Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
' • • • Introdução, 1168 • Metabolismo hepático, 1768 • Metabolismo do tecido adiposo, 1171 • Metabolismo do tecido muscular, 1173 • Ajuste neuroendócrino do metabolismo em situações de demanda energética, 7175 • Bibliografia, 1178 1 1 68 ..,. Introdução Os dois grandes sistemas integradores do organismo, o sis tema endócrino e o sistema nervoso, interagem de diversas maneiras para assegurar a manutenção de níveis adequados de fornecimento, armazenamento e utilização de substratos energéticos em diferentes condições fisiológicas. No entanto, o controle neuroendócrino do metabolismo energético envolve a interação desses dois sistemas em um grande número de processos. Neste capítulo serão revistas exclusivamente, de maneira sucinta, as interações daqueles dois sistemas no con trole das vias metabólicas (de carboidratos, lipídios e proteí nas) dos tecidos que têm importância fundamental na home ostase calórica. Não será abordado, por exemplo, o controle neuroendócrino da ingestão de alimentos, assunto que tem despertado grande interesse pelas implicações no tratamento da obesidade (esse tema está exposto no Capítulo 26 -Controle Neuroendócrlno do Comportamento Alimentar). Os principais substratos diretamente utilizados pelos teci dos para produção de energia são a glicose e os ácidos graxos livres (AGL, não esterificados) que circulam no plasma ligados à albumina. Apesar de sua baixa concentração, os AGL plas máticos têm uma taxa de renovação (turnover) muito alta, e a quantidade diária de calorias derivadas de sua oxidação é maior que a da glicose, mesmo em condições de repouso e no estado alimentado. Por outro lado, os AGL do plasma não são utili:zados pelo cérebro, que têm um requerimento absoluto de glicose, embora possa, em certas condições, satisfazer parcial mente suas necessidades energéticas oxidando corpos cetôni cos. O sistema nervoso central (SNC) é responsável por cerca de 50% da glicose consumida diariamente para fins energéti cos. O suprimento adequado de substratos energéticos, para os diversos tecidos do organismo em condições basais e em situações de demanda alterada por fatores internos ou exter nos, depende principalmente do controle endócrino e neural do metabolismo de três tecidos: hepático, adiposo e muscular. O fígado é o principal responsável pela manutenção dos níveis glicêmicos e o tecido adiposo é o fornecedor dos AGL plas máticos. O tecido muscular, pela sua massa (de 40% a 45% do peso corporal) é um grande consumidor de substratos energéticos, e suas proteínas constituem importante fonte de aminoácidos. O SNC, por intermédio do sistema nervoso autônomo sim pático ou parassimpático, pode alterar o fluxo em vias meta bólicas do fígado ou dos tecidos adiposo e muscular, agindo direta ou indiretamente nesses tecidos, modulando a secre ção de hormônios tais como as catecolaminas, a insulina e o glucagon, que agem sobre as mesmas vias (ver Figura 74.1). Por esse motivo, nos itens seguintes deste capítulo, nos quais será examinado separadamente o controle neuroendócrino do metabolismo de cada um daqueles três tecidos, a descrição das alterações que podem ser induzidas pela inervação auto nôrnica e das áreas centrais envolvidas será precedida por um resumo das principais vias metabólicas do tecido abordado e sua regulação por hormônios. Embora as vias metabólicas básicas sejam comuns aos diversos tecidos, sua diferenciação e especialização funcional acarretam o predomínio de determi nados processos. O tecido hepático é o tecido funcionalmente mais diversificado, mantendo ativas diversas vias metabólicas importantes para a homeostase calórica, e será o primeiro a ser examinado. Não faz parte do escopo deste capítulo a des crição detalhada dos mecanismos celulares da recepção e transdução dos sinais hormonais ou neurais pertinentes. Na Aires 1 Fisiologia sua parte final serão apresentadas situações Qejum, exercício muscular e exposição ao frio) que ilustram como o SNC e o sistema endócrino agem de maneira coordenada para atender adequadamente às novas demandas energéticas, ativando ou inibindo o fluxo em vias metabólicas do fígado e dos tecidos adiposo e muscular. ..,. Metabolismo hepático • Regulação hormonal Metabolismo de carboidratos As principais vias do metabolismo de carboidratos no fígado e os pontos de sua regulação hormonal estão resumidos nas Figuras 74.1 e 74.2. Durante o período digestivo, grandes quantidades de glicose chegam ao fígado pelo sistema porta e são captadas pela célula hepática por um processo de difu são facilitada. O transportador de glicose predominante no hepatócito é o GLUT2, que não é sensível à insulina e tem um Km (constante de afinidade) para a glicose elevado, operando, portanto, abaixo dos níveis de saturação mesmo sob altas con centrações da hexose. Esta característica e o grande número de GLUT2 na membrana conferem ao hepatócito uma alta capa cidade de captação de glicose. Dessa maneira, ao contrário dos tecidos adiposo e muscular, o transporte pela membrana não é um passo limitante (regulável) da utilização hepática de glicose, e as concentrações de glicose livre (não fosforilada) dentro e fora do hepatócito são praticamente iguais, mesmo em condições de hiperglicemia. No interior do hepatócito, a glicose é fosforilada a glicose-6-P pela glicoquinase, que se diferencia das outras hexoquinases por ter um alto Km para a glicose e por não ser inibida pelo seu produto, a glicose-6-P. Essas características da enzima tornam-na bem adequada, não apenas para operar nas concentrações relativamente altas de glicose existentes na célula hepática, como para direcionar o fluxo de carbonos da glicose para a via glicolítica e para a sín tese de glicogênio. A fosforilação da glicose pela glicoquinase é o passo limitante da utilização da hexose pelo fígado. A insu lina ativa a glicoquinase, acelerando a fosforilação da glicose. Essa ação, acoplada à ativação da glicogênio sintase, estimula a síntese e armazenamento de glicogênio, efeitos ainda refor çados por uma inibição simultânea da glicogênio fosforilase, reduzindo a glicogenólise. O fluxo na via glicolítica também é estimulado pela insulina, que, além de acelerar a fosforila ção da glicose, ativa a fosfofrutoquinase e a piruvato quinase, enzimas-chave dessa via (Figura 74.2). Além disso, a insulina ativa a piruvato desidrogenase e com isso favorece a oxida ção do piruvato (produto final da glicólise) na mitocôndria. Paralelamente, a ativação da glicose-6-fosfato desidrogenase leva a um aumento do fluxo na via das pentoses, formando NADPH para a lipogênese (ver adiante). O papel principal do fígado no controle da homeostase glicídica é devido, em grande parte, à sua capacidade de sin teti:zar glicose a partir de moléculas menores, principalmente aminoácidos, lactato e glicerol. Esse processo, neoglicogê nese, consiste e.m uma reversão da via glicolítica (Figuras 74.1 e 74.2). A etapa dessa via catalisada pela piruvato quinase é contornada, produzindo P-enolpiruvato a partir de piru vato, pela ação de duas enzimas-chave (piruvato carboxilase e P-enolpiruvato carboxiquinase) e a etapa catalisada pela fosfofrutoqulnase é revertida pela frutose-1,6-bifosfatase. A 74 1 Controle Hormonal e Neural do Metabolismo Energético 1 1 69 Transportador de glicose (GLUT2) � ,,.