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.. ZAHAR ~. EDITOUS BIBLIOTECA DE CULTURA HISTóRICA * 1 \ J ~'TIDVRN * tradução de WAL TE:\SIR DUTRA / ZAIIAR EDITóRES !tIO J)g JANEIRO "'1/ üln arL!/iltrtl: I~ <:1 TLlZATlON li/I IlIf hl! 1'1'!\ por (""'/I"~//('Iw) Ltti, I I/ /1 1 9 6 1 Direitos para a língua portuguêsa adquiridos por ZAHAR EDITORES Rua México, 31 - Rio de Janeiro que se reservam a propriedade desta tradução Impresso no Brasil Printed in Brazil íNDICE Al'lTllL I - A FUNDAÇÃO DE CONSTANTINOPLA A localização da cidade - A decadência do mundo ro- mano - O cristianismo - Diocleciano e a nova monar- quia - Constantino - A vitória da Igreja - A nova capital - A nova síntese. CAPtTULO II - RESUMO HISTóRICO 24 A evolução histórica de 330 a 1453 - Os imperadores e 1\ dín stías. 9 CAI'I'I'llW nr A ONSTITUIÇÃO IMPERIAL E O REI- N DO DIREITO 52 O poder imperial - Sua base popular e religiosa - A imperatriz - As regências - O Senado - O Direito - O Direito na época de Justiniano, dos Isáurios e dos Ma- cedônios - Os Cânones. CAI'ITULO IV - A ADMINISTRAÇÃO G7 O imperador - A família imperial - Titulas - A orga- nização inicial -- As reformas de Justlniano - O sis- tema de "temas" - A administração no século X - O governo dos Paleólogos - Rendas, impostos e gastos - Paternalismo - A questão da propriedade da terra - A Justiça. APITUr.o V·- A RELIGIÃO E A IGREJA 87 O patriarca de Constantinopla - Organização - Contrô- le imperial - As grandes heresias - Cismas - A ques- tão romana - Missões - Igrejas filiadas - Tolerância superstição - O pessoal. ('AI'I'I'IILO VI - EXÉRCITO, MARINHA E DIPLOMACIA 108 n Illx6rcito - Reformas do século IV - Os Frederati - '1'111(11'10 e Maurício - Os "temas" - A Tagmata - Ar- UI/I , catratégía e ciência militar - Soldos, corpos auxí- 1111,.,", rn I' enários estrangeiros - Declínio do exército. " 111/11'1111111aob os heraclidas - Declínio - Renascimento 1111 11,,110 1 Segundo declínio - A marinha dos Pa- I<11111'11 NII vias - O fogo greguês - Organização di- 5 plomátíca - Formalismo, sutileza - O equilibrio dos po- dêres - Casamentos diplomáticos Pretendentes es- trangeiros - Gastos. CAP1TULOVII - COMJj]RCIO 128 O comércio oriental - Cosme Indicopleustes - As con- quistas árabes - Os séculos IX e X - As Cruzadas - Concessõesaos italianos - Declinio - Manufaturas Importações - Regulamentação - Contrôle estatal Corporações - A Moeda. CAPíTULOVIII - VIDA URBANA E VIDA RURAL ... '" 140 Etnografia - Eslavos - Armêníos - O aspecto de Cons- tantinopla - A côrte - O Hipódromo - A nobreza - A riqueza - A ascensão social - Pobreza, escravidão e classe média - Eunucos - Comércio - Cidades da província - A vida rural - Problemas agrícolas - Características dos bizantinos: piedade, influência dos santos, superstição, crueldade e corrupção, amor à beleza, pessimismo. CAPITULO IX - EDUCAÇÃO E ENSINO 173 Educação dos rapazes - A universidade de Constantino - Escolas da Igreja - As escolas de Direito de Constan- tino IX - A educação sob o império de Nicéia e sob os Paleólogos - Educação das mulheres - Línguas estran- geiras - História - Filosofia - Matemática e Ciência - Medicina - Hospitais. CAPITULO X - LITERATURA BIZANTINA 185 O idioma - A prosa - Obras religiosas - Historiado- res - Hagiografia - Memórias - Manuais - Ficção - Cartas - Poesia - Hinos - Música - Epigramas _. Poemas mais extensos - Canções de gesta. CAPITULO XI·- ARTE BIZANTINA 196 As origens aramaicas, iranianas, helênicas - Arquite- tura: a cúpula - A cruz grega - Edifícios seculares - Material - Escultura, pequenos entalhes em metal e marfim - Capitéis - Pinturas, mosaicos, miniaturas - O íconoclasmo _. A pintura sob os macedônios e os Pa- leólogos - O esmalte e a cerâmica. CAPITULOXII - OS VIZINHOS DE BIZANCIO 215 Influência dos eslavos - Os búlgaros - A missão mo- rávía - O Império Búlgaro - Rússia - Sérvia - Ar- mênia - Geórgia - O Islã e Bizâncio - Os turcos - Bizâncio e a Europa Ocidental antes das Cruzadas - Bizâncio e a Renascença - Remanescentes no Oriente Cristão. 6 PREFACIO o objetivo dêste livro é proporcionar ao leitor uma V1,Sao Jt. rol ela civilização do Império Romano durante o período em que sua capital foi Constantinopla -- ou seja, daquela civi- lização greco-romana orientalizada, melhor conhecida como "bi- zantina". É um período extenso, e durante seus onze séculos ororr raui muitas transjormações e modificações. Tentei, porém, conccntrar-m de preferência nas qualidades que caracterizaram a hi.,tÓria bizantina em tôda a sua extensão. Num esfôrço para manter as proporções dêste livro dentro dos limites razoáveis, vários aspectos do assunto foram examinados com indevida bre- vidade: o direito e a arte bizantinos, principalmente, receberam um tratamento desproporcional à sua importância. Mas o pri- meiro, deixando de lado as generalidades, é uma floresta de deta- lhes intrincados, e a segunda, um oceano de gostos controversos c divergentes, 110 qual até mesmo as generalidades são muito arriscadas. Em ambos os casos, uma análise mais detalhada teria demandado número maior de páginas do que seria possível conter êste iivro. Realmente, devo pedir a meus críticos que sejam indulgentes quando considerarem ter eu sido excessivamentebreve ('1/1, ertos pontos, lembrando-se de que maior generosidade ali teria significado cortes em outras partes. A. notas de pé de página têm a finalidade de indicar a" jllll/I',~ tios detalhes ilustratioos e urna pequena bibliografia, no 1///'111 /1/11 'fJ tuulo. Dispensei-as no Capítulo lI, onde trato, de modo /(I,/,tI I' ,~I'1I1possibilidade de controvérsia, da história do período. N" NII'" !/ibli0l'.ráfica, [oram incluulas as indicações das biblio- /{Ioji(/ ",I·/(Ii.~ mai, úteis e uma lista das abreviatura" usada". 7 Quero assinalar meus agradecimentos à Srta. R. F. Forbes, pelo auxílio que me prestou na correção das provas. S. R. Trinity College, Cambridge. NOTA BIBLIOGRAFICA As melhores bibliografias sôbre a civilização bizantina encon- tram-se na Cambridge Medieval History, vol, iv; no artigo de Le- clercq, "Byzance", no Dictionnaire d'Archéologie Chrétienne et de Liturgie, de Cabrol; quanto aos trabalhos modernos, ver especial- mente a bibliografia da Vasiliev, na Histoire de l'Empire Byzan- tino Para o leitor médio, aconselhamos os vários trabalhos de Diehl e Schlumberger. Para os estudantes do assunto, a G6S- chichte der Byzantinischen Litteratur, de Krumbacher, a Histo- rical Geography oi Asia Minor, de Ramsay, e os vários trabalhos de Bury são fundamentalmente essenciais. Foram utilizadas as seguintes abreviações: A. S. BoU. para Acta SanctOrttm Bollandiana. B. G. M. Sathas, Bibliotheca Graeco. Medii Aevi. Byz. Arch. Byzantinische Archiv. B. Z. Byzantinische Zeitsch1·ift. J. H. 8. Journal o] Hellenic Studies. H. Z. Historische Zeitschrift. M. G. H. 8s. " Monumenta Germaniae Historica, scriptores. M. P. G. Migne, Patrologiae cursus comptetus, series Graeco-Latina. M. P. L. "Migne, Patrologiae cursus completltS, se1'Íes Latina. As datas e locais de edição dos vários livros citados podem ser encontrados nas bibliografias acima mencionadas. 8 CAPÍTULO I A. FUNDAÇÃO DE CONSTANTINOPLA A cidade de Bizâncio foi fundada por marinheiros de Mé- gara no ano ,657 a. C.~ num dos ~xtremos ?a E~ropa, o!lde .0 Bósíoro se aore para o Mar de Marmara. Esse htoral nao ela desconhecido dos colonizadores gregos. uns poucos anos antes, outro J11 gárico haviam fundado a cidade. de Calcedônia,. na 11111rg '!TI a iática oposta, tornando-se proverbialmente conhecidos pr-lu .cgu ira d não perceber que o melho; .local. estava do 01111'0 lado do mar. Mesmo assim, Calcedoma dispunha de vunta cns que poucas cidades do Bósforo, em sua situação, possuíam. A Europa é separada da Ásia sul-ocidental por dois grandes lençóis de água, o Mar Negro e o Mar Egeu; entre os dois, porém, cst nde-se a Trácia em direção da Ásia Menor, até que os dois ontinentes fiquem separados apenas por dois estreitos canais, () Bósforo e o Helesponto ou Dardanelos, e pelo marinterior de Mérmara. Dêsses dois canais de fácil travessia, o Bósforo é levemente mais acessível do continente asiático, já que evita a subida sôbre o Olimpo da Bitínia, ou Ida, e muito mais aceso sível para quem parte da Europa, devido ao ângulo em que se projeta o Quersoneso Trácio para formar o Helesponto.. Ho- mens e mercadorias que viajem por terra ele um continente para o outro passarão, quase que inevitàvelmente, por uma cidade do Bósforo, enquanto os navios navegando entre o Mar Negro, o Egeu e o Mediterrâneo terão certamente de passar iunto dela. O Bósforo está situado no cruzamento de duas (111 maiores rotas comerciais da História. Cal edônia não está mãl colocada, mas mesmo assim seus Iundudor s foram curiosamente cegos, pois a costa européia diHIHlIlhn de lima vantagem que' faltava à oriental. No ponto ('111 qu !lM água do Bósíorc passam para o Mármara estende-se 9 para o noroeste uma soberba baía, de uns onze quilômetros de extensão, curva como uma foice ou um chifre, e conhecida na História como o Chifre de Ouro. Entre ela e o Mármara fica um promontório montanhoso, na forma aproximada de um triângulo isósceles, cujo vértice rombudo está voltado para a Ásia. Uma cidade fundada sôbre tal promontório não só estaria provida de um pôrto natural, onde uma grande armada po- deria abrigar-se em perfeita segurança, como também protegida pelo mar por quase todos os lados. A única desvantagem era o clima. Durante todo o inverno e a primavera um vento norte quase incessante sopra do Mar Negro, vindo das estepes geladas, .enregelando o colono habituado aos vales abrigados da Grécia e contrastando excessivamente com os cálidos verões que se seguem. E êsse vento norte, combinado com a forte corrente do Bósforo no rumo sul, freqüentemente impedia que os navios a vela contornassem a ponta e chegassem ao Chifre de Ouro. Foi possivelmente o clima que impediu Bizâncio de se tornar, por quase mil anos, uma grande cidade. Além disso, nos grandes dias da Grécia, era mais fácil e mais seguro para os