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Belo Horizonte 2018 ANDRÉ FERNANDES FERREIRA GOMES UM ESTUDO DE TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS DOS AÇOS IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES DA NITRETAÇÃO A GÁS Belo Horizonte 2018 UM ESTUDO DE TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS DOS AÇOS IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES DA NITRETAÇÃO A GÁS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Pitágoras BH Barreiro, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Engenharia Mecânica. Orientador: Haustin Stelmastchuk Vieira ANDRÉ FERNANDES FERREIRA GOMES ANDRÉ FERNANDES FERREIRA GOMES UM ESTUDO DE TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS DOS AÇOS IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES DA NITRETAÇÃO A GÁS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Pitágoras BH Barreiro, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Engenharia Mecânica. BANCA EXAMINADORA Prof (a). Titulação Nome do Professor (a) Prof (a). Titulação Nome do Professor (a) Prof (a). Titulação Nome do Professor (a) Belo Horizonte, 19 de junho de 2018. Dedico este trabalho a minha mãe, guerreira, e a minha filha, minha maior inspiração. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, a minha mãe Eva Ferreira, a minha filha Tainá Tábata, ao parceiro Anderson Rodrigues, aos amigos de tantas turmas que foram capazes de conviver com as mais variadas dificuldades e superá-las não deixando que as mesmas sejam capazes de nos fazer desistir e parar pelo caminho, a cada um e a todo corpo docente da Faculdade Pitágoras que dedicaram seu tempo a me proporcionar caráter no processo da minha formação profissional, em especial aos Mestres Flaudilenio Lima e Arian Guedes, exemplos de comprometimento e profissionalismo. Agradeço ao Daniel Cota da empresa Nitretos, pelos materiais e informações fornecidas. A todos, os meus mais sinceros agradecimentos. GOMES, André Fernandes Ferreira. Tratamentos termoquímicos dos aços: importância e aplicações da nitretação a gás. 2018. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação Engenharia Mecânica) – Faculdade Pitágoras, Belo Horizonte, 2018. RESUMO Os tratamentos térmicos e termoquímicos são amplamente empregados na indústria em diversos seguimentos, a fim de melhorar as propriedades dos aços e assegurar um maior desempenho e aumento da vida útil dos componentes. Os tratamentos termoquímicos consistem em modificar a composição química superficial das peças ou de partes das peças, aumentando a dureza, resistência a abrasão, corrosão, fadiga e ao desgaste. Existem diversos tipos de tratamentos termoquímicos empregados nesse sentido, com características e limitações próprias. Nesse sentido, o trabalho teve por objetivo realizar uma revisão de literatura aprofundada sobre o tema, apresentando os tratamentos termoquímicos, e em especial a nitretação, apresentando seus principais processos e as aplicações da nitretação a gás. Esse estudo permitiu vislumbrar os diferentes tratamentos superficiais existentes, como: cementação sólida, cementação líquida, cementação gasosa, cementação a plasma, nitretação, cianetação, carbonitretação e boretação. Foi possível perceber as características, limitações e aplicações de cada processo. Em seguida foi tratado sobre o processo de nitretação, apresentando os processos a gás, líquido e a plasma, onde foi possível verificar que a nitretação a gás difere da líquida essencialmente em função da dureza das camadas nitretadas, que geralmente são mais elevadas. Também foi possível perceber que a nitretação a plasma é mais eficiente que as outras técnicas de nitretação, com tempo e temperaturas de processos menores, bem como maior controle sobre a composição química e profundidade das camadas. No entanto, ela é um processo mais oneroso e requer maior conhecimento técnico e experiência por parte do profissional, o que faz com que ela não esteja tão difundida no mercado. Por fim, foram vistos os principais aços empregados no processo de nitretação, como os aços Nitralloy, que são os compostos por elementos de liga, como: cromo, alumínio e molibdênio, e os aços baixo carbono, e aços inoxidáveis. Também foram vistos os principais componentes que empregam a nitretação a gás, como: eixos e virabrequins, engrenagens, pinos e chavetas, parafusos e anéis de pistão. E como a nitretação influi no aumento da resistência e vida útil desses componentes. Palavras-chave: Tratamentos termoquímicos; Tratamentos de superfície; Nitretação, Nitretação a gás; Nitretação líquida; Nitretação a plasma. GOMES, André Fernandes Ferreira. Thermochemical treatments of steels: importance and applications of gasnitriding. 2018. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação Engenharia Mecânica) – Faculdade Pitágoras, Belo Horizonte, 2018. ABSTRACT The thermal treatments and thermochemical are widely used in industry in various segments, in order to improve the properties of steels and ensure a better performance and increase the lifetime of the components. Thermochemical treatments consist in modifying the superficial chemical composition of parts or parts of parts, increasing the hardness, resistance to abrasion, corrosion, fatigue and wear. There are several types of treatments thermochemical employees in this direction, with its own characteristics and limitations. In this sense, the study aimed to conduct a thorough review of the literature on the subject, presenting the thermochemical treatments and, in particular, the nitration, presenting their main processes and applications of gas nitriding. This study allowed us to glimpse the different surface treatments, such as cementing existing: solid, liquid, gaseous carburizing carburizing, cementing the plasma nitriding, cyanidation, carbonitriding and boriding. It was possible to perceive the characteristics, limitations and applications of each process. Then was treated on the process of nitriding, presenting the processes the gas, liquid and the plasma, where it was possible to verify that the gas nitriding differs from essentially net depending on the hardness of nitretadas layers, which are generally higher. It was also possible to realize that the plasma nitriding is more efficient than other techniques of nitriding with time and temperatures of minor processes, as well as greater control over the chemical composition and depth of layers. However, it is a process more expensive and requires greater technical knowledge and experience on the part of the professional, which means that it is not so widespread on the market. Finally, were seen the main steels employed in the process of nitriding, as Nitralloy steels, which are composed of alloy elements, such as: aluminum, chromium and molybdenum, and low-carbon steels and stainless steels. Were also seen the major components that employ the