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LEGISLAÇÃO E NORMAS TÉCNICAS EM SEGURANÇA NO TRABALHO Caros Pós Graduandos; A disciplina Legislação e Normas Técnicas em Segurança no Trabalho, ora apresentada, é bastante rica e extensa, não cabendo, neste sintético trabalho, o seu esgotamento. Nosso objetivo, portanto, é levar o aluno, futuro profissional Engenheiro em Segurança do Trabalho, a conhecer as principais regras existentes no ordenamento jurídico brasileiro em matéria de segurança no trabalho, para que possa aplicá-las no dia-a-dia do seu exercício profissional Para tanto, faremos uma excursão no conteúdo básico da disciplina, conhecendo a evolução histórica da legislação sobre segurança do trabalho no Brasil, conceitos básicos para entender a sistemática do ordenamento jurídico brasileiro, a legislação existente quanto ao objeto da disciplina no que mais interessa ser de conhecimento do Engenheiro em Segurança do Trabalho, destacando e comentando as disposições contidas na Constituição Federal, na CLT, em Leis Esparsas, no Código Civil Brasileiro e nas principais Normas Técnicas em vigor, abordando, ainda, as Convenções Internacionais da OIT – Organização Internacional Trabalho - ratificadas pelo Brasil em matéria de segurança e medicina do trabalho. Espero que nosso objetivo seja alcançado, da forma mais prazerosa possível, possibilitando ao aluno uma visão global sobre a disciplina e a assimilação das questões mais relevantes e de utilidade prática no exercício da sua profissão. Tópicos da Primeira Aula -A História da Legislação no Brasil -Conceituação: Leis, Decretos e Portarias -Normas Regulamentadoras Versus Normas Brasileiras -Legislação Federal, Estadual, Municipal -Atividade Orientada A HISTÓRIA DA LEGISLAÇÃO NO BRASIL Mundialmente, a preocupação com as condições do trabalho e com a saúde do trabalhador, tomou corpo em 1919, com a criação da OIT – Organização Internacional do Trabalho , que passa a adotar convenções destinadas à proteção da saúde e integridade física dos trabalhadores, como, por exemplo, limitação da jornada de trabalho, proteção à maternidade, ao trabalho da mulher, do menor, com a limitação do trabalho noturno dos mesmos e exigência de uma idade mínima para a inserção do menor no mercado de trabalho, com o objetivo de uniformizar as questões trabalhistas já legisladas em diversos países desde 1802, notadamente os mais industrializados da Europa. No Brasil, à época, país de contornos agrários e possuidor de indústrias incipientes, a primeira norma a tratar das condições de segurança e medicina do trabalho foi o Decreto lei nº 3.724, de 15 de janeiro de 1919, pelo qual foi implementado o serviço de medicina ocupacional, com a fiscalização das condições de trabalho nas fábricas, além de disciplinar a reparação dos danos causados por acidente do trabalho, “fundamentada na Teoria da Responsabilidade Extracontratual ou aqui liana do empregador, vinculava a indenização ao elemento subjetivo, ou seja, à efetiva prova da culpa”1 Alguns Decretos foram aprovados disciplinando o trabalho dos menores, visando à proteção e saúde dos mesmos, como o Decreto nº 17.943/1927, que aprova o Código de Menores, seguido do Decreto nº 22.042/1932 que determina regras do trabalho do menor na indústria, além de se preocupar o legislador brasileiro com a proteção ao trabalho da mulher, mediante o Decreto 21.417-A/1932. Destacamos, ainda, o Decreto nº 24.637, de 10 de julho de 1934, também abordando o tema do acidente do trabalho e sua reparação, ampliando a definição de acidente do trabalho para abranger as doenças profissionais. O autor Eduardo Gabriel Saade2 afirma que “o legislador, em nosso País, só se ocupou de medidas preventivas das moléstias profissionais e dos riscos ocupacionais com a Consolidação das Leis do Trabalho, isto é, em 1º.5.43”, em que pese reconhecer a existência dos Decretos precedentes sobre o tema, como os acima mencionados. A CLT, instituída pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º.5.1943, dedicou um Capítulo (Capítulo V) à Segurança e Medicina do Trabalho (denominada à época como Higiene e Segurança do Trabalho), trazendo ao mundo jurídico, no dizer do professor e Desembargador do Trabalho do TRT da 5ª Região Cláudio Brandão3 , “as primeiras normas de higiene e segurança do trabalho, prevenção de acidentes do trabalho e doenças profissionais, e disciplinou a obrigação dos empregadores e dos empregados quanto à segurança e higiene nos locais de trabalho, além de definir as atividades insalubres e perigosas”, estando hoje em vigor o Capítulo V, Título II, artigos 154 a 201 da CLT, com a redação da Lei nº 