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APOSTILA TGD - TEORIA DO DIREITO

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11
APOSTILA DE TEORIA DO DIREITO
Prof. Dr. Charles Froehlich
DIREITO: NOÇÕES BÁSICAS INICIAIS
ACEPÇÕES DO VOCÁBULO DIREITO
Direito objetivo e direito subjetivo
Na língua portuguesa, a palavra direito assume diversas acepções, o que também ocorre com droit (em francês), com diritto (em italiano), com Recht (em alemão), com derecho (em espanhol) etc. Por essa razão, sobretudo nos sistemas jurídicos romano-germânicos, há necessidade de distinguir o chamado direito objetivo do chamado direito subjetivo. Isso não ocorre, todavia, na língua inglesa. Nos sistemas jurídicos dos países anglo-saxões, utiliza-se o vocábulo law para se referir ao direito objetivo e o vocábulo right para se referir ao direito subjetivo.
Para nós, a expressão direito objetivo (law) refere-se às normas jurídicas. Os adeptos do latim dizem do direito objetivo: ius est norma agendi (direito é a norma de agir). O conteúdo do art. 1º do Código Civil, que é uma norma jurídica, tem natureza de direito objetivo, assim como o Direito Civil como um todo, por englobar um conjunto de normas (as regras e princípios).
Já a expressão direito subjetivo (right), por sua vez, refere-se a uma faculdade incorporada à chamada esfera jurídica do sujeito em decorrência de previsão do direito objetivo. Cuida-se da faculdade de um sujeito realizar uma conduta comissiva (ação) ou omissiva (omissão) ou exigi-la de outro sujeito. Do direito subjetivo dizem os romanistas: ius est facultas agendi (direito é a faculdade de agir). Por se tratar de faculdade, o exercício efetivo de um direito subjetivo depende da vontade do próprio sujeito; ninguém pode forçar outrem a exercer direito subjetivo.
Tomemos a primeira parte do art. 1.517 do Código Civil. Trata-se de uma norma, e, por conseguinte, de direito objetivo. Segundo esse dispositivo, “o homem e a mulher com dezesseis anos podem casar”. Logo, Clóvis, com vinte e dois anos, e sua noiva, Berenice, com vinte e um, têm incorporado a suas esferas jurídicas o direito subjetivo de se casar, o qual pode ser exercido ou não, dependendo da vontade do casal, porquanto se trata de faculdade. 
Outro exemplo: o art. 5º da Constituição Federal de 1988 prevê o direito objetivo de propriedade: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Caio, então, que compra um carro e o recebe, adquire o direito subjetivo de propriedade do veículo, o qual se incorpora à sua esfera jurídica. O direito subjetivo de propriedade lhe confere as faculdades de usar, fruir e dispor do carro, bem como de exigir que todas as demais pessoas omitam-se de usar, fruir e dispor do mencionado bem. Ou seja, o direito de propriedade concede faculdades referentes a ações e omissões. Mas, se for a vontade de Caio abandonar o veículo, então estará deixando de exercer o direito subjetivo de propriedade, e outra pessoa poderá se apropriar do bem. Essa conduta de Caio é lícita, pois o direito subjetivo se reveste em uma faculdade: pode ser exercido ou não. 
Aos direitos subjetivos correspondem os chamados deveres. Destarte, se Helena e Caio têm o direito subjetivo de se casar, então alguém (no caso, um juiz de casamentos) tem o dever de casá-los; se Orlando tem o direito subjetivo de propriedade da vaca Mimosa, então todas as demais pessoas têm o dever de não perturbar a propriedade de Orlando. Considerando a relação entre o sujeito do direito e o sujeito do dever, a esfera de operação do dever e o objeto da relação, os direitos subjetivos dividem-se ainda em direitos absolutos e direitos relativos. Por ora, adiantamos que direitos absolutos consistem em direitos que travam uma relação jurídica entre o sujeito do direito e toda a coletividade, e incidem diretamente sobre um bem, enquanto direitos relativos consistem em direitos que operam em uma relação entre o sujeito do direito e o titular do dever correspondente, e incidem diretamente sobre um fato de um dos sujeitos[footnoteRef:1]. [1: DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.] 
PRINCIPAIS “FAMÍLIAS” OU SISTEMAS DO DIREITO
	
	FAMÍLIA ROMANO-GERMÂNICA – características gerais:
- Prevalência da lei geral, abstrata.
- Formado nas universidades européias na Idade Média a partir do direito romano e grego.
- Direito dos países do continente europeu e de suas colônias.
	FAMÍLIA DO COMMON LAW– características gerais:
- formada pelos juízes, os quais precisam buscar uma solução ao caso concreto.
- jurisprudência como expressão por excelência do Direito.
- Direito da Inglaterra e de suas colônias.
	
	COMMON LAW
	História - Trata-se de um sistema de direito desenvolvido pela ação dos tribunais reais de justiça, logo após a invasão normanda. Trata-se de um direito que se desenvolveu a partir de uma história própria e contínua, sem conhecer a renovação do direito romano e sem conhecer a era das codificações. Desde a conquista normanda, no séc. XI, o poder real era altamente centralizado, ao contrário da França, de modo que os barões eram mais numerosos e menos fortes que os franceses.
Common law = direito comum a toda a Inglaterra (em oposição ao direito das tribos locais).
	Regra de Direito	
- a fonte da regra é o precedente dos tribunais superiores. Estes estão vinculados aos seus próprios precedentes em regra.
- a norma é bem mais específica, pois está ligada a um caso concreto.
- Para a resolução do caso concreto não há necessidade de uma norma anterior.
- Os códigos orientam mais do que preceituam.
SISTEMAS JURÍDICOS
Existem, basicamente, duas formas de sistematização do ordenamento jurídico de um país:
1. Civil law - É o sistema baseado nas leis (apesar do nome, não significa Direito Civil). É adotado por quase todos os países europeus e sul-americanos. Os juízes fundamentam suas decisões na Constituição, descendo a seguir para a legislação infraconstitucional. A partir daí se originam as soluções para cada caso.
2. Common law - É o sistema em que prevalecem os costumes (direito consuetudinário). É adotado por países de origem anglo-saxônica (Inglaterra, Escócia, Irlanda, Estados Unidos, Austrália, etc.).
Principal diferença: O common law baseia-se nos costumes e na jurisprudência; trata-se de um direito judiciário (jurisprudencial). Já o civil law baseia-se na lei, e a jurisprudência tem papel secundário; o processo é apenas um acessório do direito. Quando Roma caiu nas mãos dos bárbaros de origem germânica, estes absorveram parte do Direito Romano, misturando a ele os próprios costumes. Dessa fusão tiveram origem diversos Direitos, entre eles o Direito Português e seu filho, o Direito Brasileiro. Por isso, podemos afirmar que nosso Direito deriva da grande família jurídica romano-germânica. O Brasil, por ter adotado o sistema do civil law, tem na lei sua principal fonte de Direito. Etimologicamente o vocábulo lei é originário do verbo latino legere, que significa eleger, escolher (em sentido figurado, seria a escolha de determinada regra dentro de um conjunto).
* O principal traço distintivo entre os dois sistemas reside nas fontes do Direito. No sistema romano-germânico, o ordenamento jurídico consubstancia-se principalmente em leis, muitas vezes em extensas leis, chamadas de códigos, os quais regulam os diferentes ramos do Direito (Código Civil, Código de Processo Civil, Código Penal, Código de Processo Penal, Código Tributário etc.); aos juízes e tribunais é concedido o poder-dever de aplicar as normas. Por sua vez, no sistema anglo-saxão, embora haja muitas leis, e sejam estas a fonte primária do Direito, não se encontra a abundância legislativa do sistema romano-germânico; aos juízes e tribunais dos países anglo-saxões é concedido o poder-dever de criar normas toda vez que não houver lei solucionando a questão, e as normas criadas pelos tribunais por meio de suas decisões – denominadas precedentes judiciais – vinculam todos os julgadores hierarquicamente inferioresao órgão (juiz ou tribunal que as criou), ou seja, os julgadores têm o dever de aplicar aquele precedente [footnoteRef:2]. [2: DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.] 
FONTES DO DIREITO (o que origina o direito):
Conforme Rizzato Nunes, podem ser classificadas em [footnoteRef:3]: Estatais: leis, princípios, jurisprudência e súmulas. Não-estatais: costume jurídico e doutrina. [3: RIZZATO NUNES. Manual de introdução ao estudo do direito. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.] 
