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11
APOSTILA DE TEORIA DO DIREITO
Prof. Dr. Charles Froehlich
DIREITO: NOÇÕES BÁSICAS INICIAIS
ACEPÇÕES DO VOCÁBULO DIREITO
Direito objetivo e direito subjetivo
Na língua portuguesa, a palavra direito assume diversas acepções, o que também ocorre com droit (em francês), com diritto (em italiano), com Recht (em alemão), com derecho (em espanhol) etc. Por essa razão, sobretudo nos sistemas jurídicos romano-germânicos, há necessidade de distinguir o chamado direito objetivo do chamado direito subjetivo. Isso não ocorre, todavia, na língua inglesa. Nos sistemas jurídicos dos países anglo-saxões, utiliza-se o vocábulo law para se referir ao direito objetivo e o vocábulo right para se referir ao direito subjetivo.
Para nós, a expressão direito objetivo (law) refere-se às normas jurídicas. Os adeptos do latim dizem do direito objetivo: ius est norma agendi (direito é a norma de agir). O conteúdo do art. 1º do Código Civil, que é uma norma jurídica, tem natureza de direito objetivo, assim como o Direito Civil como um todo, por englobar um conjunto de normas (as regras e princípios).
Já a expressão direito subjetivo (right), por sua vez, refere-se a uma faculdade incorporada à chamada esfera jurídica do sujeito em decorrência de previsão do direito objetivo. Cuida-se da faculdade de um sujeito realizar uma conduta comissiva (ação) ou omissiva (omissão) ou exigi-la de outro sujeito. Do direito subjetivo dizem os romanistas: ius est facultas agendi (direito é a faculdade de agir). Por se tratar de faculdade, o exercício efetivo de um direito subjetivo depende da vontade do próprio sujeito; ninguém pode forçar outrem a exercer direito subjetivo.
Tomemos a primeira parte do art. 1.517 do Código Civil. Trata-se de uma norma, e, por conseguinte, de direito objetivo. Segundo esse dispositivo, “o homem e a mulher com dezesseis anos podem casar”. Logo, Clóvis, com vinte e dois anos, e sua noiva, Berenice, com vinte e um, têm incorporado a suas esferas jurídicas o direito subjetivo de se casar, o qual pode ser exercido ou não, dependendo da vontade do casal, porquanto se trata de faculdade. 
Outro exemplo: o art. 5º da Constituição Federal de 1988 prevê o direito objetivo de propriedade: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Caio, então, que compra um carro e o recebe, adquire o direito subjetivo de propriedade do veículo, o qual se incorpora à sua esfera jurídica. O direito subjetivo de propriedade lhe confere as faculdades de usar, fruir e dispor do carro, bem como de exigir que todas as demais pessoas omitam-se de usar, fruir e dispor do mencionado bem. Ou seja, o direito de propriedade concede faculdades referentes a ações e omissões. Mas, se for a vontade de Caio abandonar o veículo, então estará deixando de exercer o direito subjetivo de propriedade, e outra pessoa poderá se apropriar do bem. Essa conduta de Caio é lícita, pois o direito subjetivo se reveste em uma faculdade: pode ser exercido ou não. 
Aos direitos subjetivos correspondem os chamados deveres. Destarte, se Helena e Caio têm o direito subjetivo de se casar, então alguém (no caso, um juiz de casamentos) tem o dever de casá-los; se Orlando tem o direito subjetivo de propriedade da vaca Mimosa, então todas as demais pessoas têm o dever de não perturbar a propriedade de Orlando. Considerando a relação entre o sujeito do direito e o sujeito do dever, a esfera de operação do dever e o objeto da relação, os direitos subjetivos dividem-se ainda em direitos absolutos e direitos relativos. Por ora, adiantamos que direitos absolutos consistem em direitos que travam uma relação jurídica entre o sujeito do direito e toda a coletividade, e incidem diretamente sobre um bem, enquanto direitos relativos consistem em direitos que operam em uma relação entre o sujeito do direito e o titular do dever correspondente, e incidem diretamente sobre um fato de um dos sujeitos[footnoteRef:1]. [1: DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.] 
PRINCIPAIS “FAMÍLIAS” OU SISTEMAS DO DIREITO
	
	FAMÍLIA ROMANO-GERMÂNICA – características gerais:
- Prevalência da lei geral, abstrata.
- Formado nas universidades européias na Idade Média a partir do direito romano e grego.
- Direito dos países do continente europeu e de suas colônias.
	FAMÍLIA DO COMMON LAW– características gerais:
- formada pelos juízes, os quais precisam buscar uma solução ao caso concreto.
- jurisprudência como expressão por excelência do Direito.
- Direito da Inglaterra e de suas colônias.
	
	COMMON LAW
	História - Trata-se de um sistema de direito desenvolvido pela ação dos tribunais reais de justiça, logo após a invasão normanda. Trata-se de um direito que se desenvolveu a partir de uma história própria e contínua, sem conhecer a renovação do direito romano e sem conhecer a era das codificações. Desde a conquista normanda, no séc. XI, o poder real era altamente centralizado, ao contrário da França, de modo que os barões eram mais numerosos e menos fortes que os franceses.
Common law = direito comum a toda a Inglaterra (em oposição ao direito das tribos locais).
	Regra de Direito	
- a fonte da regra é o precedente dos tribunais superiores. Estes estão vinculados aos seus próprios precedentes em regra.
- a norma é bem mais específica, pois está ligada a um caso concreto.
- Para a resolução do caso concreto não há necessidade de uma norma anterior.
- Os códigos orientam mais do que preceituam.
SISTEMAS JURÍDICOS
Existem, basicamente, duas formas de sistematização do ordenamento jurídico de um país:
1. Civil law - É o sistema baseado nas leis (apesar do nome, não significa Direito Civil). É adotado por quase todos os países europeus e sul-americanos. Os juízes fundamentam suas decisões na Constituição, descendo a seguir para a legislação infraconstitucional. A partir daí se originam as soluções para cada caso.
2. Common law - É o sistema em que prevalecem os costumes (direito consuetudinário). É adotado por países de origem anglo-saxônica (Inglaterra, Escócia, Irlanda, Estados Unidos, Austrália, etc.).
Principal diferença: O common law baseia-se nos costumes e na jurisprudência; trata-se de um direito judiciário (jurisprudencial). Já o civil law baseia-se na lei, e a jurisprudência tem papel secundário; o processo é apenas um acessório do direito. Quando Roma caiu nas mãos dos bárbaros de origem germânica, estes absorveram parte do Direito Romano, misturando a ele os próprios costumes. Dessa fusão tiveram origem diversos Direitos, entre eles o Direito Português e seu filho, o Direito Brasileiro. Por isso, podemos afirmar que nosso Direito deriva da grande família jurídica romano-germânica. O Brasil, por ter adotado o sistema do civil law, tem na lei sua principal fonte de Direito. Etimologicamente o vocábulo lei é originário do verbo latino legere, que significa eleger, escolher (em sentido figurado, seria a escolha de determinada regra dentro de um conjunto).
* O principal traço distintivo entre os dois sistemas reside nas fontes do Direito. No sistema romano-germânico, o ordenamento jurídico consubstancia-se principalmente em leis, muitas vezes em extensas leis, chamadas de códigos, os quais regulam os diferentes ramos do Direito (Código Civil, Código de Processo Civil, Código Penal, Código de Processo Penal, Código Tributário etc.); aos juízes e tribunais é concedido o poder-dever de aplicar as normas. Por sua vez, no sistema anglo-saxão, embora haja muitas leis, e sejam estas a fonte primária do Direito, não se encontra a abundância legislativa do sistema romano-germânico; aos juízes e tribunais dos países anglo-saxões é concedido o poder-dever de criar normas toda vez que não houver lei solucionando a questão, e as normas criadas pelos tribunais por meio de suas decisões – denominadas precedentes judiciais – vinculam todos os julgadores hierarquicamente inferioresao órgão (juiz ou tribunal que as criou), ou seja, os julgadores têm o dever de aplicar aquele precedente [footnoteRef:2]. [2: DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.] 
FONTES DO DIREITO (o que origina o direito):
Conforme Rizzato Nunes, podem ser classificadas em [footnoteRef:3]: Estatais: leis, princípios, jurisprudência e súmulas. Não-estatais: costume jurídico e doutrina. [3: RIZZATO NUNES. Manual de introdução ao estudo do direito. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.] 
Conforme Maria Helena Diniz, [footnoteRef:4]: Fontes materiais ou reais – os fatores sociais e os valores que condicionam a gênese da norma jurídica. Fontes formais como fundamento de validade da ordem jurídica. As fontes formais são tidas como estatais (legislação, jurisprudência, convenção internacional) e não estatais (costumes, doutrina, poder negocial e poder normativo de grupos sociais). [4: DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.] 
ATENÇÃO: UMA OBSERVAÇÃO SOBRE SÚMULAS
Dentro das FONTES DO DIREITO, está a jurisprudência = o conjunto de decisões dos Tribunais. As súmulas são fruto da jurisprudência.
O que são? Para quê servem? Onde são encontradas?
	Súmula é um verbete numerado em ordem crescente, elaborado pelos Tribunais para uniformizar sua jurisprudência. Uma súmula de Tribunal é consequência de vários debates sobre um tema jurídico objeto de vários processos judiciais. Em suma, para ocorrer uma súmula, temos que lembrar que aquela questão jurídica foi muito debatida em ações judiciais e houve decisões conflitantes sobre ela. Assim, em determinado momento, o Tribunal decide elaborar uma súmula para uniformizar (= pacificar) sua jurisprudência, acabando com a controvérsia.
	As principais súmulas, no Brasil, são as produzidas pelos Tribunais Superiores, principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) (ver o organograma do Judiciário, abaixo).
Observe os seguintes artigos do Código de Processo Civil (CPC):
CPC, Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
CPC, Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
	As chamadas “Súmulas Vinculantes” são próprias do STF, conforme o Art. 103-A, da Constituição Federal:
CF, Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
	Portanto, atualmente, no Brasil, com base na CF (tratando-se de Súmula Vinculante do STF) e no CPC (Súmulas do STF e do STJ), as Súmulas tem grande força para decidir uma questão jurídica. Na verdade, as súmulas têm, muitas vezes, mais força do que a própria lei, visto que os Tribunais são obrigados a seguir o entendimento constante da súmula.
	As súmulas são encontradas nos sites dos Tribunais ou em lista no final dos Códigos impressos.
	
Alguns exemplos de súmulas:
DIREITO PENAL
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
STJ – Súmula 501 – É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
STJ – Súmula 599 – O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.
DIREITO CIVIL
BEM DE FAMÍLIA
STJ – Súmula 549 – É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.
DANO MORAL – STJ:
SÚMULA 37 – São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
SÚMULA 227 – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
SÚMULA 387 – É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
SÚMULA 370 – Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
SÚMULA 388 – A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
DESCABIMENTO DA PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL
STJ – Súmula 419 – Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.
STF – Súmula Vinculante 25 –
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.
CONCEITOS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS [footnoteRef:5] [5: Consultar, p.ex., a seguinte obra: DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.] 
Direito, direito positivo, direito objetivo, direito subjetivo, norma jurídica.
O QUE É DIREITO? Conceito controverso que depende do teórico e da escola a que pertence. Um dos melhores conceitos de direito da atualidade é apresentado por Joseph Raz, na obra O Conceito de Sistema Jurídico, a partir dos seguintes caracteres: o direito é normativo, coercitivo e institucionalizado. Ou seja, para realmente diferenciarmos o direito de outros sistemas normativos, temos que dizer que o direito corresponde a um conjunto de normas (leis, regras, princípios) impostos por poderes do Estado (“instituições”: Legislativo e Judiciário), os quais têm capacidade de aplicá-lo mediante sanções (punições ou desvantagens para o infrator da norma) [footnoteRef:6]. [6: RAZ, Joseph. O conceito de sistema jurídico. Uma introdução à teoria dos sistemas jurídicos. Trad. de Maria Cecília Almeida. São Paulo: Editora WMF, 2012.] 
DIREITO POSITIVO: conjunto de normas estabelecidas pelo poder político, que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em determinada época.
DIREITO OBJETIVO: É o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano, prescrevendo uma sanção no caso de sua violação.
DIREITO SUBJETIVO: Para Goffredo Telles Jr., é a permissão, dada por meio de norma jurídica válida, para fazer ou não fazer alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou, ainda, a autorização para exigir, por meio dos órgãos competentes do poder público ou por meio de processos legais, em caso de prejuízo causado por violação de norma, o cumprimento da norma infringida ou a reparação do mal sofrido.
1. Direito subjetivo comum da existência — é a permissão de fazer ou não fazer, de ter ou não ter algo, sem violação de preceito normativo.
2. Direito subjetivo de defender direitos — é a autorização de assegurar o uso do direito subjetivo, de modo que o lesado pela violação da norma está autorizado, por ela, a resistir contra a ilegalidade, a fazer cessar o ato ilícito, a reclamar reparação pelo dano e a processar criminosos, impondo-lhes pena.
NORMA JURÍDICA: conceito que varia muito conforme o autor, mas, em síntese, pode ser: 
- as espécies normativas em geral (gênero), as quais podem ser regras e princípios;
- a combinação de suporte fático (hipótese normativa) mais preceito (consequências previstas no caso de incidência da norma em fatos reais);
Sobre norma jurídica, fato jurídico, relação jurídica e direito subjetivo, é interessante pontuar o seguinte:
A norma jurídica é a célula do ordenamento jurídico. É um imperativo de conduta, que coage os sujeitos a se comportarem da forma por ela prevista.
Das várias classificações da norma jurídica, vale grifar aquelas quanto à imperatividade e quanto à hierarquia:- quanto à imperatividade, podem ser: as normas de imperatividade absoluta ou impositivas ou cogentes ou de ordem pública. Ordenam ou proíbem alguma coisa de modo absoluto. Normalmente, devem ser aplicadas pelo juiz, independentemente de pedido das partes. As normas de imperatividade relativa ou dispositivas são as que não proíbem nem ordenam de modo absoluto, mas permitem ação ou abstenção;
- quanto à hierarquia: constitucionais; complementares; ordinárias, delegadas, medidas provisórias, decretos, resoluções, etc... (ver adiante).
Características das normas:
- Imperatividade: devem ser seguidas.
- Hipotecidade: a norma, em regra, define hipóteses que, em satisfeitas, geram consequências.
- Generalidade e abstração: generalidade: para um número indeterminado de pessoas. Abstração: para casos não-concretos. Existem normas, todavia, como as sentenças, os contratos e determinadas normas no ordenamento que são particulares ou concretas.
- Bilateralidade: a norma geralmente envolve direitos e deveres (i.e., mais de uma pessoa).
- Coercibilidade: uso da força.
