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2011_05_08 Antropologia

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O seu único contato era com o homem 
que o alimentava apenas com pão e 
água. A única palavra que pronunciava 
era “cavalo”, visto que ele possuía em 
seu confinamento um cavalo de ma-
deira que era seu objeto de diversão. 
 
O homem que o alimentava, já o pre-
parando para a sua liberdade, ensi-
nou-lhe a escrever o seu nome e a 
repetir uma única frase: “devo me tor-
 
nar tão bom cavaleiro quanto foi meu 
pai”. 
Kaspar Hauser viveu no 
século XIX, provavelmente 
Desta forma, Kaspar Hauser, vivendo 
entre 1812 a 1833. 
no isolamento e amarrado, não apren-
deu a andar, falar (ele emitia sons co-
Kaspar Hauser a maior par-
mo um animal) ou escrever. Ele não 
te da sua vida, viveu aprisi-
conhecia qualquer coisa que estivesse 
onado e isolado em um cu-
fora do seu confinamento. 
bículo, além uma cinta amarrada em 
sua cintura e presa ao chão, de forma 
que o impossibilitava de ficar de pé, e 
sem contato com a existência fora de 
sua cela. 
 
2 
 
Em 1828, provavelmente com 16 anos, 
derada uma ciência jovem com um 
o homem o liberta do seu confinamen-
novo método de observação e análise 
to em sua cela. 
para estudar o homem. Ao mesmo 
tempo, o homem era o pesquisador e 
Para isso ensina-lhe a dar os primeiros 
o objeto de estudo. A Antropologia se 
passos como se fosse uma criança 
interessou pelo estudo das diferenças 
aprendendo a andar. Depois o deixa 
do outro, da alteridade. Os povos que 
em uma praça na cidade de Nurem-
não estavam dentro dos padrões eu-
bergue (Alemanha) com uma carta. 
ropeus e americanos eram considera-
dos “primitivos”, atrasados e deveriam 
ser estudados e catequizados para 
que pudessem evoluir de acordo com 
a visão e padrão europeu e americano. 
Certamente, Kaspar Hauser, represen-
tou um laboratório de pesquisa, um 
campo de estudo fértil para aquele 
povo que passou a ser responsável 
 
pela sua socialização. 
Essa carta, destinada ao oficial da 
guarda relatava a sua história, pedindo 
para que cuidasse dele e o transfor-
masse em um cavaleiro. Nesse mo-
mento inicia-se o processo de sociali-
zação de Kaspar Hauser. 
 
A sociedade que o recebeu, o viu com 
estranheza sendo inclusive exposto 
como atração popular. E Kaspar Hau-
ser também viu essa sociedade com 
absoluta estranheza, tudo era novo, 
 
visto que o mundo em que viveu confi-
nado, não existia quase nada do que 
No século XIX, a Antropologia havia 
ele encontrou em sua nova vida. As 
surgido há pouco tempo, sendo consi-
3 
 
coisas mais simples eram desconheci-
vendo com aquela sociedade, ele co-
das para ele: as formas, as dimen-
meçou a entender e assimilar as rela-
sões, os animais, as pessoas, a comi-
ções sociais, o conjunto de hábitos e 
da, o pensamento, a fala, a escrita. Ele 
costumes daquele povo. Desenvolveu 
se sentia frágil e impotente diante da 
a escrita, a linguagem e novos hábitos 
sua nova realidade, difícil de ser com-
alimentares. Apresentou uma capaci-
preendida dentro do que desejavam 
dade de aprendizado (plasticidade) 
que ele assimilasse. 
que surpreendeu a muitas pessoas. 
Desenvolveu maiores habilidades para 
Algumas vezes, o próprio Kaspar Hau-
música, tricô e jardinagem, mas não 
ser admitia que jamais seria como uma 
conseguiu compreender algumas con-
pessoa igual àqueles que agora o cer-
venções daquela sociedade como a 
cavam. Ele chegou à cidade de Nu-
ciência, a religião e alguns fatores so-
rembergue despido de qualquer in-
ciais como o trabalho destinado às 
fluência cultural e por isso era como 
mulheres. Chegou mesmo a criar ca-
John Locke descreveu: “o homem é 
pacidade para criticar esses pontos. 
uma folha de papel em branco que aos 
poucos vai sendo preenchida.” 
O filme mostra que a socialização, a 
humanização não é um acontecimento 
Para Locke nada é inato, 
natural da espécie humana e sim um 
mas adquirido. 
processo de aprendizagem da cultura 
em que estamos inseridos. É o pro-
cesso da endoculturação onde a 
aprendizagem de uma cultura inicia-se 
com a assimilação de valores e expe-
riências desde o nascimento até a 
morte de um indivíduo. As pessoas 
agem cada vez mais de acordo com 
forma que é ou lhe foi ensinada. 
Kaspar Hauser através da endocultu-
ração foi se socializando, perdendo as 
suas características iniciais (instinto 
 