Conforme Maria Helena Diniz, [footnoteRef:4]: Fontes materiais ou reais – os fatores sociais e os valores que condicionam a gênese da norma jurídica. Fontes formais como fundamento de validade da ordem jurídica. As fontes formais são tidas como estatais (legislação, jurisprudência, convenção internacional) e não estatais (costumes, doutrina, poder negocial e poder normativo de grupos sociais). [4: DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.] 
ATENÇÃO: UMA OBSERVAÇÃO SOBRE SÚMULAS
Dentro das FONTES DO DIREITO, está a jurisprudência = o conjunto de decisões dos Tribunais. As súmulas são fruto da jurisprudência.
O que são? Para quê servem? Onde são encontradas?
	Súmula é um verbete numerado em ordem crescente, elaborado pelos Tribunais para uniformizar sua jurisprudência. Uma súmula de Tribunal é consequência de vários debates sobre um tema jurídico objeto de vários processos judiciais. Em suma, para ocorrer uma súmula, temos que lembrar que aquela questão jurídica foi muito debatida em ações judiciais e houve decisões conflitantes sobre ela. Assim, em determinado momento, o Tribunal decide elaborar uma súmula para uniformizar (= pacificar) sua jurisprudência, acabando com a controvérsia.
	As principais súmulas, no Brasil, são as produzidas pelos Tribunais Superiores, principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) (ver o organograma do Judiciário, abaixo).
Observe os seguintes artigos do Código de Processo Civil (CPC):
CPC, Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
CPC, Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
	As chamadas “Súmulas Vinculantes” são próprias do STF, conforme o Art. 103-A, da Constituição Federal:
CF, Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
	Portanto, atualmente, no Brasil, com base na CF (tratando-se de Súmula Vinculante do STF) e no CPC (Súmulas do STF e do STJ), as Súmulas tem grande força para decidir uma questão jurídica. Na verdade, as súmulas têm, muitas vezes, mais força do que a própria lei, visto que os Tribunais são obrigados a seguir o entendimento constante da súmula.
	As súmulas são encontradas nos sites dos Tribunais ou em lista no final dos Códigos impressos.
	
Alguns exemplos de súmulas:
DIREITO PENAL
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
STJ – Súmula 501 – É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.
STJ – Súmula 599 – O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.
DIREITO CIVIL
BEM DE FAMÍLIA
STJ – Súmula 549 – É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.
DANO MORAL – STJ:
SÚMULA 37 – São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
SÚMULA 227 – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
SÚMULA 387 – É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
SÚMULA 370 – Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
SÚMULA 388 – A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
DESCABIMENTO DA PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL
STJ – Súmula 419 – Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.
STF – Súmula Vinculante 25 –
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.
CONCEITOS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS [footnoteRef:5] [5: Consultar, p.ex., a seguinte obra: DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.] 
Direito, direito positivo, direito objetivo, direito subjetivo, norma jurídica.
O QUE É DIREITO? Conceito controverso que depende do teórico e da escola a que pertence. Um dos melhores conceitos de direito da atualidade é apresentado por Joseph Raz, na obra O Conceito de Sistema Jurídico, a partir dos seguintes caracteres: o direito é normativo, coercitivo e institucionalizado. Ou seja, para realmente diferenciarmos o direito de outros sistemas normativos, temos que dizer que o direito corresponde a um conjunto de normas (leis, regras, princípios) impostos por poderes do Estado (“instituições”: Legislativo e Judiciário), os quais têm capacidade de aplicá-lo mediante sanções (punições ou desvantagens para o infrator da norma) [footnoteRef:6]. [6: RAZ, Joseph. O conceito de sistema jurídico. Uma introdução à teoria dos sistemas jurídicos. Trad. de Maria Cecília Almeida. São Paulo: Editora WMF, 2012.] 
DIREITO POSITIVO: conjunto de normas estabelecidas pelo poder político, que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em determinada época.
DIREITO OBJETIVO: É o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano, prescrevendo uma sanção no caso de sua violação.
DIREITO SUBJETIVO: Para Goffredo Telles Jr., é a permissão, dada por meio de norma jurídica válida, para fazer ou não fazer alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou, ainda, a autorização para exigir, por meio dos órgãos competentes do poder público ou por meio de processos legais, em caso de prejuízo causado por violação de norma, o cumprimento da norma infringida ou a reparação do mal sofrido.
1. Direito subjetivo comum da existência — é a permissão de fazer ou não fazer, de ter ou não ter algo, sem violação de preceito normativo.
2. Direito subjetivo de defender direitos — é a autorização de assegurar o uso do direito subjetivo, de modo que o lesado pela violação da norma está autorizado, por ela, a resistir contra a ilegalidade, a fazer cessar o ato ilícito, a reclamar reparação pelo dano e a processar criminosos, impondo-lhes pena.
NORMA JURÍDICA: conceito que varia muito conforme o autor, mas, em síntese, pode ser: 
- as espécies normativas em geral (gênero), as quais podem ser regras e princípios;
- a combinação de suporte fático (hipótese normativa) mais preceito (consequências previstas no caso de incidência da norma em fatos reais);
Sobre norma jurídica, fato jurídico, relação jurídica e direito subjetivo, é interessante pontuar o seguinte:
A norma jurídica é a célula do ordenamento jurídico. É um imperativo de conduta, que coage os sujeitos a se comportarem da forma por ela prevista.
Das várias classificações da norma jurídica, vale grifar aquelas quanto à imperatividade e quanto à hierarquia:- quanto à imperatividade, podem ser: as normas de imperatividade absoluta ou impositivas ou cogentes ou de ordem pública. Ordenam ou proíbem alguma coisa de modo absoluto. Normalmente, devem ser aplicadas pelo juiz, independentemente de pedido das partes. As normas de imperatividade relativa ou dispositivas são as que não proíbem nem ordenam de modo absoluto, mas permitem ação ou abstenção;
- quanto à hierarquia: constitucionais; complementares; ordinárias, delegadas, medidas provisórias, decretos, resoluções, etc... (ver adiante).
Características das normas:
- Imperatividade: devem ser seguidas.
- Hipotecidade: a norma, em regra, define hipóteses que, em satisfeitas, geram consequências.
- Generalidade e abstração: generalidade: para um número indeterminado de pessoas. Abstração: para casos não-concretos. Existem normas, todavia, como as sentenças, os contratos e determinadas normas no ordenamento que são particulares ou concretas.
- Bilateralidade: a norma geralmente envolve direitos e deveres (i.e., mais de uma pessoa).
- Coercibilidade: uso da força.
A Teoria do Fato Jurídico entende a norma jurídica como uma proposição composta de suporte fático e preceito [footnoteRef:7]: [7: A teoria do fato jurídico foi desenvolvida, no Brasil, pelo famoso civilista Pontes de Miranda em seu Tratado de Direito Privado. Há uma obra que resume esta teoria: MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
] 
- SUPORTE FÁTICO: é o conjunto de elementos de fato previstos abstratamente na norma, cuja ocorrência é imprescindível à incidência da regra jurídica no caso concreto.
* A expressão “suporte fático” é a tradução portuguesa de expressões usadas em várias línguas para se referir ao fato previsto em norma jurídica (p.ex., Tatbestand, em alemão; fattispecie, em italiano; hecho imponible/supuesto de hecho, em espanhol). No Brasil, ainda se usa, conforme o ramo do direito ou doutrina: “preceito”, “tipo”, “hipótese de incidência”, “fato gerador”.
- PRECEITO: estabelece a consequência (os efeitos jurídicos), pode ser a vantagem (direito subjetivo) a ser conferida a um dos sujeitos da relação e a desvantagem correlata (dever jurídico) a ser suportada pelo outro, ou outros, sujeitos dessa mesma relação. Ou então, a sanção se refere à restrição de direitos ou sanções pecuniárias.
Demonstrando a norma jurídica como proposição a partir de exemplos do Código Civil:
CC, Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida.
Suporte fático = nascimento com vida (fato natural)
Preceito = aquisição da personalidade civil e seu conjunto de direitos e deveres (consequência/efeitos jurídicos).
CC, Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Suporte fático = completar 18 anos (fato natural)
Preceito = aquisição da capacidade civil plena e seu conjunto de direitos e deveres (consequência/efeitos jurídicos)..
Outras vezes, é preciso combinar mais de um artigo, p.ex.:
CC, Art. 186 Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Suporte fático = ação ou omissão voluntária que causar dano a outrem (fato)
Preceito = comete ato ilícito (consequência).
