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AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 1 Coordenação de Ensino FAMART AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 2 AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 3 SUMÁRIO ORDENAÇÕES DO REINO ........................................................................................ 5 Constituição de 1824 - A Constituição Imperial ......................................................... 12 Decreto n. 1, de 15/11/1889 ...................................................................................... 16 Constituição de 1891 ................................................................................................. 17 A Revolução de 1930 – O Segundo Governo Provisório da República ..................... 20 Constituição de 1934 ................................................................................................. 21 Constituição de 1937 ................................................................................................. 25 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 4 DAS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS As experiências constitucionais brasileiras tiveram início com o império, entretanto, é necessário destacar o contato inicial do direito brasileiro com as ordenações do reino, leis aplicadas no Brasil. Após este primeiro contato, o Brasil teve seu primeiro contato constitucional no império, desembarcando na república que enfrentou períodos ditatoriais e militarismo, e por último, alcançando o atual período com 29 anos de vigência da atual Constituição. As ordenações do reino predominaram durante o período colonial brasileiro, já que o direito brasileiro era basicamente o reflexo do direito português. A constituição imperial (1824) foi a primeira constituição brasileira, mas a interferência do Imperador dificultou a aplicação dos ditames constitucionais, eis que o poder (Moderador) entregue ao “Soberano” desestabilizava os demais poderes. A segunda constituição brasileira (1891), como primeira constituição republicana, trouxe como principal mudança justamente a retirada do poder do imperador, constituída apenas do legislativo, executivo e judiciário. As constituições de 1934 e 1937 sofreram interferências dos Estados Totalitários (nazistas e fascistas), mas também da Revolução do Proletariado iniciada nos Estados Modernos, mas alcançou o Brasil neste período, e ainda da ditadura de Getúlio Vargas. A constituição de 1946 buscou “libertar” o Brasil das amarras militares e ditatoriais, trazendo idéias liberais e sociais, mas com curta duração, derrubada com a interferência militar de 1964 e a constituição militar de 1967. Após períodos de enormes dificuldades, no ano de 1988 foi promulgada a atual constituição baseada no constitucionalismo moderno e no Estado de Direito Social Democrático. A atual constituição possui 29 anos de vigência, caminhando para o seu aniversário trintenário, sofreu diversas emendas, mas ainda vai de encontro com as necessidades institucionais e sociais brasileiras, exceto em pontos como arrecadação, funcionalismo público, crimes de responsabilidades e representatividade. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 5 Além disso, a Constituição de 1988 é o resultado das experiências constitucionais brasileiras, protetora, prolixa, superrígida e em síntese a Constituição Cidadã focada na pessoa humana. Este é um resumo das experiências constitucionais brasileiras, que serão apresentadas em riquezas de detalhes ao longo deste importante material de apoio. ORDENAÇÕES DO REINO Introdução A ordem jurídica portuguesa encontrava-se nas Ordenações do Reino, que compreendiam primeiro, as Ordenações Afonsinas, depois, as Ordenações Manuelinas e, ao tempo da dominação espanhola, as Ordenações Filipinas. Essas Ordenações, isto é, o sistema jurídico português teoricamente eram aplicáveis no Brasil, pois na colônia reinava a legislação da Metrópole. Entretanto, por falta de condições de aplicação, muitos preceitos e normas do direito português eram inaplicáveis aqui e outros necessitavam de adaptação para o serem. Surgiu, então, legislação especial adaptadora do direito da Metrópole à Colônia, bem como legislação local ou especial para o Brasil. A legislação portuguesa, que se destinava exclusivamente ao Brasil era, de regra, decretada em Portugal e, em certos casos, aqui ditada pelos portugueses. Breve relato sobre as Ordenações do Reino As Ordenações Afonsinas (1500-1514), aparecidas no século XV, atribuídas a João Mendes, Rui Fernandes, Lopo Vasques, Luis Martins e Fernão Rodrigues, foram elaboradas sob os reinados de João I, D. Duarte e Afonso V como o trabalho foi finalizado no reinado de Afonso V, recebeu o nome de Ordenações Afonsinas (1446). AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 6 Compunham-se de cinco livros, compreendendo organização judiciária, competências, relações da Igreja com o Estado, processo civil e comercial. As Ordenações Afonsinas consagraram-se como fonte do direito "nacional" e prevalente, tendo por fontes subsidiárias os direitos romanos e canônico, as glosas de Acúrsio e as opiniões de Bartolo e, por último, as soluções dadas pelo Monarca. Dessa forma, observa-se, desde já, que a consolidação das regras nas Ordenações, inclusive costumeiras, enfraqueceram as que não foram incluídas. No entanto, o apreço ao direito romano fica constatado na sua valoração como primeira fonte subsidiária. As segundas ordenações, as Ordenações Manuelinas (1514-1603), foram determinadas pela existência de vultoso número de leis e atos modificadores das Ordenações Afonsinas. Foram seus compiladores: Rui Boto, Rui da Grá e João Cotrim, que iniciaram seu trabalho em 1501, no reinado do Dom Manuel I e terminaram-no, mais ou menos, em 1514. Apresentavam a peculiaridade de uma duplicidade de edições: a primeira data de 1512-1514 e a segunda de 1521. A reforma se deu na parte atinente às fontes subsidiárias, onde após a afirmação da prioridade das leis portuguesas, deveriam ser observados primeiro o direito romano e em segundo lugar o direito canônico. Seguem-se como fontes subsidiárias. As glosas de Acúrsio e as opiniões de Bartolo. As Ordenações Filipinas, juntamente com as leis extravagantes, tiveram vigência no Brasil de 1603 até 1916. Esta compilação data do período do domínio espanhol, sendo devida aos juristas Paulo Afonso, Pedro Barbosa, Jorge de Cabedo, Damião Aguiar, Henrique de Souza, Diogo da Fonseca e Melchior do Amaral, que começaram seus trabalhos no reinado do rei espanhol Felipe I (1581- 1598), terminaram-no em 1603, no reinado de Felipe II (1598-1621). Essas ordenações objetivaram a atualização das inúmeras regras esparsas editadas no período de 1521 a 1600, nãoproduzindo grandes alterações nas fontes subsidiárias exceto transformações de cunho formal. Como última norma legal de fontes subsidiárias ao direito português, em ordem sucessiva: o direito romano, o direito canônico (quando a aplicação do direito romano resultasse em pecado) e as glosas de Acúrsio ou as opiniões de Bartolo (desde que de acordo com a comunis opinio doctorum). AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 7 Este quadro se manteve até 1769 quando por obra do Marquês do Pombal, foi editada a Lei da Boa Razão. Essa lei, sem revogar as Ordenações Filipinas, estabeleceu novos critérios para a interpretação, integração e aplicação das normas jurídicas. A lei em questão visava combater abusos cometidos quando da interpretação dos preceitos legais e aplicação das fontes subsidiárias, suprimindo as glosas e as opiniões, conservando as soluções do direito romano conforme a boa razão. Ser conforme à boa razão equivalia a corresponder aos princípios de direito natural e das gentes. E por fim, após a independência do Brasil, surgiram as Constituições, elaboradas por vezes unilateralmente, e por outros por um “Conselho”, mas se tornaram o ponto fundamental de todos os Governos. Ordenações Afonsinas Concluídas em 1446 d.C, durante a menoridade de D. Afonso V, as Ordenações Afonsinas tiveram longa gestação. Foi no tempo de D. João I (1385- 1423) que se iniciaram os trabalhos de compilação. O encargo foi confiado a João Mendes, Cavaleiro e Corregedor da Corte. Não tendo concluído a obra quando da morte do monarca, continuou nos trabalhos a pedidos do sucessor D. Duarte (1423-1438). Contudo, veio ele próprio a falecer logo depois, sendo substituído por Ruy Fernandes, do Conselho do Rei. É desta época o aparecimento de uma coleção cronológica de leis conhecida como Ordenações de D. Duarte que serviu, parcialmente, de preparação da compilação posterior, ao lado do Livro das Leis e Posturas. Após a morte de D. Duarte, o regente D. Pedro determinou ao compilador que se consagrasse inteiramente a essa tarefa. Terminada a obra na Vila de Arruda aos 28 de julho de 1446, foi submetida, a seguir, à apreciação de uma comissão revisora composta pelo Corregedor da cidade de Lisboa, Dr. Lopo Vasques, e dois desembargadores do Paço, Luís Martins e Fernão Rodrigues, além do próprio Ruy Fernandes. Feita a revisão, que reformou o texto em algumas partes, aprovou-se a compilação por mandato régio. