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UNIDADE COMPLEMENTAR A AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL “Educação é o que fica quando o que se aprendeu foi esquecido”. (B. F. Skinner). Nesta Unidade, vamos compreender a importância da avaliação comportamental para o autismo. A Análise do Comportamento trouxe uma nova perspectiva para a Psicologia. Isso representa que, diante das escolas, linhas de atuação, procedimentos adotados de que a Psicologia já dispunha, surgiu uma contribuição nova, como forma de pesquisar, de elaborar o conhecimento e de aplicação. O estudo da Análise do Comportamento aliado à atuação do profissional motiva a aplicabilidade dos princípios dessa abordagem psicológica. Assim, já delimitamos que a Análise do Comportamento é uma abordagem psicológica. Basicamente Skinner, no segundo momento, mediante seus estudos sobre a Análise do Comportamento, sistematicamente fez elaborações conceituais e trouxe como proposta uma concepção de homem que diverge fundamentalmente das concepções tradicionais. As concepções que vingam e são desenvolvidas na Psicologia são visões de um homem dualista, com forte ênfase no papel da mente como um fator determinante de ações, sofrimentos, sentimentos e assim por diante. Skinner traz uma proposta revolucionária, à medida que proporciona uma visão do homem estudado como um objeto da natureza e, como tal, desprovido dessa dualidade mente/corpo. O que vamos estudar é a interação do ser humano com o seu meio ambiente. Esse estudo envolve tanto as condições presentes como as condições passadas (ou história de contingências). Assim, como outras áreas, a Análise do Comportamento produz conhecimento. Um conhecimento gerado à medida que produz dados a partir de estudos controlados. Esse é um dos aspectos: a pesquisa. Desse modo, Análise Experimental do Comportamento é uma fonte produtora de conhecimentos sobre como as pessoas e os organismos se relacionam com o ambiente de uma maneira geral. CAPÍTULO 1 Entendendo os Behaviorismos Como tudo iniciou... Quando falamos em Behaviorismo, na verdade, falamos em behaviorismos, no plural. No início do século 20, a filosofia da ciência do comportamento denominada Behaviorismo se ramificou em diversas vertentes que defendiam ideias com certas semelhanças, mas que também tinham divergências importantes. Entre os behavioristas, os mais conhecidos, sem dúvida, são John Watson, fundador do Behaviorismo Metodológico, e Burrhus Frederic Skinner, criador do Behaviorismo Radical. O que diferencia esses dois behaviorismos? O Behaviorismo Metodológico foi o ponto de partida dos estudos da visão behaviorista. Watson estava interessado em estudar comportamentos reflexos e considerava que pensamentos e emoções não deveriam ser estudados pela Psicologia, pois eram fenômenos que não podiam ser observados. Já o Behaviorismo Radical de Skinner estava direcionado ao estudo do comportamento operante, muito diferente do comportamento reflexo. Além disso, o Behaviorismo Radical não exclui o estudo das emoções, dos pensamentos e de outros fenômenos que não podemos enxergar. Percebeu as diferenças entre as duas abordagens? Então, vamos explorá-las um pouco mais! O comportamento reflexo é um tipo de ação que não conseguimos segurar, como a salivação, o bocejo, o espirro. Esse tipo de comportamento foi muito estudado pelo Behaviorismo Metodológico, principalmente por meio de um processo chamado condicionamento reflexo. Sabe o que é isso? Resumidamente, o condicionamento reflexo acontece da seguinte maneira: Primeiramente, procure um estímulo que produza uma ação reflexa em um organismo. Vejamos: ... um bom estímulo pode ser um alimento que desencadeia a salivação do cachorro. Condicionamento reflexo Figura 1. Fonte: acervo Pessoal. Agora vamos utilizar um estímulo neutro, ou seja, um estímulo que não desperta nenhum comportamento no cachorro: como o barulho de um sino ou sineta. Se toda vez que