-...... Glicogênio sintase Glucagon (+) ( Glicogênio Fosforilase Insulina(+) Epinefrina (+) Glicose-1-P Glicoquinase Hexoquinase ! -+---+--+ Glicose Glicose-6-P Shunt da ! NADP Glicose-6-fosfatase NADPH e Frutose-6-P) Fosf�frutoquinase Frutose-1 6-bifosfatase Insulina(+) ' Glucagon (-) Frutose-1,6-DP ! Triases+-------- ! -----i� P-enolpiruvato Piruvato quinase Insulina(+) Glucagon (-) Piruvato Epinefrina (-) Ácidos ----- -.. graxos - - _ _ PEP carboxiquinase Piruvato carboxilase Piruvato desidrogenase Insulina (+) - - - - Malonil-CoA ' ' ' ' ' ' ' ' • ' '• • Acetil-CoA carboxilase \ Proteínas Insulina (+) : �"-Oxaloacetato Glucagon (-) , t c�c:�b�e citrato --++-�r Acetii-coA ,./ Insulina(+) Proteases Glicocorticoídes (+) Insulina (-) Maiato : Aminoácidos 1-- ,' �-- .. .. - - - - -- OM ,' ' ' .... ", - - --- - - ----------- --------- - Corpos cetônicos Mitocôndria Figura 74.1 • Representação esquemática das principais vias metabólicas, com indicação dos pontos de ação hormonal. (+): estimulação; (-): inibição. (Descrição da figura no texto.) glicose-6-fostato assim formada pode ser direcionada para a síntese de glicogênio ou pode produzir, pela ação da glicose-6- fosfatase, glicose livre que passa para a circulação. A insulina exerce um importante efeito inibitório no fluxo neoglicogê nico. Além de inibir a piruvato carboxilase e a P-enolpiruvato carboxiquinase (PEPCK), o hormônio reduz o fornecimento de P-enolpiruvato para a neoglicogênese, pois aumenta a ati vidade da piruvato desidrogenase, que utiliza o piruvato para produção de acetil-CoA. As inibições da glicogenólise e da neoglicogênese são as principais responsáveis pela redução da produção hepática de glicose produzida pela insulina. A glicogenólise e a neoglicogênese são ativadas em situações de reduzida disponibilidade de glicose, aumentando a pro dução hepática da hexose. O glucagon tem um importante papel nessa adaptação. Este hormônio estimula a glicogenó lise ativando a fosforilase e inibindo, simultaneamente, a gli cogênio sintase; adicionalmente, aumenta o fluxo na via neo- glicogênica de várias maneiras: a) aumentando a capacidade de a célula hepática captar aminoácidos, os principais subs tratos neoglicogênicos; b) ativando a piruvato carboxilase, a PEPCK e a frutose-1,6-bifosfatase e c) inibindo as enzimas da via glicolítica, fosfofrutoquinase e piruvato quinase. A inibi ção desta última impede a formação do piruvato a partir do P-enolpiruvato formado na etapa inicial da neoglicogênese. Metabolismo lipídico Além de sua participação fundamental no controle da homeostase glicídica, o fígado tem um importante papel no controle da síntese e da oxidação de ácidos graxos. Em situa ções de abundância de substratos energéticos, os ácidos graxos são sintetizados no citosol a partir de acetil-CoA, proveniente em sua maior parte da descarboxilação do piruvato (produ zido na via glicolítica ou a partir de outros metabólitos, espe cialmente aminoácidos) pelo complexo intramitocondrial da 1 1 70 Sangue Hepatócito Glicogênio (2) ( ) �lu (+) INS (+) EPI (+) Glicose GLUT2 t--__. Glicose ., Glicose-6-P -=::::::-� (1) i NADPH • • ' • ' • ' ' Frutose-6-P Glicerol-3-P -__:·....------ (5) ( ) (4) INS ( ) INS (+) - GLU (-) (9) INS (-) Frutose-1,6-biP t i OM ------- PEP M l (6) � INS (+) \ GLU (-) Lactato � • Piruvato (8) �:::>INS (-) Maiato ..--w-- Maiato Piruvato 1 (7) t INS (+) Acetil-CoA ;:::::::> � Oxaloacetato Krebs EPI (-) , ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' • • ' ' ' ' ' • ' ' ' • ' • ' ' ' • ' • ' ' ' ' ' • ---------.... \ .... - .. ...... \ .. .. .. l ,, -' (11) - / INS (+) , , , ' GLU (-) ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' Aires 1 Fisiologia Retículo endoplasmático Sangue 10::,1) 1 VLDL 1 --H-- VLDL Acil graxo-CoA Acil graxo-CoA AG (intestino, veia porta) Citrato -++....;',_.....,., Citrato (1 O) INS (+) Mitocôndria ' • • • • ' ' ' ' Piruvato " (12) NADPH Maiato Oxaloacetato � HMG-CoA Colesterol e ésteres de colesterol Figura 74.2 • Representação esquemática do metabolismo de carboidratos e lipídios no fígado, com indicação dos pontos de ação hormonal. (+): estimulação; (-) inibi ção. INS: insulina; GLU: glucagon; EPI: epinefrina; GLUT2: transportador de glicose (tipo 2); TG: triacilgliceróis; VLDL: very low density lipotrotein; AG: ácidos graxos. As linhas tracejadas representam a utilização do NADPH como fonte de energia redutora para a síntese dos ácidos graxos. Os números entre parênteses representam as enzimas reguladoras que atuam no passo metabólico indicado. (1) Glicoquinase; (2) glicogênio sintase; (3) glicogênio fosforilase; (4) fosfofrutoquinase; (5) frutose-1,6-bifosfatase; (6) piruvato quinase; (7) piruvato desidrogenase; (8) piruvato carboxilase; (9) fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK); (10) citrato liase; (11) acetil-CoA carboxilase; (12) enzima málica. (Descrição da figura no texto.) piruvato desidrogenase. Além dessa síntese de novo, o fígado capta da circulação ácidos graxos pré-formados: ácidos gra xos livres, mobilizados do tecido adiposo, ou ácidos graxos incorporados em triacilgliceróis de lipoproteínas. Os ácidos graxos sintetizados ou captados são esterificados com glice rol-3-fosfato, formado a partir da di-hidroxiacetona na via glicolítica ou por fosforilação do glicerol pela gliceroquinase. Os triacilgliceróis podem ser armazenados no hepatócito ou incorporados em lipoproteínas (VLDL) secretadas pelo fígado (Figura 74.2). Esta recirculação em VLDL dos ácidos graxos que chegam ao fígado contribui para o fornecimento de mate rial energético em situações de demanda aumentada (p. ex., durante o jejum). Evidências recentes indicam que, além da glicose, via di-hidroxiacetona na via glicolítica, e do glicerol via gliceroquinase, compostos de 3 carbonos (piruvato, lactato e aminoácidos glicogênicos) podem ser utilizados pelo fígado para produzir o glicerol-3-fosfato necessário para a formação de triacilgliceróis e posterior incorporação em VLDL. Esta nova via, denominada gliceroneogênese, é mais estudada no tecido adiposo (ver adiante). A célula hepática tem um ativo sistema enzimático mitocondrial de �-oxidação de ácidos gra xos com produção de acetil-CoA. Se o afluxo de ácidos graxos para o fígado for excessivo, ocorre acúmulo de acetil-CoA e produção de corpos cetônicos (ácidos acetoacético e �-hidro xibutírico), que podem levar à acidose. Em condições nor mais, existe uma relação inversa entre a atividade lipogênica 74 1 Controle Hormonal e Neural do Metabolismo Energético 1 1 71 e a �-oxidação. Isto se deve ao fato de o malonil-CoA, for mado pela acetil-CoA carboxilase na primeira etapa da síntese de ácidos graxos, ser um inibidor da carnitina-aciltransferase I, enzima responsável pela ligação dos ácidos graxos com a carnitina e seu transporte para o interior da mitocôndria. A insulina estimula a síntese de ácidos graxos (lipogênese) no fígado, que se deve em parte ao aumento do fluxo glicolítico por ela produzido, associado à ativação do sistema da piruvato desidrogenase mitocondrial, aumentando o fornecimento de acetil-CoA oriundo da glicose. Além disso, a insulina ativa a acetil-CoA carboxilase, que parece ser a enzima limitante desse processo, e também a ácido graxo sintetase. Aumentando o fornecimento de glicerol-3-P derivado da via glicolítica, o hor mônio favorece ainda a esterificação e o armazenamento dos ácidos graxos sintetizados. Em virtude da ativação da acetil CoA carboxilase e do aumento da concentração intracelu lar de malonil-CoA, inibidor da camitina aciltransferase I, a insulina reduz a �-oxidação de ácidos graxos, tendo, portanto, um efeito anticetogênico. O glucagon, por outro lado, inibe a acetil-CoA carboxilase e a síntese de ácidos graxos. A conse quente queda