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Brasília-DF. LegisLação apLicada à engenharia de segurança do TrabaLho Elaboração Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 7 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9 UNIDADE I ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS .............................................................................................. 17 CAPÍTULO 1 NORMA JURÍDICA E HIERARQUIA DAS LEIS .............................................................................. 17 CAPÍTULO 2 DIREITO, HERMENÊUTICA E SEGURIDADE SOCIAL ..................................................................... 23 CAPÍTULO 3 GERAÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR ............................................................................. 29 CAPÍTULO 4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO REFERENTE À SAÚDE DO TRABALHADOR .................... 41 CAPÍTULO 5 ESTRUTURA JUDICIÁRIA BRASILEIRA ......................................................................................... 50 UNIDADE II VISÕES SOBRE SAÚDE DO TRABALHADOR ............................................................................................. 56 CAPÍTULO 1 VISÃO SANITÁRIA .................................................................................................................... 56 CAPÍTULO 2 VISÃO PREVIDENCIÁRIA .......................................................................................................... 66 CAPÍTULO 3 VISÃO ACIDENTÁRIA ............................................................................................................... 78 CAPÍTULO 4 VISÃO PENAL.......................................................................................................................... 99 CAPÍTULO 5 VISÃO CIVIL.......................................................................................................................... 116 CAPÍTULO 6 VISÃO TRABALHISTA .............................................................................................................. 132 CAPÍTULO 7 VISÃO TRIBUTÁRIA ................................................................................................................. 149 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 179 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 180 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 7 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 8 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 9 Introdução Caro aluno, Bem-vindo à disciplina de Legislação Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho, material básico, sem dúvida, ao estudo da Saúde e Segurança do Trabalhador (SST). O objetivo deste caderno é permitir ao leitor uma visão ampla, interligada e sistêmica do tema em destaque, considerando a evolução das teorias envoltas ao fenômeno saúde, trabalho, adoecimento e meio ambiente, bem como os aparatos jurídicos e científicos, multidimensionais e pluridisciplinares que sustentam esse almejado e complexo bem social chamado Saúde do Trabalhador. A Saúde do Trabalhador aqui discutida deve ser entendida como resultado do avanço social ao representar um conjunto de anseios, direitos e deveres (de quebra de paradigma), por força da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988 (CFRB-88), assumidos na direção do direito público, no campo da saúde coletiva, em contraposição aos preceitos obsoletos e restritos da medicina do trabalho, calcados em direito privado, no estreito campo da saúde individual. Nesse esforço de concatenação do tema sanitário laboral, esta obra inicia-se com uma base comum e universal a qualquer sistema produtivo, válida como material didático-pedagógico às inúmeras possibilidades acadêmicas. Nos capítulos seguintes, faz o acoplamento mais adequado entre algo arcaicamente chamado de trabalhista (sentido exótico) para um sistema mais elaborado de conexões sociojurídicas, hodiernamente vinculado ao campo da dignidade humana (sentido esotérico), com desdobramentos nos variados campos do conhecimento humano. Este caderno está estruturado em unidades de estudo, subdivididas em capítulos, com base na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB-88), sequenciada pelos ramos do direito que se relacionam com a SST, como ilustra a figura seguinte: 10 Figura 1. Múltiplas dimensões da saúde do trabalhador submetidas à nova ordem constitucional. Aspectos Constitucionais sobre Saúde do Trabalhador Sanitários Previdenciários Tributários Ambientais Penais Trabalhistas Cíveis Direito Privado (Interesse Individual) – Alcança apenas o empregado Direito Público (Interesse Coletivo) – Alcança todos os trabalhadoresFonte: Elaborada pelo autor. A Constituição de um Estado emerge de um pacto entre diversificados valores sociais, ideias, aspirações e interesses diferenciados e até mesmo antagônicos. Conquanto seja verdade que a Constituição tenha por intuito retratar um consenso fundamental, não tem ela o condão de aplainar as saliências e reentrâncias do pluralismo e antagonismo das ideais subjacentes à celebração do referido pacto. Choques de valores sempre existirão, e isso em nada desnatura o Estado Democrático de Direito; ao contrário, faz florescer e amadurecer a democracia. A saúde do trabalhador brota desse bojo de conflitos sob o prisma constitucional como novo ramo de direito público voltado à integridade física e mental do trabalhador – assim entendido o trabalhador sob qualquer denominação, subordinação ou vinculação, inclusive os desocupados. Em outras palavras: o tema é incipiente e bastante polêmico. A constitucionalização do direito sanitário na atual Carta Magna possui duas características principais: o reconhecimento do direito à saúde como direito fundamental e a definição dos princípios que regem a política pública da saúde. A caracterização da saúde como direito fundamental ocorre pela primeira vez na história constitucional brasileira. A saúde consta como um dos direitos sociais reconhecidos no art. 6°, que abre o Capítulo II (“Dos Direitos Sociais”) do Título II (“Dos Direitos 11 Fundamentais”) da Constituição de 1988; além disso, o caput do art. 196 define a saúde como “direito de todos e dever do Estado”. Essa forma de constitucionalização acarreta importantes consequências, a saber. O texto constitucional anterior reconhecia, no art. 165, inciso XV, Título III, “Da Ordem Econômica e Social”, o direito à “assistência sanitária, hospitalar e médica preventiva”, nos termos da lei. Isso permitia, na legislação infraconstitucional, a separação entre o sistema de saúde dos segurados da Previdência Social, integrantes do mercado formal de trabalho, e a maioria da população, que não tinha acesso a esse sistema. Ou seja, quem tivesse Carteira Profissional (CTPS) teria direito aos serviços de saúde; ao contrário, aqueles que não a tivessem ficavam à míngua. Com a definição da saúde como direito fundamental, abre-se o caminho para que todos os cidadãos brasileiros possam dela usufruir, tendo em vista que a saúde passa a constituir um direito público subjetivo que é garantido pela existência do Sistema Único de Saúde (SUS). Direito à saúde como cláusula pétrea: as chamadas “cláusulas pétreas” são limites ao poder de reforma da Constituição, já que as matérias por elas alcançadas não podem ser abolidas, nem mesmo tendencialmente, por emendas constitucionais. Neste caderno, usamos a sigla SST para denominar Saúde e Segurança do Trabalhador, pois o bem jurídico tutelado é a saúde do trabalhador, e não o trabalho. É incorreta essa última acepção, pois colide com a CRFB-88. A saúde está disposta entre os direitos e garantias individuais, na qualidade de direito fundamental, portanto se inclui na definição de “cláusula pétrea”, de acordo com o inciso IV do art. 60, § 4º, da CF. Deve-se observar que, na aplicação desse dispositivo, o intérprete não deve se pautar pelo critério literal, já que o reconhecimento de todos os direitos fundamentais é uma decisão do poder constituinte que não pode ser alterada pelo poder reformador. Direito à saúde como valor: os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição possuem não apenas uma dimensão subjetiva, atribuindo direitos aos cidadãos, mas também uma dimensão objetiva, na qual se estabelecem os valores ou bens jurídicos principais que devem ser objeto de proteção pelo Estado e pela sociedade. Portanto, mesmo quando não há violação direta do direito subjetivo à saúde, os operadores do direito devem verificar se o bem jurídico “saúde” está sendo afetado por ações ou omissões dos poderes públicos. Isso justifica, por exemplo, a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo que contrarie o direito à saúde. 