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1 Pâmela Brandão da Silva TUTORIA 4 – MÓDULO 3 – 15/06/2020 SP4- “ Gordinho gotoso” Descrever as condições de desnutrição calórico-proteica Durante o jejum curto ou prolongado, o tecido nervoso e os eritrócitos continuam a utilizar glicose para a produção de ATP. Há um estoque disponível de aminoácidos para a gliconeogênese porque a diminuição dos níveis de insulina e o aumento dos níveis de cortisol diminuem o ritmo de síntese proteica e promovem o catabolismo de proteínas. A maior parte das células do corpo, especialmente as células musculares esqueléticas (por causa de seu alto conteúdo proteico), pode utilizar uma quantidade razoável de proteína antes que seu desempenho seja afetado negativamente. Durante os primeiros dias de jejum, o catabolismo de proteínas ultrapassa a síntese proteica em cerca de 70 gramas diariamente conforme os aminoácidos “antigos” são desaminados e utilizados para a gliconeogênese e os aminoácidos “novos” (dietéticos) estão ausentes. No segundo dia de um jejum, os níveis sanguíneos de glicose se estabilizaram em cerca de 65 mg/100 mℓ (3,6 mmol/litro); ao mesmo tempo, os níveis de ácidos graxos no plasma aumentaram quatro vezes. A lipólise dos triglicerídeos no tecido adiposo libera glicerol, que é utilizado para a gliconeogênese e ácidos graxos. Os ácidos graxos se difundem para as fibras musculares e para outras células do corpo, onde eles são utilizados para a produção de acetil CoA, entrando no ciclo de Krebs. O ATP é então sintetizado conforme ocorre a oxidação pelo ciclo de Krebs e pela cadeia transportadora de elétrons. A mudança metabólica mais dramática que ocorre durante o jejum e a inanição é o aumento da formação de corpos cetônicos pelos hepatócitos. Durante o jejum, apenas pequenas quantidades de glicose sofrem glicólise para a formação de ácido pirúvico, que, por sua vez, pode ser convertido em ácido oxalacético. A acetil CoA entra no ciclo de Krebs pela combinação com o ácido oxalacético; quando o ácido oxalacético é escasso por causa do jejum, apenas uma parte da acetil CoA disponível pode entrar no ciclo de Krebs. A acetil CoA em excesso é utilizada para a cetogênese, principalmente nos hepatócitos. A produção de corpos cetônicos aumenta conforme o catabolismo de ácidos graxos também aumenta. Os corpos cetônicos lipossolúveis podem se difundir através das membranas plasmáticas e através da barreira hematencefálica e serem utilizados como uma fonte alternativa para a produção de ATP, especialmente pelas fibras musculares cardíacas e esqueléticas e pelos neurônios. Normalmente, apenas um traço de corpos cetônicos (0,01 mmol/litro) pode ser encontrado no sangue, 2 de modo que eles são uma fonte energética negligenciável. Entretanto, após 2 dias de jejum, os níveis de corpos cetônicos é de 100 a 300 vezes maior e fornece cerca de um terço do combustível para a produção de ATP no encéfalo. Após 40 dias de jejum, os corpos cetônicos fornecem dois terços da energia que o encéfalo necessita. A presença das cetonas na verdade reduz o uso da glicose para a produção de ATP, que, por sua vez, diminui a demanda da gliconeogênese e diminui o catabolismo das proteínas musculares para cerca de 20 gramas diários. ________________________________________________________________________________ O fluxo de intermediários através das rotas metabólicas é controlado por quatro mecanismos: 1) disponibilidade de substratos; 2) ativação e inibição alostérica de enzimas; 3) modificação covalente de enzimas; e 4) indução e repressão da síntese de enzimas. No estado absortivo, esses mecanismos regulatórios asseguram que os nutrientes disponíveis sejam capturados como glicogênio, triacilglicerol e proteína. O estado absortivo é o período entre duas e quatro horas depois da ingestão de uma refeição normal. Durante esse intervalo, há aumento transitório de glicose, aminoácidos e triacilgliceróis no plasma, estes últimos como componentes dos quilomicra sintetizados pelas células da mucosa intestinal. O pâncreas responde aos níveis elevados de glicose e aminoácidos com aumento na secreção de insulina e queda na liberação de glucagon pelas ilhotas de Langerhans. A elevada razão insulina/glucagon e a fácil disponibilidade dos substratos circulantes fazem desse período de duas a quatro horas após a ingestão de uma refeição um período anabólico. Durante esse estado absortivo, praticamente todos os tecidos utilizam glicose como combustível. Além disso, o fígado repõe seu estoque de glicogênio, repõe as proteínas hepáticas necessárias e aumenta a síntese de triacilgliceróis. Estes últimos são empacotados em lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) e exportados para os tecidos periféricos. O tecido adiposo apresenta aumento na síntese e no armazenamento de triacilgliceróis, ao passo que o músculo aumenta a síntese de proteínas para repor a proteína degradada desde a última refeição. No estado alimentado, o encéfalo utiliza exclusivamente glicose como combustível. Sem a ingestão de alimento, os níveis plasmáticos de glicose, aminoácidos e triacilgliceróis caem, desencadeando um declínio na secreção de insulina e um aumento na liberação de glucagon e de adrenalina. O decréscimo na razão insulina/glucagon e o decréscimo na disponibilidade de substratos circulantes fazem desse período de privação de nutrientes um período catabólico. Isso coloca em movimento uma intensa troca de substratos entre o fígado, o tecido adiposo, os músculos e o encéfalo, orientada por duas prioridades: 1) a necessidade de manter os níveis plasmáticos de glicose adequados para sustentar o metabolismo energético do encéfalo e de outros tecidos de- 3 pendentes de glicose; e 2) a