dos níveis intracelulares de malonil-CoA ativa a carnitina aciltransferase I, estimulando a oxidação de ácidos graxos e a produção de corpos cetônicos. • Regulação neural Como referido anteriormente, o SNC não utiliza ácidos graxos de cadeia longa e tem um requerimento absoluto de glicose como fonte de energia. Em situações em que há ten dência à redução dos níveis circulantes de glicose, o SNC, por intermédio do sistema nervoso autônomo, intervém para impedir uma queda no seu suprimento de hexose, agindo especialmente no fígado, que é o principal controlador da pro dução desse substrato.O SNC pode alterar o fluxo nas vias metabólicas hepáticas diretamente, mediante a rica inervação simpática e parassimpática do hepatócito, ou indiretamente, ativando ou inibindo a secreção de hormônios que agem sobre as mesmas vias. O sistema nervoso simpático estimula a secre ção de glucagon pelas células a das ilhotas de Langerhans e inibe a secreção de insulina pelas células �· A ativação sim pática também resulta em maior síntese e secreção de cate colaminas (principalmente epinefrina) pela medula adrenal. No fígado, as catecolaminas, de modo semelhante ao gluca gon, levam à ativação da glicogenólise e da neoglicogênese. Os mecanismos intracelulares envolvidos na resposta glicogeno lítica à epinefrina são desencadeados, principalmente, pela ati vação de adrenorreceptores �2 e aumento das concentrações de cAMP, com consequente ativação da PKA (proteinoquinase dependente de cAMP). Isto leva à ativação da glicogênio fos forilase e inibição da glicogênio sintase, que resulta na degra dação do glicogênio. A estimulação de adrenorreceptores a1 também promove aumento da glicogenólise hepática e facilita a captação de aminoácidos pelo fígado, aumentando a dispo nibilidade de substratos para a neoglicogênese. Esses efeitos das catecolaminas, associados à maior secreção de glucagon e inibição da secreção de insulina pelo simpático, resultam em maior produção hepática de glicose e ajudam a evitar os danos irreversíveis dos neurônios resultantes de uma queda abrupta da glicose no sangue. Efeitos idênticos sobre glicogenólise e a neoglicogênese, com ativação das enzimas corresponden tes, podem ser obtidos pela estimulação direta dos terminais simpáticos do fígado. O aumento do fluxo simpático para as glândulas ou para o hepatócito é devido à ativação de neurô nios sensíveis à concentração de glicose, localizados no SNC. Neurônios sensíveis à glicose foram localizados em diversas regiões do SNC, tais como: os núcleos ventromedial, arque ado, supraquiasmático e paraventricular, no hipotálamo; a substância nigra, a área postrema e o núcleo do trato solitário, no tronco cerebral. Esses neurônios são também sensíveis a outros metabólitos e a diversos tipos de peptídios e citocinas, participando, portanto, do controle de outros aspectos do metabolismo energético. No entanto, sua capacidade de ativar as vias simpáticas eferentes para o fígado (e para o pâncreas, medula adrenal etc.) passa a ser a atividade predominante em situações de redução do suprimento de glicose. Sinapses coli nérgicas centrais também parecem estar envolvidas no con - trole da produção de glicose; sua estimulação, que aumenta o fluxo simpático eferente, leva a uma acentuada hiperglice mia por ativação da neoglicogênese hepática. Ao contrário do simpático, o parassimpático estimula a secreção da insulina, com a consequente redução da produção hepática de glicose, por inibição da glicogenólise e da neoglicogênese (ver ante riormente). O papel da inervação parassimpática do fígado no controle das vias metabólicas desse tecido não está bem escla recido, embora haja evidências de que a estimulação do vago aumente a atividade da enzima glicogênio sintase. O papel de fibras aferentes do vago na transmissão, para o SNC, de infor mações sobre a concentração hepática de metabólitos, inclu sive da glicose, é mais bem conhecido. .... Metabolismo do tecido adiposo • Regulação hormonal Metabolismo de carboidratos O metabolismo de carboidratos no tecido adiposo está diretamente ligado às duas funções básicas desse tecido: arma zenar gordura (triacilgliceróis) e mobilizar ácidos graxos de acordo com a demanda calórica. Ao contrário da célula hepá tica, o transporte de glicose pela membrana do adipócito é um passo limitante da utilização da hexose. O transportador pre dominante é o GLUT4, que é sensível à insulina. Promovendo a síntese e a translocação para a membrana de moléculas de GLUT4 presentes no retículo endoplasmático, a insulina esti mula o transporte de glicose para o interior da célula, onde é imediatamente fosforilada. A insulina estimula o fluxo na via glicolítica e na via das pentoses, gerando NADPH para a sín tese de ácidos graxos. Pelo fato de o adipócito, ao contrário do hepatócito, apresentar quantidades relativamente pequenas de gliceroquinase, o tecido adiposo é muito dependente do fluxo na via glicolítica (e, indiretamente, da insulina) para forneci mento do glicerol-3-fosfato necessário para a esterificação de ácidos graxos (ver adiante). Metabolismo lipídico Tal como ocorre no hepatócito, no tecido adiposo os ácidos graxos são sintetizados de novo no citosol a partir de acetil-CoA, proveniente, em sua maior parte, da descarboxilação do piru vato (produzido na via glicolítica ou a partir de outros meta bólitos) pelo complexo intramitocondrial da piruvato desidro genase. Esse processo é estimulado pela insulina, que além de aumentar o fluxo na via glicolítica, ativa o sistema da piruvato desidrogenase e as enzimas acetil-CoA carboxilase e glicogênio sintase (Figura 74.3). O tecido adiposo pode também captar áci dos graxos já formados que se encontram na circulação incor porados em triacilgliceróis de lipoproteínas (especialmente, no 1 1 72 período pós-absortivo, em quilomícrons e VLDL). Essa capta ção é estimulada pela insulina, que ativa a lipase lipoproteica, enzima localizada na membrana basal dos capilares próximos dos adipócitos, que hidrolisa os triacilgliceróis de lipoproteínas (Figura 74.3). A esterificação e o armazenamento dos ácidos graxos, sintetizados de novo ou captados da circulação, reque rem fornecimento adequado de glicerol-3-fosfato. Em virtude da pequena quantidade de gliceroquinase, esse fornecimento depende de um fluxo glicolítico ativo (e, portanto, da insulina) para produção de glicerofosfato a partir da di-hidroxiacetona, pela ação da glicerofosfato desidrogenase. Evidências relativa mente recentes indicam que, em situações de pouca disponibili dade de glicose e níveis baixos de insulina, o glicerofosfato pode também ser formado via gliceroneogênese; esta consiste em uma reversão parcial da glicólise, até di-hidroxiacetona, a partir de piruvato ou de outros produtores de piruvato, como lactato e aminoácidos glicogênicos (Figura 74.4). A via é semelhante à gliconeogênese hepática, com formação intramitocondrial de oxaloacetato, que é transportado para o citosol, onde é descarbo xilado pela PEPCK O fosfoenolpiruvato assim formado segue as etapas inversas da glicólise até di-hidroxiacetona. Semelhante à gliconeogênese, a enzima-chave da gliceroneogênese é a PEPCK, que é fortemente inibida pela insulina. Sua atividade aumenta, portanto, em situações em que a concentração plasmática desse hormônio encontra-se reduzida (como no jejum), com conse quente aumento da geração de glicerol-3-fosfato. A formação de glicerol-3-fosfato seria importante para assegurar a síntese e o estoque de triacilgliceróis no tecido adiposo (Figura 74.4). Outro efeito importante