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Consciência 
O ser humano contemporâneo tem se tornado cada vez mais consciente da dignidade 
da pessoal humana; mais e mais pessoas afirmam que os seres humanos devem ser 
capazes de exercer plenamente seu juízo e sua liberdade responsável nas suas ações e 
não devem ser passíveis da pressão de coerção, mas inspirados no sentido de 
responsabilidade. 
 
Breve apresentação histórica da compreensão de consciência 
Agostinho de Hipona afirma que a consciência é o espaço mais profundo de encontro 
entre Deus e o ser humano e, portanto, o espaço onde se escuta a voz de Deus (a voz do 
que se deve ou não fazer). Para o Padre da Igreja, consciência é mais que razão; trata-
se de um chamado pessoal entendido dentro do contexto do plano divino. 
 
Durante a Escolástica Medieval, a consciência não era considerada separada da 
faculdade moral do ser humano, mas uma instância particular da operação da razão. 
Consciência é o processo, no qual normas gerais da lei moral são aplicadas a uma ação 
concreta que a pessoa está por performar (consciência antecedente) ou já performou 
(consciência consequente). 
 
Atualmente, se compreende consciência como a percepção íntima e profunda que o ser 
humano tem de si mesmo, uma percepção que é distinta da razão e da vontade. Trata-
se do centro do ser humano que o permite compreender seu sentido/ propósito no 
mundo e na vida e como, historicamente, responderá a esse propósito. 
 
Podemos dizer, portanto, que consciência pode ser definida como a faculdade pela qual 
o ser humano conhece o que deve fazer e que o impulsiona para a realização do que 
deve fazer (obrigações éticas e morais). 
 
Ditados da consciência 
Quando a faculdade moral formula um juízo, isso é chamado de ditado da consciência. 
Mais que uma razão especulativa, o ditado da consciência sempre está associado à 
prática concreta do ser humano no mundo, tanto que na maioria das vezes esse ditado 
não se expressa mediante um julgamento reflexivo, mas espontâneo. 
 
Entretanto, há momentos em que os ditados da consciência devem se expressar mais 
claramente: são os momentos de dúvida, resistência e, por que não, desobediência. 
 
Há dois elementos que devem ser considerados em relação aos ditados da consciência: 
- o julgamento da moralidade de uma ação concreta (a se performar ou performada, a 
se omitir ou omitida), este julgamento pode ser equivocado; 
- a ordem ou obrigação que dada uma vez que a ação que deve ser performada é 
conhecida e reconhecida como boa ou como ruim, este é o julgamento categórico. 
 
 
Desenvolvimento da consciência 
Muitas vezes se confunde consciência com o superego freudiano; algumas diferenças 
entre ambos: 
 
Superego Consciência 
Busca ser amado e aprovado por alguém 
(falta de autoestima) 
Convida ao amor; está orientado à 
criatividade e se apoia no valor próprio 
Introvertido Extrovertido 
Estático (não aprende, nem cresce; só 
repete) 
Dinâmico (desperto e sensível para 
valores alheios) 
Orientado, se não determinado, pela 
figura da autoridade 
Orientado por valores 
Atomizado (as ações não são vistas em 
conjunto) 
Ações individuais são entendidas como 
parte de um processo 
Direcionado ao passado Direcionado ao futuro 
Quando erra, exige punição Busca a reparação da falta cometida com 
a perspectiva de reestruturação futura 
Transita entre um isolamento severo e o 
sentimento de culpa para o “autovalor” 
só por ter confessado a sua culpa 
Tem um sentido aguçado para o processo 
de crescimento moral 
Não estabelece uma proporção 
adequado entre a culpa experimentada e 
a matéria, em que se errou, em questão 
Capaz de estabelecer a proporção 
adequada entre o erro e a matéria na qual 
se equivocou 
 
O superego freudiano é um princípio pré-pessoal de censura e controle. É fundamental 
durante o desenvolvimento do ser humano, especialmente na infância; porém, na idade 
adulta se espera que o ser humano já não opere somente pelos ordenamentos de seu 
superego, mas movido pela consciência. 
 
O processo de desenvolvimento da consciência se dá na dinâmica identidade-alteridade, 
isto é, quando o ser humano é capaz de reconhecer a autonomia do outro em relação a 
si mesmo e enxerga no outro os limites de sua ação. O outro não é visto como mero 
“objeto” a ser conhecido, mas como sujeito livre que não cerce a ação do “eu”, mas 
possibilita a formação de sua identidade. 
 
Não é possível afirmar quando uma pessoa tem sua consciência plenamente formada – 
é um esforço constante que dura toda a vida. 
 
Níveis de consciência 
Basicamente, podemos falar de três níveis de consciência: 
- nível 01: juízo prático da razão sobre a moralidade de uma ação concreta; 
- nível 02: consciência é mais que o conhecimento generalizado sobre o que é certo ou 
errado, o que é bom ou ruim; permite à pessoa conhecer suas obrigações morais; 
- nível 03: consciência é o modo fundamental de percepção de si mesmo, percepção de 
ser consigo mesmo. Trata-se do “núcleo mais secreto e o santuário do ser humano” (GS 
16). 
 
