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Trabalho Psicopatia

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FUNDAÇÃO ATTILA TABORDA
Centro Universitário da Região da Campanha – URCAMP
13
ALISSON SALDANHA ANTUNES
PSICOPATIA
Conceito, características e aplicação do direito brasileiro.
São Gabriel
2019
ALISSON SALDANHA ANTUNES
PSICOPATIA
Conceito, características e aplicação do direito brasileiro.
Trabalho Bimestral 
Centro Universitário da Região da Campanha
Campus Universitário de São Gabriel 
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Curso de Direito
Professora: Rafaela Valentini Salgado
São Gabriel
2019
SUMÁRIO
	1 INTRODUÇÃO......................................................................................................
2 CONCEITO............................................................................................................
3 CARACTERISTICAS............................................................................................
4 A IMPORTÂNCIA DA PSICOPATOLOGIA FORENSE........................................
5 CULPABILIDADE.................................................................................................
6 IMPUTABILIDADE, INIMPUTABILIDADE E SEMI-IMPUTABILIDADE REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................... 
7 APLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA NOS CASOS DE PSICOPATIA............................................................................................................
8 PENAS E MEDIDA DE SEGURANÇA.................................................................
9 CESSAÇÃO DA PERICULOSIDADE...................................................................
10 CONCLUSÃO.....................................................................................................
11 REFERÊNCIAS...................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO
Nossa sociedade está numa constante transformação e o ser humano, integrante dessa, acaba refletindo muitas dessas mudanças em sua vida e em sua personalidade. Um exemplo dessas mudanças são os crimes cometidos e os fatores que influenciam para que esses delitos sejam cometidos, sendo esses influenciados por fatores externos como contexto social, financeiro, psicológico, bem como experiências que o indivíduo vivenciou ao longo de sua existência. Estes fatores são fundamentais para a melhor compreensão do cometimento de determinados delitos e mudanças na personalidade.
Quanto ao âmbito psicológico e mais especificadamente sobre a psicopatia, o trabalho terá como foco principal a psicopatia, suas características e os fatores que levam a esse transtorno. Quanto ao âmbito jurídico relacionado a psicopatia, levamos em conta a importância do estudo forense nessa área, as consequências jurídicas que o psicopata poderá sofrer, bem como o tratamento que o psicopata irá ser submetido. 
2 CONCEITO
O termo psicopatia vem do grego psyche + pathos, cujo significado é a “denominação genérica das doenças mentais”, sendo que, o psicopata é “quem sofre de doença mental.”
Embora as causas que levam alguém a ser psicopata ainda não sejam completamente compreendidas pela medicina, estudos recentes demonstram que essas pessoas possuem um funcionamento defeituoso do sistema límbico (área do cérebro responsável pelo processo das emoções) e consequentemente apresentam um comportamento egoísta, frio e dissimulado. Nas palavras de Trindade, Beheregaray e Cuneo (2009, p. 97):
O psicopata oculta graves carências emocionais atrás de uma aparência de normalidade. Apresenta baixo nível de ansiedade, falta de remorso ou vergonha, narcisismo e incapacidade para amar, ausência de reações afetivas básicas, e comportamento irresponsável.
Nesse contexto lógico, poderia conceituar-se o psicopata como um enfermo mental, desprovido de normalidade. Porém a doença mental, refere-se à capacidade que a pessoa tem de compreender seus atos, algo que não ocorre num psicopata.
Na verdade, a psicopatia é antes um transtorno de personalidade, pois, embora tenha origem em alterações neurológicas, o aspecto cognitivo permanece normal e saudável. O psicopata sabe perfeitamente o que faz e que isso é contrário a lei, mas tem seus próprios interesses como prioridade que se sobrepõem as normas jurídicas e sociais.