necessidade de mobilizar ácidos graxos do tecido adiposo e corpos cetônicos do fígado para suprir de energia todos os outros tecidos. Para atingir essas metas, o fígado degrada glicogênio e inicia a gliconeogênese, usando a oxidação aumentada de ácidos graxos como fonte da energia necessária para a gliconeogênese e para suprir com acetil-coenzima A a síntese de corpos cetônicos. O tecido adiposo degrada os estoques de triacilgliceróis, fornecendo ácidos graxos e glicerol para o fígado. Os músculos podem usar os ácidos graxos como combustível, bem como os corpos cetônicos fornecidos pelo fígado. A proteína muscular é degradada para suprir de aminoácidos a gliconeogênese hepática. O encéfalo pode usar a glicose e os corpos cetônicos como combustíveis. No jejum prolongado, os rins desempenham importantes funções voltadas para a síntese de glicose e excretam prótons (provenientes das dissociações de corpos cetônicos) como íon amônio (NH +). • O principal substrato da síntese de glicose são os aminoácidos provenientes da degradação contínua de proteínas que, no jejum têm sua síntese prejudicada e sua degradação estimulada, pois há níveis baixos de insulina e altos de cortisol. A maior contribuição de aminoácidos para a gliconeogênese é dada pelas proteínas dos músculos esqueléticos, que são tecidos com grande concentração proteica; porém, as consequências da degradação de enzimas, que têm meias-vidas muito curtas, são muito mais amplas e sistêmicas, já que afetam todas as vias metabólicas. Na musculatura esquelética, o resultado líquido da descompensação entre síntese e degradação é o aumento da concentração de aminoácidos livres. A maioria dos aminoácidos é parcialmente metabolizada, originando intermediários passíveis de serem convertidos a alanina e glutamina. Nas fibras musculares, a transaminase específica para os aminoácidos ramificados (isoleucina, leucina e valina) é particularmente ativa. A atuação desta enzima, e das demais transaminases, resulta na transferência do grupo amino dos aminoácidos ramificados e de outros aminoácidos parapiruvato e α-cetoglutarato, formando alanina e glutamina; piruvato e α-cetoglutarato são provenientes da degradação de glicogênio e de diversos aminoácidos do músculo. O bloqueio do complexo piruvato desidrogenase, fosforilado pela isoenzima muscular da piruvato desidrogenase quinase 4 (PDK 4) impede a oxidação de piruvato a acetil-CoA, preservando este composto para a formação de alanina. A alanina e a glutamina produzidas são liberadas na circulação, constituindo a forma de transporte do nitrogênio dos aminoácidos derivados da proteólise muscular. A alanina é captada principalmente pelo fígado, onde o seu α-cetoácido, o piruvato, forma glicose e o grupo amino, ureia. A glutamina é utilizada como substrato pela gliconeogênese renal; enquanto o seu esqueleto de carbono origina glicose, o nitrogênio é convertido em íons NH4+, cuja excreção na urina contribui para a manutenção do equilíbrio ácido-base. Assim, a gliconeogênese hepática e a renal estão associadas com a produção de ureia e de amônia, respectivamente. Como a eliminação do nitrogênio derivado dos aminoácidos 4 utilizados para a síntese de glicose não é acompanhada de ingestão, estabelece-se um balanço nitrogenado negativo. • A intensa degradação de ácidos graxos, mobilizados das reservas lipídicas, não acompanhada de degradação proporcional de carboidratos, leva ao acúmulo de acetil-CoA no fígado: a deficiência de oxaloacetato, continuamente retirado pela gliconeogênese, restringe a oxidação de acetil-CoA pelo ciclo de Krebs. A acetil-CoA acumulada condensa-se, formando os corpos cetônicos. Nesta situação, o fígado obtém energia da oxidação de ácidos graxos a acetil-CoA; os tecidos muscular e adiposo, não engajados na gliconeogênese, dispõem de oxaloacetato suficiente para oxidar a acetil-CoA proveniente de ácidos graxos e corpos cetônicos a CO2 e H2O. O consumo de ácidos graxos e corpos cetônicos por estes tecidos coopera para a economia de glicose, que passa a ser utilizada praticamente apenas pelo cérebro e hemácias. • Se o jejum prolongar-se por algumas semanas, estes processos são, naturalmente, intensificados. Instala-se uma situação permanente de relação insulina/glucagon muito baixa que determina um metabolismo fortemente degradativo. • A utilização desta nova fonte permite grande economia de glicose: após 2 a 3 dias de jejum diminui a intensidade da gliconeogênese e, consequentemente, a espoliação proteica, refletida na queda da excreção de nitrogênio urinário. Depois de 5 semanas de jejum, verifica-se a produção de apenas 5 g de glicose a mais do que a derivada da renovação de proteínas endógenas. Nesta fase, os corpos cetônicos perfazem cerca de 60% do suprimento energético do cérebro. • A enorme produção de corpos cetônicos pelo fígado ultrapassa muito sua captação pelos tecidos extra-hepáticos. Como estes compostos têm caráter ácido, o poder tamponante do plasma é sobrepujado e instala-se uma acidose, a cetoacidose, com significativa redução do nível de bicarbonato plasmático 5 A figura acima mostra os resultados do trabalho de Cahill e colaboradores sobre os processos utilizados para manter a homeostase de glicose no jejum prolongado. A homeostase da glicose foi dividida em cinco fases, segundo a procedência predominante da glicose plasmática a partir da ingestão de uma refeição. Na Fase I, a glicose é provida pelos carboidratos dos alimentos. Uma vez esgotado este suprimento, inicia-se a Fase II, durante a qual a glicemia é mantida pela glicogenólise hepática. À medida que diminui a reserva de glicogênio do fígado, a gliconeogênese torna-se cada vez mais importante, até que, após 16 h (12 h, segundo estudos