12 Direito à saúde e efeitos sobre terceiros: apesar de os direitos fundamentais terem sido concebidos, na sua origem, como direitos oponíveis ao Estado, admite-se contemporaneamente que eles também incidem nas relações jurídicas entre particulares. Assim, os direitos fundamentais produzem efeitos não apenas na relação Estado-cidadão (efeitos verticais), mas também na relação cidadão-cidadão (efeitos horizontais ou efeitos sobre terceiros). Em um primeiro momento, cabe observar que a violação de certos direitos é, inclusive, mais provável exatamente no âmbito dessas últimas relações, como ocorre com o direito à privacidade e o direito à honra. No campo do direito à saúde, essa noção impõe aos Poderes Públicos a obrigação de proteger a saúde no âmbito das relações privadas, devendo o legislador estabelecer leis adequadas a essa proteção e os tribunais interpretarem as normas do direito privado de acordo com a Constituição, inclusive as declarando inconstitucionais quando violarem o bem jurídico da saúde. Alguns exemplos dessa ideia: I. anulação de cláusulas contratuais dos planos de saúde, tendo em vista o prejuízo que acarretam à saúde do usuário; II. intervenção do SUS no âmbito do meio ambiente do trabalho quando não oferecer condições salubres de trabalho. Em todos os campos do Direito, observa-se a importância dos princípios, que hoje são consensualmente considerados autênticas normas jurídicas, vinculando os poderes públicos e os particulares às suas disposições, sem esquecer a aplicabilidade de outros princípios constitucionais ao campo do direito sanitário, como os referentes à administração pública (art. 37) e os princípios gerais da ordem social (art. 193), passamos a examinar os princípios constitucionais da seguridade social (art. 194) e da saúde (arts. 196 e 198), todos da CRFB 88. Por que o Engenheiro de Segurança do Trabalho (EST) e outros profissionais de SST precisam conhecer sobre legislação? Porque são muitos os ramos do direito que se relacionam com a SST e, por isso, devem ser lidos e interpretados de modo a se coadunarem aos princípios constitucionais da CRFB-88. A análise desses dispositivos demonstra que eles estabelecem as diretrizes que devem ser observadas pelos Poderes Públicos no cumprimento de suas obrigações. Dessa forma, os princípios impõem um conjunto de objetivos ao Estado cujo alcance é o vetor que deve orientar o desenvolvimento das políticas públicas, limitando o campo da discricionariedade. 13 Os princípios permitem verificar a constitucionalidade e a legalidade materiais das políticas públicas, tanto no que se refere às suas atividades-fim quanto às suas atividades-meio. A leitura combinada dos arts. 194, 196 e 198 da CRFB-88 destaca os seguintes princípios: » universalidade (art. 194, I; art. 196, caput): essa diretriz rompe com a divisão que existia anteriormente entre os segurados do sistema de previdência social e o resto da população. Como direito de todos, a saúde não requer nenhum requisito para sua fruição, devendo ser universal e igualitário o acesso às ações e aos serviços de saúde, “em todos os níveis de assistência” (art. 7º, I, da LOS); » caráter democrático e descentralizado da administração, com participação da comunidade (art. 194, VII; art. 198, I e III): a descentralização é aqui entendida como uma redistribuição das responsabilidades pelas ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da ideia de que, quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Deverá haver uma profunda redefinição das atribuições dos vários níveis de governo, com um nítido reforço do poder municipal no tocante à saúde; » atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais (art. 198, II): esse princípio impõe a articulação e continuidade do conjunto das ações e serviços preventivose assistenciais ou curativos, em todos os níveis do sistema. A integralidade implica ainda que os serviços de saúde devem funcionar atendendo o indivíduo como um ser humano integral, submetido às mais diferentes situações de vida e de trabalho, que o levam a adoecer e morrer. O indivíduo deve ser entendido como um ser social, cidadão que biológica, psicológica e socialmente está sujeito aos riscos inerentes à vida. Dessa forma, o atendimento deve ser feito para a sua saúde, e não somente para as suas doenças. Isso exige que o atendimento seja feito também para erradicar as causas e diminuir os riscos, além de tratar os danos. Isso significa que o SUS deve garantir o acesso a ações de promoção que buscam eliminar ou controlar as causas das doenças e agravos, envolvendo ações também em outras áreas; » regionalização e hierarquização (art. 198, caput): esse princípio busca permitir um conhecimento maior, por parte da rede de serviços do SUS, dos problemas de saúde da população de uma área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de 14 vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Dessa forma, o acesso da população à rede deve dar-se por intermédio dos serviços de nível primário de atenção, que devem ser e estar qualificados para atender e resolver os principais problemas que demandam serviços de saúde. Os que não podem ser resolvidos nesse nível deverão ser referenciados para os serviços de maior complexidade tecnológica. Além desses princípios, o já citado art. 7º da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, enumera outros, a saber: » preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral, que significa o respeito à capacidade de o indivíduo tomar decisões, inclusive elegendo o procedimento a ser adotado, desde que eficaz para a preservação da sua saúde ou da comunidade (art. 7º, III); » direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde (art. 7º, V); » divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e sua utilização pelo usuário (art. 7º VI); » utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática (art. 7º, VII); » integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico (art. 7º, X); » conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população (art. 7º, XI); » capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência, isto é, capacidade de os serviços de saúde resolverem, no nível de sua complexidade, os problemas que lhes forem apresentados (art. 7º, XII); » organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos (art. 7º, XIII). Como se pode observar, esses princípios regulam não apenas as prestações de serviços de saúde, mas também a própria organização do SUS, o qual segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, sob a responsabilidade das três esferas autônomas de governo: federal, estadual e municipal. Assim, o SUS não é um serviço ou uma instituição, mas um sistema, que significa um conjunto de unidades, serviços e ações que interagem para um fim comum. 15 Tudo o que foi mencionado acima se aplica à saúde do trabalhador, pois tudo que vale ao todo vale, por óbvio, à parte desse mesmo todo. Logo, não há saúde do trabalhador sem o respeito a esses princípios e diretrizes supramencionados. Especificamente à saúde do trabalhador, a CRFB-88 pontua alguns fundamentais direitos, a partir dos quais se estrutura a presente obra: » inciso XXVIII do art. 7º: seguro contra acidentes de trabalho (SAT), a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; » inciso XXII do art. 7º: redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança; » inciso XXIII do art. 7º: adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; » inciso II do art. 200: ao SUS compete, além de outras atribuições, nos termos da lei, executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; » caput do art. 225: meio ambiente ecologicamente equilibrado, neste incluso o meio ambiente do Trabalho (VIII do art. 200). Por conta dos dispositivos acima, fica nítida a ativação de vários ramos do direito, submetidos a um mesmo tronco da Saúde do Trabalhador, dentro de um bem jurídico maior: a saúde – daí a denominação Direito Sanitário. A ativação dos vários ramos se dá de modo expresso, a saber: » Direito Tributário – Ao determinar o recolhimento compulsório do SAT, por parte das empresas, nos termos do inciso XXVIII do art. 7º. » Direito Civil – Ao referenciar indenização, por parte do empregador, quando do acidente do trabalho, nos termos do inciso XXVIII do art. 7º. » Direito Penal – Ao vincular e definir consequências a pessoa do empregador quando da ocorrência de ato culposo ou doloso, nos termos do inciso XXVIII do art. 7º. » Direito Trabalhista – Ao criar adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, nos termos do inciso XXIII do art. 7º. » Direito Sanitário – Ao atribuir ao SUS competência ampla e plena, inclusive nominando juridicamente a nomenclatura saúde do trabalhador, nos termos do inciso II do art. 200. 