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 8 Quanto à sistemática da codificação, a obra, dividida em 5 livros, parece seguir a estrutura das Decretais de Gregório DC, que teriam servido de modelo. O Livro I ocupa-se daquele direito que hoje poderíamos denominar administrativo, e traz os regimentos dos cargos públicos, quer régios, quer municipais. O segundo livro contempla a matéria relativa à Igreja, sobretudo quanto à jurisdição, pessoas e bens dos eclesiásticos. Trata, igualmente, dos direitos régios, do estatuto dos fidalgos, da jurisdição dos donatários e do estatuto dos judeus e mouros. O terceiro cuida da ordem judiciária, da regulamentação dos termos do processo, dos recursos, das seguranças reais e cartas de segurança. O livro quarto regula o Direito Civil e m sentido amplo: contém determinações sobre contratos, sucessões, tutelas, etc. O último livro enumera os crimes e as penas, incluindo investigação dos crimes, prisão de delinqüentes ou acusados, emprego da tortura nos processos, etc. Na época de sua promulgação, dado o caráter recente da descoberta de Guttemberg, o texto não foi impresso. Acredita-se que o manuscrito original tivesse ficado na Chancelaria do rei D. Afonso V extraindo-se dele cópias para a Casa de Suplicação, que andava com a Corte, para a Casa do Cível, de Lisboa e para alguns conselhos ricos que tivessem condições de custear cópias completas, como os do Porto e Santarém, ou mosteiros poderosos como o de Alcobaça. Tais são alguns dos manuscritos que permitiram a primeira (e única, até o momento) impressão das Ordenações Afonsinas, feita e m Coimbra no ano de 1792. Ordenações Manuelinas As Ordenações Afonsinas tiveram escassa divulgação e vida curta. O problema da divulgação deve-se ao fato de não terem sido impressas. Tirar cópias de um a compilação extensa como era a daquelas leis constituía tarefa demorada e onerosa, como o prova o reduzido número de manuscritos chegados até nós. Assim, o conhecimento da compilação difundiu-se necessariamente com grande vagar. Sua vida curta decorre da promulgação, poucas décadas mais tarde, de nova Ordenação compilada por D. Manuel. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 9 Pensando em aproveitar as vantagens da imprensa - introduzida em Portugal em 1487 - para melhorar a divulgação das Ordenações do Reino, D. Manuel (1495- 1521), antes de imprimi-las, resolveu rever a compilação afonsina para nela introduzir a vasta legislação extravagante do reinado de D. João II e do seu próprio. Encarregou da tarefa o Chanceler-Mor Rui Boto. E m 17 de dezembro de 1512 sai o Livro I das novas Ordenações, e em novembro do ano seguinte o Livro II, ambos das prensas da oficina de Valentim Fernandes. De março a dezembro de 1514 vem à luz, impressa agora por João Pedro Bonhomini, uma edição completa das novas ordenações, já apelidadas de Manuelinas e divididas também em 5 livros. Esta nova compilação pretendia acabar com as dúvidas e debates dos julgadores, decorrentes das contradições, defeitos e regras desnecessárias encontradas na legislação anterior. O sistema das novas Ordenações é idêntico ao das Afonsinas. A matéria encontra-se dividida em cinco livros, subdivididos em títulos e parágrafos, seguindo os moldes anteriores. Quanto ao conteúdo, desaparecem tanto a legislação relativa aos judeus em consequência de sua expulsão do Reino em 1496, quanto as normas relativas à fazenda real, que passaram a formar as autônomas Ordenações da Fazenda. A maior mudança, porém, da nova compilação diz respeito ao estilo no qual foi redigida. Ao contrário das Afonsinas, as Ordenações Manuelinas não são mera compilação de leis anteriores, transcritas na sua maior parte no teor original e indicando o monarca que as promulgara. Em geral, todas as leis são reescritas, em estilo decretório, como se de leis novas se tratasse, embora não passando muitas vezes de nova forma dada a leis já vigentes. Fazendo esse esforço de abstração das coordenadas espaço-temporais, e dando à redação cunho mais hipotético e abstrato, as Ordenações Manuelinas são consideradas por alguns como precursoras das modernas codificações. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 10 O título V do Livro II trata do direito subsidiário e segue fundamentalmente o critério das ordenações precedentes. Declara-se expressamente que a vigência das leis imperiais se dá "pela boa razão em que são fundadas" A glosa de Acúrcio e a opinião de Bártolo, continuam a ser consideradas direito subsidiário, porém, suas doutrinas, agora, aparecem tuteladas pela "comum opinião dos Doutores" ou seja, pela interpretação que recolhe o consenso da doutrina posterior aos mestres. Ordenações Filipinas A história mostra-nos como após uma fase de codificação segue-se, quase sempre, outra de legislação extravagante. Extravagante porque, tratando de matéria já compilada, tallegislação não se inclui no corpo codificado, passando a vigorar "por fora”. Aumentando, esse corpo de legislação extravagante origina a necessidade de sua própria compilação. Redigidas as Ordenações Manuelinas definitivamente, o grande número de leis posteriores começou a tornar antiquada aquela compilação. Durante a menoridade de D. Sebastião e sendo regente o Cardeal D. Henrique, tendo em vista a confusão provocada pela abundância de novas leis e as numerosas determinações da Casa de Suplicação, que tinham valor de interpretação autêntica, encarregou-se o licenciado Duarte Nunes do Leão, procurador da Casa de Suplicação, de juntar toda a legislação extravagante e as determinações e m uso, resumindo-lhes o conteúdo. Duarte Nunes compilou as leis que se encontravam nas Casas de Suplicação e do Cível, na Chancelaria-mor, os regulamentos e capítulos das Cortes, fazendo- lhes a síntese, como lhe tinha sido determinado. A obra, embora fruto da atividade de um particular, adquiriu o caráter de compilação oficial em virtude do alvará de 14 de fevereiro de 1569 que a aprovou, conferindo-lhe, assim, o valor de fonte de direito. A coletânea se compõe de seis partes que disciplinam sucessivamente os ofícios e os oficiais régios, as jurisdições e os privilégios, as causas, os delitos, a fazenda real e, na última, outras matérias. Cada uma das partes compreende vários títulos, cujos preceitos são chamados leis, embora extraídos de fontes de natureza diferente. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 11 As leis mais extensas encontram-se divididas em parágrafos, contudo, nem mesmo a publicação da Coleção de Leis Extravagantes de Duarte Nunes do Leão conseguiu evitar que nascesse, aos poucos, o desejo de realizar nova compilação à medida que se aproximava o fim do século. Por determinação de Felipe II da Espanha, à época soberano também de Portugal, a tarefa se inicia em data não precisa, mas que parece ser anterior a 1589. Trabalharam nela diversos juristas portugueses, entre os quais se destacaram os desembargadores Jorge de Cabedo e Afonso Vaz Tenreiro. O próprio Duarte Nunes do Leão parece ter também contribuído, conforme opinião de Gomes da Silva. Embora terminadas e aprovadas por Felipe II e m 5 de junho de 1595, as Ordenações Filipinas somente entraram em vigor e m 1603, já no reinado de Felipe III (Felipe II de Portugal), por força de nova lei de 11 de janeiro. Não se trata de obra inovadora. No fundo, a preocupação principal foi reunir, num mesmo texto, as Ordenações Manuelinas, a Coleção de Duarte Nunes do Leão e as leis a esta posteriores. Para tanto concorreu, além da crise em que se encontrava à época a cultura jurídica, no rescaldo da investida humanista contra o Direito Romano, a preocupação política de Felipe II de não ferir a suscetibilidade dos novos súditos, manifestando assim o seu respeito pelas instituições portuguesas. Por isso, a legislação filipina nada mais é que uma atualização das Ordenações Manuelinas e não propriamente uma legislação castelhanizante. Contudo, esse respeito deu também origem à falta de clareza, à obscurídade de muitas de suas disposições que é apontada como o seu maior defeito. A nova compilação acompanha o sistema das anteriores, dividindo a matéria em cinco livros. Também o esquema geral relativo ao direito subsidiário é mantido, mudando tão-somente sua publicação. Nas compilações anteriores, o tema era tratado no Livro II, traduzindo de alguma forma o conflito de jurisdições entre o poder temporal simbolizado pelo direito romano - e o poder religioso - simbolizado pelo direito canônico. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 12 Ao transferi-lo para o Livro III, consagrado ao Processo Civil, passa ele a ser encarado como mera questão processual, de determinação de critérios para o julgamento das causas pendentes em juízo, superando substancialmente a idéia inicial do conflito de jurisdições. A Revolução de 1640 não suspendeu a vigência das Ordenações Filipinas. Nesse mesmo ano D. João IV confirma todas as leis promulgadas pela dinastia castelhana em geral, e em 1643, especialmente, as Ordenações Filipinas, em tudo quanto não tivesse sido mudado por suas próprias leis. Apesar das várias tentativas de reforma, as Ordenações vigoraram em Portugal até o advento do Código Civil de 1867, e no Brasil até nosso Código de 1917. Elas são, pois, o monumento legislativo com maior vigência, tanto em Portugal quanto e m nosso país. AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS Constituição de 1824 - A Constituição Imperial Em 7 de setembro de 1822 foi declarada a Independência do Brasil, e em 1823 foi convocada a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, com idéias liberais, não acolhidas pelo Imperador. Dom Pedro I criou um Conselho de Estado para substituir a Assembleia Constituinte, para elaborar um projeto de constituição com total ligação com a sua vontade, chamado de “Majestade Imperial”. A Constituição Imperial foi outorgada em 25 de março de 1824, e dentre todas foi a que durou mais tempo, com forte influência da constituição francesa de 1824. Algumas características da Constituição de 1824: O Governo era característico monárquico, hereditário, constitucional e representativo, com forma unitária de Estado, e nítida centralização político- administrativa. O Território sofreu uma transformação, as capitanias hereditárias foram transformadas em províncias, e estas foram subdividas. Elas eram subordinadas ao Poder Central e tinham um “Presidente”, nomeado pelo Imperador e que poderia ser removido a qualquer tempo em nome do “Estado”. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 13 A Família Real possuía uma dinastia imperante, inicialmente por Dom Pedro I, e em seguida, de Dom Pedro II. A Religião Oficial do Império era a Católica Apostólica Romana. Todas as demais religiões eram permitidas através de seu culto doméstico, ou particular, não podendo ter qualquer manifestação externa do templo. A Capital do Império foi a Cidade do Rio de Janeiro durante 1822 e 1826. Porém, com o Ato Adicional nº 16, de 12/08/1834, a Cidade do Rio de Janeiro foi transformada em Município Neutro ou Município da Corte. Segundo Vitor Fernandes Gonçalves, no Livro: O controle de constitucionalidade das leis do Distrito Federal, p.15-45: “o relacionamento direto com o poder central, ao invés da submissão ao poder da Província do Rio de Janeiro”. Os Poderes foram organizados conforme os ideais de Benjamin Constant, não adotando a teoria tripartite de Montesquieu, pois além das funções legislativa, executiva e judiciária, constituiu-se também a função “moderadora”. O Poder Legislativo era exercido pela Assembleia Geral, com a sanção do Imperador, que era composta de duas Câmaras: Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores, ou Senado. A Câmara dos Deputados era eletiva e temporária, agora a Câmara de Senadores era vitalícia, sendo seus membros nomeados pelo Imperador a partir de uma lista tríplice enviada pela Província. As eleições para o Legislativo eram indiretas. Existia o sufrágio censitário ou seja, para votar e ser votado exigia-se o cumprimento de algumas condições econômico-financeiras. A função executiva (Poder Executivo) era exercido pelo Imperador, Chefe do Poder Executivo, por intermédio de seus Ministros de Estado. Primeiramente, os Ministros não dependiam da confiança do Parlamento, porém, a partir da abdicação do trono por D. Pedro I,em 7 de abril de 1831, na Regência, que durou 9 anos, tempo em que D. Pedro II estava com apenas 5 anos, os Ministros dependiam exclusivamente do Parlamento. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 14 Em seguida, com a chegada ao Poder de D. Pedro II, o segundo imperador do Brasil, que assumiu o trono aos 15 anos de idade, em 18 de julho de 1841, contribuiu para a constituição do parlamentarismo monárquico no Brasil. O parlamentarismo se consolidou a partir da criação do cargo de Presidente do Conselho de Ministros através do Decreto n. 523, de 20/07/1847, pelo qual D. Pedro II escolhia o Presidente do Conselho e este, por sua vez, escolhia os demais ministros, que deveriam ter a confiança dos Deputados e do Imperador. Este parlamentarismo recebeu o nome de “parlamentarismo às avessas”, já que o Presidente do Conselho se equiparava a um primeiro ministro dos países europeus, e contrariamente daqueles Estados, onde o povo escolhia o primeiro ministro, no Brasil o Presidente do conselho de Ministros era escolhido pelo Imperador, e consequentemente, estava subordinado ao Imperador e não ao Parlamento. O Poder Judiciário chamado naquele tempo de “Poder Judicial” era independente e composto por juízes e jurados. Os juízes aplicavam as leis, enquanto os jurados se pronunciavam sobre os fatos. Aos juízes de direito era assegurada a vitaliciedade, a ocupação do cargo até a morte, mas, não lhes foi assegurada a inamovibilidade, ou melhor, eles poderiam ser transferidos de províncias, conforme a vontade do Imperador. Para julgar as causas de segunda instância, foram criadas nas Províncias do Império as “Relações”, e na Capital do Império foi estabelecido como órgão de cúpula do Judiciário, o Supremo Tribunal de Justiça, composto por juízes togados, provenientes das “Relações” das Províncias e seguindo o critério de antiguidade. O Poder Moderador foi o “mecanismo” que fortaleceu o Império e o Poder do Imperador durante o reinado no Brasil. Afonso Arinos de Melo Franco, no Livro O Constitucionalismo de D. Pedro I no Brasil e em Portugal, p. 28-29, destaca que o criador do Poder Moderador foi Benjamin Constant, e ainda diz: AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 15 “Benjamin Constant definia o Poder Moderador, por ele chamado de „Poder Real‟, como „la clef de toute organisation politique’, frase esta consagrada no artigo 98 da Constituição de 1824: „o Poder Moderador é a chave de toda a organização política, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independência, equilíbrio e harmonia dos demais Poderes Políticos‟. Para os liberais, a melhor tradução ao termo „clef‟ seria „fecho‟, no sentido de „apoio e coordenação‟ em relação aos demais poderes. Para os conservadores, a tradução mais adequada seria „chave‟, dando a ideia de possibilidade de „abrir qualquer porta‟, tendo em vista as constantes „intervenções‟ e „imposições‟ do Poder Moderador sobre os demais Poderes.” Em termos práticos, a idéia do termo “clef” como chave refletiu melhor a constante interferência do Poder Moderador sobre os demais Poderes. Além disso, o Imperador recebeu os Títulos de “Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil”, “Majestade Imperial”, e a sua pessoa era inviolável e sagrada, não estando sujeita a qualquer responsabilidade. Durante a Regência ocorreu a tentativa de se instalar o Estado Federativo através das chamadas “Assembleias Legislativas Provinciais”, porém não conseguiram acabar com o Poder Moderador, nem com o absolutismo, o que frustrou a tentativa de instalação de um Estado Federativo no Império. O império enfrentou grandes dificuldades advindas de diversos movimentos populares que lutavam por melhores condições sociais, recebendo o nome de insurreições populares, sendo as mais conhecidas: a) Cabanagem, ocorrida no Pará em 1835; b) Farroupilha, aconteceu no Rio Grande do Sul em 1835; c) Sabinada, revolução ocorrida na Bahia em 1837; d) Balaiada, ocorrida no Maranhão em 1838 e) Revolução Praieira, em Pernambuco em 1848. Uma característica marcante da Constituição de 1824 foi a semirrigidez, nos termos do artigo 178, onde para a alteração das normas, necessitava de um procedimento mais árduo, mais solene e mais dificultoso. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 16 A Constituição de 1824 recebeu forte influência das Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789), com a ideia de constitucionalismo liberal, e ainda continha um importante rol de direitos civis e políticos. Durante a vigência da Constituição de 1824 ocorreu a manutenção da escravidão, por força do regime que se baseava na monocultura latifundiária e escravocrata. Decreto n. 1, de 15/11/1889 A partir do ano de 1860, a Monarquia Brasileira começou a sofrer constantes enfraquecimentos. Em 1868, durante a Guerra do Paraguai, os militares passam a nutrir um forte sentimento de descontentamento com a Monarquia advindo principalmente da redução do orçamento e efetivo dos militares. Conjugados a isto, a Monarquia enfrentou o Manifesto do Centro Liberal (1869) e o Manifesto Republicano (1870), e eles contribuíram sobremaneira para abalar as estruturas da Monarquia Brasileira. Além disso, em 1874 a Monarquia criou fortes entraves com a Igreja Católica. Nesse contexto, em 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, afastando D. Pedro II do Poder e toda a dinastia de Bragança. Destaca-se que não houve muita movimentação popular, pois, a proclamação da República tratava-se de um golpe de Estado militar e armado. Consequentemente, as Províncias do Brasil são transformadas nos Estados Unidos do Brasil. Entre 1889 e 1891 constituiu-se o Governo Provisório, através do Decreto n. 1 de 15/11/1889, redigido por Rui Barbosa, tendo como Presidente Deodoro da Fonseca, com a importante missão de consolidar o novo regime e promulgar a primeira Constituição da República. Por fim, nos termos do artigo 10 do Decreto Presidencial n. 1 de 15/11/1889, “o território do Município Neutro fica provisoriamente sob a administração imediata do Governo Provisório da República, e a cidade do Rio de Janeiro constituída, também provisoriamente, sede do poder federal”. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 17 Constituição de 1891 No ano de 1890 foi eleita a Assembleia Constituinte responsável pela elaboração da primeira Constituição da República, assim, em 24 de fevereiro de 1891 foi promulgada a primeira Constituição da República do Brasil, e esta sofreu uma pequena reforma em 1926 e vigorou até 1930. O Relator da Constituição Republicana foi o Senador Rui Barbosa, e ela sofreu forte influência da Constituição norte-americana de 1787, consagrando o sistema de governo presidencialista, a forma de Estado Federal, a forma de governo republicana, desvencilhando do unitarismo, autoritarismo e da monarquia. Algumas características da Constituição da República de 1891: A Constituição (artigo 1º) adotou como forma de Governo, a República Federativa, sob o regime representativo. Declarou ainda, a união perpétua e indissolúvel das antigas Províncias, transformando-as em Estados Unidos do Brasil. O artigo 2º da Constituição de 1891 declarou que o Distrito Federale Capital do País seria a Cidade do Rio de Janeiro. O antigo Município Neutro, que era sede do Poder Central do Império foi transformado em Distrito Federal, passando a ser a Capital da União. A Constituição de 1891 trouxe uma importante inovação em seu artigo 3º, previu a Construção de uma nova Capital do Brasil e Distrito Federal, nos termos a seguir: “fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital Federal. Efetuada a mudança da Capital, o atual Distrito Federal passará a constituir um Estado”. Com a Constituição de 1891, o Brasil passou a ser um país laico, ou não confessional, pois não havia mais religião oficial. Além disso, retiraram os efeitos civis do casamento religioso, e os cemitérios que eram controlados pela Igreja, passaram a ser administrados pela autoridade municipal. E ainda, houve a proibição do ensino religioso nas escolas públicas. A separação foi tão marcante que na promulgação da Constituição não houve a invocação da expressão “sob a proteção de Deus”. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 18 A Constituição de 1891 trouxe uma verdade independência do Estado para com a Igreja. O artigo 4º do Decreto n. 119-A, já havia extinguido o padroado, direto que o Imperador tinha de intervir nas nomeações de bispos, bem como nos cargos e benefícios eclesiásticos. E a Constituição extinguiu também a concessão ou negativa de beneplácito régio aos Decretos dos Concílios e Letras Apostólicas, ou seja, anteriormente os textos eclesiásticos deviam ser aprovados pelo Estado, agora, o Estado rompeu todas ligações com a Igreja. O Poder Moderador foi extinto, adotando-se a partir de então a teoria clássica de Montesquieu da tripartição de poderes. O artigo 15 da Constituição de 1891 estabeleceu: São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si.” O Poder Legislativo Federal era exercido pelo Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, sendo este composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, estabelecendo-se assim, o bicameralismo federativo. A Câmara dos Deputados era composta de representantes do povo, eleitos pelos Estados e Distrito Federal, mediante sufrágio direto, garantida a representação da minoria, e cada Deputado exercia mandato de 3 anos. Já o Senado Federal representava os Estados e o Distrito Federal, sendo eleitos 3 senadores por Estado e 3 pelo Distrito Federal, eleitos igualmente aos Deputados, para mandato de 9 anos, renovando-se o Senado pelo terço trienalmente, ou seja, 1 a cada 3 anos, pois o mandato era de 9 anos e junto com as eleições para Deputados, que tinham mandato de 3 anos. Em âmbito estadual o Poder Legislativo também foi estabelecido, e curiosamente, alguns Estados, como São Paulo e Pernambuco adotaram a ideia de bicameralismo estadual, constituindo a Câmara de Deputados Estaduais e o Senado Estadual. Em relação aos entes municipais, eram nomeadas autoridades municipais, para exercer a função administrativa. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 19 O Poder Executivo era exercido pelo Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, como chefe eletivo da Nação, era eleito junto com o Vice- Presidente por sufrágio direto da Nação, para mandato de 4 anos, não podendo ser reeleito para um período subseqüente. Destaca-se que ficou previsto no artigo 1º das Disposições Transitórias da Constituição de 1891 que a primeira eleição da República seria indireta pelo Congresso Nacional, elegendo-se o Presidente Marechal Deodoro da Fonseca e o Vice-Presidente dos Estados Unidos do Brasil o Marechal Floriano Peixoto. O Presidente da República era auxiliado pelos Ministros de Estado, agentes de sua confiança que lhe subscreviam os atos e RAM nomeados e demitidos livremente pelo Chefe do Executivo. Outro fato curioso foi que a alguns Estados designavam o Chefe do Executivo Local como “Presidente do Estado”, e alguns como “Governador do Estado”. O Poder Judiciário sofreu diversas transformações com a Constituição de 1891, o órgão máximo do Judiciário passou a se chamar Supremo Tribunal Federal, composto por 15 juízes, e algumas garantias foram estabelecidas como a vitaliciedade para Juízes Federais (artigo 57) e para membros do Supremo Tribunal Militar (artigo 77, §1º), e para os Juízes Federais a irredutibilidade de vencimentos (artigo 5, § 1º). Estabeleceu-se os crimes de responsabilidade. A Justiça Federal foi mantida na Constituição, eis que o Decreto n. 848 de 11/10/1890, por inspiração do modelo norte-americano (1789), suíço (1847) e argentino (1882 e 1883), já havia criado a Justiça Federal no Brasil. A Constituição era rígida, nos termos do artigo 90, perdendo sentido a anterior distinção entre norma material e formalmente constitucional, passando a estabelecer como cláusulas pétreas a forma republicano-federativa e a igualdade da representação dos Estados no Senado. A Declaração de Direitos foi aprimorada, abolindo-se a pena de galés, que havia sido extinta pelo Decreto n. 774 de 20/09/1890, a de banimento e a de morte, excetuando-se, neste último caso, as disposições da legislação militar em tempo de guerra. Houve a continuidade de proteção às clássicas liberdades privadas, civis e políticas, sem a previsão de direitos dos trabalhadores. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 20 Agora em relação às garantias constitucionais, na Constituição de 1891, houve expressa previsão pela primeira vez do ação constitucional do habeas corpus. Apesar de que no Decreto n. 114 de 23/05/1821, denominado Alvará de D. Pedro I, houve a proibição de prisões arbitrárias, e no Código Criminal de 16/12/1830, nos artigos 183-188 prever a garantia do habeas corpus, também previsto no Código de Processo Criminal de Primeira Instância, Lei n. 127 de 29/11/1832 (artigos 340-345). Em 03/09/1926 foi editada a primeira Emenda à Constituição de 1891, limitando a garantia do habeas corpus aos casos exclusivos de privação de liberdade, já que a ação de habeas corpus estava sendo usada para à garantia de vários direitos, denominada, “Teoria Brasileira do Habeas Corpus”. Em 03/09/1926 também ocorreu uma reforma na Constituição de 1891, centralizando o poder à União, restringindo a autonomia dos Estados. Segundo Celso Bastos, no Livro Curso de direito constitucional, 21 ed., p. 110, a Reforma de 1926 foi: “... marcada por uma conotação nitidamente racionalista, autoritária, introduzindo alterações no instituto da intervenção da União nos Estados, no Poder Legislativo, no processo legislativo, no fortalecimento do Executivo, nos direitos e garantias individuais e na Justiça Federal”. Por fim, o movimento armado de 1930, pôs fim ao período denominado de “Primeira República, ou República Velha”. A Revolução de 1930 – O Segundo Governo Provisório da República A República Velha tem seu fim com a Revolução de 1930, e este marco histórico instituiu o Governo Provisório, conforme o Decreto n. 19.398 de 11/11/1930, colocando no Poder Getúlio Vargas. Pedro Lenza, no Livro Direito Constitucional Esquematizado, 15 ed., p. 104, citando o Livro O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e possibilidades da Constituição brasileira, 8. ed., p. 14-19, leciona: AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRASwww.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 21 “Barroso aponta dois aspectos mais graves a ensejar a ruína da República Velha: o domínio das oligarquias e a fraude eleitoral institucionalizada. Lembra, ainda, a grave crise econômico-financeira de 1929 (“Grande Depressão”), uma pequena burguesia em ascensão, o Tenentismo (movimento contra o regime oligárquico que dirigia o Brasil) e o surgimento de uma classe operária descontente em razão do processo de industrialização estimulado pela Primeira Guerra.” Outro fato que contribuiu para a Revolução de 30 foi a morte de João Pessoa em 26 de julho de 1930, dando início ao movimento militar. Assim, naquele ano, uma Junta Militar transferiu o poder para um Governo Provisório, que vigeria até a promulgação da Constituição de 1934. Porém, até a promulgação, foram utilizados elementos de pressão e métodos arbitrários, como por exemplo, a atuação na Revolução de São Paulo, em 09/07/1932. O artigo 1º do Decreto n. 19.398/30 concedeu ao Governo Provisório a plenitude de todas as funções e atribuições do Poder Executivo e do Poder Legislativo, por meio de decretos expedidos pelo Chefe do Governo, até que fosse eleita a Assembleia Constituinte, para reorganização do país. Outro ponto do Decreto, a dissolução do Congresso Nacional (artigo 2º), das Assembleias Legislativas dos Estados, das Câmaras ou Assembleias Municipais, e de outro órgão legislativo ligado aos Estados, Municípios e Distrito Federal ou Território. Consequentemente, foi nomeado um interventor para cada Estado, nos termos do artigo 11 do Decreto, e este controlava também os respectivos municípios. O ponto positivo do Governo Provisório foi a decretação do Código Eleitoral, realizado por Getúlio Vargas em 1932, por meio do Decreto n. 21.076 de 24/02/1932, criando a Justiça Eleitoral, e adotando o voto feminino e o sufrágio universal, direto e secreto. Por fim, após este período tenebroso, no dia 16 de julho de 1934 foi promulgada a Constituição de 1934. Constituição de 1934 AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 22 A Constituição de 1934 sofreu várias influências dos movimentos revolucionários, da Constituição Alemã de Weimar de 1919, protegendo os direitos humanos de 2ª geração ou dimensão e a busca por um Estado social de direito (democracia social), e ainda do fascismo, estabelecendo que além do voto direto para escolha dos Deputados, poderia ser indiretamente através da “representação classista” do Parlamento. Na Constituição de 1934 foram mantidos alguns princípios fundamentais, como a República, a Federação, a tripartição de Poderes, o presidencialismo e o regime representativo. Abaixo algumas características da Constituição de 1934: O artigo 1º da Constituição trouxe a seguinte previsão: “a Nação brasileira, constituída pela união perpétua e indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios em Estados Unidos do Brasil, mantém como forma de Governo, sob o regime representativo, a República Federativa proclamada em 15 de novembro de 1889.” Os poderes da União foram aumentados, e houve discriminação dos tributos destinados a cada ente: União, Estados e Municípios. Foi mantida como Capital da República e sede do Distrito Federal a Cidade do Rio de Janeiro, administrada agora por um Prefeito. Novamente a Constituição (1934) trouxe a previsão da transferência do Distrito Federal para a parte Central do País (artigo 4º das Disposições Constitucionais Transitórias), assim que a Constituição entrasse em vigor, o Presidente da República enviaria uma Comissão e esta faria estudos e apresentaria os resultados à Câmaras dos Deputados, que escolheria o local e tomaria as providências necessárias para a realização da transferência. O Distrito Federal foi elevado à condição de “supermunicípio”, conforme artigo 5º, inciso XVI da Constituição de 1934 e do artigo 1º da Lei n. 196 de 18/01/1936, esta a Segunda Lei Orgânica do Distrito Federal. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 23 Nos termos da Constituição o Brasil continuou sendo um País laico, ou não confessional, sendo inviolável a liberdade de consciência e de crença e garantido o livre exercício dos cultos religiosos, desde que não contrários à ordem pública e aos bons costumes. Diversamente da Constituição de 1891, a Constituição de 1934 admitiu novamente o casamento religioso com efeitos civis, conforme artigo 146, com a seguinte previsão: “o casamento perante ministro de qualquer confissão religiosa, cujo rito não contrarie a ordem pública ou os bons costumes, produzirá, todavia, os mesmos efeitos que o casamento civil, desde que, perante a autoridade civil, na habilitação dos nubentes, na verificação dos impedimentos e no processo da oposição sejam observadas as disposições da lei civil e seja ele inscrito no Registro Civil.” E ainda ficou facultativo, o ensino religioso nas escolas públicas, de acordo com o artigo 153 da Constituição de 1934. Por fim, após a luta contra a descrição “sob a proteção de Deus”, a Constituição de 1934 trouxe tal descrição em seu texto. Os poderes mantiveram a clássica divisão tripartide de Montesquieu, nos termos do artigo 3º, com a seguinte previsão: “são órgãos da soberania nacional, dentro dos limites constitucionais, os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e coordenados entre si”. (grifo pessoal). O Poder Legislativo era exercido pela Câmara dos Deputados com a colaboração do Senado Federal. Desta maneira, foi desfeito o princípio do bicameralismo paritário, no qual as duas casas possuíam funções idênticas. Na verdade, instituiu-se um bicameralismo desigual, também chamado de unicameralismo imperfeito, pois o Senado Federal era mero colaborador da Câmara dos Deputados. O mandato dos Deputados era de 4 anos. A Câmara dos Deputados era composta de representantes do povo, eleitos através de sistema proporcional e sufrágio universal, igual e direto, e de representantes eleitos pelas organizações profissionais, com forte influência fascista. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 24 Agora o Senado Federal era composto por 2 representantes de cada Estado e do Distrito Federal, eleitos mediante sufrágio universal, igual e direto, para o mandato de 8 anos, mas os requisitos eram ser brasileiro nato, alistado, eleitor e maior de 35 anos, renovando-se a cada 4 anos, na eleição para Deputados. A atuação do Senado era muito restrita, como mencionado no artigo 41, § 3º da Constituição de 1934: “a competência nas matérias relacionadas à Federação, como a iniciativa das leis sobre a intervenção federal, e em geral, as matérias de interesse de um ou mais Estados da Federação.” O Poder Executivo era exercido pelo Presidente da República, eleito junto com o Vice- Presidente, por sufrágio universal, direto, secreto e por maioria dos votos, exercendo o mandato de 4 anos, vedada a reeleição. O Presidente da República era auxiliado pelos Ministros de Estado, que passaram a ter responsabilidade pessoal e solidária com o Presidente da República. O Poder Judiciário foi organizado da seguinte maneira: a) A Corte Suprema; b) Os Juízes e Tribunais Federais; c) Os Juízes e Tribunais Militares; d) Os Juízes e Tribunais Eleitorais. Os juízes tinham as garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. A Corte Suprema era composta por 11 Ministros, e a suasede ficava na Capital da República – Distrito Federal, com jurisdição em todo o território nacional. A Constituição de 1934 era rígida, como estabelecido no artigo 178: “a constituição poderá ser emendada, quando as alterações propostas não modificarem a estrutura política do Estado (arts. 1º a 14, 17 a 21); a organização ou a competência dos poderes da soberania (Capítulos II, III e IV do Título I; o Capítulo V do Título I; o Título II; o Título III; e os arts. 175, 177, 181, este mesmo art. 178); e revista, no caso contrário”. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 25 O artigo 178, § 5º determinou como cláusula pétrea, a forma republicana federativa. A Constituição de 1934 constitucionalizou alguns direitos importantíssimos, como o voto feminino, com igual valor ao masculino, e também o voto secreto, como previstos pelo Código Eleitora de 1932. Os direitos clássicos foram mantidos, mas as inovações foram nos direitos sociais, garantindo os direitos da ordem econômica e social (Título IV), da família, educação e cultura (Título V) e da segurança nacional (Título VI). Foi dada ênfase a legislação trabalhista e a representação classista. As maiores novidades da Constituição de 1934 foram em relação às Ações Constitucionais, trazendo pela primeira vez a previsão do mandado de segurança (artigo 113, n. 33) e da ação popular (art. 113, n. 38). Constituição de 1937 Getúlio Vargas foi eleito para governar o Brasil de 1934 a 1938. Porém, encontrou dificuldades com a oposição fascista, de um lado a Ação Integralista Brasileira – AIB, defendendo um Estado autoritário, e de outro lado a Aliança Nacional Libertadora – ANL, com ideais socialistas, comunistas e sindicais. Em 11 de julho de 1935, o Governo fechou a Aliança Nacional Libertadora – ANL, justificando que o movimento era ilegal, em especial com o manifesto lançado por Luis Carlos Prestes, com bases na “Lei de Segurança Nacional”. Getúlio Vargas, também enfrentou a Intentona Comunista, movimento formado por políticos e militares dos Estados de Natal, Recife e Rio de Janeiro que receberam o apoio do Partido Comunista Brasileiro e de ex tenentes, que se tornaram militares comunistas, com o objetivo de derrubar Getúlio Vargas e instalar o socialismo no Brasil. Para inibir as intenções comunistas, Getúlio Vargas decretou Estado de sítio e tratou com forte repressão o movimento opositor, criando a “Polícia Especial” para o auxílio no combate ao movimento. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 26 Não bastasse, Getúlio Vargas, com o apoio do Congresso Nacional decretou “estado de guerra”, pois em 30 de setembro de 1937, o Estado-Maior do Exército descobriu um plano comunista com o objetivo de tomar o poder, que recebeu o nome de “Plano Cohen”. Nesse clima, o Governo apresentou a “salvação” contra o comunismo, com o apoio dos Generais Góis Monteiro, Chefe do Estado-Maior do Exército e Eurico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra, em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas deu um golpe ditatorial, centralizando o poder em suas mãos e dissolvendo o Congresso Nacional. Vargas intitulou o golpe de “nascer da nova era”, outorgando a Constituição de 1937, influenciada por ideais autoritários e fascistas, instalando a Ditadura do Estado Novo, e todo o país entrou em estado de emergência. A Constituição de 1937 foi elaborada por Francisco Campos, e foi chamada de “Polaca”, pela forte influência sofrida pela Constituição Polonesa 1935, que era uma Constituição Fascista, imposta pelo Marechal Polonês Josef Pilsudski. A Constituição de 1937 deveria ter sido submetida a plebiscito nacional, conforme o artigo 187, mas isto nunca aconteceu. Além de fechar o Parlamento, o Governo manteve o domínio do Judiciário. A Federação foi abalada pelos interventores. Os direitos fundamentais foram enfraquecidos, principalmente pela atuação da Polícia Especial e pelo Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP. Ademais, no dia 02 de dezembro de 1937, através do Decreto-lei n. 37, Getúlio Vargas dissolveu os partidos políticos, demonstrando o poder da ditadura. Foi um período bastante conturbado, mas como o Estado atuava fortemente na economia, neste setor ocorreu importante crescimento. Em busca do apoio popular, a política desenvolvida por Getúlio Vargas foi considerada “populista”, e o principal marco deste período foi a consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e a consagração de importantes direitos trabalhistas, como por exemplo o salário mínimo. A Constituição de 1937 apresentou características peculiares, tais como: A Forma de Governo estabelecida foi à República, apesar do golpe ditatorial, nos termos do artigo 1º, que dizia: AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 27 “o Brasil é uma República. O poder político emana do povo e é exercido em nome dele e no interesse do seu bem-estar, de sua honra, de sua independência e de sua prosperidade.” A forma de Estado foi mantida a Federação, mas na prática, os Estados sofreram a repressão dos interventores federais, nomeados por Getúlio Vargas, tanto que os Vereadores e Prefeitos eram nomeados pelos interventores. A Cidade do Rio de Janeiro continuou sendo a Capital do País e o Distrito Federal, conforme artigo 7º da Constituição de 1937. O Brasil continuou sendo um país laico, e a invocação da proteção de Deus em seu preâmbulo, não foi feita na Constituição de 1937. Formalmente foi mantida a teoria clássica tripartite dos Poderes de Montesquieu, porém, o que realmente aconteceu foi a centralização do poder nas mãos de Getúlio Vargas, dissolvendo o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. O artigo 38 estabeleceu que o Poder Legislativo seria exercido pelo Parlamento Nacional com a colaboração do Conselho da Economia Nacional e do Presidente da República. Segundo a Constituição, o Parlamento Nacional era composto pela Câmara dos Deputados e pelo Conselho Federal, este último em substituição do Senado Federal, que durante a Ditadura do Estado Novo deixou de existir. A Câmara dos Deputados seria composta de representantes do povo, eleitos mediante sufrágio indireto para mandato de 4 anos. Já o Conselho Federal seria composto de representantes dos Estados e 10 membros nomeados pelo Presidente da República, e a duração do mandato era de 6 anos. Destaca-se que o artigo 178 dispôs o seguinte: “Ficam dissolvidos a Câmara dos Deputados, o Conselho Federal, as Assembleias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais.” AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 28 E enquanto o Parlamento Nacional não se reunisse para a realização de novas eleições, o Presidente da República tinha o poder de expedir decretos-leis sobre todas as matérias de competência legislativa, e o que aconteceu foi que o Legislativo nunca chegou a funcionar. O Poder Executivo era exercido pelo Presidente da República, autoridade suprema do Estado, e ele coordenava a atividade dos órgãos representativos, de grau superior, dirigia a política interna e externa, promovia a política legislativa de interesse nacional, e era superintendente da administração do País. Eram órgãos do Poder Judiciário: a) O Supremo Tribunal Federal; b) Os Juízes e Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; c) Os Juízes e Tribunais Militares A Justiça Eleitoral foi extinta,e os partidos políticos foram dissolvidos. O Judiciário foi “esvaziado”, e as funções foram centralizadas nas mãos do Presidente da República, por exemplo, o parágrafo único do artigo 96 da Constituição de 1937, trouxe a seguinte previsão: “no caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República, fosse necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, pode o Presidente da República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por 2/3 dos votos em cada uma das Câmaras, ficando sem efeito a decisão do Tribunal.” Assustadoramente, foi criado um quase “Estado de exceção”, pois durante o estado de emergência ou estado de guerra, os atos praticados pelo Governo não poderiam ser conhecidos por qualquer Juiz ou Tribunal, nos termos do artigo 170 da Constituição de 1937. Na Constituição de 1937 não houve a previsão do mandado de segurança, nem da ação popular. Também foram extintos os princípios da irretroatividade das leis e da reserva legal. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 29 Houve uma intensa censura da imprensa, do teatro, da cinematografia, da radio fusão, conforme o artigo 122, n. 15, “a”, da Constituição de 1937. Nenhum jornal poderia recusar a reprodução de comunicados do Governo (artigo 122, n. 15, “b”). O Temido artigo 122, n. 13, trouxe a previsão da pena por morte, além dos casos previstos na legislação militar para o tempo de guerra, para os crimes políticos e nas hipóteses de homicídio cometido por motivo fútil e com extremos de perversidade. O artigo 177, que vigorou durante todo o Estado Novo, mostrou novamente o autoritarismo e a ditadura ao dispor que o Governo poderia aposentar ou reformar, de acordo com a legislação em vigor, os funcionários civis e militares cujo afastamento se impusesse a juízo exclusivo do “Governo”, no interesse do serviço público ou por conveniência do regime. O artigo 186 da Constituição de 1937 declarou o estado de emergência, suspendendo direitos e garantias individuais. Foram proibidos as greves e lock-outs, de acordo com o artigo 139, sendo declarados recursos antissociais nocivos ao trabalho e ao capital, incompatíveis com os interesses da economia nacional. A tortura foi utilizada como instrumento de repressão, tendo como caso emblemático a entrega de Olga Benário, mulher de Luís Carlos Prestes, líder comunista no Brasil, para ser assassinada em campo de concentração nazista na Alemanha. Muito embora a triste realidade ditatorial, foi inegável a nacionalização da economia e o controle das áreas de produção da mineração, aço e petróleo, frisando assim uma importante expansão capitalista. Foram criadas as seguintes estatais: a) Companhia Vale do Rio Doce (1942); b) Companhia Nacional de Álcalis (1943); c) Fábrica Nacional de Motores (1943); d) Companhia Hidroelétrica de São Francisco (1945) AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 30 Por fim, vale trazer a baila, o pensamento do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, no Livro O direito constitucional e a efetividade de suas normas, p. 24: “... a Constituição não desempenhou papel algum, substituída pelo mando personalista, intuitivo, autoritário. Governo de fato, de suporte policial e militar, sem submissão sequer formal à Lei maior, que não teve vigência efetiva, salvo quanto aos dispositivos que outorgavam ao chefe do Executivo poderes excepcionais.” Constituição de 1946 Durante a Segunda Guerra Mundial, o Governo Brasileiro se opôs aos países do “Eixo”, tendo como principais potências a Alemanha, a Itália e o Japão, entrando no confronto ao lado dos “Aliados”, China, França, Grã-Bretanha, União Soviética e os Estados Unidos. Em 1943 ocorreu a criação da Força Expedicionária Brasileira – FEB, um importante marco histórico. A entrada na Guerra fez com que Vargas perdesse o seu prestígio, e a sua queda foi materializada em 24 de outubro de 1943, com o Manifesto dos Mineiros, carta assinada por intelectuais que apontava a contradição entre a política interna e externa. Isso porque, ao entrar na Guerra ao lado dos “Aliados”, buscando enfrentar as ditaduras nazifascistas de Mussolini e Hitler (países do “Eixo”), parecia natural que o fascismo fosse “varrido” da realidade brasileira, não se sustentando, internamente, até porque era uma grande contradição manter um Estado arbitrário com base em uma Constituição inspirada no modelo fascista e externamente lutar contra os assustadores regimes. Outros documentos, na mesma linha do Manifesto dos Mineiros, foram assinados. Essa crise política forçou Vargas a assinar o Ato Adcional em 1945 (Lei Constitucional n. 9 de 28/02/1945), convocando eleições presidenciais e marcando a derrocada final do “Estado Novo”. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 31 Durante a campanha eleitoral, surge o movimento chamado “queremismo” que significava “Queremos Getúlio”, e tudo levava a crer, especialmente com o apoio do partido comunista, agora legalizado, que Getúlio iria continuar e, eventualmente, até dar um novo golpe. Em 29 de outubro de 1945, Vargas tentou substituir o chefe de Polícia do Distrito Federal por seu irmão, Benjamin Vargas. Além disso, nomeou João Alberto para Prefeito do Rio de Janeiro, fatos que precipitariam o fim do Estado Novo, já que davam a entender a vontade de Vargas continuar no Poder. Esses fatos culminaram com a “expulsão” de Vargas do poder pelos Generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro, sendo, assim, deposto pelas Forças Armadas. Convocado pelas Forças Armadas, o Executivo passou a ser exercido pelo então Presidente do STF, Ministro José Linhares, que governou de 29/10/1945 a 31/01/1946, até assumir, eleito pelo voto direto e com mais de 55% de aprovação dos eleitores, o General Gaspar Dutra como o novo Presidente da República. José Linhares praticou importantes atos, como: a) Revogação do artigo 177 que permitia a aposentadoria ou reforma compulsórias, a exclusivo juízo do Governo, de funcionários civis e militares; b) A extinção do Tribunal de Segurança Nacional; c) A revogação do estado de emergência; d) A extinção do Conselho de Economia Nacional; e) A abolição da regra que permitia o esvaziamento da efetividade das decisões do STF em controle de constitucionalidade (artigo 96, parágrafo único). A Lei Constitucional n. 13, de 12/11/1945, atribuiu poderes constituintes ao Parlamento que seria eleito em 02/12/1945 para a elaboração da nova Constituição do Brasil. A Assembleia Constituinte foi instalada em 1º de fevereiro de 1946, vindo o texto a ser promulgado em 18/09/1946. Tratava-se da redemocratização do País, repudiando-se o Estado totalitário que vigia desde 1930. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 32 O texto buscou inspiração nas ideias liberais da Constituição de 1891 e nas ideias sociais da de 1934. Na ordem econômica, procurou harmonizar o princípio da livre-iniciativa com o da justiça social. Algumas características da Constituição de 1946: A Forma de Governo era a Republicana e Forma de Estado a Federativa, conforme o artigo 1º que dizia, “os Estados Unidos do Brasil, mantêm, sob o regime representativo, a Federação e a República”. Prestigiam o municipalismo. O Distrito Federal continuou como Capitalda União. Cabe lembrar, contudo, a previsão do artigo 4º, do ADCT: “a Capital da União será transferida para o planalto central do País. Promulgado este Ato, o Presidente da República, dentro em 60 dias, nomeará uma Comissão de técnicos de reconhecido valor para proceder ao estudo da localização da nova Capital. O estudo previsto no parágrafo antecedente será encaminhado ao Congresso Nacional, que deliberará a respeito, em lei especial, e estabelecerá o prazo para o início da delimitação da área a ser incorporada ao domínio da União. Findos os trabalhos demarcatórios, o Congresso Nacional resolverá sobre a data da mudança da Capital. Efetuada a transferência, o atual Distrito Federal passará a constituir o Estado da Guanabara”. Cumprindo o seu “Plano de Metas” (“50 anos em 5”), Juscelino Kubitschek, além de suas importantes realizações econômicas, implementa a tão esperada construção de Brasília, a nova capital do Brasil, que depois de tanto tempo sendo prevista nos textos constitucionais, foi inaugurada em 21 de abril de 1960. A inexistência de religião oficial teve continuidade, muito embora a expressa menção a “Deus” inserida no preâmbulo da Constituição. Em relação a organização dos Poderes, a teoria clássica da tripartição de “Poderes” de Montesquieu foi restabelecida. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 33 Nos termos do artigo 37, o Poder Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, que se compunha da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, reaparecendo o bicameralismo igual. A Câmara dos Deputados compunha-se de representantes do povo, eleitos, segundo o sistema de representação proporcional, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Territórios, para mandado de 4 anos. O Senado Federal, por sua vez, compunha-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário e para mandato de 8 anos, Cada Estado, e bem assim o Distrito Federal, elegia 3 Senadores, renovando- se a representação de cada Estado e a do Distrito Federal de 4 em 4 anos, alternativamente, por 1 e por 2/3. Nos termos do artigo 61, as funções de Presidente do Senado Federal eram exercidos pelo Vice-Presidente da República. Nos termos do artigo 141, § 13, constitucionalizaram-se os Partidos Políticos, sendo vedada a organização, o registro ou o seu funcionamento nas hipóteses em que o programa ou ação contrariassem o regime democrático, baseado na pluralidade dos partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem. Poder Executivo: retomando a normalidade democrática, o Presidente da República deveria ser eleito de forma direta para mandato de 5 anos, junto com o Vice-Presidente, que, como visto, acumulava a função de Presidente do Senado Federal. Poder Judiciário: foi retomada a situação de normalidade. O Poder Judiciário era exercido pelos seguintes órgãos: a) Supremo Tribunal Federal; b) Tribunal Federal de Recursos; c) Juízes e Tribunais Militares; d) Juízes e Tribunais eleitorais; e) Juízes e Tribunais do trabalho. O mandado de segurança e a ação popular foram restabelecidos no texto constitucional. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 34 Salienta-se que nos termos do artigo 141, § 4º, consagrou-se o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional ao estabelecer que “a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual”. E ainda, nos termos do artigo 141, § 13, passa-se, pela primeira vez, a prever a regra para os partidos políticos. Além disso, nos termos do artigo 141, § 31, vedou-se, caracterizando de cunho humanitário, a pena de morte (salvo disposições da legislação militar em tempo de guerra com país estrangeiro), a de banimento, a de confisco e a de caráter perpétuo. E por fim, nos termos do artigo 158, foi reconhecido o direto de greve. As várias garantias dos trabalhadores já conquistadas durante o “Estado Novo” foram mantidas, marcando importante “degrau” na evolução social do País. Perdendo o apoio político, tanto do centro da direto, o Presidente Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto de 1961, encaminhando carta ao Congresso Nacional pela qual afirmava que teria sido pressionado por “forças ocultas terríveis”. O Vice-Presidente João Goulart (Jango) estava na China e, assim, as Forças Armadas tentaram impedir o seu retorno, tendo em vista o receio com suas ligações comunistas. Não aceitando o inconstitucional afastamento de Jango, o Congresso Nacional tentando ser conservador, aprovou, em 02/09/1961, o regime parlamentarista. A grande novidade era a dualidade do Executivo, exercido pelo Presidente da República e pelo Conselho de Ministros, cabendo a estes a responsabilidade política do Governo. Nos termos do artigo 3º, inciso I, da EC n. 4/61, o Presidente da República nomeava o Primeiro-Ministro, que, por sua vez, escolhia os demais Ministros a serem nomeados pelo Presidente da República. Feito o referendo, em 06/01/1963, o povo determinou o retorno imediato ao presidencialismo, que continuou até a Revolução Militar de 1964. Interferência Militar de 1964 AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 35 João Goulard foi derrubado por um movimento militar que eclodiu em 31/03/1964, tendo sido acusado de estar a serviço do “comunismo internacional”. Instalava-se, assim, uma nova “ordem