. O controle local da resistência arteriolar ajusta o fluxo sanguíneo no tecido às necessidades metabólicas deste. No coração e no músculo esquelético, esse controle local muitas vezes têm prioridade sobre o controle reflexo realizado pelo sistema nervoso central 2. Os reflexos simpáticos mediados pelo sistema nervoso central mantêm a PAM econtrolam a distribuição sanguínea de acordo com determinadas necessidades homeostáticas, como a regulação da temperatura. 3. Os hormônios – particularmente aqueles que regulam a excreção de sal e água pelos rins – influenciam a pressão arterial por atuarem diretamente nas arteríolas, alterando o controle reflexo autonômico. O músculo liso vascular tem a capacidade de regular seu próprio estado de contração, um processo chamado de autorregulação miogênica. Na ausência da autorregulação, um aumento na pressão arterial aumenta o fluxo sanguíneo por uma arteríola. Contudo, quando as fibras da musculatura lisa nas paredes das arteríolas se distendem devido ao aumento da pressão arterial, a arteríola contrai. Essa vasoconstrição aumenta a resistência oferecida pela arteríola, diminuindo automaticamente o fluxo sanguíneo por este vaso. Com essa resposta simples e direta à pressão, as arteríolas têm uma habilidade limitada de regular seu próprio fluxo sanguíneo. Como a autorregulação miogênica funciona no nível celular? Quando as células do músculo liso vascular das arteríolas são estiradas, canais mecanicamente ativados se abrem na membrana do músculo. A entrada de cátions despolariza a célula. A despolarização abre canais de Ca2+ dependentes de voltagem, e o Ca2+ flui para o interior da célula, a favor de seu gradiente eletroquímico. O cálcio, entrando na célula, combina-se com a calmodulina e ativa a cinase da cadeia leve da miosina (MLCK). A MLCK, por sua vez, aumenta a atividade da ATPase miosínica e a atividade das ligações cruzadas, resultando em contração. Porém, além das características estruturais intrínsecas dos vasos, a resistência também é resultante da atividade das células do músculo liso vascular ao longo do tempo. Fatores locais, humorais e neurais controlam o grau de contratilidade vascular, denominado de tônus vascular. Fatores que aumentam o tônus vascular causam vasoconstrição com redução do raio vascular, e, consequentemente, aumento da resistência; ao contrário, fatores que reduzem os tônus causam vasodilatação com aumento do raio, e, consequentemente, reduzem a resistência O controle local é uma estratégia importante pela qual os tecidos individuais regulam seu próprio suprimento sanguíneo. Em um tecido, o fluxo sanguíneo para capilares individuais pode ser regulado pelos esfincteres pré-capilares, descritos anteriormente. Quando estes pequenos feixes de músculo liso nas junções metarteríola- capilar se contraem, eles restringem o fluxo sanguíneo para os capilares. Quando os esfincteres relaxam, o fluxo sanguíneo para os capilares aumenta. Esse mecanismo fornece mais um ponto de controle local do fluxo sanguíneo. A regulação local também ocorre pela mudança da resistência arteriolar em um tecido. Isso é realizado por moléculas parácrinas (incluindo os gases O2 , CO2 e NO) secretadas pelo endotélio vascular ou por células para as quais as arteríolas estão suprindo sangue As concentrações de muitas moléculas parácrinas se alteram quando as células se tornam mais ou menos ativas metabolicamente. Por exemplo, se o metabolismo aeróbio aumenta, os níveis de O2 diminuem, ao passo que a produção de CO2 se eleva. Tanto o baixo O2 quanto o alto CO2 dilatam as arteríolas. Esta vasodilatação aumenta o fluxo sanguíneo para o tecido, trazendo mais O2 para atender à aumentada demanda metabólica e remover o excesso de CO2. O processo no qual um aumento do fluxo sanguíneo acompanha um aumento da atividade metabólica é chamado de hiperemia ativa. Se o fluxo sanguíneo para um tecido é ocluído por poucos caem, e os sinais metabólicos segundos a minutos, os níveis de O2 parácrinos, como CO2 e H+, acumulam- se no líquido intersticial. A hipóxia local faz as células endoteliais sintetizarem o vasodilatador óxido nítrico. Quando o fluxo sanguíneo para o tecido é retomado, as concentrações aumentadas de NO, CO2 e outras moléculas parácrinas desencadeiam imediatamente