16 » Direito Ambiental – Ao incluir o meio ambiente do trabalho na definição constitucional dada pelo art. 225, nos termos do inciso VIII do art. 200. Este caderno de estudo aborda essas facetas indicadas, separando-as por capítulos e entrelaçando-as ao longo do material. Nesta disciplina, teremos informações sobre os principais ramos do direito relacionados às empresas e aos trabalhadores subordinados ao risco. Objetivos » Apresentar toda a legislação atinente ao campo da SST. » Observar a hierarquia das leis e focalizar as legislações que orbitam a CRFB-88 quanto à SST » Compreender as responsabilidades sanitárias, previdenciárias, tributárias, civis, criminais, ambientais e trabalhistas. » Permitir capacidade crítica para ler e interpretar os comandos normativos quanto à SST. 17 UNIDADE IESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS CAPÍTULO 1 Norma Jurídica e Hierarquia das leis Com as sociedades tornando-se cada vez mais complexas, o simples ordenamento legal dos costumes tornou-se insuficiente para o regramento das relações. Desse modo, surgiram diversas categorias de diplomas normatizadores, com características singulares e campos de atuação distintos, tanto de eficácia como de cobertura geográfica. Estabelece-se que uma espécie normativa é hierarquicamente inferior a outra quando aquela encontra seu fundamento de validade, sua razão de ser, nesta. De outra forma, podemos considerar o processo legislativo ou normativo a que a norma está sujeita, ou seja, quanto mais qualificada for a aprovação daquele, mais ascendente é a norma. Antes, porém, de entrar na classificação hierárquica das normas, é importante apontar a norma como gênero e os princípios e regras como espécies. Normas jurídicas são regras de conduta emitidas pelo poder público para regulamentar a coexistência pacífica dos seres humanos que são membros de uma sociedade, cuja observância não está sujeita a aceitação ou não pelo destinatário, porque, se ele não cumprir, ele pode ser forçado a isso. por meio da coerção, fazendo uso da força que o Estado possui. Exemplo: a aplicação de uma sanção pelo Código Penal quando ocorrer um crime. Para distinguir entre regras e princípios, há diversos critérios a serem utilizados. Quanto ao grau de abstração, os princípios são normas com um grau de abstração mais elevado, enquanto as regras têm sua abstraçãoreduzida. De maneira que, em função dos princípios serem vagos e indeterminados, necessitam de intervenções que os concretizem; já as regras, diante de sua precisão, podem ser aplicadas diretamente. Os princípios estabelecem padrões juridicamente vinculantes, estabelecidos em função da justiça ou da própria ideia de direito; as regras podem ser normas vinculativas com conteúdo apenas funcional. 18 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Um sistema não pode ser formado exclusivamente por regras, nem unicamente por princípios. No primeiro caso, pretendendo prever todas as situações, a eficiência prática seria limitada. No segundo, a indeterminação e a imprecisão poderiam tornar o sistema muito complexo e falível do ponto de vista da segurança jurídica. Por essa razão, apresenta-se o sistema aberto, formado por regras e princípios, como a forma mais equilibrada na constituição de um sistema jurídico, para que seja possível acompanhar a constante evolução social (CANOTILHO, 2000). A pirâmide dos padrões de Hans Kelsen1 baseia a concepção de cada lei como norma; isto é, como deveria ser. Cada lei pode ser derivada de outra que lhe dá validade até atingir o princípio de validade final, que é a norma fundamental. Kelsen representou as normas legais por meio de uma pirâmide que representa graficamente a ideia de um sistema jurídico escalonado. De acordo com isso, o sistema nada mais é do que a maneira pela qual um conjunto de normas legais está relacionado e a principal maneira de relacioná-las, dentro de um sistema, com base no princípio da hierarquia legal. Em outras palavras, as normas que compõem um sistema jurídico estão relacionadas entre si de acordo com o princípio da hierarquia legal. Imagine uma pirâmide: o topo da pirâmide da Constituição de um Estado seria colocado na etapa imediatamente abaixo, lei nos regulamentos no degrau seguinte, e assim por diante, até chegar à base, composta por normas legais individuais, que são os testamentos, os contratos e, finalmente, as sentenças. A pirâmide seguiria, então, esta ordem: 1. Constituição Federal; 2. Leis ou regras gerais; 3. Regulamentos; 4. Negócios e atos legais (contratos, testamentos); 5. sentenças judiciais e resoluções administrativas. Quanto mais nos aproximamos da base da pirâmide, mais amplo é o passo, ou seja, há um maior número de normas legais. Assim, o escalão superior é muito pequeno, porque a Constituição é apenas uma, e é a lei que está acima de tudo, que não pode ser violada; assim, entende-se que existem mais leis do que constituições, mais regulamentos do que leis, e assim por diante. No Brasil, apresenta-se a seguinte estruturação hierárquica de nosso ordenamento jurídico. 1 Filósofo e político austríaco de origem judaica (1881-1973), professor de filosofia do direito na Universidade de Viena desde 1917. 19 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I Constituição ou Carta Magna: é o conjunto de leis (codificadas ou não) que define as características políticas fundamentais (república X monarquia; presidencialismo X parlamentarismo; sistema de representação política etc.), os princípios políticos (organização de partidos políticos), os princípios sociais (“art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”) e estabelece a estrutura, os procedimentos, os poderes e os direitos de um governo. A Constituição é a lei máxima do nosso país. Ela determina as relações presentes na sociedade, define os direitos e deveres dos cidadãos e impõe os limites para que a vida em comunidade seja possível. Nenhuma outra lei, código, medida provisória ou decreto pode entrar em conflito com o que está estabelecido no documento promulgado em 1988. Trata-se da Lei Maior, a sua alteração necessita, no caso brasileiro, de rito legislativo específico, isto é, precisa da convocação de uma assembleia constituinte, em que os legisladores serão escolhidos com esse objetivo principal. Emendas à Constituição: leis que alteram a Constituição. A própria Constituição, em seu art. 60, disciplina a figura da Emenda à Constituição. Como se trata de dispositivo que altera a estrutura da Lei Maior, o quórum para a sua apresentação é qualificado (necessita de 1/3 dos membros da Câmara e/ou do Senado ou de iniciativa do Presidente da República), assim como a sua aprovação: A proposta de emenda constitucional será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros (art. 60, § 2°, da Constituição Federal). Dessa forma, ressalte-se o quórum diferenciado para aprovação, bem como a necessidade de dupla votação em cada Casa Legislativa. Não existe participação do Presidente da República na fase constitutiva do processo legislativo de uma emenda constitucional, uma vez que o titular do poder constituinte derivado reformador é o Poder Legislativo. Assim, não haverá necessidade de sanção ou veto. Leis complementares: são leis destinadas a complementar a Constituição, por determinação expressa do legislador constituinte, situando-se em nível intermediário entre a Constituição e a lei ordinária. É possível que a lei ordinária venha a regulamentar os aspectos decorrentes de lei complementar, tendo de manter a predominância desta, de quórum superior. Para aprovar uma lei complementar, é necessária a aprovação por maioria absoluta dos membros da casa legislativa, ou seja, “a metade mais um”. Por exemplo, na Câmara dos 20 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Deputados, existem 513 deputados. Assim, o projeto somente é aprovado pelo voto da maioria absoluta dos membros: 258 votos, segundo o que determina o art. 69 da CF/88. Leis Ordinárias: leis comuns, formuladas pelo Congresso Nacional (na área federal), pela assembleia legislativa (estadual) ou pela câmara dos vereadores (municipal). A lei ordinária diz respeito à organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, à nacionalidade, à cidadania, aos direitos individuais, políticos e eleitorais, planos plurianuais e orçamentos e a todo o direito material e processual, como os códigos civil, penal, tributário e respectivos processos. Para a sua aprovação, basta que a maioria absoluta esteja presente e que a metade destes vote favoravelmente ao projeto de lei ordinária. Por exemplo, na Câmara Federal, em que há 513 membros, basta que 258 estejam presentes e que 130 votem favoravelmente ao projeto para que ele seja aprovado. A doutrina jurídica indica que não há uma hierarquia entre as leis complementares e as leis ordinárias. O legislador Constituinte separou essas leis de modo a estabelecê-las segundo um grau de importância ou relevância dos assuntos que cada uma deve tratar, pois cada uma possui um quórum de aprovação específico. A outra grande diferença entre as espécies legislativas em questão é o âmbito material ou os assuntos que cada uma pode tratar. Um assunto é tratado em lei complementar quando a