mercadores asiáticos, devido ao estado bárbaro da Trácia, passar à Europa através de Esmirna ou Efeso. Sua importância como fortaleza, porém, foi logo compreendida. Na guerra do Peloponeso foi louvada por sua posição de comando sôbre a entrada do Mar Negro, em cuja margem norte estavam as plantações de cereais onde Atenas se alimentava. Filipe da Macedônia e seu filho Alexandre reconheceram nela a prin- cipal porta para a Ásia. Os imperadores romanos chegaram a considerar sua fôrça estratégica como uma ameaça. Vespasiano revogou seus privilégios; Severo, a cujas tropas resistiu durante dois anos em defesa da causa perdida de Pescênio Níger, des- montou tôdas as suas fortificações. Caracala, porém, recons- truiu-as. Galieno seguiu '0 exemplo de Severo, e em conse- qüência os piratas gôdos puderam velejar impunemente pelos Estreitos, até o Egeu. Diocleciano foi, por isso, obrigado a levantar as muralhas mais uma vez. Sua potencialidade total como fortaleza, porém, não foi descoberta senão na segunda Guerra Licínia, de 322-3, quando Licínio transformou-a no centro de tôda sua campanha contra Constantino. Licínio foi arruinado pela perda de sua frota no Helesponto, e seu exército caiu finalmente em Crisópole; após sua rendição, não era necessário que a fortaleza continuasse a resistir. A estratégia de Licínio foi observada por seu grande adversário - Cons- 10 IIUlillu VIII 1'" il!ilidlldl' .Iilld" mniores 111 Bizâncio. Mal aca- 1111111 /I plllllll I 11 illllll'l'udol' FI levava arquitetos c agrimen- 1111 li I illll 1 ('idlllh I' ('\I 111'1' xlorcs, e as operações li, 11111 11111;1111 Ih I IIIIll iniciu. 11 ,,11illlll~ d{'cuelu" 011 i III)! rurlorc romanos haviam sen- lIdo /I 111'('(' aklude de um IlÔVO c nLro administrativo. A pró- 1'1 i" Homu L I'llOVU-S pouco adequada aos imperadores, com 11/1 trudi ~ republicanas c senatoriais, e sua desconfiança li" novns oncepções orientais da soberania, Além do mais, f' luva muito I nge das duas fronteiras para as quais se voltava I'"dll vrz mais sua atenção: a armeno-síria e a do Danúbio . Mnximinian governara em Milão, Diocleciano mudara-se para 11 Ol'i ntc, fazendo de Nicomédia a principal residência. Cons- luntino a alentara o plano sentimental de estabelecer em sua ciclnd natal, Naisso ou Nissa, a capital, e mais tarde dedicara-se I1 re nBLruçi:io de Tróia. Mas quando sua atenção se voltou 1'11I'/1nizllncio, as vantagens por esta oferecidas tornaram-se ma- lIir, Infl. Níío houv mais hesitação. As fortificações foram ln i,'inelufI nn nov mbro de 324., e cinco anos e meio depois a (,(Ipilol atava concluída. A 11 de maio de 330 a cidade foi solcn m nte inaugurada pelo imperador, sob o nome de Nova Roma. O povo, porém, preferiu chamá-Ia pelo nome de seu J undador, Constantinopla. O ano 330 é a melhor data para tomar como ponto de partida da história bizantina (1). Mas a fundação de Constan- Iinopln, embora a mais importante, foi apenas uma das reformas f modificações que já haviam começado a transformar gradual- IIwnL o império pagão de Roma naquilo que chamamos de J mp -rio Bizantino. Ao término do século III A. D., o Império rt mano ressentia-se da necessidade de reformas. Não é êste o momento de contar detalhadamente as causas do desmorona- mente do velho mundo romano (2). De uma forma :resumida, (I) SObre as reformas de Diocleciano e Constantino, v. es- flll·1lllltl nt Stein, Geschichte âes spiitromJischen Reiches, I pas- /11I. MI ,"'1 , Numismatique Oonstantinienne, vol, II, Introdu- • li, i ("III.~I(/ntin le Gramd; Leclercq, artigo sôbre Constantino, no /I 111"'11'1/ 1'1 rl'Archéologie Ohrétienne, pp. 2262-95, de CabroI. 11/1 V", /f, ('III/,~t(/ntine and the Ohristian Ohurch, in British Academy 1'"jU' ,vIII, V ( om bibliografia completa). (' I 111." ('I III1I1B Bã.O apresentadas em Rostovtzeff, Social ,11/,1 I 1,11//10/ I' 1II,~/()"lI 0/ tlie Roman Empire; Bury, Later Romam 11111" , " 11 IV podemos dizer que elas foram principalmente o caos e a tibieza administrativa e financeira, o poder excessivo nas mãos de soldados ambiciosos, e. uma nova série de perigos nas fron- teiras. Roma havia conquistado seu império territorial graças a um permanente senso de oportunidade. A província capturada era pacificada o mais depressa possível, com a permissão de conservar muitos dos direitos e costumes locais. Conseqüente- mente, cada província demandava um tipo diferente de admi- nistração. O estado em que se encontrava o govêrno central aumentava tal diversidade. A Diarquia, tão anunciada por Augusto, e na qual o Senado participava da soberania com o imperador e governava totalmente certas províncias, apenas con- tribuiu para aumentar a confusão sem se constituir num contrôle eficiente do poder do imperador. As finanças refletiam essa desordem. Os impostos eram altos, mas variados e irregulares, e uma considerável parte dêles permanecia nas mãos dos cida- dãos que compravam ao govêrno o direito de recolhê-Ios. A riqueza tinha uma distribuição muito desigual. Os milionários eram ainda numerosos, ao passo que províncias inteiras mergu- lhavam na pobreza. O império vinha, além de tudo, sofrendo há muito de uma posição adversa nas trocas comerciais. Já na época de Plínio as importações da índia excediam as expor- tações, anualmente, em cêrca de 600.000 libras esterlinas, e a desvantagem, com relação à China, era de 400.000 libras. Essa deficiência não foi corrigida nunca. Durante o início do impé- rio, as emissões imperiais se foram depreciando gradualmente, e a partir do reino de Caracala a queda de valor foi rápida, até que, finalmente, só as moedas de cobre não continham ligas, ao passo que as de prata chegaram a consistir de apenas 2%, dêsse metal. Enfrentando uma confusão administrativa e uma constante inquietação financeira, as autoridades civis não tinham podêres. A única fôrça realmente existente estava com os chefes do Exér- cito. Roma não podia viver sem suas legiões. Eram longas as fronteiras a guardar, necessária a polícia nas províncias cuja rebeldianatural se inflamava pela exploração econômica. Todos os governadores das grandes províncias tinham uma legião à sua disposição e por vêzes comandavam até mesmo exércitos maiores. Isso não teria sido, talvez, perigoso, se existisse um govêrno central forte e uma norma de sucessão fixa para o império. Poucas dinastias imperiais, porém, chegaram sequer à terceira geração. O trono era, cada vez mais, o prêmio a ser 12 '"llIjllI 1.101"1',,1111,llt'fl' militar mais forte, pelos generais ambi- , 111li 'pll uhuuduvurn. Durante o século Il I havia quase que 111I1I 1\111111'1111'ulp,ull1u província nas mãos de um usurpador e, 11I I" 111'li, 11 illlprrio dificilmente poderia ser considerado como IIl1ld I 1l111111lidud'unida. dI' ()rd un tom U-Ae muito mn ls 8' ria no século lU pelas 1111\11pn~MM()I'A urgidu IIUA Ironu-iras. De de os primeiros dias 0111IIIIP"I'itl, II [routt-iru IIMiílli('(I, qtP ia da Arrnênia à Arábia, 11IIIIIVII 1'101.11'/1111n-lut ivnmente pequenos. O reino parto dos A I 111,,111 "1111'11111,'/lI I -nto declínio. Mas no início do século 111 1111111III1VII rliruu Liu urgira na Pérsia, a dos Sassânidas, po- IOI.!III. 1111'ItllHtlillLu ' zoroastriana, que durante quatro séculos 1'1111IlIillli 'li ugre siva dos romanos. Os Sassânidas derrotaram '111111111imperadores no século 111, chegando mesmo a aprisionar " 11I1I1I'I'/ldOl'Vnlr-riano. Sua Iôrça parecia crescer de ano para 111111Ali IIIt'MlIlo tempo, a Ir nteira européia necessitava de vigi- 11111'111 IIdll'lolIlIl. 1)('Hd' os dias de César, o governador da (,1111111111111111 "li 1'11I'fJ,Olima tarefa árdua, a de guardar a fron- 11'1111do 11"1101'01111'1Iti prol Ificas tribos da Alemanha Ocidental, 'p" 1111illVU1I1 por libertar-se de suas florestas constrangedoras. 1"" 110 agoru, porém, era no Danúbio. Tribos da Alemanha ()III'III"I o gôdos em particular, instalavam-se nas margens IIOlllt'iI'UH, qualquer nôvo movimento ou migração nas Estepes I"IIVII 1'1111ente as incitara a atravessar o rio. O problema gôdo 11111li(lIíll .laramente uma ameaça e, apesar dos esforços de impe- 11101",I' t-omo Cláudio lI, não mostrava sinais de qualquer 1I!tIl'IIO. 1':I'u fosse o ambiente político da vida no século IH. Os I'lId I'OI'H de civilização eram ainda altos. Embora os pobres, os , "It~IIS- e os homens livres pouco tivessem melhorado em sua I 1111fi i(,üo - a não ser pelo fato de que muitos dêles viviam dll rnridade do Estado - as classes mais ricas desfrutavam 11111"ollfôrto material e um luxo que ultrapassavam qualquer coisa J I \ i~ll1 pelo mundo. O domínio romano representou sempre 11111"fi .iente programa de obras públicas: banhos e templos, 1'"1'10 e estradas, tudo contribuía para a amenidade da vida. comunicações eram rápidas, fáceis e seguras. Mas todo êsse ('ollfôI'LO, tôda essa segurança, estavam sujeitos a súbitas e pro- 1011radas interrupções. Nas guerras civis freqüentes, cidadãos puC'Ífi 'os podiam ver-se, inesperadamente, desgraçados, pilhados (' ·111('condenados à morte. A insegurança levou à desilusão das 13 coisas do mundo, que seria a característica principal da cultura da época, Culturalmente, o impeno estava dividido em dois, Da Ilíria para o Oeste, as províncias falavam o latim como língua .uni- versal; para o Leste, a língua era o grego, A separação era, entretanto, mais aparente do que real: embora do Ocidente viessem quase todos os homens de ação e os estadistas, os inte- lectuais ocidentais seguiam a orientação do mundo de língua grega, Apenas na África e na Gália teve a cultura latina um ímpeto próprio, Os latinos deixaram, entretanto, obras públicas e um profundo sentido do Direito que marcou mesmo o Oriente, e sobreviveu à desordem, A civilização do Leste era ainda a helênica, uma mistura de concepções clássicas gregas com semitas e iranianas. A influência da Grécia, porém, reduzira-se a uma forte tradição, ao invés de uma fôrça vital. _O individualismo essencial à cultura helênica não podia resistir ao desapareci. mento da cidade-Estado e à fusão até mesmo dos reinos mace- dônios