gas nitriding, such as: axles and crankshafts, gears, splines and pins, screws and piston rings. And as the nitriding influences the increase in resistance and useful life of these components. Key-words: Thermochemical treatments; Surface treatments; Nitriding; Gas nitriding; Liquid nitriding, Plasma nitriding. https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/of https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/importance https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/and https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/of https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/gas https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/surface https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/gas https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/liquid https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/plasmaLISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Principais tratamentos termoquímicos ..................................................... 15 Figura 2 – Processo de cementação ........................................................................ 16 Figura 3 – Aspecto de uma engrenagem depois de passar pelo processo de cementação ............................................................................................................... 17 Figura 4 – Processo de cementação sólida .............................................................. 17 Figura 5 – Efeito da temperatura e tempo de cementação ....................................... 18 Figura 6 – Processo de cementação líquida............................................................. 19 Figura 7 – Lote de componentes preparados para cementação a plasma ............... 21 Figura 8 – Filete de rosca cianetado: peça atacada com Nital a fim de apresentar melhor sua microestrutura ......................................................................................... 22 Figura 9 – Peça carbonitretada ................................................................................ 23 Figura 10 – Matrizes para trefilação boretadas ........................................................ 24 Figura 11 – Aço AISI 4340 temperado, revenido e nitretado .................................... 25 Figura 12 – Dissociação da amônia em nitrogênio e absorção pelo aço .................. 26 Figura 13 – Influência do tempo de nitretação a gás sobre a espessura da camada nitretada .................................................................................................................... 27 Figura 14 – Microestrutura do aço AISI 1015 nitretado por meios gasosos ............. 27 Figura 15 – Esquema típico do processo de nitretação a gás .................................. 28 Figura 16 – Forno elétrico de cadinho para nitretação em banhos de sais .............. 30 Figura 17 – Microestrutura do aço carbono nitretado por banho líquido .................. 30 Figura 18 – Mecanismo de nitretação a plasma ....................................................... 31 Figura 19 – Reator de nitretação a plasma .............................................................. 32 Figura 20 – Esquema de um forno de nitretação a plasma típico ............................. 33 Figura 21 – Espessura das camadas nitretadas: nitretação gasosa e nitretação plasma ....................................................................................................................... 33 Figura 22 – Curvas referentes à relação espessura da camada por tempo de operações dos diferentes processos de nitretação ................................................... 34 Figura 23 – Virabrequim nitretado a gás .................................................................. 38 Figura 24 – Engrenagem M8 Z15 nitretada .............................................................. 39 Figura 25 – Gradiente de dureza de engrenagem de aço nitralloy 135 M nitretada e engrenagem de aço SAE 8620 cementada e temperada .......................................... 39 Figura 26 – Pino extrator tipo B 8694 de aço prata nitretado ................................... 40 Figura 27 – Parafuso sextavado ANSI B18.2.1 nitretado ......................................... 41 Figura 28 – Células de potência típicas com os anéis do pistão .............................. 41 Figura 29 – Anel de pistão da primeira canaleta composto de aço nitretado ........... 42 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Composição de banhos de sal para cementação líquida ........................ 20 Tabela 2 – Sais comumente empregados na nitretação líquida ............................... 29 Tabela 3 – Efeitos dos elementos de liga em relação à formação de nitretos .......... 35 Tabela 4 – Propriedades mecânicas dos principais aços nitralloy ............................ 36 Tabela 5 – Classificação dos aços comumente utilizados ........................................ 37 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 13 2 TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS ............................................................ 15 2.1 CEMENTAÇÃO .............................................................................................. 16 2.1.1 Cementação sólida ......................................................................................... 17 2.1.2 Cementação gasosa ....................................................................................... 19 2.1.3 Cementação líquida ........................................................................................ 19 2.1.4 Cementação a plasma .................................................................................... 20 2.2 NITRETAÇÃO ................................................................................................. 21 2.3 CIANETAÇÃO ................................................................................................ 22 2.4 CARBONITRETAÇÃO .................................................................................... 23 2.5 BORETAÇÃO ................................................................................................. 24 3 TIPOS DE NITRETAÇÃO ............................................................................... 25 3.1 NITRETAÇÃO A GÁS ..................................................................................... 26 3.2 NITRETAÇÃO LÍQUIDA .................................................................................. 29 3.3 NITRETAÇÃO A PLASMA .............................................................................. 31 4 APLICAÇÕES DA NITRETAÇÃO A GÁS ..................................................... 35 4.1 AÇOS PARA NITRETAÇÃO ........................................................................... 35 4.2 EIXOS E VIRABREQUINS .............................................................................. 37 4.3 ENGRENAGENS ............................................................................................ 