Constituição Federal de 1988 expressamente prever tal disposição, enquanto a aprovação por lei ordinária não exige tal determinação constitucional. Tratado Internacional: o tratado internacional, depois de reconhecido pelo Poder Executivo e aprovado pelo Poder Legislativo, incorpora-se ao arcabouço jurídico brasileiro, colocando-se no mesmo patamar da lei ordinária. O tratado internacional deve adequar-se à Constituição Federal, podendo, inclusive, ser declarado inconstitucional. Se houver conflito do tratado internacional com a legislação infraconstitucional, o tratado é considerado como lei ordinária; se o conflito permanecer em função da hierarquia das leis, prevalece o texto mais recente (STF, 1978). A exceção a essa regra é o caso dos tratados e das convenções internacionais sobre direitos humanosque forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, que equivalem às emendas constitucionais, sendo, portanto, hierarquicamente superiores à lei ordinária.2 Medida Provisória: a medida provisória é um ato do Executivo com força provisória de lei. É um ato emanado do Presidente da República, em circunstâncias excepcionais 2 O primeiro tratado aprovado conforme este rito é a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, juntamente com o seu Protocolo Facultativo, celebrada em Nova Iorque em 30 de março de 2007 e referendada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008. 21 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I de relevância e urgência, com força provisória de lei, que necessita da aprovação do Congresso Nacional para que tenha força definitiva de lei, devendo ser convertida em lei ordinária no prazo de sessenta dias prorrogável uma vez por igual período, caso contrário perde sua eficácia desde o momento de sua edição. Art. 58. O Presidente da República, em casos de urgência ou de interesse público relevante, e desde que não resulte aumento de despesa, poderá expedir decretos com força de lei sobre as seguintes matérias: I. segurança nacional; II. finanças públicas. Parágrafo único. Publicado o texto, que terá vigência imediata, o Congresso Nacional o aprovará ou o rejeitará, dentro de sessenta dias, não podendo emendá-lo; se, nesse prazo, não houver deliberação, o texto será tido como aprovado. A medida provisória, editada pelo presidente da República, deve ser submetida ao Congresso; não pode ser aprovada por decurso de prazo nem produz efeitos em caso de rejeição. Leis Delegadas: equiparam-se às leis ordinárias, diferindo destas apenas na forma de elaboração. A lei delegada é elaborada pelo presidente, a partir de delegação específica do Congresso, mas não pode legislar sobre atos de competência do Congresso, de cada Casa, individualmente, sobre matéria de lei complementar nem sobre certas matérias de lei ordinária. Decretos-Lei: um decreto-lei é um decreto emanado pelo Poder Executivo, e não pelo Poder Legislativo, que tem força de lei. Atualmente, não é mais possível a produção de um decreto-lei, mas existem ainda muitos em vigor. Decretos Legislativos: são normas promulgadas pelo Congresso Nacional em assunto de sua competência. São de competência exclusiva do Congresso Nacional, sem necessitar de sanção presidencial. A resolução legislativa também é privativa do Congresso ou de cada Casa isoladamente, por exemplo, a suspensão de lei declarada inconstitucional. Decretos: são atos administrativos da competência dos chefes dos Poderes Executivos (presidente, governadores e prefeitos), que visam explicar a lei e facilitar a sua execução, melhorando suas determinações e orientando sua aplicação. Um decreto é usualmente usado pelo chefe do Poder Executivo para fazer nomeações e regulamentos das leis (como para lhes dar cumprimento efetivo, por exemplo), entre outras coisas. 22 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Instrução Normativa: ato administrativo expedido por quem possui delegação de poder para tal, com o objetivo de auxiliar/ordenar a execução de leis, decretos e regulamentos. Resolução: Resoluções são atos administrativos normativos expedidos pelas autoridades do Executivo, mas não pelo Chefe do Executivo ou pelos presidentes de tribunais, órgãos legislativos e colegiados administrativos, para disciplinar matéria de sua competência específica. As Resoluções são sempre atos normativos inferiores ao regulamento não podendo inová-los, mas simplesmente complementá-los e explicá-los. Portaria: documento de ato administrativo de qualquer autoridade pública, que contém instruções acerca da aplicação de leis ou regulamentos, recomendações de caráter geral, normas de execução de serviço, nomeações, demissões, punições, ou qualquer outra determinação de sua competência. “As portarias, como demais atos administrativos internos, não atingem e nem obrigam a particulares, pela manifesta razão de que os cidadãos não estão sujeitos ao poder hierárquico da administração pública. Nesse sentido vem decidindo o Supremo Tribunal Federal – RF 107/65 e 277, 112/2026”. Apesar de as Normas Regulamentadoras (NR) serem aprovadas por Portaria, elas têm força de lei por delegação expressa do art. 200 da CLT. 23 CAPÍTULO 2 Direito, Hermenêutica e Seguridade Social A palavra direito vem do latim directum, que significa “direto”. Esse conceito está focado em educar o homem em seu campo social e estudar seu comportamento. Nesse sentido, são os padrões de punição ou sanção que garantirão uma correta coexistência entre indivíduos. A Lei, do ponto de vista doutrinário, é o conjunto de normas legais que regulam a conduta dos homens na sociedade. A determinação do sentido e alcance das expressões do Direito, processo que visa extrair da norma todo o seu conteúdo, realiza-se por meio da interpretação, que possui técnica e meios peculiares atingir os objetivos da hermenêutica. O termo hermenêutica advém de Hermes, personagem da mitologia grega encarregado de transmitir ou interpretar. É uma ciência jurídica que “tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”. É a ciência que estuda os métodos e técnicas de interpretação do Direito, buscando sistematizá-los de modo a tornar mais fácil e eficiente o trabalho do exegeta. Nas palavras de Maximiliano (2011, p.12) hermenêutica “é a teoria científica da arte de interpretar”, isto é, “de determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”. Dessa forma, o profissional na área de SST tem como vocação interpretar as normas em seus vários campos do direito para corretamente fazer justiça ao empregador e aos seus trabalhadores. A palavra fonte é derivada do latim font, que significa “lugar onde a água vem da terra” e, aplicando essa palavra ao estudo legal da norma, vale a pena fazer a seguinte pergunta: De onde vem a Lei? Isto é, quais são os atos, fatos, processos ou documentos dos quais podem surgir, a qualquer momento, as normas legais, que juntas formam a lei? As fontes do direito são geralmente classificadas em fontes reais, formais e históricas. Aqui consideraremos apenas as fontes formais, que são os procedimentos pelos quais a criação da regra legal foi alcançada. Essas fontes são: a. a legislação; b. o costume. c. a jurisprudência; 24 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS d. a doutrina; e e. os princípios gerais do direito. Avancemos ao Direito Público, assim entendido o ius publicum como o conjunto de regras que regulam as relações e funções do Estado e suas relações com os indivíduos. Esse ramo do direito é classificado da seguinte forma: constitucional; sanitário, ambiental, tributário, previdenciário e administrativo. Diz-se direito público porque os interesses coletivos deles depreendidos sobrepujam aqueles dos indivíduos. Há uma precedência, diferentemente do privado, no qual há uma simetria de poderes e correspondência de obrigações entre as partes. Nesse ponto, vale destacar a abordagem basilar do direito brasileiro definida pela Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) ainda em vigor, desde 1942, dada pelo Decreto-Lei nº 4.657, de 24 de setembro de 1942. A seguir são destacados alguns dispositivos dessa lei, pois assim foi convalidada pela Lei nº 12.376, de 30 de dezembro de 2010, a saber: Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção,o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. 