mais recentes), contribui com 50% da glicose plasmática. Inicia-se a Fase III, na qual esta via é a fonte principal de glicose. Estas mudanças ocorrem dentro de mais ou menos 24 horas de jejum. Vários dias de jejum levam à Fase IV, na qual se inicia uma menor dependência da gliconeogênese. Isto acontece porque os corpos cetônicos acumularam-se em níveis suficientemente altos para induzir sua entrada e sua oxidação no cérebro, onde passam a substituir parte da glicose anteriormente consumida para obter energia. A Fase V ocorre depois de algumas semanas de jejum e caracteriza-se por dependência ainda menor da gliconeogênese. As necessidades energéticas da maioria dos tecidos nesta fase são satisfeitas, em grande parte por oxidação de ácidos graxos ou de corpos cetônicos. Enquanto as concentrações de corpos cetônicos forem elevadas, a proteólise será menos intensa, preservando as proteínas musculares. Esta situação permanece até praticamente toda a gordura ser consumida. Depois disto, as proteínas musculares têm de ser utilizadas e, antes que se esgotem, advém a morte. • Quando acabam as reservas de gordura, começa a degradação de proteínas essenciais; isso leva à perda das funções cardíaca e hepática, e, na inanição prolongada, à morte. A gordura armazenada fornece energia suficiente (calorias) durante o jejum ou em uma dieta rígida, mas as vitaminas e os 6 minerais devem ser fornecidos, sendo necessários aminoácidos glicogênicos na dieta em quantidade suficiente para substituir aqueles utilizados na gliconeogênese. Descrever as ações metabólicas do glucagon e hormônios glicocorticoides Considerações gerais acerca do cortisol e da adrenalina Os hormônios adrenalina (ou epinefrina) e noradrenalina (ou norepinefrina) são sintetizados na medula das glândulas suprarrenais, também denominadas adrenais, a partir de tirosina. São chamados, juntamente a dopamina, de catecolaminas por sua semelhança estrutural ao catecol. A adrenalina é o principal produto da medula adrenal, constituindo cerca de 80% das catecolaminas. Também são sintetizadas por neurônios autonômicos, onde atuam como neurotransmissores. 7 A secreção de adrenalina é provocada por estímulo nervoso autônomo sobre as suprarrenais em situações de perigo real ou imaginário, exercício físico, hipoglicemia e exposição a baixas temperaturas. A adrenalina determina uma série coordenada de respostas fisiológicas e metabólicas que permitem ao indivíduo reagir a essas situações. Entre os efeitos mais importantes estão: relaxamento de alguns músculos lisos, como os dos brônquios e das arteríolas dos músculos esqueléticos, facilitando a tomada de ar e a oxigenação dos músculos voluntários; contração dos músculos lisos dos vasos abdominais, desviando mais sangue para os músculos esqueléticos; aumento da força e da frequência cardíacas; glicogenólise muscular e hepática; lipólise no tecido adiposo e gliconeogênese hepática. Seus efeitos metabólicos convergem para aumentar a oferta de substratos oxidáveis, contrapondo-se aos da insulina e coadjuvando os do glucagon. O cortisol, um hormônio esteroide produzido pelo córtex das suprarrenais, atua conjuntamente com a adrenalina e glucagon na resposta do organismo ao estresse, aumentando a disponibilidade de substratos oxidáveis. Promove a gliconeogênese por meio de duas ações: estimula a proteólise e a consequente liberação de aminoácidos dos tecidos periféricos (músculos, principalmente) e induz a síntese de enzimas-chave da gliconeogênese. Estimula também a lipólise, contribuindo para a elevação do teor de ácidos graxos circulantes. 8 Glucagon e glicocorticoides • O glucagon é um hormônio polipeptídico secretado pelas células das ilhotas de Langerhans pancreáticas. O glucagon, com a adrenalina, o cortisol e o hormônio do crescimento (os “hormônios contrarreguladores”), se opõe a muitas das ações da insulina. Em especial, o glucagon age na manutenção dos níveis de glicose sanguínea, pela ativação da glicogenólise e da gliconeogênese hepáticas. • O glucagon é composto por 29 aminoácidos arranjados em uma única cadeia polipeptídica. Oglucagon é sintetizado como uma grande molécula precursora (pré-pró-glucagon), que é convertida no glucagon por meio de uma série de clivagens proteolíticas seletivas. • Esse hormônio, produzido pelas células das ilhotas pancreáticas, estimula a gliconeogênese por meio de três mecanismos. → Alterações em efetores alostéricos: O glucagon diminui os níveis de frutose-2,6-bisfosfato, resultando na ativação da frutose-1,6-bisfosfatase e na inibição da fosfofrutocinase-1, favorecendo a gliconeogênese em detrimento da glicólise. → Modificação da atividade enzimática por ligação covalente: O glucagon liga-se ao seu receptor, o qual é acoplado à proteína G, e, via aumento nos níveis de AMP cíclico (AMPc) e na atividade da proteína-cinase dependente de AMPc, estimula a conversão da piruvato-cinase hepática em sua forma inativa (fosforilada). Isso diminui a conversão do PEP em piruvato, tendo o efeito de redirecioná-lo para a síntese de glicose. → Indução da síntese de enzimas. O glucagon aumenta a transcrição do gene da PEP-carboxicinase, aumentando, assim, a disponibilidade dessa atividade enzimática à medida que os níveis de seu substrato aumentam com o jejum. Estimulo da secreção de glucagon • A célula é responsiva a uma variedade de estímulos que sinalizam uma hipoglicemia real ou potencial. Especificamente, a secreção do glucagon é aumentada por: 9 → Glicemia baixa: Uma diminuição na concentração plasmática de glicose é o principal estímulo para a liberação de glucagon. Durante um jejum noturno ou prolongado, os níveis elevados de glucagon previnem a hipoglicemia. → Aminoácidos: Os aminoácidos provenientes de