Mas a desvantagem/sanção para quem comete ato ilícito só aparece no Art. 927, CC:
CC, Art. 927 Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo (consequência/efeitos jurídicos).
No direito obrigacional, quando há o inadimplemento (descumprimento) de uma obrigação, no mínimo, 3 artigos são conjugados:
CC, Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
CC, Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
CC, Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
* Não é toda norma – jurídica ou não – que implica em uma conduta e uma sanção. Como faz o Código Civil quando pretende, simplesmente, definir algo, p.ex., as pessoas jurídicas (Arts.41-44, CC) e os bens (Arts.79-100, CC).
* Chama-se INCIDÊNCIA, a ocorrência de um fato concreto previsto em norma jurídica. Também se usa a palavra subsunção para se referir ao fenômeno do enquadramento de um fato(s) na previsão da norma jurídica.
* O DIREITO TRIBUTÁRIO usa muito a expressão “FATO GERADOR” (previsão normativa de uma situação que gera obrigação tributária) enquanto o DIREITO PENAL usa muito a expressão “TIPO PENAL” (previsão normativa de uma ação definida como crime).
OBSERVE: 
1) O Código Tributário Nacional faz menção ao fato gerador nos artigos 114 e 115. De acordo com o texto do artigo 114 do CTN, “fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência”; 
2) O “FATO TÍPICO” consiste no fato que se enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contido na lei penal. Faltando um dos elementos do fato típico a conduta não é crime. É um fato “atípico”. O fato típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em regra, um resultado, sendo previsto pela lei como infração penal. “TIPICIDADE” é a correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto e a descrição contida na norma penal incriminadora. O tipo e a tipicidade penal não se confundem, o tipo é abstrato, a tipicidade é concreta; o tipo é previsão, a tipicidade realização.
RELAÇÃO JURÍDICA
Tanto o titular do direito subjetivo, como o sujeito do dever jurídico, vinculam-se em decorrência da qualificação do fato jurídico pela norma de direito objetivo. Esse vínculo intersubjetivo (entre sujeitos), decorrente de um determinado fato jurídico (fato(s) do mundo qualificado(s) pela norma jurídica), e do qual ressaem direitos subjetivos e deveres jurídicos aos sujeitos vinculados, é o que se denomina relação jurídica.
Relação jurídica, pois, é o vínculo intersubjetivo, decorrente da incidência da norma jurídica sobre o suporte fático, gerador de direitos subjetivos e deveres jurídicos aos sujeitos da relação. A relação jurídica apresenta os seguintes elementos estruturais:
• fato jurídico gerador (ou propulsor), decorrente da incidência da norma jurídica ao suporte fático por ela considerado;
• sujeitos ativo e passivo (evitar o binômio credor/devedor), que são os titulares, respectivamente, da vantagem a da desvantagem decorrente da relação jurídica;
• objeto, ou conteúdo, que é o feixe de direitos subjetivos e deveres jurídicos conferidos aos sujeitos.
Todavia, noutras situações (ex., direito fundamental à vida, ou o direito de propriedade), o enquadramento em uma estrutura relacional pode apresentar-se mais complicado à primeira vista.
Nesses casos, deve se atentar ao fato de que os sujeitos de uma relação jurídica são, a mais das vezes, determináveis e não determinados. É o que acontece com os denominados direitos absolutos, nos quais a vantagem, conferida a um dos sujeitos, contrapõe-se erga omnes, i.e., a todos os outros indivíduos da sociedade. Assim, se sou proprietário de uma casa, tenho sobre ela o domínio, i.e., o direito de propriedade. A vantagem, que me é conferida pelo Direito, é a de usar, gozar, fruir e dispor da coisa que é minha. A desvantagem, nesse caso, deverá ser suportada por todos os demais sujeitos: a de não admoestar o proprietário no exercício de seu direito (dever jurídico de abstenção). Nesse caso, o sujeito passivo da relação jurídica de propriedade compreende todos os demais sujeitos (sujeito passivo universal), afora o sujeito ativo do direito. O sujeito passivo, até então determinável, só poderá ser determinado no momento em que alguém deixar de adotar a atitude passiva de abstenção,e admoestar o direito do dono. O mesmo se dá com os direitos fundamentais, como o direito à vida, que surge desde o momento em que o sujeito se insere na sociedade regulada pelo ordenamento jurídico (seja pelo nascimento, seja pela naturalização).
EXEMPLO 1:
- Arts.186, CC:“aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” e 927, CC: “aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
Ocorre um atropelamento, no qual a vítima quebra as pernas e tem gastos com isso. Temos um fato real, concreto que se enquadra em normas jurídicas e, após essa incidência ou subsunção dos fatos nas normas, surge a relação jurídica: fato real NJ (norma jurídica) = FJ (fato jurídico) = RJ (relação jurídica), distribuindo direito subjetivo e deveres aos sujeitos da relação. Busca-se, então, as conseqüências jurídicas = reparação do dano/indenização.
EXEMPLO 2:
- o Código Penal e leis penais definem crimes e penas. P.ex., “Art.155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena – reclusão, de 1 a 4 anos e multa”. Sujeito que percebe uma janela aberta numa casa, entra e leva uma TV. Temos um fato real, concreto a ser enquadrado no tipo penal do art.155, CP.
OBSERVAÇÃO: Algumas vezes, um fato real ocorrido no mundo pode ter repercussão em várias áreas do direito: civil, penal, trabalhista, previdenciário. P.ex., o sujeito atropelado que fica com sequelas graves. O autor do fato pode responder criminalmente (ação penal) e, ainda, responder civilmente (ação civil de indenização), bem como o mesmo fato ter repercussão na esfera trabalhista-previdenciária (dificuldade ou impossibilidade de trabalhar, auxílios, etc...).
FATO JURÍDICO – acontecimentos em virtude dos quais nascem, se modificam ou se extinguem as relações jurídicas.
Uma classificação objetiva dos fatos jurídicos:
a) fatos naturais – externos ao homem (fatos em sentido estrito): a.1) ordinários: nascimento; morte; decurso de tempo, maioridade; a.2) extraordinários: caso fortuito (acidente de origem desconhecida), força maior (raio, enchente, tempestade, terremoto);
Fatos jurídicos (lato sensu) 
b) fatos humanos – b.1) lícitos – atos jurídicos: fixação e transferência de domicílio, notificações e negócios jurídicos: contratos, testamentos;
b.2) ilícitos – ação ou omissão culposa que gera dano.
Esquema objetivo da relação jurídica:
 SUJEITO ATIVO (vínculo) SUJEITO PASSIVO
Titular do direito subjetivo, Titular do dever jurídico respectivo
da pretensão, do poder de exigir
			OBJETO do DIREITO (lato sensu)
Sobre o qual recai o poder, a pretensão, a exigência do sujeito ativo contra o sujeito passivo
ATENÇÃO: o estudo específico dos sujeitos da relação jurídica (pessoas naturais e jurídicas, entes despersonalizados), dos bens e das obrigações é feito no direito civil. Aliás, a Parte Geral do Código Civil organiza-se a partir dos elementos de uma relação jurídica: PESSOAS – FATOS JURÍDICOS – BENS.
A LEGISLAÇÃO
ELABORAÇÃO DAS LEIS
A criação das leis obedece a um procedimento próprio, chamado de processo legislativo, definido na Constituição. 
PROCESSO LEGISLATIVO – é um conjunto de atos preordenados visando à criação de normas de direito. Esses atos são: a) iniciativa legislativa; b) emendas; c) votação; d) sanção e veto; e) promulgação e publicação.
Sobre PROCESSO LEGISLATIVO, CONSULTAR ARTs. 59 a 69, CF/88.
Em resumo, possui as seguintes etapas:
1. Iniciativa (art.61, CF)- Faculdade conferida a alguém ou a algum órgão para apresentar um projeto de lei.
2. Discussão e aprovação (art.64-65, CF) - Apresentado o projeto, são realizados estudos, debates, aperfeiçoamentos e votação do projeto (deliberação parlamentar). No âmbito federal, o projeto deve ser aprovado pelas duas Casas Legislativas: Câmara dos Deputados e Senado Federal. Lembrando: quando apresentado por senador, o projeto de lei tem início no Senado; quando apresentado por deputado federal, pelo presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, etc., tem início na Câmara dos Deputados. Aprovado na Casa iniciadora, o projeto segue para a Casa revisora. Esta poderá:
a) aprovar o projeto, seguindo para a próxima etapa;
b) emendar o projeto; as emendas retornam à Casa iniciadora, sendo proibida a apresentação de subemendas;
c) rejeitar o projeto, que é arquivado.
