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DOCUMENTÁRIO A MARGEM DO CORPO- ANÁLISE CRÍTICA

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Aluna: Lara Silva Costa
1° semestre Direito matutino
Prof° Clodovil Moreira Soares
28/03/2020
ATIVIDADE OBRIGATÓRIA I - INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA: ANÁLISE CRÍTICA SOBRE O DOCUMENTÁRIO “ A MARGEM DO CORPO”:
	O documentário “ Á margem do corpo” , gravado em 2006, tem como personagem central Deuseli, uma mulher negra, diarista, de 19 anos. Curiosamente, em nenhum momento a personagem aparece na gravação, nem mesmo por fotos, logo, sua história é contada pelo ponto de vista de terceiros, com discursos muitas vezes divergentes, preconceituosos e sugestivos a cerca da personalidade de Deuseli e dos acontecimentos que permeiam sua trajetória.
	Como dito por Paula, amiga de Deuseli, ela foi vítima de abusos por parte da família desde sua infância, sendo esses abusos os possíveis precursores de traumas e problemas na saúde mental desta mulher.
 	A primeira questão tratada no documentário é o estupro de Deuseli provocado por Nego Vila, ocorrido em 1996 ( do qual resultou uma gravidez) , onde novamente há ambiguidade no discurso das pessoas, algumas até descrentes da culpa de Wilson, sugerindo inclusive que Deuseli teria simulado toda a situação. 
	Nego Vila (Wilson) , por sua vez, vem de uma família de sete irmãos com histórico de alcoolismo e sua mãe, que trazia o sustento da casa por meio da coleta seletiva. Inclusive, Esmeralda Dias ( mãe de Wilson), deixa claro seu descontentamento e revolta com o Estado no que se refere ao exercício injusto das leis e no desamparo de programas sociais que contribuíssem com uma melhor qualidade de vida. 
	Dentro do presídio, Wilson tinha um bom comportamento, porém seguia estuprando detentos novatos além de conviver muito bem com o estuprador da sua irmã. Tal situação, deixa claro problemas de ordem psicológica e psiquiátrica que deviam ter sido sanados por outros meios e não através da simples punição penal.
	O fato é que mesmo que o estuprador tenha sido preso, a vítima foi acometida por uma grave negligência em dois momentos. O primeiro, quando Deuseli busca fazer o exame de corpo de delito e a médica, provavelmente por nojo e preconceito, instrui que ela tome banho e retorne no outro dia, e quando finalmente o exame é feito muitos detalhes são deixados para trás: a falta de uma sobrancelha, os cabelos cortados, as marcas de mordidas. O segundo momento ocorre quando Deuseli escolhe abortar o feto fruto do estupro - direito defendido claramente no artigo 128 do Código Penal- e tem sua decisão impossibilitada, quando o hospital cria diversos empecilhos e utiliza até mesmo de artifícios religiosos e de movimentos como o “pró vida” para convencê-la a desistir. Inclusive, tal falha do Estado em busca de defender a moral e os bons costumes, é a gênese da sequência de crimes que surgem depois. 
	Após oito dias no hospital, Deuseli foge de Alexânia e leva a gravidez adiante em Anápolis (Goiás).Lá ela passa a trabalhar na casa de outra família, porém os discursos divergentes – e dotados de preconceito e esteriotipagem - a respeito da moça persistem. É válido lembrar que Deuseli passou a sofrer com epilepsia, convulsões e uma possível esquisofrênia após o estupro, entretanto as pessoas que conviveram com ela têm plena convicção de que eram episódios de possessão por forças malignas. 
	Aos 11 meses, Fernanda, a filha de Deuseli é encontrada morta afogada na banheira. Deuseli foi encontrada amarrada nua na sala enquanto a casa estava revirada, além disso, haviam muitas semelhanças com a cena do estupro, como o cabelo cortado e mordidas pelo corpo . Antes mesmo da polícia chegar, os curiosos já afirmavam que Deuseli havia matado a filha, enquanto a mesma dizia que a casa havia sido invadida por malandros. Assim, quando a delegada chega ao local faz com que Deuseli confesse o crime através de ameaças de choque eletrico com um fio, então, ela assume o homicídio da filha. Entretanto, crimes confessados por meio de coação geram um automático relaxamento da pena, fato que não foi levado em conta neste caso. Por fim, Deuseli vai presa, passando de uma vítima de estupro para assassina.
	No presídio, no qual aparentemente homens e mulheres ficavam juntos, Deuseli passa a se relacionar com Divino e engravida novamente. Após ter esse bebê, passa a morar na Casa da Gestante. Quando ela conclui sua pena, não consegue ter a guarda da sua filha - que continua morando neste programa- por estar indo a julgamento e provavelmente por não ter condições psicológicas, já que ela tomava 5 tipos de remédios controlados. A partir daí ela passa a morar com Divino e engravida mais uma vez, porém aos 5 meses de gestação Deuseli tem uma série de crises convulsivas e é hospitalizada. Novamente há a interferência da igreja que insistia em fazer o parto prematuro, alegando que uma criança não deveria morrer sem ser batizada. Porém Deuseli vai a óbito levando consigo seu terceiro filho. 
	Diante disso é possível concluir que durante toda a sua vida, inclusive quando (aparentemente) mata sua filha, Deuseli nada mais é do que uma vítima das anomalias e ineficiências do Estado, sendo totalmente desempoderada, subjulgada e tendo direitos negados o tempo inteiro.
	Deuseli tenta de todas as formas alcançar seus direitos e por todos os lados tem portas fechadas. Histórias assim acontecem diariamente com várias mulheres negras, suburbanas e pobres, assim como Deuseli, porém as pessoas e o poder seguem de olhos fechados, afinal, oque importa de fato é a preservação da moral e dos bons costumes.
CRIMES: 
 