uma significativa vasodilatação. À medida que os vasodilatadores são metabolizados ou removidos pela restauração do fluxo sanguíneo no tecido, o raio da arteríola gradualmente volta ao normal. Um aumento no fluxo sanguíneo tecidual após um período de baixa perfusão (fluxo sanguíneo) é chamado de hiperemia reativa O óxido nítrico é provavelmente mais conhecido por seu papel no reflexo de ereção masculina: medicamentos usados para tratar a disfunção erétil prolongam a atividade do NO. Suspeita--se que diminuições na atividade endógena do NO desempenham um papel em outras condições médicas, incluindo hipertensão e pré- eclâmpsia, uma elevada pressão arterial que, algumas vezes, ocorre durante a gestação Outro sinal vasodilatador parácrino é o nucleotídeo adenosina. Se o consumo de oxigênio pelo músculo cardíaco exceder a taxa de suprimento de oxigênio pelo sangue, haverá hipóxia miocárdica. Em resposta ao baixo oxigênio no tecido, as células miocárdicas liberam adenosina. A adenosina dilata as arteríolas coronárias em uma tentativa de trazer fluxo sanguíneo adicional para o músculo. Nem todas as moléculas vasoativas parácrinas refletem mudanças no metabolismo. Por exemplo, as cininas e a histamina são potentes vasodilatadores que desempenham um papel na inflamação. A serotonina (5-HT), mencionada previamente como um neurotransmissor do SNC, é também uma molécula sinalizadora vasoconstritora liberada pelas plaquetas ativadas. Quando os vasos sanguíneos lesados ativam as plaquetas, a subsequente vasoconstrição mediada pela serotonina ajuda a diminuir a perda de sangue. Agonistas da serotonina, chamados de triptanos (p. ex., sumatriptano), são fármacos que se ligam aos receptores 5-HT1 e promovem vasoconstrição. Esses fármacos são utilizados para tratar enxaquecas (dores de cabeça), que são causadas por uma vasodilatação encefálica inadequada. A descarga tônica de noradrenalina dos neurônios simpáticos ajuda a manter os tônus das arteríolas. A noradrenalina liga-se aos receptores α nos músculos lisos vasculares, causando vasoconstrição. Se a liberação simpática de noradrenalina diminui, as arteríolas dilatam. Se a estimulação simpática aumenta, as arteríolas contraem. A adrenalina proveniente da medula da glândula suprarrenal circula pelo sangue e se liga aos receptores α, reforçando a vasoconstrição. Contudo, os receptores α têm uma menor afinidade pela adrenalina e não respondem tão fortemente a ela como à noradrenalina. Além disso, a adrenalina liga-se a receptores β2 encontrados no músculo liso vascular do coração, no fígado e nas arteríolas do músculo esquelético. Esses receptores não são inervados e, portanto, respondem principalmente à adrenalina circulante. A ativação dos receptores β2 vasculares pela adrenalina causa vasodilatação. A contração do músculo liso nas arteríolas é regulada por sinais neurais e hormonais, além de pela produção local de substâncias parácrinas. Entre os hormônios com significativas propriedades vasoativas, estão o peptídeo natriurético atrial (PNA) e a angiotensina II (ANG II). Esses hormônios também têm efeitos significativos na excreção renal de íons e água. A maioria das arteríolas sistêmicas é inervada por neurônios simpáticos. Uma notável exceção é o caso das arteríolas envolvidas no reflexo da ereção do pênis e do clitóris. Elas são controladas indiretamente pela inervação parassimpática. A acetilcolina dos neurônios parassimpáticos promove liberação parácrina de óxido nítrico, resultando em vasodilatação. Um modo de lembrar quais arteríolas teciduais têm receptores β2 é pensar na resposta de luta ou fuga a um evento estressante. Essa resposta inclui um aumento generalizado na atividade simpática, juntamente com a liberação de adrenalina. Vasos sanguíneos que possuem receptores β2 dilatam em resposta à adrenalina. Assim, a vasodilatação mediada por β2 aumenta o fluxo sanguíneo para o coração, o músculoesquelético, o fígado e para os tecidos que estão ativos durante a resposta de luta ou fuga. (O fígado produz glicose para uso na contração muscular.) Durante a resposta de luta ou fuga, a atividade simpática aumentada nos receptores α arteriolar causa vasoconstrição. O aumento na resistência desvia sangue de órgãos não essenciais, como o trato