uma refeição que contém proteínas estimulam a liberação de glucagon e de insulina. O glucagon impede efetivamente a hipoglicemia, que de outra forma ocorreria como resultado da secreção aumentada de insulina após uma refeição rica em proteínas. → Adrenalina. Níveis elevados de adrenalina circulante, produzida pela medula adrenal, ou de noradrenalina, produzida pela inervação simpática do pâncreas, ou de ambas, estimulam a liberação de glucagon. Assim, durante períodos de estresse, trauma ou exercício intenso, os níveis elevados de adrenalina podem sobrepor-se aos efeitos dos substratos circulantes sobre as células . Nessas situações – independentemente da concentração de glicose no sangue – os níveis de glucagon se elevam em an- tecipação ao aumento na utilização de glicose. Em contraste, os níveis de insulina são reduzidos. Inibição da secreção de glucagon → A secreção de glucagon diminui significativamente com o aumento de glicose e de insulina no sangue. Essas substâncias estão aumentadas após a ingestão de glicose ou de uma refeição rica em carboidratos. O cortisol sinaliza estresse, incluindo baixa glicose sanguínea Uma grande variedade de agentes que causam estresse (ansiedade, medo, dor, hemorragia, infecção, glicose sanguínea baixa, jejum) estimula a liberação do hormônio corticosteroide cortisol do córtex da glândula suprarrenal. O cortisol age no músculo, no fígado e no tecido adiposo para suprir o organismo com combustível para resistir à situação estressante. O cortisol é um hormônio de ação relativamente lenta, que altera o metabolismo pela mudança nos tipos e nas quantidades de determinadas enzimas sintetizadas em suas células-alvo, em vez da regulação da atividade de moléculas enzimáticas já existentes. 10 • No tecido adiposo, o cortisol leva a uma liberação aumentada de ácidos graxos dos TAG armazenados. Os ácidos graxos exportados servem como combustível para outros tecidos e o glicerol é usado na gliconeogênese no fígado. • O cortisol estimula a degradação das proteínas musculares não essenciais e a exportação dos aminoácidos para o fígado, onde servem como precursores para a gliconeogênese. • No fígado, o cortisol promove a gliconeogênese, estimulando a síntese da PEP-carboxicinase; o glucagon tem o mesmo efeito, ao passo que a insulina tem o efeito oposto. A glicose assim produzida é armazenada no fígado como glicogênio ou exportada imediatamente para os tecidos que precisam dela como combustível. O efeito líquido dessas alterações metabólicas é a restauração dos níveis normais de glicose sanguínea e o aumento dos estoques de glicogênio. • Os efeitos do cortisol, portanto, contra-balançam os da insulina. Durante períodos prolongados de estresse, a liberação constante de cortisol perde seu valor adaptativo positivo e começa a causar danos ao músculo e ao osso, prejudicando as funções endócrina e imune. 11 Descrever a gliconeogênese hepática e renal Fígado • O papel principal do fígado no metabolismo energético durante o jejum é a manutenção da glicose sanguínea pela síntese e distribuição de moléculas combustíveis para outros tecidos. • Aumento da gliconeogênese → A síntese de glicose e sua subsequente liberação para a circulação são funções hepáticas essenciais durante o jejum. Os esqueletos de carbono para a gliconeogênese são derivados principalmente de aminoácidos glicogênicos e lactato, originário do músculo, e de glicerol, oriundo do tecido adiposo. A gliconeogênese, favorecida pela ativação de frutose-1,6-bisfosfatase e pela indução da fosfoenolpiruvato (PEP)-carboxicinase por meio do glucagon, inicia entre quatro e seis horas depois da última refeição, e se torna plenamente ativa quando os estoques hepáticos de glicogênio são esgotados. A gliconeogênese exerce papel fundamental na manutenção da glicemia durante o jejum noturno ou o jejum mais prolongado. • Ademais, embora a acetil-CoA não possa ser usada como substrato para a gliconeogênese, a acetil- CoA produzida pela oxidação de ácidos graxos no fígado pode servir como ativador alostérico da 12 piruvato-carboxilase (e inibidor alostérico da piruvato-desidrogenase), e assim encaminhar o piruvato para a gliconeogênese. Rins • Com a continuidade do jejum, os rins exercem papel importante na adaptação a longo prazo. Os rins expressam as enzimas da gliconeogênese, incluindo a glicose-6-fosfatase e, em fases avançadas do jejum, podem ser responsáveis por cerca de 50% da gliconeogênese. Da mesma forma, os rins compensam a acidose que acompanha o aumento na produção de corpos cetônicos (ácidos orgânicos). • A glutamina liberada nos músculos pelo metabolismo de aminoácidos de cadeia ramificada é captada pelos rins e, sob a ação das enzimas renais glutaminase e glutamato-desidrogenase, resulta na produção de α-cetoglutarato (que pode ser usado como substrato para a gliconeogênese) e amônia (NH3). A amônia capta prótons (H +) dissociados de corpos cetônicos e é excretada pela urina como NH+4, diminuindo a acidez corporal. Portanto, no jejum a longo prazo, ocorre troca no tipo de descarte de nitrogênio, da forma de ureia, para a forma de amônio. • Quando a concentração de corpos cetônicos aumenta, os enterócitos, que comumente consomem glutamina, passam a consumir corpos cetônicos. Isso disponibiliza mais glutamina para os rins. Descrever o aumento da proteólise muscular (ciclo da alanina-glicose) • Durante os primeiros dias de jejum, há uma rápida quebra de proteína muscular, fornecendo aminoácidos que são usados pelo fígado para a gliconeogênese. A proteólise muscular provavelmente é desencadeada pela redução de insulina e mantida pelo aumento de glicocorticoides, pois o músculo não possui receptores para glucagon. • A alanina e a glutamina são