3. Sanção ou veto (art.66 e §§, CF) - Nessa fase, o chefe do Poder Executivo participa do processo (deliberação executiva). Com a sanção, ele manifesta sua concordância com o projeto, transformando-o em lei. O projeto pode ser sancionado de forma expressa, quando o Executivo se manifesta por despacho, ou tácita, quando o Executivo simplesmente se omite, deixando de apreciá-lo no prazo de 15 dias. Pelo veto, é manifestada a recusa ao projeto. O veto é irretratável e deve ser expresso e motivado. Pode ser total, quando atinge todos os dispositivos do projeto, ou parcial, quando atinge um ou mais dispositivos. Costuma-se dizer que o veto é jurídico quando o projeto é considerado inconstitucional e político quando contrário ao interesse público. O veto só pode ser supressivo (nada mais pode ser acrescentado ao projeto) e não há veto de palavras. Vetado, o projeto é devolvido ao Congresso, que reaprecia a matéria em sessão conjunta. Aceito, encerra-se o processo legislativo. Derrubado (pelo voto da maioria absoluta no prazo de 30 dias), o projeto retoma ao chefe do Executivo apenas para promulgação.
	Observe o art.66 e §§ da CF/88:
CF, Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 76, de 2013)
§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.
4. Promulgação - Decorre da sanção e tem o significado de proclamação. Atesta-se perante a sociedade a existência de um ato perfeito e acabado, ordenando-lhe o cumprimento. PROMULGAR É DECLARAR A EXISTÊNCIA DE UMA LEI, inovando a ordem jurídica. Na prática, ela se dá em conjunto com a sanção, com a assinatura do chefe do Executivo. No caso de emenda constitucional, não há sanção ou veto, mas promulgação pelas mesas da Câmara e do Senado.
5. Publicação - Ato por meio do qual se dá divulgação da existência da nova lei em órgão oficial (Diário Oficial), tornando-se, portanto, conhecida de todos (trata-se de uma presunção). A publicação é uma condição de vigência e eficácia da lei. Com ela encerra-se o processo legislativo.
UM EXEMPLO: o chamado “Novo Código de Processo Civil” tramitou no Senado Federal como o projeto de lei “PLS 166/2010” (“Casa Iniciadora”) e, na Câmara dos Deputados, como o “PL 8046/2010”(“Casa Revisora”). O projeto de lei foi finalmente aprovado, no Senado, em 24/02/2015 e enviado à Presidência da República para sanção em 25/02/2015. O projeto foi sancionado pela Presidente da República em 16/03/15 e publicado no Diário Oficial da União em 17/03/15 (D.O.U. 17/03/15, p.1) como “LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil.”.
	Desta forma, no momento da sanção, o que era “projeto de lei” transforma-se em uma lei com número próprio e existência autônoma. A lei existe e é publicada para ser conhecida. Entretanto, a obrigatoriedade da lei surgirá com a vigência. É preciso verificar, na própria lei, quando ela entrará em vigor (a data). Pode ser na data da publicação ou em “X” dias ou 1 ano.
ESQUEMA DO PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO:
Obs.: 1) Os artigos citados no quadro acima são da CF/88; 2) Abreviaturas: CN = Congresso Nacional; CD = Câmara dos Deputados; SF = Senado Federal. LC = Lei Complementar; LO = Lei Ordinária; MP = Medida Provisória.
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
CONTEÚDO E FUNÇÃO
A Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei n. 4.657, de 4.9.1942), atualmente denominada “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” (Lei n. 12.376), contém dezenove artigos. Trata–se de legislação anexa ao Código Civil, mas autônoma, dele não fazendo parte. Embora se destine a facilitar a sua aplicação, tem caráter universal, aplicando-se a todos os ramos do direito. Acompanha o Código Civil simplesmente porque se trata do diploma considerado de maior importância. Na realidade, constitui um repositório de normas preliminar à totalidade do ordenamento jurídico nacional.
Trata-se de um conjunto de normas sobre normas, visto que disciplina as próprias normas jurídicas, determinando o seu modo de aplicação e entendimento no tempo e no espaço. Ultrapassa ela o âmbito do direito civil, pois enquanto o objeto das leis em geral é o comportamento humano, o da Lei de Introdução é a própria norma, visto que disciplina a sua elaboração e vigência, a sua aplicação no tempo e no espaço, as suas fontes etc. Contém normas de sobredireito ou de apoio, sendo considerada um Código de Normas, por ter a lei como tema central.
Dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for regulado de forma diferente na legislação específica. Assim, o dispositivo que manda aplicar a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito aos casos omissos (art. 4º) aplica-se a todo o ordenamento jurídico, exceto ao direito penal e ao direito tributário, que contêm normas específicas a esse respeito. O direito penal admite a analogia somente in bonam partem. Já o Código Tributário Nacional admite a analogia como critério de hermenêutica, com a ressalva de que não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei (art.108, § 1º). Quando o art. 3º da Lei de Introdução prescreve que ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece, está-se referindo à lei em geral. Tal regra aplica-se a todo o ordenamento. O conteúdo desse verdadeiro Código de Normas extravasa o âmbito do direito civil por abranger princípios que regem a aplicação das normas de direito privado e de direito público no tempo e no espaço (arts. 1º a 6º) e por conter normas de direito internacional privado (arts. 7º a 19).
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, aplicável a toda a ordenação jurídica, como o próprio nome indica, tem as seguintes funções [footnoteRef:8]: [8: Os esquemas em AZUL são da obra: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 1: esquematizado. Parte geral: obrigações e contratos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.] 
No momento, os artigos da LINDB que nos interessam são os SEIS primeiros artigos, principalmente os grifados abaixo:
DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942.
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010)
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. 
§ 2º (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo comêço do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. 
* VIGÊNCIA:
A força obrigatória de uma lei está condicionada à sua VIGÊNCIA, ou seja, ao dia em que realmente ela entra em vigor. VIGÊNCIA significa a qualidade de vigente, isto é, o tempo em que a norma está produzindo efeitos. Lei em vigor é a que se mantém em voga, para ser efetivamente aplicada aos casos sob seu regime.
VIGÊNCIA: significa obrigatoriedade, força obrigatória.
VACATIO LEGIS (vacância da lei)
Pode a norma viger logo no primeiro dia de sua existência bem como algum tempo após. O período (intervalo de tempo) entre a data de publicação e a data da entrada em vigor chama-se VACATIO LEGIS. V. art.1º, LINDB e art.8º da LC 95/98.
A vigência, em regra, é eterna, salvo se outra norma a revogar ou ela perder o objeto ou cair em desuso: princípio da continuidade (art.2º da LINDB).
Normas temporárias: (vigência temporária) destinadas a valer por um certo tempo (ex.:leis orçamentárias, isenções fiscais).
DIREITO INTERTEMPORAL: aplicação da lei no tempo. Normas que são encontradas, principalmente, nas Disposições Finais e Transitórias dos Códigos, Leis e Constituições e tratam da questão da transição na aplicação das leis (quando a lei nova será aplicada? Em que situações a lei velha, revogada, ainda será aplicada?). Tema que se relaciona, também, com a irretroatividade, retroatividade e ultratividade das normas.
A norma é posta no presente para vigorar no futuro. A regra, é o princípio da IRRETROATIVIDADE da norma. Algumas vezes, todavia, pode a norma retroceder ao passado. Trata-se do fenômeno da RETROATIVIDADE.
Há um entendimento básico de que “a lei retroage para beneficiar as pessoas”:
- lei penal que revogue determinado crime ou diminua sua pena, ou ainda, melhore a execução da pena para o réu (Art.5º, XL, CF – “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” e Art. 2º, CP) deve retroagir.
- No direito tributário, quando uma espécie de infração é extinta ou tenha pena abrandada, esta é aplicada aos fatos passados (Art.106, CTN).
O exemplo mais forte e conhecido de RETROATIVIDADE está no Código Penal:
Lei penal no tempo
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela aexecução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
ULTRATIVIDADE da lei: é fenômeno da permanência de aplicação de uma lei mais velha, já revogada, a fatos ocorridos durante a sua vigência, seja porque ela é mais benéfica comparando-se com a lei mais nova incidente sobre o fato (Direito Penal), seja porque há uma regra de transição prevendo a aplicação da lei revogada por um período (Direito Civil: p.ex., Arts. 2028 e 2041, CC).