oferecermos alimento ao cachorro fizermos o barulho com esse sino ou sineta, com o passar do tempo, ele começará a salivar ao ouvir o barulho da sineta, mesmo que nenhuma comida lhe seja oferecida. O som da sineta que era um estímulo neutro virou um estímulo condicionado, ou seja, um estímulo capaz de desencadear aquele comportamento de salivação que antes somente era eliciado pela comida. Esse tipo de condicionamento era o tipo de fenômeno estudado pelo Behaviorismo Metodológico. Alimento (estímulo) Desencadeia Salivação no cachorro (ação reflexa que responde a esse Já o condicionamento operante, que passou a ser estudado por Skinner no Behaviorismo Radical, é um fenômeno muito diferente do supracitado. No condicionamento operante, primeiramente um organismo emite um comportamento. Por exemplo: uma pessoa conta uma piada em uma festa. Se, em consequência, alguém achar a piada engraçada, provavelmente o “contador de piadas” contará mais piadas em ocasiões semelhantes. Isso acontece porque a consequência gerada no comportamento de contar a piada foi uma consequência reforçadora (abordaremos mais adiante o reforço). Sempre que você emite um comportamento que gera uma consequência reforçadora, as chances de esse comportamento se repetir aumentam. Perceberam bem a diferença entre os dois tipos de condicionamento? Vamos a uma comparação: no Condicionamento Reflexo, temos um estímulo que elicia uma resposta. Então pareamos um novo estímulo, que se torna capaz de provocar aquela mesma resposta. Figura 2. Fonte: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI304303-17770,00- COLA+PARA+CARNE+SERVE+PARA+MONTAR+FILET+MIGNON+FALSO.html>; <https://www.klebervariedades.com.br/sineta-campainha-de-mao-65x12-rio-master-7750/p>; <https://www.mundodosanimais.pt/caes/motivos-para-nao-ter-cao/>. Acesso 29/8/2018. ___________________ No condicionamento operante, não há estímulo algum desencadeando comportamentos. Não há sineta nem comida. Nele, é o organismo que opera. Ou seja, emite um comportamento – quando esse comportamento gera consequências reforçadoras, tais consequências aumentam as chances de o comportamento se repetir. Observe que são processos muito diferentes. Até aqui vimos que o Behaviorismo Radical de Skinner não se recusa a estudar fenômenos como o pensamento e as emoções, ao contrário do Behaviorismo Metodológico de Watson. Mas é preciso ressaltar que Skinner considera pensamentos e emoções como comportamentos e os estudou dessa forma – e não como processos mentais. Além disso, não se deve acreditar que os pensamentos, as emoções, a mente e o cérebro geram comportamentos nas pessoas. Para Skinner, pensamentos e emoções precisam ser explicados, e não utilizados como explicações. Atribuir a origem do comportamento a esses eventos pouco conhecidos é – na visão skinneriana – um tipo de criacionismo. Skinner - Coleção Grandes Educadores - (Completo) <https://www.youtube.com/watch?v=L_iD-JPI99Q>. ___________________ Sendo assim, os temas abordados nesta disciplina se baseiam no eixo da abordagem psicológica denominado como Análise do Comportamento, derivada das pesquisas desenvolvidas por Burrhus Frederic Skinner. Algumas vezes percebemos uma confusão acerca da Análise do Comportamento e o Behaviorismo, bem como o Behaviorismo Radical de Skinner (como grande força do behaviorismo) com outras escolas – digamos assim – do Behaviorismo. Ou até mesmo o desconhecimento de diferentes behaviorismos. É fato que o Behaviorismo Radical ou Filosofia da Ciência do Comportamento com a concepção do ser humano, as concepções epistemológicas, o objeto de estudo, a causalidade, entre outras discussões filosóficas, fundamentam a Análise do Comportamento e representam o cerne do pensamento de Skinner, que sempre acreditou que, por mais complexo que fosse o comportamento apresentado, era possível estudá-lo de forma científica.Dessa forma, a ciência, na visão de Skinner, é o modo mais seguro e eficiente para