38 4.4 PINOS E CHAVETAS ..................................................................................... 40 4.5 PARAFUSOS .................................................................................................. 40 4.6 ANÉIS DE PISTÃO ......................................................................................... 41 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 43 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 45 13 1 INTRODUÇÃO Os tratamentos térmicos e de superfícies dos aços são amplamente utilizados nas indústrias desde o início do século, com o intuito de melhorar a resistência mecânica, resistência a corrosão, fadiga, abrasão e desgaste, aumentando a vida útil de peças e maquinários. A evolução dos tratamentos superficiais proporcionou o desenvolvimento de propriedades que anteriormente só eram possíveis através de conformação mecânica ou tratamentos térmicos da peça inteira (COLPAERT, 2008). Peças como engrenagens, por exemplo, necessitam de um núcleo tenaz a fim de resistir aos esforços mecânicos e uma superfície dura, a fim de resistir aos atritos decorrentes das suas condições de trabalho. Nesse sentido, podem ser feitos tratamentos superficiais, a fim de manter a integridade do núcleo e melhorar a resistência superficial da peça (QUEIROZ, 2014). Existem diversos tipos de tratamentos termoquímicos, dentre os quais se destacam: Boretação, Cementação, Cianetação, Nitretação e Carbonitretação. Cada qual com características e aplicações distintas, conferindo propriedades específicas ao material (CHIAVERINI, 2015). Dentre esses tratamentos a Nitretação é uma das mais empregadas e com maior maturidadeno mercado, podendo ser aplicada aos ferros fundidos, aços carbonos, aços inoxidáveis e aços ligados. Sendo realizado através do processo á gás, líquida ou a plasma, conferindo ao material alta resistência a corrosão, desgaste e fadiga (DENARDI e ELIAS, 2013). Nesse sentido, o trabalho definiu como problema de pesquisa averiguar quais os principais tipos de tratamentos termoquímicos e qual a importância e aplicações da Nitretação, em especial a Nitreção a gás para a fabricação de peças? O objetivo geral do trabalho foi realizar uma revisão de literatura aprofundada acerca dos tratamentos termoquímicos, dando uma atenção especial ao processo de Nitretação, demonstrando seus principais tipos, e as algumas aplicações da Nitretação a gás. Para tanto, foram traçados três objetivos específicos. • Conceituar e demonstrar alguns dos principais tipos de tratamentos termoquímicos; • Descrever os processos de Nitretação; e 14 • Elencar alguns aços empregados na nitretação e algumas das principais aplicações da Nitretação a gás, ressaltando sua importância para a fabricação de peças. A pesquisa realizada nesse trabalho se tratou de uma Revisão de Literatura, de natureza exploratória e descritiva, na qual foi realizada uma consulta a teses, monografias, dissertações, artigos científicos, apostilas e livros, a fim de compreender os conceitos relacionados aos tratamentos termoquímicos, suas características, aplicações e sua importância para Engenharia. Foram consultados os referencias teóricos disponibilizados por entidades como: a ABM (Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração), Villares Metals, Gerdau, a LTC (Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda.), a editora CENGAGE Learning, o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e instituições de ensino, como: UFGRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), UTPR (Universidade Tecnológica do Paraná), IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), IFPA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará) e UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Essas são instituições sérias, que tem experiência no mercado, atendendo as diversas demandas relacionadas ao estudo, pesquisa, formação de profissionais e fornecimento de materiais e tecnologia. Esse arcabouço teórico fundamentou toda a pesquisa, culminando na elaboração desse projeto. O primeiro capítulo tratou acerca dos conceitos relacionados aos tratamentos termoquímicos, apresentando os principais processos disponíveis no mercado, como: Cementação, Nitretação, Cianetação, Carbonitretação e Boretação, demonstrando suas características e aplicações. O segundo capítulo deu atenção especial ao processo de Nitretação, demonstrando as principais técnicas existentes, como: Nitretação a gás, Nitretação líquida, e Nitretação a plasma. Ressaltando as qualidades e limitações de cada uma dessas e as diferenças entre elas. Por fim, foi tratado acerca da utilização da Nitretação a gás, elencando alguns dos principais aços que recebem esse tratamento e os modelos de peças que empregam esse processo e as vantagens de aplicação dessa técnica em relação aos outras existentes. 15 2 TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS Os tratamentos termoquímicos geralmente acontecem em conjunto com algum tipo de tratamento térmico. Os tratamentos térmicos consistem em um conjunto de operações sob condições controladas de tempo, temperatura, atmosfera e velocidade de resfriamento, a fim de modificar as propriedades dos materiais e lhes conferir características determinadas, sem alterar sua composição química (CALLISTER, 2014). No entanto, quando se deseja modificar apenas as propriedades superficiais ou somente em uma parte da peça os tratamentos termoquímicos são mais indicados, em face das características do processo (ASKELAND, 2014). A Figura 1 apresenta alguns dos principais tratamentos termoquímicos. Figura 1 – Principais tratamentos termoquímicos Fonte: VALE (2011, p. 115). Esses tratamentos consistem em alterar a composição química das seções da peça que se deseja endurecer, através da aplicação de calor em um meio adequado sob condições controladas. O objetivo principal é obter um aumento da dureza do material e resistência, mantendo um núcleo com boa ductilidade e tenacidade. 16 Lembrando que ductilidade é a capacidade do material deformar sem se romper. E tenacidade a capacidade do material de absorver energia mecânica até seu ponto de ruptura (ASKELAND, 2014). Os tópicos seguintes trataram de cada um desses processos de forma detalhada, demonstrando os procedimentos empregados nos tratamentos, bem como suas principais características e limitações. 