da insulina é a inibição da mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, que é devida a um aumento da fração de ácidos graxos que são reesterificados após a lipólise (hidrólise dos triacilgliceróis) e a uma redução da velocidade de Glicose (2) ,.........._ Insulina (+) � GLUT4 Glicose Glicogênio (1) l Glicose-6-P Aires 1 Fisiologia lipólise, devida ao efeito inibitório do hormônio na atividade da lipase hormônio-sensível. O glucagon e as catecolaminas, especialmente a epinefrina secretada pela região medular da adrenal, ativam a lipase hormônio-sensível (LHS) e são potentes estimuladores da lipólise. Esse efeito do glucagon, que aumenta o fluxo de ácidos graxos para o fígado, potencia sua ação ceto gênica. Durante muitos anos, a LHS foi considerada a única enzima-chave reguladora da mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo. Entretanto, recentemente, uma nova enzima denominada lipase dos triglicerídios do adipócito(ATGL), ou desnutrina ou fosfolipase A2 Ç, foi encontrada principalmente no tecido adiposo branco e marrom, estando também envolvida na regulação do depósito e da mobilização de lipídios do tecido adiposo. Esta enzima usa os triacilgliceróis como substrato e o produto desta hidrólise, o diacilglicerol, é o principal substrato fisiológico da LHS. A diferença na preferência dos substratos pelas ATGL e LHS sugere que a mobilização de ácidos graxos envolve uma ação coordenada dessas duas enzimas. A ATGL parece ser regulada pelos mesmos hormônios que a LHS e, embora também seja fosforilada, diferente da LHS, esta reação de fosforilação não ocorre pela PKA. No tecido adiposo há tam bém outra proteína estrutural denominada perilipina, que se localiza na superfície da gota de gordura. Quando fosforilada pela PKA, a perilipina muda sua estrutura tridimensional e pos sibilita que a LHS, também ativada por fosforilação pela PKA, tenha acesso ao seu substrato, o triacilglicerol, e promova a sua hidrólise em AGL e glicerol. • Regulação neural Talvez pela falta de métodos mais sensíveis, não há, até o momento, evidências claras da existência de inervação paras simpática do tecido adiposo. Comparada à de outros tecidos, a inervação simpática Adipócito do tecido adiposo é relativamente pequena, e sua importância fisiológica foi posta em dúvida por muitos anos. Em situações de aumento da demanda de substratos energé ticos pelos tecidos periféricos, o tecido adi Sangue / \ Shuntda pentose Via glicolítica lnsulína (-) Glucagon (+) Catecolaml nas (+) poso contribui para atender essa demanda ativando, por meio do simpático, o pro cesso de lipólise e mobilização de ácidos graxos. O simpático pode ativar a lipólise \ ) Triose-P --- Glicerol-3-P------ � - ! . 7 \ Piruvato jºs graxos T:HS Ciclo de � Acetil-CoA C4l Krebs Malonil-CoA (5) • • AGL LPL Insulina (+) Lipoproteínas Quilomícrons Glicerol Figura 74.3 • Representação esquemática do metabolismo de carboidratos e lipídios no tecido adiposo bran co, com indicação dos pontos de ação hormonal. (+): estimulação; (-) inibição. Os números entre parênteses representam as enzimas reguladoras que atuam no passo metabólico indicado. (1) Hexoquinase; (2) glicogênio sintase; (3) piruvato desidrogenase; (4) acetil-CoA carboxilase; (5) LPL, lipase lipoproteica; LHS: lipase hormônio sensível; GLUT4: transportador de glicose (tipo 4), sensível à insulina; AGL: ácidos graxos livres. (Descrição da figura no texto.) agindo diretamente no adipócito ou indi retamente, inibindo a secreção de insulina e estimulando a secreção de glucagon, e especialmente de epinefrina. Como antes referido, estes dois últimos são hormônios lipolíticos, ao contrário da insulina. Fibras simpáticas inervam tanto o parênquima (adipócitos) do tecido como a vasculatura, inclusive os capilares, e sua estimulação, em condições de completa ausência de fatores hormonais, produz ativação da lipólise. Esta ativação, com aumento da atividade da LHS, é devida à liberação de norepinefrina nos terminais simpáticos próximos aos adi pócitos. Por outro lado, existem evidências de que o processo de mobilização para a cir culação dos ácidos graxos livres resultantes da lipólise pode ser facilitado pela inerva ção simpática dos capilares. Estudos mos tram que a estimulação simpática aumenta a permeabilidade (o coeficiente de filtra- 74 1 Controle Hormonal e Neural do Metabolismo Energético Glicose "" EB { Insulina t Glicerol Canal de ......_ �'Y-'-.... aquagliceporina --- Glicose-6P / SNS + EB ( Glicerol Di-hidroxi- Gliceroquinase acetona-P ----... i Glicerol-3P Fosfoenol piruvato AG,,,.----..\._ ..--- 1 1 73 PEPCK ""EB Insulina i Disponibilidade de glicose i TAG ção) de capilares do tecido adiposo, facilitando a penetração da albumina no espaço intercelular. A albumina é a transportadora dos ácidos graxos livres formados pela lipólise, e a facilitação de seu trânsito pelo espaço intercelular possibilitaria uma eficiente remoção dos ácidos graxos para a circulação, evitando seu acúmulo, que poderia ter um efeito inibitório sobre a lipólise. Diversas regiões do SNC fazem conexão com o sistema ner voso simpático e podem estar envolvidas no processo de ati vação da lipólise pelo tecido adiposo: núcleos da rafe e núcleo do trato solitário no tronco cerebral, núcleos supraquiasmá tico, dorsomedial e paraventricular do hipotálamo, área hipo talâmica lateral e área pré-óptica medial. Independentemente de sua possível contribuição para a ativação da lipólise no tecido adiposo, essas regiões centrais participam do controle de outros aspectos do metabolismo energético. Por exemplo, diversas evidências indicam que, além de sua ação lipolítica, o simpático inibe no tecido adiposo os processos de diferen - ciação e proliferação de adipócitos. Esses processos ocorrem com diferente intensidade nos diversos depósitos de tecido adiposo e parecem ser controlados, em parte, pelas áreas cen - trais conectadas ao simpático. Oxaloacetato ' Piruvato .... Metabolismo do tecido muscular Lactato Aminoácidos Figura 74.4 • Repesentação esquemática da formação do glicerol-3-fosfato na célula adiposa pela via glicolítica e pela gliceroneogênese e formação dos triacil gliceróis. TAG: triacilgliceróis; AG: ácidos graxos, SNS: sistema nervoso simpático; PEPCK:fosfoenolpiruvato carboxiquinase;©. estimulação; (f): aumento; (!):diminui ção. (Descrição da figura no texto.) • Regulação hormonal Metabolismo de carboidratos Sangue Célula muscular A captação da glicose pela célula muscular ocorre princi palmente por difusão facilitada pelos transportadores do tipo 4 (GLUT 4), sensíveis à insulina, semelhante ao que ocorre na célula adiposa. Assim que a glicose atravessa a membrana, é rapidamente fosforilada pela hexoquinase a glicose-6-fosfato, de tal maneira que a quantidade de glicose livre Glicose Insulina(+) .......... -� GLUT4 �- Glicose Glicogênio sintasa Insulina (+) � Glicose-6-P __ ___,.,.. Glicose-1 -P Glicogênio (2)! ~ Frutose-1,6-DP Insulina (-) i Citrato Piruvato / \(3) Lactato �- Lactato Acetil-CoA Ciclo de Krebs AGL--t-t-- Ácido graxos / Corpos cetônicos Corpos cetônicos Oxaloacetato Proteínas Insulina (+) AA • • ; Insulina (-) Catecolamina (-) i Glicocorticoides (+) AA Figura 74.5 • Representação esquemática do metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas no músculo, com indicação dos pontos de ação hormonal. (+):estimulação; (-): inibição. Os números entre parênteses repre sentam as enzimas reguladoras que atuam em cada passo indicado: (1) hexoquinase; (2) fosfofrutoquinase-1; (3) piruvato desidrogenase; (AA) aminoácidos