3 CARACTERISTICAS
Tanto para o CID, quanto para o DSM –IV somente se pode falar em psicopatia a partir dos dezoito anos de idade. Logicamente alguns indivíduos na infância já apresentam características que chamam a atenção de pais e psicólogos, tais como matar animais pequenos ou grandes (ratos, passarinhos, gatos e até cachorros), e destruição de propriedades. Para esses, há a suspeita de que mais tarde venham a desenvolver algum transtorno.
Na adolescência algumas dessas características persistem e são acrescidas outras como problemas no sono, timidez e baixa estima, masturbação compulsiva, problema de relacionamento, e tantas outras demonstradas por vários autores.
Contudo, é partir dos quinze anos que as características mais específicas pertinente a psicopatas tornam-se mais frequentes, porém o diagnóstico da psicopatia só ocorrerá após os dezoito anos. Talvez aqui seja o ponto em que estudiosos, pesquisadores, psicólogos e afins corroborem com o maior número de opiniões, porque geralmente, acabam citando características muito idênticas. Uma redução no quadro de psicopatia só irá acontecer a partir da quarta década de vida.
Diante do exposto, observamos que a psicopatia é vista, pelos especialistas na área da psicologia e da psiquiatria como um desvio de conduta, quais sejam, uma espécie de distúrbio de personalidade. Muitas das vezes, em meio aos portadores de psicopatologias crônicas e incuráveis, veremos adiante que, há os que apresentam um grau de periculosidade, o qual coloca em risco seu convívio com a sociedade. Veremos, ainda, que muitos psicopatas respondem pelo crime como uma pessoa comum. Porém, quando reinseridos na sociedade, as chances de se tornarem reincidentes, ou seja, voltarem a cometer o mesmo ou diversos crimes, são extremamente altas.
Os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e severo. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não "sujarão as mãos de sangue" ou matarão suas vítimas. Já os últimos botam verdadeiramente a "mão na massa", com métodos cruéis sofisticados, e sentem um enorme prazer com seus atos brutais.
Dentre várias características que um psicopata pode apresentam, elencaremos algumas delas, sendo que as demais que podem vir a ser identificadas, geralmente estão ligadas a alguma das que serão aqui citadas:
- Ausência de empatia;
- Utilização de mentiras;
- Inteligência (QI) acima da média;
- Habilidade para manipular pessoas e liderar grupos;
- Desconsideração pelos sentimentos alheios;
- Egoísmo exacerbado;
- Banalização do indivíduo;
- Problemas na autoestima;
- Ausência de culpa, compaixão e culpa;
- Responsabilização de terceiros por seus atos;
- Ausência de medo de ser pego;
- Impulsividade;
- Incapacidade para aprender com punição ou com experiências;
- Ausência de nervosismo ou outras manifestações psiconeuróticas;
- Pobreza geral nas relações afetivas;
- Geralmente usam drogas;
- Suicídio raramente praticado;
- Vida sexual impulsiva, sem pudor.
Para que os especialistas da área definam e constatem a psicopatia, eles utilizam um instrumento chamado PCL-R, que é utilizado em forma de escala e consegue aferir e identificar fatores de risco de violência. Ao todo são verificados 12 pontos, tais como: boa lábia, já que os psicopatas normalmente são bem articulados e manipuladores; possui ego inflado, ou seja, se acha a pessoa mais importante do grupo ao seu redor; possui lorota desenfreada, já que mentem de maneira descontrolada que nem se dão conta de que estão mentindo; sede por adrenalina, visto que, não toleram monotonia, necessitam viver quebrando regras; reação estourada; impulsividade, não pensam nas consequências dos seus atos; comportamento antissocial; faltade culpa, não tem empatia pelo outro; sentimento superficiais, zero emoção e cem por cento razão; falta de empatia, não conseguem se colocar no lugar do outro; irresponsabilidade e por fim má conduta na infância, devido seus problemas aparecem desde cedo. 
