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1 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL GESTÃO TRANSFRONTEIRIÇA DE ÁGUAS: O Caso da Bacia do Apa Synara Aparecida Olendzki Broch Orientadora: Maria Augusta de Almeida Bursztyn Tese de Doutorado Brasília – DF, julho/2008 2 Ficha Catalográfica É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta tese e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese de doutorado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor. Assinatura Broch, Synara A. Olendzki Gestão Transfronteiriça de Águas: O Caso da Bacia do Apa. / Synara Aparecida Olendzki Broch. Brasília, 2008. 247 p. : il. Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília. 1. Gestão Transfronteiriça; 2. Recursos Hídricos; 3. Bacia do Apa. I. Universidade de Brasília. CDS. II. Gestão Transfronteiriça de Águas: O Caso da Bacia do Apa. 3 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL GESTÃO TRANSFRONTEIRIÇA DE ÁGUAS: O Caso da Bacia do Apa Synara Aparecida Olendzki Broch Tese de Doutorado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Doutor em Desenvolvimento Sustentável, área de concentração em Política e Gestão Ambiental, opção profissionalizante. Aprovado por: ___________________________________________________________________________ Orientadora: Profª. Drª. MARIA AUGUSTA DE ALMEIDA BURSZTYN ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. ELIMAR PINHEIRO DO NASCIMENTO ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. OSCAR DE MORAES CORDEIRO NETTO ___________________________________________________________________________ Profª. Drª. TERESA LUCIA MURICY DE ABREU Prof. Dr. FRANCISCO DE ASSIS DE SOUZA FILHO Brasília – DF, julho 2008. 4 Agradecimentos Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste trabalho, em especial: À professora Maria Augusta de Almeida Bursztyn pelos preciosos ensinamentos e pela orientação; À Profª. Drª. Teresa Lucia Muricy de Abreu, ao Prof. Dr. José Augusto Leitão Drummond, ao Prof. Dr. Elimar Pinheiro do Nascimento, ao Prof. Dr. Oscar de Moraes Cordeiro Netto e ao Prof. Dr. Francisco de Assis de Souza Filho por aceitarem o convite para compor a banca examinadora desta tese; Ao Procurador de Justiça Heitor Miranda, ao Senhor Ralf Marques, ao Engenheiro Marcio Portocarrero, ao Engenheiro José Elias, ao Sr. Aldayr Heberle e, especialmente, ao Arquiteto Sérgio Yonamine pela compreensão; Ao Prof. Dr. Carlos Eduardo Morelli Tucci, ao Prof. Dr. Demetrius Christofidis, ao Prof. Tito Carlos Machado de Oliveira e ao Prof. Dr. Carlos Nobuyoshi Ide pelas sugestões prestadas; Aos especialistas e profissionais das instituições públicas e privadas que me disponibilizaram dados e informações pertinentes para a composição desta pesquisa; Ao Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, por intermédio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e do Fundo Setorial de Recursos Hídricos- CT-Hidro, que proporcionaram os recursos financeiros para a execução do projeto “Pé na Água”; Ao Prof. Paulo Robson e aos profissionais Allison Yshi, Ana Cláudia Bastos Delgado, Diego Correia, Elidiene Seleme, Elisabeth Arndt e Yara Medeiros, colaboradores e participantes do Projeto “Pé na Água”; e aos entrevistados, pelos depoimentos prestados; Aos integrantes do CADEF - Centro de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, pelos estudos e discussões realizados; Aos meus colegas de turma, pelo prazer da companhia e por compartilharem comigo seus conhecimentos; Aos meus pais, aos pais do Jorge, e ao Cezar Ney e à Vânia, pelo apoio; Ao Jorge e ao Marcelo, por tudo. 5 RESUMO O presente trabalho de pesquisa trata sobre a temática referente à gestão transfronteiriça de águas, no contexto de políticas públicas, com vistas ao desenvolvimento sustentável. Enfoca, sobretudo, os aspectos institucionais e legais que embasam o gerenciamento de águas em bacias hidrográficas transfronteiriças, tendo como estudo de caso a Bacia do rio Apa, localizada entre o Brasil e o Paraguai. Na Bacia do Apa há potencial de conflito pelo uso da água do Rio Apa, entre o Brasil e o Paraguai, em especial, devido à problemática ambiental que afeta, também, seus afluentes. Nesse contexto, o objetivo geral desta pesquisa é avaliar em que medida as diferenças político-institucionais relacionadas à gestão de recursos hídricos, no Paraguai e no Brasil, comprometem a gestão de águas transfronteiriças na Bacia Hidrográfica do Apa, a partir da avaliação qualitativa e comparativa das perspectivas de construção da gestão de águas transfronteiriças no Mundo, no Paraguai, no Brasil, e na Bacia do Apa, em função da hidropolítica global, do estado da arte da governança das águas no Brasil, no Paraguai e na Bacia do Apa, de ações e experiências efetuadas na América do Sul, e do Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável e Gestão Compartilhada da Bacia do Rio Apa. Os resultados obtidos permitem a análise e a busca por alternativas à indução e ao avanço da gestão integrada e compartilhada de recursos hídricos transfronteiriço por meio do estabelecimento de redes de caráter cooperativo para a implantação de uma governança para a gestão hídrica em bacias hidrográficas que compreendem o território de mais de um país. 6 ABSTRACT This present work focuses on management of transboundary waters in the context of public policies aiming at sustainable development. Topics as legal and instituional aspects that support the management of water in ponds hidrografic border were used for studying the case of the Apa River Basin, situated between Brazil and Paraguay. It was identified that there is a potential for conflicting due to Apa’s water use. Particularly, such conflicts occurred due to environmental problems that also have impacted its tributaries. In this context, the general aim of this paper is to assess the extent to which political and institutional differences related to the management of water resources, Paraguay and Brazil, undertake the management of transboundary waters in the watershed Apa, from the qualitative and comparative assessment of the prospects of building the management of water world cross-border, in Paraguay, Brazil, and in the Basin of Apa, according to the “hydropoliticies” overall, the state of the art of governance of water in Brazil, Paraguay an Basin of Apa, actions and experiences made in South America, and the agremment on cooperation for sustainable development and management of shared River Basin Apa. The results can be used to analyze and find solutions to encourage the integrated management of transboundary water resources by the network of cooperation in orde to implement water governance in transboundary water bassins. 7 RESUMÉ Le travail de recherche ici présent parle sur la thématique qui fait référence à la gestion des eaux tranfrontières, dans le contexte des politiques publiques, ayant en vue le développement durable. Met en relief, surtout, les aspects institutionaux et légaux constituant les bases du aménagementdes eaux des bassins hydrographiques, ayant comme cas d’étude du Bassin du Apa, localisé entre le Brésil et le Paraguay. dans le Bassin du Apa il y a un potentiel de conflit pour l’utilisation des eaux du Fleuve Apa, entre le Brésil et le Paraguay, en particularité, dû à la problèmatique de l´environnement que affecte, aussi, ses affluents. Dans ce contexte, l’objectif général de cette recherche est évaluer dans quelle proportion les différences politiques-institutionaux relationées à la gestion des ressources hydriques, entre le Paraguay et le Brésil, comprometent la gestion des eaux transfrontières du Bassin du Apa, à partir de l’évaluation qualitative et comparative des perspectives de construction de la gestion des eaux transfrontières du Monde, au Paraguay, au Brésil, et dans le Bassin Hidrografique du Apa, en fonction de la hydropolitique global, de l’état de l’art des gouvernants des eaux au Brésil, au Paraguay et dans le Bassin du Apa, des actions et experiences effectuées en Amérique du Sud, et de l’Accord de Coopération pour le Développement Durable et la Gestion Partagée de l´eau du Bassin du Apa. Les résultats obtenus peuvent être utilisés pour analyser et trouver des solutions afin d'inciter à la gestion intégrée des ressources transfrontières en eau par la réseau de coopération tels qu'ils servent à l'implantation d'une gouvernance en vue de la gestion des ressources hydriques. . 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Distribuição dos valores estocados nos principais reservatórios de água da Terra. 26 FIGURA 2 – Bacia do Apa no contexto da Bacia do Prata e da Bacia do Alto Paraguai. 28 FIGURA 3 – Situação da escassez hídrica mundial. 62 FIGURA 4 – Localização dos aqüíferos transfronteiriços nas Américas 64 FIGURA 5 – Bacias hidrográficas de grande porte que apresentam risco de possíveis conflitos pelo uso da água. 68 FIGURA 6 – Bacias com Rios Transfronteiriços na América do Sul, com destaque às bacias com Tratados estabelecidos. 91 FIGURA 7 – Área da Bacia do Rio Amazonas e seus principais tributários. 92 FIGURA 8 – Sistema Hídrico Titicaca – Desaguadero – Poopó – Salar de Coipasa. 95 FIGURA 9 – Área da Bacia do Rio Prata. 