A Teoria do Fato Jurídico entende a norma jurídica como uma proposição composta de suporte fático e preceito [footnoteRef:7]: [7: A teoria do fato jurídico foi desenvolvida, no Brasil, pelo famoso civilista Pontes de Miranda em seu Tratado de Direito Privado. Há uma obra que resume esta teoria: MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
] 
- SUPORTE FÁTICO: é o conjunto de elementos de fato previstos abstratamente na norma, cuja ocorrência é imprescindível à incidência da regra jurídica no caso concreto.
* A expressão “suporte fático” é a tradução portuguesa de expressões usadas em várias línguas para se referir ao fato previsto em norma jurídica (p.ex., Tatbestand, em alemão; fattispecie, em italiano; hecho imponible/supuesto de hecho, em espanhol). No Brasil, ainda se usa, conforme o ramo do direito ou doutrina: “preceito”, “tipo”, “hipótese de incidência”, “fato gerador”.
- PRECEITO: estabelece a consequência (os efeitos jurídicos), pode ser a vantagem (direito subjetivo) a ser conferida a um dos sujeitos da relação e a desvantagem correlata (dever jurídico) a ser suportada pelo outro, ou outros, sujeitos dessa mesma relação. Ou então, a sanção se refere à restrição de direitos ou sanções pecuniárias.
Demonstrando a norma jurídica como proposição a partir de exemplos do Código Civil:
CC, Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida.
Suporte fático = nascimento com vida (fato natural)
Preceito = aquisição da personalidade civil e seu conjunto de direitos e deveres (consequência/efeitos jurídicos).
CC, Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Suporte fático = completar 18 anos (fato natural)
Preceito = aquisição da capacidade civil plena e seu conjunto de direitos e deveres (consequência/efeitos jurídicos)..
Outras vezes, é preciso combinar mais de um artigo, p.ex.:
CC, Art. 186 Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Suporte fático = ação ou omissão voluntária que causar dano a outrem (fato)
Preceito = comete ato ilícito (consequência).
Mas a desvantagem/sanção para quem comete ato ilícito só aparece no Art. 927, CC:
CC, Art. 927 Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo (consequência/efeitos jurídicos).
No direito obrigacional, quando há o inadimplemento (descumprimento) de uma obrigação, no mínimo, 3 artigos são conjugados:
CC, Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
CC, Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
CC, Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
* Não é toda norma – jurídica ou não – que implica em uma conduta e uma sanção. Como faz o Código Civil quando pretende, simplesmente, definir algo, p.ex., as pessoas jurídicas (Arts.41-44, CC) e os bens (Arts.79-100, CC).
* Chama-se INCIDÊNCIA, a ocorrência de um fato concreto previsto em norma jurídica. Também se usa a palavra subsunção para se referir ao fenômeno do enquadramento de um fato(s) na previsão da norma jurídica.
* O DIREITO TRIBUTÁRIO usa muito a expressão “FATO GERADOR” (previsão normativa de uma situação que gera obrigação tributária) enquanto o DIREITO PENAL usa muito a expressão “TIPO PENAL” (previsão normativa de uma ação definida como crime).
OBSERVE: 
1) O Código Tributário Nacional faz menção ao fato gerador nos artigos 114 e 115. De acordo com o texto do artigo 114 do CTN, “fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência”; 
2) O “FATO TÍPICO” consiste no fato que se enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contido na lei penal. Faltando um dos elementos do fato típico a conduta não é crime. É um fato “atípico”. O fato típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em regra, um resultado, sendo previsto pela lei como infração penal. “TIPICIDADE” é a correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto e a descrição contida na norma penal incriminadora. O tipo e a tipicidade penal não se confundem, o tipo é abstrato, a tipicidade é concreta; o tipo é previsão, a tipicidade realização.
RELAÇÃO JURÍDICA
Tanto o titular do direito subjetivo, como o sujeito do dever jurídico, vinculam-se em decorrência da qualificação do fato jurídico pela norma de direito objetivo. Esse vínculo intersubjetivo (entre sujeitos), decorrente de um determinado fato jurídico (fato(s) do mundo qualificado(s) pela norma jurídica), e do qual ressaem direitos subjetivos e deveres jurídicos aos sujeitos vinculados, é o que se denomina relação jurídica.
Relação jurídica, pois, é o vínculo intersubjetivo, decorrente da incidência da norma jurídica sobre o suporte fático, gerador de direitos subjetivos e deveres jurídicos aos sujeitos da relação. A relação jurídica apresenta os seguintes elementos estruturais:
• fato jurídico gerador (ou propulsor), decorrente da incidência da norma jurídica ao suporte fático por ela considerado;
• sujeitos ativo e passivo (evitar o binômio credor/devedor), que são os titulares, respectivamente, da vantagem a da desvantagem decorrente da relação jurídica;
• objeto, ou conteúdo, que é o feixe de direitos subjetivos e deveres jurídicos conferidos aos sujeitos.
Todavia, noutras situações (ex., direito fundamental à vida, ou o direito de propriedade), o enquadramento em uma estrutura relacional pode apresentar-se mais complicado à primeira vista.
Nesses casos, deve se atentar ao fato de que os sujeitos de uma relação jurídica são, a mais das vezes, determináveis e não determinados. É o que acontece com os denominados direitos absolutos, nos quais a vantagem, conferida a um dos sujeitos, contrapõe-se erga omnes, i.e., a todos os outros indivíduos da sociedade. Assim, se sou proprietário de uma casa, tenho sobre ela o domínio, i.e., o direito de propriedade. A vantagem, que me é conferida pelo Direito, é a de usar, gozar, fruir e dispor da coisa que é minha. A desvantagem, nesse caso, deverá ser suportada por todos os demais sujeitos: a de não admoestar o proprietário no exercício de seu direito (dever jurídico de abstenção). Nesse caso, o sujeito passivo da relação jurídica de propriedade compreende todos os demais sujeitos (sujeito passivo universal), afora o sujeito ativo do direito. O sujeito passivo, até então determinável, só poderá ser determinado no momento em que alguém deixar de adotar a atitude passiva de abstenção,e admoestar o direito do dono. O mesmo se dá com os direitos fundamentais, como o direito à vida, que surge desde o momento em que o sujeito se insere na sociedade regulada pelo ordenamento jurídico (seja pelo nascimento, seja pela naturalização).
EXEMPLO 1:
- Arts.186, CC:“aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” e 927, CC: “aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
Ocorre um atropelamento, no qual a vítima quebra as pernas e tem gastos com isso. Temos um fato real, concreto que se enquadra em normas jurídicas e, após essa incidência ou subsunção dos fatos nas normas, surge a relação jurídica: fato real NJ (norma jurídica) = FJ (fato jurídico) = RJ (relação jurídica), distribuindo direito subjetivo e deveres aos sujeitos da relação. Busca-se, então, as conseqüências jurídicas = reparação do dano/indenização.
EXEMPLO 2:
- o Código Penal e leis penais definem crimes e penas. P.ex., “Art.155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena – reclusão, de 1 a 4 anos e multa”. Sujeito que percebe uma janela aberta numa casa, entra e leva uma TV. Temos um fato real, concreto a ser enquadrado no tipo penal do art.155, CP.
OBSERVAÇÃO: Algumas vezes, um fato real ocorrido no mundo pode ter repercussão em várias áreas do direito: civil, penal, trabalhista, previdenciário. P.ex., o sujeito atropelado que fica com sequelas graves. O autor do fato pode responder criminalmente (ação penal) e, ainda, responder civilmente (ação civil de indenização), bem como o mesmo fato ter repercussão na esfera trabalhista-previdenciária (dificuldade ou impossibilidade de trabalhar, auxílios, etc...).
FATO JURÍDICO – acontecimentos em virtude dos quais nascem, se modificam ou se extinguem as relações jurídicas.
Uma classificação objetiva dos fatos jurídicos:
a) fatos naturais – externos ao homem (fatos em sentido estrito): a.1) ordinários: nascimento; morte; decurso de tempo, maioridade; a.2) extraordinários: caso fortuito (acidente de origem desconhecida), força maior (raio, enchente, tempestade, terremoto);
Fatos jurídicos (lato sensu) 
b) fatos humanos – b.1) lícitos – atos jurídicos: fixação e transferência de domicílio, notificações e negócios jurídicos: contratos, testamentos;
b.2) ilícitos – ação ou omissão culposa que gera dano.
Esquema objetivo da relação jurídica:
 SUJEITO ATIVO (vínculo) SUJEITO PASSIVO
Titular do direito subjetivo, Titular do dever jurídico respectivo
da pretensão, do poder de exigir
			OBJETO do DIREITO (lato sensu)
Sobre o qual recai o poder, a pretensão, a exigência do sujeito ativo contra o sujeito passivo
ATENÇÃO: o estudo específico dos sujeitos da relação jurídica (pessoas naturais e jurídicas, entes despersonalizados), dos bens e das obrigações é feito no direito civil. Aliás, a Parte Geral do Código Civil organiza-se a partir dos elementos de uma relação jurídica: PESSOAS – FATOS JURÍDICOS – BENS.
A LEGISLAÇÃO
ELABORAÇÃO DAS LEIS
A criação das leis obedece a um procedimento próprio, chamado de processo legislativo, definido na Constituição. 
PROCESSO LEGISLATIVO – é um conjunto de atos preordenados visando à criação de normas de direito. Esses atos são: a) iniciativa legislativa; b) emendas; c) votação; d) sanção e veto; e) promulgação e publicação.
Sobre PROCESSO LEGISLATIVO, CONSULTAR ARTs. 59 a 69, CF/88.
Em resumo, possui as seguintes etapas:
1. Iniciativa (art.61, CF)- Faculdade conferida a alguém ou a algum órgão para apresentar um projeto de lei.
2. Discussão e aprovação (art.64-65, CF) - Apresentado o projeto, são realizados estudos, debates, aperfeiçoamentos e votação do projeto (deliberação parlamentar). No âmbito federal, o projeto deve ser aprovado pelas duas Casas Legislativas: Câmara dos Deputados e Senado Federal. Lembrando: quando apresentado por senador, o projeto de lei tem início no Senado; quando apresentado por deputado federal, pelo presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, etc., tem início na Câmara dos Deputados. Aprovado na Casa iniciadora, o projeto segue para a Casa revisora. Esta poderá:
a) aprovar o projeto, seguindo para a próxima etapa;
b) emendar o projeto; as emendas retornam à Casa iniciadora, sendo proibida a apresentação de subemendas;
c) rejeitar o projeto, que é arquivado.
3. Sanção ou veto (art.66 e §§, CF) - Nessa fase, o chefe do Poder Executivo participa do processo (deliberação executiva). Com a sanção, ele manifesta sua concordância com o projeto, transformando-o em lei. O projeto pode ser sancionado de forma expressa, quando o Executivo se manifesta por despacho, ou tácita, quando o Executivo simplesmente se omite, deixando de apreciá-lo no prazo de 15 dias. Pelo veto, é manifestada a recusa ao projeto. O veto é irretratável e deve ser expresso e motivado. Pode ser total, quando atinge todos os dispositivos do projeto, ou parcial, quando atinge um ou mais dispositivos. Costuma-se dizer que o veto é jurídico quando o projeto é considerado inconstitucional e político quando contrário ao interesse público. O veto só pode ser supressivo (nada mais pode ser acrescentado ao projeto) e não há veto de palavras. Vetado, o projeto é devolvido ao Congresso, que reaprecia a matéria em sessão conjunta. Aceito, encerra-se o processo legislativo. Derrubado (pelo voto da maioria absoluta no prazo de 30 dias), o projeto retoma ao chefe do Executivo apenas para promulgação.
	Observe o art.66 e §§ da CF/88:
CF, Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 76, de 2013)
§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.
4. Promulgação - Decorre da sanção e tem o significado de proclamação. Atesta-se perante a sociedade a existência de um ato perfeito e acabado, ordenando-lhe o cumprimento. PROMULGAR É DECLARAR A EXISTÊNCIA DE UMA LEI, inovando a ordem jurídica. Na prática, ela se dá em conjunto com a sanção, com a assinatura do chefe do Executivo. No caso de emenda constitucional, não há sanção ou veto, mas promulgação pelas mesas da Câmara e do Senado.
5. Publicação - Ato por meio do qual se dá divulgação da existência da nova lei em órgão oficial (Diário Oficial), tornando-se, portanto, conhecida de todos (trata-se de uma presunção). A publicação é uma condição de vigência e eficácia da lei. Com ela encerra-se o processo legislativo.
UM EXEMPLO: o chamado “Novo Código de Processo Civil” tramitou no Senado Federal como o projeto de lei “PLS 166/2010” (“Casa Iniciadora”) e, na Câmara dos Deputados, como o “PL 8046/2010”(“Casa Revisora”). O projeto de lei foi finalmente aprovado, no Senado, em 24/02/2015 e enviado à Presidência da República para sanção em 25/02/2015. O projeto foi sancionado pela Presidente da República em 16/03/15 e publicado no Diário Oficial da União em 17/03/15 (D.O.U. 17/03/15, p.1) como “LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil.”.
	Desta forma, no momento da sanção, o que era “projeto de lei” transforma-se em uma lei com número próprio e existência autônoma. A lei existe e é publicada para ser conhecida. Entretanto, a obrigatoriedade da lei surgirá com a vigência. É preciso verificar, na própria lei, quando ela entrará em vigor (a data). Pode ser na data da publicação ou em “X” dias ou 1 ano.
ESQUEMA DO PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO:
Obs.: 1) Os artigos citados no quadro acima são da CF/88; 2) Abreviaturas: CN = Congresso Nacional; CD = Câmara dos Deputados; SF = Senado Federal. LC = Lei Complementar; LO = Lei Ordinária; MP = Medida Provisória.
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
CONTEÚDO E FUNÇÃO
A Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei n. 4.657, de 4.9.1942), atualmente denominada “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” (Lei n. 12.376), contém dezenove artigos. Trata–se de legislação anexa ao Código Civil, mas autônoma, dele não fazendo parte. Embora se destine a facilitar a sua aplicação, tem caráter universal, aplicando-se a todos os ramos do direito. Acompanha o Código Civil simplesmente porque se trata do diploma considerado de maior importância. Na realidade, constitui um repositório de normas preliminar à totalidade do ordenamento jurídico nacional.
Trata-se de um conjunto de normas sobre normas, visto que disciplina as próprias normas jurídicas, determinando o seu modo de aplicação e entendimento no tempo e no espaço. Ultrapassa ela o âmbito do direito civil, pois enquanto o objeto das leis em geral é o comportamento humano, o da Lei de Introdução é a própria norma, visto que disciplina a sua elaboração e vigência, a sua aplicação no tempo e no espaço, as suas fontes etc. Contém normas de sobredireito ou de apoio, sendo considerada um Código de Normas, por ter a lei como tema central.
Dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de forma diferente na legislação específica. Assim, o dispositivo que manda aplicar a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito aos casos omissos (art. 4º) aplica-se a todo o ordenamento jurídico, exceto ao direito penal e ao direito tributário, que contêm normas específicas a esse respeito. O direito penal admite a analogia somente in bonam partem. Já o Código Tributário Nacional admite a analogia como critério de hermenêutica, com a ressalva de que não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei (art.108, § 1º). Quando o art. 3º da Lei de Introdução prescreve que ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece, está-se referindo à lei em geral. Tal regra aplica-se a todo o ordenamento. O conteúdo desse verdadeiro Código de Normas extravasa o âmbito do direito civil por abranger princípios que regem a aplicação das normas de direito privado e de direito público no tempo e no espaço (arts. 1º a 6º) e por conter normas de direito internacional privado (arts. 7º a 19).
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, aplicável a toda a ordenação jurídica, como o próprio nome indica, tem as seguintes funções [footnoteRef:8]: [8: Os esquemas em AZUL são da obra: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 1: esquematizado. Parte geral: obrigações e contratos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.] 
No momento, os artigos da LINDB que nos interessam são os SEIS primeiros artigos, principalmente os grifados abaixo:
DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942.
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010)
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. 
§ 2º (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo comêço do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. 
* VIGÊNCIA:
A força obrigatória de uma lei está condicionada à sua VIGÊNCIA, ou seja, ao dia em que realmente ela entra em vigor. VIGÊNCIA significa a qualidade de vigente, isto é, o tempo em que a norma está produzindo efeitos. Lei em vigor é a que se mantém em voga, para ser efetivamente aplicada aos casos sob seu regime.
VIGÊNCIA: significa obrigatoriedade, força obrigatória.
VACATIO LEGIS (vacância da lei)
Pode a norma viger logo no primeiro dia de sua existência bem como algum tempo após. O período (intervalo de tempo) entre a data de publicação e a data da entrada em vigor chama-se VACATIO LEGIS. V. art.1º, LINDB e art.8º da LC 95/98.
A vigência, em regra, é eterna, salvo se outra norma a revogar ou ela perder o objeto ou cair em desuso: princípio da continuidade (art.2º da LINDB).
Normas temporárias: (vigência temporária) destinadas a valer por um certo tempo (ex.:leis orçamentárias, isenções fiscais).
DIREITO INTERTEMPORAL: aplicação da lei no tempo. Normas que são encontradas, principalmente, nas Disposições Finais e Transitórias dos Códigos, Leis e Constituições e tratam da questão da transição na aplicação das leis (quando a lei nova será aplicada? Em que situações a lei velha, revogada, ainda será aplicada?). Tema que se relaciona, também, com a irretroatividade, retroatividade e ultratividade das normas.
A norma é posta no presente para vigorar no futuro. A regra, é o princípio da IRRETROATIVIDADE da norma. Algumas vezes, todavia, pode a norma retroceder ao passado. Trata-se do fenômeno da RETROATIVIDADE.
Há um entendimento básico de que “a lei retroage para beneficiar as pessoas”:
- lei penal que revogue determinado crime ou diminua sua pena, ou ainda, melhore a execução da pena para o réu (Art.5º, XL, CF – “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” e Art. 2º, CP) deve retroagir.
- No direito tributário, quando uma espécie de infração é extinta ou tenha pena abrandada, esta é aplicada aos fatos passados (Art.106, CTN).
O exemplo mais forte e conhecido de RETROATIVIDADE está no Código Penal:
Lei penal no tempo
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela aexecução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
ULTRATIVIDADE da lei: é fenômeno da permanência de aplicação de uma lei mais velha, já revogada, a fatos ocorridos durante a sua vigência, seja porque ela é mais benéfica comparando-se com a lei mais nova incidente sobre o fato (Direito Penal), seja porque há uma regra de transição prevendo a aplicação da lei revogada por um período (Direito Civil: p.ex., Arts. 2028 e 2041, CC).
A retroatividade, em geral, não pode violar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (v. art. 5º, XXXVI da CF e art.6º e §§ da LINDB), salvo nos casos de retroatividade máxima como do Direito Penal.
[footnoteRef:9] [9: Os esquemas desta página são da obra: DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.] 
Quatro são os princípios que informam a vigência de uma lei: o princípio da obrigatoriedade, o princípio da continuidade, o princípio da irretroatividade e o princípio da especialidade.
Segundo o princípio da obrigatoriedade, a lei, durante sua vigência, obriga a cumpri-la todos aqueles a quem se destina, sem qualquer espécie de distinção.
De acordo com o princípio da continuidade, a lei permanece em vigor até que outra a modifique ou revogue, o que pode ocorrer quando a lei nova expressamente o declarar, ou quando for com a lei antiga incompatível, ou, ainda, quando regular inteiramente a matéria de que cuidava a lei anterior.
Conforme o princípio da irretroatividade, a lei nova somente regula os fatos que ocorrerem após a sua entrada em vigor, não incidindo sobre fatos anteriores à sua vigência.
Por fim, o princípio da especialidade dita que a lei especial – a qual trata de uma matéria de forma mais detalhada e específica – não revoga nem modifica a lei geral – que trata da matéria de forma mais ampla e abstrata.
*REVOGAÇÃO
REVOGAÇÃO - Fim da vigência de uma norma. “Revogar é tornar sem efeito uma norma, retirando sua obrigatoriedade. A revogação é gênero, que contém duas espécies: a ab-rogação, supressão total da norma anterior; e a derrogação, que torna sem efeito uma parte da norma”. Então, a revogação se divide em:
- ab-rogação: supressão total de uma lei por outra.
- derrogação: supressão parcial da norma, de dispositivos da norma.
Pode ser, ainda:
- Revogação tácita: o texto não indica, apenas há incompatibilidade entre a lei nova e a anterior;
- Revogação expressa: o novo texto indica quais normas foram revogadas.
Ver art. 2º § 1º da LINDB e art.9º da LC 95/98.
ATENÇÃO: REPRISTINAÇÃO
Quando o legislador derroga ou ab-roga lei que revogou a anterior, surge a questão de se saber se a lei que fora revogada fica restabelecida, recuperando sua vigência, independentemente de declaração expressa. Pelo art. 2º §3º da LINDB, a lei revogadora de outra lei revogadora não restaura (repristina) a velha norma abolida, senão quando houver pronunciamento expresso do legislador a esse respeito.
Portanto, a repristinação, no Brasil, só ocorrerá com declaração expressa da lei. 
Exemplo: suponhamos que a lei B revogou expressamente a lei A. Imaginemos agora que a lei C revogue a lei B sem nada dispor acerca de repristinação. Poder-se-ia pensar que, desaparecendo a lei B (revogadora), a lei A voltaria a vigorar. Isso, no entanto, não ocorre, porquanto a revogação da lei revogadora, por si só, não produz repristinação.
Em uma situação bem específica, é possível o efeito repristinatório em decisões de ações do controle concentrado de constitucionalidade conforme Art.11§2º da Lei 9868/99:
Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da decisão, (...).
§ 1o A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.
§ 2o A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.
Ainda, os critérios de resolução de antinomias normativas podem conduzir à revogação: hierarquia; cronologia; especialidade. (Ver abaixo).
Outras situações normativas podem solucionar conflitos normativos: as disposições transitórias (direito intertemporal) – regras, normalmente no final de uma lei (p.ex, CF e CC), que regulam situações entre lei velha e lei nova e os princípios da retroatividade e irretroatividade das normas.
CRITÉRIOS TRADICIONAIS PARA A SOLUÇÃO DE ANTINOMIAS:
- Critério hierárquico: lex superior derogat legi inferiori = lei superior revoga lei inferior;
- Critério cronológico: lex posterior derogat legi priori = lei posterior revoga lei anterior;
- Critério da especialidade: lex specialis derogat legi generali = lei especial revoga lei geral;
Critérios mais novos (contemporâneos)
- Critério da constitucionalidade
- Critério principiológico.
Conflito entre critérios (antinomias de segundo grau e os metacritérios de resolução):
Hierárquico x Cronológico – lei posterior incompatível com lei superior anterior = prevalece a hierarquia;
Especialidade x Cronológico – lei anterior especial x lei posterior geral = prevalece a especial;
Hierárquico x Especialidade – em tese, é difícil apontar o que prevalece, mas se afirma que a hierarquia prevalece (principalmente, lei constitucional). A supremacia do critério da especialidade só se justificaria, utilizando-se um princípio mais amplo de justiça – o princípio supremo da justiça: entre duas normas incompatíveis dever-se-á escolher a mais justa.
LACUNAS JURÍDICAS (completude ou plenitude do ordenamento jurídico)
Está-se diante de uma lacuna quando o direito objetivo não oferece, em princípio, uma solução para um caso concreto. Há controvérsia acerca da real existência de lacunas no Direito. Entretanto, podemos dizer que existe lacuna quando surge uma situação nova, não regulada pelo ordenamento jurídico: ex.: situações novas surgidas a partir da Internet.
Uma lacuna deve ser, então, preenchida. Trata-se do processo de integração da norma. Basicamente, a integração normativa (resolução de lacunas) ocorre conforme o Art. 4º da LINDB.
Dispõe, com efeito, o art. 140 do Código de Processo Civil:
“Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.”
Preceitua, por sua vez, o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”
A ESTRUTURA TEXTUAL DAS LEIS CONFORME A LC95/98
ESQUEMA: a ESTRUTURA de uma LEI (conforme arts. 3º-7º, LC95/98)
LEI N 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005. │→ “epígrafe”
 Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência │ → “ementa”
do empresário e da sociedade empresária.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: │→ “preâmbulo”
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial │→ “o objeto da lei e o
respectivo âmbito de aplicação
e a falência do empresário e da sociedade empresária, 
doravante referidos simplesmente como devedor.
Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
 II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
· A “PARTE PRELIMINAR” da lei compreende a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das disposições normativas.
· Após, vem a “PARTE NORMATIVA”: compreende o texto das normas de conteúdo substantivorelacionadas com a matéria regulada. São os artigos da lei que tratam da conteúdo propriamente dito da lei, da matéria legislada. Neste exemplo da L.11.101/05, a parte normativa vai do art. 3º ao 188.
· “PARTE FINAL”: compreende as disposições pertinentes às medidas necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, as disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando couber.
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 200. Ressalvado o disposto no art. 192 desta Lei, ficam revogados│→ “Cláusula de revogação”
o Decreto-Lei no 7.661, de 21 de junho de 1945,
e os arts. 503 a 512 do Decreto-Lei no 3.689, 
de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
Art. 201. Esta Lei entra em vigor 120 (cento e vinte) dias após sua publicação. │→ “Cláusula de vigência”
(conferir arts. 8º-9º, LC95/98)
FECHO DA LEI:
O fecho da lei contém referência a dois acontecimentos importantes da História brasileira: a declaração da independência e a proclamação da República:
Brasília, 9 de fevereiro de 2005; 184º da Independência e 117º da República.
ASSINATURA E REFERENDA:
Presidente da República e Ministro de Estado que tem relação com a matéria da lei.
DA ARTICULAÇÃO E DA REDAÇÃO DAS LEIS (CONFORME ART. 10, LC95/98):
· Unidade básica: ARTIGO
Art. 1º a 9º, depois 10, 11, 12, ...
- A parte inicial (de cima) do artigo chama-se caput (“cabeça”).
· os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os incisos em alíneas e as alíneas em itens;
· os “PARÁGRAFOS” serão representados pelo sinal gráfico "§", seguido de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente apenas um, a expressão "parágrafo único" por extenso. Então: §1º ao §9º, depois §10, §11, §12...
· os “INCISOS” serão representados por algarismos romanos (I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV...), as “ALÍNEAS” por letras minúsculas (a, b, c, d, e, f, g...) e os “ITENS” por algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7...).
Um exemplo: “A legitimidade ativa do Mandado de Segurança coletivo está no Art.5º, LXX, “a” e “b”, CF” lê-se: “artigo quinto, inciso setenta, alíneas “a” e “b” da Constituição Federal”.
ADENDO: TEXTO DA LC 95/98 até o art.12.
LEI COMPLEMENTAR Nº 95, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1998
Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA 
Faço saber que o Congresso Nacional decreta 
e eu sanciono a seguinte Lei Complementar:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º A elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis obedecerão ao disposto nesta Lei Complementar.
Parágrafo único. As disposições desta Lei Complementar aplicam-se, ainda, às medidas provisórias e demais atos normativos referidos no art. 59 da Constituição Federal, bem como, no que couber, aos decretos e aos demais atos de regulamentação expedidos por órgãos do Poder Executivo.
Art. 2º (VETADO)
§ 1º (VETADO)
§ 2º Na numeração das leis serão observados, ainda, os seguintes critérios:
I - as emendas à Constituição Federal terão sua numeração iniciada a partir da promulgação da Constituição;
II - as leis complementares, as leis ordinárias e as leis delegadas terão numeração seqüencial em continuidade às séries iniciadas em 1946.
CAPÍTULO II
DAS TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO, REDAÇÃO E ALTERAÇÃO DAS LEIS
Seção I
Da Estruturação das Leis
Art. 3º A lei será estruturada em três partes básicas:
I - parte preliminar, compreendendo a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das disposições normativas;
II - parte normativa, compreendendo o texto das normas de conteúdo substantivo relacionadas com a matéria regulada;
III - parte final, compreendendo as disposições pertinentes às medidas necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, às disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando couber.
Art. 4º A epígrafe, grafada em caracteres maiúsculos, propiciará identificação numérica singular à lei e será formada pelo título designativo da espécie normativa, pelo número respectivo e pelo ano de promulgação.
Art. 5º A ementa será grafada por meio de caracteres que a realcem e explicitará, de modo conciso e sob a forma de título, o objeto da lei.
Art. 6º O preâmbulo indicará o órgão ou instituição competente para a prática do ato e sua base legal.
Art. 7º O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo âmbito de aplicação, observados os seguintes princípios:
I - excetuadas as codificações, cada lei tratará de um único objeto;
II - a lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não vinculada por afinidade, pertinência ou conexão;
III - o âmbito de aplicação da lei será estabelecido de forma tão específica quanto o possibilite o conhecimento técnico ou científico da área respectiva;
IV - o mesmo assunto não poderá ser disciplinado por mais de uma lei, exceto quando a subseqüente se destine a complementar lei considerada básica, vinculando-se a esta por remissão expressa.
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral. (Incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’ . (Incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas. (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Seção II
Da Articulação e da Redação das Leis
Art. 10. Os textos legais serão articulados com observância dos seguintes princípios:
I - a unidade básica de articulação será o artigo, indicado pela abreviatura "Art.", seguida de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste;
II - os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os incisos em alíneas e as alíneas em itens;
III - os parágrafos serão representados pelo sinal gráfico "§", seguido de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente apenas um, a expressão "parágrafo único" por extenso;
IV - os incisos serão representados por algarismos romanos, as alíneas por letras minúsculas e os itens por algarismos arábicos;
V - o agrupamento de artigos poderá constituir Subseções; o de Subseções, a Seção; o de Seções, o Capítulo; o de Capítulos, o Título; o de Títulos, o Livro e o de Livros, a Parte;
VI - os Capítulos, Títulos, Livros e Partes serão grafados em letras maiúsculas e identificados por algarismos romanos, podendo estas últimas desdobrar-se em Parte Geral e Parte Especial ou ser subdivididas em partes expressas em numeral ordinal, por extenso;
VII - as Subseções e Seções serão identificadas em algarismos romanos, grafadas em letras minúsculas e postas em negrito ou caracteres que as coloquem em realce;
VIII - a composição prevista no inciso V poderá também compreender agrupamentos em Disposições Preliminares, Gerais, Finais ou Transitórias, conforme necessário.
Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:
I - para a obtenção de clareza:
a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma versar sobreassunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria da área em que se esteja legislando;
b) usar frases curtas e concisas;
c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e adjetivações dispensáveis;
d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais, dando preferência ao tempo presente ou ao futuro simples do presente;
e) usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os abusos de caráter estilístico;
II - para a obtenção de precisão:
a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende dar à norma;
b) expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras, evitando o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico;
c) evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao texto;
d) escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na maior parte do território nacional, evitando o uso de expressões locais ou regionais;
e) usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a primeira referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu significado;
f) grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais, exceto data, número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
g) indicar, expressamente o dispositivo objeto de remissão, em vez de usar as expressões ‘anterior’, ‘seguinte’ ou equivalentes; (Incluída pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
III - para a obtenção de ordem lógica:
a) reunir sob as categorias de agregação - subseção, seção, capítulo, título e livro - apenas as disposições relacionadas com o objeto da lei;
b) restringir o conteúdo de cada artigo da lei a um único assunto ou princípio;
c) expressar por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma enunciada no caput do artigo e as exceções à regra por este estabelecida;
d) promover as discriminações e enumerações por meio dos incisos, alíneas e itens.
Seção III
Da Alteração das Leis
Art. 12. A alteração da lei será feita:
I - mediante reprodução integral em novo texto, quando se tratar de alteração considerável;
II – mediante revogação parcial; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
III - nos demais casos, por meio de substituição, no próprio texto, do dispositivo alterado, ou acréscimo de dispositivo novo, observadas as seguintes regras:
a) revogado; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
b) é vedada, mesmo quando recomendável, qualquer renumeração de artigos e de unidades superiores ao artigo, referidas no inciso V do art. 10, devendo ser utilizado o mesmo número do artigo ou unidade imediatamente anterior, seguido de letras maiúsculas, em ordem alfabética, tantas quantas forem suficientes para identificar os acréscimos; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
c) é vedado o aproveitamento do número de dispositivo revogado, vetado, declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal ou de execução suspensa pelo Senado Federal em face de decisão do Supremo Tribunal Federal, devendo a lei alterada manter essa indicação, seguida da expressão ‘revogado’, ‘vetado’, ‘declarado inconstitucional, em controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal’, ou ‘execução suspensa pelo Senado Federal, na forma do art. 52, X, da Constituição Federal’; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
d) é admissível a reordenação interna das unidades em que se desdobra o artigo, identificando-se o artigo assim modificado por alteração de redação, supressão ou acréscimo com as letras ‘NR’ maiúsculas, entre parênteses, uma única vez ao seu final, obedecidas, quando for o caso, as prescrições da alínea "c". (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Parágrafo único. O termo ‘dispositivo’ mencionado nesta Lei refere-se a artigos, parágrafos, incisos, alíneas ou itens. (Inciso incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
A TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO [footnoteRef:10] [10: Indicação de leitura específica: BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Trad. de Maria Celeste Leite Cordeiro Leite dos Santos. Brasília: Ed. UnB, 1999.] 
	Estuda os aspectos da UNIDADE (fontes e hierarquia), COERÊNCIA e COMPLETUDE do ordenamento jurídico.
A UNIDADE (FONTES e HIERARQUIA) DO ORDENAMENTO JURÍDICO
NOÇÃO DE UNIDADE: deriva da ideia de Hans Kelsen de uma “construção escalonada de ordenamento jurídico”, em forma de pirâmide (ver esquema abaixo), na qual se partirmos de uma norma inferior, chegaremos em uma norma superior até a fonte originária daquele ordenamento jurídico (a “norma fundamental”: o fundamento de validade de todas as normas do sistema) [footnoteRef:11]. [11: Indicação de leitura específica: KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2006.] 
NOÇÃO DE HIERARQUIA: As normas de um ordenamento jurídico não estão todas no mesmo plano. Existem graus diferentes de normas jurídicas, ou seja, há normas superiores e inferiores. Há, portanto uma estrutura ou ordem hierárquica.
Lembrando as FONTES DO DIREITO como estatais e não-estatais:
- FONTES ESTATAIS: legislação (leis, princípios) - “legislação ou atividade legiferante é o processo pelo qual um ou vários órgãos estatais formulam e promulgam normas jurídicas de observância geral, que podem ser primárias, tais como a lei constitucional, a lei complementar, a lei ordinária, a lei delegada, a medida provisória, o decreto legislativo, as resoluções do Senado, ou secundárias, como os decretos regulamentares, as portarias, as circulares, ordens de serviço. A rigor, a fonte jurídica formal é o processo legislativo constituído por um conjunto de fases constitucionalmente estabelecidas pelas quais há de passar o projeto de lei até sua transformação em lei vigente. Em regra, os trâmites constitucionalmente previstos são: iniciativa, discussão, deliberação, sanção, promulgação e publicação”[footnoteRef:12]. [12: DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.335.] 
O ordenamento jurídico é um complexo abstrato de normas. A doutrina jurídica constrói modelos para utilizá-lo e interpretá-lo. P.ex., a idéia de estrutura hierárquica ou “estrutura piramidal” do ordenamento.
O Ordenamento Jurídico tem, ao mesmo tempo, uma estrutura piramidal e em forma de rede. O ordenamento é piramidal, pois coexistem diversos critérios com importâncias diversas.
REPRESENTAÇÃO DA HIERARQUIA NORMATIVA DO DIREITO BRASILEIRO:
OBS. IMPORTANTES SOBRE A PIRÂMIDE: 
1) A CF é a norma máxima do ordenamento. A norma de hierarquia superior. Todas as outras normas devem estar de acordo ou conforme a CF, sob pena de inconstitucionalidade (isso precisa ser declarado pelo Judiciário). Existe a CF original derivada do Poder Constituinte Originário e os dispositivos que foram alterados por Emenda Constitucional. A CF só pode ser alterada por EMENDA CONSTITUCIONAL sujeita à quorum especial e não pode atingir matérias intocáveis que não podem ser modificadas (= “cláusulas pétreas”) = Ver art. 60, e § 4ºCF. Assim, uma EC pode ser declarada inconstitucional (v. Decisão da ADI 939, STF, em 1994). 
2) Os Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos (TIDH): V. Art.5° § 3º, CF: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Se os TIDH forem aprovados seguindo este procedimento terão status de EC (primeiro nível). Se forem aprovados usando procedimento de LO, terão status de SUPRALEGALIDADE, ou seja, abaixo da CF, mas acima da legislação ordinária (v. Decisão do RE 466.343 do STF, em 2008) (segundo nível).
3) Os atos normativos primárioscorrespondem às espécies normativas previstas no Art. 59, CF. São assim chamados porque são elaborados diretamente pelo Poder Legislativo no processo legislativo constitucional. São normas AUTÔNOMAS. São as leis complementares, as leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções.
4) Os atos normativos secundários são subalternos, não autônomos, correspondem às espécies normativas de grau inferior: portarias, circulares, resoluções normativas, regimentos, ordens de serviço. Apresentam 2 características básicas: não são normas autônomas, visto que dependem dos atos normativos primários e são elaborados por diversos órgãos governamentais, p.ex., Ministérios, Agências Reguladoras, Autarquias, Conselhos.
* A questão da Lei Complementar x Lei Ordinária: já houve muita discussão no sentido da superioridade da lei complementar, mas o entendimento dominante é de que são leis situadas no mesmo plano (V. Decisões do STF: RE 377.457, de 2008 e ADC 1, de 1993). Entretanto, quando uma delas tratar de assunto da outra, entende-se que LC com matéria de LO é só “formalmente” LC, mas “materialmente” LO. LO com matéria de LC é inconstitucional. Mesmo assim, são diferentes: a lei complementar só é utilizada para complementar artigos da CF, quando há esse pedido e o quorum de aprovação é maior = maioria absoluta (art.69, CF). P.ex., art.59, parágrafo único; art.93; art.131, CF. 
A lei ordinária é a lei mais comum, utilizada para regular todos os tipos de assunto e pode ser aprovada por quorum simples. É fruto da atividade típica do Poder Legislativo. A lei ordinária só não pode ser usada para tratar de assunto reservado à lei complementar, sob pena de inconstitucionalidade.
Exemplos: 
- lei ordinária – CC; CPC; L.8078/90; L.8245/91;
- lei complementar – LC 95/98 (sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal); LC 101/00 (responsabilidade fiscal);
Outras espécies na CF:
- Medidas provisórias – ver arts. 59, V e 62, CF;
- Lei delegada – ver arts. 59, IV e 68, CF;
- Decreto legislativo – ver arts. 59, VI, CF e 49, I, CF;
- Resoluções – ver arts. 59, VII, CF;
- Tratados internacionais – de direitos humanos – art.5º §3º = Emenda Constitucional. O restante equivale à lei ordinária.
- Decretos regulamentares – regulamentam leis.
- Os princípios estão encartados na CF, nos Códigos e nas Leis, mas podem ser implícitos no ordenamento jurídico. Ver, p.ex., o art.1º e 3º e 5ª da CF.
- A jurisprudência é o “conjunto de decisões dos Tribunais”. Quando há grande divergência da jurisprudência, os Tribunais editam súmulas. Hoje, temos até a súmula vinculante do STF (ver art.103-A da CF).
- FONTES NÃO-ESTATAIS: costume jurídico e doutrina.
- costume jurídico é uma norma não escrita que surge da prática longa e reiterada de uma sociedade. Aceito como obrigatório pela comunidade.
costume conforme a lei (secundum legem) – arts. 599, 615, 724, CC;
costume na falta da lei (praeter legem) – arts 4º, LINDB e 126, CPC. Caso do cheque “pré-datado”;
costume contra a lei (contra legem) – desuso; artigo ou lei “letra morta”, que caiu em desuso total em função da evolução da sociedade.
- doutrina – conjunto de estudos dos aplicadores e pensadores do direito. Explicam e interpretam e criam o direito.
OBSERVAÇÕES: O art. 59 da Constituição Federal não estabeleceu uma relação hierárquica entre as espécies normativas. Segundo a melhor doutrina, com exceção das emendas à Constituição, todas as demais estão no mesmo plano hierárquico (são chamadas de normas primárias). O que as distingue é o processo de elaboração mais ou menos solene e o campo de atuação entre elas (que não pode ser “invadido” por outra). Em grau inferior estão classificados os decretos regulamentares, estabelecidos pelo Poder Executivo para facilitar a execução de uma lei. Essa espécie normativa não retira seu fundamento de validade diretamente da Constituição, mas sim da lei que ela está regulamentando, por isso é chamada de norma secundária. Acrescente-se: normas internas (ex.: regimentos internos de um tribunal), normas individuais (como contratos ou testamentos), etc.
INDAGAÇÕES
1. Há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária?
A posição majoritária da doutrina é a de que não há. A hierarquia somente ocorre quando uma espécie normativa encontra sua força imperativa em uma norma imediatamente superior, e isso não acontece entre elas. É certo que a lei complementar possui um quorum especial (maioria absoluta) para aprovação, bem como um campo de atuação expressamente delineado na própria Constituição. Já a lei ordinária necessita apenas de maioria simples, sem delimitação de campo de atuação. No entanto, essas peculiaridades formais não autorizam que se estabeleça uma relação de subordinação entre elas. Ambas retiram seu fundamento de validade diretamente da Constituição.
Sobre o assunto, vale acrescentar, ainda, as seguintes orientações do Supremo Tribunal Federal: a lei ordinária não pode regular matéria reservada pela Constituição para a lei complementar, sob pena de inconstitucionalidade formal; já a lei complementar pode tratar de matéria relativa à lei ordinária sem haver vício formal, mas nesse caso a lei complementar, apesar do nome, será considerada materialmente ordinária, posto que seu conteúdo permanecerá de cunho mais simples.
2. Lei federal é hierarquicamente superior a lei estadual ou municipal?
Em princípio, não se pode falar em hierarquia entre normas oriundas de entes estatais distintos (federal, estadual, distrital ou municipal). Na verdade, não se trata de um conflito de hierarquia, mas de conflito de competências. O que ocorre é que cada norma deve respeitar seu âmbito de atuação previsto na Constituição Federal. Em caso de eventual conflito entre tais normas, analisa-se na Constituição a competência por ela outorgada a cada um dos entes. Assim, se a matéria é de competência do Estado-membro e a União legislou, a lei estadual é que deve prevalecer. Portanto, não se pode falar em superioridade hierárquica da lei federal sobre a estadual ou municipal. Prevalece a norma editada pelo ente competente constitucionalmente para o trato da matéria.
A COERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO
NOÇÃO DE COERÊNCIA: o ordenamento jurídico é um sistema e deve ser aplicado de modo coerente, lógico. Isto implica desfazer as incertezas, obscuridades e a falta de lógica interna.
Trata-se do problema das antinomias ou da existência de normas contrárias e incompatíveis dentro do ordenamento jurídico. No momento da aplicação do direito, em caso de antinomia, o intérprete deve afirmar qual norma prevalece.
CRITÉRIOS TRADICIONAIS PARA A SOLUÇÃO DE ANTINOMIAS:
- Critério hierárquico: lex superior derogat legi inferiori = lei superior revoga lei inferior;
- Critério cronológico: lex posterior derogat legi priori = lei posterior revoga lei anterior;
- Critério da especialidade: lex specialis derogat legi generali = lei especial revoga lei geral;
Critérios mais novos (contemporâneos)
- Critério da constitucionalidade
- Critério principiológico.
Conflito entre critérios (antinomias de segundo grau e os metacritérios de resolução):
Hierárquico x Cronológico – lei posterior incompatível com lei superior anterior = prevalece a hierarquia;
Especialidade x Cronológico – lei anterior especial x lei posterior geral = prevalece a especial;
Hierárquico x Especialidade – em tese, é difícil apontar o que prevalece, mas se afirma que a hierarquia prevalece (principalmente, lei constitucional). A supremacia do critério da especialidade só se justificaria, utilizando-se um princípio mais amplo de justiça – o princípio supremo da justiça: entre duas normas incompatíveis dever-se-á escolher a mais justa.
Lembrando o Art. 2º, § 1º, LINDB:
Art. 2º, § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
A COMPLETUDE DO ORDENAMENTO JURÍDICO
O PROBLEMADAS LACUNAS JURÍDICAS 
Está-se diante de uma lacuna quando o direito objetivo não oferece, em princípio, uma solução para um caso concreto. Há controvérsia acerca da real existência de lacunas no Direito. Entretanto, podemos dizer que existe lacuna quando surge uma situação nova, ainda não regulada especificamente pelo ordenamento jurídico.