quantitativamente os mais importantes aminoácidos gliconeogênicos liberados pelo músculo. Eles são produzidos pelo catabolismo de aminoácidos de cadeia ramificada • Depois de várias semanas dejejum, a velocidade da proteólise muscular decresce, porque há um declínio na necessidade de glicose pelo encéfalo, que começa a utilizar corpos cetônicos como fonte de energia. Descrever o aumento da lipólise 13 Fígado • Aumento da oxidação de ácidos graxos → A oxidação de ácidos graxos derivados da hidrólise de TAG no tecido adiposo é a maior fonte energética para o fígado no estado pós-absortivo. A queda no conteúdo de malonil-CoA, devido à fosforilação (inativação) da acetil-CoA-carboxilase pela proteína-cinase ativada por AMP (AMPK), rompe a inibição da carnitina-palmitoil-transferase-1 (CPT-1), permitindo que a beta-oxidação ocorra. → A oxidação de ácidos graxos fornece o NADH e o trifosfato de adenosina [ATP] exigidos pela gliconeogênese hepática. • Aumento da síntese de corpos cetônicos → O fígado é único por sua capacidade de sintetizar e liberar corpos cetônicos (predominantemente 3-hidroxibutirato, também chamado beta-hidroxibutirato) para utilização como combustíveis nos tecidos periféricos, mas o próprio fígado não pode usar corpos cetônicos como combustível. A cetogênese é favorecida quando a quantidade de acetil-CoA produzida pelo metabolismo dos ácidos graxos excede a capacidade oxidativa do ciclo do ácido cítrico. → A cetogênese libera CoA, assegurando sua disponibilidade para a contínua oxidação de ácidos graxos. → Uma produção significativa de corpos cetônicos inicia durante os primeiros dias do jejum. A disponibilidade de corpos cetônicos (hidrossolúveis) circulantes é importante no jejum, porque eles podem ser utilizados como combustível por muitos tecidos, incluindo o encéfalo, desde que sua concentração no sangue seja suficientemente alta. Isso reduz a necessidade de gliconeogênese a partir do esqueleto carbonado de aminoácidos, tornando, assim, mais lenta a perda de proteínas essenciais. Tecido adiposo • Aumento na degradação de TAG → A ativação da lipase sensível a hormônio e a subsequente hidrólise dos estoques de triacilglicerol são aumentadas pelos elevados níveis das catecolaminas adrenalina e, particularmente, noradrenalina. 14 Esses compostos, liberados pelos terminais nervosos simpáticos no tecido adiposo, são fisiologicamente importantes na ativação da lipase sensível a hormônio. • Aumento na liberação de ácidos graxos → A maior parte dos ácidos graxos obtidos da hidrólise de triacilgliceróis estocados é liberada no sangue. Ligados à albumina, são transportados a uma variedade de tecidos para utilização como combustível. O glicerol produzido durante a degradação dos triacilgliceróis é usado como precursor da gliconeogênese no fígado. → Os ácidos graxos são também oxidados a acetil-CoA, que pode entrar no ciclo do ácido cítrico e, portanto, produzir energia para o adipócito. Eles também podem ser reesterificados junto ao glicerol- 3-fosfato proveniente da gliceroneogênese gerando TAG. Músculo • Durante as duas primeiras semanas de jejum, os músculos usam ácidos graxos do tecido adiposo e corpos cetônicos do fígado como combustíveis. Com cerca de três semanas de jejum, os músculos reduzem o consumo de corpos cetônicos e oxidam quase exclusivamente ácidos graxos. Isso leva a um aumento adicional do já elevado nível de corpos cetônicos circulantes. • O aumento da utilização de corpos cetônicos pelo encéfalo, como consequência do aumento desses compostos no sangue, está relacionado, portanto, ao decréscimo do consumo pelos músculos. Explicar síntese (cetogênese) e utilização dos corpos cetônicos • A mitocôndria hepática tem a capacidade de converter acetil-CoA proveniente da beta-oxidação de ácidos graxos em corpos cetônicos. Os compostos classificados como corpos cetônicos são o acetoacetato, o 3-hidroxibutirato (também chamado de beta-hidroxibutirato) e a acetona. O acetoacetato e o 3-hidroxibutirato são transportados pelo sangue aos tecidos periféricos. Ali, eles podem ser convertidos novamente em acetil-CoA, que pode ser oxidada no ciclo do ácido cítrico. • Os corpos cetônicos são importantes fontes de energia para os tecidos periféricos, porque: → São solúveis em meio aquoso e, assim, não necessitam ser incorporados a lipoproteínas ou transportados pela albumina, como outros lipídeos; → São produzidos no fígado, em períodos em que a quantidade de acetil-CoA excede a capacidade oxidativa do fígado; 15 → São usados pelos tecidos extra-hepáticos, como os músculos esquelético e cardíaco e o córtex renal, em quantidade proporcional a sua concentração no sangue. Até mesmo o encéfalo pode usar corpos cetônicos como fonte de energia, se os níveis sanguíneos aumentarem suficientemente; desse modo, os corpos cetônicos permitem economia de glicose. Isso é especialmente importante durante o jejum prolongado Cetogênese • Durante o jejum, o fígado é inundado com ácidos graxos mobilizados do tecido adiposo. Como resultado, eleva-se a produção de acetil-CoA hepática, principalmente pela degradação de ácidos graxos, e a acetil-CoA inibe a piruvato-desidrogenase e ativa a piruvato-carboxilase. O oxalacetato produzido é usado pelo fígado na gliconeogênese, mais do que no ciclo do ácido cítrico. Desse modo, a acetil-CoA é canalizada para a síntese de corpos cetônicos. → A oxidação de ácidos graxos diminui a razão NAD+/NADH, e o aumento de NADH favorece a conversão de OAA em malato. Isto dirige a acetil-CoA para a cetogênese. • Síntese de 3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA (HMG-CoA). → A primeira etapa da síntese, formando acetoacetil-CoA, ocorre pela reversão da reação da tiolase, enzima da oxidação de