e (AGL) ácidos graxos livres. (Descrição da figura no texto.) dentro da célula é praticamente nula. Pelo fato de o tecido muscular representar quase a metade do peso corporal, ele é o principal responsável pelo clearance da glicose circu lante após uma refeição. Uma vez dentro da célula muscular, a glicose pode seguir a via de síntese do glicogênio (glicogênese ), a qual em condições normais encontra-se ativada, principalmente pela ação da insulina, que estimula a atividade da glicogênio sintase e inibe a glicogênio fosforilase, semelhante ao que ocorre no hepatócito (Figura 74.5). Enquanto no fígado a quantidade de gli cose armazenada na forma de glicogênio é em torno de 5%, no músculo este valor é da ordem de 2%. Entretanto, o tecido muscular é o maior reservatório de glicogênio, devido à grande quantidade deste tecido existente no organismo dos mamíferos. A glicose pode também seguir a via glicolítica, for necendo ATP e lactato, principalmente em músculos brancos, de contração rápida, ricos em fibras do tipo li, que são pobres em mitocôndrias e trabalham em condições de anaerobiose. Já em músculos vermelhos, ricos em fibras do tipo I, de contração lenta e ricos em mitocôndrias, a glicosepode ser totalmente oxidada a C02, ATP e H20, for- 1 1 74 necendo energia pela fosforilação oxidativa na cadeia respira tória mitocondrial. O músculo pode também utilizar, dependendo da situação fisiológica, outros substratos energéticos, principalmente os ácidos graxos livres, corpos cetônicos e o próprio lactato. Tanto os ácidos graxos livres como os corpos cetônicos podem ser oxidados nas células musculares, fornecendo molé culas de acetil-CoA e citrato, que podem, respectivamente, inibir a piruvato desidrogenase e a fosfofrutoquinase, o que leva ao acúmulo de glicose-6-fosfato, que bloqueia a atividade da hexoquinase, levando à inibição da utilização da glicose pelo tecido muscular. Este mecanismo é conhecido como ciclo de Randle ou ciclo glicose-ácido graxo, podendo parcial mente explicar a resistência à utilização da glicose observada em situações de diabetes, quando os níveis de ácidos graxos livres e corpos cetônicos estão elevados. As células musculares também apresentam receptores para as catecolaminas, prin cipalmente os adrenorreceptores �2, que uma vez ativados podem estimular a glicogenólise (via PKA), pela fosforilação da glicogênio fosforilase, e inibir a glicogênio sintase. Como no músculo não existe a enzima glicose-6 fosfatase, a glicose- 6-fosfato formada pela glicogenólise é oxidada pela via glicolí tica (Figura 74.5), podendo ainda fornecer lactato. Outra via metabólica que pode ocorrer em músculos esque léticos, ainda não muito explorada, é a glicogeniogênese, que consiste na síntese de glicogênio a partir de outros substra tos diferentes da glicose, principalmente do lactato. Quando produzido pelo músculo em grande quantidade, o lactato pode ser uti lizado pelas próprias células musculares e sinte tizar glicogênio, havendo, em parte, a participação da enzima PEPCK, mas principalmente a reversão da reação catalisada pela enzima piruvato quinase. O lactato liberado pelas célu las musculares, principalmente as de tipo II, pode também ser utilizado tanto pelas células vizinhas do tipo I, dentro de um mesmo músculo de natureza mista; além disso, ao ser liberado na corrente sanguínea, pode ser utilizado por fibras musculares esqueléticas oxidativas e cardíacas, pela conver são do lactato em piruvato (pela presença da desidrogenase láctica, LDH intramitocondrial) e, posteriormente, em acetil CoA, sendo oxidado pelo ciclo de Krebs para a produção de energia. Esses processos metabólicos ocorrem principalmente em situações de exercício, quando há formação de grande quantidade de lactato. Metabolismo de lipídios Sabe-se que os processos metabólicos de síntese e degra dação dos triacilgliceróis não são os mais importantes no músculo, embora haja considerável quantidade de gordura interfibras, dependendo do tipo de músculo considerado. O estudo do metabolismo lipídico em músculo deve ser analisado com cautela, uma vez que os achados experimentais podem ser decorrentes dos processos metabólicos que ocorrem no tecido adiposo que existe entre as fibras e não propriamente no inte rior das células musculares. Desse modo, principalmente por problemas metodológicos, pouco se sabe a respeito do papel de fatores hormonais no metabolismo de lipídios na célula muscular de indivíduos adultos. Entretanto, acredita-se que os principais substratos energéticos das células musculares são os ácidos graxos (AG) de cadeia longa. Uma vez dentro das células, estes são acilados com coenzima A e, após ligação com a carnitina, pela ação da carnitina-acil-transferase I (cuja ati vidade é regulada pelos níveis de malonil-CoA, à semelhança do que ocorre no fígado), são transportados para o interior da mitocôndria para serem oxidados. Já é bastante conhecido que Aires 1 Fisiologia a oxidação dos AG inibe a oxidação da glicose, pelos mecanis mos enzimáticos já explicados. Tanto em células musculares esqueléticas como em cardía cas, são encontradas proteínas transportadoras de AG (FAT/ CD36 e FABPpm), que podem ser translocadas de um pool intracelular para a membrana plasmática, aumentando o transporte de AG durante a contração muscular, por exem plo. Estudos em humanos indicam que músculos de indiví duos com obesidade abdominal ou diabetes tipo 2 apresentam incapacidade de oxidação de AG. Os AG captados e não ade quadamente oxidados podem levar ao acúmulo nos estoques de TAG no músculo, o que tem sido associado à resistência à insulina observada no músculo esquelético desses indivíduos. Metabolismo de proteínas O músculo é o tecido que contém a maior quantidade de proteínas do organismo e é certamente o tecido especiali zado na síntese e na degradação das proteínas. Embora nos mamíferos não existam proteínas de reserva, estas biomo léculas estão em constante renovação, tendo cada proteína uma meia-vida diferente, variando de minutos até dias. Os aminoácidos resultantes da degradação dessas moléculas, dependendo da situação fisiológica, podem ser: 1) reutiliza dos para síntese de novas proteínas; 2) precursores de gli cose, pela neoglicogênese hepática (são os aminoácidos gli cogênicos); 3) precursores de ácidos graxos/corpos cetônicos (são os aminoácidos cetogênicos) ou 4) oxidados a C02, ATP e H20. Embora nos últimos quinze anos tenha ocorrido grande avanço no conhecimento dos mecanismos envolvi dos no controle da degradação de proteínas, pouco se sabe sobre este assunto, ao contrário dos processos envolvidos na síntese proteica. Um dos problemas para o estudo do meta bolismo no tecido muscular consiste, sem dúvida, nas difi culdades metodológicas. No tecido muscular, assim como na maioria das outras células, estão descritas pelo menos qua tro vias proteolíticas (Figura 74.6): 1) a lisossomal (sendo as catepsinas as principais enzimas envolvidas); a dependente de cálcio (com a participação das enzimas calpaínas I e II e o inibidor endógeno destas enzimas, a calpastatina); 3) a dependente de ATP, ubiquitina (Ub) e proteassoma (UPS), com o envolvimento das enzimas proteassoma 20S e 26S, e 4) a residual, cujas enzimas e controle ainda não são muito estudados. É descrito que a insulina estimula a captação dos aminoácidos pelas células musculares, assim como estimula os processos de síntese proteica (como transcrição de genes, formação dos polissomas, velocidade de tradução dos mRNA e síntese dos fatores de iniciação e elongação). Os mecanis mos pelos