A retroatividade, em geral, não pode violar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (v. art. 5º, XXXVI da CF e art.6º e §§ da LINDB), salvo nos casos de retroatividade máxima como do Direito Penal.
[footnoteRef:9] [9: Os esquemas desta página são da obra: DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.] 
Quatro são os princípios que informam a vigência de uma lei: o princípio da obrigatoriedade, o princípio da continuidade, o princípio da irretroatividade e o princípio da especialidade.
Segundo o princípio da obrigatoriedade, a lei, durante sua vigência, obriga a cumpri-la todos aqueles a quem se destina, sem qualquer espécie de distinção.
De acordo com o princípio da continuidade, a lei permanece em vigor até que outra a modifique ou revogue, o que pode ocorrer quando a lei nova expressamente o declarar, ou quando for com a lei antiga incompatível, ou, ainda, quando regular inteiramente a matéria de que cuidava a lei anterior.
Conforme o princípio da irretroatividade, a lei nova somente regula os fatos que ocorrerem após a sua entrada em vigor, não incidindo sobre fatos anteriores à sua vigência.
Por fim, o princípio da especialidade dita que a lei especial – a qual trata de uma matéria de forma mais detalhada e específica – não revoga nem modifica a lei geral – que trata da matéria de forma mais ampla e abstrata.
*REVOGAÇÃO
REVOGAÇÃO - Fim da vigência de uma norma. “Revogar é tornar sem efeito uma norma, retirando sua obrigatoriedade. A revogação é gênero, que contém duas espécies: a ab-rogação, supressão total da norma anterior; e a derrogação, que torna sem efeito uma parte da norma”. Então, a revogação se divide em:
- ab-rogação: supressão total de uma lei por outra.
- derrogação: supressão parcial da norma, de dispositivos da norma.
Pode ser, ainda:
- Revogação tácita: o texto não indica, apenas há incompatibilidade entre a lei nova e a anterior;
- Revogação expressa: o novo texto indica quais normas foram revogadas.
Ver art. 2º § 1º da LINDB e art.9º da LC 95/98.
ATENÇÃO: REPRISTINAÇÃO
Quando o legislador derroga ou ab-roga lei que revogou a anterior, surge a questão de se saber se a lei que fora revogada fica restabelecida, recuperando sua vigência, independentemente de declaração expressa. Pelo art. 2º §3º da LINDB, a lei revogadora de outra lei revogadora não restaura (repristina) a velha norma abolida, senão quando houver pronunciamento expresso do legislador a esse respeito.
Portanto, a repristinação, no Brasil, só ocorrerá com declaração expressa da lei. 
Exemplo: suponhamos que a lei B revogou expressamente a lei A. Imaginemos agora que a lei C revogue a lei B sem nada dispor acerca de repristinação. Poder-se-ia pensar que, desaparecendo a lei B (revogadora), a lei A voltaria a vigorar. Isso, no entanto, não ocorre, porquanto a revogação da lei revogadora, por si só, não produz repristinação.
Em uma situação bem específica, é possível o efeito repristinatório em decisões de ações do controle concentrado de constitucionalidade conforme Art.11§2º da Lei 9868/99:
Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da decisão, (...).
§ 1o A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.
§ 2o A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.
Ainda, os critérios de resolução de antinomias normativas podem conduzir à revogação: hierarquia; cronologia; especialidade. (Ver abaixo).
Outras situações normativas podem solucionar conflitos normativos: as disposições transitórias (direito intertemporal) – regras, normalmente no final de uma lei (p.ex, CF e CC), que regulam situações entre lei velha e lei nova e os princípios da retroatividade e irretroatividade das normas.
CRITÉRIOS TRADICIONAIS PARA A SOLUÇÃO DE ANTINOMIAS:
- Critério hierárquico: lex superior derogat legi inferiori = lei superior revoga lei inferior;
- Critério cronológico: lex posterior derogat legi priori = lei posterior revoga lei anterior;
- Critério da especialidade: lex specialis derogat legi generali = lei especial revoga lei geral;
Critérios mais novos (contemporâneos)
- Critério da constitucionalidade
- Critério principiológico.
Conflito entre critérios (antinomias de segundo grau e os metacritérios de resolução):
Hierárquico x Cronológico – lei posterior incompatível com lei superior anterior = prevalece a hierarquia;
Especialidade x Cronológico – lei anterior especial x lei posterior geral = prevalece a especial;
Hierárquico x Especialidade – em tese, é difícil apontar o que prevalece, mas se afirma que a hierarquia prevalece (principalmente, lei constitucional). A supremacia do critério da especialidade só se justificaria, utilizando-se um princípio mais amplo de justiça – o princípio supremo da justiça: entre duas normas incompatíveis dever-se-á escolher a mais justa.
LACUNAS JURÍDICAS (completude ou plenitude do ordenamento jurídico)
Está-se diante de uma lacuna quando o direito objetivo não oferece, em princípio, uma solução para um caso concreto. Há controvérsia acerca da real existência de lacunas no Direito. Entretanto, podemos dizer que existe lacuna quando surge uma situação nova, não regulada pelo ordenamento jurídico: ex.: situações novas surgidas a partir da Internet.
Uma lacuna deve ser, então, preenchida. Trata-se do processo de integração da norma. Basicamente, a integração normativa (resolução de lacunas) ocorre conforme o Art. 4º da LINDB.
Dispõe, com efeito, o art. 140 do Código de Processo Civil:
“Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.”
Preceitua, por sua vez, o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”
A ESTRUTURA TEXTUAL DAS LEIS CONFORME A LC95/98
ESQUEMA: a ESTRUTURA de uma LEI (conforme arts. 3º-7º, LC95/98)
LEI N 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005. │→ “epígrafe”
 Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência │ → “ementa”
do empresário e da sociedade empresária.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: │→ “preâmbulo”
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial │→ “o objeto da lei e o
respectivo âmbito de aplicação
e a falência do empresário e da sociedade empresária, 
doravante referidos simplesmente como devedor.
Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
 II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
· A “PARTE PRELIMINAR” da lei compreende a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das disposições normativas.
· Após, vem a “PARTE NORMATIVA”: compreende o texto das normas de conteúdo substantivorelacionadas com a matéria regulada. São os artigos da lei que tratam da conteúdo propriamente dito da lei, da matéria legislada. Neste exemplo da L.11.101/05, a parte normativa vai do art. 3º ao 188.
· “PARTE FINAL”: compreende as disposições pertinentes às medidas necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, as disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando couber.
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 200. Ressalvado o disposto no art. 192 desta Lei, ficam revogados│→ “Cláusula de revogação”
o Decreto-Lei no 7.661, de 21 de junho de 1945,
e os arts. 503 a 512 do Decreto-Lei no 3.689, 
de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
Art. 201. Esta Lei entra em vigor 120 (cento e vinte) dias após sua publicação. │→ “Cláusula de vigência”
(conferir arts. 8º-9º, LC95/98)
FECHO DA LEI:
O fecho da lei contém referência a dois acontecimentos importantes da História brasileira: a declaração da independência e a proclamação da República:
Brasília, 9 de fevereiro de 2005; 184º da Independência e 117º da República.
ASSINATURA E REFERENDA:
Presidente da República e Ministro de Estado que tem relação com a matéria da lei.
DA ARTICULAÇÃO E DA REDAÇÃO DAS LEIS (CONFORME ART. 10, LC95/98):
· Unidade básica: ARTIGO
Art. 1º a 9º, depois 10, 11, 12, ...
- A parte inicial (de cima) do artigo chama-se caput (“cabeça”).
· os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os incisos em alíneas e as alíneas em itens;
· os “PARÁGRAFOS” serão representados pelo sinal gráfico "§", seguido de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente apenas um, a expressão "parágrafo único" por extenso. Então: §1º ao §9º, depois §10, §11, §12...
· os “INCISOS” serão representados por algarismos romanos (I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV...), as “ALÍNEAS” por letras minúsculas (a, b, c, d, e, f, g...) e os “ITENS” por algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7...).
Um exemplo: “A legitimidade ativa do Mandado de Segurança coletivo está no Art.5º, LXX, “a” e “b”, CF” lê-se: “artigo quinto, inciso setenta, alíneas “a” e “b” da Constituição Federal”.
ADENDO: TEXTO DA LC 95/98 até o art.12.
LEI COMPLEMENTAR Nº 95, DE 26 DE FEVEREIRO DE 1998
Dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos que menciona.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA 
Faço saber que o Congresso Nacional decreta 
e eu sanciono a seguinte Lei Complementar:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º A elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis obedecerão ao disposto nesta Lei Complementar.