ácidos graxos (Figura 16.17). A HMG-CoA-sintase mitocondrial combina uma terceira mo- lécula de acetil-CoA com acetoacetil-CoA para produzir HMG-CoA. A reação da HMG-CoA-sintase é a etapa limitante na síntese de corpos cetônicos e esta enzima ocorre em quantidades significantes somente no fígado. • Síntese de corpos cetônicos. → O HMG-CoA é clivado para produzir acetoacetato e acetil-CoA. O acetoacetato pode ser reduzido para formar 3-hidroxibutirato, utilizando NADH como doador de hidrogênio. O acetoacetato pode também sofrer descarboxilação espontânea no sangue, formando acetona – um composto volátil, não metabolizado biologicamente, que pode ser liberado na respiração. O equilíbrio entre acetoacetato e 3-hidroxibutirato é determinado pela razão NAD+/NADH. Uma vez que essa relação encontra-se reduzida durante a oxidação dos ácidos graxos, a síntese de 3-hidroxibutirato é favorecida. → A formação de CoA livre durante a cetogênese permite que a oxidação de ácidos graxos continue Cetólise 16 • Embora o fígado sintetize constantemente níveis baixos de corpos cetônicos, sua produção torna-se muito mais significativa durante o jejum, quando os corpos cetônicos são necessários para produzir energia nos tecidos periféricos. • O 3-hidroxibutirato é oxidado a acetoacetato pela 3-hidroxibutirato-desidrogenase, produzindo NADH. O acetoacetato recebe então uma molécula de CoA, doada pela succinil-CoA, em uma reação catalisada pela succinil-CoA:acetoacetato-CoA-transferase (tioforase). Essa reação é reversível, mas o produto, acetoacetil-CoA, é ativamente removido por sua conversão em duas moléculas de acetil- CoA. Desse modo, os tecidos extra-hepáticos, incluindo o encéfalo, mas excluindo células sem mitocôndria (p. ex., os eritrócitos), oxidam eficientemente o acetoacetato e o 3-hidroxibutirato. O fígado, ao contrário, embora produza corpos cetônicos, não possui a enzima tioforase e, portanto, é incapaz de usar corpos cetônicos como combustível. Considerações acerca dos corpos cetônicos Os corpos cetônicos constituem,portanto, uma forma de transferência de carbonos oxidáveis do fígado para outros órgãos. Normalmente, apenas uma pequena quantidade de acetil-CoA é convertida em corpos cetônicos no fígado, já que os seus destinos metabólicos principais são a oxidação pelo ciclo de Krebs ou o consumo pela síntese de lipídios. A decisão entre os dois caminhos dependerá da situação fisiológica vigente. A produção de corpos cetônicos é anormalmente elevada quando a degradação de triacilgliceróis não é acompanhada pela degradação de carboidratos. Realmente, para a oxidação eficiente de acetil-CoA pelo ciclo de Krebs, há necessidade de níveis compatíveis de oxaloacetato, para promover a reação de condensação que inicia o ciclo. Na ausência de carboidratos, diminui a concentração de piruvato e, consequentemente, a sua conversão a oxaloacetato. Ainda mais, quando não há oferta de glicose, o organismo lança mão da gliconeogênese que consome oxaloacetato, obtido de aminoácidos, principalmente. A baixa concentração de oxaloacetato reduz drasticamente a velocidade de oxidação de acetil-CoA pelo ciclo de Krebs: a acetil-CoA acumulada condensa-se, formando os corpos cetônicos. É o que ocorre quando há redução drástica da ingestão de carboidratos ou distúrbios do seu metabolismo. Quando a produção ultrapassa o aproveitamento pelos tecidos extra-hepáticos, estabelece-se uma condição denominada cetose, caracterizada por uma concentração elevada (até centenas de vezes maior do que a normal) de corpos cetônicos no plasma (cetonemia) e na urina (cetonúria). Outro sintoma peculiar de indivíduos com cetose é o odor de acetona de seu hálito. Acetoacetato e β-hidroxibutirato são transportados para o plasma por um simporte com prótons. Por isto, quando a concentração celular destes corpos cetônicos 17 se eleva, a cetonemia resulta em acidose (diminuição do pH sanguíneo), que pode ocasionar coma e morte; esta condição é denominada cetoacidose. 18 19 Explicar ciclo de Lynen e cetogênese (cetoacidose) • Uma pequena quantidade de acetil-CoA é normalmente transformada em acetoacetato e β - hidroxibutirato nos hepatócitos de mamíferos. O acetoacetato sofre descarboxilação espontânea, originando acetona. Os três compostos são chamados em conjunto, de corpos cetônicos, e sua síntese, de cetogênese. Esta ocorre na matriz mitocondrial, pela condensação de três moléculas de acetil-CoA em duas etapas. Na primeira, catalisada pela tiolase, duas moléculas de acetil-CoA originam acetoacetil-CoA; esta reação, embora transcorrendo no sentido oposto, constitui a última reação da última volta do ciclo de Lynen. A reação só ocorre no sentido da síntese quando há acúmulo de acetil- CoA. A reação de acetoacetil-CoA com uma terceira molécula de acetil-CoA forma 3-hidroxi-3- metilglutaril-CoA (HMG-CoA). Sua clivagem origina acetoacetato e acetil-CoA. O acetoacetato produz β-hidroxibutirato e acetona. Descrever a adaptação ao uso dos corpos cetônicos • Os estudos de Cahill, Owen e colaboradores, nas décadas de 1960 e 1970, foram decisivos para um maior entendimento das adaptações metabólicas ao jejum prolongado, em especial as que ocorrem no cérebro. Até então, acreditava-se ser a glicose o único substrato utilizado pelo cérebro, e os corpos cetônicos eram associados somente com a ocorrência de doenças, como o diabetes. Aqueles autores demonstraram, pela primeira vez, o papel essencial do consumo de corpos cetônicos pelo cérebro na sobrevivência ao jejum prolongado. Adicionalmente, evidenciaram a correlação existente entre a excreção de nitrogênio e a síntese de glicose, além da importância da atuação dos rins durante o jejum. • Duas horas após uma refeição, o nível de glicose