quais a insulina inibe os processos de degradação das proteínas ainda são pouco conhecidos. Há evidências de que a insulina reduz a formação dos lisossomos, assim como inibe a atividade da via dependente de cálcio e inibe também a síntese dos componentes da via proteolítica UPS (tais como a síntese das subunidades a e � das proteassomas 20S e 26S e da própria ubiquitina. Esta é um polipeptídio de 76 aminoácidos, existente em todas as células e que marca as proteínas que serão degradadas pela proteassoma. No músculo esquelético, o glucagon não apresenta efeito bioló gico, pois neste tecido os receptores para este hormônio são praticamente inexistentes. Os glicocorticoides são potentes estimuladores da degradação de proteínas, especialmente nos músculos brancos ricos em fibras glicolíticas, onde agem ativando principalmente o sistema UPS. Em situações de demanda energética, como durante o jejum, quando os níveis circulantes de insulina caem e os dos glicocorticoides 74 1 Controle Hormonal e Neural do Metabolismo Energético 1 1 75 aumentam, o músculo constitui o tecido mais relevante para o fornecimento de aminoácidos para a formação de glicose pela neoglicogênese hepática. Os hormônios tireoidianos são muito importantes no controle do metabolismo de proteínas no músculo esquelético, estimulando tanto os processos de síntese como os de degradação dessas moléculas. Durante o jejum prolongado, por exemplo, a queda dos níveis dos hor mônios tireoidianos proporciona uma diminuição na síntese, mas, principalmente, uma reduçãona degradação das proteí nas, fazendo com que as proteínas musculares sejam preser vadas e o indivíduo possa sobreviver um maior período de tempo sem alimento. O papel das catecolaminas no metabo lismo de proteínas musculares está discutido mais adiante. • Regulação neural O músculo esquelético é inervado pelo sistema nervoso somático e a interação do neurotransmissor acetilcolina, liberado pelo terminal nervoso na região da placa motora, desencadeia a resposta contrátil do músculo. Recentemente foi descoberto que, além da inervação motora, as fibras musculares esqueléticas são diretamente inervadas por ter minações simpáticas noradrenérgicas, independentemente da inervação dos vasos sanguíneos deste tecido. Diferente dos seus efeitos catabólicos no metabolismo de carboidra tos e de lipídios (que promove glicogenólise e lipólise, res pectivamente), o SNS exerce uma ação anabólica no meta bolismo de proteínas do músculo esquelético, por meio das catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) secretadas pela medula da adrenal e pela norepinefrina, liberada na fenda sináptica. Estudos in vivo em ovinos, suínos e ratos mostra ram que 13-agonistas (como o isoproterenol ou clembuterol) causam um aumento da massa muscular e do peso corpo ral. O tratamento com 13-agonistas também reduz a perda de massa muscular, comumente observada em diferentes si tuações catabólicas, tais como em: queimados, presença de tumores, distrofia muscular, endotoxemia, hipertireoidismo e outras. Estudos mais recentes demonstram que a epinefrina, tanto em humanos como em ratos, promove diminuição dos níveis plasmáticos de aminoácidos e da proteólise muscular. Estudos in vitro, com músculos esqueléticos isolados da pata poste rior de ratos, demonstraram que as catecolaminas e agonistas 13-adrenérgicos reduzem as atividades das vias proteolíticas dependente de cálcio e UPS, por um processo dependente do cAMP e, provavelmente, da PKA. Além da inibição da proteólise muscular, a inervação simpá tica pode atuar diretamente, via adrenorreceptores 132, estimu lando a taxa de síntese de proteínas em músculos oxidativos. Os efeitos antiproteolíticos e pró-sintéticos das catecolaminas são observados durante o jejum e o diabetes e seriam fisiolo gicamente importantes para preservar o conteúdo de proteí nas neste tecido, além de sua estrutura e função, em situações de deprivação de hormônios anabólicos, tais como a insulina, e/ou de liberação de hormônios catabólicos, como os glico corticoides. As catecolaminas parecem fazer parte de um sistema regulador de ajuste fino do metabolismo de proteínas, pro porcionando ao organismo submetido a uma situação de estresse a capacidade de sobrevivência, devido à preserva ção de sua massa muscular esquelética e, consequentemente, de sua postura, componentes estes imprescindíveis para a manutenção dos seus movimentos de defesa e de busca de alimentos. ..,. Ajuste neuroendócrino do metabolismo em situações de demanda energética • Situações de estresse Quando o organismo é submetido a situações de estresse, entendido como estímulos nocivos ou potencialmente nocivos que tendem a provocar desequilíbrio suas de funções fisioló gicas, pode ocorrer a mobilização de suas reservas de carboi dratos e de lipídios. De uma maneira geral, essas respostas de aumento da glicemia ou dos AGL do plasma são mediadas pelo SNC. A hiperglicemia resulta da ativação da glicogenólise por catecolaminas provenientes da ativação simpática da medula da adrenal, ao passo que o aumento de AGL resulta, geralmente, da ativação direta de fibras simpáticas do tecido adiposo, com liberação local de norepinefrina e aceleração da lipólise. Embora o SNC seja, de maneira geral, independente da insulina, estudos recentes mostram que existem áreas restritas no hipotálamo, como por exemplo, o núcleo arqueado, que são sensíveis à insulina e à glicose. O mecanismo da excitação des tes neurônios pela glicose parece ser bastante semelhante ao das células 13 pancreáticas e envolve o fechamento de canais de K+ sensíveis ao ATP. Quando ocorrem alterações dos níveis de glicose circulante, essas áreas contribuem para a manutenção de níveis adequados de substratos energéticos no plasma, tanto modulando a secreção de hormônios pancreáticos (insulina e glucagon) ou adrenais (catecolaminas e glicocorticoides), quanto atuando diretamente, por via neural, nos tecidos peri féricos, como o hepático, o adiposo e o muscular. • Jejum A manutenção dos níveis glicêmicos nos mamíferos é de fundamental importância para o SNC, que não utiliza ácidos graxos de cadeia longa. Quando o jejum se inicia, a tendência à queda dos níveis glicêmicos estimula a glicogenólise hepática que representa o mecanismo inicial para a correção da glice mia. Como as reservas de glicogênio hepático (cerca de 75 g, em humanos) tendem a se esgotar rapidamente, ocorre aumento da atividade neoglicogenética. Os principais substratos para a neoglicogênese são aminoácidos provenientes da proteólise muscular (Figura 74.6), principalmente de músculos brancos ricos em fibras glicolíticas. Dessa maneira, a excreção de ureia pela urina aumenta. Essas alterações são acompanhadas por uma queda dos níveis circulantes de insulina e aumento dos níveis de glucagon, epinefrina, cortisol e hormônio de cres cimento. Os hormônios cujos níveis aumentam em resposta à hipoglicemia são conhecidos como hormônios contrarre gulatórios da insulina. A queda da relação insulina/glucagon durante o jejum, além de promover as alterações metabólicas aqui descritas, ativa o processo de lipólise no tecido adiposo. Enquanto o glicerol resultante servirá como substrato para a neoglicogênese hepática, a elevação dos ácidos graxos livres (AGL) do plasma provocará um aumento de sua utilização por tecidos periféricos, principalmente pela massa muscular. Nos músculos, que representam cerca de 40% do peso corpo ral total, a utilização aumentada dos AGL inibe a utilização de glicose, substituindo, dessa maneira, o consumo de glicose pelo dos AGL. Desse modo, o processo de neoglicogênese fica menos sobrecarregado, com poupança de proteína muscular. 