25 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Seguridade Social Boschetti (2006. p. 13-14) faz uma avaliação desse período de nascedouro das políticas de Seguridade Social no Brasil, no século XX: Não é surpreendente que, no início dos anos 1920, as iniciativas governamentais fossem tão tímidas em matéria de proteção do trabalhador e do cidadão. Recém-saído do regime do Império (1889) e com a economia e a sociedade fundadas, até recentemente, na escravidão 1888, o país entrou no século XX sob a supremacia, ao mesmo tempo, da ideologia econômica liberal e do clientelismo político . O ano de 1923 pode ser considerado o ano de nascimento da Seguridade Social Brasileira como instituição pública, pois, nesse ano, foi criado o Decreto-Lei nº 4.682, em 24 de janeiro (Lei Eloy Chaves), que determinava a criação de Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas ferroviárias existentes. Ele marca o início da fase de vinculação à Seguridade Social por empresa. Em 1937, já existiam 183 Caixas de Assistência, mas a maioria sem um número mínimo de segurados que justificassem a sua sustentabilidade. Com isso, o governo alterou o formato das Caixas de Assistência e passou a vinculá-las não mais a uma empresa, mas a uma categoria funcional, denominada de Institutos de Pensão, o que garantiu a escala necessária para sustentabilidade econômica financeira dessas entidades de assistência. Assim, surgiram os seis principais Institutos de Pensão: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI – 1938), Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos (IAPM – 1933), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transporte e Cargas (Iapetc – 1945), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC – 1934), Instituto de Pensões e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase – 1938) e o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários (IAPB – 1934). Com isso, uma cobertura previdenciária foi estendida virtualmente a todos os trabalhadores urbanos e a boa parte dos autônomos. 26 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Em 1930, por meio do Decreto nº 19.433, de 26 de novembro, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que, entre as suas atribuições, estava a de orientar e supervisionar a Previdência Social. Sobre esse tema, o Jornal do Brasil noticiava em 3 de março de 1967, em Matéria de Alceu de Amoroso Lima, [...] deu a Revolução de 1930 um significado social que correspondia, de fato, uma nova fase na evolução política nacional: a ascensão irreversível do proletariado provocada pela industrialização, refletindo nas políticas do trabalho, incluindo as de Seguridade Social. Ao longo do século, grandes mudanças constitucionais sucederam até a atual Carta Magna de 1988, que avançou fortemente perante as Constituições anteriores no que tange à Seguridade Social, pois estabeleceu um capítulo específico para o tema. Além disso, determinou que a seguridade social brasileira fosse pautada por três pilares – Assistência a Saúde, Previdência Social e Assistência Social –, tendo como objetivo primeiro a busca do bem-estar da sociedade, da justiça social e do indivíduo. A Seguridade Social Brasileira vem inserida no Título VIII da Constituição Federal de 1988, “Da Ordem Social”, assim entendido o social como contraposição ao individual, em que as necessidades de um não podem suplantar a necessidade de muitos. A “Ordem Social” complementa, ao mesmo tempo em que norteia, o Título VII da Constituição Federal de 1988, “Da Ordem Econômica e Financeira”, que, em seu art. 170, determina que a sociedade brasileira deva estabelecer seus projetos econômicos baseados na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, com o objetivo de assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social. Já o art. 193 impõe que a ordem social tenha como base o primado do trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Verifica-se, desse modo, que as políticas econômicas estão indissociadas das necessidades sociais, e que ambas, sendo a Ordem Econômica sustentáculo da Ordem Social, visam ao atendimento dos direitos sociais do brasileiro, cujo art. 6º de nossa Carta Magna lista-os, in verbis: Art. 6ºSão direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. A Seguridade Social brasileira deve, em seu conjunto, atuar na melhoria dos indicadores e dos níveis dos direitos sociais dos brasileiros, não podendo ser tratada de forma estanque, separada da sociedade, ou direcionada a um grupo específico. Nesse contexto, o arcabouço jurídico vigente garante direitos aos trabalhadores que visem à melhoria de sua condição social como regras que preservem sua saúde e segurança no ambiente de trabalho, ou na participação dos lucros da empresa, entre outros. A Seguridade Social deve sempre garantir que o interesse de muitos se sobreponha ao do indivíduo, desde que essa política não atente contra a sua dignidade. 27 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I A Constituição Federal de 1988, ao sair do enfoque individual, no que se refere à Ordem Social, à percepção do que é bem-estar (outro objetivo da ordem social), sai do campo do subjetivo, no qual o conceito e o entendimento de bem-estar variam de indivíduo para indivíduo, permitindo que o Estado elabore políticas públicas objetivas voltadas para o bem-estar da sociedade, com aplicação da justiça social. Para garantir que as ações da Seguridade Social atinjam a sociedade brasileira de forma homogênea e igualitária, não discriminando nenhum brasileiro, é prerrogativa privativa da União legislar sobre a Seguridade Social. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: [...] XXIII – seguridade social; A Constituição Federal de 1988 expõe a Seguridade Social da seguinte maneira, in verbis: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I – universalidade da cobertura e do atendimento; II– uniformidadee equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; V – equidade na forma de participação no custeio; VI – diversidade da base de financiamento; VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quatripartite, com a participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados; IV – irredutibilidade do valor dos benefícios; De modo sucinto, define-se: a Seguridade Social é o conjunto de medidas tomadas pelo poder público e pelos cidadãos, em conjunto, ou separadamente, em prol dos direitos concernentes à saúde, à previdência e à assistência social (CRETELLA JR.,1991) A Constituição Federal veda a aplicação de critérios em que haja discriminação de qualquer espécie, tornando a Seguridade Social um direito social que deve atingir a totalidade da população brasileira. E essa cobertura visa atender todas as vicissitudes da vida que podem impor necessidades ao cidadão brasileiro, e que deverão ser atendidas pela Seguridade Social. Considerando que a Seguridade Social é universal, tornou-se inútil distinguir trabalhador urbano de trabalhador rural presente no art. 7º da Constituição de 1988, ficando aí resquício arqueológico da evolução jurídica brasileira. 28 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Ao ter critérios de seletividade e de distributividade, a Seguridade Social indica em sua filosofia que, para dar acesso de forma igualitária aos benefícios da Seguridade Social, é necessário tratar desigualmente os desiguais, isto é, oferecer mais a quem tem menos, para que assim se alcance a justiça social. É dessa forma que os benefícios são estabelecidos no Regime Geral de Previdência Social, por meio da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, tendo para os servidores públicos os benefícios tratados na Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que, de forma geral, apresenta os seguintes benefícios: » Quanto ao segurado: › aposentadoria por invalidez; › aposentadoria por idade; › aposentadoria por tempo de contribuição; › aposentadoria especial; › auxílio-doença; › salário-família; › salário-maternidade; › auxílio-acidente. » Quanto ao dependente: › pensão por morte; › auxílio-reclusão. » Quanto ao segurado e dependente: › serviço social; › reabilitação proftssional. Com esse apanhado, é possível avançar sobre a legislação referente à SST. Antes, porém, iniciamos uma contextualização histórica para situar o nobre leitor acerca das gerações pelas quais o Brasil. No Capítulo seguinte, essas gerações serão sistematizadas. 