gastrintestinal, para os músculos esqueléticos, o fígado e o coração. O fluxo através do corpo como um todo é igual ao débito cardíaco, porém o fluxo para tecidos individuais pode ser alterado por mudanças seletivas nas arteríolas dos tecidos Retorno venoso O retorno do sangue ao coração, conhecido como retorno venoso, é auxiliado pelas valvas, pela bomba musculo esquelética e pela bomba respiratória. Quando os músculos contraem, como os da panturrilha, eles comprimem as veias, forçando o sangue para cima, passando pelas valvas De acordo com a lei de Frank-Starling, o volume sistólico aumenta quando o volume diastólico final aumenta. O volume diastólico final é, em geral, determinado pelo retorno venoso, que é a quantidade de sangue que retorna ao coração pela circulação venosa. Três fatores afetam o retorno venoso: (1) a contração ou compressão das veias que levam o sangue para o coração (bomba do músculo esquelético): às contrações do músculo esquelético que espremem as veias (particularmente nas pernas), comprimindo-as e empurrando o sangue em direção ao coração. Durante exercícios que envolvem os membros inferiores, o músculo esquelético ajuda a bombear o sangue de volta para o coração. Durante os períodos em que se está imóvel, sentado ou em pé, a bomba do músculo esquelético não auxilia no retorno venoso. (2) a mudança na pressão no abdome e no tórax durante a respiração (a bomba respiratória): é criada pelo movimento do tórax durante a inspiração. Como o tórax se expande e o diafragma se move em direção ao abdome, a cavidade torácica se amplia e e desenvolve uma pressão subatmosférica. Essa baixa pressão diminui a pressão na veia cava inferior, que passa através do tórax, permitindo que mais sangue das veias abdominais entre na veia cava. A bomba respiratória é auxiliada pelo aumento da pressão exercida no lado de fora das veias abdominais quando o conteúdo abdominal é comprimido durante a inspiração. A combinação do aumento da pressão sobre as veias abdominais e da diminuição da pressão sobre as veias torácicas aumenta o retorno venoso durante a inspiração. (3) a inervação simpática das veias: A constrição das veias devida à atividade simpática é o terceiro fator que afeta o retorno venoso. Quando ocorre constrição das veias, seu volume diminui, empurrando mais sangue para dentro do coração. Com um volume ventricular maior no início da próxima contração, o ventrículo contrai com mais força, enviando mais sangue para o lado arterial da circulação. Desse modo, a inervação simpática das veias permite que o corpo redistribua parte do sangue venoso para a parte arterial da circulação. Distribuição do sangue para os tecidos A habilidade de o corpo alterar seletivamente o fluxo sanguíneo para os órgãos é um aspecto importante da regulação cardiovascular. A distribuição de sangue sistêmico varia de acordo com as necessidades metabólicas de cada órgão e é controlada por uma combinação de mecanismos de controle local e reflexos homeostáticos. Por exemplo, o músculo esquelético em repouso recebe aproximadamente 20% do débito cardíaco. Durante o exercício, quando os músculos usam mais oxigênio e nutrientes, eles recebem até 85%. O fluxo sanguíneo para os órgãos individuais é estabelecido, em algum grau, pelo número e tamanho das artérias que alimentam o órgão. Variações no fluxo sanguíneo para tecidos individuais são possíveis porque as arteríolas no corpo são arranjadas em paralelo. Ou seja, todas as arteríolas recebem sangue da aorta ao mesmo tempo. O fluxo sanguíneo total através de todas as arteríolas do corpo sempre é igual ao débito cardíaco. Contudo, o fluxo através de arteríolas individuais em um sistema ramificado de arteríolas depende de sua resistência (R). Quanto maior a resistência em uma arteríola, menor o fluxo sanguíneo por ela. Se uma arteríola contrai e a resistência aumenta, o fluxo sanguíneo através daquela arteríola diminui. Em outras palavras, o sangue é desviado das arteríolas de maior resistência para as arteríolas de menor resistência Regulação da função cardiovascular O sistema nervoso central coordena o controle reflexo da pressão arterial e a distribuição de sangue aos tecidos. O principal centro integrador situa-se no bulbo. Pela complexidade das redes neurais envolvidas no