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História constitucional do Brasil

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Prévia do material em texto

Da independência à constituição de 1824 
 
Na história constitucional do Brasil, estudaremos sobre 
cada uma das oito Constituições que já tivemos, 
sempre lembrando que essa história se confunde com 
os aspectos políticos da história do Brasil como um 
todo. 
De início, é válido deixar claro que nossas Constituições 
foram marcadas por características positivas e textos 
modernos, mas que, frequentemente, não tinham força 
normativa necessária para conformar a realidade política 
e social. Veremos como isso aconteceu em cada uma 
das Constituições! 
Importante, também, saber as datas que marcaram 
essas Constituições: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 
1969 e 1988. 
Quanto à Constituição de 1969, ela recebe também o 
nome de Carta de 1969, sendo outorgada pela Junta 
Militar por meio da Emenda Constitucional nº 1, de 17 de 
outubro de 1969. Apesar de ter sido introduzida na 
forma de Emenda, esse documento, como veremos, é 
considerado por muitos autores como uma verdadeira 
Constituição, por isso ela se enquadra aqui no nosso 
estudo. 
 
Nessa época, o Brasil ainda era colônia de Portugal e 
vivia um contexto em que, em 1808, devido à invasão 
napoleônica em diversos países da Europa, a família real 
portuguesa veio, em fuga, ao Brasil, unindo ambos os 
reinos. Esse momento propiciou um grande 
desenvolvimento econômico para o país, fazendo surgir 
uma elite propriamente brasileira. 
Em 1821, D. João VI retorna a Portugal, deixando seu 
filho, D. Pedro I, como Príncipe Regente do governo 
brasileiro. Esse retorno, contudo, foi marcado por uma 
grande tensão entre a elite ascendente brasileira e o 
poder emanado pela Coroa Portuguesa. Nessa situação, 
D. João requereu o retorno de D. Pedro I a Portugal, 
que o negou, permanecendo no Brasil e marcando o 
que ficou conhecido como o “Dia do Fico”. Todo esse 
contexto criou uma movimentação para a 
independência brasileira, que foi concretizada em 07 de 
setembro de 1822. 
Após a independência, D. Pedro I dá continuidade à 
dinastia dos Bragança, em um modelo de governo de 
Monarquia Absolutista. Por meio do Decreto de 3 de 
junho de 1822, ele convoca uma Assembleia 
Constituinte para elaborar a primeira Constituição 
brasileira, mas a dissolve cerca de sete meses depois, 
pois discordava do projeto elaborado por ela. Isso se 
deu, basicamente, porque os membros dessa 
Assembleia possuíam fortes ideais liberais, sobretudo 
em razão da Revolução Francesa e de todo o contexto 
revolucionário que marcava o Ocidente na época. 
Assim, evitando uma Constituição que restringisse seus 
poderes, D. Pedro I determinou a prisão de vários 
constituintes, também enviando para o exílio outros 
vários. Posteriormente, o monarca instituiu um Conselho 
de Estado para elaborar uma nova Constituição que 
cumprisse seus anseios (“digna de mim e do Brasil”). 
Esta Constituição foi outorgada em 25 de março de 
1824. Tratava-se da Constituição Política do Império, a 
mais duradoura da história constitucional brasileira. 
Constituição de 1824 
 
Essa Constituição foi marcada por um liberalismo 
conservador e um semiabsolutismo. Ou seja, ela 
imprimia aspectos liberais quanto aos direitos individuais 
e aspectos absolutistas, conservadores, quanto aos 
direitos políticos, seguindo o modelo do 
constitucionalismo europeu da época. 
Uma das marcas conservadoras se deu na figura do 
Poder Moderador. Falava-se, inclusive, em uma “Dinastia 
Imperante do Senhor D. Pedro I, Imperador e Defensor 
Perpétuo do Brasil”. 
Quanto à organização do Estado, a Constituição previa 
o unitarismo, e não a forma federativa como temos 
hoje. Havia, portanto, um governo centralizado, e as 
antigas capitanias hereditárias foram convertidas em 
Províncias, e não em estados. Essas Províncias 
possuíam interventores nomeados pelo Imperador, 
motivo pelo qual elas não tinham qualquer autonomia. 
Ela também previa uma religião oficial, qual seja, a 
Religião Católica Apostólica Romana. As demais religiões 
eram permitidas com seu culto doméstico, sendo 
proibida a expressão destas de forma exteriorizada, nos 
termos do art. 5º da CPIB. 
https://trilhante.com.br/trilha/direito-constitucional/curso/historia-constitucional-do-brasil
https://trilhante.com.br/trilha/direito-constitucional/curso/historia-constitucional-do-brasil
 
 
 
 
 
 
A capital era o Rio de Janeiro, à época a cidade mais 
importante do Brasil. 
 
A grande marca dessa constituição é que existiam 
quatro poderes (divisão quadripartite): o Poder 
Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o 
Poder Moderador. 
 
 
 
 
A definição do Poder Moderador pode ser encontrada 
no art. 98 da CPIB: 
 
 
 
 
 
 
Esse poder foi delegado privativamente ao próprio 
Imperador, sendo, na verdade, um verdadeiro poder 
absolutista, pois a ele era permitido mandar e 
desmandar em todas as outras esferas de poderes. O 
Imperador era incumbido de velar pela manutenção da 
independência e harmonia dos poderes, sendo sua 
pessoa inviolável e sagrada, não estando sujeita a 
responsabilidades políticas, administrativas, civis ou 
penais, nos termos do art. 98 e 99 da CPIB. Isso quer 
dizer, em outras palavras, que o Poder Moderador dava 
a D. Pedro a chance para ele fazer tudo o que 
quisesse. 
O voto era censitário (ou seja, só podia votar quem 
tinha dinheiro e outras posses), era indireto e restrito 
aos homens. O voto feminino, infelizmente, foi apenas 
permitido a partir de 1932. 
Essa Constituição também previa liberdades públicas 
sem, contudo, proibir a escravidão, demonstrando uma 
grande incongruência com a realidade brasileira. Apesar 
de proibir prisões arbitrárias, a Constituição também 
não previa o instrumento do Habeas Corpus. 
Tratava-se, ainda, de Constituição semirrígida. Enquanto 
uma Constituição rígida tem como característica um 
árduo e dificultoso processo para ser alterada, bem 
mais complexo do que o necessário para alterar leis 
ordinárias, a Constituição semirrígida, como o próprio 
nome denota, possui partes que demandam esse 
processo mais complexo e partes que o dispensam, 
bastando o mesmo procedimento observado para leis 
ordinárias. 
Assim, a Constituição de 1824 demandava formalidades 
mais complexas para alterar normas materialmente 
constitucionais (referentes aos limites e atribuições dos 
Poderes Políticos e aos direitos políticos e individuais), 
aceitando que, para alteração das demais normas, era 
possível se valer do procedimento legislativo ordinário 
(art. 174 a 178 da Constituição Política do Império do 
Brasil) (NOVELINO, 2020, p. 112). 
Nessa Constituição, também não havia cláusulas pétreas 
e não se falava em controle de constitucionalidade, 
embora essa ideia já existisse em outros países a esse 
tempo. 
 