6.514/77, capítulo que será objeto de estudo mais detalhado na abordagem do Tema 2, do Bloco 1, face a sua importância. No Decreto nº 7.203, de 10.11.1944, há uma definição do “conceito de acidente do trabalho a partir de sua causa, e não mais de seu efeito”4 abrangendo como tal também aquele ocorrido no trajeto do trabalho, além de conter o primeiro registro sobre Comissões Internas de Prevenção de Acidentes – CIPA(s), de obrigatoriedade nas empresas com número mínimo de 100 empregados, assegurando a participação de trabalhadores no desenvolvimento dessas atividades, de tratar da obrigatoriedade do uso de EPI – Equipamento de Proteção Individual, e prever a criação pelas empresas de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT, com o objetivo de formar profissionais especializados em segurança e medicina do trabalho. Em 1945, foi criada a ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes), associação privada, sem fins lucrativos, que tem como objetivo promover a educação e informação relacionada às medidas de prevenção de acidentes Em 1966 foi criada a Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO, por meio da Lei nº 5.161, de 21 de outubro, para realizar estudos e pesquisas pertinentes aos problemas de segurança, higiene e medicina do trabalho, hoje denominada Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho. Em 1967, a Lei nº 5.316, como salientou o professor CLÁUDIO BRANDÃO5 “integrou o seguro de acidentes do trabalho no sistema da Previdência Social, instituído por meio de monopólio; estendeu a proteção aos trabalhadores avulsos e aos presidiários; determinou o custeio do seguro acidentário, por meio de uma contribuição a cargo exclusivo da empresa, variando conforme o risco”, além de ter passado a Previdência Social a adotar programas de prevenção de acidentes e reabilitação profissional, significando um avanço na legislação de segurança e medicina do trabalho. Em 1976, foi editada a Lei 6.367, que ampliou a cobertura da Previdência Social quanto aos acidentes do trabalho para alcançar os trabalhadores temporários, instituindo um novo regime de acidentes do trabalho, criando uma contribuição a ser paga pelo empregador, conforme o risco do seu negócio, para a cobertura de acidentes do trabalho. As Normas Regulamentares do Ministério do Trabalho e do Emprego vieram ao mundo jurídico por meio da Portaria nº 3.214, de 8.6.1978, em número de vinte e oito, trazendo de forma pormenorizada a regulamentação do quanto disposto na legislação em matéria de segurança e medicina do trabalho. Em 1979, acontece a Semana de Saúde do Trabalhador, promovida pela Comissão Intersindical de Saúde do Trabalhador, cuja denominação atual é Departamento Intersindical de estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes do Trabalho. A Lei nº 5.889, de 8.6.1973, determinou a observância das normas de segurança e higiene do trabalho, estabelecidas em Portaria do Ministro do Trabalho, nos locais de trabalho rural. A Portaria nº 3.067, de 12.4.1988, do Ministro do Trabalho, aprovou as Normas Regulamentares Rurais relativas à Segurança e Higiene do Trabalho Rural, as chamadas NRR, em número de cinco.Marco principal da saúde do trabalhador no ordenamento jurídico brasileiro, a Constituição Federal de 1988, constitucionalizou a matéria, elencando os direitos sociais dos trabalhadores urbanos e rurais, no seu art. 7º, dentre os direitos e garantias fundamentais do homem, inclusive o direito dos trabalhadores à “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (inciso XXII), o direito à percepção do “adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei ( inciso XXIII) e ao “seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.”, além de no art. 200, inciso VIII, proteger o meio ambiente do trabalho e dispor no seu art. 193 que “a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. Posteriormente, outras Normas Regulamentadoras foram aprovadas mediante Portarias do Ministério do Trabalho e Emprego, criando, até os dias atuais, as NR29, NR30, NR31, NR32 e NR33, além de terem ocorrido diversas alterações nos textos das 28 NR(s) já existentes no ordenamento jurídico, com o fi m de aprimorá-las e adequá-las à finalidade maior que é de fornecer meios garantidores a assegurar o real e efetivo direito dos trabalhadores à segurança, higiene e saúde no trabalho Em 1991, foi editada a Lei 8.213/91 (Lei de Benefícios da Previdência Social), que define o conceito de acidente do trabalho; responsabiliza a empresa pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador; constitui como contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho; possibilita à Previdência