Parágrafo único. As disposições desta Lei Complementar aplicam-se, ainda, às medidas provisórias e demais atos normativos referidos no art. 59 da Constituição Federal, bem como, no que couber, aos decretos e aos demais atos de regulamentação expedidos por órgãos do Poder Executivo.
Art. 2º (VETADO)
§ 1º (VETADO)
§ 2º Na numeração das leis serão observados, ainda, os seguintes critérios:
I - as emendas à Constituição Federal terão sua numeração iniciada a partir da promulgação da Constituição;
II - as leis complementares, as leis ordinárias e as leis delegadas terão numeração seqüencial em continuidade às séries iniciadas em 1946.
CAPÍTULO II
DAS TÉCNICAS DE ELABORAÇÃO, REDAÇÃO E ALTERAÇÃO DAS LEIS
Seção I
Da Estruturação das Leis
Art. 3º A lei será estruturada em três partes básicas:
I - parte preliminar, compreendendo a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das disposições normativas;
II - parte normativa, compreendendo o texto das normas de conteúdo substantivo relacionadas com a matéria regulada;
III - parte final, compreendendo as disposições pertinentes às medidas necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, às disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando couber.
Art. 4º A epígrafe, grafada em caracteres maiúsculos, propiciará identificação numérica singular à lei e será formada pelo título designativo da espécie normativa, pelo número respectivo e pelo ano de promulgação.
Art. 5º A ementa será grafada por meio de caracteres que a realcem e explicitará, de modo conciso e sob a forma de título, o objeto da lei.
Art. 6º O preâmbulo indicará o órgão ou instituição competente para a prática do ato e sua base legal.
Art. 7º O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo âmbito de aplicação, observados os seguintes princípios:
I - excetuadas as codificações, cada lei tratará de um único objeto;
II - a lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não vinculada por afinidade, pertinência ou conexão;
III - o âmbito de aplicação da lei será estabelecido de forma tão específica quanto o possibilite o conhecimento técnico ou científico da área respectiva;
IV - o mesmo assunto não poderá ser disciplinado por mais de uma lei, exceto quando a subseqüente se destine a complementar lei considerada básica, vinculando-se a esta por remissão expressa.
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral. (Incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’ . (Incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Art. 9º A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas. (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Parágrafo único. (VETADO) (Incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Seção II
Da Articulação e da Redação das Leis
Art. 10. Os textos legais serão articulados com observância dos seguintes princípios:
I - a unidade básica de articulação será o artigo, indicado pela abreviatura "Art.", seguida de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste;
II - os artigos desdobrar-se-ão em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os incisos em alíneas e as alíneas em itens;
III - os parágrafos serão representados pelo sinal gráfico "§", seguido de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste, utilizando-se, quando existente apenas um, a expressão "parágrafo único" por extenso;
IV - os incisos serão representados por algarismos romanos, as alíneas por letras minúsculas e os itens por algarismos arábicos;
V - o agrupamento de artigos poderá constituir Subseções; o de Subseções, a Seção; o de Seções, o Capítulo; o de Capítulos, o Título; o de Títulos, o Livro e o de Livros, a Parte;
VI - os Capítulos, Títulos, Livros e Partes serão grafados em letras maiúsculas e identificados por algarismos romanos, podendo estas últimas desdobrar-se em Parte Geral e Parte Especial ou ser subdivididas em partes expressas em numeral ordinal, por extenso;
VII - as Subseções e Seções serão identificadas em algarismos romanos, grafadas em letras minúsculas e postas em negrito ou caracteres que as coloquem em realce;
VIII - a composição prevista no inciso V poderá também compreender agrupamentos em Disposições Preliminares, Gerais, Finais ou Transitórias, conforme necessário.
Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:
I - para a obtenção de clareza:
a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma versar sobreassunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria da área em que se esteja legislando;
b) usar frases curtas e concisas;
c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e adjetivações dispensáveis;
d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais, dando preferência ao tempo presente ou ao futuro simples do presente;
e) usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os abusos de caráter estilístico;
II - para a obtenção de precisão:
a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende dar à norma;
b) expressar a idéia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras, evitando o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico;
c) evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao texto;
d) escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na maior parte do território nacional, evitando o uso de expressões locais ou regionais;
e) usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a primeira referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu significado;
f) grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais, exceto data, número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
g) indicar, expressamente o dispositivo objeto de remissão, em vez de usar as expressões ‘anterior’, ‘seguinte’ ou equivalentes; (Incluída pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
III - para a obtenção de ordem lógica:
a) reunir sob as categorias de agregação - subseção, seção, capítulo, título e livro - apenas as disposições relacionadas com o objeto da lei;
b) restringir o conteúdo de cada artigo da lei a um único assunto ou princípio;
c) expressar por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma enunciada no caput do artigo e as exceções à regra por este estabelecida;
d) promover as discriminações e enumerações por meio dos incisos, alíneas e itens.
Seção III
Da Alteração das Leis
Art. 12. A alteração da lei será feita:
I - mediante reprodução integral em novo texto, quando se tratar de alteração considerável;
II – mediante revogação parcial; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
III - nos demais casos, por meio de substituição, no próprio texto, do dispositivo alterado, ou acréscimo de dispositivo novo, observadas as seguintes regras:
a) revogado; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
b) é vedada, mesmo quando recomendável, qualquer renumeração de artigos e de unidades superiores ao artigo, referidas no inciso V do art. 10, devendo ser utilizado o mesmo número do artigo ou unidade imediatamente anterior, seguido de letras maiúsculas, em ordem alfabética, tantas quantas forem suficientes para identificar os acréscimos; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
c) é vedado o aproveitamento do número de dispositivo revogado, vetado, declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal ou de execução suspensa pelo Senado Federal em face de decisão do Supremo Tribunal Federal, devendo a lei alterada manter essa indicação, seguida da expressão ‘revogado’, ‘vetado’, ‘declarado inconstitucional, em controle concentrado, pelo Supremo Tribunal Federal’, ou ‘execução suspensa pelo Senado Federal, na forma do art. 52, X, da Constituição Federal’; (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
d) é admissível a reordenação interna das unidades em que se desdobra o artigo, identificando-se o artigo assim modificado por alteração de redação, supressão ou acréscimo com as letras ‘NR’ maiúsculas, entre parênteses, uma única vez ao seu final, obedecidas, quando for o caso, as prescrições da alínea "c". (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
Parágrafo único. O termo ‘dispositivo’ mencionado nesta Lei refere-se a artigos, parágrafos, incisos, alíneas ou itens. (Inciso incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)
A TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO [footnoteRef:10] [10: Indicação de leitura específica: BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Trad. de Maria Celeste Leite Cordeiro Leite dos Santos. Brasília: Ed. UnB, 1999.] 
	Estuda os aspectos da UNIDADE (fontes e hierarquia), COERÊNCIA e COMPLETUDE do ordenamento jurídico.
A UNIDADE (FONTES e HIERARQUIA) DO ORDENAMENTO JURÍDICO
NOÇÃO DE UNIDADE: deriva da ideia de Hans Kelsen de uma “construção escalonada de ordenamento jurídico”, em forma de pirâmide (ver esquema abaixo), na qual se partirmos de uma norma inferior, chegaremos em uma norma superior até a fonte originária daquele ordenamento jurídico (a “norma fundamental”: o fundamento de validade de todas as normas do sistema) [footnoteRef:11]. [11: Indicação de leitura específica: KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução João Baptista Machado. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2006.] 
NOÇÃO DE HIERARQUIA: As normas de um ordenamento jurídico não estão todas no mesmo plano. Existem graus diferentes de normas jurídicas, ou seja, há normas superiores e inferiores. Há, portanto uma estrutura ou ordem hierárquica.
Lembrando as FONTES DO DIREITO como estatais e não-estatais:
- FONTES ESTATAIS: legislação (leis, princípios) - “legislação ou atividade legiferante é o processo pelo qual um ou vários órgãos estatais formulam e promulgam normas jurídicas de observância geral, que podem ser primárias, tais como a lei constitucional, a lei complementar, a lei ordinária, a lei delegada, a medida provisória, o decreto legislativo, as resoluções do Senado, ou secundárias, como os decretos regulamentares, as portarias, as circulares, ordens de serviço. A rigor, a fonte jurídica formal é o processo legislativo constituído por um conjunto de fases constitucionalmente estabelecidas pelas quais há de passar o projeto de lei até sua transformação em lei vigente. Em regra, os trâmites constitucionalmente previstos são: iniciativa, discussão, deliberação, sanção, promulgação e publicação”[footnoteRef:12]. [12: DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.335.] 