97 FIGURA 10 – Problemáticas por sub-bacias da Bacia do Prata. 99 FIGURA 11 – Localização da área onde as ações atividades são desenvolvidas pelos Projetos Pilotos e Prioritários na Bacia do Prata, no âmbito do Programa Marco para a Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos da Bacia do Prata. 101 FIGURA 12 – Bacia do Prata com a localização da abrangência dos Projetos GEF 102 FIGURA 13 – Localização do limite de abrangência provável do Aqüífero Guarani e sua área de confinamento e de afloramento, e a localização da Bacia do Apa nesse contexto geográfica do Aqüífero Guarani, com destaque a localização da Bacia do Apa. 105 FIGURA 14 – Divisão político administrativa dos Departamentos do Paraguai. 109 FIGURA 15 – Localização geográfica do Paraguai no contexto da Bacia do Prata. 110 FIGURA 16 – Divisão das regiões hidrográficas e bacias hidrográficas, respectivamente, da região ocidental e da região oriental do Paraguai. 111 FIGURA 17 – Problemática das águas subterrâneas no Paraguai. 114 FIGURA 18 – Localização da Hidrovia Paraná-Paraguai 115 FIGURA 19 – Divisões político-administrativas estaduais do Brasil na América Latina. 131 9 FIGURA 20 – Regiões do Brasil e hidrografia. 132 FIGURA 21 – Regiões hidrográficas do Brasil e respectivas contribuições médias anuais em km³. 134 FIGURA 22 – Províncias Hidrogeológicas do Brasil e a delimitação das bacias hidrográficas. 136 FIGURA 23 – Localização dos principais rios utilizados para a navegação no Brasil 138 FIGURA 24 – Fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos estabelecidos na Lei nº. 9.433/97. 145 FIGURA 25 – SINGREH e suas instâncias de atuação. 146 FIGURA 26 – Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos com a Agência Nacional de Águas (BARTH, 2000). 148 FIGURA 27 – Interface dos planos de recursos hídricos com os instrumentos de gestão de águas. 157 FIGURA 28 – Classificação das águas doces, segundo classes de usos preponderantes. 161 FIGURA 29 – Fluxograma da sistemática operacional da concessão da outorga de direito de uso de recursos hídricos. 164 FIGURA 30 – Rios fronteiriços e transfronteiriços com o Brasil. 168 FIGURA 31 – Rios fronteiriços e transfronteiriços com o Brasil. 169 FIGURA 32 – Zona de fronteira interna do Brasil, no contexto das grandes bacias hidrográficas transfronteiriças da América do Sul. 170 FIGURA 33 – Faixa de fronteira de Mato Grosso do Sul, com a localização do Rio Apa. 172 FIGURA 34 – Localização da Bacia do Apa 180 FIGURA 35 – Bacia do Apa em territórios brasileiro e paraguaio. 182 FIGURA 36 – Localização dos pontos de amostragem de qualidade de águas existentes na Bacia do Apa, em território brasileiro. 190 FIGURA 37 – Áreas de afloramento do Aqüífero Guarani no Estado de Mato Grosso Sul 192 FIGURA 38 – Localização e a área de incidência do Parque Nacional Paso Bravo. 197 10 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Aqüíferos transfronteiriços nas Américas conforme referência numérica no mapa da Figura 4. 65 TABELA 2 – Característica dos principais rios da Bacia do Prata. 98 TABELA 3 – Principais Hidrovias Brasileiras. 137 TABELA 4 – Descrição sucinta da evolução da administração das águas no Brasil. 142 TABELA 5 – Situação da Rede Hidrometeorológica do Brasil, em janeiro de 2007. 167 TABELA 6 – Área de ocupação dos Estados, Departamentos e Municípios que compõe a Bacia Hidrográfica do Rio Apa. 183 TABELA 7 – Áreas das sub-bacias hidrográficas do Estado de Mato Grosso do Sul. 184 TABELA 8 – Principais produtos agrícolas produzidos em território brasileiro na Bacia do Apa, no período de 2000 a 2006. 186 TABELA 9 – Dados da produção animal na Bacia do Apa, em território brasileiro, no período de 2000 a 2005. 186 TABELA 10 – Micro bacias da Bacia do Rio Apa e respectivas áreas de abrangência em km². 189 TABELA 11 – Locais dos pontos de amostragem para o monitoramento da qualidade das águas na Bacia do Rio Apa, no território brasileiro. 190 TABELA 12 – Dados médios de atendimento dos serviços de saneamento na unidade territorial brasileira da Bacia do Apa. 193 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABIPAN – Associação Binacional para a Defesa do Pantanal e do Meio Ambiente. ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos. ALTER VIDA – Centro de Estudios y Formación para el Ecodesarrollo. AMFROMAD – Consórcio dos municípios peruanos de Iñapari, Ibéria, San Lorenço, Las Piedras e Puerto Maldonado. ANA – Agência Nacional de Águas. ANDE – Administração Nacional de Eletricidade. ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. ANNP – Administração Nacional de Navegação e Portos. AR – Argentina. ATPF – Autorização para Transporte de Produto Florestal. BAP – Bacia do Alto Paraguai. BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento (Banco Mundial). BO – Bolívia. BR – Brasil. CEEIBH – Câmara Técnica Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CEPAL/ECLAC – Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina. CIC – Comité Intergubernamental Coordinador de los Países de la Cuenca del Plata. CIC PLATA – Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata. CIDEMA – Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Integrado das Bacias dos Rios Miranda e Apa. CIH – Centro Internacional de Hidroinformática. CMM0AD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. CMMAH– Centro Multiuso de Monitoramento Ambiental. 12 CNAEE – Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica. CNMA – Conferência Nacional de Meio Ambiente. CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa e Qualificação. CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92). CONAM – Conselho Nacional Ambiental. CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente. CONDIAC – Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixaba. CORPOSANA – Corporação de Obras Sanitárias da Cidade de Assunção. CRQ – Comissão Mista Brasileiro-Uruguaia para o Desenvolvimento da Bacia do Rio Quaraí. CT – Hidro – Fundo Setorial de Recursos Hídricos. CTAP – Câmara Técnica de Análise de Projetos do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTAS – Câmara Técnica das Águas Subterrânea do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTCOB – Câmara Técnica de Cobrança pelo Uso dos Recursos Hídricos do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTCOST – Câmara Técnica de Integração da Gestão das Bacias Hidrográficas e dos Sistemas Estuarinos e Zonas Costeiras do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTCT – Câmara Técnica de Ciência e tecnologia do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTEM – Câmara Técnica de Educação, Capacitação, Mobilização Social e Informação em Recursos Hídricos do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTGRHT – Câmara Técnica de Gestão de Recursos Hídricos Transfronteiriços do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTIL – Câmara Técnica de Assuntos Legais e Institucionais do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTPNRH – Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos Hídricos do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. CTPOAR – Câmara Técnica de Integração de Procedimentos, Ações de Outorga e Ações Regulamentadoras do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. DAB – Diagnóstico Analítico do Pantanal e Bacia do Alto Paraguai. DBO5 – Demanda Bioquímica de Oxigênio ao Quinto Dia. 13 DELTAMERICA – Desenvolvimento e Implementação de Mecanismos para Disseminar Experiências e Lições Aprendidas em Gestão Integrada de Recursos Hídricos Transfronteiriços nas Américas e no Caribe. DGEE – Dirección General de Estadísticas, Encuestas y Censos do Paraguai. DGPCRH – Dirección General de Protección y Conservación de los Recursos Hídricos. DINAC – Diretoria de Metereologia e Hidrologia da Diretoria Nacional da Aeronáutica Civil. DNAE – Departamento Nacional de Águas e Energia. DNAEE – Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica. DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamento. DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral. DOU – Diário Oficial da União. DPI – Diretoria de Programa de Implementação da Gestão dos Recursos Hídricos. DQO – Demanda Química de Oxigênio. ECO 92 – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. EIA/RIMA – Estudo de Impacto Ambiental / Relatório de Impacto Ambiental. ELETROBRÁS – Centrais Elétricas Brasileiras S.A. ERSSAN – Ente Regulador de Serviços Sanitários do Paraguai. ESSAP – Empresa de Serviços Sanitários do Paraguai. FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. FMI – Fundo Monetário Internacional. FODEPAL – Projeto Regional de Formação em Economia e Políticas Agrárias e de Desenvolvimento Rural na América Ibérica. FONPLATA – Fondo Financiero para el Desarrollo de la Cuenca del Plata. FREPLATA – Programa de Implementação de Práticas de Gestão Integrada dos Recursos Hídricos no Pantanal/Alto Paraguai, Projeto de Proteção Ambiental do Rio da Prata e sua Frente Marítima para a Prevenção e Controle da Contaminação e a Restauração de Habitats. FUNAI – Fundação Nacional do Índio. GEF – Global Environmental Facility. 