Uma lacuna deve ser, então, preenchida. Trata-se do processo de integração da norma. Basicamente, a integração normativa (resolução de lacunas) ocorre conforme o Art. 4º da LINDB:
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”
No mesmo sentido, o art. 140 do Código de Processo Civil:
“Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.”
Qualquer cidadão tem o direito de acionar o Judiciário em caso de lesão ou ameça de lesão a direito. O Judiciário, por sua vez, tem o dever de julgar conforme o art. 5º, XXXV, CF.
A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
A interpretação do direito é a operação que tem por fim solucionar uma dada questão jurídica, mediante a compreensão clara, exata e completa da norma estabelecida pelo legislador. Consiste em determinar o sentido e o alcance da expressão jurídica, porque se interpreta o direito em dois momentos ou níveis diferentes, correspondentes cada um a uma das “partes”, componentes ou fragmentos da norma: a hipótese de incidência e a disposição. Primeiro é preciso interpretar a hipótese de incidência da norma, para saber se o caso em exame nela se enquadra – isto é, definir o alcance da regra. Confirmando-se que a norma trata do caso em exame, interpreta-se-a de novo, na sua parte dispositiva, para entender qual a solução que manda aplicar ao caso (qual é o sentido da norma).
OS TIPOS TRADICIONAIS DE INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
Limongi França, em seu livro Hermenêutica Jurídica, nos introduz ao tema dizendo que “a interpretação não se restringe tão somente aos estreitos termos da lei, pois conhecidas são suas limitações para o bem exprimir do direito, o que, aliás, acontece com a generalidade das formas de que o direito se reveste”. Segundo o doutrinador, a interpretação pode ser dividida em 3 critérios, a saber: a) Agente da interpretação; b) Natureza; c) Extensão.
Vejamos o quadro sinótico da interpretação conforme definição de Limongi França [footnoteRef:13]: [13: FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. 11. ed., rev. São Paulo: RT, 2011.] 
	Agente
	Interpretação Pública Autêntica
	
	Interpretação Pública Judicial
	
	Interpretação Privada Doutrinária
	Natureza
	Interpretação Gramatical
	
	Interpretação Lógica
	
	Interpretação Histórica
	
	Interpretação Sistemática
	Extensão
 
	Interpretação Declarativa
	
	Interpretação Extensiva
	
	Interpretação Restritiva
QUANTO AO AGENTE
Interpretação Pública Autêntica
É aquela oriunda do próprio órgão que criou a lei. Se o Poder Legislativo declara o sentido e alcance de um texto, o seu ato, é uma verdadeira norma jurídica, e só por isso tem força obrigatória, ainda que ofereça interpretação incorreta, em desacordo com os preceitos basilares da hermenêutica.
Exemplifica-se a interpretação autêntica através do art. 150, §4° e §5° do CP em que o próprio legislador procurou estabelecer os contornos da palavra “casa”.
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: 
§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. 
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa": 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 
Interpretação Pública Judicial
É aquela realizada pelos juízes ou Tribunais (órgãos do Poder Judiciário) em que aplicam a lei no caso concreto. Oportuno anotar que as decisões reiteradas formam a jurisprudência e, por conseguinte, através do efeito vinculativo, formam as Súmulas.
Interpretação Privada Doutrinária
É aquela interpretação, ligada a uma questão do direito científico, realizada pelo doutrinador que demanda pesquisas em que são apresentadas especial significado sobre o assunto interpretado.
QUANTO À NATUREZA
Interpretação Gramatical 
Limongi França bem diz que a interpretação gramatical é aquela que tem como ponto de partida o exame do significado e alcance de cada uma das palavras do preceito legal, ou seja, o próprio significado das palavras. Contudo, importante dizer que em casos de dúvida entre os vários significados de uma frase ou palavra, o intérprete gramatical deve aceitar o significado comum, salvo se puder demonstrar um uso linguístico especial. Se os significados variam, é decisivo aquele dominante ao tempo da elaboração da lei. 
Os autores, ainda acrescentam que a interpretação gramatical, atualmente, é insuficiente para conduzir o intérprete a um resultado conclusivo, pois, pode haver textos ambíguos, anfibológicos ou até mesmo a imprecisão do legislador ao elaborar o texto da lei, por isso, é necessário que os elementos por ela fornecidos sejam articulados com os demais, propiciados pelas outras espécies de interpretação.
Por fim, insta dizer que a interpretação gramatical também é conhecida por interpretação literal ou interpretação filológica.
Interpretação Lógica
Esta interpretação leva em consideração a finalidade da norma jurídica. Ela é subdividida em critério subjetivo e objetivo. No primeiro caso, leva em consideração qual foi a intenção de o legislador ao elaborar a norma jurídica, analisando principalmente o processo legislativo da sua criação. Já o segundo leva em consideração a finalidade da lei. A interpretação lógica também é conhecida por interpretação teleológica.
Interpretação Histórica
É a pesquisa do processo evolutivo da lei, a história dos seus precedentes, auxilia o aclaramento da norma. Os projetos de leis, as discussões havidas durante sua elaboração, a Exposição de Motivos, as obras científicas do autor da lei são elementos valiosos de que se vale o intérprete para proceder à interpretação. Limongi França, complementa, dizendo que a interpretação histórica é aquela que indaga das condições de meio e momento da elaboração da norma legal, bem assim das causas pretéritas da solução dada pelo legislador.
A interpretação histórica também é conhecida por interpretação histórica sociológica.
Interpretação Sistemática
Procura extrair o conteúdo da norma jurídica por meio da análise sistemática do ordenamento jurídico. Uma vez que este sofrer de falta de lógica. Quem irá colocar lógica no sistema é o interprete ou o cientista do Direito. Parte-se sempre da interpretação gramatical, analisando-se os vários dispositivos legais até se chegar a uma conclusão interpretativa.
Limongi França divide esta interpretação em dois aspectos diversos:
1) Quando é feita em relação à própria lei a que o dispositivo pertence; e
2) Quando se processa com vistas para o sistema geral do direito positivo em vigor.
No primeiro caso, revela considerar o caráter geral da lei; o livro, título ou parágrafo onde o preceito se encontra; o sentido tecnológico-jurídico com que certas palavras são empregadas no diploma, etc. Já no segundo caso, importa atender à própria índole do direito nacional com relação as matérias semelhantes à da lei interpretada; ao regime político do país; às últimas tendências do costume, da jurisprudência e da doutrina, no que concerne ao assunto do preceito etc.
Tourinho Filho nos ensina que o interprete recorre a este tipo de interpretação quando a dúvida não recai sobre o sentido de uma expressão ou de uma fórmula da lei, mas sim sobre a regulamentação do fato ou da relação sobre que se deve julgar. Aqui o intérprete deve colocar a norma em relação com o conjunto de todo o Direito vigente e comas regras particulares de Direito que têm pertinência com ela. O intérprete poderá, inclusive, lançar mão da analogia e dos princípios gerais do Direito.
A interpretação sistemática também é conhecida por interpretação lógico-sistemática.
Interpretação Comparativa
Extrai-se o conteúdo da norma jurídica fazendo uma comparação com o ordenamento jurídico de outro país. 
QUANTO À EXTENSÃO
Interpretação Declarativa
É aquela interpretação que chega ao mesmo resultado da lei, ou seja, aquilo que está escrito na norma. O intérprete chega nesse resultado utilizando-se dos vários métodos de interpretação supracitados.
Interpretação Extensiva
É aquela que amplia o sentido da norma, pois, a norma disse menos do que ela queria, por isso o intérprete deve ampliar o sentido ou alcance delas. Geralmente o intérprete utiliza-se do método teleológico. A interpretação extensiva também é chamada de interpretação ampliativa.
Interpretação Restritiva
O contrário da interpretação extensiva é a restritiva. Esta interpretação restringe o sentido da norma jurídica. Isso quer dizer que a norma jurídica disse mais do que ela queria dizer. Há uma superabundância normativa. Nesse sentido, vem o interprete e faz uma interpretação teleológica para restringir o alcance daquela norma jurídica, de modo a dar uma interpretação menos ampla àquela norma jurídica.
* No presente, as regras legais de hermenêutica são raras, mas há pelo menos duas delas de alta relevância. Estão no art. 5º da LINDB, no preâmbulo e nos arts. 1º e 3º da Constituição Federal.
ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO: QUANTO À ORIGEM, AO MÉTODO E AOS EFEITOS CONFORME ANDRE FRANCO MONTORO [footnoteRef:14]: [14: FRANCO MONTORO, Andre. Introdução à Ciência do Direito. 4.ed. em ebook baseada na 33.ed impressa. São Paulo: RT, 2016.] 
A interpretação pode ser classificada segundo diferentes critérios:
a) quanto à sua origem;
b) quanto ao método utilizado pelo intérprete;
c) quanto a seus resultados ou efeitos.
Quanto à sua origem ou à fonte de que emana, a interpretação pode ser:
– judiciária ou usual;
– legal ou autêntica;
– administrativa;
– doutrinária ou científica.
A interpretação judicial, judiciária ou usual é a que realizam os juízes ao sentenciar. Tem força obrigatória para as partes a que se aplica, quando se trata de sentença isolada. E, no caso de firmar jurisprudência, essa interpretação passa a constituir para os casos análogos, como vimos, uma fonte formal de direito.
A interpretação diz-se autêntica ou legal quando é dada pelo próprio legislador, através de outra lei, chamada “lei interpretativa”. Por uma ficção, a lei interpretativa considera-se como tendo entrado em vigor na mesma data que a lei interpretada. Essas leis interpretativas, que são raras hoje em dia, trazem alguns problemas à doutrina, no que se refere à indagação de seu valor jurídico. Alguns veem nelas simples conselhos dirigidos aos juízes. Mas, hoje, entende-se geralmente que, incluídas, acertadamente ou não, em leis ou códigos, essas normas de interpretação adquirem força obrigatória, igual à das demais normas. Coviello chega mesmo a afirmar que esse tipo de lei não pode ser considerado como verdadeira interpretação, porque é uma nova forma jurídica autônoma e verdadeira, que tem força obrigatória pelo fato de ser norma, ainda mesmo que não corresponda àquilo que, segundo as regras da interpretação, seria o verdadeiro significado da disposição declarada.
Interpretação doutrinária ou científica é a que realizam os juristas em suas obras e pareceres. É obra dos juristas que analisam os textos à luz dos princípios filosóficos e científicos do direito e da realidade social. Houve tempo, como vimos ao estudar “A doutrina como fonte do direito”, em que tais interpretações receberam o caráter de relativa obrigatoriedade. Hoje, como lembra Vicente Ráo, o valor dessa interpretação resulta não da autoridade de quem a pratica, mas do seu caráter científico e especulativo, da força de convicção do raciocínio que envolve.
Interpretação administrativa é a realizada pelos órgãos da administração, a partir do Presidente da República, até as autoridades de menor nível, mediante despachos, instruções, portarias, ordens etc.
Quanto aos processos ou métodos de que se serve, a interpretação pode ser:
a) gramatical ou filológica;
b) lógico-sistemática;
c) histórica;
d) sociológica.
Interpretação gramatical ou filológica é a que toma por base o significado das palavras da lei e sua função gramatical. Apoiando-se na gramática, contribui, muitas vezes, para o aperfeiçoamento da redação das leis. É, sem dúvida, o primeiro passo a dar na interpretação de um texto. Mas, por si só é insuficiente, porque não considera a unidade que constitui o ordenamento jurídico e sua adequação à realidade social. É necessário, por isso, colocar seus resultados em confronto com os elementos das outras espécies de interpretação.
A interpretação lógico-sistemática leva em conta o sistema em que se insere o texto e procura estabelecer a concatenação entre este e os demais elementos da própria lei, do respectivo campo do direito ou do ordenamento jurídico geral. Em suas diversas modalidades, o método lógico supõe sempre a unidade e coerência do sistema jurídico.
A interpretação histórica baseia-se na investigação dos antecedentes da norma. Pode referir-se ao histórico do processo legislativo, desde o projeto de lei, sua justificativa ou exposição de motivos, discussão, emendas, aprovação e promulgação. Ou, aos antecedentes históricos e condições que a precederam. Como a grande maioria das normas jurídicas constitui a continuidade ou modificação de disposições precedentes, é de grande utilidade para o intérprete estudar a origem e o desenvolvimento histórico dos institutos jurídicos, para captar o significado exato das leis vigentes. No elemento histórico entra também o estudo da legislação comparada para determinar se as legislações estrangeiras tiveram influência direta ou indireta sobre a legislação que se deve interpretar.
Interpretação sociológica
A interpretação sociológica baseia-se na adaptação do sentido da lei às realidades e necessidade sociais. Essa adaptação está prevista no art. 5.º da Lei de Introdução ao Código Civil, que prescreve: “Na aplicação da lei o Juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
Quanto a seus efeitos ou resultados, a interpretação pode ser:
a) declarativa;
b) extensiva;
c) restritiva.
Interpretação declarativa
A interpretação é declarativa quando se limita a declarar o pensamento expresso na lei, sem ter necessidade de estendê-la a casos não previstos ou restringi-la mediante a exclusão de casos inadmissíveis. É o tipo mais comum de interpretação, pois o pressuposto normal é de que o legislador saiba expressar-se convenientemente.
Interpretação extensiva
A interpretação é extensiva quando o intérprete conclui que o alcance da norma é mais amplo do que indicam os seus termos. Diz-se que o legislador, nesse caso, escreveu menos do que queria dizer (minus scripsit quam voluit), e a lei deve aplicar-se a determinadas situações não previstas expressamente.
Interpretação restritiva
Paralelamente, diz-se que a interpretação é restritiva quando o legislador escreveu mais do que realmente pretendia (plus scripsit quam voluit). O intérprete, nesse caso, vê-se forçado a restringir o sentido da lei, a fim de dar-lhe aplicação razoável e justa.
Uma aplicação desses processos pode ser indicada no caso da norma: “O proprietário tem direito de pedir o prédio para seu uso”, constante da lei do inquilinato. A interpretação corrente desse texto inclui o “usufrutuário” entre os que podem pedir o prédio para uso próprio, porque a intenção da lei é, claramente, a de incluir aquele que tem sobre o prédio um direito real de usufruto. Assim, devemos adotar no caso a interpretação extensiva, que amplia o entendimento da norma, de modo a dizer: “Tem direito de pedir o prédio para seu uso o proprietário e aquele que esteja nas condições de proprietário”, o que abrange o usufrutuário.A mesma norma pode servir de exemplo para uma interpretação restritiva, no caso do nu-proprietário, isto é, daquele que tem apenas a nua-propriedade, mas não o direito de uso e gozo do prédio. Este não poderá beneficiar-se da disposição da lei. Apesar de proprietário (nu-proprietário), não poderá pedir o prédio para seu uso.