num império mundial de cuja direção os gregos não parti- cipavam, Mas a arte e as letras ainda se mantinham -fiéis a03 velhos modelos gregos ou às suas magníficas reproduções, SUl" gidas na Roma augustiniana. Os artistas acrescentavam apenas uma grande paixão pelo volume e pelos detalhes que eviden- ciassem a competência de sua técnica, Templos, estátuas, poemas épicos, revestiam-se todos de magnificência e rebuscamento. Conservavam a espontaneidade apenas um ou outro poema lírico, ou um quadro, bem como a sátira, que é a expressão natural de uma época sem ilusões. O mundo do Império Romano era bem educado e estético, mas a grande civilização que admirava e copiava perdera sua fôrça vital. A salvação viria de outra região, do Oriente Sírio. Já no século 111 a arquitetura começara a mostrar um nôvo esplendor, espontâneo e oriental. Mas o Oriente venceria a tradi- ção clássica não tanto por suas concepções de majestade, mas principalmente por suas idéias mais puramente espirituais, Uma época desiludida volta-se para a religião e foge das incertezas do mundo. Mas as velhas religiões, a pagã alegria de viver do grego, o culto do Estado de Roma, falharam quando a vida se ensombreceu -com o mêdo e a decadência do Estado era evidente, O Oriente tinha um consôlo melhor a oferecer. Desde o primeiro contacto de Roma com o Leste, as misteriosas religiões de Isis e da Grande Mãe começaram a divulgar-se pelo Ocidente, e seus adeptos aumentavam gradualmente, No ritual secreto e na 14 1"'lIil ên iia ol'(lcnada por ssa d vohuva para uma r alidad' ' ~I as, o cansaço da vida se plIIIII \n.L 09 r quinLllcloll (' ()~l(:;;, ~ 11;"I t::!lS' cult~ atraía princi. cllldc,) ,o hom m d( lI~ii() JlI'P{t riu I)! ~1/lt:1Ol:) da soc~~dadc" O, sol- o Itlllrt\l mo, o culto d!' Apol S 1 I Ull~ d,e origem lramana; 11 lIIill'uí. mo AI' ]l/Iv)'11 ,lI' o. ,() ,0 11 onqulstaveI. No século IU / • C'III1IlU( por tod " , IIUII () ('111811I\ podl'lo u cII' 11I1iZII-' o o Impeno, encero c C'lc'i!u, "'u 11I11(./11 1'1. CI I" IL . çao a esmagadora maioria do , .-) uva pompa e ,~, CIIIIIO clllicli !II 11_ _, cenmollla, mas era , IOluII C'WI\l\Vll ao t ' , cIICIIII/C11ft.11i 11111C c/ I',' J' ' con rano, um senso de c c I (IP ma que se opu h . d ••li" CII "" 1I11111c10MIO ,_ n a a esesperança e I ' as o mitraísmo teve d fI 11111"11IIl/lloc umu reli '- e en rentar um • 19lao que " , 1'11Ic 111111,c crn chamad 'isti se mlclara obscuramente a CIIS lal1lSmo, 110 c' de surpreender que o cristi' ~ IIII/!c ,'UII m nsagem ti h amsm., fosse a fé triun- I 111a um poder d t -IlIlIflO c/o que qualquer outr O " e a raçao muito mais 1"11I. IlI'ill. (, 1111verdade 'tIa" ~llental, com sua aparente I mUI o ImpaCIente I dli C'" • o ofrim nto f' , , ,ncapaz e suportar , re ugla·se mledlatam t '" 11 111/1i altas e foO'e' f en e na comunhão com I , b a es era das sen - , ,." /I cII!/I () I ia os es ' h saçoes mate1'1als O pm os porque êl f S ' 11/1I pl I'UlI a e na crença d es erem, eu consôlo está "11, O rrreO'o hele~nI'c te que os espinhos desaparecerão um \ o 5 o es ava a rn ' , hICII ti seu misticismo d I eio carnm o entre ambos, 11/1101'jnato do simboll'sm °T cduto ~da Natureza, havia nêle um I r_o, o os esses a' dili! uçao no cristianismo ' nselOS po Iam encontrar , que encoraJav " , 111I111~ atologia da esp ,a o mIstICIsmo, pr~gava I lluul 11 bre. Além d erança, era rrco de símbolos e tinha um o mais, encenava ' 1'111'1111 classes inferiores com ,u~ atrativo particular c/I' I) 'u todos eram' ' , ~ua afumaçao de que aos olhos iguais ao Imperrd ' (J 1\IIIOr fraternal. Essa " 01', e ensmando a todos , mensagem o recom d I'0ll! nenhuma outra r I' '- d . en ava aos filantropos " • e 100Iao ava a íd d ' I'l'lIlwo, A Igreja Cristã bf, d " can a e um sentido tão I) dias de São Paulo se 01 hafmll'ave~ente organizada, Desde I ' , , us c e es havIan id h111Itlllllstrativo, Tev ind d 1 SI o omens de tino , ) e a111a uas vanta" ' IIVU, o mitraísmo A " , foi bens Imensassôbre seu , plImell'a 01 a de ", 11111papel destacado O 'of ~ pernun» as mulheres c/ude deplorar e de~unc~a pIO essor~s ortodoxos podiam na reali. IIl1ua pelos heréticos mo~t:lli~~:P( :\a igualdade dos sexo~ ensi- as mulheres tiveram ("') M ontanistas adeptos d Jlllg-ava possufdo pel~ Es Iri e Montano, do século II, que se lI! (t'umonto para purifica; ~~tohSanto, e por êle utilizado como (N, a T,) omens e gulá-Ios na vida cristã, 15 sempre um papel relevante na história do cnstlanismo. Como diaconisas e mais ~'ecentemente, como abadêssas(3), podiam adquirir importância. O mitraísmo, porém, era uma religião masculina, Não encontramos traços de mulheres entre seus adep- tos, A segunda grande fôrça do cristianismo está na influência que, desde os primeiros anos, recebera da filosofia grega, Essa influencia deu à sua teologia um conteúdo intelectual que a tornou aceitável a muitos dos melhores e mais profundos pensa- dores da época. Nem o mitraísmo nem qualquer das reli::;iões misteriosas poderia ter produzido homens do calibre mental dos primeiros padres cristãos, homens como Orígenes, hineu, Ter- tuliano ou Clemente de Alexandria, pensadores superados apenas por seus sucessores, os padres do século IV. Apesar do cisma no Ocidente e das heresias no Oriente, a Igrej a Cristã tor- nava-se ràpidamente a mais poderosa organização isolada do império. Nenhuma das heresias era ainda perigosa. O gnosti- cismo, a mais séria delas, nunca teve grande favor popular. Logo dividiu-se em seitas menores, e embora na época Mani já esti- vesse produzindo uma estranha mistura de gnosticismo e do dualismo zoroastriano, que teria certa voga nos séculos IV e V, o centro do maniqueísmo achava-se na fronteira persa. Em seu avanço gradual, o cristianismo foi sem dúvida auxi- liado pela lenda de seus santos e de seus comprovados milagres, pois aquela ~oca era de superstições. A idade da razão augus- tiniana teve VIda curta. Os homens voltavam a falar dos feitos maravilhosos de Apolônio de Tiana e acrer1itavam em histórias com as que Apuleu narrara. A previsão do futuro e a magia tinham grande desenvolvimento. A demonologia elevou-se a ciência. Tôdas as superstições que fizeram da civilização bizan- tina objeto de ridículo para os historiadores do século XVIII vieram dessa época do velho império, embora muitas outras, ainda pagãs, tivessem sido transferi das para a Igreja Cristã, Até a filosofia seguiu a tendência popular. No Ocidente, o estoicismo conseguiu produzir Marco Aurélio antes de desapa- recer, mas no Oriente já há algum tempo apenas o neoplato- nismo mantinha sua vitalidade. Nas mãos de porfírio e [âm- blico, o neoplatonismo recebia influxos de taumaturgia e magia, e de um politeísmo geral. Na verdade, os ensinamentos dos (3) Os conventos de freiras são, na verdade, anteriores aos mosteiros, No Egito houve vários dêles no século lI!: Smith, Early Mysticism in the Near East, 34 e ss. 16 111111,1010(I i Illotl !'tlllIVlllll provàvelmente 1111111110cio 1(111'11 dOllll'illa' mais próximos do pla-criadas nas escolas dos filó f, 1 oso os. I! /1110:lBtI, poder im . 1. pena passou às - d 1111IIU IlIlId.' estadista qu R duzi maos o pri- I ' e orna pro UZlUdesde A D' ! ".'I/lII!), IIIIM.id na Ilíria 'r' h AI 1 ugusto - 10- I ' ., . m a e e pena conscOA . d . '" 1111111'110d dicou .' d iencia a situação I seu lema o a um d I' 1,," 'o ulcan Suas pri . .. programa e reformas I ' . rmcrpais intenções eram d I 11 intruduzir uniformidad d . _ a e centra- I e na a ministração 1 • "1111 11I I) contrôle dA' co ocar oo governo restaurar . - , 1.11' I" 11 ,'llIhilizlll';"\O d d' a situaçao finan- ,~< a moe a e c rd 111I1", 1'" i"/lO do imperador, onso 1 ar essa obra ele- 1',111Iud/l /I história do im '" ' I1 IlIltfollllidudc exempliíi d penof e,~amfesta a tendência para I ,1 ica a na acilidade d I /111111romana a qual 'd' em conce er a cida-I quer su ito nascido h l' I I 11(1/11".irn nto recente das últim "ornem rvre, e no • I lI/1do. Mas' o caos qu d as provmClas governadas pelo e prece eu à subid d D' 1 . IIIIVII 11" ssário um sist .. a e lOCecrano tor-, ema inteiramente nôv D' leci . "Vil () império demasi d o. lOCeciano jul- I ' a o extenso para S' d 1111t'O imperador De d .. er governa o por um, . . s e os pnmeuos cés fô ,. III't'(' sana a existênci d .. ares, ora consideradaIa e um ministro dE' 1I1111'()latino Dioeleci 1 o xtenor grego e N ' Clano evou mais alé di . - 1111'dou dois impé ' determi m essa ivisao básica, I' ' nos, mas eterrnmou AI d ' I 111imperadores cada qual idi d que e e evena ter I' ' resi m o numa m t d d ' !lI'U a sezurar a co ti id d ' , . e a e e sua area. I to n mui a e pacífica d A tllt ur d veria ser auxili d o governo, cada impe-Ia o por um césar . províncias foram novam t ,., que sena seu herdeiro, üupêrio foi dividido en e divididas e reorganizadas. O 1\ Itália, a Ilíria e oeOm,qutatro grandes prefeituras, - a Gália nen e - zovernadas ' (lltllorianos, que eram as aut 'l d por quatro prefeitos 1'1ef rituras foram subdividid 01'1 a es mais altas do Estado. As I ' 1 as em grandes provi h d I 11I('iscs, cujo governado h bi t I vmcias, c ama as I !'lIlava subordinado ao ~re~e;tua ~ente ti?h~ o título de vigário in e África conservav o,, s provmClas conhecidas como Jlllvil êgio de despach am l " porem, seus procônsules, com o arem diretamente com' d nrlministrar o império . d f o Impera or. ParaI reorganiza o oi formad êd d 111\,i nários civis, e novos podêres a~ribuídos a' bu a uma. re e erocracia. A principal característica dess b . .' . "puro ão das autoridades milit a ~oclacla fOI sua completa II.jI'llH iomhinavam-se as d IfI ar:s, penas em algumas fron- r ' r' uas unçoes embora a ' " ('110 !lflHCuma autoridade t t '1" prmClplO o pre-an o rrn itar com "1 U . 