controle cardiovascular, simplificaremos esta discussão e nos referiremos à rede do SNC como centro de controle cardiovascular (CCC). A principal função do centro de controle cardiovascular é garantir fluxo sanguíneo adequado ao encéfalo e ao coração, mantendo uma pressão arterial média suficiente. Contudo, o CCC também recebe influências de outras partes do encéfalo e tem capacidade para alterar a função de alguns órgãos ou tecidos, sem alterar a função de outros. Por exemplo, os centros termorreguladores do hipotálamo se comunicam com o CCC para alterar o fluxo sanguíneo para a pele. A comunicação encéfalo-intestino após uma refeição aumenta o fluxo sanguíneo para o trato intestinal. O controle reflexo do fluxo sanguíneo para tecidos específicos altera a pressão arterial média, de modo que o CCC está constantemente monitorando e ajustando suas eferências para manter a homeostasia. A principal via reflexa para o controle homeostático da pressão arterial média é o reflexo barorreceptor. Os mecanorreceptores sensíveis ao estiramento, denominados barorreceptores, estão localizados nas paredes das artérias carótidas e aorta, onde eles monitoram continuamente a pressão do sangue que flui para o cérebro (barorreceptores carotídeos) e para o corpo (barorreceptores aórticos). Os barorreceptores carotídeos e aórticos são receptores sensíveis ao estiramento tonicamente ativos que disparam potenciais de ação continuamente durante a pressão arterial normal. Quando a pressão arterial nas artérias aumenta, a membrana dos barorreceptores estira, e a frequência de disparos do receptor aumenta. Se a pressão sanguínea cai, a frequência de disparos do receptor diminui. Se a pressão arterial se modifica, a frequência de potenciais de ação que viajam a partir dos barorreceptores para o centro de controle cardiovascular bulbar muda. O CCC integra as entradas sensoriais e inicia uma resposta apropriada. A resposta do reflexo barorreceptor é muito rápida: mudanças no débito cardíaco e na resistência periférica ocorrem dentro de dois batimentos cardíacos após o estímulo. Os sinais que partem do centro de controle cardiovascular são veiculados pelos neurônios autonômicos simpáticos e parassimpáticos. Como você aprendeu, a resistência periférica está sob controle simpático tônico, com a aumentada descarga simpática causando vasoconstrição. A função cardíaca é regulada por controle antagônico. A aumentada atividade simpática aumenta a frequência cardíaca, encurta o tempo de condução através do nó AV e aumenta a força de contração miocárdica. Aumentando a atividade parassimpática, ocorre diminuição da frequência cardíaca, mas somente um pequeno efeito na contração ventricular. Os barorreceptores aumentam sua frequência de disparos quando a pressão arterial aumenta, ativando o centro de controle cardiovascular bulbar. Em resposta, o centro de controle cardiovascular aumenta a atividade parassimpática e diminui a atividade simpática, a fim de reduzir a atividade do coração e dilatar as arteríolas. Quando a frequência cardíaca cai, o débito cardíaco também cai. Nos vasos, a diminuída atividade simpática causa dilatação das arteríolas, reduzindo sua resistência e permitindo maiorsaída de fluxo sanguíneo das artérias. Como a pressão arterial média é diretamente proporcional ao débito cardíaco e à resistência periférica, a combinação do reduzido débito cardíaco e da diminuída resistência periférica reduz a pressão arterial média. É importante lembrar que o reflexo barorreceptor está funcionando todo o tempo, não apenas em distúrbios dramáticos da pressão arterial, e que ele não tem uma resposta tudo ou nada. Uma mudança na pressão arterial pode resultar de uma alteração em ambos, débito cardíaco e resistência periférica, ou uma mudança em apenas uma das duas variáveis. Hipotensão ortostática O reflexo barorreceptor funciona a cada manhã quando você levanta da cama. Quando você está deitado, a força gravitacional está distribuída uniformemente por toda a extensão do seu corpo, e o sangue está distribuído uniformemente por toda a circulação. Quando você levanta, a gravidade faz o sangue se acumular nas extremidades inferiores. Esse acúmulo cria uma diminuição instantânea do retorno venoso de forma que haverá menos sangue nos