Social a propositura de ação regressiva contra os responsáveis, nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicados para a proteção individual e coletiva; além de criar a estabilidade para o trabalhador vítima de acidente do trabalho. A redação atual da Lei 8.213/91, que sofreu diversas alterações desde a sua edição originária, traz a obrigatoriedade para as empresas que exercem atividades nas quais o empregado esteja exposto a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde, de preencher o formulário denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário-PPR, documento “histórico-laboral do trabalhador” que deverá conter, dentre outras informações, “registros ambientais, resultados de monitoração biológica e dados administrativos, abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador, documento este cuja cópia autêntica deve ser fornecido ao empregado quando da rescisão do contrato de trabalho. A Lei nº 9.795, de 27.4.1999, dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências, fazendo referência à melhoria do meio ambiente do trabalho e instituindo a obrigação às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, de promover programas de capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente. Hoje, podemos concluir que a legislação brasileira, em matéria de segurança e saúde do trabalho, avançou muito, estando constitucionalizado o direito à proteção, à saúde do trabalhador e asseguradas as regras básicas de proteção à segurança e saúde do trabalhador e ao meio ambiente laboral contidas nas principais Convenções Internacionais da OIT ratificadas pelo Brasil e incorporadas ao seu ordenamento jurídico, munindo de ferramentas a sociedade para que se alcance os números mínimos desejáveis da ocorrência de acidentes do trabalhado e a melhoria do bem estar do trabalhador e da qualidade de vida coletiva. -CONCEITUAÇÃO, LEIS, DECRETOS E PORTARIAS Existem alguns termos jurídicos, de utilização bastante usual no âmbito do estudo da Legislação em Segurança e Medicina do Trabalho, que merecem ser bem conceituados, para que se permita ao aluno uma compreensão exata dos mesmos. Entre eles, destacamos os conceitos jurídicos de leis, decretos e portarias. LEIS A palavra lei pode ser empregada em vários sentidos, inclusive de ‘”condição imposta pelas coisas, pelas circunstâncias”, como, por exemplo, “a lei do destino; a lei da morte; a lei da selva”; “de um princípio que determina não somente as ações humanas, como também os acontecimentos naturais” sendo possível neste sentido se falar em “lei natural e lei positiva, lei divina e lei humana, lei física, lei ética, lei jurídica” , etc., dentre outros. Contudo, a acepção que nos interessa aprofundarmos acerca da palavra lei é a da lei em sentido jurídico. Sob este prisma, podemos considerar a lei em sentido amplíssimo, amplo e estrito. Lei em sentido amplíssimo, deve ser entendida como regra de direito, escrita ou não, abrangendo os costumes e a chamada norma hipotética fundamental, norma meta-jurídica, não positivada no ordenamento jurídico, mas que serve de fundamento de validade para a Constituição, norma jurídica de escalão mais alto dentro da estrutura piramidal apresentada por Hans Kelsen. Você sabe quem foi Hans Kelsen? “Hans Kelsen foi o teórico que desenvolveu a ideia de uma pirâmide jurídica, na qual a Constituição está no ápice. No segundo patamar, encontram-se as leis ordinárias e complementares; no terceiro, os decretos, atos normativos, deliberações, instruções normativas dentre outros atos regulamentadores; e, por fim, os contratos Lei em sentido amplo, como de “qualquer norma jurídica escrita que revista os caracteres de validade e eficácia e tenha sido promulgada por autoridade a quem outras normas atribuam competência para tal”11, estando abrangidas por este conceito não somente as leis em sentido estrito, mas também os decretos, regulamentos, resoluções, portarias, etc. Neste sentido, a palavra lei é utilizada como sinônimo de norma jurídica escrita. O autor R. Limongi França traz um conceito de lei em sentido amplo, por ele classificado como conceito externo, em contrapartida ao conceito interno que se reporta às origens da lei, que define com exatidão suas principais características: “É um preceito jurídico escrito, emanado do poder estatal competente, com caráter de generalidade e obrigatoriedade.” A lei é um preceito, ou seja, um mandamento, um comando, decorrente da ação humana e não da natureza. Preceito este de natureza jurídica, relacionado ao justo, às leis morais. Escrito, diferenciando-se da norma jurídica não escrita, que é o costume, sendo característica