Assim, através de artifícios baixos como mentira e dissimulações, e ainda com auxílio de sua inteligência, esse indivíduo consegue manipular pessoas e grupos, de maneira a conseguir alcançar seus objetivos, não atentando para os sentimentos e necessidades de seu subordinado; para o psicopata, seu “eu” está acima de tudo e de todos, o que demonstra um egoísmo patológico. Acerca dessa assertiva, Vicente Garrido (2007) coloca que esse indivíduo se sente o centro do universo, ele realmente acredita que pode fazer o que quiser, por imaginar que seus atos são regidos por suas próprias regras, ignorando aquelas presentes na sociedade.
Nas situações de crimes, ele procura humilhar a vítima, causando-lhe sofrimento e desespero. Banaliza o indivíduo, colocando-o na situação de coisa. Para tanto, procura pessoas mais fracas, que possam ser facilmente dominadas e com as quais ele possa se sentir mais forte e poderoso; mesmo porque somente submetendo outras pessoas ele eleva sua estima, que é constantemente baixa. Este sujeito não consegue sentir de modo completo o conjunto de emoções humanas (GARRIDO, 2007).
Após a consumação do ato ele não sente culpa ou peso na consciência, entretanto, eventualmente entra em depressão e afirma que não gostaria de ter realizado tal ação, mas o fez por culpa de terceiro, não chamando para si a responsabilidade. Somando-se a este fato há a ausência de medo por serem pegos.
A situação é mais complicada quando se tratam de assassinos seriais: além de não temerem ser pegos, ainda costumam executar seus crimes com o mesmo modus operandi, deixando no local - ou mesmo enviando a polícia – pistas de quem seriam, como forma de desdenhar das autoridades, e demonstrar que querem ser encontrados.
Ocorre que quando são capturados, alguns passam a se comportar como loucos, e este fato é constantemente alegando nos tribunais. Aqui, importante que o jurista tenha muita atenção; não podemos nos olvidar que a pessoa em questão é dotada de inteligência acima da média e consegue manipular a realidade, e as pessoas como lhe convém.
Outro ponto importante é que o psicopata não aprende com a experiência de seus erros, mesmo que tenham sofrido uma punição e nesse sentido Piedade Junior (1982, p. 134) afirma que “a experiência de muitos fracassos não forma uma base quando ele inicia uma nova ação”. E pior, quando chegam a ser punidos, não absorvem esta punição, para eles o período de punição não passa na verdade de uma neutralização de suas atitudes.
Apesar de muitas pessoas imaginarem que quem sofre desse transtorno são pessoas violentas e assassinas, pode-se afirmar que esse tipo de psicopata é o mais raro. De acordo com estudos, há três níveis de psicopatia, que são: a leve, que aplica os famosos golpes 171 (estelionato ou fraude) e atinge apenas uma pessoas; o moderado, que aplica o mesmo golpe anterior, porém em uma esfera social mais ampla e acaba lesando milhares de pessoas; e o grave, que seria o serial killer, o assassino para quem não basta matar, é preciso haver requinte de crueldade.
Demais estudos indicam que aproximadamente 4% da população apresenta algum grau de psicopatia, dentre os quais 1% são mulheres e 3% são homens. Essa diferença estatística não significa que necessariamente a incidência entre mulheres é menor, pois essa diferença pode ocorrer por elas serem mais dissimuladas e menos violentas, de modo que passem despercebidas na sociedade mais facilmente, o que aumentaria ainda mais a taxa de psicopatas.
Entre a população carcerária, este número sobe para cerca de 20%, sendo que esses detentos são responsáveis por mais de 50% dos crimes graves em relação aos demais presidiários. (SILVA, 2008, p. 126 apud HARE, 2008).
A taxa de reincidência dos psicopatas é três vezes maior em comparação aos outros criminosos e eles representam entre 33 a 80% dos delinquentes criminais crônicos (TRINDADE; BEHERENGARAY; CUNEO, 2009, p.110,111).