1 1 76 Aires 1 Fisiologia Sistemas proteolíticos Conjugação ubiquitina Sistema lisossomal Liberação de proteínas miofibrílares Sistema dependente de ca2• ?? Vários mediadores intracelulares Sistema UPS Sistema residual Controle hormonal, neural e nutricional '------1 + t Proteólise Hipertrofia/atrofia Figura 74.6 • Representação da célula muscular e os sistemas proteolíticos (lisossomal, dependente de cálcio, UPS e residual) responsáveis pelo aumento (hipertrofia) ou diminuição (atrofia) da massa muscular. As proteínas miofibrilares, mais abundantes neste tecido, parecem ser principalmente degradadas pelo sistema UPS, após sofrerem ubiquitinação. UPS: sistema ubiquitina-proteassoma. (Descrição da figura no texto.) No caso de o jejum se prolongar por mais de alguns dias, ocorrem outras alterações neuro-hormonais, sendo que a principal delas é a redução da atividade tireoidiana com queda no metabolismo basal e maior conservação das reservas meta bólicas. Por outro lado, o SNC passa a utilizar como substrato energético os corpos cetônicos, produzidos em grande quan tidade pelo aumento do afluxo de AGL para o fígado. Os cor pos cetônicos, substituindo a glicose como sua principal fonte de energia, levam a uma redução da proteólise muscular e uma acentuada diminuição da neoglicogênese hepática, com grande economia de proteínas musculares. A diminuição da proteólise é acompanhada de acentuada queda da excreção de ureia na urina. No jejum mais prolongado, além da queda dos níveis de hormônios tireoidianos, as catecolaminas, mais precisamente a epinefrina, também parecem ter importân cia promovendo redução da proteólise e aumentando a sín tese de proteínas em músculo esquelético, auxiliando, assim, a manutenção da massa muscular.Para garantir a utilização de glicose pelos tecidos totalmente dependentes da oxidação desta hexase (tais como hemácias, medula renal e cérebro), o rim passa a produzir glicose, pela neoglicogênese renal, utili zando principalmente glutamina, e pela ativação da PEPCK (Figura 7 4. 7). A sobrevivência ao jejum prolongado parece ser determi nada pela reserva de tecido adiposo; quando esses estoques são depletados pela continuação da lipólise e redução da lipo gênese, há uma repentina perda da massa proteica, com fra queza dos músculos respiratórios, podendo advir pneumonia e morte. O fato de o nosso organismo ser capaz de sobreviver por cerca de 2 a 3 meses sem a ingestão de alimentos, ilustra clara mente a precisa e coordenada regulação do seu metabolismo, orquestrada pela participação sincronizada de hormônios, metabólitos e sistema nervoso (Figura 74.7). • Exercício Durante o exercício, há necessidade de suprir os músculos esqueléticos com substratos energéticos adicionais, mantendo ao mesmo tempo um fornecimento adequado de glicose para o SNC. A contribuição desses substratos para a produção de ATP muscular varia de acordo com a intensidade e a duração da atividade física. Em repouso, o tecido muscular utiliza rela tivamente pouca glicose. Iniciado um exercício muito intenso e de curta duração (no máximo de 30 segundos), os níveis de ATP são mantidos, principalmente, pela transferência de fos fatos de alta energia de moléculas de creatinofosfato para o ADP. Com a continuidade da atividade física, o aumento da atividade contráctil e da concentração de cálcio intracelular ativa tanto a hidrólise do glicogênio muscular como a cap tação da glicose, promovendo aumento na oferta de glicose intracelular que passa a ser metabolizada na via glicolítica gerando ATP e lactato. Este aumento da utilização de gli cose pelo músculo promovida pelo exercício pode aumentar em até 30 vezes e ocorre por um mecanismo independente da insulina. Esta é a fase anaeróbia da atividade física que se caracteriza por altas concentrações de lactato no sangue. Em situações de esforço físico mais prolongado, os AGL plasmá ticos aumentam e passam a ser o substrato energético prefen cial utilizado pelos músculos. Durante essa fase, caracterizada pela aerobiose, cerca de 2/3 da energia despendida provêm da oxidação de AGL e 1/3 da glicose. A insulina e o glucagon intervêm na regulação do fornecimento dos dois substratos. Durante o exercício, os níveis de insulina diminuem, provo cando um aumento da produção hepática de glicose, que pode elevar-se 4 a 5 vezes, dependendo da intensidade e da duração do exercício. Nos exercícios de curta duração, predomina o aumento da glicogenólise. A medida que este se prolonga e se esgotam as reservas de glicogênio hepático, aumenta a con tribuição da neoglicogênese. A atividade da PEPCK, enzima chave desta via, é também aumentada pela ação do sistema nervoso simpático. O aumento dos AGL, durante o exercício, resulta da elevação da lipólise causada pela queda da relação I/G e da ativação simpática. O lactato liberado do músculo durante a fase de anaerobiose do exercício: 1) em grande parte é reciclado para glicose, por meio da neoglicogênese no fígado (ciclo de Cori); 2) pode ser reutilizado no próprio músculo para a síntese de glicogênio, pela glicogeniogênese (quando os 74 1 Controle Hormonal e Neural do Metabolismo Energético 1 1 77 ��@ � @<15 /j, � Hemácias, medula renal, etc Glicose Lactato Glicerol Alanina Ácidos graxos Lactato Alanina Neoglicogênese renal Glicose TG Tecido adiposo Figura 74.7 • Principais fluxos de metabólitos no jejum. Os aminoácidos (principalmente oriundos da proteína muscular) são a única fonte de glicose em situações de jejum (com contribuição do glicerol). A completa oxidação da glicose é reduzida pela produção de corpos cetônicos, que são utilizados como combustível alternativo, por exemplo, pelo SNC. Tecidos que utilizam quase exclusivamente glicose (p. ex., hemácias e medula renal) produzem lactato, que é reciclado na neoglicogênese. A maior fonte de combustível para oxidação são os triacilgliceróis (TG), advindos do tecido adiposo, que disponibilizam combustível na forma de ácidos graxos não esterificados e corpos cetônicos (via hepática). (Descrição da figura no texto.) níveis de lactato são muito elevados) ou 3) pode ser utilizado pelas fibras musculares esqueléticas oxidativas e cardíacas para geração de energia, por sua conversão a piruvato (pela LDH) e posterior oxidação pelo ciclo de Krebs. Durante o exercício, o catabolismo de aminoácidos con tribui pouco no fornecimento de ATP para o músculo. Com relação ao turnover de proteínas, admite-se atualmente que a síntese proteica muscular está reduzida, muito provavelmente por uma via de sinalização dependente de cálcio/calmodu lina. Embora alguns trabalhos demonstrem que a proteólise muscular possa estar aumentada durante os primeiros minu tos da atividade física, o efeito do exercício na degradação de proteínas musculares ainda permanece desconhecido. Uma importante resposta fisiológica durante o exercício é o aumento do débito cardíaco (com aumento da frequência e da força de contração), da ventilação e do fluxo de sangue para o músculo esquelético; há a dilatação específica de vasos sanguí neos por impulsos colinérgicos de nervos simpáticos e tam bém por efeitos locais de produtos do metabolismo, (como, por exemplo, os íons hidrogênio produzidos como ácido lác tico, que também causam relaxamento vascular). Além da ati vação do sistema nervoso simpático, outros hormônios, como o cortisol e o hormônio de crescimento, podem ser secretados em resposta ao exercício. Todos os eventos fisiológicos aqui