Ocorreu o “parlamentarismo às avessas”, que era uma 
prática adotada para a composição do Conselho de 
Ministros, na qual o Presidente do Conselho, nomeado 
pelo Imperador, escolhia os demais membros, tendo em 
conta as forças políticas representadas na Câmara dos 
Deputados. Isso era contrário ao que a Constituição 
previa como correto. 
O Poder Legislativo era exercido pela Assembleia Geral, 
composta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. 
Os parlamentares eram invioláveis por suas opiniões 
proferidas no exercício da função (imunidade material) 
e não podiam ser presos, salvo em algumas situações 
(como por ordem da respectiva Casa ou em flagrante 
delito de crime com pena capital. 
Art. 5. A Religião Católica Apostólica Romana 
continuará a ser a Religião do Império. Todas as 
outras Religiões serão permitidas com seu culto 
doméstico, ou particular em casas para isso 
destinadas, sem forma alguma exterior do 
Templo. 
Art. 10. Os Poderes Políticos reconhecidos pela 
Constituição do Império do Brasil são quatro: o 
Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder 
Executivo, e o Poder Judicial. 
Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a 
organização política, e é delegado privativamente 
ao Imperador, comoChefe Supremo da Nação, e 
seu Primeiro Representante, para que 
incessantemente vele sobre a manutenção da 
Independência, equilíbrio, e harmonia dos mais 
Poderes Políticos. 
Havia previsão de um extenso rol de direitos 
fundamentais individuais, como o direito à liberdade, 
privacidade e propriedade. As garantias individuais da 
época foram consagradas nos princípios da legalidade, 
não retroatividade, presunção de inocência, juiz natural 
e individualização da pena. 
Do império à proclamação da república e 
a constituição de 1891 
O Primeiro Reinado, que ocorreu sob o governo de D. 
Pedro I, foi bem curto. Ele acabou em 1831, com sua 
abdicação, em razão de questões políticas pendentes 
em Portugal. Seu filho, D. Pedro II, permaneceu no Brasil 
e tinha apenas 5 anos à época, o que demandou que 
houvesse, até sua maioridade, o que chamamos de 
período de regência. Na verdade, o que houve foi uma 
Regência Trina, que governou o país até 1840. 
Contudo, o período de regência foi marcado por muitas 
tensões e insatisfações por parte das elites e do povo 
como um todo. Assim, visando à permanência do 
regime monarquista, o Partido Liberal colaborou para 
que houvesse o que ficou conhecido como Golpe da 
Maioridade, em 1841. Nesse golpe, D. Pedro II, com 
apenas 14 anos de idade, assumiu o Império e deu início 
ao II Reinado. 
Entretanto, a tranquilidade de D. Pedro II não durou 
muito tempo, porque o Segundo Reinado também foi 
marcado por várias tensões e insatisfações políticas. 
Houve muitas revoltas populares durante esse período 
do Império, bem como questões com as forças 
armadas, que, após a Guerra do Paraguai (1868), ficaram 
muito insatisfeitas com o tratamento dispensado pelo 
governo central aos militares. Um dos militares, inclusive, 
manifestou-se favorável à abolição da escravidão e foi 
punido por isso, gerando uma grande crise entre os 
militares e o poder do Império. 
A Igreja Católica também teve problemas com a 
Monarquia, pois passou a punir membros da maçonaria, 
organização fraterna que tinha membros presentes no 
governo. 
Assim, fala-se em um grande desgaste das bases do 
regime monárquico, valendo lembrar, também, que 
contribuíram para sua derrocada o envelhecimento de 
D. Pedro II, seu afastamento do novo cenário político 
que surgia, e o fortalecimento da aspiração federalista, 
além das já citadas crises com o clero e com as forças 
armadas. 
O estopim dessa tensão se deu com a abolição da 
escravatura, em 1888, que ocorreu tardiamente no 
Brasil, o último país do Ocidente a fazê-lo. Isso gerou 
um grande descontentamento da elite que se 
beneficiava do regime escravocrata. 
Logo após, em 15 de novembro 1889, chegou a 
derrocada definitiva da monarquia, promovida pelos 
militares sob o comando do Marechal Deodoro da 
Fonseca. Nesse golpe militar, que revocou a Carta 
Imperial pelo Decreto nº 1, proclamou-se a República 
Federativa dos Estados Unidos do Brasil. 
Constituição de 1891 
Em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a 
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. 
O fato de ter sido promulgada, e não outorgada, denota 
que houve um processo democrático para sua 
produção. E isso realmente ocorreu! O Governo 
Provisório nomeou uma comissão de 5 membros 
(“Comissão dos Cinco”) para elaborar o Anteprojeto da 
Constituição, que foi, posteriormente, encaminhado a 
Rui Barbosa e repensado por ele, sob fortes influências 
do constitucionalismo estadunidense. Posteriormente, foi 
eleita a Assembleia Constituinte, responsável pela 
posterior promulgação da Constituição de 1891. 
Sua principal marca foi a introdução do federalismo no 
Brasil, por influência dos Estados Unidos (como o 
próprio nome da Constituição denuncia). Esse 
federalismo recebeu o nome de federalismo dualista, 
porque estabeleceu a separação equilibrada e estanque 
de competências enumeradas para a União e residuais 
para os Estados. As antigas Províncias foram 
transformadas em Estados com autonomia financeira, 
administrativa, legislativa e organizacional, ficando a 
intervenção federal restrita a pouquíssimas hipóteses. 
Os Municípios podiam tratar de assuntos que 
interessavam à localidade, apenas, mas não eram 
reconhecidos como entes federativos. 
Outra marca relevante foi a introdução 
do Presidencialismo como forma de governo para o 
Brasil, deixando para trás uma estrutura de governo 
monarquista. 
A capital continuou sendo no Rio de Janeiro, apesar de 
já haver, nesta Constituição, a previsão de construção 
de uma capital na região do Planalto Central, por 
influência norte-americana de capital diretamente à 
União, sem ser vinculada a nenhum Estado (como o 
Distrito Federal é hoje). 
Nessa Constituição, o Brasil deixou de adotar uma 
religião oficial, tornando-se um país laico, como é até 
hoje. Falava-se em um laicismo puro, ou seja, proibiu-se 
o ensino religioso nas escolas públicas, o casamento 
religioso não tinha mais efeitos civis, sendo vedadas 
subvenções oficiais e relações de dependência ou 
aliança com a igreja. 
A Constituição de 1891 também extinguiu o Poder 
Moderador, inspirando-se na teoria clássica de 
Montesquieu acerca da divisão de poderes entre o 
Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário, 
de forma harmônica e atuando de forma independente. 
O Poder Executivo era exercido pelo Presidente da 