essencial da lei ser escrita. De origem estatal, do poder dos órgãos políticos soberanos de um Estado, emanada de autoridade competente. Com caráter de generalidade, ou seja, de aplicação a todos ou a um número indeterminado de pessoas, indistintamente, e com caráter de obrigatoriedade, ou seja, que devem ser cumpridas por todos, o que somente se efetiva por ser a lei dotada de coercitividade. Acrescente-se, ainda, o caráter de permanência da lei, pois “é próprio da lei a duração, a extensão no tempo“. Já o conceito de lei, em sentido estrito, corresponde à norma jurídica escrita, de caráter geral e abstrato, criadora de direitos e obrigações, emanada do Poder Legislativo. Só a lei, em seu sentido material, cria direitos e impõe obrigações positivas ou negativas. Do ponto de vista formal, segundo José Afonso da Silva, a lei seria conceituada como sendo “o ato legislativo emanado dos órgãos de representação popular e elaborado de conformidade com o processo legislativo previsto na Constituição” O conceito de lei em sentido estrito é que deve ser considerado, para que possa ser distinguido dos conceitos de decretose portarias que adiante analisaremos. Diversas são as classificações atribuíveis às leis, merecendo ser aqui destacada a classificação das leis quanto à sua hierarquia, que, segundo CAIO MÁRIO PEREIRA DA SILVA15 se dividem em “constitucionais, complementares e ordinárias”. -Leis constitucionais seriam aquelas elaboradas pelo Poder Constituinte originário e derivado, constantes da Constituição e das Emendas Constitucionais, que se referem, em princípio, à estrutura e funcionamento do Estado, determinando os seu Poderes, competência, definindo os direitos fundamentais do homem, inobstante outras matérias possam ser inseridas no corpo orgânico da Constituição, o que por si só já lhes conferem o caráter de normas constitucionais. São as normas de maior hierarquia dentro do ordenamento jurídico, sendo o fundamento de validade para todas as demais normas, segundo a estrutura piramidal de hierarquia das leis anteriormente mencionada. Leis complementares seriam as que complementam as normas constitucionais que não sejam auto-executáveis, de eficácia limitada, sendo consideradas estas como as “que, de imediato, no momento em que a Constituição é promulgada, não têm o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei integrativa infraconstitucional”. A lei complementar seria exatamente a lei integrativa. Há autores, como MARIA HELENA DINIZ 17 e CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA que consideram a lei complementar de hierarquia superior à lei ordinária, sustentando que uma lei ordinária não pode revogar lei complementar, além do fato da CF/88 trazer a mesma como espécie normativa e sujeitar a sua elaboração a um processo legislativo mais rígido que a lei ordinária, com quórum especial de maioria absoluta enquanto que a lei ordinária está sujeita a um quórum de maioria simples. Outros autores, consideram que a lei complementar e a lei ordinária estão situadas em uma mesma hierarquia, apenas diferenciando- se pelo seu campo de atuação, pois algumas matérias a Constituição reserva à lei complementar. Leis ordinárias seriam as leis comuns, as emanadas “dos órgãos que a Constituição investiu da função legislativa”, segundo CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA. Para finalizarmos este tópico, lembramos que no âmbito do Direito do Trabalho vigora o princípio proteção do hipossuficiente econômico (o trabalhador), que, em uma de suas vertentes, traz a regra da norma mais favorável, não se aplicando a estrutura piramidal rígida de hierarquia das normas, isto porque, em havendo conflito entre normas trabalhistas de hierarquias diferentes será aplicada ao caso concreto aquela que for mais benéfica ao trabalhador. Exemplificativamente, se o contrato individual de trabalho ou mesmo Norma Coletiva de Trabalho (Acordo Coletivo de Trabalho ou Convenção Coletiva de Trabalho) dispor que a empresa pagará ao empregado 40% a título de adicional de periculosidade, este percentual, apesar de estar contido em norma de hierarquia inferior à Consolidação das Leis Trabalhistas, que prevê o percentual de 30% de adicional de periculosidade em seu art.193, § 1º, prevalecerá em detrimento do adicional previsto em lei, por ser mais benéfico ao trabalhador. DECRETOS Dispõe o inciso IV, do art. 87, da Constituição Federal, de 05/10/1988, que compete privativamente ao Presidente da República expedir decretos e regulamentos para a fiel execução das leis. Decorre a competência do Presidente da República em expedir decretos do exercício do poder regulamentar, conceituado