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O seu único contato era com o homem que o alimentava apenas com pão e água. A única palavra que pronunciava era “cavalo”, visto que ele possuía em seu confinamento um cavalo de ma- deira que era seu objeto de diversão. O homem que o alimentava, já o pre- parando para a sua liberdade, ensi- nou-lhe a escrever o seu nome e a repetir uma única frase: “devo me tor- nar tão bom cavaleiro quanto foi meu pai”. Kaspar Hauser viveu no século XIX, provavelmente Desta forma, Kaspar Hauser, vivendo entre 1812 a 1833. no isolamento e amarrado, não apren- deu a andar, falar (ele emitia sons co- Kaspar Hauser a maior par- mo um animal) ou escrever. Ele não te da sua vida, viveu aprisi- conhecia qualquer coisa que estivesse onado e isolado em um cu- fora do seu confinamento. bículo, além uma cinta amarrada em sua cintura e presa ao chão, de forma que o impossibilitava de ficar de pé, e sem contato com a existência fora de sua cela. 2 Em 1828, provavelmente com 16 anos, derada uma ciência jovem com um o homem o liberta do seu confinamen- novo método de observação e análise to em sua cela. para estudar o homem. Ao mesmo tempo, o homem era o pesquisador e Para isso ensina-lhe a dar os primeiros o objeto de estudo. A Antropologia se passos como se fosse uma criança interessou pelo estudo das diferenças aprendendo a andar. Depois o deixa do outro, da alteridade. Os povos que em uma praça na cidade de Nurem- não estavam dentro dos padrões eu- bergue (Alemanha) com uma carta. ropeus e americanos eram considera- dos “primitivos”, atrasados e deveriam ser estudados e catequizados para que pudessem evoluir de acordo com a visão e padrão europeu e americano. Certamente, Kaspar Hauser, represen- tou um laboratório de pesquisa, um campo de estudo fértil para aquele povo que passou a ser responsável pela sua socialização. Essa carta, destinada ao oficial da guarda relatava a sua história, pedindo para que cuidasse dele e o transfor- masse em um cavaleiro. Nesse mo- mento inicia-se o processo de sociali- zação de Kaspar Hauser. A sociedade que o recebeu, o viu com estranheza sendo inclusive exposto como atração popular. E Kaspar Hau- ser também viu essa sociedade com absoluta estranheza, tudo era novo, visto que o mundo em que viveu confi- nado, não existia quase nada do que No século XIX, a Antropologia havia ele encontrou em sua nova vida. As surgido há pouco tempo, sendo consi- 3 coisas mais simples eram desconheci- vendo com aquela sociedade, ele co- das para ele: as formas, as dimen- meçou a entender e assimilar as rela- sões, os animais, as pessoas, a comi- ções sociais, o conjunto de hábitos e da, o pensamento, a fala, a escrita. Ele costumes daquele povo. Desenvolveu se sentia frágil e impotente diante da a escrita, a linguagem e novos hábitos sua nova realidade, difícil de ser com- alimentares. Apresentou uma capaci- preendida dentro do que desejavam dade de aprendizado (plasticidade) que ele assimilasse. que surpreendeu a muitas pessoas. Desenvolveu maiores habilidades para Algumas vezes, o próprio Kaspar Hau- música, tricô e jardinagem, mas não ser admitia que jamais seria como uma conseguiu compreender algumas con- pessoa igual àqueles que agora o cer- venções daquela sociedade como a cavam. Ele chegou à cidade de Nu- ciência, a religião e alguns fatores so- rembergue despido de qualquer in- ciais como o trabalho destinado às fluência cultural e por isso era como mulheres. Chegou mesmo a criar ca- John Locke descreveu: “o homem é pacidade para criticar esses pontos. uma folha de papel em branco que aos poucos vai sendo preenchida.” O filme mostra que a socialização, a humanização não é um acontecimento Para Locke nada é inato, natural da espécie humana e sim um mas adquirido. processo de aprendizagem da cultura em que estamos inseridos. É o pro- cesso da endoculturação onde a aprendizagem de uma cultura inicia-se com a assimilação de valores e expe- riências desde o nascimento até a morte de um indivíduo. As pessoas agem cada vez mais de acordo com forma que é ou lhe foi ensinada. Kaspar Hauser através da endocultu- ração foi se socializando, perdendo as suas características iniciais (instinto animal) e sendo preenchido pelas no- vas características sociais e culturais, Corroborando com Locke, a história de deixando de ser um “primitivo” para ser Kaspar Hauser demonstra claramente um “civilizado”. a sua teoria. Após algum tempo convi- 4 O filme mostra claramente que Kaspar Hauser, apesar de toda mudança em sua vida, não estava feliz. Sentia-se diferente, anormal, objeto de estudo naquela sociedade e sua vida era marcada pela sensação da rejeição. Na lápide de Kaspar Hauser na Ale- manha, existe a seguinte inscrição: “Aqui jaz um desconhecido assassina- do por um desconhecido”. Independe de ter sido assassinado ou suicidado, a frase é o melhor resumo para retra- tar a vida e a morte de mistérios deste homem. A sua morte em 1833 não foi explica- da. Será que ele foi mesmo assassi- nado ou não suportou a pressão a que foi submetido com tantas novidades a serem assimiladas, pela estranheza que causava nas pessoas e suicidou- se com apenas 21 anos de idade? Com relação ao teste lógico das aldei- as dos mentirosos e dos sinceros, a seguir um similar para compreensão: 5 Teste lógico: Você nheiro diria ser a porta da liberdade. Portanto, está numa cela é só seguir pela outra porta. onde existem duas portas, cada uma vigiada por um guarda. Existe uma porta que dá para a liberdade, e outra para a morte. Você está livre para escolher a porta que quiser e por ela sair. Poderá fazer apenas uma pergunta a um dos dois guardas que vigiam as portas. Um dos guardas sempre fala a verdade, e o outro sempre mente e você não sabe quem é o mentiroso e quem fala a verdade. Que pergunta você faria? Com certeza, Kaspar Hauser no filme apresen- tou uma pergunta para a solução da lógica proposta muito melhor, mais simples e objeti- va. Ele não tentou complicar, mas sim solucio- nar. Resposta: Pergunte a qualquer um deles: Qual a porta que o seu companheiro apontaria como sendo a porta da liberdade? Explicação: O mentiroso apontaria a porta da morte como sendo a porta que o seu compa- nheiro (o sincero) diria que é a porta da liber- dade, já que se trata de uma mentira da afir- Fontes: mação do sincero. E o sincero, sabendo que http://pt.wikipedia.org/wiki/Endocultura%C3%A seu companheiro sempre mente, diria que ele 7%C3%A3o apontaria a porta da morte como sendo a porta http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103- da liberdade. 65642001000200007&script=sci_arttext http://www.youtube.com/watch?v=2m0GVRpl5 Conclusão: Os dois apontariam a porta da dA morte como sendo a porta que o seu compa-
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