República, escolhido diretamente pela maioria dos votos, 
possuindo mandato de quatro anos, sendo vedada a 
reeleição. O Poder Legislativo era exercido pelo 
Congresso Nacional, composto pela Câmara dos 
Deputados e pelo Senado Federal (bicameralismo 
federativo – “duas câmaras”). O Supremo Tribunal 
Federal foi criado como órgão de cúpula do Poder 
Judiciário. 
Tratava-se de uma Constituição rígida. Ou seja, para 
alterar qualquer de suas normas era necessário um 
procedimento mais complexo do que aquele previsto 
para alterar leis ordinárias. Sua reforma dependia de 
iniciativa de, pelo menos, um quarto dos membros de 
qualquer das Casas do Congresso Nacional ou de dois 
terços das Assembleias Legislativas dos Estados. 
Para a emenda ser aprovada, era necessário o voto de 
dois terços dos membros das duas Casas do 
Congresso, mediante três discussões, e também não 
podiam ser admitidas como objeto de deliberação 
propostas de emenda tendentes a abolir a forma 
federativa, a República ou a igualdade de representação 
dos Estados no Senado. Nascia, portanto, o que 
conhecemos hoje como cláusulas pétreas. 
A Constituição de 1891 também previa uma carta de 
direitos e liberdades civis e políticas, concretizando 
direitos de primeira geração, ou seja, aqueles 
relacionados às liberdades individuais. Assim, foram 
abolidos os privilégios de nascimento, os foros de 
nobreza, os títulos nobiliárquicos e as ordens 
honoríficas, nos termos do art. 72, §2º da CREUB). 
Nessa linha, o habeas corpus foi previsto pela primeira 
vez, gerando o que ficou conhecido como a doutrina 
brasileira do habeas corpus, ou seja, servia para coibir 
qualquer ilegalidade ou abuso de poder, exercendo um 
papel muito mais amplo em relação ao habeas corpus 
como conhecemos hoje. 
Quanto aos direitos políticos, foi extinto o sufrágio 
censitário (por renda, lembra?), sendo que o direito de 
votar foi assegurado aos cidadãos maiores de 21 anos, 
com exceção dos mendigos, analfabetos, praças e 
religiosos sujeitos a voto de obediência, regra ou 
estatuto que importasse a renúncia da liberdade 
individual (art. 70 da CREUB). Em que pese não haver 
nenhuma restrição, a discriminação de gênero na 
época ainda estava latente e não se cogitava a 
possibilidade de voto feminino. 
República velha, revolução de 1930 e a 
constituição de 1934 
De 1889 a 1930, instituiu-se um período conhecido como 
Primeira República ou República Velha, que foi marcado 
pela permanência das oligarquias rurais e de 
latifundiários no Poder. 
Nesse período, também ocorreu a Política do Café com 
Leite, que foi uma prática de revezamento de poder 
combinada entreos Estados de São Paulo e Minas 
Gerais. Ou seja, a cada mandato, o poder seria alternado 
entre um representante de cada Estado: São Paulo 
(café, sua principal mercadoria da época) e Minas Gerais 
(leite). Assim, por óbvio, houve várias fraudes 
eleitorais para que esse sistema se mantivesse. 
Esse sistema se perpetuou por algumas décadas, até 
que a Crise de 1929, também conhecida como a 
Quebra da Bolsa de Nova York, gerou reflexos 
negativos no Brasil, causando um forte 
descontentamento da burguesia e da classe operária. 
As questões sociais, então, começavam a ganhar cada 
vez mais força em razão das péssimas condições de 
trabalho que a Revolução Industrial impunha aos países 
do Ocidente. 
Todo esse contexto gerou um desacerto na Política do 
Café com Leite, culminando com a tentativa do 
presidente Washington Luís (paulista) colocar um outro 
paulista no poder (Júlio Prestes) no mandato seguinte, 
quebrando com o sistema do Café com Leite. 
Insatisfeito com a situação, o Estado de Minas Gerais, 
em coligação com o Rio Grande do Sul, indicou o 
gaúcho Getúlio Vargas para ocupar a presidência da 
República no mandato seguinte. 
Embora vencidos, causaram reboliço suficiente para 
que, posteriormente, uma junta militar tomasse o poder 
e o transferisse forçadamente a Getúlio Vargas, em 
processo que ficou conhecido como a Revolução de 
1930 ou Revolução Vitoriosa. A partir de então, nasce 
um Governo Provisório, desprovido de Constituição. 
Em 1932, ocorre a chamada Revolução 
Constitucionalista, liderada por paulistas que buscavam 
uma nova Constituição para o país. Esse movimento foi 
militarmente derrotado, mas suas ideias permaneceram 
em discussão. 
Vale ressaltar que, em 1932, também nasceu a Justiça 
Eleitoral, foi permitido o voto feminino, secreto e direto, 
cujas bases foram alicerçadas na futura Constituição de 
1934. 
Constituição de 1934 
Esta Constituição teve uma duração curtíssima – 
apenas 3 anos – e foi influenciada pela Constituição de 
Weimar (1919), vigente na Alemanha, que introduziu em 
seu conteúdo os direitos sociais. 
Como vimos, em um primeiro momento, o 
constitucionalismo estava preocupado em consagrar um 
extensivo rol de direitos individuais de primeira geração, 
ou seja, relacionados à liberdade do indivíduo. Até 
então, as constituições garantiam a liberdade de 
locomoção, de pensamento, de associação, o direito à 
privacidade, ao sigilo das correspondências, e o direito à 
proteção da propriedade. Até então, exigia-se do 
Estado um posicionamento abstencionista, ou seja, o 
Estado deveria se abster de intervir na esfera privada, 
dando aos indivíduos as liberdades que desejavam. 
Contudo, a sociedade, a economia e o trabalho 
ganharam novas feições ao longo do tempo, sobretudo 
com a Revolução Industrial e com a Primeira Guerra 
Mundial, que deixaram milhares de pessoas 
desempregadas, sem acesso à educação, à saúde, à 
alimentação, dentre outros direitos sociais básicos. 
Assim, foram exigidas do Estado algumas atitudes 
prestacionais, positivas, e não mais abstencionistas. O 
Estado foi chamado a agir para evitar que 
essas desigualdades se perpetuassem. 
Portanto, essas novas constituições, a exemplo de 
Weimar (1919), começaram a integrar, no rol de direitos 
fundamentais, os direitos sociais que precisavam da 
tutela estatal, conhecidos também como os direitos de 
segunda dimensão. Um exemplo nítido dessa nova 
perspectiva é a consagração do direito à propriedade, 
sendo que este não poderia ser exercido contra o 
interesse social ou coletivo. 
Nesse sentido, são reconhecidos os sindicatos e 
associações profissionais na forma da lei e um rol de 
direitos trabalhistas a serem observados. Também é 
determinada a gratuidade do ensino primário, com 
frequência obrigatória, e a tendência a gratuidade de 
ensino educativo ulteriores ao primário, com vistas a 
torná-lo mais acessível. 
Nas palavras de Marcelo Novelino: 
 