resumidos são importantes para garantir a oferta e distribuição adequada de glicose ao organismo, principalmente ao SNC, que constitui o fator limitante do desempenho e da resistência do organismo ao esforço físico (Figura 74.8). • Frio Quando expostos a baixas temperaturas, os animais home otermos utilizam diversos mecanismos fisiológicos com o objetivo de manter a temperatura corporal constante. Um dos principais mecanismos utilizados é o aumento da produção de calor desencadeado pelo aumento da taxa metabólica basal de alguns tecidos, como: 1) da musculatura esquelética, na chamada termogênese dependente do tremor muscular e, 2) do tecido adiposo marrom, no processo denominado termo gênese independente de tremor muscular. Por muito tempo, acreditou-se que a importância fisiológica da termogênese do tecido adiposo marrom estava restrita a pequenos roedores e durante o período neonatal em humanos. No entanto, estudos recentes com tomografia de emissão de pósitrons demonstram que este tecido está localizado em quantidade nos ombros e na escápula e é extremamente ativo em indivíduos adultos. Os dois tipos facultativos de termogênese (dependente e independente do tremor) são regulados pelo SNC e utilizam como fonte principal de energia, para a produção de calor, a oxidação dos ácidos graxos oriundos: 1) da hidrólise dos tria cilgliceróis armazenados no próprio tecido (músculo e tecido adiposo marrom) e 2) principalmente da hidrólise dos tria cilgliceróis estocados no tecido adiposo branco e captados da circulação. Assim, durante exposição a baixas temperaturas, ocorre aumento da hidrólise dos triacilgliceróis do tecido adiposo branco e elevação no fornecimento de ácidos graxos necessários para a produção de calor pelo músculo esquelético e pelo tecido adiposo marrom. Este aumento da lipólise e, con sequentemente, da concentração plasmática de ácidos graxos durante o frio, parece ser mediado pela inervação simpática direta do tecido adiposo branco, com a participação da área pré-óptica medial e do hipotálamo lateral, uma vez que lesões eletrolíticas dessas áreas reduzem significativamente a mobi lização dos ácidos graxos nesta situação. A região medular daadrenal não interfere nesta resposta ao frio. Na exposição ao frio, há também elevação da atividade dos nervos simpáticos 1 1 78 Coração Simpático Aumento da frequência e da força de contração Aumento do débito cardíaco Simpático Supressão insulina Músculo Somátic0 �ontração glicogenólite Simpático Aires 1 Fisiologia Medula da adrenal Pâncreas Ácidos graxos Simpático Lacta to Lípólise Tecido adiposo Figura 74.8 • Controle do metabolismo pelo SNC durante o exercício físico. A epinefrina liberada pela medula da adrenal pode ser responsável ou pode intensificar os efeitos da inervação simpática, aumentando a lipólise e suprimindo a secreção de insulina. TG, triacilgliceróis; NOR, norepinefrina. (Descrição da fígura no texto.) do tecido adiposo marrom (com aumento da liberação local de norepinefrina) e hidrólise dos triacilgliceróis armazena dos, o que leva à liberação dos ácidos graxos para a oxidação pelos adipócitos marrons e à produção de calor. O fluxo sim pático ao tecido adiposo marrom é regulado, principalmente, por neurônios "promotores" da termogênese, localizados no hipotálamo dorsomedial. A produção de calor induzida pela ativação simpática do tecido adiposo marrom depende da ação de uma proteína desacopladora da fosforilação oxidativa mitocondrial, conhecida como UCP-1. A isoforma do tipo 3 (UCP-3) também é expressa no tecido muscular esquelético e adiposo branco. A expressão destas proteínas é diretamente regulada pelos hormônios tireoidianos, cuja secreção é bas tante elevada em situações de exposição aguda a baixas tempe raturas. Além de promover a lipólise e aumentar a atividade da UCP-1, a estimulação do SNS durante o frio reduz a secreção de insulina e promove o aumento da captação de glicose pelo tecido muscular e adiposo (branco e marrom). Todas essas alterações evidenciam a extraordinária capacidade do orga nismo em realizar ajustes metabólicos necessários à sobrevi vência em um clima hostil. .... Bibliografia AIRES MM. O Pâncreas Endócrino. Fisiologia, 2• ed. Guanabara Koogan, 1999, Capítulo 71, 842-54. BELL GI, KAYANO T, BUSE JB, BURANT CF, TAKEDA J, LIN D, FUKUMO TO H and SEINO S. Molecular biology of mammalian glucose transporters. Diabetes Care, 13: 198-208, 1990. BLAAK EE. Basic disturbances in skeletal muscle fatty acid metabolism in obe sity and type 2 diabetes mellitus. Proc Nutr Soe, 63:323-30, 2004. BONEN A, LUIKEN JJ and GLATZ JF. Regulation offatty acid transport and membrane transporters in health and disease. Mol Cel/ Biochem, 239:181- 92, 2002. FESTUCCIA WT, KAWASHITA NH, GARÓFALO MAR, MOURA MAF, BRITO SRC, KETTELHUT IC and MIGLIORINI RH. Control of glyc eroneogenic activity in rat brown adipose tissue. Am J Physiol Regul Integr Comp Physio/, 285:Rl 77-182, 2003. FRAYN KN. Frontiers in Metabolism. Metabolic Regulation. A Human Perspec tive. lst ed. Portland Press Ltd, London, 1996. GONCALVES DAP, LIRA EC, BAVIERA AM, CAO P, ZANON NM, ARANY Z, BEDARD N, WING SS, LECKER SH, KETTELHUT IC and NAVEG ANTES LCC. Mechanisms involved in cAMP-mediated inhibition ofthe ubiquitin-proteasome system in skeletal muscle. Endocrinology, 150:5395- 404, 2009. GOODMAN HM. Basic Medical Endocrinology. 2nd ed. Raven Press, New York, 1994. GOODPASTER BH and KELLEY DE. Skeletal muscle triglyceride: marker or mediator of obesity-induced insulin resistance in type 2 diabetes mellitus? Curr Diab Rep 2:216-22, 2002. IBRAHIM N, BOSCH MA, SMART JL, QIU J, RUBINSTEIN M, RONNEKLEIV OK, LOW MJ and KELLY MJ. Hypothalamic proopiomelanocortin neu rons are glucose responsive and express K(ATP) channels. Endocrinology, 144:1331-40, 2003. KAWASHITA NH, MOURA MAF, BRITO MN, BRITO SMRC, GARÓFALO MAR, KETTELHUT IC and MIGLIORINI RH. Relative importance of sympathetic outflow and insulin in the reactivation ofbrown adipose tissue lipogenesis in rats adapted to a high protein diet. Metabolism, 51(3):343-9, 2002. 74 1 Controle Hormonal e Neural do Metabolismo Energético 1 1 79 KETTELHUT IC, WING SS and GOLDBERG AL. Endocrine regulation of protein breakdown in skeletal muscle. Diabetes Metabolism Rev, 4:751- 72, 1988. McGARRY TD and FOSTER DW. Hormonal control of ketogenesis. Arch Int Med, 137:495-501, 1977. MORRISON SF, NAKAMURA K, MADDEN CJ. Central control of thermo genesis in mammals. Exp Physio/, 93:773-97, 2008. NAVEGANTES LCC, MIGLIORINI RH and KETTELHUT IC. Adrenergic control of protein metabolism in skeletal muscle. Curr Opin Clin Nutr Me tab Gare, 5:281-6, 2002. NELSON DL and COXMM. Hormonal regulation and integration of mamma lian metabolism. ln: Principies of Biochemistry. 4th ed. Lehninger, Freeman WH and Company, New York, 23:881-919, 2005. RANDLE PJ. Regulatory interactions between lipids and carbohydrates: the glucose fatty acid cycle after 35 years. Diabetes Metab Rev. 14:263-83, 1998. ROSE AJ and RICHTER EA. Regulatory mechanisms of skeletal muscle protein turnover during exercise. J Appl Physio/, 106:1702-ll, 2009. XAVIER AR, ROSELINO JES, RESANO NMZ, GARÓFALO MAR, MIGLIO RINI RH and KETTELHUT IC. Glyconeogenic pathway in isolated skeletal muscles of rats. Can J Physiol And Pharmacol, 80:162-7, 2002. ZIMMERMANN R, STRAUSS JG, HAEMMERLE G SCHOISWOHL G, BIRNER-GRUENBERGER R, RIEDERER M, LASS A, NEUBERGER G, EISENHABER F, HERMETTER A and ZECHNER R. Fat mobilization in adipose tissue is promoted byadipose triglyceride lipase. Science, 306:1383- 86, 2004.
Compartilhar