14 GEF Pantanal /Alto Paraguai – Projeto do Global Global Environmental Facility com recursos para o Pantanal. GEO BRASIL RH – Projeto Perspectiva de Desenvolvimento no Brasil – Componente de Recursos Hídricos. GIRH – Gestão Integrada dos Recursos Hídricos. GRHT – Gestão de Recursos Hídricos Transfronteiriços. GWA – Gender and Water Alliance - Aliança de Gênero e Água. GWP – Global Water Partnership. HIV/AIDS – Vírus da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. IASCP – International Association for the Study of Common Property (Associação Internacional para o Estudo da Propriedade Comum). IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. IBDF – Instituto Brasileiro de Defesa Florestal. IDEA – Associação Internacional de Avaliação do Desenvolvimento. IMASUL – Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul. JIICA – Agência de Cooperação do Japão. MAG – Ministerio de Agricultura y Ganadería. MANCOMUNIDAD TAHUAMANU – Bolpebra, Bella Flor, Cobija, Filadélfia e Porvenir-Bolívia. MCT – Ministério da Ciência e da Tecnologia. MERCOSUL – Mercado Comum do Sul. MINTER – Ministério do Interior. MMA – Ministério do Meio Ambiente. MME – Ministério das Minas e Energia. MOPC – Ministério de Obras Públicas e Comunicações. MRE – Ministério de Relações Exteriores. OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. OEA – Organização dos Estados Americanos. ONGs – Organizações Não-Governamentais. ONU – Organização das Nações Unidas. 15 OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. PAE – Programa de Ações Estratégicas para o Gerenciamento Integrado da Bacia do Alto Paraguai. PAN – Política Ambiental Nacional do Paraguai. PCBAP – Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai. PEA-Bermejo – Programa Estratégico de Ação para a Bacia do Río Bermejo. PMA – Polícia Militar Ambiental. PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos. PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. PRONI – Programa Nacional de Irrigação. PY – Paraguai. RDH – Relatório de Desenvolvimento Humano. Região MAP – Departamento de Madre de Dios (Peru), do Estado do Acre (Brasil) e do Departamento de Pando (Bolívia). RIO +10 – II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. SAG – Sistema Aqüífero Guarani. SAYTT – Projeto Prioritário do Sistema Aquífero Yrendá - Toba – Tarijeño. SEAM – Secretaria do Ambiente da República do Paraguai. SEMA – Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul. SEMAC – Secretaria de Estado de Meio Ambiente, das Cidades, do Planejamento, da Ciência. SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. SENASA – Dirección General de Saneamiento Ambiental - Diretoria Geral de Saneamento Ambiental. SEPLANCT – Secretaria de Estado de Planejamento, Ciência e Tecnologia. SIAGAS – Sistema Nacional de Águas Subterrâneas. SINGREH – Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. SISNAM – Sistema Nacional Ambiental. SNIRH – Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos. SRH – Secretaria de Recursos Hídricos. 16 SRH – Secretaria de Recursos Hídricos. SUBCOMILAGO – Sub-Comissão Mista para o Desenvolvimento da Zona de Integração do Lago Titicaca. SUDEPE – Superintendência do Desenvolvimento da Pesca. SUDHEVEA – Superintendência da Borracha. TCA – Tratado de Cooperação Amazônica. UNEP – United Nations Environment Programme. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. UPL – Unidade de Processamento de Lixo. UY – Uruguai. WEHAB – Water and Sanitation, Energy, Health, Agriculture, Biodiversity WSSD - World Summit on Sust. 17 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS INTRODUÇÃO 19 1 ÁGUA NO MUNDO25 1.1 O MUNDO EM PROL DA ÁGUA 29 1.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GETÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 36 1.2.1 Água: bem comum 45 1.2.2 Gestão de águas 51 1.2.3 Gestão integrada de recursos hídricos 54 1.2.4 Política de gerenciamento de águas 57 2 HIDROPOLÍTICA 61 2.1 GESTÃO TRANSFRONTEIRIÇA DE ÁGUAS 79 2.2 GOVERNANÇA/GOVERNABILIDADE 86 2.3 EXPERIÊNCIAS TRANSFRONTEIRIÇAS NA AMÉRICA LATINA 90 2.3.1 Bacia do Prata 96 3 GOVERNANÇA DAS ÁGUAS NO PARAGUAI 108 3.1 DISPONIBILIDADE E DEMANDA HIDRICA DO PARAGUAI 112 3.2 ASPECTOS INSTITUCIONAIS E LEGAIS 117 3.3 EXPERIÊNCIAS PARAGUAIAS EM ÁGUAS TRANSFRONTEIRIÇAS 127 4 GOVERNANÇA DAS ÁGUAS NO BRASIL 130 4.1 DISPONIBILIDADE E DEMANDA HÍDRICA NO BRASIL 135 4.2 ASPECTOS LEGAIS E INSTITUCIONAIS 140 4.2.1 Política Nacional de Recursos Hídricos do Brasil 144 18 4.2.2 Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Brasil 146 4.2.3 Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos 156 4.3 EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS EM ÁGUAS TRANSFRONTEIRIÇAS 168 4.3.1 Bacia do Alto Paraguai – BAP 177 5 ESTUDO DE CASO: BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO APA 180 5.1 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO RIO APA 181 5.1.1. Aspectos socioeconômicos 185 5.1.2 Aspectos histórico-culturais 187 5.1.3 Características hídricas 188 5.1.4 Aspectos Institucionais e Legais 194 5.2 O ACORDO DE COOPERAÇÃO DO APA 203 5.3 PROJETO “PÉ NA ÁGUA” 206 5.4 ANÁLISE CRÍTICA 208 CONCLUSÃO 225 REFERÊNCIAS 231 19 INTRODUÇÃO A água é um recurso estratégico, imprescindível à sobrevivência humana, ao equilíbrio dos ecossistemas e para o desenvolvimento econômico e social. Participa dos processos que ocorrem na natureza, entra na composição das rochas e permanece armazenada nos seus interstícios. Porém, muitas vezes, não está disponível, no lugar e no momento necessário – e não tem substitutos conhecidos. Como qualquer outro recurso, a água é motivo para relações de poder e de conflitos. Por não ser um elemento estático, seu uso num determinado local é afetado pelo uso que dela fazem noutros lugares, incluindo noutros países, como no caso das águas transfronteiriças. Assim, possuir o controle e a posse sobre a água é, sobretudo, uma questão de natureza política, tendo em vista que o acesso a esse recurso interessa a vários atores de diferentes setores produtivos e da sociedade. Atualmente, há um cenário mundial de crise da água devido sua possibilidade de esgotamento, agravada pelas mudanças climáticas, cujos problemas de escassez e poluição das águas têm exigido atenção dos governos e da sociedade a esse recurso natural que a humanidade supunha infinito. A possibilidade do provimento de água, de forma ambientalmente sustentável, na quantidade e qualidade requeridas, onde e quando ela é demandada, com padrões compatíveis para sua utilização, implica no seu gerenciamento adequado. Dois terços da população da Terra vive em bacias cujas águas ultrapassam fronteiras geográficas e político-administrativas Em bacias hidrográficas composta por águas transfronteiriças, a gestão de recursos hídricos possui uma dinâmica de maior complexidade, pois envolve dois ou mais países e suas respectivas políticas, valores, cultura, geografia, organização institucional, entre outros aspectos. A gestão transfronteiriça de águas tende a ocorrer onde existem conflitos na utilização de águas de domínio comum, entre diferentes países. Tais conflitos, em geral, são motivados pelos mais diversos fatores, tais como, o crescimento da população de usuários da mesma água, o uso inadequado do solo, a iniqüidade social, os diferentes padrões utilizados para o 20 consumo de água, o impacto da contaminação hídrica, a crise de governabilidade da água e o incremento de atividades econômicas. Neste contexto, para compartilhar a água de forma eqüitativa e assegurar a sustentabilidade dos ecossistemas naturais exige uma governança, ou seja, um sistema de regras formais e informais que servirão para ajustar as necessidades sociais e as dos diferentes usuários com os objetivos políticos de cada país. Na América do Sul, muitos dos problemas hídricos, não obstante a escassez ou abundância de águas, estão relacionados às questões de governabilidade, no que se refere ao estabelecimento de marco legal, político e institucional adequado para regular o desenvolvimento e a gestão de recursos (OEA, 2004). O território brasileiro compõe as Bacias Hidrográficas do Rio Amazonas (com a Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), a jusante, e do Rio do Prata (com o Paraguai, Argentina e o Uruguai), a montante. O Aqüífero Guarani, compartilhado com a Argentina, Paraguai e Uruguai, é considerado a maior fonte subterrânea de água doce do mundo. Na Bacia do Rio do Prata, entre os territórios do Brasil e do Paraguai, o Rio Apa percorre uma região fronteiriça por mais de 500 km Assim, a Bacia do Apa é composta por 78% de território brasileiro, no Estado de Mato Grosso do Sul, e 22% de território paraguaio, nos Departamentos de Amambay e de Concepción. Nesses últimos 20 anos, na Bacia do Apa ocorreu um incremento substancial ao uso do solo para o cultivo de soja e a implantação de pastagens, produzindo importante alteração na geração de sedimentos que se deslocam para os cursos de água e para o Pantanal. Na região hidrográfica da Bacia do Rio Apa, os serviços ambientais são significativos, envolvendo a relação da água com a conservação da biodiversidade, do solo e das florestas. Recentemente, em função da atual degradação ambiental e da captação descontrolada de águas na Bacia do Apa, ocorreram situações embaraçosas entre o Brasil e oParaguai a potenciais conflitos pelo uso da água. Ações e esforços