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Sociedade Civil e Integração - o debate social na construção do Mercosul - FELIPPE M FONTANA

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1 
 
SOCIEDADE CIVIL E INTEGRAÇÃO: O DEBATE SOCIAL NA 
CONSTRUÇÃO DO MERCOSUL 
 
Felippe Miguel Fontana 
 
A datar da redemocratização na América Latina, com a queda dos regimes ditatoriais no 
fim do século XX, o continente foi palco da institucionalização, ressignificação e valoração do 
conceito de sociedade civil. Nesse aspecto, com o objetivo de solidificar as novas democracias, 
a maiorias dos Estados demonstram em sua literatura constitucional o respaldo pelos princípios 
de participação e, assim, caracterizam as associações cívicas como um ator importante nas 
negociações e decisões. Tendo como exemplo a Constituição Federal brasileira, no Parágrafo 
único do Artigo 1º, o Estado Democrático de Direito, assim como se auto afirma, legitima a voz 
do povo ao dizer que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988); assim, está expresso 
em mecanismos institucionais as garantias de uma participação cidadã. Ademais, sociedade 
civil, depois de muito se debater sobre o conceito, é marcada e descrita pela heterogeneidade, 
representando múltiplos atores sociais, culturais e políticos, podendo abranger associações 
públicas ou privadas, movimentos sociais, ONGs ou mesmo as inúmeras classes sociais que 
coexistem. Dessa forma, dado o reconhecimento à sociedade civil como ator que pode fazer 
reinvindicações, o Estado admite, hoje, uma relação entre si, a qual é pautada por cooperação 
e/ou pressão, admitindo, também, que determinado interesse ou ação possa surgir tanto dele 
como da sociedade civil. 
Assim, buscando a compreensão entre sociedade civil e o MERCOSUL, faz-se 
necessário uma breve elucidação histórica do bloco. Desse modo, é visto que posteriormente a 
Segunda Guerra Mundial, o mundo assiste a um aumento das instituições intergovernamentais 
e supranacionais e da criação dos blocos de integração econômica. A partir da década de 1950, 
prevalecia um entendimento desenvolvimentista da economia motivados pelos estudos 
cepalinos, o qual determinava que os Estados necessitariam diversificar sua indústria, todavia, 
assumindo que os mercados nacionais se pautavam em especificidades, a integração se fez 
como resposta ao problema puramente econômico encontrado. Assim, em 1960, com objetivo 
de criar um Mercado Comum Latino-americano, foi desenvolvida a Associação Latino-
americana de Livre Comércio (ALALC), trazendo em seu âmago como principais diligências a 
substituição de importações e a grande presença estatal na economia. Sobretudo, com o fracasso 
2 
 
desse bloco, em 1980, foi apresentada a Associação Latino-Americana de Integração, a qual 
mantinha os objetivos econômicos, mas trazia um embrião social, pretendendo tratar de 
problemas sociais como as condições de trabalho e de vida; o mundo se deparou com mais uma 
tentativa que não deu certo quanto ao desenvolvimento da integração latino-americana. 
Foi só então com o fim dos regimes militares e fruto de um acordo bilateral entre Brasil 
e Argentina que o processo integracionista é retomado ao perceber a fragilidade econômica 
latino-americana frente ao cenário internacional. Nesse processo de integração, foi tratados 
temas especificamente econômicos, como o comércio, produção, fundos de investimentos, 
empresas binacionais e até sobre a criação de um Centro Brasil-Argentina de Altos Estudos 
Econômicos. Dessa maneira, “buscava a harmonização das políticas aduaneiras de comércio 
interno e externo e a coordenação de políticas monetária, fiscal, cambial e de capitais” 
(GONÇALVES, 2015, p. 47) e, buscava-se, por fim, a criação de um mercado comum, 
refletindo, portanto, que tais acordos defendiam muito mais a cooperação que o processo de 
integração em si. Posteriormente a esse embrião, novos governos foram eleitos em 1989 no 
Brasil e na Argentina, esses levantaram a bandeira das políticas econômicas neoliberais, 
representando a abertura das economias, a integração deixou de ser intrasetorial para 
intersetorial e, então, possibilitou, no seu fim, a inclusão do Paraguai e Uruguai ao assinar o 
Tratado de Assunção, o qual implica ao bloco econômico Mercado Comum do Sul 
(MERCOSUL) 
“a livre circulação de bens serviços e fatores produtivos entre os países, 
através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não-
tarifárias a circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito 
equivalente; O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma 
política comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados 
e a coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e 
internacionais; A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os 
Estados Partes - de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal, monetária, cambial 
e de capitais, de serviços, alfandegária, de transportes e comunicações e outras que se 
acordem, a fim de assegurar condições adequadas de concorrência entre os Estados 
Partes; e o compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas 
pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração” (TRATADO DE 
ASSUNÇÃO, 1991). 
Sendo assim, o desenvolvimento do processo de integração foi uma decisão 
governamental que priorizou as relações econômicas. 
Dessa maneira, o compromisso democrático supracitado que se fez presente na América 
Latina também reclinou-se sobre a criação do MERCOSUL, o qual delega, desde o Tratado de 
3 
 