29 CAPÍTULO 3 Gerações de Saúde do Trabalhador Em geral, um acidente acontece em decorrência da conjunção de várias falhas, que possuem causa ou modo de falhas. Essas falhas possuem probabilidades de acontecerem, e, quando acontecem, geram incidentes, também chamados de quase acidente (sem danos tangíveis), ou acidentes que causam danos. Se os danos estão segurados, são chamados de sinistro; quando não, há perda para a empresa. A associação dos danos (efeitos adversos) com a probabilidade de acontecer chama-se risco. Quando o acidente acontece, o risco passa a ser a causa. A exposição relativa ao risco é denominada perigo. Quando o perigo se refere a procedimentos e regulamentos não atendidos, chama-se desvio. Dessa semântica relacionada ao meio ambiente do trabalho, é bom atentar para a história para perceber que nem sempre foi assim. Desde a fase colônia, o Brasil, tendo a escravidão como pano de fundo até 1888, e sua cultura de senhorio enraizada mesmo depois da abolição, passando pela independência em 1822, chegando até a primeira república, tratou seu obreiro segundo a ótica desses modelos políticos de dominação e modos de produção. O marco temporal que inaugura um mínimo de proteção aos acidentados vem em 1919, ou seja, no 98º ano da Independência e 31º da República, com o Decreto-Legislativo nº 3.724 de 15 janeiro, promulgado pelo Presidente Delfim Moreira da Costa Ribeiro. Com a abolição da escravatura, o estabelecimento da República, e os ventos sociais trazidos dos arcabouços jurídicos europeus, criou-se um cisma no parlamento brasileiro entre incluir ou não incluir normativos reguladores das relações de trabalho. Um primeiro bloco defendia uma implantação gradual de uma legislação que casasse os interesses do Estado com o desenvolvimento da indústria sem mudar o princípio da liberdade do trabalho e instituir uma indenização por acidente de trabalho, aplicada na França em 1898. O segundo bloco defendia a harmonia entre empregados e empregadores. Já o terceiro bloco era contrário a qualquer tipo de legislação social. Isso explica por que a legislação que trata de acidentes de trabalho no Brasil foi apresentada em 1904 e só foi promulgada em 1919, quinze anos depois. Tal querela fez-se presente na Constituição de 1891, e só após a reforma de 1926 veio trazer em seu bojo, de forma muito suave, em seu item 28 do art. 34, que é atribuição do Congresso Nacional legislar sobre o trabalho. Por isso, o intrumento usado foi um Decreto-Legislativo 30 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Primeira Geração Ano 1919 A primeira geração nasce em 1919, com o Decreto nº 3.724, de 15 de janeiro, como precursora da atual Previdência Social, quando a ordem jurídica brasileira onera o empregador mediante o instituto de compensação financeira acidentária, restrita aos trabalhadores submetidos aos processos industriais, instituindo obrigatoriedade, por parte da empresa, de arcar indenização pelos danos causados pelo acidente do trabalho a ser paga ao acidentado ou a sua família. O Decreto nº 3.724, de 1919, dispunha: Art. 1º Consideram-se accidentes no trabalho, para os fins da presente lei: a) o produzido por uma causa súbita, violenta, externa e involuntária no exercício do trabalho, determinado lesões corporaes ou perturbações funccionaes, que constituam a causa única da morte ou perda total, ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho; b) a moléstia contrahida exclusivamente pelo exercício do trabalho, quando este fôr de natureza a só por si causal-a, e desde que determine a morte do operario, ou perda total, ou parcial, permanente ou temporaria, da capacidade para o trabalho. Art. 2º O accidente, nas condições do artigo anterior, quando occorrido pelo facto do trabalho ou durante este, obriga o patrão a pagar uma indemnização ao operario ou á sua familia, exceptuados apenas os casos de força maior ou dolo da propria victima ou de estranhos. [...] Art. 13. Em todos os casos o patrão é obrigado a prestação de soccorros medicos e pharmaceuticos, ou sendo necessarios, hospitalares, desde o momento do accidente. Alguns elementos se depreendem dessa inovação legislativa: exterioridade, subtaneidade, violência e involuntariedade, proteção a doenças ocupacionais e exclusão da concausa. É importante observar a visão de infortúnio, pois tal regramento se volta ao momento posterior ao sinistro. Inexistia preocupação com prevenção de acidentes; a indenização era precária; não havia pagamentos mensais; só recebia quem abrisse Boletim de Ocorrência (BO); não havia pensão por morte aos dependentes por moléstia ocupacional. Direito privado. 31 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I A Comunicação do Acidente do Trabalho (CAT) como conhecemos hoje (art. 23 da Lei 8.213, de 1991)3 foi criada já neste primeiro diploma, conforme abaixo, porém, naquela época, era destinada à autoridade policial pelo patrão, pelo próprio operário, ou por qualquer outro. TITULO III – DA DECLARAÇÃO DO ACCIDENTE Art. 19. Todo o acidente de trabalho que obrigue o operario a suspender o serviço ou se ausentar, deverá ser immediatamente communicado á autoridade policial do logar, pelo patrão, pelo proprio operario, ou qualquer outro.A autoridade policial comparecerá sem demora ao logar do accidente e ao em que se encontrar a victima, tomando as declarações desta, do patrão e das testemunhas, para lavrar o respectivo auto, indicando o nome, a qualidade, a residencia do patrão, o nome, a qualidade, a residencia e o salário da victima, o logar preciso, a hora e a natureza do accidente, as circumstancias em que se deu e a natureza dos ferimentos, os nomes e as residencias das testemunhas e dos beneficiarios da victima. § 1º No quinto dia, a contar do accidente, deve o patrão enviar á autoridade policial, que tomou conhecimento do facto, prova de que fez á victima o fornecimento de soccorros medicos e pharmaceuticos ou hospitalares, um attestado medico sobre o estado da victima, as consequencias verificadas ou provaveis do accidente, e a época em que será possivel conhecer-lhe o resultado definitivo. § 2º Nesse mesmo dia a autoridade policial remetterá o inquerito, com os documentos a que se refere o paragrapho anterior, ao juizo competente, para a instauração do summario. Antes dessa norma, vigorava o risco civil, comum e geral, conforme a teoria de culpa aquiliana, segundo a qual o ofendido tinha que provar que o dano decorria de culpa do ofensor. Esse modo de responsabilização era dificultoso para o acidentado, que dificilmente conseguia reunir elementos suficientes para comprovar a conduto culposa do empregador. Tinha-se, portanto, um sistema altamente nefasto, pois, além de obedecer a ordens para operar em ambientes perigosos, sofria as agruras do acidente, tendo que provar a culpa daquele que o empregava, dirigia e ordenava.4 O Decreto nº 3.724, de 1919, rompe com esse esquema ao inovar quanto à responsabilização, incorporando o risco contratual conforme a teoria do contrato, cuja 3 Art. 22. A empresa ou o empregador doméstico deverão comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social. 4 Lex Aquillia, dentro do sistema romano, caracteriza a exigência de culpa para estabelecimento da culpabilidade, o qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independente da relação obrigacional preexistente, também chamada de responsabilização extracontratual. 32 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS culpa pode ser exprimida no dever de vigilância do patrão, sendo o instituidor inaugural da inversão do ônus da prova em prol do obreiro. Doutrina francesa ensejadora da teoria do contrato sugere a ideia de impedir patrimônio aumentado à custa de outro. Empresa e operário deveriam existir em harmonia, pois aquele emprega seu trabalho, enquanto este contribui com o capital. Antes de 1919, o acidentado só recebia indenização se provasse a culpa do patrão. A partir de 1919, tinha-se a teoria do risco contratual, ônus da prova invertido, presumindo-se acidentário até que o empregador provasse ocorrência de força maior ou dolo da própria vítima ou de estranhos. Só recebia o seguro quem reclamasse à autoridade policial. Práticas nesse campo estavam voltadas ao infortúnio (não à prevenção). Ano 1934 O Decreto nº 24.637, de 10 de julho de 1934, considerado a segunda lei acidentária brasileira, assinado por Getúlio Vargas, ampliou a cobertura aos agrícolas, comerciários e empregados domésticos; o rol de acidentes do trabalho, que passou a considerar as doenças profissionais por ramos de atividade econômica; e criou as pensões aos herdeiros dos acidentados falecidos. Conforme fragmento a seguir: CAPÍTULO I – DOS ACIDENTES DO TRABALHO Art. 1º Considera-se acidente do trabalho, para os fins da presente lei, toda lesão corporal, perturbação funcional, ou doença produzida pelo exercício do trabalho ou em consequência dele, que determine a morta, ou a suspensão ou limitação, permanente ou temporária, total ou parcial, da capacidade para o trabalho. § 1º São doenças profissionais, para os efeitos da presente lei, além das inerentes ou peculiares a determinados ramos de atividade, as resultantes exclusivamente do exercício do trabalho, as resultantes exclusivamente especiais ou excepcionais em que o mesmo for realizado, não sendo assim consideradas as endêmicas quando por elas forem atingidos empregados habitantes da região. § 2º A relação das doenças profissionais inerentes ou peculiares a determinados ramos de atividade será organizada e publicada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, e revista trienalmente, ouvidas as autoridades competentes. Art. 2º Excetuados os casos de fôrça maior, ou de dolo, quer da própria vítima, quer de terceiros, por fatos estranhos ao trabalho, o acidente obriga o empregador ao pagamento de indenização ao seu empregado ou aos seus beneficiários, nos têrmos do capítulo III desta lei. § 1º Não canstitúe fôrça maior a 33 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I ação dos fenômenos naturais quando