Relação entre consciência e controle de nossos atos 
Quando afirmamos que uma consciência é uma percepção de si mesmo profundamente 
assentada, estamos falando que o ser humano é capaz de autocontrole. A norma, com 
a qual nosso comportamento será cotejado, está dentro de nós mesmos. O ser do ser 
humano é moral porque ele é livre e pode determinar sua própria vida e o controle de 
suas ações. 
 
A consciência convoca o ser humano a ser plenamente humano, porque ele sabe que 
deve fazer o bem e rechaçar o mal (nível 01). Ele é obrigado a atuar de acordo com seu 
melhor juízo moral sobre bondade e maldade inerente a uma ação. Ainda que o juízo 
seja equivocado (contingências), o ser humano está obrigado a atuar de acordo com 
esse juízo porque naquele momento do juízo, esse era o melhor possível – é o que se 
chama de fidelidade à consciência. 
 
O ser humano é obrigado a ser consciencioso no momento de fazer juízos, isto é, tomar 
decisões com conhecimento. 
 
Primazia da consciência 
Consciência é suprema norma moral do sujeito. É correto quando o que a consciência 
dita corresponde a uma ordem moral objetiva e errado quando há falha nesse processo. 
 
Com relação à consciência errônea, é preciso corrigi-la sobretudo superando o pouco 
cuidado pela verdade (ignorância) e a falta de perspectivas da vida proporcionada pelos 
vícios. É mister purificar o ser humano da negligência, quanto mais as pessoas e os 
grupos humanos se afastam de escolhas cegas, mais corretos serão os juízos morais e a 
apreciação da objetividade das ações. 
 
As consequências da primazia da consciência são: 
- a pessoa não pode impedida de forma sua própria consciência; 
- crianças e pessoas simples não pode ser escandalizadas, mas instruídas; 
- se alguém atua de acordo com sua consciência, mesmo cometendo erros, ele não pode 
ser tratado como uma pessoa má; 
- todos têm o direito de atuar de acordo com uma sincera persuasão e não podem ser 
coagidos para atuar contra essa persuasão; 
- é imoral levar alguém a cometer um ação moralmente má com o pretexto de que ele 
estaria atuando de boa fé por causa de uma consciência errônea; 
- é ilícito induzir outra pessoa a atuar contra sua consciência. 
 
A consciência laxa 
A consciência laxa é inclinada a atuar com fundamento insuficientes, a julgar o que é 
ruim como algo bom (moralmente positivo) e a considerar um erro leve quando na 
verdade é grave. 
 
Uma pessoa de consciência não encara a gravidade de seus atos por ter um 
conhecimento pouco iluminado ou simplesmente por frivolidade. 
 
A consciência duvidosa 
Sempre há dúvida de consciência quando há razões suficientes para se atuar tanto de 
uma forma como de outra; não haveria critérios objetivos para julgar a moralidade de 
uma ação. 
 
- dúvida de lei: refere-se à existência (lei positiva) ou o significado (interpretação da lei) 
de uma obrigação moral; 
- dúvida de fato: refere-se à existência do fato; 
- dúvida especulativa: refere-se aos princípios éticosque devem ser aplicados em uma 
ação concreta; 
- dúvida prática: refere-se ao que deve ser feito aqui e agora (há uma regra de ouro com 
relação à dúvida prática: em caso de dúvida imediata, nunca atuar; a prudência deve ser 
observada). 
 
 
A consciência escrupulosa 
Escrúpulos é uma dolorosa condição sob a qual pessoas sofrem porque não incapazes 
de controlar o medo diante da legitimidade de uma ação que deve ser performada ou 
que ela já performou. A pessoa escrupulosa é incapaz de decidir sobre si mesmo. 
 
Ainda que na atualidade, sabemos que as causas dos escrúpulos é uma condição 
psíquica, não podemos deixar de lado o peso que os esquemas religiosos têm na 
formação de pessoas escrupulosas. Trata-se de uma forma de neurose que se expressa 
em extrema ansiedade no que se refere à moralidade de uma ação. 
 
A pessoa escrupulosa é inclinada a examinar seus atos constantemente e sempre 
encontrar brechas para se considerar culpada. Essa culpabilidade extrema se expressa 
mediante o pedido constante de desculpas e a insistência em “ritos de purificação”. Na 
maioria das vezes a consciência se encontra paralisada. 
 
Alguns fatores ambientais que podem ser decisivos para a formação de uma consciência 
escrupulosa: ambientes religiosos fundamentalistas, superproteção paterna ou 
materna, abusos sexuais e de autoridade. O caminho para a cura de uma consciência 
assim é longo e, também, doloroso, porque exige a superação de traumas passados (e 
equívocos de interpretação!) e a aquisição de atitudes positivas com relação à vida.

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