2.1 CEMENTAÇÃO A cementação ou carbonetação é um processo muito empregado para introduzir carbonos na superfície de aços com baixos teores de carbono, a fim de aumentar sua dureza superficial e resistência ao desgaste. Esse processo é indicado para aços carbono e aço liga com teor de carbono igual ou inferior a 0,25 % (SENAI - SP, 1999). A Figura 2 ilustra esse processo. Figura 2 – Processo de cementação Fonte: Adaptado COSTA, C.e COSTA, E., (2017, p. 4). Os teores de carbono superficiais podem chegar a valores em torno de 1% após o processo, garantindo uma superfície com dureza elevada e núcleo tenaz, ideal para peças sujeitas a grandes esforços mecânicos e desgastes superficiais, como engrenagens, eixos, pinos, entre outros. Peças fabricadas com porcentagem média de carbono tendem a se trincar quando sujeitas a esforços de dobramento, porém, quando fabricadas em baixo carbono, como (SAE 1010), e depois forem conformadas e cementadas é possível obter um bom resultado, sem o risco de 17 trincar (COSTA, C.e COSTA, E., 2017). A Figura 3 apresenta um modelo de engrenagem após passar pelo processo de cementação. Figura 3 – Aspecto de uma engrenagem depois de passar pelo processo de cementação Fonte: VALE (2011, p. 116). O processo de cementação pode ser sólida, gasosa ou líquida, os próximos tópicos trataram de cada um desses processos de forma detalhada, mostrando as vantagens e desvantagens de cada um. 2.1.1 Cementação sólida A Figura 4 apresenta o processo de cementação sólida. Figura 4 – Processo de cementação sólida Fonte: SENAI - SP (1999, p. 34). 18 Nesse tipo de processo a peça é colocada em uma caixa de aço térmica, junto com substâncias ricas em carbono, como: coque, carvão, carbonato de cálcio e óleo de linhaça. Logo após a caixa é colocada no forno, a uma temperatura em torno de 850° a 930°C (acima da zona crítica) onde é mais fácil difundir o carbono no aço (SENAI - SP, 1999). A peça fica durante o tempo necessário para obter a camada especificada, sendo submetida ao tratamento térmico de têmpera logo em seguida, a fim de adquirir dureza (GALLEGO, 2015). O gráfico da Figura 5 ilustra o efeito da temperatura e tempo no processo de cementação. Figura 5 – Efeito da temperatura e tempo de cementação Fonte: CHIAVERINI (2015, p. 131). A cementação sólida é a técnica mais primitiva de cementação, é amplamente utilizada devido aos seguintes fatores: à variedade de fornos que podem ser utilizados; é mais econômico que os outros processos; exige menor conhecimento técnico e experiência por parte do operador; tem menor tendência ao empenamento e o resfriamento acontece de forma lenta. Apesar dessas qualidades ela apresenta algumas limitações, como: o processo não é tão limpo quanto os outros; menor controle sobre a profundidade, quantidade de carbono e tolerâncias da camada superficial; e maior tempo de operação (CHIAVERINI, 2015). 19 2.1.2 Cementação gasosa Esse processo é mais eficiente, visto que permite cementar às peças com boa uniformidade, controle e economia de energia. Geralmenteé empregado o gás butano para geração de carbono em uma atmosfera controlada, com temperatura variando de 850° a 930°C. O aço geralmente é temperado em óleo após o processo (VALE, 2011). 2.1.3 Cementação líquida Na cementação líquida são empregados sais fundidos, com grandes quantidades de carbono, principalmente sais à base de cianeto e carbonato. A temperatura desse processo varia de 840° a 955°. As peças geralmente são preaquecidas a uma temperatura de aproximadamente 400ºC antes de serem mergulhadas no banho de sais fundidos, a fim de evitar possíveis choques térmicos (VALE, 2011). Após o processo a peça é resfriada em salmoura com porcentagem de 10 a 10 a 15%, ou óleo de têmpera. A Figura 6 ilustra o processo. Figura 6 – Processo de cementação líquida Fonte: SENAI - SP (1999, p. 34). Dentre as vantagens da cementação líquida se destacam: maior rapidez na operação; menor tempo para atingir temperatura crítica; proteção efetiva contra oxidação; facilidade de colocar as peças no banho de sais; controle mais efetivo da 20 profundidade de penetração; operações podem ser contínuas; menor possibilidade de empenamento das peças; e facilidade de produzir cementação em partes específicas da peça (GALLEGO, 2015). A Tabela 1 apresenta algumas das principais substâncias empregadas na cementação líquida. Tabela 1 – Composição de banhos de sal para cementação líquida Constituinte Composição do banho % Camada de pequena espessura Baixa temperatura (840° a 900 °C) Camada de grande espessura Alta temperatura (900° a 955°) Cianeto de Sódio 10 a 23 6 a 16 Cloreto de bário 0 a 40 30 a 35 Outros sais alcalinos 0 a 10 0 a 10 Cloreto de potássio 0 a 25 0 a 20 Cloreto de sódio 20 a 40 0 a 20 Carbonato de sódio 30 max 30 max Aceleradores de outros compostos de metais alcalinos ferrosos 0 a 5 0 a 2 Cianeto de sódio 1 max 0,5 max Fonte: Adaptado CHIAVERINI (2015, p. 139). Apesar das qualidades descritas devem ser tomados alguns cuidados com relação a esse tipo de processo, como: as peças devem ser introduzidas no banho de sais limpas e secas; os fornos devem ter exaustores, visto que o cianeto é tóxico em altas temperaturas; deve-se evitar exposição ao ar devido à possibilidade de oxidação (CHIAVERINI, 2015). 2.1.4 Cementação a plasma A cementação a plasma é uma técnica mais recente, ela surgiu na década de 60 e vem sendo empregada em diversos seguimentos da indústria. Seus benefícios 21 favorecem sua aplicação em peças automotivas e indústria aeroespacial. A cementação a plasma gera uma camada superficial de carbonetos, aumentando a resistência ao desgaste, diferentemente do que acontece na cementação a gás, onde o contato com os reagentes aumenta a concentração de carbono superficial da peça, aumentando sua dureza e resistência ao desgaste (VALE, 2011). A Figura 7 apresenta alguns componentes preparados para esse processo. Figura 7 – Lote de componentes preparados para cementação a plasma Fonte: VALE (2011, p. 119). Dentre as vantagens da utilização da cementação a plasma, destacam-se: melhores estruturas cristalinas e propriedades mecânicas; não ocorre oxidação interna; camadas com melhor uniformidade; melhor controle da formação de camadas; boa produtividade; tempo de aplicações menores, entre outros (CHIAVERINI, 2015). 2.2 NITRETAÇÃO A Nitretação tem por objetivo o endurecimento e aumento da resistência ao desgaste, abrasão e corrosão através da difusão do Nitrogênio nos materiais. Esse processo é realizado abaixo da temperatura de crítica de austenitização, não sendo necessária a realização de têmpera para aumento da dureza. Suas principais características são: • Aumento da dureza superficial das peças; 22 • Aumento da resistência ao desgaste; • Aumento da resistência à fadiga; • Aumento da resistência a corrosão (COSTA, C.e COSTA, E., 2017). Esse processo provoca menos distorções e deformações nas peças, visto que é feito com temperaturas menores. Os aços com teores de Carbono entre 0,2 a 1,2 % apresentam melhores resultados, e os contendo elementos de ligas, como: Alumínio, Cromo, Vanádio, Tungstênio e Molibdênio. Outros elementos como Níquel, Cobre, Silício e Manganês não produzem efeito sobre as características da camada nitretada. Aços contendo de 0,85 a 1,5 % de alumínio apresentam melhores resistência ao desgaste nesse processo (CHIAVERINI, 2015). A Nitretação pode ser: gasosa, líquida ou a plasma, o próximo capítulo tratou de cada um desses processos de forma mais aprofundada. 