 
 
 
 
 
A Constituição de 1934 manteve a estrutura 
presidencialista, federalista e republicana. A divisão entre 
os poderes permaneceu tripartida, com ênfase para o 
fato de que nascia um bicameralismo desigual 
(considerado, por alguns autores, um verdadeiro 
unicameralismo), vez que o Senado exercia apenas um 
papel ilustrativo na tomada de decisões, permanecendo 
o poder, sobretudo, com a Câmara dos Deputados. 
O Poder Executivo era exercido pelo Presidente da 
República, auxiliado por seus Ministros de Estado. 
Quanto ao Poder Judiciário, seus integrantes possuíam 
vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de 
vencimentos, a fim de que pudesse bem desempenhar 
seu papel de julgar, isentos de tentações e 
parcialidades. 
A Constituição de 1934 consagrou a Justiça Eleitoral, 
criada dois anos antes pelo Governo Provisório, bem 
como delineou a atuação da Justiça do Trabalho, 
destinada a dirimir os conflitos entre empregados e 
empregadores. Também nasce a cláusula de reserva 
de plenário, que previa a necessidade de maioria 
absoluta de votos dos membros dos tribunais para 
declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato do 
Poder Público. Esse tema é de suma relevância para o 
estudo do controle de constitucionalidade! 
A capital permaneceu no Rio de Janeiro e o Estado 
permaneceu laico, mas essa laicidade foi, de certa 
forma, mitigada, permitindo efeitos civis ao casamento 
religioso e o ensino religioso em escolas públicas, o que, 
até então, era vedado. Além disso, o termo “Deus” foi 
incluído no preâmbulo da Constituição, lá 
permanecendo até os dias de hoje, gerando polêmicas 
doutrinárias sobre a verdadeira laicidade do Estado. 
A Constituição de 1934 também era rígida, com 
procedimentos complexos para sua alteração. Ademais, 
No tocante à ideologia, rompeu com a tradição 
liberal até então existente ao instituir uma 
democracia social, inspirada na Constituição de 
Weimar, com a incorporação de normas 
relacionadas à ordem econômica e social. 
Contemplou um texto de caráter compromissório, 
conciliando normas liberais e intervencionistas. 
a forma republicana federativa foi elevada à categoria 
de cláusula pétrea. 
Quanto à declaração de direitos fundamentais, destaca-
se a consagração do voto feminino, pela primeira vez, e 
do voto secreto, que, até então, era aberto e sujeito às 
pressões políticas dos latifundiários (o conhecido voto 
de cabresto). 
Tornando a Constituição mais analítica, diversas matérias 
de conteúdo não constitucional foram nela inseridas, 
como temas relacionados à ordem econômica e social, 
à família, educação, cultura e segurança nacional. 
Também nasce a previsão do mandado de segurança, 
servindo para a defesa de direitos “certos e 
incontestáveis” em casos de ameaça ou violação por 
ato inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade, e 
da ação popular, visando à declaração de nulidade ou 
anulação de atos lesivos ao patrimônio público (art. 113 e 
114 da CREUB). 
Você sabe definir o que é 
uma constituição prolixa? A constituição prolixa, analítica 
ou regulamentar, é aquela que “consagra matérias 
estranhas ao direito constitucional ou contempla normas 
com regulamentações minuciosas, típicas da legislação 
ordinária” e são normalmente escritas. É possível 
perceber, portanto, que a Constituição de 1934 e as 
anteriores pertencem a essa classificação. No caso da 
Constituição de 1934, era composta por 187 artigos na 
parte permanente e 26 artigos na parte das 
Disposições Transitórias. 
O Estado Novo e a Constituição de 1937 
O Presidente da República eleito após o Governo 
Provisório (1930-1932) foi Getúlio Vargas, cujo governo 
sofreu diversas influências do fascismo que se 
consolidava em países como Alemanha, Itália e Portugal. 
Getúlio, nesse contexto, aplicou no Brasil um modelo de 
governo com traços fascistas, principalmente quanto ao 
viés autoritário. 
Dois grandes partidos surgiram nesse momento: A 
Ação Integralista Brasileira e a Aliança Nacional 
Libertadora (ANL). O primeiro representava ideais 
fascistas e,o segundo, comunistas. Esses partidos se 
chocavam em vários momentos, inclusive em disputas 
de rua, demonstrando que a população cada vez mais 
se politizava e se organizava para defender seus ideais. 
Diante disso, Getúlio Vargas fechou a ANL, gerando 
uma grande revolta por parte dos comunistas, que 
culminou na conhecida Intentona Comunista (1935) ou 
Revolta Vermelha, um movimento liderado por Luís 
Carlos Prestes. Esse movimento foi derrubado pelo 
governo, mas gerou tensões e preocupações que 
levaram os governantes a pensar estratégias para 
cessar os anseios comunistas que surgiam, por meio de 
uma estrutura de governo mais autoritária ainda. 
Nasce, então, o Plano Cohen, que nada mais era do que 
uma farsa criada por um dos generais do próprio 
Getúlio Vargas, visando difundir a falsa ideia de que 
haveria um plano comunista para derrubar o governo e 
assumir o poder. Aproveitando-se do boato, Getúlio 
Vargas aplica um golpe de Estado, fecha o Congresso 
Nacional e se mantém no poder em 10 de novembro 
de 1937. Com isso, cessa a força da Constituição de 
1934. 
Nas palavras de Marcelo Novelino: 
 