OS FINS SOCIAIS DA LEI
O art. 5º da LINDB dispõe que “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Como a aplicação consiste em transformar a norma abstrata, contida na lei, em norma concreta, para o caso particular, ela exige a prévia interpretação: impossível aplicar a lei sem primeiro interpretá-la. Logo, a regra do art. 5º incide sobre a interpretação: é preciso interpretar a lei à luz dos seus fins sociais, para poder aplicá-la atendendo a tais fins. Essa primeira parte do dispositivo em exame consagra o método teleológico de interpretação.
A expressão teleologia refere-se ao estudo dos fins, dos objetivos, das metas. Diz-se que a interpretação é teleológica quando ela busca o sentido de uma expressão jurídica analisando quais os objetivos, os fins, a que se destina a referida expressão. A interpretação teleológica parte de uma premissa: toda norma visa proteger um interesse, um valor. Se identifico qual o valor que a norma visa proteger, qual o interesse que ela quis fazer valer, posso compreender melhor o comando contido na norma. Toda a doutrina admite que existe, por trás do texto legal, um algo mais: uma intenção, um fim, uma meta, um valor que a norma quer tutelar. Esgota-se aí o consenso. Há controvérsia sobre o que exatamente vem a ser esse algo mais, e, principalmente, sobre como identificá-lo nos casos concretos.
Logo, pelo argumento teleológico busca-se entender o significado da norma identificando qual o valor que ela quer proteger, ou o resultado que quer produzir. O sentido, o significado, que encontro na norma, tem que estar de acordo com a razão de ser dessa norma. Se a leitura do texto leva a uma interpretação que aniquila, ou prejudica, o interesse ou valor que a norma visa proteger, então essa leitura – i.e., essa interpretação – é incorreta. Do ponto de vista teleológico só é correta a interpretação que proteja o interesse que a norma visa proteger, que resguarde o valor que ela pretende resguardar, que faça prevalecer o objetivo que a norma traz ínsito em seu texto.
De qualquer sorte, a norma do art. 5º da LINDB, tem duas consequências relevantes para a hermenêutica: primeiro, condena a exegese puramente literal, afirmando a primazia de outros métodos interpretativos; segundo, consagra o argumento teleológico como o prioritário dentre os métodos de interpretação. De todos os métodos ou técnicas de interpretação que a hermenêutica sugere, apenas um, o teleológico, tem sua aplicação ordenada expressamente na lei. Isso pode representar pouco, hoje, mas é preciso considerar que há poucas décadas ainda era forte a corrente exegética literal. Ao menos a LINDB tem o mérito de condenar, no nosso sistema, os postulados daquela doutrina.
Do texto do art. 5º da LINDB extraem-se, pois, dois postulados que interferem na aplicação de todas as normas jurídicas: a) a aplicação de todas as normas jurídicas pressupõe e requer, em todos os casos, a interpretação teleológica; b) num eventual conflito entre os resultados interpretativos apurados pela interpretação teleológica e qualquer outro método interpretativo (gramatical, histórico, lógico, sistemático), a primeira é que prevalece, porque, dentre todos os métodos, foi o único consagrado expressamente pela lei.
OS VETORES CONSTITUCIONAIS PARA INTERPRETAÇÃO DAS LEIS
O preâmbulo da Constituição da República é também parte da Lei Maior. Ou seja: o preâmbulo também é norma, e, no caso, norma constitucional. Não é, a rigor, uma norma a respeito da interpretação dos textos jurídicos, mas é uma declaração de princípios.
Os princípios, é sabido, são vetores de interpretação de todas as normas, constitucionais ou infraconstitucionais, e funcionam como “super-normas”, que não apenas esclarecem o sentido das demais, como prevalecem sobre elas em caso de aparente conflito. Os princípios “são os elementos fundamentais da cultura jurídica humana em nossos dias” (CLÓVIS BEVILÁQUA), “os pressupostos lógicos e necessários das diversas normas legislativas” (COVIELLO), “a manifestação do próprio espírito de uma legislação” (BOULANGER), ou a “cristalização, em termos abstratos, do conjunto de preceitos normativos do ordenamento legal” (ORLANDO GOMES). No dizer de BANDEIRA DE MELLO o princípio é um mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. Os princípios revelam-se como normas de valor genérico, não ditadas explicitamente pelo legislador, mas contidas de forma imanente no ordenamento jurídico, que orientam a compreensão do sistema jurídico, sua aplicação e integração (MARIA HELENA DINIZ), porque são núcleos de condensações nos quais confluem valores e bens constitucionais, e constituem a síntese ou a matriz de todas as demais normas do subsistema, que aos princípios podem ser direta ou indiretamente reconduzidas (CANOTILHO). Como ensinou GERALDO ATALIBA (citando GORDILLO): “o princípio é muito mais importante do que uma norma […]. O princípio é uma norma; mas é mais do que uma norma, uma diretriz, é um norte do sistema, é um rumo apontado para ser seguido por todo o sistema. Rege toda a interpretação do sistema e a ele deve se curvar o intérprete, sempre que se vai debruçar sobre os preceitos contidos no sistema”.
Assim, as normas principiológicas fornecem indicação segura a respeito dos “fins sociais” do sistema a que se referem. Será, portanto, incorreta (inconstitucional) a interpretação cujo resultado for contrário aos valores enunciados no preâmbulo constitucional. O mesmo se diga dos arts. 1º e 3º da Carta Magna, que enunciam, respectivamente, os fundamentos do Estado brasileiro e os objetivos da República. Será inconstitucional a interpretação de lei que contrariar esses fundamentos e objetivos. Dizem tais textos:
“Preâmbulo: nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. […]
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político; […]
Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”
O preâmbulo constitucional, e o art. 3º da CF, enunciam os objetivos fundamentais da República. Ora, todas as leis são apenas instrumentos do Estado para realizar seus objetivos. E todas as leis (consoante o art. 5º da LINDB) devem ser interpretadas/aplicadas de forma a atender aos seus fins. Não se imagina, nem se pode conceber, que os fins de uma determinada lei, oude um dado artigo de lei, sejam contrários aos “fins maiores”, que são os da própria República. Se a lei é um instrumento para realizar os fins do Estado, os fins da lei não podem ser diferentes dos fins do Estado, nem contrariá-los. E estes são os contemplados no preâmbulo constitucional e no art. 3º da Carta Magna.
Qualquer interpretação de lei que leve a um resultado contrário à igualdade e à justiça, declaradas pelo constituinte como valores supremos do Estado brasileiro, será uma interpretação que contraria os fins do Estado, e, por consequência, os fins da lei; portanto, uma interpretação equivocada e inconstitucional.
Será também inconstitucional, e vedada pelo art. 5º da LINDB, qualquer solução interpretativa que estimule preconceitos (é objetivo do Estado e da lei fundar uma sociedade sem preconceitos, diz o Preâmbulo), ou que atente contra a cidadania, a dignidade da pessoa humana, ou os valores sociais do trabalho (fundamentos da República brasileira, segundo os incisos II, III e IV do art. 1º da CF).
É inconstitucional e viola o art. 5º da LINDB a interpretação de lei que não busque fazer dela instrumento para realizar os grandes objetivos do Estado, que incluem, segundo o art. 3º da Lei Maior, construir uma sociedade livre, justa e solidária, erradicar a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e promover o bem de todos.
O sumário que se extrai, do confronto dos dispositivos constitucionais citados com o art. 5º da LINDB, é este: o intérprete está obrigado a aplicar a norma de maneira a realizar os seus fins. E os fins de toda norma jurídica terão de ser sempre aqueles previstos nos arts. 1º e 3º e no Preâmbulo da Carta Magna, ou outros que deles descendam e com eles sejam compatíveis, e jamais um fim que os contradiga. É inconstitucional uma norma jurídica cujo fim conflite com os fins da República, de que todas as normas são meros instrumentos. É equivocada, portanto, a interpretação que enxergar, numa norma jurídica qualquer, um fim incompatível com o preâmbulo constitucional e os arts. 1º e 3º da Constituição.
AS REGRAS MAIS TRADICIONAIS DA HERMENÊUTICA JURÍDICA [footnoteRef:15] [15: DOS SANTOS, ALBERTO MARQUES. Regras Científicas da Hermenêutica.] 
São regras que, entre nós, já foram lei vigente, e deixaram de sê-lo com a entrada em vigor do Código Civil de 1917. Prevalecem, todavia, como regras científicas, principalmente porque representaram, a seu tempo, a consolidação da tradição hermenêutica que vinha do Império, do Direito português e da tradição do Direito medieval e romano. Algumas das regras citadas provêm dessa fonte. Outras regras doutrinais são herança romana. No ano de 530 d.C. o Imperador JUSTINIANO constituiu uma comissão de jurisconsultos para compilarem numa só obra todo o Direito romano. A obra que resultou, o Corpus Juris Civilis, consolidou 1400 anos de experiência jurídica dos romanos, e tornou JUSTINIANO célebre para sempre. LIMONGI FRANÇA encontrou, no Corpus Juris Civilis, várias regras relativas à interpretação do Direito. Citamos algumas delas, de maior aplicabilidade atual [footnoteRef:16]. [16: FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. 11. ed., rev. São Paulo: RT, 2011.] 
1ª regra: É incorreta a interpretação que conduz ao vago, inexplicável, contraditório ou absurdo.
Na interpretação deve-se sempre preferir a inteligência que faz sentido à que não faz. Essa regra tem relação com uma passagem do jurisconsulto PAULO, no Digesto: nas proposições obscuras se costuma investigar aquilo que é verossímil, ou o que é de uso ser feito o mais das vezes. BARROS MONTEIRO a atualiza dizendo que “deve ser afastada a exegese que conduz ao vago, ao inexplicável, ao contraditório e ao absurdo”. E SANTIAGO DANTAS lembrava que o brocardo “o legislador não pode ter querido o absurdo” é quase sempre verdadeiro.
Na interpretação de uma norma, frequentemente o operador deve optar entre mais de um possível sentido para o texto. Dentre os entendimentos que se pode extrair de uma norma, deve ser descartado aquele que conduz ao absurdo. Por absurda, aqui, se entende a interpretação que: a) leva à ineficácia ou inaplicabilidade da norma, tornando-a supérflua ou sem efeito (como será visto na 2ª regra, a lei não tem palavras nem disposições inúteis); b) conduz a uma iniquidade: o preâmbulo constitucional diz que a justiça é um valor supremo da sociedade brasileira, e o art. 3º, I, da Constituição diz que é objetivo permanente da República (e de suas leis, por extensão) construir uma sociedade justa; c) infringe a finalidade da norma ou do sistema; d) conduz a um resultado irrealizável, impossível, ou contrário à lógica; e) conduz a uma colisão com princípios constitucionais ou regentes do sub-sistema a que se refere a norma: os princípios são vetores de interpretação, e constituem super-normas que indicam os fins e a lógica específica de um determinado sistema ou sub-sistema; f) conduz a uma antinomia com normas de hierarquia superior, ou com normas do mesmo texto legal, situações onde não pode haver antinomia (vide a 3ª regra, infra); g) conduz a uma fórmula incompreensível, de inviável aplicação prática.
2ª regra: A lei não contém frase ou palavra inútil, supérflua ou sem efeito.
Um dos expedientes de que se pode valer o mau intérprete para alterar, na interpretação, o sentido da norma, é o de “fechar os olhos” para uma palavra ou um trecho do texto. Nas questões onde a redação da norma é deficiente, em especial, acode a tentação de “esquecer” a palavra ou expressão que cria uma dificuldade interpretativa (ou conduz a um resultado indesejado pelo intérprete).
Por isso é que a experiência jurídica multicentenária consagrou a regra em exame. Todas as palavras contidas na lei são lei, e todas têm força obrigatória. Nenhum conteúdo da norma legal pode ser esquecido, ignorado ou tido como sem efeito, sem importância ou supérfluo. A lei não contém palavras inúteis. Como ensinava CARLOS MAXIMILIANO, “devem-se compreender as palavras [da lei] como tendo alguma eficácia”. Só é adequada a interpretação que encontrar um significado útil e efetivo para cada expressão contida na norma.
3ª regra: Prevalece a interpretação que compatibiliza normas aparentemente antinômicas.
Na expressão da antiga Consolidação das Leis Civis, “devem concordar os textos das leis, de modo a torná-los conformes e não contraditórios, não sendo admissível a contradição ou incompatibilidade neles”. A regra acima indica que não se presumem, nem se admitem sem melhor exame, antinomias entre normas jurídicas. O direito é um sistema, e as normas que o compõem devem idealmente se complementar, e não se contradizer. Não se admite, em princípio, que duas normas jurídicas se contrariem. Antes de concluir pela contradição, pela antinomia, pela inconciliabilidade entre as disposições de duas normas, o intérprete deve realizar todo esforço hermenêutico possível para buscar uma interpretação, um sentido, um significado para ambas que permita a sua convivência, que as torne conciliáveis e compatíveis.
É certo que o sistema prevê princípios que solucionam as antinomias normativas, determinando, em cada caso, a norma que prevalece: trata-se dos princípios hierárquico (entre normas de categoria diversa, prevalece a de mais alta hierarquia), cronológico (a lei mais nova revoga a lei mais antiga, tacitamente, quando for com ela incompatível) e da especialidade (a norma especial prevalece, no seu âmbito restrito de atuação, sobre a norma geral em sentido contrário). Mas a aplicação dessas três vias de solução pressupõe que haja incompatibilidade real, e não aparente, entre as normas. Somente depois de esgotados os recursos da hermenêutica, na busca infrutífera de um modo de interpretar que compatibilize as duas regras, é que se confirma a antinomia, e se declara a prevalência de uma das regras, segundo aqueles critérios.
Por outro lado, não pode existir jamais antinomia entre duas normas que constem do mesmo diploma. Os artigos de uma mesma lei são todos contemporâneos, e, portanto, não podem revogar uns aos outros.Normas contemporâneas, e da mesma hierarquia, têm que ser compatíveis. Cabe ao intérprete buscar, com os instrumentos hermenêuticos, uma interpretação que concilie as normas concomitantes e aparentemente antinômicas.
4ª regra: Quando a lei não fez distinção, o intérprete não deve fazê-la.
Quando a lei não fez distinção, o intérprete não deve fazê-la (ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus). Não deve o intérprete criar, na interpretação, distinções que não figuram na lei. Essa regra adverte para a aplicação geral, sem exceções, da regra cujo sentido é geral, e para a qual o legislador não previu exceções. Distinguir, nesse tema, quer dizer excepcionar, tratar de forma dessemelhante, tratar como exceção. E a regra indica que não se presumem exceções. As exceções a uma regra geral devem estar previstas na lei – embora não se ignore que a) não precisam estar previstas na mesma lei, b) podem estar previstas de forma implícita, e c) podem decorrer da interpretação sistemática da mesma ou de outras normas.
5ª regra: A norma especial prevalece sobre a norma geral.