por José dos Santos Carvalho Filho como sendo “a prerrogativa conferida à Administração Pública de editar atos gerais para complementar as leis e permitir a sua efetiva aplicação.” Quanto ao conteúdo, os decretos podem ser classificados como gerais ou individuais. O decreto geral veicula um ato administrativo normativo, geral, correspondendo aos decretos regulamentares de uma lei. Nas palavras de JOSÉ CARVALHO DOS SANTOS FILHO, “ é por sua natureza, ato de que se socorre o Chefe do Executivo para regulamentar as leis, ou seja, para expedir normas administrativas necessárias a que a lei possa ser executada. Corresponderiam os decretos gerais aos decretos-legislativos, ou seja, ato administrativo formal, privativo dos Chefes do Poder Executivo da União Estados e Municípios, com a finalidade de complementar as leis permitindo a sua efetiva aplicabilidade. Apesar de possuírem a mesma normatividade da lei, não podem ultrapassar os limites da competência que foi atribuída ao Poder Executivo, sob pena de abuso do poder regulamentar, hipótese na qual é autorizado ao Congresso Nacional sustar o referido ato, nos termos do inciso V, do art. 49, da CF/88. Já o decreto individual, segundo o mesmo autor, teria “destinatários específicos, individualizados”, sendo ato administrativo individual, concreto, a exemplo dos decretos de nomeação ou exoneração de servidor público. Para a utilização prática do profissional Técnico em Segurança do Trabalho, de forma sintética, o conceito que devemos ter em mente é o de decreto como ato administrativo formal, privativo dos Chefes do Poder Executivo da União Estados e Municípios, com a finalidade de complementar as leis permitindo a sua efetiva aplicabilidade, em razão da existência de Decretos regulamentadores de leis que veiculam matérias atinentes à segurança do trabalho, como, por exemplo, o Decreto 93.412, de 14 de outubro de 1996, baixado pelo então Presidente da República José Sarney, que regulamenta a Lei 7.369, de 20 de setembro de 1985, que institui o salário adicional para empregados do setor de energia elétrica, em condições de periculosidade e dá outras providências. Convém relembrar que, segundo o sistema piramidal de hierarquia das normas, o Decreto é norma de categoria inferior à lei, não podendo ir de encontro com o que dispõe a lei, que constitui o seu fundamento de validade. PORTARIAS Assim como os Decretos, as Portarias são, também, consideradas pela doutrina como atos administrativos A diferença primeira a ser destacada entre os mesmos é quanto à autoridade competente para expedi-los. Os Decretos são atos da competência exclusiva dos Chefes do Executivo, enquanto que as Portarias são atos praticados por “autoridades de nível inferior ao Chefe do Executivo, quaisquer que sejam seus escalões”. A segunda diferença a ser destaca é quanto ao objeto, pois as Portarias ”se destinam a uma variedade de situações, como, expedir orientações funcionais em caráter concreto“ ou ainda “impor a servidores determinada conduta funcional, instaurar procedimentos investigatórios e disciplinares”, como leciona o professor e Juiz Federal DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR.23 O autor CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO conceitua Portaria como sendo a “fórmula pela qual autoridades de nível inferior ao de Chefe do Executivo, sejam de qualquer escalão de comandos que forem, dirigem-se a seus subordinados, transmitindo decisões de efeito interno, quer com relação ao andamento das atividades que lhe são afetas, quer com relação à vida funcional dos servidores, ou, até mesmo, por via delas, abrem-se inquéritos, sindicâncias, processos administrativos.”, concluindo que “trata-se de ato formal de conteúdo muito fl uido e amplo”.24 As Portarias, como cima informado, se destinam-se a variadas situações, geralmente produzindo efeitos no âmbito interno da Administração Pública. Ocorre que, muitas vezes, a Portaria ultrapassa esses limites, impondo normas de conduta ao público, sendo designada, nesta hipótese, de Portaria Geral por JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, e “que consiste em declaração dirigida, de modo abstrato, a situações ou pessoas indeterminadas, impessoais, não- concretas, não-identificadas. Dirige-se a um conjunto de administrados, funcionários ou não”. A base jurídica das Portarias é a lei, regulamento ou decreto anterior, devendo conter todosos detalhes não previstos na lei, regulamento ou decreto a que se refere, com a finalidade de completar tais normas, descendo aos detalhes ali não especificados. A noção de Portaria ganha relevância para o estudo da disciplina Legislação