4 A IMPORTÂNCIA DA PSICOPATOLOGIA FORENSE
Para descrevermos a importância da Psicopatologia Forense, primeiro temos que entender o seu conceito e sua finalidade. Esse instituto engloba o estudo dos transtornos e doenças mentais e sua finalidade apresenta grande relevância no campo da saúde mental e justiça, pois, gera o conhecimento dos aspectos psicopatológicos, principalmente, na diferenciação dos imputáveis e inimputáveis. Dentre essas finalidades citadas, cabe ressaltar que, é também, seu objeto de estudo, o comportamento, sendo observado se o indivíduo possui ou não conduta antissocial, quais as circunstâncias que o levaram a cometer o delito e o histórico de comportamentos anteriores.
Desta forma, podemos citar os seguintes pontos de maior importância que a psicopatologia forense nos traz:
- Avaliações psicológicas no âmbito forense: são de extrema importância para a instrução criminal, ou seja, é o meio pelo qual o psicólogo usa suas habilidades para investigar o funcionamento mental humano e seu comportamento.
- Laudo psicológico: deverá ser estruturado sem linguagem técnica, de modo que, qualquer pessoa que não seja da área, como por exemplo, o juiz, possa entender acerca do funcionamento psicológico do indivíduo, e assim, dar seu veredicto.
- Perícia em saúde mental - a perícia, no Direito, é o meio pelo qual se adquire prova. Nos casos das perícias em saúde mental, “sua finalidade consiste em produzir e levar conhecimento técnico ao juiz, produzindo prova para auxiliá-lo em seu livre convencimento e levar ao processo a documentação técnica do fato, o qual é feito por meio de documentos legais.
- Exame médico legal do acusado - O exame médico legal do acusado com vistas a determinação da imputabilidade há que resultar de análise do contexto probatório dos autos, a revelar a séria ou razoável dúvida a respeito de sua saúde mental. Ressalta-se, ainda, que o exame serve para verificação da real capacidade do réu de entender a ilicitude de sua conduta. Ao juiz, cabe apenas deferir ou indeferir o pedido do exame. Se for deferido, valerá por toda a instrução processual e se for indeferido, o juiz fundamentará a sua decisão.
5 CULPABILIDADE
É instituído do Direito Penal de fundamental importância, sendo muito discutido e estudado, diversas teorias foram criadas para explicar o que significa e como se realiza o procedimento desenvolvido pela Culpabilidade. Assim a culpabilidade pode ser conceituada como a capacidade de reprovação e possibilidade de aplicação de uma pena para aquele sujeito que praticou um fato típico e ilícito.
Quanto as teorias que englobam o estudo da culpabilidade, temos como em comum dentre todas elas, não importando qual que seja adotada, que sem que o sujeito seja considerado culpável não poderá ser condenado ao cumprimento de pena, mas poderá ter sua internação ou tratamento ambulatorial determinado, desde que presentes os requisitos para a aplicação dessas medidas. A culpabilidade é formada por três elementos: potencial consciência da ilicitude do fato, exigibilidade de conduta diversa e imputabilidade.
Então, a culpabilidade depende de três elementos, de acordo com a Teoria Normativa Pura que são:
1. imputabilidade, que é a capacidade do agente para praticar falta grave;
2. potencial consciência da ilicitude, que é possibilidade de o agente compreender ou não se sua conduta era proibida ou não por lei, quando este a praticou;
3. exigibilidade de conduta diversa, que “consiste na expectativa social de um comportamento diferente daquele que foi adotado pelo agente.
6 IMPUTABILIDADE, INIMPUTABILIDADE E SEMI-IMPUTABILIDADE
Sabe-se que a imputabilidade é a capacidade de culpabilidade, mas encontra suas bases condicionadas à saúde mental e a normalidade psíquica, pertencentes a área da psicologia. Esta condição está diretamente relacionada a alguém que tenhaa condição de realizar o ato com discernimento, ou seja, entender o caráter ilícito do ato que está praticando. Para isso, deverá o agente ter total condição física, psicológica, moral e mental. Cabe ressalvar que se não houver os três elementos da culpabilidade não haverá imputabilidade, exceto, nos casos de menores de idade, pois estes são regidos apenas pelo sistema biológico.