Interpretar a norma, como foi dito no princípio, inclui determinar o seu alcance, ou seja, seu âmbito de incidência. Implica, em suma, em determinar a que casos se aplica a norma. Há, como é sabido, normas gerais e normas especiais, as primeiras feitas para cobrir um universo amplo de situações, e as segundas para tratar de situações particulares, específicas, desmembradas daquele universo. Se temos uma lei geral (o Código Civil) tratando de contratos, e várias leis especiais (a Lei do Inquilinato, o Código do Consumidor, p.ex.) tratando também de contratos, devemos observar que situações especiais resolvem-se segundo as regras especiais, e as situações gerais resolvem-se pela regra geral. A regra geral só incide quando não houver regra especial cobrindo uma determinada hipótese. Num conflito entre regra geral e regra especial (entre regra e exceção, na prática), a exceção prevalece, a regra especial é a preferente. A regra geral se aplica no silêncio da regra específica, ou onde for compatível com esta.
6ª regra: No todo se contém a parte.
Essa regra se baseia no argumento a majori ad minus, que parte da premissa de que a solução ou regra aplicável ao todo é também aplicável às suas partes. A norma que incide sobre um determinado contrato, incide sobre cada cláusula daquele contrato. Buscar afastar da incidência da norma uma parte do “todo” de que ela trata significa realizar uma distinção, criar uma exceção. As exceções não se presumem, devem estar previstas – ainda que implícita ou sistematicamente – no ordenamento jurídico (como visto anteriormente, supra, 4ª regra). Sob um outro aspecto, a norma em exame também implica que a regra que impõe ou exige o mais também exige ou impõe o menos, a regra que conduz à consequência “toda” também conduz às partes ou derivações necessárias dela. P.ex.: a norma que impõe o despejo do inquilino necessariamente implica no despejo dos seus familiares, dos seus móveis, dos seus animais domésticos, etc.; a norma que impõe o segredo de justiça em relação a um processo também implica no segredo da audiência, que é parte do processo; a norma que decreta a nulidade de um certo contrato afeta também a validade da cláusula penal inserida nesse contrato; a cláusula que confere o poder de receber inclui o poder de dar quitação ao pagante.
7ª regra: O que é conforme ao espírito e letra da lei se compreende na sua disposição.
A regra em exame convoca à interpretação analógica, pela qual se conclui que determinada hipótese, não prevista literalmente no texto da lei, se enquadra na sua disposição, por ser semelhante às hipóteses explicitamente mencionadas no texto. Essa regra aparecia, na extinta Consolidação das Leis Civis, expressa em outros enunciados que têm o mesmo sentido: os casos compreendidos na lei estão sujeitos à sua disposição, ainda que não os especifique, devendo proceder-se de semelhante a semelhante, e dar igual inteligência às disposições conexas; o caso omisso na letra da lei se compreende na disposição quando há razão mais forte; à identidade de razão corresponde a mesma disposição de direito. A última frase é, talvez, a que melhor expressa o princípio embutido na regra: ubi eadem ratio, ibi eadem dispositio (onde vigora a mesma razão, deve-se aplicar a mesma disposição, a mesma solução). As hipóteses, mesmo as não previstas literalmente, que se assemelharem àquela de que trata a norma, devem ser atendidas pela mesma norma.
A regra hermenêutica em exame serve de esteio para o chamado argumento a simile ou a pari ratione, que é fundado na analogia e defende que dois casos merecem a mesma solução porque são similares. É recurso largamente utilizado na retórica forense nos casos em que se sustenta que dois casos devem ser assimilados porque a ambos se aplica a mesma ratio legis. Tem esteio forte na regra constitucional da isonomia (duas situações iguais devem receber tratamentos iguais), e também na interpretação lógica do Direito.
8ª regra: Quando a lei é obscura, interpreta-se-a restritivamente.
A fórmula tradicional dessa norma, no direito romano, era “nas coisas obscuras sempre seguimos o mínimo”. Por incontáveis razões, eventualmente a redação do texto legal é falha, ou contém erros que lhe prejudicam a compreensão, ou é redigida em termos extremamente dúbios ou subjetivos, que dificultam uma interpretação objetiva. Ainda assim uma lei imperfeitamente redigida é lei, e obriga. Cabe ao operador do direito buscar uma interpretação que torne a regra aplicável, efetiva. Mas, adverte a regra cunhada por ULPIANO, nas situações onde a redação for truncada, visivelmente defeituosa, impossível de ser compreendida logicamente, “seguimos o mínimo”. Ou seja, a norma defeituosa na sua construção textual deve ser interpretada restritivamente, para englobar apenas os casos indiscutivelmente nela previstos, e produzir apenas os efeitos e consequências literalmente contempladas no texto. Garante-se, assim, que uma norma imperfeita na redação produza o menor malefício possível.
9ª regra: Não deve, àquele a quem o mais é lícito, deixar de ser lícito o menos.
A regra, vulgarmente expressa na frase “quem pode o mais pode o menos”, indica que onde a lei confere a alguém determinado poder, direito ou prerrogativa, essa atribuição inclui também os aspectos acessórios, e necessariamente decorrentes, desse poder, direito ou prerrogativa. Reprisando um exemplo já citado, quem pode despejar o inquilino pode “despejar-lhe” os móveis e animais domésticos. A norma que dá a alguém direito sobre o imóvel, salvo exceção expressa também dá direito às benfeitorias. Quem tem direito ao recebimento do principal também tem direito aos juros. Ou, por outro prisma, como ensina Ferrara, “quem tem direito ao mais, tem direito ao menos”, e “legitimado um fim, legitimados estão os meios indispensáveis para se conseguir esse fim”.
10ª regra: Leis excepcionais ou especiais devem ser interpretadas restritivamente.
Já se disse, em mais de uma passagem, que não se presumem exceções, e que estas devem estar previstas na lei de forma clara. Clara não quer dizer explícita. Uma exceção pode ser evidente, embora esteja implícita num texto que não a menciona literalmente. De qualquer sorte as leis excepcionais são as que se prendem a eventos ou situações anormais e transitórias para as quais cunham-se regras “de ocasião”, que se prendem à efeméride que as motivou. Essas regras excepcionais (como as criadas em situação de calamidade pública, guerras, revoluções, inundações, epidemias, etc.) devem ser interpretadas de forma estrita, para abrangerem somente os casos nelas literalmente contemplados, e produzir somente as consequências expressamente previstas. Já as leis especiais são aquelas que, ao contrário das normas ditas gerais, não tratam da universalidade de casos e situações, mas de um setor ou fragmento dessa universalidade, para o qual se criam regras próprias. Assim, as regras do Código Civil sobre os contratos são gerais, eas regras do Código do Consumidor são especiais, porque tratam somente de determinados contratos. 
Para as normas excepcionais e especiais, antes exemplificadas, a hermenêutica sempre preconizou a regra pela qual tais normas só admitem a interpretação restritiva, isto é, aquela que retira do conteúdo da norma o mais estreito significado possível, quer quanto ao âmbito de incidência da norma, quer quanto à extensão das suas consequências. Mas, como adverte SACHA CALMON NAVARRO COÊLHO interpretação literal não é interpretação mesquinha ou meramente gramatical, e sim interpretação estrita, nunca extensiva. As exceções devem ser compreendidas com extrema rigidez. Sendo possível mais de uma interpretação razoável e ajustada aos elementos sistemático e teleológico, deve prevalecer aquela que mais se aproximar do elemento literal, como ensina HUGO DE BRITO MACHADO.
11ª regra: Prevalece a interpretação que melhor atenda à tradição do direito.
Essa norma complementa a 1ª regra: nas questões duvidosas, ao invés da interpretação que conduza ao absurdo, prefere-se a que está conforme a tradição do direito. A norma convoca ao atendimento do método histórico de interpretação. Na frase de MAXIMILIANO, só quem não conhece o Direito acredita na possibilidade de se fazerem leis inteiramente novas. O Direito presente é uma reprodução, ora integral, ora modificada, ora melhorada, ora piorada, de um sistema pré-existente, e que vem evoluindo ao longo dos séculos. O direito contemporâneo tem raiz no Direito do Império, que tem raiz no Direito português, que tem raiz no Direito comum medieval, que tem raiz no Direito romano. Na Babilônia de 3 mil anos atrás o contrato de compra e venda entre pais e filhos já era passível de anulação. Quando falamos em fiança, arras, arrendamento rural, estamos falando de mais de 25 séculos de história, de institutos jurídicos que remontam à Grécia de 600 anos antes de Cristo. Assim, o passado explica o presente. Quando interpretamos um fragmento da lei de hoje, temos de compreendê-lo não só como um ramo numa grande árvore que é o Direito positivo vigente: temos que compreender esse fragmento como um fruto de uma árvore cujas raízes estão fincadas no passado. O método histórico é a técnica interpretativa que indaga das condições de meio e momento da elaboração da norma legal, e das causas pretéritas da solução dada pelo legislador. Parte da premissa de que estudando o passado se compreende o presente. Desdobra-se na busca da origo legis (entender o significado da norma que regula o tema, hoje, estudando sua evolução na história do direito) e da occasio legis (visa compreender, analisando o momento histórico da confecção da norma, as razões que inspiraram o legislador àquela solução legislativa).
É preciso frisar, contudo, que a lei não representa a vontade do legislador, um “testamento” de uma geração para outra. Uma vez promulgada, a lei torna-se independente de seus autores. A vontade da lei desprende-se da vontade do legislador, e esta última deixa de importar. A lei passa a valer pelo seu conteúdo, não é “um pensamento morto”. Por isso, a interpretação histórica é principalmente uma interpretação histórico-evolutiva, que busca adaptar os conceitos da lei antiga ao momento atual e às exigências da sociedade atual. 
12ª regra: A ementa da lei facilita sua compreensão.
Já foi dito que determinar o fim visado pela norma é questão das mais complicadas e sujeitas a controvérsia. Dentre os instrumentos que podem auxiliar na tarefa de descobrir o fim da norma está a sua ementa, onde a lei anuncia, em breves palavras, qual o seu objetivo e âmbito de incidência. De uma ementa que reza “dispõe sobre a proteção do consumidor” (Lei 8.078/90) compreende-se que as normas ali tratadas têm por fim social proteger, nas questões jurídicas relacionadas ao consumo, um dos polos da relação, que é o consumidor. Interpretar as disposições da dita lei de forma a proteger o fornecedor em detrimento do consumidor implica em infringir a teleologia indicada pela ementa.
13ª regra: A posição do dispositivo no texto esclarece seu alcance.
A regra conclama à interpretação sistemática, que, em certa medida, inclui uma interpretação “topológica”. O lugar em que determinada disposição é inserida, dentro do texto legal, pode indicar algo a respeito da sua abrangência e alcance. O texto legal é organizado em partículas principais, os artigos, que podem ser subdivididos em sub-partes, fragmentos subordinados, que são os parágrafos, os incisos, as alíneas. É intuitiva a noção de que as disposições de um inciso têm abrangência limitada às hipóteses ou à situação contemplada no artigo a que o inciso está subordinado. Um artigo e seu parágrafo subordinado guardam, geralmente: a) uma relação de regra geral/exceção, onde o parágrafo institui regras que contrariam a norma geral do seu caput, excepcionando-a; ou b) uma relação de genérico/específico, onde o caput estabelece os contornos gerais de um mandamento, e os parágrafos explicitam aspectos ou desdobramentos da hipótese.
A posição de um comando legal permite compreender a abrangência que o legislador quis lhe dar. O texto legal é articulado e sub-articulado, i.e., dividido em fragmentos de mensagem, cada qual devendo tratar de uma ideia específica. Esses fragmentos não são todos da mesma hierarquia e abrangência. Compreende-se intuitivamente que o parágrafo, como fragmento subordinado ao caput de um artigo, tem seu âmbito de aplicabilidade restrito – em princípio – ao âmbito de aplicabilidade do seu caput subordinante.
EXEMPLOS DE DECISÕES JUDICIAIS UTILIZANDO OS CRITÉRIOS DE RESOLUÇÃO DE ANTINOMIAS E RESOLUÇÃO DE LACUNAS: 
· LEI SUPERIOR x LEI INFERIOR; 
· LEI ESPECIAL x LEI GERAL; 
· ANALOGIA; 
· PRINCÍPIOS.
EXEMPLO 1: ANTINOMIA
STJ – LEI ESPECIAL PREVALECE SOBRE A GERAL
RECURSO ESPECIAL Nº 1.251.993 - PR (2011/0100887-0)
RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES
EMENTA
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ARTIGO 543-C DO CPC). RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL (ART. 1º DO DECRETO 20.910/32) X PRAZO TRIENAL (ART. 206, § 3º, V, DO CC). PREVALÊNCIA DA LEI ESPECIAL. ORIENTAÇÃO PACIFICADA NO ÂMBITO DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. A controvérsia do presente recurso especial, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC e da Res. STJ n 8/2008, está limitada ao prazo prescricional em ação indenizatória ajuizada contra a Fazenda Pública, em face da aparente antinomia do prazo trienal (art. 206, § 3º, V, do Código Civil) e o prazo quinquenal (art. 1º do Decreto 20.910/32).
2. O tema analisado no presente caso não estava pacificado, visto que o prazo prescricional nas ações indenizatórias contra a Fazenda Pública era defendido de maneira antagônica nos âmbitos doutrinário e jurisprudencial. Efetivamente, as Turmas de Direito Público desta Corte Superior divergiam sobre o tema, pois existem julgados de ambos os órgãos julgadores no sentido da aplicação do prazo prescricional trienal previsto no Código Civil de 2002 nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública. Nesse sentido, o seguintes precedentes: Resp 1.238.260/PB, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 5.5.2011; REsp 1.217.933/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 25.4.2011; REsp 1.182.973/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 10.2.2011; Resp 1.066.063/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe de 17.11.2008; EREspsim 1.066.063/RS, 1ª Seção, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 22/10/2009). A tese do prazo prescricional trienal também é defendida no âmbito doutrinário, dentre outros renomados doutrinadores: José dos Santos Carvalho Filho ("Manual de Direito Administrativo", 24ª Ed., Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2011, págs. 529/530) e Leonardo José Carneiro da Cunha ("A Fazenda Pública em Juízo", 8ª ed, São Paulo: Dialética, 2010, págs. 88/90).
3. Entretanto, não obstante os judiciosos entendimentos apontados, o atual e consolidado entendimento deste Tribunal Superior sobre o tema é nosentido da aplicação do prazo prescricional quinquenal - previsto do Decreto 20.910/32 - nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública, em detrimento do prazo trienal contido do Código Civil de 2002.
4. O principal fundamento que autoriza tal afirmação decorre da natureza especial do Decreto 20.910/32, que regula a prescrição, seja qual for a sua natureza, das pretensões formuladas contra a Fazenda Pública, ao contrário da disposição prevista no Código Civil, norma geral que regula o tema de maneira genérica, a qual não altera o caráter especial da legislação, muito menos é capaz de determinar a sua revogação. Sobre o tema: Rui Stoco ("Tratado de Responsabilidade Civil". Editora Revista dos Tribunais, 7ª Ed. – São Paulo, 2007; págs. 207/208) e Lucas Rocha Furtado ("Curso de Direito Administrativo". Editora Fórum, 2ª Ed. – Belo Horizonte, 2010; pág. 1042).