se construir o conhecimento. Assim, enquanto inúmeros pesquisadores contemporâneos a Skinner afirmavam que era impossível o estudo do comportamento dado ao seu grau de complexidade – descartando, desse modo, a ciência (estudos laboratoriais) – e, paralelamente, sustentando que a subjetividade não estava ao alcance de observação científica, Skinner realiza uma imersão, trabalhando dia após dia no laboratório com o intuito de provar que existia – sim! – a viabilidade de uma filosofia da ciência do comportamento marcada pela observação de fenômenos subjetivos. A dedicação de Skinner à pesquisa rendeu frutos e, hoje, podemos afirmar que os conhecimentos produzidos em seu trabalho são a base para a atuação de milhares de profissionais ao redor do mundo. Ou seja, a pesquisa que se originou no escopo da Psicologia extrapolou essa área do conhecimento e é utilizada nos mais diversos setores, tais como: clínica, organizações, escolas, hospitais, educação especial, esportes, planejamento cultural, laboratório e na intervenção direcionada para o autismo – foco de nosso curso. Queremos pontuar que citamos apenas algumas áreas entre as inúmeras que utilizam a filosofia, os conceitos e técnicas desenvolvidos por Skinner. Contudo, apesar da estreita relação, a Análise do Comportamento e o Behaviorismo são distintos. A Análise do Comportamento configura uma abordagem psicológica, enquanto o Behaviorismo é um tipo de filosofia da ciência do comportamento. Vamos a algumas palavras de Skinner sobre o Behaviorismo Radical: O Behaviorismo não é a ciência do comportamento humano, mas, sim, a filosofia dessa ciência. Algumas das questões que ele propõe são: É possível tal ciência? Pode ela explicar cada aspecto do comportamento humano? Que métodos pode empregar? São suas leis tão válidas quanto as da física e da biologia? Proporcionará ela uma tecnologia e, em caso positivo, que papel desempenhará nos assuntos humanos? São particularmente importantes suas relações com as formas anteriores de tratamento do mesmo assunto. O comportamento humano é o traço mais familiar do mundo em que as pessoas vivem, e deve ter sido dito mais sobre ele do que sobre qualquer outra coisa. E, de tudo o que foi dito, o que vale a pena ser considerado? (SKINNER, 1982, p. 7) É essencial destacar que, em sua obra intitulada Sobre o Behaviorismo – que constará como referência de leitura em nossa biblioteca –, o próprio Skinner deixa claro que o Behaviorismo não deve ser encarado como uma ciência do comportamento, mas sim a filosofia que fundamenta essa ciência. Desse modo, não existe a possibilidade de compararmos o Behaviorismo Radical com outras abordagens como a Psicanálise ou a Gestalt – por exemplo –, já que o Behaviorismo Radical não é uma abordagem psicológica. Ao longo de sua vida, B. F. Skinner escreveu e publicou aproximadamente 300 artigos científicos e cerca de 20 livros. Livros esses de grande relevância, e, exatamente por esse motivo, é interessante sua leitura. Obviamente, não é uma imposição ler todos, mas com certeza aprofundar os conhecimentos nessa literatura ampliará o estudo acerca do Behaviorismo Radical, da obra de Skinner, e fomentará o conhecimento sobre a Análise do Comportamento Aplicada. Desse modo, um estudo complementar auxiliará os profissionais a desenvolverem suas intervenções e, acima de tudo, obterem uma visão analítica sobre ABA. Uma vez que, no Brasil, a Análise do Comportamento Aplicada gera uma série de demandas com relação a ser ou não uma ciência, esse é um ponto muito importante a ser esclarecido, pois há correntes contrárias na categorização de ABA. CAPÍTULO 2 Análise do comportamento aplicada Vamos iniciar com uma discussão que gera muita polêmica. Prontos? Então vamos adentrar o Universo ABA. Qual é a polêmica? Existe um grupo de analistas comportamentais que define ABA como ciência, pois cada intervenção é individualizada dependendo do grau de autismo apresentado, sendo necessário um