11'"'I 111'nlliznçiio militar foi m t d 1 d o CIVl. ma glgan-on a a a o a lado com a orga- 17 nização civil, e esperava-se que tal separação de podêres serviria de freio às ambições de generais desleais. Ao mesmo tempo, Diocleciano fundou um exército imperial móvel que se podia transferir ràpidamente a qualquer parte do império, em caso de guerra ou insurreição. A preservação do império reformado seria feita por um sistema rígido de castas. Seguindo a idéia primeiramente Ian- çada pelo Imperador Aureliano, Diocleciano decretou que o filho teria, invariàvelmente, de seguir a profissão do pai, qual- quer que fôsse ela. As agitações sociais se haviam tornado tão freqüentes, fortunas faziam-se e perdiam- se tão ràpidamente que êle julgou necessária tal rigidez para manter a estabilidade e ser possível recolher uma renda regular. Constituía também uma vantagem recrutar o exército entre as classes médias da sociedade. Os membros da nobreza senatorial, perigosos por sua riqueza e suas tradições oligárquicas, eram cuidadosamente excluídos das fileiras militares. A tentativa de estabilizar a moeda teve menor êxito: foi impossível fazê-Ia voltar à posição que desfrutara sob Augusto. As várias tentativas, feitas por Diocleciano, de emitir uma moeda integral levou por fim, para sua surprêsa, a uma elevação dos preços. Para contrabalançar isso, o imperador promulgou o famoso decreto de 301, que fixava os preços de tôdas as merca- darias. O decreto não teve êxito, e coube a Constantino esta- bilizar a moeda do império numa base permanente. A mais duradoura das reformas de Diocleciano foi a menos tangível - a intensificação da majetade imperial. O conceito da divindade do rei era endêmico no Oriente e estivera em moda na época das monarquias helênicas. Não desaparecera nunca nas províncias orientais do império: o imperador herdava uma parte da divindade. Mas Roma, com seu tradicional ódio aos reis, não aprovava isso. Augusto teve, portanto, cautela ao não dar mostras de majestade. Era apenas o primeiro cidadão do império, um ser humano que, embora importante, era acessível. Cedo considerou-se que seria bom para os povos vassalos se os imperadores mortos fôssem deificados; o verdadeiro romano, porém, aprovou odiscurso cínico de Vespasiano agonizante (4). Apesar da adulação exigida por Domiciano ou por Heliogáhalo, (4) Ut puta) deus fio - Creio que me estou transformande num deus. 18 JI(I il\tiu 110 Ocidente, c a possibilidade de uma 1111I 1111I.• q\ll pur 'ia parte da profissão imperial, não con- 11111I 1"11/1 /111mintar o prestígio do imperador. Diocleciano I I" \I '1111'11 uut ridade imperial seria maior, e a vida do 111'I 01111111/.1 gura, se êle fôsse feito semideus. I' I ( 11I c'. tab lecidos Sassânidas da Pérsia envolviam-se 1111I1, P' o 11do de majestade. Diocleciano copiou-Ihes muitos 11 11111111.() imp rador já não se movia livremente entre os 1I1II , I íll retirado, numa côrte protocolar, e era atendido I ".11111III( JlO!' 'U/lUCOS, raça antes desprezada e proibida. Os 11'11I I 11I111('•."idos em audiência deviam prostrar-se e adorá-Ia. I • I 11111d /ltlnna, calçados escarlates e mantos de púrpura. De • tI,l 1111111/1,il\ constituía uma evolução natural. A lei era 11111' dlvjllll II() olhos dos romanos, e o imperador era, de 11I 111111111.11 fonte da lei. Mas Roma sentiu-se ofendida pelas I, IIIII/! orientais do despotismo. Foi entretanto Roma, IIlIpl rndor, que mais sofreu com isso. Diocleciano 11 ()I lontc em Nicomédia, reconhecido como um semi- 1/1 n iluuo, seu colega ocidental, preferiu residir em 1I 111It I' /1110 procurou dar verossimilitude à sua divindade, 1'1til 1IIII!lIIIdo I d s icndente de Júpíter, rei dos deuses, prepa- , 11ti " .t, 11 fOi ma seu caminho para o panteão. Maximiano I 1111 I I lI'ui popular, embora menos exaltado, dizendo-se 111I111111.tI JI' r .ules. Constantino, o césar do Ocidente, tentou 1111111 11111I·ligião pessoal, o mitraísmo, com o culto do ,"1111, 1IIIIIIlIldo-!le descendente do Deus-Sol ApoIo. I, 111Iiu uma grande parte da comunidade que não podia "'1" uulor 8 a adoração que exigiam. Os cristãos, com I til I II( fiO elurn ntre o que era de césar e o que era de Deus, I' 111I 11111( ('01110 bons cidadãos enquanto não fôssem obrigados 111111111111 I·: I ido. Mas cultuar um ser humano, mesmo sendo 111'1"I ,,1111 1'1'/1algo que certamente não podiam tolerar. Dio- I I I I 11111 111'1111 11110podia permitir à mais forte organização II I" 01.1 IlIlp(·rjo r j itar sua majestade. Procurou usar a , 111111111ou uma resistência fanática: começou então I '. I , 1I1I'/lO, S cristãos continuaram não-conformis- , 111'111IIldOl COllHtontino quem encontrou a solução para 11, I, • 111(1111\1)('\1 11 1IIIII!lIdo por Diocleciano mal resistiu à sua \1111 . (\I vúri s aspectos permaneceram, mas 19 com uma exceção fundamental. Diocleciano fizera o império depender do imperador, mas o sistema de dois imperadores e uma norma de sucessão ao trono só poderia perdurar se os candidatos imperiais fôssem homens de espírito elevado, isentos de ciúmes e suspeitas. O título de césar era também perigoso, muito alto, mas ainda não bastante alto. Desapareceu ràpida- mente. Em 311 havia quatro imperadores, Licínio e Maximino no Oriente, Maxêncio e Constantino, filho de Constâncio, no ~c~dente. A cena estava, evidentemente, preparada para a guerra cIvIL Ela irrornpeu inicialmente no Ocidente. Uma rápida e bri- lhante campanha em 312, de Colmar ao campo de Saxa Rubra, pela ponte Milvius, fêz de COllstantino o senhor do Ocidente. No ano seguinte, auxiliou Licínio a derrotar Maximino e tornar-se por sua vez, senhor do Oriente. Mas Constantino e Licínioeram ambos muito ambiciosos para dividir entre si o império. Sua primeira guerra de 313 não foi decisiva, mas em 323 Licínio. era esmagado em Crisópole, e Constantino passava a ser o único imperador. O Colégio Imperial de Diocleciano terminava, assim, num fracasso. Sob outros aspectos, porém, sua obra perdurou. Cons- tantino conservou-lhe o sistema administrativo e consezuiu o b que para Diocleciano foi impossível: a estabilização da moeda. O velho sistema monetário romano não podia ser recuperado, mas Constantino criou um padrão ouro, o sôldo, uma peça de ouro estampada com seu sinête, ao invés de uma moeda, em rela- ção ao qual se faziam as cunhagens. O sistema funcionou bem. O sôldo imperial manteve seu valor e prestígio firmemente por oito séculos. Constantino secundou os esforços de Diocleciano nadeifí- cação da posição do imperador. Na marcha que fêz para o sul, ao encontro de Maxêncio, quando seu futuro estava emJ' ôaoC . e , onstantmo e todo o seu exército tiveram uma visão. Uma cruz brilhante surgiu no céu, à frente dêles, com a inscrição "Hoc vinces", e na mesma noite Cristo confirmou a visão num sonho do imperador. Profundamente impressionado, Constantino ado- tou aquêle lábaro, a cruz com a ponta torcida, e com êle levou suas tropas à vitória. O milagre foi oportuno. O visionário mostrou senso político. Constantino iniciara sua carreira política sob a égide de seu sogro, Maximiano, e Iôra portanto da Casa de Hércules. Após 20 sua ruptura com Maxêncio, voltou à fé mitraica de sua família, tornando-se filho de ApoIo. Mas Maxêncio, tal como Maximino 110 Oriente, adotou uma forte política anticristã. Seu adver- ário teve, por isso, de cortejar a aliança dos cristãos, que cons- tituíam provàvelmente apenascêrca de um quinto dos habitantes cio Império, mas que eram, de longe, a religião mais forte, e por isso aliados mais valiosos do que os adeptos domitraísmo - embora o Lábaro fôsse também um símbolo adequado aos mitraístas, o que não deixava de ter certa utilidade. Qualquer que fôsse sua concepção pessoal, após a batalha cI Saxa Rubra, parece certo .- por suas moedas e seus decretos - que Constantino estava comprometido com o cristianismo, Esmagara Maxêncio como campeão cristão, lutara ao lado de J .icínio como campeões contra o perseguidor Maximino, e pro- mulgara o famoso Edito de Milão, de 313, que pela primeira v z reconhecia legalmente a comunidade cristã. Mas Licínio ontinuou pagão. Também ao atacá-lo, Constantino era o soldado ristão, O cristianismo e Constantino tinham dívidas entre si. No ano 325 Constantino surgiu como patrono do cristia- nismo, de uma nova maneira. A Igreja estava às voltas comfi disputa entre Ário, sacerdote de Alexandria, e seu bispo, sôbre a natureza da divindade de Cristo. Constantino tomou a si a incumbência de convocar os bispos da Igreja para uma reunião em Nicéia, na grande assembléia conhecida na História como o Primeiro Concílio Ecumênico, na qual, sob sua presidência, os bispos decidiram que Ário estava errado. Êsse primeiro concílio de Nicéia foi importante não apenas pela formulação da dou- trina cristã, mas como o primeiro exemplo de cesaro-papísmo, onstantino pretendia que a Igreja Cristã fôsse estatal, tendo omo chefe o imperador. Em sua gratidão, os cristãos não lhe fizeram objeção. Assim, parecia chegar ao fim o velho antagonismo entre II Igreja e o Estado. O imperador era o chefe da Comunidade ,ristã. Não lhe era mais necessário atribuir-se descendência de Hércules ou Apelo: tinha uma nova santidade que redimiria rodos os pecados. O sangue de seus rivais, de seu filho e até d sua mulher, manchava-lhe as mãos, mas para o mundoêle na o Isapostolos, o igual aos Apóstolos, o Décimo-Terceiro dêles. " u prestígio espiritual foi fortalecido graças à energia explo- rudora de Helena, sua mãe, antiga concubina bitínia de Cons- tftncio, e que enviara a Jerusalém onde, com um auxílio mi- mculoso de que hoje em dia não dispõem os arqueólogos, encon- 21 trou o sítio mesmo do Calvário, desenterrou a Cruz Verdadeira e as cruzes dos ladrões, bem como a lança, a esponja e a coroa de espinhos, e tôdas as relíquias da Paixão. A descoberta entu- siasmou a cristandade' e redundou na glória eterna da mãe do imperador. Os nomes de Constantino e Helena tornaram-se os mais reverenciados na história do Império Cristão. Faltava completar ainda um trabalho mais concreto para concluir a transformação do império: a fundação de Constan- ~inopla. O império devia ter uma nova capital no Oriente, Igual a Roma em tudo, exceto na antiguidade, e superior a ela pelo fato de ser, desde o início,uma cidade cristã. O valor da nova capital era evidente. A escolha do local foi