 
 
Após o Golpe, Getúlio Vargas outorgou a Constituição 
de 1937. Como visto, estava-se diante de um contexto 
político inflado por ideais fascistas e autoritários que 
acabaram por refletir no texto da Constituição, que 
recebeu o nome de “Constituição polaca”, em alusão à 
Constituição Polonesa de 1935. Foi escrita por Francisco 
Campos, um jurista da época que defendia preceitos 
ditatoriais. Assim, foi instaurada a ditadura do Estado 
Novo. 
Nessa Constituição, a estrutura federalista foi mantida, 
mas foi também enfraquecida, pois o governo central 
passou a enviar interventores para cada um dos 
Estados, que nomeavam os prefeitos dos Municípios. 
Também houve um enfraquecimento dos direitos 
fundamentais, com uso de instrumentos de censura, 
prisões políticas, penas de morte e restrições da 
liberdade de expressão. Os partidos políticos foram 
dissolvidos. 
Os direitos sociais foram mantidos, consagrando-se um 
novo e importante: o direito ao salário mínimo. Contudo, 
a greve foi proibida. O governo também podia 
Ante a proximidade da eleição presidencial, marcada 
para 1938, a crise institucional, a infiltração comunista e 
a suposta iminência de uma guerra civil foram usadas 
como justificativa para o Golpe comandado por 
Getúlio Vargas e a subsequente outorga da nova 
Carta. 
aposentar forçadamente seus funcionários (não 
havendo mais que se falar em estabilidade da função 
pública). 
O país se manteve laico, apesar da invocação da 
proteção de Deus em seu preâmbulo. 
O Poder Executivo era amplo e o Presidente era tido 
como autoridade suprema da nação, governando pela 
elaboração de Decretos-Leis. Com o Congresso 
Nacional fechado, a legislação brasileira se reduzia aos 
decretos elaborados pelo Presidente. Nessa época, 
inclusive, nasceram o Código Penal, o Código de 
Processo Penal e a Consolidação das Leis Trabalhistas, 
que estão vigentes até hoje. Havia, então, um latente 
enfraquecimento do Poder Legislativo. 
O Poder Judiciário também sofreu baques com a 
ditadura, sobretudo pela possibilidade de o Presidente 
reverter declarações de inconstitucionalidade emanadas 
do Supremo Tribunal Federal, substituindo o trabalho 
do Congresso Nacional. 
Foram extintos os instrumentos do mandado de 
segurança e da ação popular, prevendo-se censura 
prévia, pena de morte para crimes políticos e para 
homicídio por motivo fútil ou com perversidade. 
Por fim, o art. 186 da Constituição de 1937 declarava o 
“estado de emergência”, que durou de 1937 a 1945. O 
reconhecimento desse Estado dava espaço para que o 
presidente agisse com extremo autoritarismo em 
qualquer âmbito da administração pública. Marcelo 
Novelino (2020, p. 124) assevera que: 
 
 
 
 
 