2.3 CIANETAÇÃO Esse processo também é conhecido como carbo-nitretação, ele é semelhante ao processo de cementação líquida, com os banhos líquidos apresentando maior concentração de cianeto, o que resulta em uma superfície mais rica em nitrogênio e com menos carbono (COLPAERT, 2008). A Figura 8 apresenta um filete de rosca depois de passar por esse processo. Figura 8 – Filete de rosca cianetado: peça atacada com Nital a fim de apresentar melhor sua microestrutura Fonte: COLPAERT (2008, p. 326). 23 Esse processo ocorre a uma faixa de temperatura de 760° a 870°, com um tempo de imersão que variam de 30 minutos a 1 hora, gerando uma espessura de camada de 0,10 mm a 0,30 mm. A cianetação geralmente é feita em aços carbono de baixo teor de carbono. Deve se tomar um cuidado especial durante esse tipo de operação, visto que os sais empregados no processo são tóxicos (CHIAVERINI, 2015). 2.4 CARBONITRETAÇÃO Esse processo também é conhecido como “cianetação a gás” ou “nitrocarbonetação”. Ele consiste em colocar o aço em uma atmosfera controlada com carbono e nitrogênio em uma temperatura acima da zona de transformação, a fim de que o aço absorva essas substâncias (COSTA, C. e COSTA, E., 2017). A Figura 9 apresenta um exemplo de peças carbonitretadas. Figura 9 – Peça carbonitretada Fonte: GALVÃO et. al, (2016, p. 48). Esse processo é realizado a uma faixa de temperatura entre 705° a 900° C, durando aproximadamente 2 horas, sendo resfriado em água ou óleo posteriormente. Através da carbonitretação é possível obter uma camada de espessura variando de 0,07 mm a 0,7 mm. A principal aplicação desse processo são peças de pequeno porte, como: pinhões, pinos, componentes de carburadores, relógios e aparelhos eletrodomésticos (GALVÃO, et. al, 2016). 24 2.5 BORETAÇÃO Esse processo consiste em difundir átomos de Boro na superfície da peça, formando Boretos (Fe2B), o Boro preenche os interstícios do material, criando uma liga de Boro e Ferro. Como se trata de um processo de difusão não ocorre interferência mecânica entre a liga e o substrato. Esse processo fornece ao material alta dureza, resistência a abrasão e ao desgaste (VALE, 2011). As espessuras das camadas de Boretos variam de 20 a 300 micrômetros, resultando em um aumento significativo da vida útil das peças. São inúmeras as aplicações desse processo, dentre as quais se destacam: sistemas pneumáticos, unidades plastificantes, peças de moinhos, componentes de bombas e válvulas, máquinas têxteis, matrizes para conformação mecânica, entre outros (COSTA, C. e COSTA, E., 2017). A Figura 10 apresenta um modelo de matriz empregado nos processos de trefilação. Figura 10 – Matrizes para trefilação boretadas Fonte: HENKE (2013, p. 44). Dentre as vantagens da aplicação desse processo, destacam-se: dureza elevada; resistência a corrosão; baixo coeficiente de atrito; aplicação em diversos tipos de aços, como: aços carbono, aços baixa liga, aços ferramenta, aços inoxidáveis, entre outros. Entretanto, esse processo apresenta algumas limitações, como: a boretação sólida não permite automação; baixa usinabilidade; baixa resistência a fadiga (HENKE, 2013). 25 3 TIPOS DE NITRETAÇÃO A nitretação consiste em um processo de tratamentosuperficial termoquímico que tem por objetivo introduzir nitrogênio no interior das ligas ferrosas, a fim de conferir algumas propriedades ao aço, como: dureza, resistência ao desgaste e resistência a abrasão. Esse processo teve início no século XIX, tendo por propulsor o pesquisador Fremy, que percebeu o efeito que o nitrogênio provoca no aumento d dureza quando introduzido nos ferros e nos aços (CARDOSO, 1999). A difusão do nitrogênio nos aços ocorre a baixas temperaturas, na faixa de 500° a 575°, o que resulta em menores distorções das peças (SENAI - ES, 1997). É comum nesse tipo de tratamento a formação de uma camada na superfície da peça, rica em compostos (Nitretos), também conhecida como “camada branca” (COLPAERT, 2008). A Figura 11 apresenta essa camada em uma peça de aço AISI 4340 temperado, revenido e nitretado. Figura 11 – Aço AISI 4340 temperado, revenido e nitretado Fonte: COLPAERT (2008, p. 326). A nitretação geralmente é realizada com intuito de alcançar os seguintes objetivos: • Aumentar a dureza superficial; • Aumentar a resistência à abrasão e ao desgaste; • Aumentar a resistência à fadiga; • Aumentar a resistência à corrosão; 26 • Aumentar a resistência ao calor até temperaturas próximas à de nitretação (CHIAVERINI, 2015). Para alcançar esses resultados existem alguns processos conhecidos, dentre os quais se destacam: nitretação a gás, nitretação líquida e ionitretação. Essa variedade de processos permite a aplicação da nitretação em diversos seguimentos, como: indústria mecânica, automotiva, em sistemas hidráulicos, de conformação de metais, metalurgia, siderurgia, biomédica, alimentação, moldes de extrusão de alumínio, de injeção de plásticos, ferramentas de corte e usinagem, matrizes em geral, entre outros (DENARDI e ELIAS, 2013). Em face do exposto, os tópicos seguintes trataram de cada um desses processos de nitretação de forma detalhada, apresentando algumas características importantes sobre os mesmos. 3.1 NITRETAÇÃO A GÁS Este tipo de processo acontece em uma faixa de temperatura entre 500° 530ºC, com duração entre 40 a 90 horas. Nessas condições de temperatura a amônia (NH3) dissocia e o nitrogênio aprofunda nas camadas superficiais da peça, atingindo uma profundidade de até 0,8 mm (VALE, 2011). A Figura 12 ilustra como ocorre esse processo. Figura 12 – Dissociação da amônia em nitrogênio e absorção pelo aço Fonte: VALE (2011, p. 120). A profundidade da camada conhecida também como “camada branca” é em função da velocidade de dissociação de amônia, que é em função do fluxo de amônia no sistema e da temperatura do forno e o tempo de exposição (CHIAVERINI, 27 2015). O gráfico da Figura 13 apresenta a relação entre o tempo de nitretação e a espessura da camada. Figura 13 – Influência do tempo de nitretação a gás sobre a espessura da camada nitretada Fonte: CHIAVERINI (2015, p. 145). A Figura 14 apresenta a microestrutura do aço AISI 1015 após passar pelo processo de nitretação a gás. Figura 14 – Microestrutura do aço AISI 1015 nitretado por meios gasosos Fonte: VALE (2011, p. 121). Os processos de nitretação geralmente seguem uma série de etapas conhecidas, que são: • Tratamento térmico das peças, geralmente têmpera e revenimento; • Usinagem inicial; 28 • Em peças de estrutura delicada ocorre um novo revenimento a fim de aliviar as tensões geradas na usinagem; • Usinagem definitiva; • Nitretação da peça; e • Retificação e ou polimento das peças. O processo de nitretação a gás pode acontecer em “estágio simples” ou “duplo estágio”, onde no primeiro a faixa de temperatura varia de 495° a 525°C, com a dissociação da amônia variando entre 15 a 30%. Nesse processo é formada uma camada dura e frágil de nitretos na superfície conhecida como “camada branca” (GALLEGO, 2015). O tratamento em “duplo estágio” tem por objetivo reduzir a camada branca do primeiro estágio, com as temperaturas do processo variando 495° a 565ºC, e com a dissociação da amônia entre 80 a 85% (SANTOS, 2003). A Figura 15 apresenta um esquema típico do processo de nitretação a gás. Figura 15 – Esquema típico do processo de nitretação a gás Fonte: VILLARDO (2014, p. 86). As principais vantagens da aplicação dessa técnica são: Menor custo de investimento; possibilidade de nitretação de furos de pequenos diâmetros; possibilidade de revenimento; entre outras (SANTOS, 2003). 