Assunção e mais especificamente a partir de 1996 com a Declaração Presidencial sobre 
Compromisso Democrático, que para a cooperação, a vigência de instituições democráticas se 
faz imprescindível e, portanto, traz para si a necessidade de debates sociais institucionalizados 
e o destaque para a democracia participativa. Nessa perspectiva, é percebido nos textos 
fundacionais que a questão social esteve mencionada, entretanto, pela característica 
intergovernamental do bloco, o diálogo entre Estado e sociedade civil no MERCOSUL 
conquistou algum espaço apenas quando políticos progressistas, de esquerda ou centro-
esquerda, estiveram no governo dos Estados-membros. Sendo assim, foi apresentado ao 
continente um novo momento para o bloco, o qual é contemplado pelo aumento significativo 
da presença e participação de atores não estatais e a criação de novos órgãos e mecanismos para 
o diálogo, a fim de legitimar e abarcar os processos totais da integração, não só econômicos. 
Assim, algumas instituições que preveem a participação e fomentam o diálogo entre 
sociedade civil e Estados foram criadas na busca da integração social. Dessas podemos ressaltar 
o Foro Consultivo Econômico Social do MERCOSUL (FCES), as Reuniões Especializadas 
(REs), o Parlamento do MERCOSUL (PARLASUL), o MERCOCIUDADES, o Somos 
MERCOSUL e as Cúpulas Sociais do MERCOSUL. Por conseguinte, cada órgão citado 
anteriormente possui uma especificidade enquanto função, autonomia e institucionalização no 
MERCOSUL, todavia, ressalta-se que o bloco nunca perdeu o seu primeiro objetivo, o objetivo 
de ser um bloco que visa o livre comércio e a criação de um mercado comum, isto é, puramente 
econômico, contudo, a emergência desses atores demonstra ao bloco e aos Estados-membros 
uma luta contra-hegemônica, na qual não somente a elite possui espaço nos debates e 
negociações do MERCOSUL. 
Em vista disso, tendo como foco de análise do artigo a relação da sociedade civil com o 
processo de integração no âmbito do bloco econômico e comercial MERCOSUL, foi escolhido 
as Cúpulas Sociais do MERCOSUL para servirem como exemplo a partir do seu funcionamento 
e as demandas sociais levantadas. 
As Cúpulas Sociais do MERCOSUL, portanto, teve sua primeira edição em 2006, 
realizada durante a presidência pro-tempore do Brasil e não se constitui por ser uma conferência 
oficial, mas é apoiada pelo programa Somos MERCOSUL, ocorrendo umavez a cada semestre, 
tendo participação de todos os países da União de Nações Sul-Americana (UNASUL) e, assim 
como esse programa, defende a criação de um espaço oficial e institucionalizado que possua a 
presença e mantenha a consonância entre instituições do MERCOSUL, governos e sociedades 
civis. Ademais, as Cúpulas são dividas em: assembleia de abertura, divisão dos membros da 
assembleia em Grupos de Trabalho para o desenvolvimento de propostas sobre os temas 
4 
 
levantados, assembleia para compartilhar e apresentar os resultados chegados, formação de uma 
comissão com representantes da sociedade civil de cada país para aprestar os resultados e 
posicionamentos da Cúpula aos Presidentes dos países participantes e, por fim, assembleia final 
com a presença dos Presidentes. Logo, faz-se o estabelecimento de uma nova estrutura política, 
na qual são possíveis as reivindicações e, por consequência, representam e só tem efeito, por 
serem resultado de uma iniciativa intersetorial, garantindo a cooperação entre três atores: os 
governos, os órgãos do MERCOSUL e a sociedade civil. 
Ademais, faz-se perceptível que desde a origem do MERCOSUL nada se alterou 
enquanto seu objetivo econômico de integração, contudo, alargou seu campo de inserção e 
atuação regional ao incorporar questões sociais e compartir dos preceitos democráticos 
participativos, fortalecendo a institucionalidade democrática do bloco. Dessa forma, é 
destacado a importância da correlação entre sociedade civil e Estados-membros durante a 
articulação de propostas e negociações, pois, assim, além da sociedade civil ser legitimada 
enquanto ator, os debates para a integração não se fazem exclusivos dos Estados e governos ou 
dos grandes setores empresários. Outro ponto a ser mencionado é que pela característica 
intergovernamental do MERCOSUL, as decisões estão à mercê das políticas internas e externas 
dos Estados-membros e seus representantes, isto é, quaisquer órgãos e decisões do 
MERCOSUL podem ser abaladas com a troca de governos em cada Estado ou quaisquer 
mudanças institucionais. Em suma, os avanços em questões sociais no MERCOSUL são 
visíveis e notório, entretanto, os órgãos e o próprio MERCOSUL ainda necessitam de um 
amadurecimento institucional para, assim, caminhar por uma integração completa que 
contemple o econômico, o político e social. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
DRAIBE, Sônia Miriam. Coesão social e integração regional: a agenda social do 
MERCOSUL e os grandes desafios das políticas sociais integradas. Cad. Saúde Pública, 
Rio de Janeiro, 23 Sup 2:S174-S183, 2007 
 
GONÇALVES, Renata da Silva. PARTICIPAÇÃO NA INTEGRAÇÃO: Uma análise 
sobre a presença da sociedade civil nas Cúpulas Social do MERCOSUL (2006-2013). 
165f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - UNIVERSIDADE FEDERAL DE 
PELOTAS Programa de Pós-graduação em Ciência Política, 2015. 
 
MOTTA, João Victor. O ‘coma’ do diálogo social no Mercosul. Observatório de 
Regionalismo, 2019. Disponível em: http://observatorio.repri.org/artigos/o-coma-do-dialogo-
social-no-mercosul/. Acesso em: 08 de outubro de 2019.

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