empenhados por organizações não-governamentais, apoiadas pelas instâncias governamentais paraguaias e brasileiras, resultaram, em 2007, na assinatura do Acordo de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República do Paraguai para o desenvolvimento sustentável e a gestão integrada da Bacia 21 Hidrográfica do Rio Apa, no intuito de minimizar os conflitos atuais e potencias pelo uso das águas nessa bacia hidrográfica. Diante disso, objeto de trabalho desta pesquisa é a Bacia do Apa no propósito de contribuir com o equacionamento de problemas relacionados ao uso comum de águas transfronteiriças, tendo em vista a necessidade de analisar e discutir os aspectos e as questões referentes à indução e ao avanço da gestão integrada e compartilhada de recursos hídricos em bacias hidrográficas que compreendem o território de mais de um país, nesse caso, o Paraguai e o Brasil. Nesse sentido, o objetivo geral desta tese é avaliar se as diferenças político- institucionais relacionadas à gestão de recursos hídricos, no Paraguai e no Brasil, comprometem a gestão de águas transfronteiriças na Bacia Hidrográfica do Rio Apa. Para a realização desse trabalho, foram definidos os seguintes objetivos específicos: 1. Realizar uma abordagem analítica das questões hídricas de âmbito global; 2. Identificar elementos relativos à construção da gestão de águas transfronteiriças, em função da hidropolítica mundial; 3. Analisar a capacidade de governança das águas no Paraguai e no Brasil por meio da caracterização das disponibilidades e demandas hídricas, dos aspectos legais e institucionais, das instâncias decisórias e de algumas experiências em águas transfronteiriças de ambos os países; 4. Identificar e analisar os aspectos relativos à gestão transfronteiriça de recursos hídricos na Bacia do Apa. As questões norteadoras desta pesquisa buscam responder as seguintes indagações: 1. Quais os problemas existentes ou potenciais na Bacia do Apa que apontam para a necessidade da gestão transfronteiriça de recursos hídricos? 2. Qual é o cenário para a construção da gestão integrada e compartilhada de águas na Bacia do Apa, destacando as dificuldades e as potencialidades que favorecem tal questão? 3. O Paraguai e o Brasil possuem capacidade política e institucional para implantar o Acordo de Cooperação para o desenvolvimento sustentável e a gestão integrada da Bacia Hidrográfica do Rio Apa? 22 Os procedimentos metodológicos adotados para a elaboração deste trabalho compreenderam o levantamento de dados primários e secundários. A coleta de informações e a interpretação de informações foram utilizadas de forma a gerar novos conhecimentos. Os dados primários foram obtidos por meio de observações realizadas em visitas em campo, de entrevistas com profissionais que atuam na Bacia do Apa, e de questionários respondidos por profissionais da rede de ensino dos municípios brasileiros da Bacia do Rio Apa, durante as oficinas técnicas realizadas no âmbito do Projeto “Pé na Água”- Projeto Água e Cidadania na Bacia do Apa – uma abordagem sistêmica e transfronteiriça na década brasileira da água, com o apoio financeiro do CNPq/CT-Hidro/MCT. Foram entrevistadas um total de 100 pessoas dentre, aproximadamente, os 250 participantes das oficinas técnicas realizadas com o objetivo de avaliar os materiais (livro, cartilha e CD) produzidos para disseminação do conhecimento, por intermédio de informações, para possibilitar a promoção da participação da sociedade nos processos de gestão de águas na Bacia do Apa. As visitas em campo objetivaram caracterizar a Bacia do Apa, no território brasileiro, e os dados coletados subsidiaram a avaliação sobre os conhecimentos locais quanto aos problemas ambientais e de recursos hídricos presenciados, e os procedimentos adotados para a participação na gestão de recursos hídricos transfronteiriços nessa Bacia. A coleta de dados secundários ocorreu em diversas etapas: inicialmente, por meio de levantamentos bibliográficos, artigos científicos, mapas, fotografias, pesquisas por meio eletrônico, pesquisa e análise de documentos oficiais, publicações específicas, programas, planos e projetos desenvolvidos na região hidrográfica em que a Bacia do Apa se insere; alguns dados secundários foram coletados junto aos profissionais que atuam na área de gestão de recursos hídricos, por meio de informações transmitidas em eventos e simpósios onde direta e/ou indiretamente, a temática de gestão de recursos hídricos transfronteiriços na Bacia do Apa foi abordada. Houve o acompanhamento presencial dos Simpósios Nacional da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, desde o ano de 1998, do Seminário da Bacia do Apa, em Bela Vista/MS, em 2003, e nas diversas reuniões subseqüentes a este, do IV Diálogo Interamericano de Recursos Hídricos, em 2001, e do I Encontro Trinacional para Gestão de Águas Fronteiriças e Transfronteiriças, em 2007, realizados em Foz do Iguaçu, Paraná. 23 Foram consideradas as experiências e as lições apreendidas no processo de formulação do Projeto Básico do Sistema Aqüífero Guarani; na coordenação do Sub Projeto 6.1 “Desenvolvimento de um programa de informação e articulação pública na Bacia do Alto Paraguai” do Projeto GEF Pantanal; na coordenação da Agenda Azul do Programa Pantanal, no âmbito de Mato Grosso do Sul; na formulação e execução do Projeto “Pé na Água” – uma abordagem sistêmica e transfronteiriça na Bacia do Apa; e na participação dos trabalhos no âmbito da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Hídricos Transfronteiriços do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. A avaliação das diferenças político-institucionais entre o Brasil e Paraguai foi qualitativa e comparativa, em função dos aspectos conceituais, das diretrizes e das experiências consolidadas no gerenciamento transfronteiriço de águas apresentadas neste trabalho, dos dados coletados na Bacia do Apa, da análise das informações emitidas por especialistas, e do estágio de implementação do Acordo de Cooperação da Bacia do Apa, no período de realização desta pesquisa. A análise do tema foi desenvolvida a partir de um enfoque global ao regional, e ao local, na Bacia do Apa. O primeiro Capítulo enfoca elementos que ressaltam a importância da água num contexto global, conceitos, iniciativas e princípios consolidados mundialmente para o gerenciamento dos recursos hídricos e para o estabelecimento de políticas públicas, em prol do desenvolvimento sustentável. Em função da importância estratégica, os recursos hídricos têm se constituído área temática específica da política ambiental internacional, definida como hidropolítica. Por isso, no Capítulo 2 são abordados conceitos e aspectos relativos à hidropolítica mundial, em especial, na América Latina, os princípios e regras considerados adequados à gestão transfronteiriça de recursos hídricos, com base nos conceitos de governança e governabilidade das águas. Ainda no Capítulo 2, são abordadas as experiências de cooperação no trato de questões hídricas transfronteiriças na América do Sul, em especial na Bacia do Prata, quanto ao desenvolvimento de programas e projetos, e a adoção de tratados e acordos estabelecidos, que se tornaram normas nacionais dos seus signatários. No Capítulo 3 é apresentado o estado da arte da governança das águas no Paraguai, onde é descrita a situação da gestão hídrica paraguaia em função dos aspectos legais e 24 institucionais, da disponibilidade e demanda hídrica paraguaia, os aspectos socioeconômicos relacionados à questão hídrica, e algumas experiências realizadas em águas transfronteiriças. Da mesma forma, o Capítulo 4 apresenta o estado da arte da governança das águas no Brasil, considerando os aspectos legais e institucionais, em especial a Políticae o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos adotado, bem como a disponibilidade e demanda pelo uso das águas no Brasil. São abordadas as experiências relativas às águas transfronteiriças, incluindo as ações e atividades apoiadas pela Câmara Técnica de Gestão dos Recursos Hídricos Transfronteiriços do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, por intermédio do GT Apa. O Capítulo 5 trata do estudo de caso desta pesquisa, contendo a caracterização territorial e hídrica da Bacia do Apa e respectivos aspectos legais, institucionais, socioeconômicos e histórico-culturais, as ações desenvolvidas por organismos governamentais e pela sociedade civil organizada, o Acordo de Cooperação para a gestão integrada da Bacia do Apa, e as ações e resultados do Projeto “Pé na Água”. São analisados os aspectos legais e institucionais e a participação da sociedade no processo de gerenciamento hídrico na Bacia do Apa, levando em consideração a assinatura do Acordo de Cooperação para o desenvolvimento sustentável e a gestão integrada da Bacia Hidrográfica do Rio Apa, para o embasamento e consolidação das considerações finais. 