A par do que dito anteriormente está a inimputabilidade, onde o sujeito não poderá ser responsabilizado pelos seus atos, não tendo eficácia, sendo a culpabilidade excluída ou diminuída.
A inimputabilidade surge quando, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, falta o discernimento para que o agente compreenda a ilicitude de seu ato. Para esse caso, o Código Penal determina a isenção de pena. Assim diz o artigo 26 do Código Penal:
É isento de pena o agente que, por sua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Sendo assim, no caso da psicopatia o agente será declarado inimputável, não sendo condenado, mas sim absolvido. Então, cabe, ao perito, pelos meios que vimos anteriormente, neste tipo de situação, classificar o tipo de indivíduo com o qual se está lidando, para que a justiça, então, possa “por meio de medida detentiva de segurança, mantê-lo longe da sociedade.”
Por fim, teremos uma situação que se situa entre a imputabilidade e a inimputabilidade, a semi-imputabilidade do agente. O parágrafo único do artigo 26 do Código Civil, versa sobre essa situação:
Art. 26 (...)
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Nesse caso, a incidência da causa redutora é obrigatória, onde o magistrado primeiramente irá fixar a pena privativa de liberdade para depois substituir por internação ou tratamento ambulatorial. Nada impede que se opere a substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança.
Cumpre ressaltar que, no caso dos semi-imputáveis, não é extinta a culpabilidade, e, após análise do caso concreto, a lei confere ao juiz a opção de aplicar medida de segurança ou a pena diminuída, depois de fixada a pena, portanto, uma natureza condenatória. Os psicopatas não são doentes mentais, por isso o Código Penal os elenca como semi-imputáveis, tendo em vista o fato de não serem capazes de agir conforme as regras éticas e morais.
Todavia, observamos que há uma grande dificuldade para o Direito Penal brasileiro classificar o psicopata como imputável ou semi-imputável.
Capez entende que a semi-imputabilidade “alcança os indivíduos em que as perturbações psíquicas tornam menor o poder de autodeterminação e mais fraca a resistência interior em relação à prática do crime.”. Ou seja, o indivíduo entende o caráter da sua conduta, mas devido as suas condições mentais, não controla seus atos. Capez entende, ainda, ser o agente imputável, porém, com a responsabilidade de entendimento do que faz, sendo a responsabilidade do agente diminuída em razão da culpabilidade ser reduzida, devido as suas condições pessoais.
Diante dos conceitos mencionados, concluímos que, o imputável possui consciência e entendimento acerca da sua conduta, respondendo, assim, às impostas no artigo 32 do CP, o semi-imputável é aquele que possui perturbação da saúde mental, em que o indivíduo vai entender que a sua conduta foi ilícita, mas devido a perturbações, este tem a pena diminuída, podendo, também, cumprir uma medida de segurança, conforme veremos, no decorrer do estudo e o inimputável é o portador de doença mental ou o desenvolvimento mental retardado ou incompleto, conforme artigo 26 do CP.
7 APLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA NOS CASOS DE PSICOPATIA
Conforme vimos, o indivíduo, para ser caracterizado como psicopata, deve ter o transtorno declarado por meio de laudos e exames de sanidade mental, por peritos da área médica, para que o juiz possa aplicar a sanção adequada a cada caso, dependendo sempre do grau de periculosidade do agente. Vimos também que o psicopata, regra geral, é considerado um agente semi-imputável.
Assim sendo, existe dois tipos de sanções, a medida de segurança e as penas. A pena é aplicada com o intuito de punir e de socializar o agente, fazendo com que ele volte a conviver normalmente na sociedade. A medida de segurança tem a função preventiva, impedindo que o sujeito reincida em crimes. Portanto, a pena é retributiva-preventiva e as medidas de segurança são preventivas. Devido a isso, são em regra punidos com a medida de segurança, ou seja, possuem finalidade de cura e prevenção especial. Este tratamento pode ser desenvolvido de duas formas, a primeira com a internação, quando o sujeito não tem condições de ficar em liberdade e a segunda ambulatorial, quando estes podem receber tratamento em casa, já que não apresentam, pelo menos visivelmente, riscos as demais pessoas ao seu redor.