plano de intervenção personalizado/individualizado, no qual se parte de um comportamento inadequado que será extinto, e, em seu lugar, um repertório de comportamento adequado deve ser estabelecido de forma bem sucedida. Assim, o ABA pertence ao domínio natural da Psicologia, como um braço da Psicologia Comportamental mediante o paradigma S-R (estímulo-resposta), com operantes e pesquisas que tragam resultados eficazes. Resultados esses que são controlados. Desse modo, esse grupo de analistas afirma categoricamente que ABA não é um método, pois não possui um manual, e há vários procedimentos, cabendo ao profissional planejar sua intervenção de acordo com a demanda apresentada por seu paciente com autismo. Em contrapartida, há outro grupo de analistas do comportamento que fomenta discussões sobre ABA ser exatamente um método, pois há um conjunto de práticas, teorias e conceitos. Portanto, nada mais justo que definir ABA como um método. Podemos comprovar o fato de que existe, na área da análise do comportamento, uma divisão entre os analistas do comportamento em relação ao fato de ABA ser método ou ciência. Essas duas visões fazem sentido? Sim! Temos que construir currículos individualizados, pois as pessoas não são iguais, e não podemos esperar que assim sejam no TEA. O Autismo, antes de qualquer definição, é uma condição biológica, genética, pautada pela neurodiversidade, entre outros fatores. Ole Ivar Lovaas (1927-2010) é taxativo ao afirmar que ABA não é um método, mas sim uma disciplina científica para modificação de comportamento desenvolvida a partir da pesquisa-base realizada no escopo do Behaviorismo Radical de Skinner. Assim, a Análise do Comportamento Aplicada ou Applied Behavior Analysis (ABA) está preocupada com a aplicação de técnicas baseadas nos princípios da aprendizagem para mudar o comportamento de significância social. Essa é a forma aplicada de análise do comportamento; mas há outras vertentes. Por exemplo, outras duas formas são o behaviorismo radical (ou a filosofia da ciência do comportamento) e a análise experimental do comportamento (ou pesquisa experimental básica). O nome Análise do Comportamento Aplicada está voltada à modificação do comportamento, tendo como foco esclarecer as interações relevantes no ambiente que suscitaram a mudança no comportamento. A ABA se propõe a mudar o comportamento avaliando primeiramente a relação funcional entre um comportamento direcionado e o ambiente. Além disso, a abordagem geralmente busca desenvolver alternativas socialmente aceitáveis para comportamentos aberrantes ou inadequados. A Análise do Comportamento aplicada foi e é utilizada em uma vasta gama de áreas e problemas comportamentais. Os exemplos incluem intervenções comportamentais intensivas precoces para crianças com transtorno do espectro autista (TEA), pesquisas sobre os princípios que influenciam o comportamento criminoso, bem como a prevenção do HIV, conservação de recursos naturais, educação, gerontologia, saúde e exercício físico, segurança industrial, aquisição de linguagem, procedimentos médicos, parentalidade, psicoterapia, uso do cinto de segurança, transtornos mentais graves, esportes, abuso de substâncias, fobias, distúrbios de alimentação pediátrica e manejo zoológico e cuidados com animais. O fato é que existem protocolos e procedimentos a serem seguidos. Um deles, por exemplo, é o DRO – Reforçamento Diferencial de Outra Resposta –, que é um procedimento que tem como ser realizado independentemente do comportamento que o profissional deseja reduzir de frequência. Então, uma criança que grita, que chora porque quer alguma coisa, pode estar se comportando assim porque quer assistir à televisão, quer o tablet ou quer chocolate. Podemos dizer que são birras diferentes. Certo?Mas a maneira como o terapeuta vai intervir nessas duas birras diferentes é idêntica ou muito parecida. Dessa forma, o DRO nos alerta a colocar um comportamento em extinção, o que significa – em linhas gerais – que você não vai dar atenção, que você não vai reforçar esse comportamento com atenção – essa birra de gritar, chorar, se jogar no chão –, e, ao mesmo tempo, você vai ajudar a criança a se engajar em outro comportamento. Por isso o nome Reforçamento Diferencial de Outra Resposta (ou Outro Comportamento). Não cabe ao profissional, pais ou professores ficar falando: “Gustavo, não pode ficar se jogando no chão”. Ao contrário disso, será dito “olha, Gustavo, vamos ver o que tem aqui? Dominó! Que legal! Vamos jogar?”