uma demons- tração de genialidade. Ali todos os elementos que constituíam o império reformado fundir-se-iam naturalmente - a Grécia, Roma e o Oriente Cristão. Constantinopla foi fundada' no litoral de .Iíngua grega e incorporou uma velha cidade grega. Mas Constantino fêz ainda mais para acentuar seu helenismo. Sua capital deveria ser o centro da arte e da cultura. Construiu nela bibliotecas cheias de manuscritos gregos e povoou as ruas, praças e museus com tesouros artísticos vindos de todo o Oriente Grego. O cidadão de Constantinopla caminhando diàriamente pela cidade jamais poderia esquecer a glória de sua herança helênica. Mas era também uma cidade romana. Por mais de dois séculos a Côrte e uma grande proporção de seus habitantes falavam o latim, que era ainda a língua culta do interior dos Balcãs. Em seu desejo de reunir uma população vinda de todo o império, Constantino deu à ralé da cidade o privilégio de pão e circo livres, desfrutado pelo populacho de Roma. As classes mais elevadas foram induzidas, segundo a lenda, a se transportarem para o Bósforo graças às dádivas de palácios que reproduziam exatamente suas casas romanas. Constantinopla deveria ser uma outra Roma. "Nova Roma que é Constantino- pIa" foi seu título oficial até o fim, e seus cidadãos eram também Rõmaioi. A ~ contribuição de Roma para o nôvo império foram_suas teorias administrativas, suas tradições militares e o I s~-úDireito.; Mas os habitantes de Constantinopla se consideravam 'romanos por nacionalidade, ainda muito depois que o latim dei- xara de ser ouvido no Bósforo e os vestígios de sangue italiano tornaram-se raros. Mesmo no século XII era pretensão dos aris- tocratas ter ascendentesno séquito que acompanhou Constantino à nova cidade. 22 () Ii l!'l·il'o ,) nn nto era o Oriente Cristão. Constantinopla ti I 'I IIIIIU idade cristã. Os templos da antiga Bizâncio I I I, I 1111"IHllinuar por mais algum tempo, e parece até que alguns I I1 111,1111\erguidos pelos pagãos que construíam a cidade. Uma 1,,11Iluulo o trabalho, porém, nenhum outro foi levantado. O 11111111,, ('U misticismo já tinham invadido o mundo romano 111,'11 lunrlo a considerar o monarca como divino. Constantino [111111"1I1(ungem a Tique, a Fortuna da cidade, e fêz construir 1111 '11111.11'.oluna de Apolo, na qual o rosto da estátua fôra II ,11111(1/11'1Irepresentar o seu. E ali ficou êle, com todos os li 1111111do J) us-Sol, para ser adorado pelos pagãos, mitraístas I I 111, 110mesmo Lempo. O cristianismo era uma religião I11Id /I. fil sofia grega dera-lhe uma forma aceitável à Europa, I I r unrhun mtalrnente êle permanecia semita em suas concep- " () cidadão de Constantinopla tinha plena consciência da 11,11111,'"~" o-romana, mas sua forma de ver a vida era, nos 1i 111'111 háelcos, diferente, Experimentava menor satisfação no 11111'11111,dI'! ndo-se de preferência nas coisas eternas. Êsseestado .I, I (I rito tornava-o mais receptivo às idéias vindas do Oriente 01"q\ll ,i oriundas do Ocidente, E a história do Império Bizan- 1111"I /I história da infiltração das idéias orientais até colorirem I I I "eI i<;õ 's da Grécia e Roma e da reação periódica a essa 11111i1111;ro. A despeito dela, as tradições greco-romanas perdu- "1111111IIL" o final. Mesmo no século XV os homens de Cons- I 1IIIIIIIIplll liscutiam a natureza de sua civilização; eram Rômaioí: , I 11111tumbém helenos? O último grande cidadão do império ti, 111111'u resposta: "Embora seja heleno pela fala, nunca diria 1(111"OU um heleno, pois não acredito nas coisas em que os I" 11IIIIM U rcditavam, Gostaria de tomar meu nome na minha I II 111''',C 80 alguém me perguntasse o que sou, responderia: cris- \"" J, .. ) Embora meu pai habitasse a Tessália, não me con- 1.1,111te'. saliano, mas sim bizantino, pois sou de Bizâncio." (5) Poel mo, seguir Jorge Genádio c chamar a civilização segundo " I lc IIH'nL s bizantinos que a fizeram, considerando como sua 1111111III'/II;ão a cerimônia do dia 11 de maio de 330, quando o 1111(11rndor Constantino dedicou a grande cidade de "Nova Roma 1(111 .OJ1 Lantinopla" à Santíssima Trindade e à Mãe de Deus. ( ) (1 nádío, Dísputatio contra Jt~daeU1n, ed. Jahn, 2, 23 CAPÍTuLO II RESUMO HIST6HICO (6) o império reformado, instalado a 11 de maio de 330, durou 1.123 anos e 18 dias. Em meio às constantes transformações da Europa daqueles séculos, um fato permanecia imutável: um imperador romano reinava, com majestade autocrática, em Cons- tantinopla. Nesse império, tudo dependia, em última instância, do imperador. Sua história divide-se assim naturalmente pelas dinastias que o governaram sucessivamente. A princípio, elas tinham vida curta. Tal como em Roma, chegavam apenas à terceira geração. Os últimos oito séculos, porém, são domi- nados quase que exclusivamente por cinco grandes famílias: Heraclidas, Isáurios, Macedônios, Comnenos e Paleólogos. O século IV é apenas um prelúdio à história bizantina. Constantinopla não era ainda o centro indispensável de govêrno. 'Constâncio, embora tivesse contribuído para sua construção, pouco parava ali. Joviano nunca a visitou. Nem estava o cris- tianismo ortodoxo totalmente triunfante. Foi possível ainda a Iuliano voltar ao paganismo,. embora a tentativa mostrasse que êle era uma fôrça agonizante. E apesar da reunião de Nicéia, foi um bispo ariano que batizou Constantino em seu leito de morte, pois Constâncio e Valencia no favoreceram o arianismo. Constantino, o Grande, morreu em 337. Seus últimos anos foram dedicados à paz e à reorganização. Seus três filhos suce- deram-no em conjunto - - Constantino lI, Constâncio II e Cons- (6) Melhores histórias resumidas de Bizãncio : Gelzer, By- zantinischen Kaisergeschichte, em Krumbacher, Geschichte der By- zantinische Litt ertüur (2.- edição); Diehl, Histoire de l'Empire Byzantin; histórias mais detalhadas: Vasiliev, HistoÍ1"e de l'Em- p'ire Byzantin (mais recente); Gfrorer,Byzantinisch Geschichte; Kulakovskí, Byzantine liistory; capítulos na Cctmbridge Medieval History, volumes 1, 2 e 4. 24 111111(,L Os irmãos não se entenderam muito, mas em 350 Cons- 111I1ill() Constante estavam mortos, e Constâncio, após derrotar 11 'rulld usurpador, Magnêncio, em 351, reinou sozinho até 11.1morte, dez anos depois. Durante êsses anos, a situação II 1011 do império tornava-se cada vez mais séria. Perdurava 11111IIÇ/l P r a e a pressão das tribos germânicas no Reno e 111 l lnuuhio intensificou-se, principalmente devido ao apareci- 111111111,1111 di tantes estepes, de um nôvo povo da Mongólia, 1.111111, o llcno, o primo de Constante, Juliano, derrotou 11tHI 111 10 pl'llllillli a, c seu exército exultante, descontente t 11 I 1111,11111111111,aclamou-o imperador. em 360. Constante !tI" '1"1' /I revolta 8C disseminasse, e Juliano tomou o 1111'111I.11[1111tll'lrUIlH' rlc sangue. 1 til 111'""1'1"1 1"" f/lll111 inuu tnl por ua apostasia, sua volta I' ' I I II 111" 1111'1111111111111I10,roi 11111Iruca 8 . O mundo 11 110li, I 1111111111II I 111tli1.lldo () Crt tianismo I lI,d, 111111 tll\ Itllldl IlIililllH'H Juliano foi I I I I 1'11 li, 11111111/11111111dllllllMilldo mor- 1"1 fi I 111111til 111,\, () l'xÍ'rcito aprcs- I 11111 10111111I I 11111'"1'11111',chamado Joviano, I' I I 1111111tIIlt li. 11 1"1. de trinta anos, cedendo- 1II 'I' I I I 11I IlIltill tlLI Arrnênia, No princípio da I 1111111,/ tI\ illllll 1l101'f'('U. 111 11111111,o I' 1'lTilo aclamou o General Valentiniano, 1'11 1I I 11 11\'1 111111110 cid .nte c deixou seu subserviente ti, 111, r umn co-imp rador no Oriente. O reinado de I I I 1'" 111111um marco na história européia. Embora I 11I I 101" , 111111dI' tituído de competência, êle era impopular, I 11ti 11I 1111•.11!lItlO um herege ariano, e teve de enfrentar revoltas 1111I 1Ii11 () ponto crucial ocorreu quando os visigodos, pres- 1111111" 111'10 hunos, obtiveram permissão para se instalarem ,111111ti tllI império, e tôda a nação atravessou o 'Danúbio. Foi 'I '''"11'1'0 dlt~ invasões bárbaras.Os gôdos logo se desenten- I, I 11111'011I as autoridades imperiais e marcharam sôbre Cons- IIIIIIIIIIJI/U, Valente saiu a enfrentá-Ios, recusando-se a esperar ti 1111rlio nviado pelo imperador ocidental, Graciano, filho de /lI, 111in iuno, e encontrou a derrota e a morte em Adrianópolis, 1111:1711. "tiS desastre teve piores conseqüências para o Ocidente do '1"1 para o Oriente. Graciano escolheu para sucessor de seu tio. 11ospanhol Teodósio, a quem a posteridade agradecida chamou "l'eorlósio, o Grande. Com seu tato, pacificou os gôdos, fazendo 25 dêles servos úteis do Estado. Ortodoxo entusiasta, impôs restri- ções aos pagãos e heréticos, e no Segundo Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 381, impôs a unidade ao mundo cristão. Em 387 celebrou nôvo e satisfatório tratado com a Pérsia, divi- dindo a Armênia. Em 392 passou a controlar o Ocidente, após a morte de Graciano, de seu irmão Valentiniano II e de um usurpador, Eugênio, e pela última vez um homem governou o mundo, da Bretanha ao Eufrates. Ao morrer, em 395, deixou o império a seus filhos - o Oriente para Arcádio e o Ocidente para Honório. Q reinado de Teodósio marcara o comêço de~ma nova era para o Império Romano, que se tornara o Império Ortodoxo .. Com sua morte, Leste e Oeste separaram-se para sempre. O século V viu o declínio do império no Ocidente, batido pelas invasões bárbaras, e até a abdicação de Rômulo Augústulo em 476, e a morte de Júlio Nepos em 480, ninguém no Ocidente teve o título de imperador. O império do Oriente teve melhor sorte. Consolidado .]LeIaobra de Teodósio o Grande, e com uma capital invencível, parecia aos bárbaros demasiado forte para ser atacado. Visigodos, hunos e ostrogodos cruzaram sucessivamente o Danúbio, mas acabaram preferindo buscar fortuna no Ocidente, sem que essas invasões tivessem muito efeito sôbre o bem-estar material do Oriente, até que em 439 os vândalos se estabeleceram na Africa e lançaram, de Cartago, uma esquadra que destruiu o monopólio romano do mar. Os portos do Mediterrâneo, habi- tuados a uma segurança que durara séculos, tiveram de construir