revolucionária” no País. O General Costa e Silva, o Brigadeiro Francisco Correia de Melo e o Almirante Augusto Rademaker, militares vitoriosos, constituíram o chamado Supremo Comando da Revolução e, em 09/04/1964, baixaram o Ato Institucional n. 1, de autoria de Francisco Campos (o mesmo que elaborou a Carta de 1937), com muitas restrições à democracia: a) Nos termos do artigo 6º, o Comando da Revolução poderia decretar o estado de sítio; b) Nos termos do artigo 7º, conferia-se o poder de aposentar civis ou militares; c) Nos termos de seu artigo 10, o de suspender direitos políticos, cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial desses atos. O AI n. 2/65, após ter estabelecido eleições indiretas para Presidente e Vice- Presidente da República, foi seguido pelo n. 3, que também as estabeleceu em âmbito estadual. O Congresso Nacional foi fechado em 1966, sendo reaberto, posteriormente, nos termos do AI n. 4/66. Contudo, em razão do “autoritarismo” implantado pelo Comando Militar da Revolução, não possuindo o Congresso Nacional liberdade para alterar substancialmente o novo Estado que se instaurava, o texto de 1967 foi outorgado unilateralmente, apesar de formalmente votado, aprovado e “promulgado” pelo regime ditatorial militar implantado. Em conclusão, pode-se afirmar que a Constituição de 1946 foi suplantada pelo Golpe Militar de 1964. Embora continuasse existindo formalmente, o País passou a ser governado pelos Atos Institucionais e Complementares, com o objetivo de consolidar a “Revolução Vitoriosa”, que buscava combater e “drenar o bolsão comunista” que assolava o Brasil. Constituição de 1967 AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 36 Na mesma linha da Carta de 1937, a de 1967 concentrou, bruscamente, o poder no âmbito federal, esvaziando os Estados e Municípios e conferindo amplos poderes ao Presidente da República. E a grande preocupação foi com a segurança nacional.Algumas características podem ser destacadas na Constituição de 1967: A Forma de Governo foi a República. Muito embora o artigo 1º, estabelecesse ser o Brasil uma República Federativa, constituída, sob o regime representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, na prática, contudo, o que se percebeu foi um duro “golpe” no federalismo, mais se aproximando de um Estado unitário centralizado do que federativo. Nos termos do artigo 2º, o Distrito Federal continuou sendo a Capital da União, lembrando que os Poderes da República já haviam sido transferidos para Brasília, no Planalto Central do País, inaugurada em 21 de abril de 1960. Continuou o Brasil a ser um país leigo, embora houvesse a expressa menção a “Deus” no preâmbulo. A teoria clássica da tripartição de Poderes de Montesquieu foi formalmente mantida. Conforme anota Celso Bastos, com precisão, no Livro Curso de direito constitucional, 21. ed., p. 134, apesar da previsão da tripartição de Poderes, “... no fundo existia um só, que era o Executivo, visto que a situação reinante tornava por demais mesquinhas as competências tanto do Legislativo quanto do Judiciário...”. Nos termos do artigo 29, o Poder Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, que se compunha da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A Câmara dos Deputados era formada por representantes do povo, eleitos por voto direto e secreto, em cada Estado e Território e para mandato de 4 anos. O Senado Federal compunha-se de representantes dos Estados, eleitos pelo voto direto e secreto, segundo o princípio majoritário. Cada Estado elegia 3 Senadores, com mandato de 8 anos, renovando-se a representação de 4 em 4 anos, alternadamente, por 1 e por 2/3. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 37 Na prática, contudo, conforme visto, o Legislativo teve a sua competência diminuída. Além disso, nos termos do artigo 41, § 2º, fortaleceu-se a representação dos Deputados nos Estados menores: “o número de Deputados será fixado em lei, em proporção que não exceda de um para cada trezentos mil habitantes, até vinte e cinco Deputados, e, além desse limite, um para cada milhão de habitantes”. O Poder Executivo foi fortalecido, o Presidente era eleito para mandato de 4 anos, de maneira indireta por sufrágio do Colégio Eleitoral, composto pelos membros do Congresso Nacional e de Delegados indicados pelas Assembleias Legislativas dos Estados, em sessão pública e mediante votação nominal. O Presidente da República legislava por decretos-leis, que poderiam ser editados em casos de urgência ou de interesse público relevante, e desde que não resultasse aumento de despesa sobre as seguintes matérias: a) Segurança nacional; b) Finanças públicas. O artigo 58, parágrafo único, previa a criticada aprovação por decurso de prazo de decreto-lei, já que, publicado o texto, que tinha vigência imediata, o Congresso Nacional o aprovava ou rejeitava, dentro de 60 dias, não podendo emendá-lo. Se, porém, nesse prazo não houvesse deliberação, o texto seria tido como aprovado. Nos termos do artigo 60, estrategicamente, estabeleceu-se a iniciativa exclusiva do Presidente da República para certas matérias, ou seja, só ele poderia dar início ao processo legislativo. Poder Judiciário: o Poder Judiciário da União era exercido pelos seguintes órgãos: a) Supremo Tribunal Federal; b) Tribunais Federais de Recursos e Juízes Federais; c) Tribunais e Juízes Militares; d) Tribunais e Juízes Eleitorais; e) Tribunais e Juízes do Trabalho. Havia previsão da Justiça Estadual, em razão do centralismo, o Judiciário também teve sua competência diminuída. AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 38 Havia exagerada possibilidade de suspensão de direitos políticos por 10 anos, nos termos do artigo 151. Houve a previsão de se tornar perdida a propriedade para fins de reforma agrária, mediante o pagamento da indenização com títulos da dívida pública. Os direitos dos trabalhadores foram definidos com maior eficácia. Conforme anota Celso Bastos, apud: “... o Sistema Tributário Nacional, que há pouco, sofrera uma modificação, por meio da Emenda Constitucional n. 18 à Constituição de 1946, foi em princípio mantido. Contudo, a discriminação de rendas, ampliando a técnica do federalismo cooperativo, acabou por permitir uma série de participações de uma entidade na receita da outra, com acentuada centralização. Quanto à matéria orçamentária aparecem o orçamento-programa, os programas plurianuais de investimento, além da própria atualização do sistema orçamentário.” AI-5, de 13/12/1968: o AI-5, o famigerado e mais violento ato baixado pela ditadura, perduraria até a sua revogação pela EC n. 11, de 17/10/1978, fixando as seguintes “atrocidades”, nos termos de sua ementa: a) Formalmente, foram mantidas a Constituição de 24/01/1967 e as Constituições Estaduais, com as modificações constantes do AI-5; b) O Presidente da República poderia decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por ato complementar em estado de sítio ou fora dele, só voltando a funcionar quando convocados seus membros pelo Presidente da República; c) O Presidente da República, no interesse nacional, poderia decretar a intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição; d) Os direitos políticos de quaisquer cidadãos poderiam ser suspensos pelo prazo de 10 anos e cassados os mandatos eletivos federais, estaduais e municipais; e) Ficaram suspensas as garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo; AS EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 39 f) O Presidente da República, em quaisquer dos casos previstos na Constituição, poderia decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo; g) O Presidente da República poderia, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tivessem enriquecido ilicitamente, no exercício do cargo ou função; h) Suspendeu-se a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular (artigo 10 do AI-5); i) Finalmente, a triste previsão do artigo 11 do AI-5: “excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos”. No mesmo dia em que o AI-5 foi baixado por Costa e Silva, o Congresso Nacional foi fechado, nos termos do Ato Complementar n. 38, de 13/12/1968, situação essa que perdurou por mais de 10 meses. Constituição de 1969 – EC n. 1, 17/10/1969 A EC n. 1/69 não foi subscrita pelo Presidente da República Costa e Silva (15/03/1967 a 31/08/1969), impossibilitado de governar por sérios problemas de saúde, nem “estranhamente”, pelo Vice-Presidente Pedro Aleixo, um civil. Com base no AI n. 12, de 31/08/1969, consagrou-se no Brasil um governo de “juntas militares”, já que referido ato permitia que, enquanto Costa e Silva estivesse afastado por motivos de saúde, governassem os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar. Nesse sentido, e com “suposto” fundamento, é que a EC n. 1/69 foi baixada pelos Militares, já que o Congresso Nacional estava fechado. Sem dúvida, dado o seu caráter revolucionário, podemos considerar a EC n. 1/69 como a manifestação
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