O governo do Estado Novo e a 
Constituição de 1946 
Como foi possível notar, o Estado Novo se utilizou de 
um governo extremamente autoritário, valendo-se, 
inclusive, da tortura como forma de repressão de 
condutas indesejadas. Um grande marco desse viés 
autoritário foi a entrega de Olga Benário (judia, grávida, 
esposa de Luís Carlos Prestes) aos nazistas. 
Outra característica desse governo foi 
a nacionalização formal da economia, visando à 
construção de indústrias no país. Na época, foi criada a 
Vale do Rio Doce (hoje, privatizada). 
Dessa época remontam o Código Penal, o Código de 
Processo Penal e a CLT, pois a legislação da época era 
composta quase que exclusivamente por decretos-leis, 
vez que essa função estava concentrada nas mãos do 
Chefe de Estado Getúlio Vargas. 
No correr do Estado Novo, eclode a Segunda Guerra 
Mundial (1939-1945), e o Brasil vai à Itália para lutar 
contra os italianos que viviam sob o regime fascista de 
Benito Mussolini. Esse fato provoca, por óbvio, certa 
curiosidade, vez que essa atitude não reflete os ideais 
com que o Brasil era governado. Ao final da Segunda 
Guerra, com a queda dos governos autoritários na 
Europa, o Estado Novo perde legitimidade e entra em 
crise. 
Getúlio, percebendo movimentações contrárias a seu 
governo, convoca eleições para o ano de 1945. Nesse 
contexto, surge um movimento chamado Queremismo, 
que desejava que Getúlio Vargas permanecesse no 
poder. Contudo, esse movimento queremista acabou 
antecipando sua queda, ante o descontentamento dos 
militares, que o depuseram. 
Houve, então, as eleições, sendo eleito o General 
Eurico Gaspar Dutra como presidente da República. 
Posteriormente, com a Assembleia 
Constituinte, promulga-se democraticamente a nova 
Constituição em 18 de setembro de 1946. 
Essa Constituição retomou elementos liberais e sociais 
das constituições de 1891 e 1934, respectivamente, 
tornando-se uma Carta até hoje muito elogiada. 
Retoma-se também a República, o modelo federalista e 
o presidencialismo. O Brasil permanece um país laico, 
mantendo-se a menção a Deus no preâmbulo da 
Constituição, e a estrutura tripartite de poder recupera 
sua força, sendo vedado o exercício cumulativo e a 
delegação de funções. 
O Poder Legislativo se restaura em um bicameralismo 
igualitário, com poderes semelhantes para Câmara dos 
Deputados e Senado. 
O Poder Executivo era ocupado pelo Presidente da 
República, por meio de eleições diretas. Vale ressaltar 
que era possível votar separadamente para o cargo de 
presidente e para o cargo de vice-presidente, o que 
Até 1945, o país esteve sob estado de 
emergência, no qual suspensas diversas garantias 
constitucionais. Durante o período, os atos 
praticados pelo governo eram imunes ao controle 
jurisdicional. 
poderia gerar um governo de matizes ideológicas muito 
diferentes. 
O Poder Judiciário retoma sua situação de normalidade 
democrática, afirmando-se sua inafastabilidade para 
proteger direitos individuais (também conhecido 
como princípio do acesso à justiça). A este poder 
também é integrada a Justiça Trabalhista. 
Foram restabelecidos os partidos políticos, desde que 
seu programa ou ação não contrariassem o regime 
democrático. Restabelecem-se a ação popular, o 
mandado de segurança e a proteção à coisa julgada, ao 
ato jurídico perfeito e ao direito adquirido. Foi 
consagrado o direito de greve, reconhecido juntamente 
com a liberdade de associação sindical ou profissional. 
No âmbito dos direitos políticos, esta carta consagrou o 
sufrágio universal, o voto secreto, direto e obrigatório. 
Da democracia ao golpe militar 
de 1964 
Após o governo de Gaspar Dutra, Getúlio Vargas 
retorna ao poder, eleito, em 1950. Tentando reimplantar 
algumas ideias nacionalistas, Getúlio sofreu diversas 
crises em seu governo, com ênfase para o atentado 
contra Carlos Lacerda, posteriormente sabido ter 
ocorrido a mando de um auxiliar do presidente. Isso 
aumentou seu descrédito frente a população e aos 
demais políticos, gerando uma pressão tão grande que 
culminou em seu suicídio, em 1954. 
Em 1955, foi eleito Juscelino Kubistchek (JK), 
empreendendoseu “Plano de Metas”, qual seja, 
alavancar o crescimento do Brasil que seria realizado 
em 50 anos para os próximos 5 anos (50 anos em 5). 
Seu governo também foi marcado pela construção de 
Brasília, inaugurada em 1960. 
Posteriormente, foi eleito o presidente Jânio Quadros, 
cujo governo durou apenas sete meses, findando-se 
com sua renúncia. Após, assume o governo João 
Goulart, figura que marca o início de um tenso clima 
político no Brasil. 
Como visto na aula anterior, era permitido que um 
presidente e um vice presidente integrassem partidos 
políticos diferentes, com visões ideológicas também 
diversas. Não demorou a que isso causasse problemas. 
No caso, Jânio Quadros pertencia a um partido de 
direita, e João Goulart pertencia a um partido de 
esquerda. Quando Jânio Quadros renuncia e um político 
de esquerda assume o poder, vários setores da 
sociedade assumem uma posição crítica e contrária ao 
seu governo. 
Após uma disputa política causada por esse entrave, 
houve um acordo pela adoção do modelo de governo 
parlamentar. O Chefe de Governo seria, na verdade, 
um conjunto de ministros. Assim, o parlamentarismo foi 
instituído com a Emenda Constitucional nº 4 de 1961, 
durante apenas 14 meses, e tendo como objetivo limitar 
os poderes e a atuação de João Goulart. 
Realizado um plebiscito para decidir sobre a 
manutenção do parlamentarismo ou o retorno ao 
presidencialismo, este último se consagrou vencedor e 
João Goulart começou a governar com mais poderes. 
Nesse contexto, implantou políticas favoráveis às pautas 
de esquerda, com o aprimoramento de direitos sociais, 
democratização social e reforma agrária, causando 
insatisfação por parte de vários setores: empresários, 
militares e a mídia. Isso culminou, em 1º de abril de 1964, 
no Golpe Militar que perdurou até 1985. 
Com o golpe, nascia o “Supremo Comando da 
Revolução” no poder. A Constituição de 1946 foi 
totalmente ignorada e o Brasil passou a ser governado 
por Atos Institucionais (AI). O AI nº 1, redigido por 
Francisco Campos – o mesmo jurista que redigiu a 
Constituição Polaca – decretou a ditadura no país e 
restringiu uma série de direitos. O AI nº 2 e 3, por sua 
vez, determinou que as eleições fossem indiretas para 
presidente e para governadores. O Congresso Nacional 
foi fechado em 1966, reaberto em 1967 apenas para 
“aprovar” (leia-se: pressionar a aprovação), com 
aparência de legitimidade, a Constituição de 1967. O 
Congresso Nacional não tinha qualquer autonomia nesse 
momento. 
Leia-se, nas palavras de Marcelo Novelino: 
 
 
 
 
 
 
 