animal) e sendo preenchido pelas no-
vas características sociais e culturais, 
Corroborando com Locke, a história de 
deixando de ser um “primitivo” para ser 
Kaspar Hauser demonstra claramente 
um “civilizado”. 
a sua teoria. Após algum tempo convi-
4 
 
 
O filme mostra claramente que Kaspar 
Hauser, apesar de toda mudança em 
sua vida, não estava feliz. Sentia-se 
diferente, anormal, objeto de estudo 
naquela sociedade e sua vida era 
 
marcada pela sensação da rejeição. 
Na lápide de Kaspar Hauser na Ale-
manha, existe a seguinte inscrição: 
“Aqui jaz um desconhecido assassina-
do por um desconhecido”. Independe 
de ter sido assassinado ou suicidado, 
a frase é o melhor resumo para retra-
 
tar a vida e a morte de mistérios deste 
homem. 
A sua morte em 1833 não foi explica-
da. Será que ele foi mesmo assassi-
nado ou não suportou a pressão a que 
foi submetido com tantas novidades a 
serem assimiladas, pela estranheza 
que causava nas pessoas e suicidou-
se com apenas 21 anos de idade? 
 
 
Com relação ao teste lógico das aldei-
as dos mentirosos e dos sinceros, a 
seguir um similar para compreensão: 
5 
 
Teste lógico: Você 
nheiro diria ser a porta da liberdade. Portanto, 
está numa cela 
é só seguir pela outra porta. 
onde existem duas 
portas, cada uma 
vigiada por um 
guarda. Existe uma 
porta que dá para a 
liberdade, e outra 
para a morte. Você está livre para escolher a 
porta que quiser e por ela sair. Poderá fazer 
apenas uma pergunta a um dos dois guardas 
que vigiam as portas. Um dos guardas sempre 
fala a verdade, e o outro sempre mente e você 
 
não sabe quem é o mentiroso e quem fala a 
verdade. Que pergunta você faria? 
Com certeza, Kaspar Hauser no filme apresen-
tou uma pergunta para a solução da lógica 
proposta muito melhor, mais simples e objeti-
va. Ele não tentou complicar, mas sim solucio-
nar.
 
 
Resposta: Pergunte a qualquer um deles: 
Qual a porta que o seu companheiro apontaria 
como sendo a porta da liberdade? 
 
Explicação: O mentiroso apontaria a porta da 
 
morte como sendo a porta que o seu compa-
nheiro (o sincero) diria que é a porta da liber-
dade, já que se trata de uma mentira da afir-
Fontes: 
mação do sincero. E o sincero, sabendo que 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Endocultura%C3%A
seu companheiro sempre mente, diria que ele 
7%C3%A3o
 
apontaria a porta da morte como sendo a porta 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
da liberdade. 
65642001000200007&script=sci_arttext
 
http://www.youtube.com/watch?v=2m0GVRpl5
Conclusão: Os dois apontariam a porta da 
dA
 
morte como sendo a porta que o seu compa-

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