fortificações, e Constantinopla foi obrigada a enfrentar o pro- blema dos vândalos. Na dinastia de Teodósio, Arcádio (395-408), Teodósio 11 (408-450), durante cujo longo reinado o poder foi exercido prin- cipalmente por sua irmã Pulquéria e pelo marido nominal de Pulquéria, Marciano (450-457), os bárbaros foram, apesar de muitos momentos de ansiedade, desviados para outros canais. Isso foi possível em grande parte graças à diplomacia de Teo- dósio I, cuja paz com a Pérsia mostrava-se duradoura. Mesmo assim, a segurança só foi conquistada a um certo preço: a defesa do império contra os bárbaros foi feita por mercenários e gene- rais bárbaros. Quando Marciano morreu, um ariano, o General Áspar, era a figura mais poderosa do império. Sua heresia e sua origem impediam-lhe o acessoao trono, e indicou como substituto um dos oficiais de seu exército, de nome Leão. Leão I (457-474) só conseguiu libertar o império dos soldados gôdos convocando as tropas asiáticas, principalmente isáurias, cuj o comandante, 26 Tarasicodissa, fêz batizar novamente com o nome de Zenão, dando-lhe como espôsa sua filha Ariadne. Com a morte de Leão subiu ao trono Leão H, filho de Zenão e Ariadne, que faleceu após poucos meses de reinado, deixando o império para o pai. Zenão (4.74-491) reinava ainda quando os imperadores oci- dentais já haviam desaparecido. Oficialmente, assumiu êle o contrôle de todo o império, mas embora Odoacro e, após êle, Teodorico, o Ostrogodo, fôssem nominalmente seus vice-reis, nunca procurou exercer o domínio do Ocidente. Quando Zenão morreu, sua viúva Ariadne nomeou para sucedê-Io um nobre rico, Anastásio (491·518), cuja natureza ponderada muito contribuiu para restaurar as finanças, que nos últimos anos haviam recebido pouca atenção. No século V o império teve outras preocupações, além dos bárbaros. Foi um período vital para a história do cristianismo ocidental. Â rivalidnd ntrc as grandes sés de Alexandria c ÂHlioqllill ir. t fuzin sontir havia algum tempo, e Alexandria 11111I"IVIl , 1111lilot'lIt,julllUdu pelo ínto de que ao nôvo patriarca- do d, (:011IlIlItilloplll rC,rll rludu pr c xlência sôbre o seu, no Se- /(1It1do COIl 'ílio E(,lI!)1~ni'o. No início do século uma querela outr T ófilo d Alexandria e João Crisóstomo de Constanti- 11 pia quase resultava num cisma. A vitória coube a Teófilo, embora Crisóstomo tivesse sido mais tarde vingado. Na década qu vai de ,1,30a 440 Alexandria voltou ao ataque, sob a chefia do Patriarca Cirilo. Nestório, patriarca antióquio de Constan- tinopla, caíra em heresia, segundo se dizia, separando Deus e () Homem em Cristo. A família imperial e a Sé Romana apoia- ram Cirilo, e no Terceiro Concílio Ecumêncio, em Éfeso, em 1\,32, o nestorianismo foi condenado. Seus adversários, porém, foram ainda mais longe, promulgando uma doutrina da natureza una-de Cristo por um obscuro arquimandrita, Êutiques, e que foi aceita pela escola de Alexandria. Para resolver a questão, o Imperador Marciano convocou o Quarto Concílio Ecumênico em Calcedônia, em 451. Marciano ansiava por manter-se em bons têrmos políticos com Roma, e o Papa Leão, o Grande, opunha-se fortemente ao movimento. Sob a influência imperial, o euti- quianismo ou monofisismo foi condenado como herético. O concílio de CaIcedônia constituiu o ponto-chave da his- tória do império no Egito e na Síria. O cristianismo monofi- sita adaptava-se ao temperamento oriental, e logo igrejas mono- fisitas, unidas na oposição a Calcedônia, espalhavam-se pelas províncias. Além disso, a heresia tornou-se o ponto de contacto 27 ntre muitos provincianos que tinham queixas contra a buro- cracia imperial -- ela representava a expressão do crescente sentimento de nacionalismo e separatismo. Da dissensão semeada em Calcedônia resultou a fácil conquista árabe da Síria e Egito, cêrca de dois séculos mais tarde. A Igreja Armênia também rejeitou os decretos de Calcedônia, embora suas objeções fôssem antes constitucionais do que orgânicas. E até mesmo na própria Constantinopla os heréticos eram numerosos. Os imperadores da dinastia leonina afastaram-se da posição de Calcedônia. Zenão fêz uma corajosa tentativa de concessão, em seu Henoticon, que não satisfez a ninguém e provocou uma ruptura com Roma, que Anastásio, um monofisita inconfesso, não procurou superar. O sudeste, porém, continuava insatis- feito. O paganismo, enquanto isso, desaparecera. Em 431 Teodó- sio 11 impôs restrições ainda maiores aos pagãos, e em 438 êlc afirmava não haver mais um pagão no Império. " Durante todo o século, Constantinopla cresceu em tamanho e i-i~ A cidade estendera-se além dos muros de Constan- tino, a tal ponto que em 413 o regente Antêmio, no reinado de Teodósio lI, levantou novas muralhas do Mármara até o Chifre de OUTO, cêrca de três quilômetros a oeste das antigas, para proteger êsses subúrbios; em 439 o prefeito Ciro construiu mura- lhas junto ao mar, unindo-as às muralhas que defendiam dos ataques por terra. Tôda essa fortificação foi reformada após um terremoto, em 447. O trabalho fêz-se em 60 dias, pelo temor de uma invasão dos hunos. Ciro, poeta egípcio, teve ainda a distinção de ser o primeiro prefeito da cidade a baixar ordens em grego, e não em latim. • O século VI é dominado pela figura de Justiniano. Com a morte de Anastásio, uma intriga sutil e vergonhosa colocou no trono um soldado ilírio analfabeto, Justino, que levou para a côrte seu sobrinho Justiniano - e dentro em pouco êste .lesem- penh va virtualmente o papel de regente.' Com a morte de Jus- tino em 527, Justiniano tornou-se imperador. Seu reinado (527-565) constituiu o auge do Império Romano Cristão." Os reinos hárbaros no Ocidente, com exceção da Gãlia Franca, haviam mergulhado numa decadência prematura. Justiniano cha- mou a si a tarefa de retomar a África aos vândalos, a Itália aos ostrogodos e até a Espanha aos vi"igodos~0 guerra com a Pérsia irrompeu novamente, e seus exércitos tinham de concen- 28 trarsecontinuamente no Leste. - Mas, graças ao !!;enIO de seus generais Belisário e Narses, e à habilidade de seus diplomatas, a fronteira oriental foi mantida, a África e parte da Espanha foram conquistadas fi a longa resistência dos ostrogodos, na Itália, ~esll1oronou. Mais uma vez, o Mediterrâneo era um lago romani].iJ ustiniano .dedieou sua atenção também aos assuntos internos~1A administração foi reformada, e sua eficiência como legislador foi ainda maior,"] No princípio de seu reinado, com- parou e reviu os códigos ue' Direito Romano e baixou seu grande Código, em 533, monumento de jurisprudência. E, durante todo o seu reinado, ocupou-se em acrescentar-lhe novas leis (Novellae) para suprir quaisquer deficiências. Mas o imperador além de ser um conquistador e uma fonte de leis, devia ser também a personi- ficação da majestade. Por isso, Justiniano empenhou.se em embe- lezar e fazer mais suntuosa a sua capital. Foi um construtor infati- gável, tendo erguido o maior triunfo da arquitetura no mundo, Santa Sofia, a Igreja da Sagrada Sabedoria, o templo que levou Justiniano a gabar-se de ter sobrepujado um outro rei-legislador, Salomão. Em tôda essa obra Justiniano teve, até 543, o auxílio da mais notável mulher da época - sua espôsa, a antiga. atriz Teo- dora. Sua coragem, visão e falta de escrúpulos foram de grande valia para êle, e o poder por ela desfrutado era maior mesmo do que ° de seu marido. Divergiam, porém, numa questão poli- tica: Teodora era monofisita e usou de sua influência para obter o triunfo da heresia. ão teve -êxito, mas enquanto viveu os monofisitas tiveram a segurança de sua proteção e estímulo. Se lhe tivessem feito a vontade, Egito e Síria poderiam ter conti- nuado como províncias leais ao império. Mas Justiniano, com suas ambições ocidentais, temia desagradar o Oeste ortodoxo. Além disso, considerava-se um teólogo, e·o monofisismo não o convencera. Esperava, porém, encontrar uma fórmula interme- diária que lhe fôsse possível impor a tôda a cristandade. Ele e Teodora concordavam em que todos, mesmo patriarcas e papas, deviam seguir a teologia imperial. O Papa Vigílio, que ousou considerar-se como o repositório da ortodoxia, foi punido por uma longa prisão em Constantinopla, durante a qual acedeu às ordens. de Teodora, primeiramente, e mais tarde, às de Justi- niano, Mas foi somente após a morte de Teodora que Justiniano deu tôda a rédea à sua paixão pela teologia e elaborou uma fórmula que podia satisfazer aos monofisitas sem infringir os decretos do Concílio de Calcedônia. Em 553 o Quinto Concílio 29 Ecumênico condenou, por ordem de Justiniano, a abstrusa here- sia dos Três Capítulos, que êle próprio criara artificialmente alguns anos antes, e completou a humilhação do papado, Mas suas tentativas de aproximação com os heréticos não foram bem recebidas - êles não modificavam sua heresia, preferindo a perseguição. Mergulhou ainda mais nas sutilezas cristológicas, em busca de uma solução, convencendo-secada vez mais da inte- ligência da política de Teodora, quando não de sua fé. Final- mente, em 565 chegava a uma heterodoxia inegável, morrendo naquele mesmo ano considerado pela grande maioria de seus súditos como um herege aftartocatártico ("). A política religiosa de Justiniano conseguiu, pelo menos por algum tempo, colocar o imperador como um ditador teológico, abrindo o precedente de cesaro-papismo para outros imperadores teólogos. Falhou, porém, em seu objetivo principal. As provín- cias orientais continuavam insatisfeitas e o Ocidente suspeitava dêle. Êsse descontentamento poderia não ter sido perigoso se os provincianos, e na verdade todos os cidadãos do império, não tivessem um motivo maior de queixa, Os impostos chegavam a limites intoleráveis. As glórias do reinado de Justiniano, as conquistas externas, os grandes edifícios, eram extremamente custosos e financeiramente pouco produtivos. O que Anastásio poupara desapareceu ràpidamente, e Juliano teve de aceitar como ministros os que se mostravam mais competentes na extorsão, por mais desonestos que seus métodos fôssem, Já em 532 a habilidade