29 3.2 NITRETAÇÃO LÍQUIDA Esse tipo de processo é tão antigo quanto à nitretação a gás, sendo empregado quando se deseja camadas nitretadas não tão profundas. O processo de preparação é semelhante, com a diferença que a nitretação é feita em banhos de sais geralmente de sódio e potássio (CHIAVERINI, 2015). A Tabela 2 apresenta a concentração e alguns dos sais empregados nesse processo. Tabela 2 – Sais comumente empregados na nitretação líquida Sais para nitretação líquida Sais de sódio Composiçã o (%) Sais de potássio Composiçã o (%) Outros sais Composiçã o (%) NaCN 96,5 KCN 96 NaCN 30 Na2CO3 2,5 K2CO3 0,6 Na2CO3 ou K2CO3 25 NaCNO 0,5 KCNO 0,75 Outros ingredientes 4 KCL 0,5 Umidade 2 KCL 39 Fonte: Adaptado CHIAVERINI (2015, p. 147). Esse processo é mais rápido do que a nitretação a gás, com banho durando entre 2 a 3 horas, com temperaturas de 500° a 580° C, possibilitando atingir uma espessura de 0, 005 mm a 0, 015 mm. Essa camada possui alta resistência ao desgaste e engripamento e resistência a corrosão, apesar de não apresentar dureza tão elevada. Essas qualidades fazem com que esse processo seja aplicado amplamente em indústrias automobilísticas em peças como: anéis, virabrequins, pinhões e engrenagens (SANTOS, 2003). No processo conhecido como Tenifer os banhos de sais são feitos em fornos elétricos de cadinhos que tem a característica de reduzir a contaminação dos compostos de ferro. Nesse processo existe um fluxo de ar contínuo que é feito através de tubulações de alumínio que chegam até o fundo do forno. Geralmente o aquecimento nesse modelo de forno é feito por eletrodos de aço imersos no banho 30 de sais. Esse processo geralmente é feito com aços rápidos (CARDOSO, 1999). A Figura 16 apresenta um modelo desse tipo de forno. Figura 16 – Forno elétrico de cadinho para nitretação em banhos de sais Fonte: SENAI - SP (1999, p. 34). A principal vantagem desse processo é a versatilidade, sendo indicados para situações onde se deseja uma camada pequena, servindo basicamente para aumentar a resistência ao desgaste (VALE, 2011). A Figura 16 apresenta a microestrutura de um aço carbono nitretado. Figura 17 – Microestrutura do aço carbono nitretado por banho líquido Fonte: VALE (2011, p. 121). A principal desvantagem desse processo é ambiental, visto que pode ser tóxico e poluente, em face disso a nitretação a gás vem sendo gradativamente substituída por processos alternativos, como a nitretação a plasma (SANTOS, 2003). 31 3.3 NITRETAÇÃO A PLASMA A nitretação a plasma tem menos experiência no mercado, no entanto, ela desponta como uma das melhores alternativas para tratamentos de superfície, em face das inúmeras aplicações e tipos de materiais que podem passar por esse tipo de processo, como: aço, ferro sintetizado, ferro fundido, entre outros. Bem como a possibilidade de controlar de forma eficiente a espessura e a composição das camadas, o que não acontece com os outros processos (SENAI - SP, 1999). A Figura 18 apresenta uma esquematização do processo. Figura 18 – Mecanismo de nitretação a plasma Fonte: VALE (2011, p. 122). Esse processo também é conhecido por nitretação iônica, em face do processo de descarga incandescente que introduz nitrogênio na superfície do aço ionizando o material tratado (ALVES JÚNIOR, 2001). Ele pode ser feitoem menos tempo do que as técnicas de nitretação a gás e nitretação líquida. Isso ocorre devido à formação do plasma, que é um gás ionizado em altas temperaturas, o que permite a dissociação das moléculas e a difusão e absorção do nitrogênio pela peça (QUEIROZ, 2014). A energia desprendida pelo plasma é suficiente para alcançar a 32 temperatura desejada para o processo, então os gases são introduzidos em baixas pressões a fim de garantir a composição química desejada (NACHES, 2006). A Figura 19 apresenta um reator típico empregado nos processos de nitretação iônica. Figura 19 – Reator de nitretação a plasma Fonte: Adaptado COSTA, C.e COSTA, E., (2017, p. 27). O processo consiste em criar uma atmosfera de gases controlados em um ambiente a vácuo, com tensões elétricas entre a peça, formando um cátodo e um ânodo, a fim de facilitar o processo de ionização (SENAI – SP, 1999). As peças geralmente passam por um tratamento de têmpera e revenimento, depois por usinagem e em seguida ocorre o tratamento de nitretação a plasma, com a retificação e ou polimento dando acabamento final à peça. Para formação do plasma é empregado uma energia de 500 a 1000 V, o processo de nitretação ocorre a uma faixa de temperatura entre 375ºC a 650ºC, e são introduzidos misturas de gases com: Ar, H2, CH4, N2, ou ar a uma pressão que varia de 1 a 10 torr (CHIAVERINI, 2015). Geralmente é empregado um programa de computador para monitorar e controlar todos os parâmetros do processo, como: corrente, tensão, temperatura e composição dos gases, o que permite ter um controle minucioso da espessura e composição das camadas, assegurando a eficiência do processo (SENAI – SP, 1999). A Figura 20 apresenta um esquema típico de um forno para nitretação a plasma. 33 Figura 20 – Esquema de um forno de nitretação a plasma típico Fonte: GALVÃO et. al, (2016, p. 43). O aumento da camada nitretada depende da temperatura empregada e do tempo de tratamento. Esse processo permite a nitretação de peças com geometrias variadas e de formatos complexos, com controle minucioso sobre a espessura das camadas nitretadas. (ALVES JR, 2001). A Figura 21 apresenta a diferença entre as camadas nitretadas pelo processo a gás e pelo processo a plasma. Figura 21 – Espessura das camadas nitretadas: nitretação gasosa e nitretação plasma Fonte: OLIVEIRA (2014, p. 67). 34 O gráfico da Figura 22 demonstra a relação entre espessura da camada nitretada e tempo de operação, apresentando as curvas dos diferentes processos de nitretação descritos. Figura 22 – Curvas referentes à relação espessura da camada por tempo de operações dos diferentes processos de nitretação Fonte: CHIAVERINI (2015, p. 151). Através do gráfico da Figura 22 é possível perceber que a nitretação iônica consegue atingir espessuras de camadas superiores aos outros processos, em menos tempo de operação. Esse tempo inferior de tratamento, o controle da espessura e composição das camadas e a baixa temperatura de tratamento são qualidades importantes desse processo, o que faz com ele tenha fortes perspectivas de crescimento no mercado. No entanto, esse processo exige um valor maior de investimento, além de maior experiência e conhecimento técnico por parte do profissional, o que faz com que ele não esteja tão difundido quanto o tratamento a gás e o líquido (CHIAVERINI, 2015). 