O ordenamento jurídico é um complexo abstrato de normas. A doutrina jurídica constrói modelos para utilizá-lo e interpretá-lo. P.ex., a idéia de estrutura hierárquica ou “estrutura piramidal” do ordenamento.
O Ordenamento Jurídico tem, ao mesmo tempo, uma estrutura piramidal e em forma de rede. O ordenamento é piramidal, pois coexistem diversos critérios com importâncias diversas.
REPRESENTAÇÃO DA HIERARQUIA NORMATIVA DO DIREITO BRASILEIRO:
OBS. IMPORTANTES SOBRE A PIRÂMIDE: 
1) A CF é a norma máxima do ordenamento. A norma de hierarquia superior. Todas as outras normas devem estar de acordo ou conforme a CF, sob pena de inconstitucionalidade (isso precisa ser declarado pelo Judiciário). Existe a CF original derivada do Poder Constituinte Originário e os dispositivos que foram alterados por Emenda Constitucional. A CF só pode ser alterada por EMENDA CONSTITUCIONAL sujeita à quorum especial e não pode atingir matérias intocáveis que não podem ser modificadas (= “cláusulas pétreas”) = Ver art. 60, e § 4ºCF. Assim, uma EC pode ser declarada inconstitucional (v. Decisão da ADI 939, STF, em 1994). 
2) Os Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos (TIDH): V. Art.5° § 3º, CF: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Se os TIDH forem aprovados seguindo este procedimento terão status de EC (primeiro nível). Se forem aprovados usando procedimento de LO, terão status de SUPRALEGALIDADE, ou seja, abaixo da CF, mas acima da legislação ordinária (v. Decisão do RE 466.343 do STF, em 2008) (segundo nível).
3) Os atos normativos primárioscorrespondem às espécies normativas previstas no Art. 59, CF. São assim chamados porque são elaborados diretamente pelo Poder Legislativo no processo legislativo constitucional. São normas AUTÔNOMAS. São as leis complementares, as leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções.
4) Os atos normativos secundários são subalternos, não autônomos, correspondem às espécies normativas de grau inferior: portarias, circulares, resoluções normativas, regimentos, ordens de serviço. Apresentam 2 características básicas: não são normas autônomas, visto que dependem dos atos normativos primários e são elaborados por diversos órgãos governamentais, p.ex., Ministérios, Agências Reguladoras, Autarquias, Conselhos.
* A questão da Lei Complementar x Lei Ordinária: já houve muita discussão no sentido da superioridade da lei complementar, mas o entendimento dominante é de que são leis situadas no mesmo plano (V. Decisões do STF: RE 377.457, de 2008 e ADC 1, de 1993). Entretanto, quando uma delas tratar de assunto da outra, entende-se que LC com matéria de LO é só “formalmente” LC, mas “materialmente” LO. LO com matéria de LC é inconstitucional. Mesmo assim, são diferentes: a lei complementar só é utilizada para complementar artigos da CF, quando há esse pedido e o quorum de aprovação é maior = maioria absoluta (art.69, CF). P.ex., art.59, parágrafo único; art.93; art.131, CF. 
A lei ordinária é a lei mais comum, utilizada para regular todos os tipos de assunto e pode ser aprovada por quorum simples. É fruto da atividade típica do Poder Legislativo. A lei ordinária só não pode ser usada para tratar de assunto reservado à lei complementar, sob pena de inconstitucionalidade.
Exemplos: 
- lei ordinária – CC; CPC; L.8078/90; L.8245/91;
- lei complementar – LC 95/98 (sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal); LC 101/00 (responsabilidade fiscal);
Outras espécies na CF:
- Medidas provisórias – ver arts. 59, V e 62, CF;
- Lei delegada – ver arts. 59, IV e 68, CF;
- Decreto legislativo – ver arts. 59, VI, CF e 49, I, CF;
- Resoluções – ver arts. 59, VII, CF;
- Tratados internacionais – de direitos humanos – art.5º §3º = Emenda Constitucional. O restante equivale à lei ordinária.
- Decretos regulamentares – regulamentam leis.
- Os princípios estão encartados na CF, nos Códigos e nas Leis, mas podem ser implícitos no ordenamento jurídico. Ver, p.ex., o art.1º e 3º e 5ª da CF.
- A jurisprudência é o “conjunto de decisões dos Tribunais”. Quando há grande divergência da jurisprudência, os Tribunais editam súmulas. Hoje, temos até a súmula vinculante do STF (ver art.103-A da CF).
- FONTES NÃO-ESTATAIS: costume jurídico e doutrina.
- costume jurídico é uma norma não escrita que surge da prática longa e reiterada de uma sociedade. Aceito como obrigatório pela comunidade.
costume conforme a lei (secundum legem) – arts. 599, 615, 724, CC;
costume na falta da lei (praeter legem) – arts 4º, LINDB e 126, CPC. Caso do cheque “pré-datado”;
costume contra a lei (contra legem) – desuso; artigo ou lei “letra morta”, que caiu em desuso total em função da evolução da sociedade.
- doutrina – conjunto de estudos dos aplicadores e pensadores do direito. Explicam e interpretam e criam o direito.
OBSERVAÇÕES: O art. 59 da Constituição Federal não estabeleceu uma relação hierárquica entre as espécies normativas. Segundo a melhor doutrina, com exceção das emendas à Constituição, todas as demais estão no mesmo plano hierárquico (são chamadas de normas primárias). O que as distingue é o processo de elaboração mais ou menos solene e o campo de atuação entre elas (que não pode ser “invadido” por outra). Em grau inferior estão classificados os decretos regulamentares, estabelecidos pelo Poder Executivo para facilitar a execução de uma lei. Essa espécie normativa não retira seu fundamento de validade diretamente da Constituição, mas sim da lei que ela está regulamentando, por isso é chamada de norma secundária. Acrescente-se: normas internas (ex.: regimentos internos de um tribunal), normas individuais (como contratos ou testamentos), etc.
INDAGAÇÕES
1. Há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária?
A posição majoritária da doutrina é a de que não há. A hierarquia somente ocorre quando uma espécie normativa encontra sua força imperativa em uma norma imediatamente superior, e isso não acontece entre elas. É certo que a lei complementar possui um quorum especial (maioria absoluta) para aprovação, bem como um campo de atuação expressamente delineado na própria Constituição. Já a lei ordinária necessita apenas de maioria simples, sem delimitação de campo de atuação. No entanto, essas peculiaridades formais não autorizam que se estabeleça uma relação de subordinação entre elas. Ambas retiram seu fundamento de validade diretamente da Constituição.
Sobre o assunto, vale acrescentar, ainda, as seguintes orientações do Supremo Tribunal Federal: a lei ordinária não pode regular matéria reservada pela Constituição para a lei complementar, sob pena de inconstitucionalidade formal; já a lei complementar pode tratar de matéria relativa à lei ordinária sem haver vício formal, mas nesse caso a lei complementar, apesar do nome, será considerada materialmente ordinária, posto que seu conteúdo permanecerá de cunho mais simples.
2. Lei federal é hierarquicamente superior a lei estadual ou municipal?
Em princípio, não se pode falar em hierarquia entre normas oriundas de entes estatais distintos (federal, estadual, distrital ou municipal). Na verdade, não se trata de um conflito de hierarquia, mas de conflito de competências. O que ocorre é que cada norma deve respeitar seu âmbito de atuação previsto na Constituição Federal. Em caso de eventual conflito entre tais normas, analisa-se na Constituição a competência por ela outorgada a cada um dos entes. Assim, se a matéria é de competência do Estado-membro e a União legislou, a lei estadual é que deve prevalecer. Portanto, não se pode falar em superioridade hierárquica da lei federal sobre a estadual ou municipal. Prevalece a norma editada pelo ente competente constitucionalmente para o trato da matéria.
A COERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO
NOÇÃO DE COERÊNCIA: o ordenamento jurídico é um sistema e deve ser aplicado de modo coerente, lógico. Isto implica desfazer as incertezas, obscuridades e a falta de lógica interna.
Trata-se do problema das antinomias ou da existência de normas contrárias e incompatíveis dentro do ordenamento jurídico. No momento da aplicação do direito, em caso de antinomia, o intérprete deve afirmar qual norma prevalece.