san-guínea está levemente diminuído, e os tecidos recebem glicose liberada a partir do glicogênio hepático. Há pouca ou nenhuma síntese de triacilgliceróis. Quatro horas após a refeição, a glicose sanguínea está mais reduzida, a se-creção de insulina diminuiu e a secreção de glucagon está aumentada. Esses sinais hormonais mobilizam os triacilgli-ceróis do tecido adiposo, que agora se tornam o principal combustível para o músculo e o fígado. Para fornecer glicose para o cérebro, o fígado degrada determinadas proteínas – aquelas mais dispensáveis em um organismo que não está se alimentando. Seus aminoácidos não essen-ciais são transaminados ou desaminados, e os grupos amina extras são convertidos em ureia, que é exportada pela corrente sanguínea para os rins e excretada na urina. Também no fígado, e, de certa forma, nos rins, os esqueletos carbonados dos aminoácidos glicogênicos são convertidos em piruvato ou 20 intermediários do ciclo do ácido cítrico. Esses intermediários (assim como o glicerol dos TAG do tecido adiposo) fornecem os materiais de partida para a gliconeogênese no fígado, gerando glicose para exportar para o cérebro. Os ácidos graxos liberados do tecido adiposo são oxidados a acetil-CoA no fígado, mas, como o oxalacetato está esgotado pelo uso de intermediários do ciclo do ácido cítrico na gliconeogênese, a entra-da da acetil-CoA no ciclo é inibida e ela se acumula. Isso favorece a formação de acetoacetil-CoA e corpos cetônicos. Após alguns dias de jejum, os níveis de corpos cetônicos no sangue aumentam, à medida que são exportados do fígado para o coração, músculo esquelético e cérebro, os quais utilizam esses combustíveis em vez da glicose. A acetil-CoA é fundamental na regulação do destino do piruvato; ela inibe alostericamente a piruvato- desidrogenase e estimula a piruvato-carboxilase. Dessa forma, a acetil-CoA previne sua própria produção a partir do piruvato, enquanto estimula a conversão do piruvato em oxalacetato, a primeira etapa da gliconeogênese. Descrever a síntese e regulação de secreção dos hormônios tireoidianos e suas ações metabólicas Hormônios da tireoide Os hormônios da tireoide T4 (tri-iodotironina) são sintetizados a a partir da (tiroxina) e T3 proteína precursora tiroglobulina. Até 20 resíduos de Tyr na proteína são iodinados enzimaticamente na glândula tireoide, e dois resíduos de iodotirosina são, então, condensados para formar o precursor da tiroxina. Quando necessário, a tiroxina é liberada por proteólise. A condensação da monoiodotirosina com a di-iodotironina produz T3, que também é um hormônio ativo liberado por proteólise. Os hormônios tireóideos agem por meio de receptores nucleares e estimulam o metabolismo energético, sobretudo no fígado e no músculo, aumentando a expressão de genes que codificam enzimas catabólicas chave. A subprodução de tiroxina torna o metabolismo mais lento e pode ser causa de depressão. Quando a subprodução é o resultado de muito pouco iodo na dieta, a glândula tireoide aumenta em uma tentativa inútil de produzir mais tiroxina 21 Formação, armazenamento e liberação dos hormônios da tireoide A glândula tireoide é a única glândula endócrina que armazena seu produto secretório em grandes quantidades – normalmente o suficiente para cerca de 100 dias. A síntese e a secreção de T3 e T4 ocorrem da seguinte forma: 1º Retenção de iodeto. As células foliculares da tireoide retêm íons iodeto (I–), transportando-os ativamente do sangue para o citosol. Por conta disso, em geral, a glândula tireoide contém a maioria do iodeto corporal. 2º Síntese de tireoglobulina. Ao mesmo tempo que retêm I–, as células foliculares também sintetizam tireoglobulina (TGB), uma grande glicoproteína produzida no retículo endoplasmático rugoso, modificada no complexo de Golgi e armazenada em vesículas secretoras. As vesículas sofrem exocitose, o que libera TGB para o lúmen do folículo. 3º Oxidação de iodeto. Parte dos aminoácidos na TGB consiste em tirosinas que se tornarão iodadas. Entretanto, íons iodeto com carga elétrica negativa não conseguem se ligar à tirosina até que sofram oxidação (remoçãode elétrons) para iodeto: 2 I-- → I2. Na medida em que os íons iodeto são oxidados, eles atravessam a membrana para o lúmen do folículo. 4º Iodação da tirosina. Conforme moléculas de iodo (I2) se formam, elas reagem com as tirosinas integrantes das moléculas de tireoglobulina. A ligação de um átomo de iodo produz monoiodotirosina (T1) e a de dois produz di-iodotirosina (T2). A TGB com átomos de iodo fixados é um material viscoso que se acumula e é armazenado no lúmen do folículo da tireoide, chamado de coloide. 5º Acoplamento de T1 e T2. Durante a última etapa da síntese dos hormônios da tireoide, duas moléculas de T2 se juntam para formar T4 ou uma de T1 com uma de T2 se unem para formar T3. 22 6º Pinocitose e digestão de coloide. Gotículas de coloide penetram de novo nas células foliculares por pinocitose e se juntam aos lisossomos. Enzimas digestivas nos lisossomos degradam a TGB, separando moléculas de T3 e T4. 