sinistra de seus favoritos, o advogado Tribônjo e João, o Capadócio, provocara os famosos levantes de Nica, em que a cidade foi incendiada e que só não custou ao imperador o trono pela firmeza da imperatriz. O odiado João permaneceu no poder até 541, quando Teodoro já não o podia mais suportar. Seus sucessores, porém, foram igualmente prepotentes. Mais tarde, também a natureza contribuiu para aumentar as dificuldades do govêrno de Justiniano : terremotos, uma série de fomes e a grande peste de 544 reduziram ainda mais as rendas. Houve um renascimento da prosperidade comercial durante as primeiras décadas do século, e o próprio Justiniano muito contribuiu para estimular o comércio. Faltava, porém, base, e os lucros não podiam frutificar: o oletor s de impostos estavam sempre a postos. Os súdito d impê rio se foram cansando e ressen- tindo. (*) Ou seja, de uma seita monofisita. (N. do T.) 30 Iustiniano realizou muito. Embelezou o mundo e deu-lhe um excelente código de leis. Suas conquistas ~viveram a civili- zação romana no Ocidente, seu cesaro-papismojgalvou seus suces- sores orientais de uma Canossa.)Encerrou, porém, uma amarga lição moral: a de que o Oriente e o Ocidente não se podiam reconciliar e que as boas finanças representam a base de um govêrno bem sucedido. Por ignorar essas duas leis, Justiniano prejudicou irreparàvelmente o império. ~eu reinado marcou também, incidentalmente, o fim do latim, embora fôsse esta a língua de Iustinianc, e nela tivesse deixado seu grande código.]Mas nenhuma outra, literatura lati- na, além disso, se produziu na côrte, e as últimas Novelas foram promulgadas em grego. ~ Justiniano teve como sucessor seu sobrinho Justino lI, que se casara com a sobrinha de Teodora, Sofia. Procuraram imitar, sem êxito, seus grandes predecessores. No leste, as guerras per- s/IE! I rarn um tI ao trc, 110 norte uma nova tribo bárbara, os ávuros, Iazium }lI' são; no oeste, outra tribo, a dos lombardos, invadiu uma Itália gasta e apática. Sofia comprou a paz com a Pêrsia e escolheu um general, Tibério, para suceder ao seu marido. Em 547, num breve intervalo de lucidez, Iustino adotou Tibério como filho e coroou-o césar. Em 578 Tihério o sucedia orno imperador (7). Uma nova era começou com Tibério. O imperialismo da Casa de Justino desmoronara-se. Tibério compreendeu que o Oriente é que devia ser salvo do naufrágio. A maior parte da Itália foi abandonada aos lombardos. O vice-rei retirou-se para além dos pantanais invioláveis que cercavam sua capital, Ravena, e o litoral do sul foi mantido. Roma conquistou sob os papas uma semi-independência, embora um comissário imperial ainda residisse no palácio dos Césaree. Nesse ínterim, sem que o perce- bessem, a Espanha Imperial voltava às mãos dos visigodos. Ti- bério foi tolerante para com os hereges e concentrou-se na expulsão dos persas e dos ávaros. Numa corajosa tentativa de restaurar o ânimo do povo, suspendeu os impostos por um ano e parece que tentou usar o apoio popular contra a aristocracia imperialista romana. Em 582, porém, falecia, deixando inaca- bada sua obra, com os ávaros triunfantes na fronteira do Da- núbio e os eslavos penetrando com êles. Seu sucessor e genro (7) Justino coroou-o oito dias antes de morrer. 31 Maurício (582-602) adotou a mesma política. Manteve distantes os ávaros e triunfou sôbre a Pérsia. Tentou colocar o império em melhores condições de defesa, dando aos militares maior poder na administração provincial, e com uma economia rígida conseguiu reparar, até certo ponto, as finanças. Seu realismo austero, porém, exigia muito dos súditos. Os soldados, com sol- dos reduzido~, não ~podiam suportar o pêso das exigências que lhes eram feitas, Em 602 o exército revoltou-se. Maurício foi morto e o líder militar Focas tornou-se, por sua vez, imperador. O reinado d~ Focas (602-610) foi um pesadelo de anarquia destruidora e de tirania, invasões externas e levantes internos até que finalmenteHeráclio, filho do governador da África, fêz-se ao mar para Constantinopla como um salvador, fundando uma dinastia que durou cinco gerações. Com o reinado de Heráclio, o Império Romano ingressa no bizantinismo. Predominou naquele período uma longa guerra total contra os persas, guerra que foi uma verdadeira cruzada, e durante a qual os persas saquearam Jerusalém e invadiram o Egito, e com auxílio dos ávaros quase capturaram a própria Constantinopola. No final, porém, o reino dos Sassânidas- foi esmagado para sempre, no ano 628. Mais ou menos na mesma época o reino dos ávaros começou a oscilar, e Heráclio estabe- leceu suserania sôbre os eslavos que, já então, eram numerosos na península balcânica. As guerras, porém, haviam sido custosas e exaustivas, particularmente para as províncias monofisitas. Como seus predecessores, Heráclio procurou conquistar a ami- zade dos monofisitas com uma concessão teológica, adotando a idéia de que Cristo tinha apenas uma energia, ou de qualquer modo apenas uma vontade. Mas êsse monoteletismo, embora tivesse obtido certo sucessoem Constantinopla, e mesmo o apoio do Papa Honório I, não satisfazia aos monofisitas. Suas quei- xas políticas e o leal ódio que mantinham pelos decretos de Cal- cedônia traziam-nos num descontentamento permanente. De qual- quer forma, a concessão vinha muito tarde. Em 636, o ano no qual o imperador assinou a Ekthesis, documento que corpori- ficava a nova crença, travara-se uma batalha na Síria que resul- tara na perda daquela província para sempre. No início do século, as tribos da Arábia Central haviam conseguido unidade política e inspiração religiosa de um certo Maomé. A aridez do clima forçava os árabes a expansões perió- dicas, e alentados por essanova fôrça e fervor atiraram-se sôbre 32 <L!Jlundo civilizado. Em 634 invadiram, primeiramente, a Pales- tina. Em 636 numa batalha no rio Yarmak derrotaram o grand~ exército que Heráclio conseguira reunir em seu cansado império, e tôda a Síria ficou à mercê dêles. Em 637, em Kadisaya, supe- raram as tropas dos Sassânidas, liquidando finalmente o reino persa na batalha de Nihawand, qu~tro .anos mais. tarde. E~ 638 capturaram Jerusalém. Em 641 invadiram o EgIto. Os heré- ticos, explorados e perseguidos, nada fizeram para preservar o domínio imperial. Na Síria e Egito saudaram a troca de senhor, considerando a teologia do Islã mais próxima da sua do que a teologia de Calcedônia. Somente Alexandria resistiu. Ma~ ~m 647 aquela fortaleza do helenismo caiu finalmente e suas b:bl~o- tecas foram entregues às chamas. Na época da morte de Heracho, em 641 o império estava reduzido, com uns poucos postos avan- çados isolados, à Ásia Menor e à costa halcânica, à província da África e Sicília. Com exceção da Africa, constituía êle uma entidade de língua grega e uma unidade religiosa dependente do patriarcado de Constantinopla. A amputação das gra~~es pro- víncias heréticas constituiu, no final das contas, um alívio para os problemas do império. Mas as perspectivas pareciam então bastante negras. As décadas que se S ,uiram à..1!!Qrtede Heráclio ã mais sombrias da história bizantina (!l). A ameaça árabe parecia não ter fim. Tôda a energia do império foi necessária para con- servar as montanhas Tauro, limite norte da expansão árabe. Freqüentemente, êles as atravessavam e atacavam a Ásia Menor. Construíram também uma frota, e em 673 se estabeleceram no Mar de Mármara e anualmente, até 677, atacavam as muralhas de Constantinopla. No princípio do século segui~te, pla~eja;~m uma grande expedição para dar o coup de grace ao impeno, pela captura de sua capital. Enquanto isso não acontecia, e~pa~- diam-se para oeste. Em 670 começaram a atacar a provmcia da África, e em 697 Cartago caía em suas mãos. Dali passaram à Espanha. Nos Balcãs, os eslavos causavam uma desordem ~er- manente. São Demétrio teve, mais de uma vez, de salvar mila- zrosamente sua cidade de Tessalonica das investidas eslavas. Em b • - 679 surgira um nôvo elemento de desordem, com a mv~sao e o estabelecimento, ao sul do Danúbio, de uma tribo guerrerra huna, conhecida como búlgaros. No terreno religioso os imperadores heraclidas apoiaram durante certo tempo o monoteletismo, mu- '(8) Até a cronologia se torna duvidosa nesse período. 3 33 dando depois de orientação e convocando o Sexto Concílio Ecumê- nico, em Constantinopla, em 680, para condenar aquela heresia. Um apêndice dêsse Concílio, o Sínodo I n Trullo, estabeleceu o que deveria ser a constituição e norma da Igreja Bizantina. Os iruperadores da dinastia heraclida, embora fôssem todos homens dotados, não estavam à altura da difícil tarefa de gover- nar, naqueles tempos. Herác!io deixou o trono a seus filhos Cons- rantmo lII e Heracleonas, mas a tentativa de aovernar feita pe!a mãe dêsse último, Martina (sobrinha do m~rido), ~onsti- tuiu um fracasso. Constantino morreu após alguns meses e Hera- cleonas caía pouco depois, sendo sucedido pelo filho do primeiro, Constante 11 (641-668). A maior parte do reinado de Cons- tante foi dedicada à guerra contra os árabes. Finalmente, desesperou-se de salvar o Oriente e foi viver na Sicília, apa- rente~~nte com a intenção de restabelecer o domínio imperial na lt~ha e fazer de Roma sua capital. Foi, porém, assassinado em Síracusa antes que seus planos se consubstanciassem. O rei- nado de seu filho Constantino IV, Pogonato ou o Barbado (668-685) foi igualmente cheio de guerras. Manteve êle as defes~sdo i~pér~o, embor? tivesse permitido, devido a um ataque de gota, a mvasao dos búlgaros, O sucessor de Constantino foi seu fi~o, o j~)Vem Justiniano lI, tirano brilhante em quem não se podIa. confiar, amante de sangue. Após dez anos de opressão, Constantmopla levantou-se contra êle, cortou-lhe o nariz e baniu-o para Quersônia na Criméia. Consezuiu porém fuair da. _ , o, 'ó pnsao e apos dez anos de aventuras entre os bárbaros voltou a Constantinopla com ajuda dos búlgaros. Nesse meio tempo, um soldado, Leôncio, reinara de 695 a' 698, sendo substituído po_rum marinheiro, Apsimar, rebatizado como Tibério IH, que caiu com o reaparecimento de Justiniano, cuj a tirania passou então a não ter limites. Os quersonitas, seus antigos carcerei- ros, temendo vingança, revoltaram-se sob a chefia do General Bardano, ou Filípico, que em 7Il conseguiu destronar Justi- ~iano e condenar à morte sua família. Filípico, porém, era mdolente sob todos os aspectos, menos um, o religioso - era monotelita fervoroso, Após dois anos de govêrno foi derrubado p?