CRITÉRIOS TRADICIONAIS PARA A SOLUÇÃO DE ANTINOMIAS:
- Critério hierárquico: lex superior derogat legi inferiori = lei superior revoga lei inferior;
- Critério cronológico: lex posterior derogat legi priori = lei posterior revoga lei anterior;
- Critério da especialidade: lex specialis derogat legi generali = lei especial revoga lei geral;
Critérios mais novos (contemporâneos)
- Critério da constitucionalidade
- Critério principiológico.
Conflito entre critérios (antinomias de segundo grau e os metacritérios de resolução):
Hierárquico x Cronológico – lei posterior incompatível com lei superior anterior = prevalece a hierarquia;
Especialidade x Cronológico – lei anterior especial x lei posterior geral = prevalece a especial;
Hierárquico x Especialidade – em tese, é difícil apontar o que prevalece, mas se afirma que a hierarquia prevalece (principalmente, lei constitucional). A supremacia do critério da especialidade só se justificaria, utilizando-se um princípio mais amplo de justiça – o princípio supremo da justiça: entre duas normas incompatíveis dever-se-á escolher a mais justa.
Lembrando o Art. 2º, § 1º, LINDB:
Art. 2º, § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
A COMPLETUDE DO ORDENAMENTO JURÍDICO
O PROBLEMADAS LACUNAS JURÍDICAS 
Está-se diante de uma lacuna quando o direito objetivo não oferece, em princípio, uma solução para um caso concreto. Há controvérsia acerca da real existência de lacunas no Direito. Entretanto, podemos dizer que existe lacuna quando surge uma situação nova, ainda não regulada especificamente pelo ordenamento jurídico.
Uma lacuna deve ser, então, preenchida. Trata-se do processo de integração da norma. Basicamente, a integração normativa (resolução de lacunas) ocorre conforme o Art. 4º da LINDB:
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”
No mesmo sentido, o art. 140 do Código de Processo Civil:
“Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.”
Qualquer cidadão tem o direito de acionar o Judiciário em caso de lesão ou ameça de lesão a direito. O Judiciário, por sua vez, tem o dever de julgar conforme o art. 5º, XXXV, CF.
A INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
A interpretação do direito é a operação que tem por fim solucionar uma dada questão jurídica, mediante a compreensão clara, exata e completa da norma estabelecida pelo legislador. Consiste em determinar o sentido e o alcance da expressão jurídica, porque se interpreta o direito em dois momentos ou níveis diferentes, correspondentes cada um a uma das “partes”, componentes ou fragmentos da norma: a hipótese de incidência e a disposição. Primeiro é preciso interpretar a hipótese de incidência da norma, para saber se o caso em exame nela se enquadra – isto é, definir o alcance da regra. Confirmando-se que a norma trata do caso em exame, interpreta-se-a de novo, na sua parte dispositiva, para entender qual a solução que manda aplicar ao caso (qual é o sentido da norma).
OS TIPOS TRADICIONAIS DE INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
Limongi França, em seu livro Hermenêutica Jurídica, nos introduz ao tema dizendo que “a interpretação não se restringe tão somente aos estreitos termos da lei, pois conhecidas são suas limitações para o bem exprimir do direito, o que, aliás, acontece com a generalidade das formas de que o direito se reveste”. Segundo o doutrinador, a interpretação pode ser dividida em 3 critérios, a saber: a) Agente da interpretação; b) Natureza; c) Extensão.
Vejamos o quadro sinótico da interpretação conforme definição de Limongi França [footnoteRef:13]: [13: FRANÇA, R. Limongi. Hermenêutica jurídica. 11. ed., rev. São Paulo: RT, 2011.] 
	Agente
	Interpretação Pública Autêntica
	
	Interpretação Pública Judicial
	
	Interpretação Privada Doutrinária
	Natureza
	Interpretação Gramatical
	
	Interpretação Lógica
	
	Interpretação Histórica
	
	Interpretação Sistemática
	Extensão
 
	Interpretação Declarativa
	
	Interpretação Extensiva
	
	Interpretação Restritiva
QUANTO AO AGENTE
Interpretação Pública Autêntica
É aquela oriunda do próprio órgão que criou a lei. Se o Poder Legislativo declara o sentido e alcance de um texto, o seu ato, é uma verdadeira norma jurídica, e só por isso tem força obrigatória, ainda que ofereça interpretação incorreta, em desacordo com os preceitos basilares da hermenêutica.
Exemplifica-se a interpretação autêntica através do art. 150, §4° e §5° do CP em que o próprio legislador procurou estabelecer os contornos da palavra “casa”.
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: 
§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. 
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa": 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 
Interpretação Pública Judicial
É aquela realizada pelos juízes ou Tribunais (órgãos do Poder Judiciário) em que aplicam a lei no caso concreto. Oportuno anotar que as decisões reiteradas formam a jurisprudência e, por conseguinte, através do efeito vinculativo, formam as Súmulas.
Interpretação Privada Doutrinária
É aquela interpretação, ligada a uma questão do direito científico, realizada pelo doutrinador que demanda pesquisas em que são apresentadas especial significado sobre o assunto interpretado.
QUANTO À NATUREZA
Interpretação Gramatical 
Limongi França bem diz que a interpretação gramatical é aquela que tem como ponto de partida o exame do significado e alcance de cada uma das palavras do preceito legal, ou seja, o próprio significado das palavras. Contudo, importante dizer que em casos de dúvida entre os vários significados de uma frase ou palavra, o intérprete gramatical deve aceitar o significado comum, salvo se puder demonstrar um uso linguístico especial. Se os significados variam, é decisivo aquele dominante ao tempo da elaboração da lei. 
Os autores, ainda acrescentam que a interpretação gramatical, atualmente, é insuficiente para conduzir o intérprete a um resultado conclusivo, pois, pode haver textos ambíguos, anfibológicos ou até mesmo a imprecisão do legislador ao elaborar o texto da lei, por isso, é necessário que os elementos por ela fornecidos sejam articulados com os demais, propiciados pelas outras espécies de interpretação.
Por fim, insta dizer que a interpretação gramatical também é conhecida por interpretação literal ou interpretação filológica.
Interpretação Lógica
Esta interpretação leva em consideração a finalidade da norma jurídica. Ela é subdividida em critério subjetivo e objetivo. No primeiro caso, leva em consideração qual foi a intenção de o legislador ao elaborar a norma jurídica, analisando principalmente o processo legislativo da sua criação. Já o segundo leva em consideração a finalidade da lei. A interpretação lógica também é conhecida por interpretação teleológica.
Interpretação Histórica
É a pesquisa do processo evolutivo da lei, a história dos seus precedentes, auxilia o aclaramento da norma. Os projetos de leis, as discussões havidas durante sua elaboração, a Exposição de Motivos, as obras científicas do autor da lei são elementos valiosos de que se vale o intérprete para proceder à interpretação. Limongi França, complementa, dizendo que a interpretação histórica é aquela que indaga das condições de meio e momento da elaboração da norma legal, bem assim das causas pretéritas da solução dada pelo legislador.
A interpretação histórica também é conhecida por interpretação histórica sociológica.
Interpretação Sistemática
Procura extrair o conteúdo da norma jurídica por meio da análise sistemática do ordenamento jurídico. Uma vez que este sofrer de falta de lógica. Quem irá colocar lógica no sistema é o interprete ou o cientista do Direito. Parte-se sempre da interpretação gramatical, analisando-se os vários dispositivos legais até se chegar a uma conclusão interpretativa.
Limongi França divide esta interpretação em dois aspectos diversos:
1) Quando é feita em relação à própria lei a que o dispositivo pertence; e
2) Quando se processa com vistas para o sistema geral do direito positivo em vigor.
No primeiro caso, revela considerar o caráter geral da lei; o livro, título ou parágrafo onde o preceito se encontra; o sentido tecnológico-jurídico com que certas palavras são empregadas no diploma, etc. Já no segundo caso, importa atender à própria índole do direito nacional com relação as matérias semelhantes à da lei interpretada; ao regime político do país; às últimas tendências do costume, da jurisprudência e da doutrina, no que concerne ao assunto do preceito etc.
Tourinho Filho nos ensina que o interprete recorre a este tipo de interpretação quando a dúvida não recai sobre o sentido de uma expressão ou de uma fórmula da lei, mas sim sobre a regulamentação do fato ou da relação sobre que se deve julgar. Aqui o intérprete deve colocar a norma em relação com o conjunto de todo o Direito vigente e com

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