. Se a criança se engajar nessa atividade, vem o reforço positivo verbal “que bom que você vai jogar comigo. Estou feliz! Vamos nos divertir juntos”. Esse é um procedimento. Mas a pessoa que o aplica precisa analisar a maneira como vai implementar a extinção de um comportamento e a tentativa de direcionamento para outro – essa é a definição do procedimento. A questão é saber como aplicá-lo nas situações diversas. Existem procedimentos e técnicas prontas que o analista do comportamento replica e adapta. Na disciplina Manejo de Comportamentos Disruptivos e a Aprendizagem pelas Consequências, o tema será aprofundado. E pensamos que é relevante a discussão desse tema em tópicos na sala do tutor para enriquecer a troca de conhecimentos e a interação no ambiente virtual. De modo geral, podemos utilizar os procedimentos DRO, extinção, punição, reforçamento – que são procedimentos já publicados, descritos em inúmeras referências bibliográficas –, mas, para cada pessoa que atendemos, existe a necessidade de estabelecer uma forma de aplicar. Há, inegavelmente, uma diversidade literária na obra de Skinner na qual podemos perceber um profissional extremamente mobilizado e preocupado com as questões humanas. Eis alguns títulos de suas obras: » Ciência e Comportamento Humano. » O Comportamento Verbal. » A Medida da Atividade Espontânea. » O Estudante Criativo. » Tecnologia do Ensino. » Sobre o Behaviorismo. Burrhus Frederic Skinner – Nova Antologia <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4663.pdf>. ___________________ ABA é a sigla em inglês para Applied Behavior Analysis – em português, Análise do Comportamento Aplicada. A Análise do Comportamento Aplicada é um eixo da Análise do Comportamento. A Análise do Comportamento é uma abordagem da Psicologia. É um jeito de fazer Psicologia. Dentro da Psicologia, temos inúmeras áreas, como já mencionamos, tais como: a Psicanálise, a Gestalt /terapia, a Abordagem Humanista etc. Em nossa disciplina, os ensinamentos serão baseados em Princípios da Análise do Comportamento. A Análise do Comportamento possui alguns eixos ou domínios. ABA = Applied Behavior Analysis, é um domínio que compõe a Ciência do Comportamento. A Análise do Comportamento é uma ciência – abordagem ou método (já falamos acerca da discordância em caracterizar, nomear ou classificar ABA, portanto vamos seguir adiante) – pragmática nos moldes das ciências naturais. Desenvolve-se em um continuum de quatro domínios (Moore e Cooper, 2003). Sobre a análise do comportamento aplicada – ABA Figura 3. Fonte: acervo pessoal. [...] Cada um dos quatro papéis é uma parte extremamente importante na Análise Comportamental (AC) e, cada um deles, merece total e completo respeito. (HAWKINS; ANDERSON, 2002, p. 49). Conceito A abordagem utilizada será baseada em princípios do Behaviorismo Radical. E podemos nos perguntar: de onde surge essa terminologia: Behaviorismo Radical? Por que ele é Radical? Porque o Behaviorismo Radical nega invariavelmente uma visão dualista de ser humano que, em as questões ou demandas, têm um campo imaterial e outro material, o que podemos descrever como a dualidade entre mente e corpo. Para a Análise do Comportamento, eventos privados (pensamento, sentimentos, questões internas, que ocorrem dentro do corpo e mente) são encarados também como comportamentos e, portanto, passíveis de serem estudados e controlados. O Behaviorismo Radical também acredita que o comportamento é determinado. Ou seja, o Comportamento, à luz da abordagem Behaviorista Radical, é o produto de uma seleção natural. 