e Normas Técnicas em Segurança do Trabalho porque, por intermédio delas, vieram ao mundo jurídico as Normas Regulamentares expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, normas técnicas que, de forma pormenorizada, regulamentam o quanto previsto genericamente em lei em matéria de segurança e medicina do trabalho e cujo conceito será objeto do próximo ponto do nosso conteúdo. NORMAS REGULAMENTADORAS VERSUS NORMAS BRASILEIRAS NORMAS REGULAMENTADORAS Por Normas Regulamentadoras - as denominas NR - devemos compreender aquelas aprovadas mediante Portarias expedidas pelo Ministério do Trabalho e do Emprego, de regulação técnica em matéria de segurança e medicina do trabalho, decorrentes do fenômeno denominado pela doutrina, aqui citada a de JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO, de deslegalização, assim entendido como aquele pelo qual “o próprio Legislativo delega ao órgão ou à pessoa administrativa a função específica de instruí-la”26 , diante da sua incapacidade em regulamentar certas matérias de alta complexidade técnica, reservando o Legislativo para si a competência para o regramento básico da matéria e “transferindo tão somente a competência para a regulamentação técnica mediante parâmetros previamente enunciados na lei.” De início, como já informado ao discorrermos sobre a evolução histórica da legislação em segurança e medicina do trabalho, foi instituída pela Portaria MTB nº 3.214, de 08.06.1978, vinte e oito Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no trabalho urbano. Em 12/04/1988, por meio da Portaria MTb nº 3.067, de 12.4.1988, é que foram editadas cinco Normas Regulamentadoras Rurais: - NRR-01: Disposições Gerais; - NRR-02: SEPATR – Serviço Especializado em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural; - NRR-03: CIPATR – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural; - NRR-04: EPI – Equipamento de Proteção Individual; e - NRR-05: Produtos Químicos. Com o passar dos anos, aprimorando-se a normalização na área da segurança e saúde do trabalho, foram editadas outras diversas NR(s) para o trabalho urbano, até chegarmos ao número atual de trinta e três NR(s), incluindo, entre elas, a NR31: Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aqüicultura, em substituição às cinco Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho Rural até então existentes. Resumindo: As Normas Regulamentares são normas de caráter obrigatório, de aplicação no âmbito nacional, que regulam tecnicamente a segurança e a saúde no trabalho, que devem ser cumpridas por todas as empresas e demais entes públicos da administração direta ou indireta que possuam empregados regidos pela CLT. NORMAS BRASILEIRAS Normas Brasileiras são normas técnicas expedidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – que permitem a produção, comercialização e uso de bens e serviços, de forma sustentável, nos mercados interno e externo, contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico, proteção do meio ambiente e defesa do consumidor. A ABNT, na sua página da internet, conceitua Norma Brasileira como “documento, estabelecido por consenso e aprovado por organismo reconhecido, que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto.”, acrescentando que referidas normas devem ser ”baseadas em resultados consolidados da ciência, tecnologia e da experiência acumulada, visando o benefício da sociedade.” Você conhece a ABNT? A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é o órgão responsável pela normalização técnica no Brasil, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. Trata-se de uma entidade privada e sem fins lucrativos fundada em 1940. É membro fundador da International Organization for Standardization (ISO), da Comissão Panamericana de Normas Técnicas (COPANT) e da Associação Mercosul de Normalização (AMN). A ABNT é a única e exclusiva representante no Brasil das seguintes entidades internacionais: • ISO – International Organization for Standardization • IEC – International Electrotechnical Comission E das entidades de normalização regional: • COPANT – Comissão Panamericana de Normas Técnicas • AMN – Associação Mercosul de Normalização Mantenedora: • NBR5410 –norma brasileira para instalações elétricas de baixa tensão. Dicionário Brasileiro de Eletricidade O processo de elaboração das Normas Brasileiras é gerido pela ABNT, organismo considerado pelo governo brasileiro, como sendo o único Foro Nacional de normalização, técnica no país, através da Resolução n.