25 1 ÁGUA NO MUNDO A água é um recurso natural vital e indispensável à manutenção dos ecossistemas e está presente em todos os processos que ocorrem na natureza e de quase todas as atividades econômicas do ser humano. Sua composição química (H2O) simples disfarça sua importância para o desenvolvimento das sociedades e preservação de todas as formas de vida existentes no nosso planeta. Sem água, elemento que compõe 70% do corpo humano, a vida não seria possível. A importância desse recurso natural para o desenvolvimento das sociedades é tão significativa que a garantia ao seu acesso e o atendimento às demandas pelo uso da água, em geral, estão associadas às políticas vigentes dos países onde se encontram. Historicamente, todas as civilizações da Antigüidade nasceram e se desenvolveram próximo aos cursos de água, utilizando-a para suas necessidades básicas e como elemento de sobrevivência. A existência da água contribuiu para que o ser humano deixasse de ser nômade para se tornar sedentário, e também, com a água, foi possível desenvolver a agricultura, o comércio, a indústria, a geração de energia. Porém, a cultura do desperdício e a visão de um planeta composto por muita água, e por longo tempo, vista como um recurso inesgotável, resultou em descaso na formulação de políticas adequadas para seu uso racional. De certa forma, a grandiosidade dos mares e dos grandes lagos, do gelo das calotas polares e das neves eternas no alto das montanhas, e algumas origens históricas, como o dilúvio bíblico e a grandiosidade dos mananciais hídricos revelados pelos descobrimentos do século XVI ao XVIII contribuíram para manter essa crença de inesgotabilidade da água,. Contudo, de toda quantidade de água1 existente no mundo apenas 2,5% é de água e 97,5% formam os oceanos e mares. Da água doce, 68,9% compõem as calotas polares, as geleiras e as neves eternas que cobrem os cumes das montanhas mais altas. As águas subterrâneas são os 29,9% restantes do percentual de água doce existente no mundo e 0,9% são águas que compõe a umidade dos solos e dos pântanos. Somente 0,3% de água doce do mundo estão nos rios e lagos (MMA, 1999). 1 Estimativa realizada por especialistas aponta a disponibilidade efetiva de água na Terra entre 9.000 e 14.000 km3/ano (SHIKLOMANOV, 1993), sendo que parte dela é necessária para suporte do ambiente. 26 Essa distribuição dos volumes estocados nos principais reservatórios de água na Terra é representada na Figura 1. Figura 1 – Distribuição dos valores estocados nos principais reservatórios de água da Terra. Fonte: REBOUÇAS, 1999. De toda água disponível para o consumo no mundo, aproximadamente, 70% são utilizados na irrigação para produção de alimentos, 23% em processos de produção industrial e, apenas 7% são utilizados para o abastecimento humano (MMA, 1999). O cenário mundial atual é de crise da água, pois esse recurso natural conceitualmente considerado renovável, e que a humanidade supunha infinito vem, a cada dia, dando sinal de esgotamento. Aproximadamente 1,1 bilhões de pessoas não têm acesso à água em boas condições e 2,4 bilhões não dispõem de sistemas de esgoto sanitários. Cerca de sete milhões de pessoas morrem a cada ano por doenças transmitidas pela água. Inundações afligem periodicamente países como Blangladesh, China, Guatemala, Honduras, Venezuela, Somália, entre outros, enquanto cerca de um quarto do planeta enfrenta, em diferentes estágios, o processo de desertificação (UNESCO, 2003; MMA/SRH, 2000). A escassez hídrica, configurada quando a disponibilidade de água é de 500 m3/hab/ano a 1000 m3/hab/ano, atinge países como Kuwait, Egito, Arábia Saudita, Líbia, Barbados, Tailândia, Jordânia, Cingapura, Israel, Cabo Verde, Burundi, Argélia e Bélgica (MAIA NETO, 1997). 27 Atualmente, 80 países com 40% da população mundial sofrem de escassez hídrica. Nove dos quatorze países do Oriente Médio se confrontam com uma situação de penúria de recursos em água, constituindo a região do mundo onde a escassez é mais aguda (BECKER, 2003). Além dos aspectos relacionados à escassez, a água é um recurso natural distribuído de forma desigual na superfície e nos aqüíferos do planeta em função das dimensões geográficas, das condições climáticas e da distribuição populacional. Haja vista que, menos de dez países partilham mais de 60% do seu volume total (SRH/MMA, 1997). Diversos fatores, dentre esses, o crescimento demográfico urbano, o aumento da demanda pelos diversos usos da água, a falta de acesso por bilhões de pessoas à água potável e aos serviços de saneamento básico tem gerado visões apocalípticas atribuídas à preocupação com a escassez de água no Planeta. Há perspectivas de possíveis disputas bélicas pelo uso da água, o que não é improvável. Existem mais de 200 bacias hidrográficas de rios de médio e de grande porte partilhadas por dois ou mais países que abrigam 40% da população do planeta, cuja base de conflito pela água, em geral, ocorre pelo uso comum dos recursos hídricos entre os países à montante e à jusante da bacia, ou, em relação ao país economicamente e belicamente mais forte (BECKER, 2003). Por exemplo, os 71 milhões de habitantes do Egito dependem do Rio Nilo para mais de 97% de suas necessidades, mas precisam compartilhá-lo com a Etiópia e outros oito países a montante, todos militarmente mais ricos e empenhados em incrementar a produção agrícola e os serviços urbanos, frente ao crescimento populacional acelerado, às estiagens longas e cíclicas, e à precipitação sazonal (WORLD WATCH, 2005). Quando o atendimento às demandas é relativo ao uso comum de águas compartilhadas por mais de um país, os aspectos a serem abordadas se remetem às questões relacionadas às bacias hidrográficas transfronteiriças, como na Bacia do Rio Apa localizada entre territórios do Paraguai e do Brasil. A Bacia Hidrográfica do Apa está situada na porção superior da Bacia do Prata, na região denominada de Bacia do Alto Paraguai (BAP). A área da Bacia do Alto Paraguai abrange desde as nascentes do Rio Paraguai, em Cáceres, Mato Grosso, até a foz do Rio Apa, no município de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, conforme demonstra a Figura 2 . 28 Figura 2 – Localização da Bacia do Apa Fonte: BROCH et al., 2008. Há situações onde países são impedidos ao desenvolvimento devido à escassez hídrica, à deteriorização dos ecossistemas de água doce, às inundações e secas. São fatores que geram graves conseqüências de caráter sócio-ambiental e que contribuem para a crise da água. Ainda, muitos dos problemas hídricos residem no modo de como a água é consumida e gerenciada, emfunção de diferentes enfoques regionais, onde a disponibilidade de água e seu gerenciamento adequado são fundamentais para um futuro sustentável da humanidade (BECKER, 2003; TUNDISI, 2003). 29 1.1 O MUNDO EM PROL DA ÁGUA As preocupações em relação à problemática hídrica mundial se evidenciaram após a Revolução Industrial em função dos despejos industriais em corpos de água e ao lançamento de esgotos sanitários oriundos das populações concentradas nas cidades. Na segunda metade do Século XX, por iniciativa de organizações internacionais ou de alguns Estados, ocorreram conferências internacionais sobre água, cujas conclusões e medidas indicadas foram adotadas por diversas nações (CAUBET, 2006). Ao final dos anos 60, a degradação ambiental torna-se um problema sério no âmbito político, social, econômico e ecológico, em nível internacional. Em 1968, na Conferência das Nações Unidas da Biosfera, pela primeira vez, especialistas de todo mundo se encontram para discutir problemas ambientais globais que resulta na percepção dos efeitos negativos da exploração irracional da natureza sobre a qualidade da vida humana, e de onde emerge um novo comportamento: a busca por novos paradigmas para o consumo. Ainda que algumas tensões estruturais pudessem ser notadas em certas regiões, com água abundante, insumo natural gratuito e de boa qualidade, não havia motivo para problemas (CAUBET, 2006). Até o início dos anos 1970, a água doce na esfera das relações internacionais, de praxe, era considerada como um suporte para a navegação ou um elemento para a produção de energia hidrelétrica, mas em pouco espaço de tempo, torna-se um recurso natural estratégico e escasso. Em 1971, na Convenção de Ramsar sobre Áreas Úmidas de Importância Internacional é elaborado o Tratado Intergovernamental de Cooperação Internacional para a Conservação e Uso Racional de Áreas Úmidas, que entrou em vigor em 1975. No ano de 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, tem como documento final a Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano que delimita uma via intermediária entre o pessimismo dos malthusianos - que advertiam sobre a possibilidade de esgotamento dos recursos – e o otimismo dos cornucopianos – que depositavam fé nas soluções da tecnologia, ao promover um 30 desenvolvimento socioeconômico eqüitativo, ou ecodesenvolvimento, termo que posteriormente é rebatizado como desenvolvimento sustentável, por pesquisadores anglo- saxões (SACHS, 2007). Apesar de ser considerada um marco do ambientalismo, a Declaração de Estocolmo fez pouca referência à água, mas destaca as discussões sobre as águas compartilhadas e à gestão das bacias transfronteiriças, no princípio 21, da seguinte forma(ANA, 2007),: “os Estados têm [...] o direito de soberania para explorar seus próprios recursos, buscar suas próprias políticas ambientais e a responsabilidade de garantir que as atividades dentro de sua jurisdição ou controle não produzam danos ao meio ambiente de outros