Contundo, há contravenção, uma vez que, como a psicopatia não tem cura, faria com que esse tratamento fosse perpétuo, distorcendo assim, a finalidade da medida de segurança. Dessa forma, a conduta mais adequada seria assim, a pena privativa de liberdade – detenção ou reclusão, para aqueles considerados mais perigosos. Em consequência de que muitos desses psicopatas perigosos, quando presos, manipulam os psicólogos, psiquiatras, pessoas ao seu redor, médico e policiais, acaba por influenciar estes, fazendo com que todos acreditem que ele mudou e está curado. Sendo assim, já podem voltar a sociedade, ocasionando desta forma novas vítimas desses psicopatas.
Visto que estas pessoas, que possuem essa doença, não são capazes de aprender com sanções e punições, já que não se tem ainda uma cura, tornando esses sujeitos em liberdade uma grave ameaça a comunidade. Desta forma a única defesa cabível é a prisão permanente destes. Em contrapartida o sistema penitenciário brasileiro não cumpre com sua função principal, qual seja a ressocialização do indivíduo dentro das prisões, pelo contrário, se restringem apenas aos castigos. Sendo assim fica nítido, que o próprio sistema brasileiro é o maior obstáculo para a ressocialização do preso.
8 PENAS E MEDIDA DE SEGURANÇA
A pena e a medida de segurança são consequências jurídicas do delito que diferem entre si, pois, enquanto a pena é aplicável àquele que é considerado plenamente culpável e tem a tríplice função retributiva, preventiva e educativa; a medida de segurança, por seu turno, é aplicável ao inimputável, e tem função preventiva e terapêutica, na medida em que busca tratar o sujeito para devolve-lo ao convívio social sem que apresente ele um perigo para a sociedade.
Assim, quando resta demonstrada a ausência de culpabilidade plena do agente deve ser perquirido acerca de sua periculosidade e possibilidade de tratamento, que, se presentes, deverá aplicada medida de segurança, a ser cumprida em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado. Quando a internação não for necessária o juiz deve submeter o inimputável ao tratamento ambulatorial.
Outra diferença entre a pena e a medida de segurança é a sua duração. A pena deve ser aplicada sempre por prazo determinado e não superior a trinta anos, já a medida de segurança poderá ser fixada de um a três anos, mas ao final desse prazo o internado deverá passar por novo exame pericial para averiguar se houve a cessação da sua periculosidade, caso seja considerado que ele ainda representa um risco para sociedade a medida de segurança será ser mantida e assim deverá ser feito sucessivamente. O código não prevê prazo máximo, portanto, em tese, poderá ser prorrogada enquanto o sujeito viver.
Entretanto, em recente julgado a Suprema Corte decidiu pela inconstitucionalidadedo cumprimento da medida de segurança por prazo superior a trinta anos:
MEDIDA DE SEGURANÇA – ULTRAPASSAGEM DO PRAZO MÁXIMO DE CUSTÓDIA DE TRINTA ANOS – PRECEDENTE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – NEGATIVA DE SEGUIMENTO. 1. No Habeas Corpus nº 84.219/SP – da minha relatoria, fiz ver:
Observe-se a garantia constitucional que afasta a possibilidade de ter-se prisão perpétua. A tanto equivale a indeterminação da custódia. O que cumpre assinalar, na espécie, é que a paciente está sob a custódia do Estado, pouco importando o objetivo, há mais de trinta anos, valendo notar que o plano de fundo é a execução de título judiciário penal condenatório. O artigo 75 do Código Penal há de merecer o empréstimo da maior eficácia possível, ao preceituar que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a trinta anos. Frise-se, por oportuno, que o artigo 183 da Lei de Execução Penal delimita o período da medida de segurança, fazendo-o no que prevê que esta ocorre em substituição da pena, não podendo, considerada a ordem natural das coisas, mostrar-se, relativamente à liberdade de ir e vir, mais gravosa do que a própria apenação. É certo que o § 1º do Código Penal dispõe sobre prazo da imposição da medida de segurança para inimputável, revelando-o indeterminado. Todavia, há de se conferir ao preceito interpretação teleológica, sistemática, atentando-se para o limite máximo de trinta anos fixado pelo legislador ordinário, tendo em conta a regra primária vedadora da prisão perpétua. A não ser assim, há de concluir-se pela inconstitucionalidade do preceito. 2. Ante o exposto, tendo prevalecido tal óptica, nego seguimento ao extraordinário. 3. Publiquem. Brasília, 26 de dezembro de 2012. Relator Ministro MARCO AURÉLIO
Esse entendimento sobrepõe o interesse individual ao da coletividade, pois defende que o sujeito seja solto que mesmo que o laudo não demonstre que ele não apresenta mais um risco para a sociedade.