º 07 do CONMETRO, de 24.08.1992 fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. As Normas Técnicas Brasileiras surgem como uma decisão da sociedade que, através de setores organizados, manifesta formalmente à ABNT a necessidade de criar uma NB sobre um determinado tema, apresentando lista com os nomes das empresas e entidades interessadas na elaboração e aplicação da referida NB que se pretende criar. O Comitê Brasileiro da ABNT ou o Organismo de Normalização Setorial forma uma Comissão de Estudo, composta geralmente de representante do governo, de órgãos de defesa do consumidor, de entidade de classe, entidades técnicas e científicas, que, juntamente com os interessados na criação da norma, discutirão o tema, estabelecendo as prioridades técnicas a serem observadas, sendo, assim, conduzida a elaboração da norma, mediante consenso entre os participantes na elaboração do projeto, por votação nacional entre os associados da ABNT e demais interessados. Você sabe o que significa normalização? Atividade que estabelece, em relação a problemas existentes ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva com vistas à obtenção do grau ótimo de ordem em um dado contexto.29 Diversos são os objetivos da normalização, que busca alcançar economia na produção, com redução da variedade de produtos e procedimentos, melhor comunicação entre fabricantes e consumidores, aumentando a confiabilidade das relações comerciais e de serviços, prover a sociedade de meio eficazes de aferir a qualidade dos produtos, eliminar as barreiras técnicas e comerciais para exportação, buscando normalizar de forma não conflitante com os demais países. Porém, um dos objetivos da normalização que mais interessa à área da segurança do trabalho é a de buscar melhoria da qualidade de vida através da edição de NBR (s) relativas à saúde, à segurança e à preservação do meio ambiente, com a finalidade sempre de proteger a vida humana e a saúde, possibilitando o desempenho da atividade profissional mais segura e menos desgastante Quanto à normalização da ABNT referente à área de atuação de Saúde e Segurança Ocupacional, destacamos o SISTEMA DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL, consubstanciado a seguir: SISTEMA DA SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL OHSAS 18001. Este sistema tem por objetivo assegurar o bom cumprimento de procedimentos e cuidados que venham a garantir o gerenciamento dos riscos de saúde e segurança em uma organização. Também neste caso, nota-se certa pressão da sociedade para que as organizações ajam de maneira que sejam evitados acidentes ou fatalidades com seus colaboradores. Trabalhando com base nesses princípios, a organização consegue também a geração de mais qualidade e produtividade dos empregados e de seus processos fabris. Tendo todos estes procedimentos funcionando, a Certificação do Sistema da Segurança e Saúde Ocupacional serve, ainda, para mostrar, tantopara os fornecedores quanto para os consumidores, o grau de seriedade do trabalho de uma organização. O empresário, com a adoção da NRB referente ao seu ramo de negócio, estará adquirindo um “know-how”, tendo acesso a uma tecnologia já testada e provada, evitando desperdícios no processo produtivo, aumentando a produtividade e confiabilidade dos produtos e serviços, além de auxiliar na exportação, agregando à sua marca valores imateriais, gerando confiança e fidelização de clientes e conquista de novos consumidores. Existem Normas Brasileiras para produtos, para implementação de sistemas de gestão, para qualificar profissionais, de segurança contra incêndios, gases combustíveis, eletricidade, gestão ambiental, nível de ruídos, dentre outras, muitas trazendo em seu bojo regras a serem adotadas para se garantir a segurança no ambiente de trabalho e a saúde dos trabalhadores. As NBR (s) não se revestem de caráter obrigatório, como as leis, isto porque as empresas podem optar em se guiar pelas mesmas ou não, sendo consideradas normas técnicas voluntárias. Optando em segui-las, contudo, a empresa deverá observar todas as suas determinações, a fi m de que possa obter uma certificação de conformidade de produtos e serviços pela ABNT, que lhe garante um selo, elevando seu padrão de concorrência no setor, assegurando vantagens competitivas para os produtos e serviços, além de facilitar a entrada do produto ou serviço no comércio exterior. Quando, porém, as Normas Brasileiras vierem explicitadas em alguma norma expedida pelo Poder Público, como leis, decretos, portarias, instruções normativas ou citadas em contrato, passam a ser obrigatórias. As NBR (s) são normas de caráter privado, documento particular e não público e, por isso mesmo, protegida pela lei de direitos autorais, podendo ser adquiridas mediante compra nos diversos pontos de vendas