~ uma ;oI.lspiração palaciana, sendo sucedido por um servidor CIVI!, Artêmio, que tomou o nome de Anastásio lI. O império havia mergulhado no caos e os árabes estavam dominando a Ásia Menor. As tentativas de Anastásio para restaurar a energia do exército custaram-lhe a popularidade. A revolta de um regi- mento levou ao trono em 716 um coletor de impostos provinciais, 34 obscuro e sem ambições, Teodósio IH, que evidentemente não pôde controlar a situação. No ano seguinte, frente à ameaça, o maior general do império, Leão, cognominado o Isáurio, sem encontrar quase oposição, tomou o govêrno. O destino dos imperadores isáurios foi salvar o império dos sarracenos e transformá-lo na melhor organização defensiva que a cristandade já conheceu. Leão lU l717-740) preservou triunfalmente a capital durante o grande sítio árabe de 717-718, e nas últimas zuerras levou os infiéis de volta à fronteira das b fiTauro. Dedicou-se então à administração, reparou as manças e desenvolveu um sistema de "temas" - cada "tema" ou provín- cia foi colocado sob um govêrno militar, bem supervisionado de Constantinopla, porém. Seu filho Constantino V, a quem deran~ os ásperoscognomes de Cabalino ou Coprônimo (9) (740-775), foi um homem ainda mais notável. Sua habilidade militar e diplomá- tica esmazou temporàriamente os búlgaros e repetiu o êxito de seu pai contra os árabes, no que foi auxiliado pelo declínio do califado cmíada. Com energia financeira e administrativa completou a obra de seu pai. Mas tanto o pai como o filho tornaram-se os vilões da históriabizantina, graças à sua política religiosa. Em 726 Leão Hl promulgou um decreto proibindo o culto das imazens ao qual se seguiu uma destruição geral de ícones 'represen~ando Cristo e os santos. Sua razão original era, prová- velmente, teológica, mas o movimento adquiriu logo uma base política, como um ataque à Igreja - particularmente aos ~os- teiros, cujo crescente poder aumentava pelo fato de possuirem quadros e imagens sagrados. Sob Constantino V, êle m~smo teólogo com tendências unitárias heréticas, êsse aspecto antímo- nástico tornou-se bastante acentuado. Os monges estavam na linha de frente dos iconódulos, oS adoradores de imagens. O iconoclasmo teve certo êxito na Ásia Menor e entre os soldados, que em sua maioria eram asiáticos. Encontrou, porém, uma resistência apaixonada, especialmente na Europa. Motins e le- vantes ocorreram em Constantinopla, e uma grande rebelião com a subida de Constantino V_ Na Itália,/; movimento foi tão impo- pular que pouca resistência encontraram os lombardos, ao invadi- rem Ravena e os últimos distritos imperiais, até que em 751 nada restava ao imperador, ao norte da Calábria., Provocou, ainda, um rompimento com o papado, de conseqüências pro- (9) Menino de estábulo, ou chamado das fezes.. 35 fundas. Os papas procuraram novos aliados nos francos en- quanto o império perdia seus últimos vínculos latinos e s: tor- nava uma unidade exclusivamente de língua grega. A Constantino V sucedeu seu filho Leão IV, chamado o Cazar, por te: sido sua mãe princesa daquela raça turca. Rei- nou apenas cmco anos (775-780), sendo substituído pelo filho d~ ap:nas dez a~lOs,Constantino VI, sob a regência da impera- triz-mãe, a atemense Irene, que, como européia era iconódula Em 787 fêz ela a paz com Roma e convocou ; Sexto Concíli~ Ecumênic_oem Nicéia, para restaurar o culto das imagens. Essa restauração agradou à Igreja e ao povo comum, mas desaaradou aos soldados. asiáticos, que se ressentiam do govêrno d~ uma mu~her, partIcular~ente q.u~ndo o poderio árabe começava a reviver, _sob.os cahfa~. Abácidas de Bagdá. Mas o jovem impe- rador nao tmha habilidade para resistir à mãe e seu caráter não inspirava respeito. Em 797, após uma lon:a seqüência de querelas, Irene finalmente aprisionou seu filho ;eo.ou-o e reinou s~zinha por cinco anos (797-802). Foi durante' êss; reinado femi- m~o que o Papa Leão coroou Carlos, o Grande, imperador do OCIdente. IA dina~tia isáuria foi seguida por um período de reinos breves, pontilhado de rebeliões, e quando facção militar reto- mou o poder o icol)oclasmo foi restaurado. Irene foi destronada p.or s~u ministro do~ro, Nicéforo I' (802-811), excelente flllan~lsta m~s medíocre soldado amador, que perdeu Creta para os p~ratas ~rabes e teve de enfrentar uma súbita renovação da força bulgara, bem como as guerras sarracenas. Nicéforo ~orreu numa. batalha contra o príncipe búlgaro Krum, e seu Illh~ e herdeir o Estauráci? ficou tão seriamente ferido que ~olfe~ .POU?OS meses depois, sendo sucedido pelo cunhado, o rrco CIVIl Miguel I Rangabé (811-813). lVIiguel I foi derrubado por .u~a re,.;olta militar organizada por um de seus generais, o nrm ·nJOLeao. Durante o reinado de Leão V (813-820) o icono- I'In .mo .roi restabelecido, mais como um movimento político e lIulw/('l"Ical do que como uma concepção teológica. Em 820 1,1'110 ('1'/\ a assinado por outro soldado, Mizuel fríaio natural di Iil{lI'io. o , o A dU~1I li~ amorra, .ou frígia, fundada por Miguel 11, durou I 1111'10 !I('c'ulo. lVhguel II (820-829) era um iconoclasta 1111114111, 4' irritou ainda mais a Igreja casando-sepela segunda 111111 1111111 llIonja, Eufrosina, filha de Constantino VI. A I1I4'dl 11 ti rilho, T ófilo (829-842), iconoclasta como o '111/1 11)til \ I 'I. I I I,. pai, mas menos ardoroso. Foi bom administrador e patrono da cultura, e seu reinado presenciou a renascença da cultura secular e damagnificência artística, grandemente influenciadas pela civi- lização dos Abácidas de Bagdá. Suas guerras contra os árabes, porém, nem sempre tiveram o mesmo êxito. Após sua morte em 842, a viúva, Teodora, tornou-se regente do filho, Miguel 111. Tal como a última imperatriz regente, Irene, Teodora era iconó- dula, e em 843 restaurou o culto da imagem, para a satisfação , da grande maioria de seus súditos. A paz religiosa, associada à reconstrução política dos isáurios e de Teófilo, trouxe ao Império um nôvo período de prosperidade. Mas o prudente govêrno de Teodora foi seguido, em 856, pela extravagância de Miguel, que graças a seus hábitos recebeu o nome de Beberrão. Soube, porém, escolher conselheiros capazes, como seu tio Bardas e um escravo chamado Basílio, que após provocar a morte de Bardas, em 867, assassinou o imperador e assumiu o poder imperial. Durante o reinado de Miguel 11I houve nôvo rompimento com Roma, provocado pelas ambições em conflito do Papa Nicolau, o Grande, e do Patriarca Fócio, luta essa intensificada pela conversão dos búlgaros e dos eslavos da Europa Central. No reinado de Basílio I e seus descendentes,conhecidos habi- tualmente sob o nome incorreto de dinastia macedônia (10) (867-1057), o império atingiu o zênite de sua glória medieval. A organização interna era bastante forte para permitir aos im- peradores um programa de expansão, enquanto a situação mais estável de todo o mundo ocidental provocava um crescimento do comércio, do qual Constantinopla se beneficiou ràpidamente. Basílio I (867-886) era um general capaz: sob seu comando, as ondas de invasões sarracenas passaram a ter resultados favorá- veis para o império, embora êstes Iôssem, a princípio, reduzidos. No Ocidente, os árabes haviam assolado recentemente a Sicília e o sul da Itália. Basílio deixou a Sicília entregue à própria sorte, mas seu general Nicéforo Focas restaurou o poder imperial na Itália do sul com uma energia desconhecida nos três últimos séculos. Sob seu filho Leão VI (11) (886-912), cognominado o Sábio, tais êxitos militares não continuaram. Houve uma guer- ra sem sucesso contra os búlgaros, e um desastre ainda maior ( 10) Basílio nasceu no "Tema" Macedõnio, próximo de Adria- nópolis. Dizia-se armênio de nascimento. (ll) A paternidade de Leão é duvidosa. Sua mãe foi aman- te de Miguel lU. 37 (:~)mo s~que de Tessalonica, a segunda cidade do império, pelos piratas arabes de Creta, em 901. Tanto Basílio como Leão seguiram a mesma política interna, que visava ao fortalecimento das prerrogativas reais e se opunha às tendências independentes dos Patriarcas Fócio e Nicolau, o Místico. Para se afastarem dos odiados iconoclastas, Basílio iniciou e Leão completou uma nova codificação das leis, promulgando um código, a Basilica, que p.erdurou até o ~im do império. Leão criou dificuldades para SI ao casar o dobro de vêzes permitidas pelas leis religiosas, em busca de um herdeiro homem. Somente sua quarta espôsa d~u.lhe. um filho. Leão conseguiu estabelecer a legitimidade desse filho, apesar da oposição eclesiástica, e, após sua morte a prodigalidade matrimonial que havia mostrado foi condenada: Seguiu-se no trono Alexandre (912-913) irmão de Leão e co-imperado- desde a juventude, que passou' a reinar em con- junto com o filho de Leão, Constantino VlI, conhecido corno Porfirogêneto, "nascido na Câmara Purpúrea". Com a morte de Alexandre, após um ano de mau govêrno, e após outro ano de l~au gov.êrno sob um conselho de regência dominado pelo Patnarca NlColau, o Místico, o govêrno passou às mãos da mãe de Constantino, Zoé (914-919). Nessa época os búlzaros chefiados pelo Tzar Simeão, invadiram o império.' As vig~rosa~ tentativas de Zoé para derrotá-los acabaram num desastre que provocou sua ~ueda. Substituiu-a o Almirante Romano Lecapeno, que se aproximou do trono e logo passou a controlar Cons- tantino, a quem casou com sua filha. Romano I (919-944) «0- vernou bem o império. Fêz uma paz satisfatória com os b6.l- garos, e seu .general, João Curcuas, iniciou a conquista espe- tacular do OCIdente que marcou os cem anos seguintes. A tenta. tiva de Romano em fundar uma dinastia falhou embora
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