 
A promulgação formal da Constituição do Brasil, 
que entrou em vigor no dia 15 de março de 1967, 
na realidade, apenas serviu para tentar encobrir 
um autêntico ato de outorga, uma vez que o 
Congresso Nacional, além de não poder substituir 
o projeto encaminhado pelo Executivo, teve sua 
legitimidade política afetada pelo afastamento dos 
parlamentares da oposição e por ter conduzido 
trabalhos sob a pressão dos militares. 
Constituição de 1967, A.I. 5 e 
"Constituição" de 1969 
Como vimos, a Constituição de 1967, na verdade, foi 
outorgada, tendo apenas um aparência formal de 
promulgação. O texto “aprovado” refletia os valores de 
um grupo militar ideologicamente moderado de 
redemocratização do país, embora permeado por 
normas de características autoritárias. 
A Carta de 1967 previa a República e o Federalismo, 
mas com ampla concentração de poder na esfera 
federal, tornando o Brasil um Estado quase unitário e 
sendo esta sua característica mais marcante. 
A capital do país permanecia em Brasília, desde 1960, e 
o país mantinha-se laico, com a menção de “Deus” no 
preâmbulo. 
Havia uma tripartição de poderes, mas, na prática, o 
Executivo concentrava a maior parte das funções, o 
que reforçou o caráter autoritário dessa constituição. O 
Presidente era eleito indiretamente, pelo sufrágio do 
Colégio Militar, e governava por Decretos-leis, que eram 
aprovados e passavam a ter vigência com o mero 
decurso do prazo de 60 dias, a demonstrar o 
enfraquecimento dos Poderes Legislativo e Judiciário. 
A partir de 1968, iniciaram-se os Anos de Chumbo. 
Enquanto o primeiro período vivia uma “ditadura 
envergonhada”, “quieta”, o segundo período viveu uma 
ditadura escancarada, materializada por meio do AI nº 5, 
de 1968. Esse ato recrudesceu o regime, eliminou 
diversos direitos, inclusive o habeas corpus. 
Nesse ponto, o autoritarismo chegou ao seu nível 
máximo. No mesmo dia de sua outorga, o Congresso 
Nacional foi fechado. Havia a possibilidade de intervenção 
direta do governo nos Estados da federação. 
Houve cassação de mandatos, com perseguição 
política e suspensão de direitos políticos. Foram 
suspensas as garantias de vitaliciedade e inamovibilidade 
dos magistrados, e da estabilidade dos servidores 
públicos. O habeas copus ficou suspenso para crimes 
políticos e contra a segurança nacional. 
De acordo com o art. 11, previa-se a impossibilidade de 
apreciação judicial de todos os atos praticados em 
conformidade com o AI nº 5, o que, em outras 
palavras, significava dizer que ninguém poderia ser 
responsabilizado judicialmente por cumpri-lo. O Ato 
Institucional valia bem mais do que o Poder Judiciário. 
Nesse contexto, surgiu a Emenda Constitucional nº 1, de 
1969, cujo teor alterou substancialmente a ordem 
jurídica, desrespeitando as normas da Constituição de 
1967. Esse contexto fez com que a doutrina 
compreendesse, não sem discussão, que esta emenda 
perfaz, na verdade, uma nova Constituição. 
A EC nº 1 foi baixada pela Junta Militar (composta por 
Ministros da Marinha, da Guerra, do Exército e da 
Aeronáutica Militar) em razão do afastamento, por 
problemas de saúde, do Presidente Costa e Silva. Sua 
principal atuação foi no sentido de manter em vigor o 
AI nº 5 e os demais atos baixados, elevando-os ao 
patamar “constitucional”. Nesse sentido, a EC nº 1 foi 
considerada uma manifestação de um novo poder 
constituinte originário. 
Da ditadura à democracia 
Após o início dos Anos de Chumbo, findo o governo 
de Costa e Silva, surge a figura de Médici, que 
governou o país de 1969 a 1974. Uma das primeiras 
medidas introduzidas por Médici foi o Ato Institucional 
n°5 (AI-5). 
Tal época ficou conhecida como um período ufanista, 
no qual o governo buscava alçar o Brasil a uma 
condição elogiável de evolução socioeconômica, 
fazendo-o por meio de propagandas audaciosas. 
Escondiam-se, contudo, as tragédias perpetradas pelas 
forças militares, as perseguições, os assassinatos, as 
censuras, dentre outras marcas tenebrosas da ditadura. 
Com a vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970, 
Médici se valeu desse mérito para novamente enaltecer 
o próprio governo, inclusive levantando a famosa frase: 
“Brasil: ame-o ou deixo-o”. 
Vale ressaltar que o “deixe-o”, na verdade, não 
significava a simples opção por ir embora, mas o exílio, 
a perseguição. Tratava-se de uma verdadeira ameaça: 
andar na linha e abaixar a cabeça para 
o autoritarismo ou ser perseguido pelo governo. 
Após o Médici, vem o governo Geisel, de 1974 a 1979, 
em um momento em que a ditadura brasileira começa 
a perder força. O início de seu governo é marcado por 
uma crise econômica e pela alta taxa de inflação. 
Também se ressalta a Lei Falcão, editada para reduzir 
o tempo de propaganda política e, consequentemente, 
enfraquecer o partido de oposição (à época, o MDB). 
Esse período foi marcado também pelo Pacote de 
Abril, de 1977, o qual consistiu em medidas mais 
autoritárias inseridas na Constituição para enfraquecer a 
oposição. Essas medidas, porém, não surtiram efeitos, 
pois a crise política e econômica estava em seu nível 
máximo, e logo foram revogadas pelo Pacote de Junho 
de 1978. Esse pacote também extinguiu o AI nº 5 e 
cessou os Anos de Chumbo. Era o início do processo 
de redemocratização do Brasil. 
De 1979 a 1985, houve o Governo Figueiredo. Logo em 
1979, editou-se a Lei da Anistia, que “perdoava” todos os 
crimes políticoscometidos de 1961 a 1979, sendo estes 
crimes tanto aqueles cometidos pela oposição quanto 
aqueles perpetrados pelo poder ditatorial. 
Em 2010, o Supremo Tribunal Federal julgou esta lei 
recepcionada pela Constituição Federal de 1988, em 
decisão polêmica que levou o país a ser 
responsabilizado pela Corte Interamericana de Direitos 