Estados ou áreas além dos limites da jurisdição nacional”2 Em 1977, a Conferência das Nações Unidas sobre a Água, em Mar del Plata, na Argentina, marca o começo de uma série de atividades globais em torno da água (UNESCO, 2003) a partir da elaboração do Plano de Ação de Mar del Plata, elaborado nessa Conferência que expunha as preocupações com os aspectos técnicos, institucionais, legais e econômicos da gestão de recursos hídricos, incluindo a cooperação regional e internacional (ANA, 2007). Esse Plano de Ações recomenda, entre outras questões, que cada país deveria formular uma declaração geral de políticas em relação ao uso, à ordenação e à conservação da água, como marco de planejamento e execução de medidas concretas para a eficiente aplicação dos diversos planos setoriais (PNRH, 2006). A partir da década de 1980, diante da constatação dos cenários hídricos, estrategistas do mercado global induzem estudos pela criação de mecanismos que possibilitem a cobrança, nos termos do princípio usuário/pagador ou do poluidor/pagador, das águas dos rios, das nascentes, dos poços, das águas de reciclagem ou de reuso das águas, principalmente, por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, (REBOUÇAS, 2003). Na década de 1981-1990, declarada como o Decênio Internacional da Água Potável e Saneamento, em diferentes ocasiões, foram apontadas as necessidades de ampliação ao acesso ao saneamento básico, em especial às populações carentes do mundo. Em 1992 acontece a Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente: “Temas de Desenvolvimento para o Século 21”, em Dublin, como um dos eventos preparatórios da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e chama a atenção para os novos enfoques para a avaliação, o desenvolvimento e o gerenciamento de recursos 2 Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano 1972. In: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/doc/estoc72.htm>, acesso em 19 de junho de 2007. Texto traduzido da Declaração de Estocolmo, de 1972. 31 hídricos. A Declaração da Conferência de Dublin destaca que a escassez e o desperdício de água doce representam séria e crescente ameaça para o desenvolvimento sustentável e proteção do ambiente, e ressalta que a saúde do homem, a garantia de alimentos, o desenvolvimento industrial e os ecossistemas estariam todos em risco se os recursos de água e solos não fossem geridos de forma bem mais efetiva do que no passado. Foram recomendadas ações de âmbito local, nacional e internacional e quatro princípios que estabelecem a base do gerenciamento integrado de recursos hídricos (TUCCI, 2006): I – a água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para a conservação da vida, a manutenção do desenvolvimento e do meio ambiente; II – o desenvolvimento e o gerenciamento de recursos hídricos devem ser baseados em um ponto de vista participativo, envolvendo usuários, planejadores e políticos, em todos os níveis; III – a mulher tem papel central na provisão, gerenciamento e defesa da água; e IV – a água tem um valor econômico em todos os seus usos competitivos, devendo ser reconhecida como um bem econômico. Ainda em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) – a ECO 92, no Rio de Janeiro, há um consenso sobre a necessidade de reformas no processo de gerenciamento de recursos hídricos, em nível mundial. A Declaração de princípios da ECO 92 enfatiza a importância do gerenciamento holístico dos recursos hídricos, como um recurso finito e vulnerável, e destaca a necessidade da integração de planos e programas setoriais na estrutura e diretrizes sociais e econômicas nacionais para o gerenciamento integrado dos recursos hídricos. é baseado na percepção da água como uma parte integrante do ecossistema, um recurso natural e um bem social e econômico. McCormick (1992) considera que as discussões que culminaram na Conferência realizada no Rio de Janeiro, como um momento marcante em que a ciência é enfocada como forma de fornecer uma compreensão dos mecanismos dos problemas ambientais, e as causas e soluções, uma questão de valores humanos e de comportamento humano. Dessa forma, o meio ambiente, no qual as águas se incluem, passa a ser também enfocado como uma questão política, pois quaisquer que sejam, ou não, as soluções 32 efetivamente aplicadas, estas continuam dependendo de políticas práticas, da atitude de líderes, de partidos e de seus eleitorados, de um complexo sistema cooperativo, de referências cruzadas envolvendo organismos internacionais, órgãos ambientais nacionais, organizações não governamentais, e de uma série de convenções e acordos internacionais de cumprimento, freqüentemente, não obrigatório. Os resultados da Conferênciadas Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1992 permitiram, também, a adoção da Agenda 213. Desde então, há a disseminação e um processo de conscientização mundial à proposta de desenvolvimento sustentável a ser inserida no contexto das políticas públicas, das decisões empresariais e das ações dos cidadãos na busca por caminhos que representem uma relação mais apropriada, entre o desenvolvimento e o meio ambiente, que inclui o uso racional e sustentável da água. A Agenda 21 apresenta diversos capítulos que se referem à questão hídrica. Entretanto, o Capítulo 18 trata o assunto de forma específica, propondo sete programas de ações relacionadas às águas doces. De forma geral, os programas de ações propostos estabelecem os seguintes objetivos e diretrizes para que sejam satisfeitas as necessidades hídricas pela ótica do desenvolvimento sustentável (ABEAS, 1996; MUÑOZ, 2000): - o reconhecimento da água como recurso natural integrante dos ecossistemas e como bem econômico e social, cuja quantidade e qualidade determinem à natureza de sua utilização; - a avaliação e prognóstico das disponibilidades quanti-qualitativas; - a previsão de conflitos; - a estruturação de uma base científica de dados; - a proteção dos ecossistemas e da saúde pública; - a gestão integrada dos recursos hídricos e dos despejos líquidos e sólidos; - a gestão ambientalmente racional dos recursos hídricos destinados à utilização urbana; - o reconhecimento do valor econômico da água; 3 A Agenda 21 foi um dos principais resultados da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1992, ocorrida no Rio de Janeiro, Brasil. É um documento que estabeleceu a importância de cada país em se comprometer e refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas sócio-ambientais. A Agenda 21 é um plano de ação elaborado com o intuito de ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema de nações unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação impacta o meio ambiente. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org.wiki/Agenda_21>. Acesso em: 04 de março de 2008. 33 - a gestão participativa com espaço para as comunidades locais; e - a recomendação de desenvolver a gestão dos recursos hídricos dentro de um conjunto abrangente de políticas de saúde humana, produção de alimentos, atenuação de calamidades, proteção ambiental e conservação da base de recursos hídricos. Tanto a Conferência de Dublin, quanto a Conferência do Rio foram pioneiras no sentido de colocar a água no centro dos debates sobre o desenvolvimento sustentável. Em 2000, no 2º Fórum Mundial da Água, em Haia, e em 2001, na Conferência Internacional sobre a Água Doce, em Bona, foram propostas metas para a melhoria da gestão de águas no mundo. Contudo, as Metas de Desenvolvimento do Milênio4 para o ano de 2015, adotadas na Cúpula das Nações Unidas, no ano de 2000, até o presente momento, são as mais influentes, em nível global, no estabelecimento de objetivos a serem alcançadas por distintas instâncias internacionais para a promoção do desenvolvimento sustentável. Ressalta-se que ações que minimizem problemas relacionados à questão hídrica serão necessárias para o alcance das seguintes Metas do Milênio (UNESCO, 2003): 1- A redução pela metade a proporção de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia; 2- A redução pela metade a proporção de pessoas que padecem de fome; 3- A redução pela metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável; 4- Proporcionar a todas as crianças (meninos e meninas), equitativamente, meios que possibilitem a conclusão do ciclo completo de educação primária; 5- A redução em 75% a mortalidade materna e em dois terços a mortalidade infantil de crianças com menos de 5 anos de idade; 6- Deter a propagação do vírus HIV/AIDS, a malária e outras enfermidades; 7- Proporcionar especial ajuda às crianças órfãs em conseqüência de VHI/SIDA. Em 2002, na Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável (World Summit on Sustainable Development - WSSD), a RIO +10, realizada em Johannesburgo, o então Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, identifica os cinco grandes temas reunidos 4 Metas do Milênio: 1 – Erradicar a pobreza e a fome; 2 – Atingir o ensino básico universal; 3 – Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4 – Reduzir a mortalidade infantil; 5 – Melhorar a saúde materna; 6 – Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7 – Garantir a sustentabilidade ambiental; 8 – Estabelecer parceria para o desenvolvimento. 