ventrículos no início da próxima contração. O débito cardíaco cai de 5 L/min para 3 L/min, fazendo a pressão arterial diminuir. Essa diminuição da pressão arterial na posição de pé é chamada de hipotensão ortostática. A hipotensão ortostática normalmente desencadeia o reflexo barorreceptor. O resultado é um aumento no débito cardíaco e na resistência periférica, que, juntos, aumentam a pressão arterial média e a trazem de volta ao normal dentro de dois batimentos cardíacos. A bomba musculoesquelética também contribui para essa recuperação, aumentando o retorno venoso quando os músculos abdominais e dos membros inferiores contraem para manter a posição ereta. Entretanto, o reflexo barorreceptor nem sempre é eficaz. Por exemplo, durante o repouso prolongado na cama ou em condições de gravidade zero de voos espaciais, o sangue que vem das extremidades inferiores é distribuído uniformemente por todo o corpo, em vez de ficar acumulado nessas extremidades. Esta distribuição uniforme eleva a pressão arterial, fazendo os rins excretarem o que o corpo percebe como excesso de fluido. Durante o curso de três dias de repouso na cama ou no espaço, a excreção de água leva a uma redução de 12% no volume sanguíneo. Quando a pessoa finalmente levanta da cama ou retorna à Terra, a gravidade novamente faz o sangue se acumular nas pernas. A hipotensão ortostática ocorre, e os barorreceptores tentam compensar. Nesse caso, contudo, o sistema circulatório é incapaz de restaurar a pressão normal, devido à perda de volume sanguíneo. Como resultado, o indivíduo pode se sentir tonto ou mesmo desmaiar devido à redução da oferta de oxigênio ao encéfalo. Influência de outros sistemas A função cardiovascular pode ser modulada por sinais provenientes de outros receptores periféricos, além dos barorreceptores. Por exemplo, os quimiorreceptores arteriais ativados pelos baixos níveis sanguíneos de oxigênio aumentam o débito cardíaco. O centro de controle cardiovascular também tem comunicação recíproca com os centros bulbares que controlam a respiração. A integração funcional entre os sistemas respiratório e circulatório é adaptativa. Se os tecidos necessitam de mais oxigênio, o sistema circulatório e o respiratório trabalham juntos para fornecê-lo. Como consequência, o aumento da frequência respiratória é, em geral, acompanhado pelo aumento no débito cardíaco. A pressão arterial também está sujeita à modulação por centros encefálicos superiores, como o hipotálamo e o córtex cerebral. O hipotálamo medeia respostas vasculares envolvidas na regulação da temperatura corporal e na resposta de luta ou fuga. As respostas emocionais e aprendidas podem se originar no córtex cerebral e serem expressas por respostas circulatórias, como o rubor e o desmaio. Um desses reflexos é a síncope vasovagal, a qual pode ser desencadeada em algumas pessoas quando veem sangue ou uma agulha hipodérmica. (Lembre-se da experiência de Antônio, no começo deste capítulo.) Neste caso, aumentando a atividade parassimpática e diminuindo a atividade simpática, a frequência cardíaca diminui e ocorre vasodilatação generalizada. O débito cardíaco e a resistência periférica diminuem, provocando uma queda abrupta na pressão arterial. Sem sangue o suficiente para o encéfalo, a pessoa desmaia. A regulação da pressão arterial no sistema circulatório está intimamente associada à regulação do equilíbrio hídrico pelos rins. Certos hormônios secretados pelo coração atuam sobre os rins, e hormônios secretados pelos rins atuam sobre o coração e os vasos sanguíneos. Juntos, o coração e os rins desempenham um papel fundamental na manutenção da homeostasia dos fluidos corporais, um exemplo excelente da integração da função dos órgãos sistêmicos. Pressão sanguínea arterial é estimada por esfigmomanometria Estimamos a pressão arterial na artéria radial do braço utilizando um esfigmomanômetro, um instrumento que consiste em um manguito inflável e um manômetro de pressão. Um manguito envolve o braço e é inflado até exercer uma pressão mais alta do que a pressão sistólica que impulsiona o sangue arterial. Quando a pressão do manguito excede a pressão arterial, o fluxo sanguíneo para a porção inferior do braço é interrompido. Agora, a pressão no manguito é gradualmente diminuída. Quando