existentes. Resumindo: As NBR são normas técnicas, facultativas, privadas, que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo, baseadas em resultados consolidados da ciência, tecnologia e da experiência acumulada. LEGISLAÇÃO FEDERAL, ESTADUAL, MUNICIPAL Dispõe o art. 1º da Constituição Federal que o Brasil é uma República Federativa formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, adotando, portanto, como forma de Estado, a Federação. Uma das características da Federação é a descentralização político- administrativa constitucional, com a existência de órgãos próprios de cada entidade federada (União, Estados e Municípios) e distribuição de competências exclusivas para cada uma destas entidades. Cada uma delas possui administração própria, autonomia tributária e financeira, além de um poder legislativo próprio, convivendo estas entidades em um mesmo nível jurídico, agindo dentro dos limites das competências que lhe foram atribuídas pela Constituição, de forma autonomamente. Em decorrência da forma federativa de Estado adotada pelo Brasil, convivem, no âmbito do território nacional, três esferas de legislação: federal, estadual, municipal, não existindo entre as mesmas, em princípio, hierarquia, isto porque cada uma das entidades federadas editará leis dentro dos limites das competências que lhe foram atribuídas, prevalecendo a lei editada pelo ente federado titular desta competência, salvo quando se tratar de competência concorrente para legislar sobre determinada matéria, hipótese na qual prevalecerá a lei federal sobre a lei estadual. Assim, classificam-se as leis, quanto à sua extensão, em: federais, estaduais e municipais. Leis Federais são aquelas são aquelas emanadas do Congresso Nacional, decorrente da competência da União para legislar. José Cretella Júnior traz o seguinte conceito de Lei Federal: “declaração solene de norma jurídica, no âmbito federal, ou seja, a cargo da União, valendo para todo o território nacional – lei federal geral – ou para todo bem, pessoa ou situação que fi ca sob impacto desse tipo de lei – lei federal especial.” Leis Estaduais, segundo o mesmo autor, constituem uma “declaração solene da norma jurídica, no âmbito estadual, ou seja, nos diferentes Estados-membros de uma Federação, de acordo com os princípios estabelecidos na Const. Federal.” Leis Municipais, por sua vez, são conceituadas por José Cretella Júnior, como “declaração solene da norma jurídica, feita pelo poder competente, na esfera do município”. Em matéria de segurança no trabalho, no âmbito da legislação federal, muitas leis foram editadas e no decorrer do nosso estudo muitas delas serão mencionadas e analisadas, dentre elas merecendo destaque as abaixo relacionadas em ordem cronológica: - Lei n. 4.860, de 26.11.1965, que dispõe sobre o Adicional de Risco Portuário; - Lei nº 5.889, de 8.6.1973, Estatuto do Trabalho Rural; - Lei nº 7.369, de 20.09.1985, que dispôs sobre o Adicional de Periculosidade no Setor de Energia Elétrica; - Lei nº 7.394, de 29.10.1985, que trata do Adicional de Risco para os Operadores de Raio X; - Lei nº 7.410, de 27.11.1985, que dispõe sobre a especialização de Engenheiros e Arquitetos em Engenharia de Segurança no Trabalho, a profissão de Técnico de Segurança no Trabalho e dá outras providências; - Lei n. 8.112, de 11.12.1990, Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Federais; - Lei nº 8.212, de 24.07.1991, Plano de Custeio da Previdência Social; - Lei nº 8.213, de 24.07.1991, Lei de Benefícios da Previdência Social; - Lei 8.270, de 17.12.1991, que trata dos Adicionais de Insalubridade e Periculosidade dos Servidores Públicos Federais; - Lei nº 10.593, de 6.12.2002, que disciplina a Carreira de Auditoria Fiscal do Trabalho. Além das leis federais acima enumeradas, de importância significativa são as disposições constantes na CLT inseridas no Capítulo V – Da Segurança e da Medicina do Trabalho, que será objeto de estudo em conteúdo próprio e muitas vezes citados os seus artigos ao longo do presente trabalho. O primeiro artigo do referido Capítulo da CLT – art. 154 - trata das Disposições Gerais da Segurança e da Medicina do Trabalho e determina que “a observância, em todos os locais de trabalho, do disposto neste Capítulo, não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho”. Logo, em havendo na Legislação Estadual e Municipal disposições relacionadas à matéria de segurança e medicina do trabalho, incluídas em código de obras ou regulamentos sanitários, devem ser observadas pelos estabelecimentos situados no limite territorial destes Estados ou Municípios.
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