35 4 APLICAÇÕES DA NITRETAÇÃO A GÁS Este capítulo cuidou de tratar acerca dos aços comumente utilizados nesse tipo de tratamento superficial e os principais modelos de peças fabricadas que passam por esse processo. 4.1 AÇOS PARA NITRETAÇÃO Existem alguns elementos de ligas fundamentais empregados nos aços que facilitam a formação de nitretos durante o processo, como: o cromo, o alumínio e o molibdênio. Em face disso, eles também são conhecidos como “Nitralloy”, sendo copiosamente empregados (QUEIROZ, 2014). A Tabela 3 apresenta alguns dos principais elementos de ligas e seus efeitos na formação de nitretos. Tabela 3 – Efeitos dos elementos de liga em relação à formação de nitretos Elemento Nitretos que se formam (com amônia) Efeitos sobre o endurecimento superficial Manganês Mn3NS5 Quase nulo Níquel - Sozinho, nulo Cromo Cr2N, CrN Forte Alumínio AI3N3 Muito forte Molibdênio - Medíocre; junto com o cromo mais forte (aumenta a penetração) Tungstênio Nenhum Nulo Titânio TiN Bastante forte máximo com o Cr Zircônio ZrN (Zr3N2) Idem Vanádio VN Medíocre ou fraco; entretanto, notável nos aços contendo Gr e Al. Silício Si2N3 Quase nulo Fonte: Adaptado CHIAVERINI (2015, p. 306). 36 O carbono confere ao aço uma maior temperabilidade e ajuda na formação da camada nitretada, sua aplicação varia a uma taxa de 0,30 % a 0,45 %. O alumínio e o cromo ajudam na difusão de nitrogênio, e variam de 0,85 % a 1,20 % e 0,90 % a 1,80 %, respectivamente. O molibdênio serve para diminuir melhorar a resistência ao revenido. E o níquel aumenta a dureza do núcleo da peça tratado, sua aplicação varia de 3,25 % a 3,75 % (CHIAVERINI, 2015). A Tabela 4 apresenta algumas propriedades mecânicas dos principais aços Nitralloy. Tabela 4 – Propriedades mecânicas dos principais aços nitralloy Tipo Temperatura de revenido °C Limite de escoamento Limite de resistência à tração A lo n g a m e n to % E s tr ic ç ã o % D u re z a B ri n e ll kgf/m m2 MPa Kgf/mm 2 MPa 593 96,0 940 108,5 1065 15 52 310 135 650 84,0 820 96,5 945 20 58 280 705 72,0 710 84,5 825 23 62 230 537 127,0 1250 144,0 1410 13,2 45,8 415 135 595 115,5 1135 126,5 1245 15,5 54,3 368 Modificado 650 98,5 965 111,0 1090 17,5 56,8 320 705 87,5 855 101,5 995 20,5 64,5 285 Fonte: Adaptado CHIAVERINI (2015, p. 308). O aço mais empregado nos processos de nitretação é o 135 sendo muito empregado na indústria automobilística e aeronáutica. As principais peças que passam pelo processo de nitretação se destacam: pinos, eixos, rotores, camisas de cilindro, engrenagens e virabrequins (PICCILI, 2009). Quanto aos outros tipos de aços utilizados eles seguem outra classificação definida pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), onde os vários tipos de aços até 1% de carbono com elementos comuns, como: silício, enxofre, manganês, fósforo, com baixa presença de elementos de liga são classificados por quatro algarismos, onde os dois primeiros indicam a presença ou não de elementos 37 de liga e os dois últimos indicam o teor de carbono no aço (SENAI – ES, 1997). A Tabela 5 apresenta a classificação dos aços comumente utilizados. Tabela 5 – Classificação dos aços comumente utilizados Designação Tipos de aço SAE AISI 10XX C10XX Aços-carbono comuns 11XX C11XX Aços de usinagem fácil, com alto S 40XX 40XX Aços-Mo com 0,25%Mo médio 41XX 41XX Aços-Cr-Mo com 0,50% ou 0,95%Cr e 0,12%, 0,20%, 0,25% e 0,30%Mo 43XX 43XX Aços-Ni-Cr-Mo com 1,82%Ni, 0,50% ou 0,80%Cr, 0,25%Mo 86XX 86XX Aços-Ni-Cr-Mo com 0,55%Ni, 0,50% ou 0,65%Cr, 0,20%Mo 87XX 87XX Aços-Ni-Cr-Mo com 0,55%Ni, 0,50%, 0,25%Mo XXBXX XXBXX Aços-boro com 0,0005% de B mín. XXLXX CXXLXX Aços-chumbo com 0,15% a 0,35% de chumbo Fonte: Adaptado SENAI - ES (1997, p. 14). Além dos aços Nitralloy os aços SAE 4140, SAE4340, o SA1015, AISI –SAE H11 também são amplamente empregados, alcançando valores elevados resistência ao desgaste, fadiga, a corrosão e a abrasão. Os aços inoxidáveis também recebem nitretação com objetivo principal de aumentar sua resistência à corrosão, sendo empregados em aplicações onde ocorrem vapores supersaturados, superaquecidos e em contato com combustíveis (CHIAVERINI, 2015). 4.2 EIXOS E VIRABREQUINS Os eixos e virabrequins são elementos mecânicos que estão sujeitos a grandes esforços, carregamentose atritos durante o seu funcionamento. O que aumenta a necessidade desses componentes de terem alta resistência mecânica e ao desgaste, a fim de suportar suas condições de trabalho (BUDYNAS, 2011). 38 Geralmente é empregado o aço SAE 8640, que é um aço médio carbono de baixa liga. A Figura 23 apresenta um virabrequim nitretado a gás. Figura 23 – Virabrequim nitretado a gás Fonte: KUIR (2018). Esses componentes também podem ser fabricados a partir dos aços SAE 1020, SAE 1045, SAE 4140, SAE 4320 e SAE 4340. Com a espessura da camada e tratamento térmico variando em função das características do componente e aplicação (BUDYNAS, 2011). 4.3 ENGRENAGENS As engrenagens são elementos mecânicos que estão sujeitas a grandes carregamentos e atritos durante sua operação, esses componentes podem passar pelos mais variados tratamentos térmicos e de superfície, como: têmpera, revenimento, cementação e nitretação. As engrenagens cementadas geralmente apresentam distorções decorrentes do processo, o que gera perda de resistência mecânica (DAVIS, 2005). Nesse sentido, a nitretação aparece como uma alternativa viável quando se deseja aumentar a vida útil desse componente, sendo empregada nos casos em que as engrenagens vão estar sujeitas a cargas moderadas. A nitretação não exige espessuras muito grandes nas camadas, como ocorre nos casos da cementação. A temperatura do processo também é menor, o que resulta em menor consumo de 39 energia e distorções (LEITÃO, 2010). A Figura 24 apresenta um exemplo de engrenagem que passou pelo processo de nitretação. Figura 24 – Engrenagem M8 Z15 nitretada Fonte: AZANELLI (2018). Apesar das qualidades descritas às engrenagens nitretadas apresentam uma curva de queda de dureza mais acentuada do que a sua correspondente pela camada comentada (LEITÃO, 2010). O gráfico da Figura 25 apresenta as curvas de dureza de uma engrenagem cementada e de sua correspondente nitretada. Figura 25 – Gradiente de dureza de engrenagem de aço nitralloy 135 M nitretada e engrenagem de aço SAE 8620 cementada e temperada Fonte: LEITÃO (2010, p. 47). 40 A nitretação de engrenagens é recomendada quando suas temperaturas de operação forem elevadas, em torno de 500 ºC, deste modo, as engrenagens têm condições de suportar as condições de trabalho com uma maior vida útil do componente (DAVIS, 2005). 