a pressão no manguito cai abaixo da pressão sanguínea arterial sistólica, o sangue começa a fluir novamente. Quando o sangue passa na artéria ainda comprimida, um ruído bem definido, chamado de som de Korotkoff, pode ser escutado a cada onda de pressão. Os sons de Korotkoff são causados pelo fluxo turbulento do sangue através da área comprimida. Quando o manguito de pressão não comprime mais a artéria, o fluxo fica mais lento e os sons desaparecem. A pressão na qual o primeiro som de Korotkoff é escutado representa a pressão mais alta na artéria e é registrada como pressão sistólica. O ponto no qual o som de Korotkoff desaparece é a pressão mais baixa na artéria e é registrada como pressão diastólica. Por convenção, a pressão arterial é escrita como pressão sistólica sobre a diastólica. O método esfigmomanométrico palpatório, pelo qual o observador palpa a artéria radial, ou mesmo a braquial, informa, apenas, a PA sistólica. Isso porque, a palpação da artéria detectará o desaparecimento do pulso arterial quando a pressão do manguito suplanta a pressão arterial sistólica do indivíduo, colabando a artéria braquial e determinando o desaparecimento do pulso. Quando isso ocorre, o observador lê, então, no esfigmomanômetro aneroide (tradicionalmente se fazia no manômetro de mercúrio, mas por questões de segurança, o uso do mercúrio está proibido) a pressão arterial sistólica. Com este método a pressão arterial sistólica deve ser lida, novamente, com a desinsuflação do manguito, a qual determinará o retorno da pulsação, quando a pressão arterial sistólica do indivíduo se tornar ligeiramente superior à pressão do manguito. Caso haja uma pequena diferença entre os valores obtidos com a insuflação (desaparecimento do pulso) e com a desinsuflação (reaparecimento do pulso) do manguito, o observador deverá considerar a média dos dois valores obtidos. Esta técnica deve ser utilizada, sempre, precedendo o método esfigmomanométrico auscultatório, pois ela vai indicar ao observador o nível suficiente de pressão que, aplicado ao manguito, permitirá medir a PA sem causar desconforto ao indivíduo. O método esfigmomanométrico auscultatório permite o registro das pressões arteriais sistólica e diastólica. Com o auxílio de um estetoscópio, este método utiliza a primeira (sons claros) e a quinta (silêncio) fases dos sons de Korotkoff. A Figura 32.21 ilustra o método esfigmomanométrico auscultatório de medida da PA por meio de uma coluna de mercúrio. Com este método,assim como no método palpatório, a insuflação do manguito posicionado ao redor do braço colaba a artéria braquial, interrompendo o fluxo sanguíneo, assim que a pressão do manguito se torna maior que a pressão arterial sistólica do indivíduo. Após a oclusão da artéria braquial, a desinsuflação gradual do manguito, e, consequentemente, a redução da pressão exercida pelo mesmo sobre a artéria braquial, permitirão o retorno do fluxo sanguíneo, quando a pressão do manguito for imediatamente menor que a PA sistólica, gerando, assim, um som claro (1a fase do som de Korotkoff), auscultado por meio do estetoscópio, o qual permitirá ao observador ler, na coluna de mercúrio ou no esfigmomanômetro aneroide, o valor da pressão arterial sistólica. Vale destacar que este som que surge com o início da passagem do sangue pela artéria braquial, ainda parcialmente ocluída, se deve ao caráter turbilhonar do fluxo sanguíneo. A seguir, com a redução da pressão do manguito, e a concomitante desoclusão da artéria braquial, o fluxo sanguíneo aumenta, gradualmente, assim como o turbilhonamento, produzindo ruídos mais altos, até o momento em que a artéria braquial retoma seu diâmetro original; então, o turbilhonamento cessa, e os ruídos se abafam e desaparecem em seguida. O desaparecimento dos sons de Korotkoff (5a fase representada pelo silêncio) marca a transição do fluxo turbilhonar para laminar, indicando que a pressão exercida pelo manguito se igualou à pressão arterial diastólica, pois a artéria restabeleceu, completamente, seu diâmetro original. Referências AIRES, M.M. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 SILVERTHORN, D.U. Fisiologia humana : uma abordagem integrada. 7 ed. Porto Alegre: ARTMED, 2017.
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