5. A previsão contida no art. 10 do Decreto 20.910/32, por si só, não autoriza a afirmação de que o prazo prescricional nas ações indenizatórias contra a Fazenda Pública foi reduzido pelo Código Civil de 2002, a qual deve ser interpretada pelos critérios histórico e hermenêutico. Nesse sentido: Marçal Justen Filho ("Curso de Direito Administrativo". Editora Saraiva, 5ª Ed. – São Paulo, 2010; págs. 1.296/1.299).
6. Sobre o tema, os recentes julgados desta Corte Superior: AgRg no AREsp 69.696/SE, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 21.8.2012; AgRg nos EREsp 1.200.764/AC, 1ª Seção, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 6.6.2012; AgRg no REsp 1.195.013/AP, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 23.5.2012; REsp 1.236.599/RR, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 21.5.2012; AgRg no AREsp 131.894/GO, 2ª Turma, Rel. Min.Humberto Martins, DJe de 26.4.2012; AgRg no AREsp 34.053/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 21.5.2012; AgRg no AREsp 36.517/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 23.2.2012; EREsp 1.081.885/RR, 1ª Seção, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 1º.2.2011.
7. No caso concreto, a Corte a quo, ao julgar recurso contra sentença que reconheceu prazo trienal em ação indenizatória ajuizada por particular em face do Município, corretamente reformou a sentença para aplicar a prescrição quinquenal prevista no Decreto 20.910/32, em manifesta sintonia com o entendimento desta Corte Superior sobre o tema.
8. Recurso especial não provido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C,
do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.
EXEMPLO 2: ANTINOMIA
TJRS – LEI ESPECIAL PREVALECE SOBRE A GERAL
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 70070466651
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. RESPONSABILIDADE POR PROMOVER O REGISTRO DA CONSTRIÇÃO. OFICIAL DE JUSTIÇA. 
O registro da constrição na matrícula do imóvel não incumbe ao credor, fulcro nos artigos 7º, IV, e 14, I, ambos da Lei de Execução Fiscal. Prevalência da lei especial sobre dispositivo do diploma processual civil que versa acerca do tema. Em realidade o que existe é apenas uma aparente antinomia entre o que dispõe a Lei de Execução Fiscal(lei especial) e o Código de Processo Civil (norma geral), relativamente à incumbência de promover o registro da penhora, pois facilmente solucionável a questão pelo Princípio da Especialidade. Precedentes desta Corte.
DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.
EXEMPLO 3: ANTINOMIA
TJRS – LEI SUPERIOR PREVALECE SOBRE A INFERIOR
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 70069029361 
ÓRGÃO ESPECIAL DO TJRS
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL DE SÃO VICENTE DO SUL. IMPOSTO SOBRE SERVIÇO. DEFINIÇÃO DE BASE DE CÁLCULO. INVASÃO DE CAMPO RESERVADO À LEI COMPLEMENTAR FEDERAL 116/2003. POSSIBILIDADE DE CONTROLE ABSTRATO. 
1. O processo objetivo de controle de constitucionalidade de normas pressupõe que o diploma normativo que lhe serve de objeto afronte direta e imediatamente o parâmetro invocado, constante da Constituição, Estadual ou Federal, o que se verifica na espécie. 
2. Caso dos autos em que a antinomia não se dá apenas entre o art. 7° da Lei Complementar Federal 116/03 e o art. 27, §3°, III, da Lei Municipal 3974, ao restringir, da dedução da base de cálculo do ISS, os materiais de construção produzidos pelo prestador fora do estabelecimento. O conflito existe primordialmente em razão de a Lei Municipal adentrar no campo de regulamentação – definição da base de cálculo - reservado pela CRFB à lei complementar federal.
3. A ressalva feita pelo art. 27, §3°, III da Lei Municipal 3974, de que serão excluídos da base de cálculo apenas os materiais produzidos pelo prestador do serviço da construção civil fora do local de prestação de serviço, vai de encontro com a jurisprudência sedimentada acerca da matéria pelos Tribunais Superiores, bem como por este Tribunal. Inconstitucionalidade reconhecida. 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE. UNÂNIME.
EXEMPLO 4: ANTINOMIA
SEGUNDA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA (RS): antinomia resolvida a partir de princípios constitucionais, interpretação teleológica ou lógico-sistemática (lei superior e mais justa) 
RECURSO INOMINADO Nº 71006948145 
RECURSO INOMINADO. PRETENSÃO DE ISENÇÃO DE IPVA. PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS. VEÍCULO A SER CONDUZIDO POR TERCEIRO. SENTENÇA CONFIRMADA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
1) Caso concreto em que vem questionada a negativa de concessão de isenção de IPVA a contribuinte portador de necessidades especiais proprietário de veículo a ser conduzido por terceiro. 
2) Na ordem jurídica vigente, que vem marcada pela força normativa das regras e princípios emergentes da Constituição Federal (Neoconstitucionalismo), todos vocacionados a garantir a dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, da CF/88), enquanto princípio-matriz de todos os direitos fundamentais, a mais adequada interpretação do artigo 4º, inciso VI, da Lei Estadual nº 8.115/85, que elenca as hipóteses de isenção do IPVA, é a que estende o benefício fiscal ao portador de necessidade especial proprietário de veículo automotor e que dele necessita para seus necessários deslocamentos, mesmo que sob a condução de terceiro.
3) Cabimento, no caso concreto, da excepcional técnica de superação de regra jurídica (derrotabilidade/defeasibility), em ordem ao desenlace da antinomia concreta identificada no confronto da exigência legal de interpretação restritiva do dispositivo de lei que outorga a isenção (art. 111, II, CTN) em face da efetivação da finalidade almejada com a lei concessiva do benefício fiscal (interpretação teleológica), a justificar a extensão da isenção do IPVA ao menor portador de paralisia cerebral e epilepsia de difícil controle, por tal motivo impossibilitado de conduzir veículo automotor.
4) Assim, na forma do artigo 46 da Lei nº 9.099/95 e em atenção aos critérios de celeridade, simplicidade, informalidade e economia processual elencados no artigo 2º da mesma lei, confirma-se a sentença em segunda instância, constando apenas da ata, com fundamentação sucinta e dispositivo, servindo de acórdão a súmula do julgamento.
RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME.
TRECHO: “O Estado do Rio Grande do Sul negou o pedido de isenção do IPVA, alegando que o autor não preenche as condições estabelecidas no art. 4º, inc. VI, da Lei 8.115/85, regulamentada através do Decreto Estadual nº 32.144/85 (Regulamento do IPVA), Art. 4º, inciso VI, e parágrafos 9º e 13º, que dispõem que o proprietário deve ser também o condutor do veículo, conforme se observa do documento da fl. 11 dos autos. 
Em outras palavras, a isenção do imposto foi negada administrativamente pelo Estado do Rio Grande do Sul, sob o argumento de que o autor não é o condutor do veículo e, também, porque este não está adaptado às necessidades do proprietário. 
Contudo, em que pese os argumentos lançados pelo Estado do Rio Grande do Sul para denegar o benefício de isenção ao autor, adianto que é assente o entendimento jurisprudencial no sentido de que é irrelevante o fato de o veículo não estar adaptado às necessidades do proprietário ou, ainda, de ser dirigido por terceiro paraconcessão da benesse.
(...) Permitindo a legislação a isenção do imposto tão-somente aos deficientes físicos que tenham condições de dirigir seus veículos adaptados, acaba por discriminar aqueles que, em situações graves, como a do presente, não possam conduzir seu veículo, pois necessitam da ajuda de terceiros para necessidades básicas, quanto o mais para se locomover.
(...) Outrossim, não deve prosperar a alegação de violação da interpretação restritiva. Em verdade, o que se está a fazer é adotar uma interpretação extensiva à legislação estadual sob a luz da Constituição Federal. No Estado Democrático de Direito, deve preponderar o princípio da dignidade da pessoa humana, atentando-se toda legislação brasileira, sempre, à Constituição Federal de 1988”.
EXEMPLO 5: ANALOGIA
TJRS – Aplicação de lei federal mais benéfica a servidor estadual regulado por lei estadual
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 70073972986
DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL
AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO COMINATÓRIA. SERVIDOR ESTADUAL. LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS EM FOLHA E DOS DÉBITOS EM CONTA-CORRENTE POR ANALOGIA À LEI FEDERAL. A cláusula inserida em contrato bancário que que autoriza o débito de valores em folha de pagamento ou conta-corrente é lícita. Porém, a soma mensal dos débitos não pode exceder a 30% (trinta por cento) da remuneração do contratante, conforme prevê a Lei Federal n. 10.820/2003. No caso concreto, os descontos em folha de pagamento e os débitos em conta-corrente ultrapassam o percentual previsto em lei, razão pela qual impõe-se sua limitação.
AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO.
TRECHO: “Em se tratando de servidor do Estado do Rio Grande do Sul, o desconto deveria ser limitado ao índice legalmente previsto no art. 15, § 2º, do Decreto Estadual n. 43.354/05, o qual permite consignações facultativas e obrigatórias em folha de pagamento no percentual de 70% da retribuição pecuniária mensal do servidor estadual.
O entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que a norma estadual supracitada, ao limitar os descontos obrigatórios e facultativos ao patamar de 70%, não exclui a regra insculpida na esfera federal (até 30% conforme a Lei Federal n. 10.820/2003), inexistindo antinomia entre ambas. Por ser mais protetiva a legislação federal, tais normas convivem e se complementam”.
EXEMPLO 6: ANALOGIA
TJRS – Aplicação de analogia como interpretação extensiva mais benéfica
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 70073463861
DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL
AGRAVO DE INSTRUMENTO, EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NÃO CARACTERIZADA NO CASO CONCRETO.
Não caracterizada inércia ou desídia do credor no processamento do feito a justificar o reconhecimento da prescrição intercorrente.
BLOQUEIO ON LINE DE VALORES DEPOSITADOS EM INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS. IMPENHORABILIDADE RECONHECIDA.
Impõe-se reconhecer a impenhorabilidade de valor depositado em conta bancária, inferior a quarenta salários mínimos, em analogia ao que dispõe o artigo 833, X, do CPC.
Recentes julgados do STJ ampliando a interpretação do mencionado dispositivo, de forma a fazer alcançar a proteção legal à reserva financeira única, independente da opção de investimento escolhida pelo poupador.
Precedentes do STJ e desta Corte.
AGRAVO PROVIDO EM PARTE.
EXEMPLO 7: LACUNA
TJRS – Lacuna legislativa para os valores de dano moral: resolvida a partir de princípios gerais e jurisprudência.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 70069883122
SEXTA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. OBRIGAÇÃO DE MANTER O SERVIÇO ADEQUADO. DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL. QUEDA DE ENERGIA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO MORAL CONFIGURADO. 
1. A concessionária tem o dever legal de manter o fornecimento de energia elétrica de forma contínua e adequada, em observância às normas regulamentares de prestabilidade, sob pena de responder pelos danos oriundos da má prestação de seus serviços, nos termos dos arts. 20, § 2º e 22, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor. A norma que regulamenta a prestação do serviço de fornecimento de energia elétrica, disposta no art. 176, inciso I, da Resolução nº 414/2010 da ANEEL, determina que, na hipótese dos autos, a distribuidora deve restabelecer o fornecimento no prazo máximo de 24 horas, o que foi descumprido no caso concreto, visto que o Autor ficou mais de 72 horas sem energia elétrica. Portanto, está caracterizada a inadequação do serviço de fornecimento de energia elétrica prestado, o que, por si só, causa danos ao consumidor, em razão da privação de serviço público essencial, sujeito ao princípio da continuidade, por indispensável ao atendimento das necessidades básicas da vida privada, social e urbana.
2. A determinação do valor da indenização, sendo a lei omissa a esse respeito (art. 4º da LINDB), regula-se a partir de parâmetros monetários adotados pela jurisprudência, bem como de acordo princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade. O valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de indenização, corrigido monetariamente pelo IGP-M a partir desta decisão, com fulcro na Súmula nº 362 do STJ, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a contar da data do evento danoso, nos termos da Súmula nº 54 do STJ, em consonância com o art. 398 do Código Civil atende aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 
DERAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME.
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS DESTA APOSTILA:
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Trad. de Maria Celeste Leite Cordeiro Leite dos Santos. Brasília: Ed. UnB, 1999.
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Trad. de Hermínio Carvalho. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. 11. ed., rev. São Paulo: RT, 2011.
FRANCO MONTORO, Andre. Introdução à Ciência do Direito. 4.ed. em ebook baseada na 33.ed impressa. São Paulo: RT, 2016.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 1: esquematizado. Parte geral: obrigações e contratos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2006.
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 3.ed. São Paulo: GEN-Método, 2009.
RAZ, Joseph. O conceito de sistema jurídico. Uma introdução à teoria dos sistemas jurídicos. Trad. de Maria Cecília Almeida. São Paulo: Editora WMF, 2012.
RIZZATO NUNES. Manual de introdução ao estudo do direito. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
CLÁSSICOS DA TEORIA GERAL DO DIREITO E FILOSOFIA DO DIREITO:
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_____ . O positivismo jurídico. Lições de filosofia do direito. Trad. de Marcio Pugliesi, Edson Bini e Carlos Rodrigues. São Paulo: Ícone, 1995.
_____ . Teoria da norma jurídica. 5. ed. Trad. Ariani Bueno Sudatti e Fernando Pavan Baptista. São Paulo: EDIPRO, 2014.
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
_____ . O império do direito. Tradução Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
_____ . A justiça de toga. Tradução Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FINNIS, John. Lei natural e direitos naturais. Tradução de Leila Mendes. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2007.
HART, Herbert L.A. O Conceito de Direito. 5.ed. Trad. de A. Ribeiro Mendes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
_____ . Direito, Liberdade, Moralidade. Tradução de Gérson Pereira dos Santos. Porto Alegre: SAFE, 1987.
_____ . Ensaiossobre Teoria do Direito e Filosofia. Tradução José Garcez Ghirardi e Lenita Maria Rimoli Esteves. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2006.
_____ . Teoria geral das normas. Tradução de José Florentino Duarte. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1986.
RAZ, Joseph. The Authority of Law: Essays on Law and Morality. Oxford: Oxford University Press, 1979. (Há uma versão em espanhol)
_____ . O conceito de sistema jurídico. Uma introdução à teoria dos sistemas jurídicos. Trad. de Maria Cecília Almeida. São Paulo: Editora WMF, 2012.
_____ . Razão Prática e Normas. Tradução José Garcez Ghirardi. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
ROSS, Alf. Direito e Justiça. 2. ed. Tradução de Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2007.

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