7º Secreção de hormônios da tireoide. Como são lipossolúveis, T3 e T4 se difundem através da membrana plasmática para o líquido intersticial e, em seguida, para o sangue. Em geral, T4 é secretada em maior quantidade que T3, mas T3 é muitas vezes mais potente. Além disso, depois que a T4 entra no corpo celular, a maioria dela é convertida a T3 por remoção de um iodo. 8º Transporte no sangue. Mais de 99% de T3 e T4 se combinam a proteínas transportadoras no sangue, principalmente à globulina transportadora de tiroxina (TBG). Ações dos hormônios da tireoide Uma vez que a maioria das células corporais apresenta receptores para hormônios da tireoide, T3 e T4 exercem seus efeitos por todo o corpo. → Os hormônios da tireoide aumentam a taxa metabólica basal (TMB), que consiste no consumo de oxigênio em condições basais ou padrão (acordado, em repouso e jejum) por meio da estimulação do uso de oxigênio celular na produção de ATP. Quando a taxa metabólica basal aumenta, o metabolismo celular dos carboidratos, lipídios e proteínas se torna mais intenso. → Outro efeito importante dos hormônios da tireoide é o de estimular a síntese de bombas adicionais de sódio e potássio (Na+-K+ ATPase), o que utiliza grandes quantidades de ATP para continuamente ejetar íons sódio (Na+) do citosol no líquido extracelular e íons potássio (K+) do líquido extracelular no citosol. Com a produção e a utilização de mais ATP pelas células, mais calor é liberado e a temperatura corporal sobe. Esse fenômeno é chamado de efeito calorigênico. Dessa maneira, os hormônios da tireoide têm participação importante na manutenção da temperatura corporal normal. Mamíferos normais são capazes de sobreviver a temperaturas muito baixas, mas aqueles cuja glândula tireoide foi removida não conseguem. → Na regulação do metabolismo, os hormônios da tireoide estimulam a síntese de proteína e aumentam o uso de glicose e ácidos graxos para a produção de ATP. Além disso, intensificam a lipólise e a excreção de colesterol, reduzindo, desse modo, o nível de colesterol sanguíneo. → Os hormônios da tireoide intensificam algumas ações das catecolaminas (norepinefrina e epinefrina), pois promovem a suprarregulação dos receptores beta (β). Por essa razão, os sinais/sintomas do hipertireoidismo incluem frequência cardíaca aumentada, batimentos cardíacos mais fortes e pressão arterial elevada. 23 → Junto com o hormônio do crescimento e com a insulina, os hormônios da tireoide aceleram o crescimento corporal, sobretudo o crescimento dos sistemas nervoso e esquelético. A deficiência de hormônios da tireoide durante o desenvolvimento fetal ou infância causa grave retardo mental e restrição do crescimento ósseo. 24 Controle da secreção de hormônio da tireoide O hormônio liberador de tireotrofina (TRH) do hipotálamo e o hormônio tireoestimulante (TSH) da adeno-hipófise estimulam a síntese e a liberação dos hormônios da tireoide. 1 – Níveis reduzidos de T3 e T4 ou taxa metabólica baixa estimulam o hipotálamo a secretar TRH. 2 – O TRH entra nas veias porto-hipofisárias e flui para a adeno-hipófise, onde estimula os tireotrofos a secretar TSH. 3 – O TSH estimula praticamente todos os aspectos da atividade celular dos folículos da tireoide, inclusive captação de iodeto, síntese e secreção de hormônio e crescimento das células foliculares. 4 – As células foliculares da tireoide liberam T3 e T4 no sangue até que a taxa metabólica volte ao normal. 5 – O nível elevado de T3 inibe a liberação de TRH e TSH (inibição por feedback negativo). Condições que aumentam a demanda de ATP – ambiente frio, hipoglicemia, altitude elevada e gravidez – também intensificam a secreção dos hormônios da tireoide. Relacionar as adaptações metabólicas ocorridas no jejum prolongado com as manifestações clínicas A produção de corpos cetônicos é anormalmente elevada quando a degradação de triacilgliceróis não é acompanhada pela degradação de carboidratos. Realmente, para a oxidação eficiente de acetil-CoA pelo ciclo de Krebs, há necessidade de níveis compatíveis de oxaloacetato, para promover a reação de condensação que inicia o ciclo. Na ausência de carboidratos, diminui a concentração de piruvato e, consequentemente, a sua conversão a oxaloacetato. Ainda mais, quando não há oferta de glicose, o organismo lança mão da gliconeogênese que consome oxaloacetato, obtido de aminoácidos, principalmente. A baixa concentração de oxaloacetato reduz drasticamente a velocidade de oxidação de acetil-CoA pelo ciclo de Krebs: a acetil-CoA acumulada condensa-se, formando os corpos cetônicos. É o que ocorre quando há redução drástica da ingestão de carboidratos ou distúrbios do seu metabolismo. Quando a produção ultrapassa o aproveitamento pelos tecidos extra-hepáticos, estabelece-se uma condição denominada cetose, caracterizada por uma concentração elevada (até centenas de vezes maior do que a normal) de corpos cetônicos no plasma (cetonemia) e na urina (cetonúria). Outro sintoma peculiar de indivíduos com cetose é o odor de acetona de seu hálito. Acetoacetato e β-hidroxibutirato são transportados para o plasma por um simporte com prótons. Por isto, quando a concentração celular destes corpos cetônicos se eleva, a cetonemia resulta em acidose (diminuição do pH sanguíneo), que pode ocasionar coma e morte; esta condição é denominada cetoacidose. 25 O bloqueio do complexo piruvato desidrogenase, fosforilado pela isoenzima muscular da piruvato desidrogenase quinase 4 (PDK 4) impede a oxidação de piruvato a acetil-CoA, preservando este composto para a formação de alanina. A alanina e a glutamina produzidas são liberadas na circulação, constituindo a forma de transporte do nitrogênio dos aminoácidos derivados da proteólise muscular. A alanina é captada principalmente pelo fígado, onde o seu α-cetoácido, o piruvato, forma glicose e o grupo amino, ureia. A glutamina é utilizada como substrato pela gliconeogênese renal; enquanto o seu esqueleto de carbono origina glicose, o nitrogênio é convertido em íons NH4+, cuja excreção na urina contribui para a manutenção do equilíbrio ácido-base. Assim, a gliconeogênese hepática e a renal estão associadas com a produção de ureia e de amônia, respectivamente. Como a eliminação do nitrogênio derivado dos aminoácidos utilizados para a síntese de glicose não é acompanhada de ingestão, estabelece-se um balanço nitrogenado negativo.
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