determinada ou agravada peta instalação ou localização do estabelecimento ou pela natureza do serviço. § 2º A responsabilidade do empregador deriva sòmente de acidentes ocorridos pelo fato do trabalho, e não dos que se verificarem na ida do empregado para o local da sua ocupação ou na sua volta dali salvo havendo condição especial fornecida pelo empregador. Como visto acima, expressamente se alude ao uso da profissão como marcador de risco, pois o leque de opções cobertas pela lei se amplia na direção das profissões e atividades econômicas, pois consagra algumas proposições como verdadeiras: I. atividade profissional envolve certos riscos; II. responsabilização ao patrão pelo simples fato de explorar atividade econômica, segundo a lógica de quem cria risco e goza das vantagens dos lucros, deve arcar com todo ônus, inclusive acidentários. Mesmo com esse avanço conceitual, que abriu a valorização da solidariedade social deixando ultrapassado o foco das atenções das condutas subjetivas do causador do dano para a pessoa da vítima, houve concretamente pouco ganho, uma vez que as empresas lançavam mão do poder judiciário para questionar e, com isso, protelar as indenizações, que, quando aconteciam, eram tardias. Dadas as inadimplências e em muitos casos as insolvências, as empresas não pagavam as indenizações, e, quando executadas, não tinham patrimônios suficientes para honrá-las, por isso o Brasil, por esse decreto, abre espaço às seguradoras privadas e obriga recolhimento de caução aos cofres do governo quando as empresas não as tenham contratado. Vide abaixo fragmento do Decreto nº 24.637: Art. 36 Para garantir a execução da presente lei, os empregadores sujeitos ao seu regime, que não mantiverem contrato de seguro contra acidentes, cobrindo todos os riscos relativos às várias atividades, ficam obrigados a fazer um depósito, nas repartições arrecadadoras federais, nas Caixas Econômicas da União, ou no Banco do Brasil, em moeda corrente ou em títulos da dívida pública federal, na proporção de 20:000$000 (vinte contos de réis), para cada grupo de 50 (cincoenta) empregados ou fração, até ao máximo de 200:000$000 (duzentos contos de réis), podendo a importância do depósito, a juízo das autoridades competentes, ser elevada até ao triplo, si se tratar de risco excepcional ou coletivamente perigoso. § 1º Para isenção do depósito a que se refere êste artigo, só será permitido o seguro em 34 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS companhias ou sindicatos profissionais legalmente autorizados a operar em seguros contra acidentes do trabalho, na forma do art. 40, constando das respectivas apólices, expressa e discriminadamente, todos os ramos de atividade incluídos no seguro, bem como o numero dos empregados e os seus salários. Aqui umdestaque notável: a primeira aparição legal de aspecto prevencionista, inclusive com a criação de Comissão Interna, bem como a reabilitação profissional, vem com esse Decreto nº 24.637, a conferir: CAPÍTULO XII – DA PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DA HIGIENE DO TRABALHO Art. 77. Todo empregador é obrigado a proporcionar a seus empregados a máxima segurança e higiene no trabalho, zelando pelo cumprimento dos dispositivos legais a respeito, protegendo-os, especialmente, contra as imprudências que possam resultar do exercício habitual da profissão. Art. 78. Consideram-se, para este efeito, como parte integrante desta lei, as disposições referentes à Higiene e Segurança do Trabalho da Consolidação das Leis do Trabalho, como também todas as normas específicas que, no mesmo sentido, forem expedidas pelos órgãos competentes do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, sujeitos os empregadores às penalidades na mesma Consolidação fixadas, independente da indenização legal.’ Art. 79. Os empregadores expedirão instruções especiais aos seus empregados, a título de “ordens de serviço”, que estes estarão obrigados a cumprir rigorosamente, para a fiel observância das disposições legais referentes à prevenção contra acidentes do trabalho. § 1º A recusa por parte do empregado em submeter-se às instruções a que se refere o presente artigo, constitui insubordinação para os efeitos da legislação em vigor. § 2º Em nenhum caso o empregador poderá justificar a inobservância dos preceitos de prevenção de acidentes e higiene do trabalho, com a recusa do empregado em aos mesmos sujeitar-se. Art. 80. Sempre que o acidente resultar da transgressão, por parte do empregador, dos preceitos relativos à prevenção de acidentes e à higiene do Trabalho, ficará ele sujeito ao disposto no artigo 78, quanto às penalidades. Art. 81. Consideram-se também transgressões dos preceitos de prevenção de acidentes e higiene do trabalho, sujeitas às sanções previstas na Consolidação das Leis do Trabalho, no capítulo “Da Higiene 35 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I e Segurança do Trabalho”: a) o emprego de máquinas ou instrumentos em mau estado de conservação ou não devidamente protegidos contra o perigo; b) a execução de obras ou serviços com pessoal e material deficientes Art. 82. Os empregadores, cujo número de empregados seja superior a 100, deverão providenciar a organização, em seus estabelecimentos de comissões internas, com representantes dos empregados, para o fim de estimular o interesse pelas questões de prevenção de acidentes, apresentar sugestões quanto à orientação e fiscalização das medidas de proteção ao trabalho, realizar palestras instrutivas, propor a instituição de concursos e prêmios e tomar outras providências. tendentes a educar o empregado na prática de prevenir acidentes. CAPÍTULO XIV – DA READAPTAÇÃO PROFISSIONAL E DO REAPROVEITAMENTO DO EMPREGADO ACIDENTADO Art. 90. A readaptação profissional, que é devida a todo incapacitado trabalho, têm por objeto restituir-lhe, no todo ou em parte, a capacidade na primitiva profissão ou em outra compatível com as suas novas condições físicas. Art. 91. A readaptação profissional dos Incapacitados para o trabalho será realizada através de serviços de readaptação profissional, que funcionarão na forma determinada em regulamento, e efetuar-se-á não só mediante a prática da fisioterapia, da cirurgia ortopédica e reparadora, mas ainda do ensino convenente em escolas profissionais especiais. Art. 92. O Estado determinará o regime sob que deverão funcionar as escolas de que trata o artigo anterior, assim como as condições para a prática do ensino correspondente. Buscando ajudar os operários, mediante a crença de que, comprando comida, ter-se-ia maior resistência às doenças, foi criado o adicional de insalubridade em 14 de janeiro de 1936, pela Lei nº 185, que dizia: Art. 2º Salário mínimo é a remuneração mínima devida ao trabalhador adulto por dia normal de serviço. Para os menores aprendizes ou que desempenhem serviços especializados é permitido reduzir até de metade o salário mínimo e para os trabalhadores ocupados em serviços insalubres e permitido aumentá-lo na mesma proporção. 36 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Constituição dos Estados Unidos do Brasil (CEUB) de 1937 reconhece expressamente: Art. 137. A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos: [...] m) a instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de acidentes do trabalho. CEUB-1946 reconhece expressamente: Art. 157. A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores: [...] VIII – higiene e segurança do trabalho; Ano 1944 Novo passo importantíssimo foi dado novamente por Getúlio Vargas, em 1944, ao editar o Decreto nº 7.036, em 10 de novembro. As linhas básicas redigidas sobre acidente do trabalho vigoram até hoje na Lei nº 8.213, de 1991. Art. 1º Considera-se acidente do trabalho, para os fins da presente Lei, todo aquele que se verifique pelo exercício do trabalho, provocando. direta ou indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional, ou doença, que determine a morte, a perda total ou parcial, permanente ou temporária, de capacidade para o trabalho. Art. 2º Como doença, para os efeitos desta lei, entendem-se, além das chamadas profissionais, – inerentes ou peculiares a determinados ramos de atividades –, as resultantes das condições especiais ou excepcionais em que o trabalho for realizado. Parágrafo único. A relação das doenças chamadas profissionais, será organizada e publicada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, e revista trienalmente. Art. 3º Considera-se caracterizado o acidente, ainda quando não seja ele a causa única e exclusiva da morte ou da perda ou redução da capacidade do empregado, bastando que entre o evento e a morte ou incapacidade haja uma relação de causa e efeito. Art. 4º Não se consideram agravações ou complicações de um acidente do trabalho, que haja determinado legiões então já consolidadas, quaisquer outras lesões corporais ou doenças, que as primitivas se associem ou se superponham, em