	A) HOMICÍDIO: Deuseli Vanines mata Fernanda Vanines, de 11 meses afogada numa banheira em Anápolis. Fernanda foi fruto de um estupro, que não conseguiu abortar, então sua morte foi movida pela rejeição por parte da mãe e por uma possessão maligna, como dito pela Igreja.
	B) DISCRIMINÇÃO RACIAL : a discriminação se repete em vários momentos do documentário, principalmente nos discursos das testemunhas. Entretanto o momento que pode ser considerados como crime é quando a meédica pede para que Deuseli retorne para casa e tome um banho e volte no outro dia, por preconceito.
	C) ESTUPRO: ocorre quando Nego Vila estupra Deuseli Vanines, quando o mesmo estupra outros detentos dentro do presidio e quando outro criminoso estupra a irmã do próprio Nego Vila.
	D) NEGLIGÊNCA: quando a médica capacitada para fazer o exame de corpo de delite em Deuseli pede para que ela volte pra casa e tome banho, apagando assim as provas do crime de estupro.
	E) AMEAÇA: acontece quando a delegada faz com que Deuseli assuma ter matado a filha por meio de ameaça de tortura com um fio de ventilador.
DELINQUENTE: O deliquente muda a depender do crime. No homicídio, é Deuseli; na discriminação racial e na negligência é a médica; no estupro, Nego Vila e o rapaz que ele conheceu na cadeia; no caso da ameaça o delinquente é a delegada.
VÍTIMA: a vítima na maioria dos crimes é Deuseli, exceto no homicidio e em um dos estupros,nestes as vítimas passam a ser Fernanda e a irmã de Nego Vila, respectivamente.
CONTROLE SOCIAL: pode ser entendido como o conjunto de instituições, estratégias e sanções que pretendem pomover e garantir o submetimento do indivíduo a modelos e normas vigentes na comunidade, ou seja, tem como função disciplinar e educar os indivíduos previnindo atos criminosos. No documentário, mesmo que frágil e falho, esse controle é observado através de:
	controle formal: medidas de encarceramento e pela atuação dos aparelhos do estado ( Ministério Público, Poder Judiciário e polícia)
	controle informal: através da religião, representada pela igreja católica e pela família.
ANÁLISE CRÍTICA DO SISTEMA CRIMINAL E SUA INFLUÊNCIA NOS CASOS APRESENTADOS: Mesmo sendo considerada culpada em um dos crimes, Deuseli nada mais é do que uma vítima das falhas do sistema criminal brasileiro, que é extremamente discriminatório, esteriotipando as pessoas de acordo com sua classe social, aparência e etnia, além de julga-la precipitadamente. Além disso, há um intenso uso do Direito Penal, sem analisar através de uma ótica criminologica,ou seja, não houve uma visão holística da situação nem uma preocupação social.

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