4.4 PINOS E CHAVETAS Os pinos e chavetas são elementos geralmente empregados na fixação de elementos rotativos, de transmissão de movimento, força e torque. Essas condições de trabalho fazem com que eles recebam grandes esforços e solicitações. O tratamento superficial é feito a fim de aumentar a vida útil desses componentes (PICCILI, 2009). A Figura 26 apresenta alguns modelos de pinos 8694 de aço prata nitretados. Figura 26 – Pino extrator tipo B 8694 de aço prata nitretado Fonte: STEEL RET (2018). Esses componentes podem ser fabricados por aço SAE 1045, AISI 4140, AISI H13, entre outros. A natureza do material e espessura da camada depende do tipo de solicitação e ambiente de trabalho desses componentes (BUDYNAS, 2011). 4.5 PARAFUSOS Os parafusos são elementos mecânicos empregados na fixação de componentes, sem que haja necessidade de soldagem. Esses elementos 41 geralmente estão sujeitos a torques elevados, podendo ser fabricados em aços carbono, aços ligados, com roscas e classes especiais conforme a aplicação (BUDYNAS, 2011). A Figura 27 apresenta um parafuso sextavado nitretado. Figura 27 – Parafuso sextavado ANSI B18.2.1 nitretado Fonte: PARTEC (2018). A nitretação é feita na nas roscas e ou nas cabeças dos parafusos, a fim de aumentar a resistência ao atrito, abrasão e oxidação, devido aos ambientes nocivos que esses componentes podem atuar (BUDYNAS, 2011). 4.6 ANÉIS DE PISTÃO A Figura 28 ilustra pistão montado com os anéis de vedação. Figura 28 – Células de potência típicas com os anéis do pistão Fonte: FORDESCORT (2018). 42 O anel superior (2) é o principal responsável pela vedação do conjunto. O segundo anel é também chamado de anel raspador, ele tem a função de retirar o excesso de óleo da parede do cilindro. E o terceiro anel (1) também é conhecido como anel de óleo, ele tem a função de controlar o volume do filme de óleo na parede do cilindro. O pistão (3) é o responsável por transmitir potência para bielas e virabrequins. Os anéis dos pistões são componentes mecânicos empregados nas células de potência, esses elementos são circulares e auto-expansivos e servem para vedar o cárter e a câmara de combustão (PICCILI, 2009). Esses componentes estão sujeitos a uma alta solicitação de trabalho, e devem ser resistentes ao atrito, temperatura e pressões elevadas (PICCILI, 2009). A Figura 29 apresenta um anel de aço nitretado. Figura 29 – Anel de pistão da primeira canaleta composto de aço nitretado Fonte: PICCILI (2009, p. 4). Em face dessas condições de trabalho é realizado o tratamento superficial nessas peças, com intuito de melhorar a sua resistência mecânica, a fadiga, ao desgaste e a abrasão, prolongando sua vida útil. A aplicação da nitretação é vantajosa porque ela diminui o atrito, aumenta a resistência ao desgaste e gera menos poluentes do que os revestimentos de molibdênio e cromo eletrolíticos comumente utilizados (FERRARESE, 2004). 43 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho teve por objetivo realizar uma revisão de literatura aprofundada sobre os tratamentos de superfície, a fim de demonstrar os principais conceitos relacionados ao tema, dando uma atenção especial ao processo de nitretação, apresentando os principais tipos de processos e as aplicações da nitretação a gás. Esse estudo permitiu vislumbrar os diferentes tratamentos termoquímicos, como: cementação sólida, gasosa, líquida e a plasma, nitretação, cianetação, carbonitretação e boretação. Esses processos têm a função de aumentar a resistência superficial das peças, como: resistência a fadiga, abrasão, desgaste e aumento da dureza, mantendo o núcleo com características boas de ductilidade e tenacidade. Cada processo tem características e limitações especificas, sendo aplicados nos mais diversos tipos de materiais. Dentre esses processos, a nitretação é um dos mais importantes e com maior maturidade no mercado. Através dela é possível melhorar a resistência da peça sem o inconveniente das distorções e empenos, como ocorre na cementação, por exemplo. Essa qualidade é devida essencialmente as temperaturas de processo, que geralmente são menores. Os aços que obtém melhor qualidade nesse tipo de tratamento são os aços com baixo teor de carbono, os que contêm elementos de liga, como: alumínio, cromo, vanádio, tungstênio e molibdênio. A nitretação pode ser gasosa, líquida ou a plasma. A nitretação gasosa é bastante eficiente, ela consiste em difundir nitrogênio no material a uma faixa de temperatura entre 500° 530ºC, podendo atingir uma profundidade de até 0,8 mm. O principal inconveniente desse processo é que ele é demorado, durando entre 40 a 90 horas. Sua principal vantagem é que ele é menos oneroso, além de possibilitar tratar geometrias diversas e com formatos complexos. A nitretação líquida é mais rápida do que a gasosa, durando cerca de 2 a 3 horas, com o processo sendo realizado a uma faixa de temperatura de 500° a 580° C, possibilitando atingir uma espessura de 0, 005 mm a 0, 015 mm. Sua principal desvantagem em relação à nitretação gasosa é que a superfície nitretada não apresenta dureza tão elevada, além da questão ambiental, visto que o processo gera resíduos tóxicos. A nitretação a plasma é mais recente no mercado, mas apresenta inúmeras vantagens, como: menor tempo de tratamento, maior controle sobre a composição e espessura das camadas, e baixa temperatura de tratamento. Noentanto, o processo exige um maior valor de investimento e mão de obra 44 qualificada e experiente, a fim de garantir a qualidade do processo. Em face disso, a nitretação a gás não é tão difundida quanto às outras. Essa diversidade de processos possibilita a aplicação da nitretação em inúmeros seguimentos, como indústria automotiva, conformação de metais, sistemas hidráulicos, siderurgia, fabricação de moldes de extrusão, matrizes, entre outras. Os aços que contém elementos de liga que facilitam a formação de nitretos, como: o cromo, alumínio e molibdênio são chamados de Nitralloy, e são os principais aços empregados nos processos de nitretação. Os aços com baixo teor de carbono e os com maior concentração de alumínio também aceitam bem esse tipo processo, bem como os aços inoxidáveis. Essa diversidade permite que a nitretação gasosa seja empregada na fabricação de diversos modelos de peças, como: eixos e virabrequins, engrenagens, pinos e chavetas, parafusos e anéis de pistão. A nitretação realizada nesses componentes aumenta a resistência ao desgaste, a abrasão, corrosão e promove o aumento da dureza superficial, que são características importantíssimas em face das condições de trabalho que esses componentes estão sujeitos, deste modo, é possível prolongar a vida útil e garantir segurança, eficiência, qualidade e máximo desempenho durante operação. 45 REFERÊNCIAS ALVES JR, C. 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