virtude de um novo acidente. Art. 5º Incluem-se entre os acidentes do trabalho por que responde o empregador, de conformidade com o disposto nos artigos anteriores, 37 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I todos os sofridos pelo empregado no local e durante o trabalho, em conseqüência de: a) atos de sabotagem ou terrorismo levados a efeito por terceiros, inclusive companheiros de trabalho; b) ofensas físicas intencionais, causadas por companheiros de trabalho do empregado, ou não, em virtude de disputas relacionadas com o trabalho; c) qualquer ato de imprudência, de negligência ou brincadeira de terceiros, inclusive companheiros de trabalho; d) atos de terceiros privados do uso da razão; e) desabamentos, inundações ou incêndios, respeitado o disposto na letra “b” do artigo 7º. Art. 6º Ficam igualmente abrangidos por esta lei, considerados como produzidos pelos exercício do trabalho ou em conseqüência dele, embora ocorridos fora do local e do horário do trabalho, os acidentes sofridos pelo empregado: a) na execução de ordens ou realização de serviços sob a autoridade do empregador; b) pela prestação expontânea de qualquer serviço ao empregador com o fim de lhe evitar prejuízos ou de lhe proporcionar proveito econômico; c) em viagem a serviço do empregador, seja qual for o meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de sua propriedade. Parágrafo único. No período de tempo destinado às refeições, ao descanso ou na satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local ou durante o trabalho, é o empregado considerado, para os efeitos desta lei, como a serviço do empregador. Art.7º Não é acidente do trabalho: a) o que resultar de dolo do próprio acidentado, compreendida neste a desobediência a ordens expressas do empregador; b) o que provier de força maior, salvo o caso de ação de fenômenos naturais determinados ou agravada pelas instalações do estabelecimento ou pela natureza do serviço. c) o que ocorrer na ida do empregado para o local de sua ocupação eu na volta dali, salvo se houver condução especial fornecida pelo empregador, ou se a locomoção do empregado se fizer necessariamente por vias e meios que ofereçam reais perigos, a que não esteja sujeito o público em geral. Parágrafo único. Também não são amparadas por esta lei as doenças endêmicas adquiridas por empregados habitantes das regiões em que elas se desenvolvem, exceto quando ficar comprovado que a doença resultou de uma exposição ou contato direto que a natureza do trabalho houver determinado. Registre-se que remanesce o risco profissional, amplia-se a solidariedade à vítima, no mesmo sistema de direito privado, no qual todo o encargo por assistência médica, ambulatorial, farmacêutica, hospitalar e financeiro corre às expensas do patrão, cujas lides continuam julgadas pelo poder judiciário estadual. 38 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Essa norma de 1944 é decisiva na inversão do objeto, do bem jurídico tutelado, que desconsidera o efeito e passa a buscar a causa, pois a definição de acidente “é toda lesão” é alterada para “ é aquele que provoca lesão corporal”. Acabou com a exclusão da cobertura aos altos salários (acima de 100 réis); inseriu aqueles decorrentes de fatos alheios ao controle da empresa; bem como adota dependentes ao invés de herdeiros. A despeito dessa evolução conceitual, o eixo ainda era privado, assunto de interesse entre patrão e empregado. O Brasil já vivenciou a experiência do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) privatizado. Isso perdurou até 1967, quando foi estatizado pela Lei nº 5.316. Segunda Geração Ano 1967 Nasce com a estatização do SAT, que afasta das empresas a responsabilização acidentária (segurados e dependentes), transferindo-a ao Seguro Social (INPS à época) relativamente aos empregados (diga-se de passagem: só esses são protegidos). Estatiza-se o SAT e institui-se o risco social a partir da CRFB de 1967 e da Lei nº 5.316, de 1967. Pelo risco social (princípio da solidariedade), todos devem suportar as contingências sociais impostas ao trabalhador acidentado, independentemente da existência de culpa da empresa. Todos pagam para algumas empresas adoecer e matar. Para maior potencial acidentário (risco econômico-ambiental), socializam-se as consequências do sinistro: Seguro Social. Tudo isso reduzido à bagatela de 0,4% a 0,8% sobre a folha de salários. A partir de 1967, com forte empenho empresarial, estatiza-se o SAT. Imagine-se: fazer lobby para pagar tributo. Lutar em plenário para levar essa tributação ao texto constitucional. Bem, por mais estranho que pareça e qualquer que seja a explicação, o fato é: a Previdência Social assumiu toda a assistência, inclusive ambulatorial, sustento e reabilitação, enquanto que as empresas, via bancada patronal, ofereceram à tributação as suas folhas salariais, para se verem livres das consequências de suas más gestões e de qualquer consequência dos acidentes por elas produzidos.5 5 Art. 12 da Lei nº 5.316, de 1967, que regulamenta o inciso XVII do art. 158 da CRFB-67: O custeio das prestações por acidente do trabalho, a cargo exclusivo da empresa, será atendido, conforme estabelecer o regulamento, mediante: I – uma contribuição de 0,4% (quatro décimos por cento) ou de 0,8% (oito décimos por cento) da folha de salários de contribuição, conforme a natureza da atividade da empresa; II – quando for o caso, uma contribuição adicional incidente sobre a mesma folha e variável, conforme a natureza da atividade da empresa. § 1º A contribuição adicional de que trata o item II será objeto de fixação individual para as empresas cuja experiência ou condições de risco assim aconselharem. § 2º Na hipótese do art. 10, a contribuição de que trata o item I será de 0,5% (cinco décimos por cento) ou de 1% (um por cento). § 3º As contribuições estabelecidas neste artigo serão pagas com as contribuições de que tratam os itens I e III do art. 69 da Lei Orgânica da Previdência Social. 39 ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I Assim, o SAT-privado se torna o SAT-estatal. Em outras palavras, o seguro foi estatizado (todos pagam a conta de alguns que acidentam, pois a sociedade entende que a mazela familiar coberta pela Previdência é o preço do progresso econômico, que de resto alcança a todos – essa é a doutrina liberal) e com ele as consequências do acidente do trabalho mediante uma módica tributação sobre a folha salarial. A estrutura do SAT, recém-estatizado, à época, tem a seguinte composição: natureza jurídica tributária, espécie de contribuição social; fato gerador, a remuneração do empregado; sujeito passivo, a empresa; sujeito ativo, a União, cuja capacidade arrecadatória fora designada ao INPS; alíquotas, 0,4% (quatro décimos por cento) ou 0,8% (oito décimos por cento) da folha de salários de contribuição, conforme a natureza da atividade da empresa (CNAE)6, podendo ter acréscimos variáveis. Ao se comparar a estrutura jurídico-legal entre o SAT-estatal originário (1967) e o atual (1991),7 percebe- se claramente que os elementos constitutivos são idênticos. Na segunda geração, prevaleceram as teorias da epiização; do ato inseguro do acidentado (culpa da vítima); da cartorização do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); do viés trabalhista para assuntos sanitários (quando a saúde do trabalhador diz respeito a saúde pública, e não a trabalho); da indústria de laudos/atestados; do falso-negativo, em que se prefere não assumir o acidente do trabalho quando se sabe, ou se desconfia, que se trata de um; bem como da narrativa ideológica do estado ineficiente por não dar conta dos milhões de acidentados que batem à porta da Previdência Social sem se questionar quem são os produtores desse flagelo social (quais são as empresas produtoras desses agravos). Para as empresas, sai barato e pouco arriscado “acidentar”. Terceira Geração Pela correria do dia a dia, alguns profissionais da área, e mesmos gestores, não se aperceberam dessa inflexão de vanguarda da sociedade brasileira. A Terceira Geração nasce com a tríade NTEP-FAP-eSocial – Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP), Fator Acidentário de Prevenção (FAP) e Escrituração Fiscal Digital Trabalhista, Previdenciária e Fiscal (eSocial). 6 Definida segundo a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) do empregador 7 Art. 22, II, da Lei nº 8.212, 1991, que regulamenta o inciso XXVIII do art. 7º da CRFB-88 (SAT): A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: II – para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave. 40 UNIDADE I │ ESTUDO DO DIREITO: ASPECTOS GERAIS Figura 2. Nasce a Terceira Geração com a tríade NTEP-FAP-eSocia.l NOVOS NTEP FAP eSocial • Sanitário • Epidemiológico •Mercadológico • Econômico • Informacional • Gerencial Fonte: Elaborada pelo autor. Empresas bem sintonizadas sobre
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