Caso haja dúvidas sobre a sanidade mental do acusado, o juiz deve ordenar de ofício ou a requerimento dos legitimados no art. 149 do Código de Penal, a instauração do incidente de sanidade mental, que consiste em um exame pericial feito por um médico para a apuração da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu na data prática da infração penal. Do resultado desse exame podem resultar três situações:
Se o exame demonstrar que não havia qualquer problema mental que influa na culpabilidade, deverá ser aplicada a pena; se demonstrar que o sujeito era inimputável, deverá este ser absolvido e aplicado medida de segurança; por último, demonstrada a semi-imputabilidade há dois caminhos que podem ser seguidos: aplicar a medida de segurança ou a pena com a redução de um a dois terços.
Assim, quando restar demonstrada a semi-imputabilidade do agente deve ser perquirido acerca de sua periculosidade e a possibilidade de tratamento curativo que, se forem constatados, é recomendável que o juiz substitua a pena por medida de segurança. Caso contrário deverá ser aplicada a pena com a redução de um a dois terços.
Acerca das medidas de segurança, essas são sanções penais, que na visão de Delmanto, são de “caráter mais gravoso do que as próprias penas” aplicadas aos imputáveis, devido à severidade da “restrição à liberdade da pessoa internada.”
Ainda quanto as medidas de segurança, essas podem ser classificadas de duas maneiras: detentivas e restritivas. A detentiva é a internação do agente nos hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico. A medida de segurança restritiva possui características semelhantes à detentiva. A diferença consiste na aplicação da pena, sendo detentiva quando a pena for de reclusão e na restritiva quando a pena for de detenção e o prazo para a constatação da perícia médica, na restritiva, será após o decurso do prazo mínimo, que varia entre um e três anos. A aplicação da pena na detentiva é na fase de averiguação, já na restritiva, é na fase de constatação.
9 CESSAÇÃO DA PERICULOSIDADE
Como se sabe, o doente mental não sofre juízo de culpabilidade, e sim de periculosidade. Enquanto for demonstrado que ele ainda representa perigo à convivência social ou comportamentos anormais não cessa a medida de segurança.
Para constatar a cura ou o fim da periculosidade do internado, este deve ser submetido a um exame pericial. O exame será realizado no fim do prazo mínimo de duração da medida, ou a requerimento do interessado.
Mesmo sem requisição, o juiz pode pedir a antecipação desse exame de ofício se chegar ao seu conhecimento fato relevante que indique a necessidade do exame. Se a conclusão desses exames destacar que a periculosidade do agente cessou, o juiz deve decretar extinta a medida de segurança e liberar o agente. Se, caso contrário, o exame tiver como resultado que há ainda a presença de periculosidade, o juiz determinará uma data para a realização do próximo exame, não superior a um ano. Assim fundamenta a jurisprudência do STJ que:
A desinternação ou liberação serão condicionadas à não ocorrência, no decurso de um ano, de prática de fato indicativo de persistência de periculosidade, nos termos do art. 97, § 3º, do Código Penal. Na hipótese, constata-se que o agente voltou a apresentar comportamentos anormais, indicativos da doença que lhe acomete, causando temos e insegurança a seus familiares e a comunidade local, o que constitui motivo bastante para sua reinternação, face ao descumprimento das condições do salvo-conduto.