34 na WEHAB (Water and Sanitation, Energy, Health, Agriculture, Biodiversity) – Água e Saneamento, Saúde, Energia, Saúde, Agricultura e Biodiversidade como parte integrante de um enfoque internacional coerente ao desenvolvimento sustentável, e a água como elemento essencial em cada uma dessas áreas chaves. O ano 2002 foi considerado o Ano Internacional da Água Doce. Em 2003, na primeira edição do “Informe sobre o Desenvolvimento da Água em Nível Mundial”, um produto do Terceiro Fórum Mundial da Água, realizado no Japão, a crise mundial da água é considerada, em sua essência, uma crise de gestão de recursos hídricos causada, especialmente, pela utilização de métodos inadequados para seu gerenciamento (UNESCO, 2003). Esse documento apresenta diretrizes de ações que consideram os seguintes quesitos (ANA, 2007): 1- A água doce como um bem comum; 2- A gestão integrada dos recursos hídricos dirigida à satisfação duradoura e intersetorial do conjunto das necessidades essenciais e legítimas, à proteção contra os riscos e à preservação e à restauração dos ecossistemas; 3- As bacias dos rios, dos lagos e dos aqüíferos como sendo os territórios apropriados para a organização da gestão integrada dos recursos hídricos e dos ecossistemas; 4- Em cada país, um marco jurídico claro que estabeleça os direitos e obrigações, as competências institucionais, os procedimentos e os meios indispensáveis para um bom governo de água; 5- Os representantes da população e dos poderes locais, dos usuários de água, das organizações defensoras de interesses coletivos participando da gestão dos recursos hídricos, principalmente no âmbito de conselhos ou comitês de bacia; 6- A informação, a sensibilização e a educação da população e de seus representantes como questões indispensáveis; 7- Planos diretores ou planos de gestão de bacia baseados na transparência elaborados para fixar objetivos que devem ser alcançados à curto, médio e longo prazo; 8- Sistemas integrados de informação e monitoramento confiáveis, representativos, de fácil acesso, e harmonizados, com consultas específicas e organizados em cada bacia hidrográfica; 35 9- A implementação de sistemas de financiamento, baseados na contribuição pecuniária e na solidariedade dos consumidores e dos contaminadores da água, como necessária para assegurar a realização em cada bacia dos programas prioritários e sucessivos de ação e garantir o bom funcionamento dos serviços coletivos; essas contribuições pecuniárias fixadas por consenso, no âmbito dos comitês de bacia, sendo administrados na bacia por uma “agência” técnica e financeira especializada; 10- Para os grandes rios, lagos e aqüíferos transfronteiriços devem ser alcançados acordos de cooperação entre os paises ribeirinhos e planos de gestão concebidos para o conjunto das bacias hidrográficas, principalmente no âmbito de comissões, autoridades ou organismos internacionais ou transfronteiriços. Há um consenso mundial ao estabelecimento do uso racional e sustentável dos recursos naturais como uma premissa fundamentalao desenvolvimento equilibrado de qualquer país, bem como, o entendimento de que a definição de políticas para a utilização racional da água é tão importante quanto à abundância ou não de mananciais hídricos. Tais consensos alcançados em nível internacional comandam amplamente o que ocorre em inúmeros países, mas é inegável que embutido ao discurso de cooperação e solidariedade internacional, também estão em jogo interesses distintos e contraditórios onde se constituem relações de poder, que incluiu o acesso à água. Nesse contexto, as disparidades econômicas não mudaram de forma relevante. Constatações de crise de água em nível internacional, erros cometidos na Europa e nos Estados Unidos, inclusive após a Revolução Industrial, são repetidos até hoje, inclusive em países onde as descargas dos rios são relativamente escassas e que enfrentam essa situação há milênios (REBOUÇAS, 2003). A preocupação mundial, expressa em conferências e eventos internacionais e nacionais, apesar de constante, resulta em uma agenda hídrica que exige esforços amplos e complexos para o enfrentamento dos problemas a serem superados em cada país,. A adoção de medidas efetivas que combatam conflitos existentes e potenciais pelo uso da água, além de vontade política que induzam à cooperação e à união de esforços, precede da existência de capacidade político-institucional e financeira para implantar tais medidas. De todo modo, a gestão de águas transfronteiriças, sejam elas contíguas e/ou sucessivas, é pressuposto para o desenvolvimento sustentável de qualquer país, ainda que, grande quantidade da população mundial não tenha conhecimento dessa interdependência hidrológica 36 que condiciona os países, e de como isso faz parte de uma realidade que determina vidas e oportunidades. 1.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E OS RECURSOS HÍDRICOS As modificações dos ambientes naturais, no decorrer do processo de evolução da humanidade em função dos interesses e necessidades em busca de melhores condições de vida e do desenvolvimento relacionado ao crescimento econômico resultaram no domínio dos recursos naturais pelo homem (McCORMICK, 1992). Nessa trajetória, os eventos da industrialização, da revolução agrícola, e o concomitante aumento dos adensamentos populacionais geraram uma crise ambiental, de âmbito global, caracterizada pela degradação dos sistemas naturais. Durante a segunda metade do século vinte, várias transições marcaram o desenvolvimento da humanidade atrelado ao crescimento econômico e populacional, e, mais recentemente, em busca da sustentabilidade ambiental. A partir de 1960, a percepção das limitações do modelo de desenvolvimento tecnológico e econômico em relação ao conjunto de problemas associado à degradação dos recursos naturais, essenciais à sobrevivência humana, resultaram em debates na busca de respostas para um novo modelo de desenvolvimento. A 1a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, em 1972, Estocolmo/Suécia é um marco à preocupação pela construção de um novo paradigma que aproxime critérios ecológicos, econômicos e ambientais, aliados à existência da espécie humana de modo justo e equilibrados, que embasem novos modelos de desenvolvimento (McCORMICK, 1992). Na década de 70, a constatação dos efeitos da degradação ambiental era crescente, ainda que, países em desenvolvimento, como o Brasil, seguiam a rota de devastação dos “ilimitados” recursos naturais em prol do desenvolvimento, não aceitando intervenções preservacionistas (SIMONSEN, 1974), 37 Nos anos 80, as mudanças climáticas atribuídas ao aquecimento e suas conseqüências, e os impactos ambientais oriundos de acidentes, como os do vazamento radiativo da Usina Nuclear de Chernobyl, demonstram a possibilidade de reflexos globais em função das ações locais danosas ao ambiente. Nessa década, houve grande pressão para a redução do impacto pelo desmatamento de florestas e pela construção de barragens. Os anos 90 e início deste século foram marcados pela idéia do desenvolvimento sustentável, conceito apresentado na publicação Nosso Futuro Comum, reconhecido também, como “Relatório Brundtland”, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED, 1997), e consolidado na “Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento” - ECO 92, realizada no Rio de Janeiro em 1992. As preocupações e discussões relativas às temáticas hídricas, na década de 90, se concentravam em vários aspectos, tais como: a falta de regulação; a análise fragmentada do setor; a falta de acesso á água, principalmente, pelas populações mais pobres; a pouca atenção para o controle da poluição e da qualidade da água; o grande crescimento da população e o aumento do custo de investimentos para o setor. Desde então, o termo desenvolvimento sustentável se tornou parte do texto e dos discursos entre organismos governamentais, não governamentais, nacionais e internacionais, mas nem por isso, há clareza do quê, de fato, é sua definição. O termo “sustentável”, atualmente, empregado em diversas combinações (desenvolvimento sustentável, sociedade sustentável, uso sustentável...), tem diferentes interpretações, características e diferentes proporções, dependendo da escala de referência na qual o termo se insere. Segundo Sachs (2007), sustentabilidade constitui um conceito dinâmico com cinco dimensões5: sustentabilidade social, econômica, ecológica, espacial (geográfica) e cultural, que leva em conta as necessidades crescentes das populações. A sustentabilidade socia1, entendida como a criação de um processo de desenvolvimento que seja sustentado por uma lógica de crescimento subsidiado por uma outra visão do que seja uma boa sociedade. A meta é construir uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres. 5 As cinco dimensões do ecodesenvolvimento (SACHS, 2007). 