Humanos, sob argumento de que esta lei serviu, na 
verdade, para proteger os ditadores de qualquer 
responsabilização pelas atrocidades que cometeram. 
Em 1979, também ocorre a reforma partidária para 
permitir o pluripartidarismo. A ARENA, que era o partido 
do governo, transformou-se em PDS, e o MDB 
transformou-se no PMDB, PP, PT e PTB. Em 1982, 
houve eleições diretas para Governador, o que 
representou um grande avanço. Em 1984, houve o 
famoso movimento das “Diretas Já”, exigindo eleições 
diretas para a presidência da República. 
As “Diretas Já” requeriam que fosse aprovada a 
emenda Dante de Oliveira, que instauraria as eleições 
diretas no país. Esta emenda, contudo, foi rejeitada. 
Apesar disso, em 15 de janeiro de 1985, por meio de 
eleições indiretas, foi eleito, finalmente, um civil – 
Tancredo Neves. Ainda que não tenha sido uma eleição 
direta, tratou-se de uma grande conquista, um 
momento de alívio. 
Tancredo Neves, entretanto, acabou falecendo antes 
mesmo de tomar posse, e quem assumiu seu posto foi 
José Sarney. Este, por sua vez, apesar de ser alinhado 
com os governos ditatoriais, tratava-se de um civil. Em 
1985, a Emenda Constitucional de 26/85 convocou uma 
Assembleia Constituinte para elaboração de uma nova 
Constituição. 
Com ampla participação popular, de forma 
extremamente democrática, em 05/10/1988, foi 
promulgada a Constituição Federal de 1988, chamada 
por Ulysses Guimarães de “Constituição Cidadã”. A 
redemocratização do Brasil tinha ocorrido, enfim. 
Constituição Federal de 1988 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
(CRFB/88 ou CF/88) foi promulgada após uma 
Assembleia Constituinte formada de maneira 
heterogênea, ou seja, composta por diversos matizes 
ideológicos, de diversos grupos, que conseguiram se 
conciliar e colocar em prática várias ideias. Isso gerou 
uma Constituição analítica e compromissória, ou seja, 
extensa, prolixa, e com as pautas mais diversas 
(eclética, portanto). 
O preâmbulo da Constituição prevê uma sociedade 
fraterna, pluralista e sem preconceitos. Trata-se, 
portanto, de uma constituição que abraça seu povo, 
recrimina preconceitos e vê na diversidade aspectos 
positivos. 
Seus princípios fundamentais foram mantidos: a 
República, o Federalismo e o Presidencialismo. Houve, 
inclusive, um plebiscito, realizado em 1993 (de acordo 
com o art. 2º do ADCT), cuja função era verificar o 
desejo da população sobre a manutenção da república 
e do presidencialismo ou a adoção de uma monarquia 
parlamentarista, vencendo os primeiros. 
Estados e Municípios tiveram sua autonomia ampliada, 
consagrando uma federação legítima. A capital se 
manteve em Brasília. 
O país se manteve laico, permanecendo a previsão da 
“proteção de Deus” no preâmbulo da Constituição. 
Mantém-se a repartição clássica de poderes entre 
Executivo, Legislativo e Judiciário, atuando sob a égide 
da ideologia de freios e contrapesos, de forma 
independente e harmônica. 
O Poder Legislativo permanece bicameral, com poderes 
igualitários, divididos entre Câmara dos Deputados e 
Senado Federal. 
O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da 
República, eleito juntamente com seu Vice- Presidente, 
e auxiliado pelos Ministros de Estado. Vale ressaltar que 
a Emenda Constitucional de 1997 permitiu a reeleição. 
Houve também a previsão da Medida Provisória como 
instrumento legislativo a ser utilizado pelo Presidente da 
República, em casos de urgência e relevância, 
necessitando de posterior aprovação pelo Congresso 
Nacional. 
Quanto ao Poder Judiciário, é criado o Superior Tribunal 
de Justiça (STJ). Assim, o STF passou a cuidar de 
questões constitucionais e o STJ de questões 
infraconstitucionais. O Poder Judiciário passou, então, a 
ser composto pelo STF, pelo STJ, Tribunais e 
Conselho Nacional de Justiça – CNJ (criado apenas em 
2004, pela EC 45). 
A CF/88 também ampliou o rol de legitimados ativos 
para a proposição de Ação Direta de 
Inconstitucionalidade, nos termos do art. 103, para além 
da figura do Procurador Geral da República. 
Houve também uma ampla declaração de direitos, logo 
nos seus primeiros artigos, a demonstrar sua 
importância. E não apenas direitos foram consagrados, 
mas também instrumentos para efetuá-los, como: o 
princípio do acesso à justiça (inafastabilidade da 
jurisdição), o mandado de segurança coletivo, o habeas 
data¸ os direitos e deveres relativos ao meio ambiente, 
a ação civil pública e a Defensoria Pública como órgão 
autônomo e permanente para exercer a tutela dos 
direitos dos hipossuficientes. 
A CF/88 pode ser classificada como rígida, exigindo 
procedimento mais complexo para alteração de suas 
normas. Propostas de emendas constitucionais devem 
ser discutidas e votadas em cada Casa do Congresso 
Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se 
obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos 
respectivos membros, nos termos do art. 60, §2º da 
CF/88. 
Também foram previstas cláusulas pétreas, vez que a 
CF/88 não permite que sejam objeto de deliberação a 
proposta de emenda tendente a abolir a forma 
federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e 
periódico, a separação dos Poderes e os direitos e 
garantias individuais (art. 60, §4º, CF/88). 
Esta Constituição já possui várias emendas (mais de 
cem) em pouco mais de 30 anos de vigência. Isso 
porque a Constituição de 1988 é prolixa, prevendo 
vários detalhes que podem (e devem) ser ajustados. 
Isso facilita que a Constituição torne-se mais adaptável e 
harmônica conforme o passar do tempo, e receba 
influências do país que rege, de forma que consiga, 
cada vez mais, conformar sua realidade.

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