(RHC 20.599-BA, 5. ª T., rel. Felix Fischer, 28.05.2008, v.u.)
10 CONCLUSÃO
Com o presente artigo, percebemos que a psicopatia é um transtorno mental, e não uma doença, que tem por consequência indivíduos incapazes de conviver em uma sociedade sem causar uma degeneração, devido não obedecerem a leis ou normais sociais. A psicopatia como vimos ainda não existe uma cura definitiva, apenas tratamentos amenizadores, dependendo do nível do transtorno do psicopata.
Ainda que a ressocialização seja almejada por toda a sociedade, com relação aos psicopatas, as penas privativas de liberdade ainda não cumpre com seu objetivo, que é a ressocialização social. Então no momento a solução provisória utilizada por pelo sistema brasileiro, ainda é a medida de segurança.
Contudo, o presente trabalho foi de grande importância para nossa compreensão acerca de um tema tão complexo e amplamente discutido entre os juristas e a medicina, uma vez que, nos permitiu conhecer melhor acerca do transtorno da psicopatia e suas consequências jurídicas, nos levando a nos perguntar, se, a psicopatia deverá ser vista somente como uma questão de saúde mental, ou, se há necessidade de criação de lei específica que seja eficaz para a pacificação dos conflitos que envolvem a psicopatia.
Porém, uma vez o psicopata, preso em cadeia comum, ele pode manipular a todos, e, se possuir comportamento exemplar, sua pena é reduzida. Sendo assim, o que acontecerá com este indivíduo depois que cumprir a sua pena?
Assim, ficou bastante clara a urgência de uma política criminal e social voltada para a situação do psicopata, a qual não pode olvidar do princípio fundamental da Dignidade da Pessoa Humana, e que por outro lado não deixe pairar sobre a sociedade um sentimento de insegurança jurídica, cada vez que um indivíduo diagnosticado como psicopata voltar ao convívio social.
Concluímos ainda, que dentre os meios presentes na atualidade, a medida de segurança é a que se mostra mais eficaz, por tirar o indivíduo do contexto social, destinando a este o tratamento cabível. Entretanto, imprescindível se faz uma ressalva: para que surta efeitos práticos é preciso que o tempo da medida de segurança não se limite àquele estipulado ao do crime ocorrido; esta deve perdurar enquanto se mostrar necessária.
11 REFERÊNCIAS
_____. Trindade, Jorge Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito / Jorge Trindade. 6. ed. rev. atual, e ampi. - Porto Alegre: Livraria do Advogado Edito11ra, 2012.
Estudos sobre transtornos de personalidade Antissocial e Borderline. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002010000600021.Acesso em: junho de 2019.
___. Culpabilidade dos Psicopatas: Prisão ou Tratamento. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/68505/culpabilidade-dos-psicopatas-prisao-ou-tratamento. Acesso em: junho de 2019.
_______. Efeitos jurídico-penais: portadores de Psicopatia. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/38351/efeitos-juridico-penais-portadores-de-psicopatia. Acesso em: junho de 2019.
____. A punibilidade dos psicopatas no ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em: https://jus.com.br/imprimir/51108/a-punibilidade-dos-psicopatas-no-ordenamento-juridico-brasileiro. Acesso em: junho de 2019.
______________________________________________. OLIVEIRA, Alex Moises de. O psicopata e o direito penal brasileiro. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 139, ago 2015. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16292. Acesso em: junho de 2019.
_______________________________. BANHA, Nathalia Cristina Soto. A resposta do Estado aos crimes cometidos por psicopatas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 59, nov 2008. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5321. Acesso em: junho de 2019.

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