38 Sustentabilidade econômica, que deveria ser viabilizada mediante a alocação e o gerenciamento de investimentos públicos e privados. Para tanto, seria necessário superar as configurações externas negativas resultantes do ônus do serviço da dívida e da drenagem líquida de recursos financeiros dos países do Hemisfério Sul, dos termos de troca desfavoráveis, das barreiras protecionistas, ainda existentes nos países do Hemisfério Norte, e do acesso limitado à ciência e tecnologia. A eficiência econômica deve ser avaliada em termos macrossociais, e não apenas por meio do critério da rentabilidade empresarial de caráter microeconômico. Sobre sustentabilidade econômica, Sachs (2000) aponta como sendo uma necessidade, e não como condição prévia para as demais dimensões de sustentabilidade, ao considerar que, um transtorno econômico, ao trazer consigo o transtorno social, consequentemente, obstrui a sustentabilidade ambiental. Sustentabilidade ecológica, que pode ser melhorada utilizando-se as seguintes ferramentas: ampliar a capacidade de carga da Terra, por meio de soluções engenhosas; intensificando-se o uso do potencial de recursos dos diversos ecossistemas com o mínimo possível de danos aos sistemas de sustentação da vida; limitar o uso de combustíveis fosseis e de outros recursos e produtos que são facilmente esgotáveis ou danosos ao meio ambiente, susbstituindo-os por recursos ou produtos renováveis e/ou abundantes, usados de forma não agressiva ao meio ambiente; reduzir o volume de resíduos e de poluição , por meio de conservação de energia e de recursos, alem da reciclagem; promover a autolimitação do consumo material por parte dos países ricos e dos indivíduos em todo o planeta; intensificar a pesquisa para a obtenção de tecnologias de baixo teor de resíduos e eficientes no uso de recursos para o desenvolvimentourbano, rural e industrial; definir normas para um adequada proteção ambiental, desenhando a maquina institucional e selecionando a combinação de instrumentos econômicos, legais e administrativos necessários para o seu cumprimento. Sustentabilidade espacial, que deveria ser dirigida para a obtenção de uma configuração rural-urbana mais equilibrada e de uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas, com ênfase no que se segue: reduzir a concentração excessiva nas áreas metropolitanas; frear a destruição de processos de colonização efetivados sem controle; promover práticas modernas e regenerativas de agricultura e agrossilvicultura, envolvendo pequenos agricultores e empregando adequadamente pacotes tecnológicos, credito e acesso a mercados; explorar o potencial da industrialização descentralizada, acoplando à nova geração de tecnologias, com referencia 39 especial às indústrias de biomassa e ao seu papel na criação de oportunidades de emprego não-agrícolas nas áreas rurais; criar uma rede de reservas naturais e de Reservas da Biosfera, para proteger a biodiversidade. Sustentabilidade Cultural, incluindo a procura das raízes endógenas de modelos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, processo de mudança que resguardem a continuidade cultural e que traduzam o conceito normativo de eco desenvolvimento numa pluralidade de soluções, ajustadas à especificidade de cada contexto sócio-ecológico Sachs (2000) ainda postula que, na dimensão institucional, sustentabilidade é a democratização e a reestruturação do poder público, a partir do fortalecimento de sua capacidade de estabelecer políticas e em criar mecanismos sociais de decisão, e controle das medidas que afetam as comunidades, sem “inchamentos” de pessoal ou centralizando decisões. Declara que o mesmo pode ser dito quanto à falta de governabilidade política e, por essa razão, considera soberana a importância da sustentabilidade política na pilotagem do processo de reconciliação do desenvolvimento com a conservação ambiental, destacando a dimensão da sustentabilidade do sistema internacional para manter a paz. O desenvolvimento sustentável não representa um estado estático de harmonia, mas, antes, um processo de mudança, no qual a exploração dos recursos, a dinâmica dos investimentos e a orientação das inovações tecnológicas e institucionais são feitas de forma consistente, em face das necessidades, tanto atuais como futuras, num contexto internacional, em constante transformação. As evidências sobre os níveis críticos de degradação ambiental e esgotamento de recursos naturais, como os relacionados ao desmatamento e agravamento da escassez da água para uso e consumo humano, revelam desafios que ultrapassam o território dos países, onde, inclusive, as influências políticas e econômicas de umas nações sobre outras podem facilitar, ou dificultar a construção da sustentabilidade regional e/ou global (LOBO, 2007). Nesse contexto, Sachs (2007) destaca que, como os objetivos do desenvolvimento são sempre sociais, devem-se respeitar as condicionalidades ecológicas para preservar o futuro e lograr a viabilidade econômica para que as coisas aconteçam. 40 Da mesma forma, Figuerôa (2007)6, esclarece que a expressão “desenvolvimento sustentável” deve ser compreendida numa perspectiva que, obrigatoriamente, englobe os seres humanos e sua dimensão de organização social. Bursztyn (2001) ressalta que, o desenvolvimento sustentável impõe uma modificação na forma de encarar os desafios socioecológicos, e sendo assim, sustentabilidade pressupõe solidariedade. Para isso, pontua que é preciso levar em consideração o próximo de agora e o que está por vir, cujo desafio está na redução das desigualdades intrageracionais (promover a justiça social) e, ao mesmo tempo, evitar uma degradação ambiental que signifique provocar desigualdades intergeracionais, pois, as gerações futuras têm o direito de usufruir um meio ambiente saudável, que lhes permita não apenas sobreviver – em termos econômicos e ecológicos -, mas sobreviver com qualidade de vida não inferior a do tempo presente. Como pressupostos ao desenvolvimento sustentável, Bursztyn (2001) apresenta cinco imperativos do mundo do “deve ser”: - O Estado precisa fazer mais com menos, conciliando pelo menos três princípios complementares: a subsidariedade, a coordenação, e a flexibilidade. - O fortalecimento de canais que permitam o envolvimento da sociedade civil organizada nas decisões públicas, avançando para a democracia participativa. - O processo de globalização deve acontecer sem exclusão. - O estabelecimento de mudanças de atitude em busca da solidariedade, da ética, da precaução, da ambientalização da educação, das atitudes da sociedade frente à produção e ao consumo ético, sendo que, nesse aspecto, o papel da educação é determinante. - A ambientalização da economia através da intervenção reguladora do Estado por meio de políticas públicas indutoras de comportamentos coerentes com o imperativo da qualidade ambiental, atuando, ainda que indiretamente, através de instrumentos econômicos e instrumentos normativo-legais. Não é uma tarefa simples, pois envolve interesses, muitas vezes divergentes, que implicam em congregar os esforços e direcionar as energias no aproveitamento das 6 Silvia Figuerôa (geóloga, historiadora, diretora-associada do Instituto de Geociências da UNICAMP) em entrevista a Flavio Lobo. In: LOBO, F. Como Recriar a Realidade. REVISTA PÁGINA 22. São Paulo: Centro de Estudos em Sustentabilidade da EAESP-FGV, n. 11, ago 2007. 41 potencialidades existentes, e na superação dos problemas de uma determinada unidade territorial, podendo esta, ser o espaço territorial de uma bacia hidrográfica. Para que isso aconteça, não há modelos acabados, o que garante, a cada sociedade, a plena liberdade e estímulo de buscar seu próprio caminho, pois a sociedade é que deve ser sustentável, e não o padrão de desenvolvimento dado por outras regiões ou países. Afinal, com base nos postulados de Kuhn (1990), a noção de desenvolvimento é mutável e dependerá do paradigma adotado pela sociedade em um dado momento. Conforme as considerações de Capra (1986), isto significa levarmos para o centro das discussões sobre o desenvolvimento sustentável temas como: o conjunto de padrões sociais, valores e estilos de vida do ser humano, a espiritualidade, a evidente necessidade de estabelecer uma nova ética, a atual incapacidade de relacionamento com a natureza, a não ser pela ótica da produção e do consumo, a avaliação das várias opções tecnológicas e suas diversas conseqüências, a reavaliação do papel do mercado, as relações entre os países do Norte e do Sul. Veiga (2007) considera que, a humanidade nunca coloca questões que não possa tentar resolver, e por isso, devido à consciência coletiva ameaçada de sua existência neste planeta, levou à formulação da expressão “desenvolvimento sustentável”, na esperança de que seja possível compatibilizar a expansão das liberdades humanas com a conservação dos ecossistemas que constituem sua base natural. Diante disso, tão urgente quanto enfrentar desafios como os relacionados ao aquecimento global e a escassez hídrica, é preciso avançar na reforma das instituições e dos sistemas políticos globais e nacionais, porque estas podem travar e/ou condicionar quaisquer metas de sustentabilidade. Bernardo (2007)7 avalia que a promoção para o desenvolvimento sustentável, também está na promoção de uma hegemonia política com base num alinhamento ético, no poder compartilhado, na negociação das diferenças, na ampliação da participação, na visibilidade dos interesses na circulação de informações, ou seja, na recuperação do espaço público como lócus à mudança. Pontua que a responsabilidade
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