1. CONCEITO Behaviorismo Radical, Visão Monista de Homem e Seleção Natural dos Comportamentos 2. PESQUISA BÁSICA Princípios e Processos Gerais 3. PESQUISA APLICADA=ABA Princípios e Processos Básicos Aplicáveis em situações socialmente relevantes 4. RELEVÂNCIA Intervenção voltada a problemas socialmente relevantes Lamarkismo versus Darwinismo. A teoria desenvolvida por Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) também chamada de Lamarckismo defendia que os seres vivos se modificavam ao longo do tempo, de acordo com as pressões exercidas pelo ambiente, e que essas modificações passavam para as gerações seguintes, seguindo a lei do uso e desuso e a lei dos caracteres adquiridos. Apesar de hoje o Lamarkismo ser reconhecidamente uma teoria errônea, há alguns pontos assertivos, que, posteriormente, foram utilizados pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) ao desenvolver e reforçar a teoria da seleção natural e sexual – afirmando que os seres se modificavam ao longo do tempo. Ou seja, os seres evoluíam, ao contrário da ideia fixista predominante na época. Na visão de Darwin, o ambiente influencia os seres vivos, as mudanças que neles ocorrem ao longo do tempo e a existência de relações de parentesco e descendência entre as espécies de seres vivos. Charles Darwin somente começou a considerar de forma mais séria a hipótese da evolução nos anos de 1938, aos 29 anos, sendo influenciado pelos estudos de Lamarck. Entretanto, logo seguiu uma abordagem bem distinta. Um exemplo desse distanciamento do Lamarkismo é o registro descrito na carta enviada em janeiro de 1844 para Joseph Dalton Hooker: Estou quase convencido (contrariamente à opinião da qual parti) de que as espécies não são (é como confessar um assassinato) imutáveis. O céu protegeu-me do absurdo de Lamarck de uma tendência à progressão […]. Mas as conclusões a que estou chegando não são muito diferentes das suas, embora os processos de mudança sejam inteiramente distintos. (Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 34, no 67, 2014, pp. 159-180) E, ao contrário do que se diz sobre a Análise do Comportamento, não há uma postura mecanicista – o antecedente (reflexo) produz o comportamento. A posição skinneriana busca uma explicação em um modelo darwiniano. O indivíduo se comporta, e esse comportamento produz consequências. E essas consequências selecionam os comportamentos – fortalecendo-os ou enfraquecendo-os. Exemplificando: Voz de mando da mãe: “Vista seu casaco”. Descrição do comportamento do filho: ele está brincando, não está com frio e não quer vestir o casaco. Então, vestir o casaco no plano imediato não vai produzir para esse indivíduo uma consequência que ele consideraria reforçadora. Nessa hora, a mãe do nosso exemplo utiliza-se da força – sendo mais coercitiva ou não –, mas o fato é que ela vai pegar o casaco e colocar em seu filho. É um exemplo bastante comum e que deve ser analisado, pois é uma relação de violência, de imposição. Claro que, na visão da mãe, o instinto de proteção em relação à saúde de seu filho falará mais alto – assim, essa mãe não verá sua atitude como invasiva. Mas a questão é: para que nossos problemas sejam trabalhados, devemos investir na compreensão de como se faz qualquer comportamento acontecer sem o uso da força. ___________________ Todo o arcabouço da Análise do Comportamento Aplicada nos ajuda a compreender de uma forma menos simplista. E acreditamos que esse é um engano que, muitas vezes, ocorre por meio de um contatoparcial com a ABA, que suscita a impressão inadequada de que a Análise do Comportamento seja simplista, mecanicista e robotizante – sinônimos comumente empregados acerca da ABA. Desse modo, a partir do momento em que compreendemos de forma assertiva a concepção e o olhar do behaviorista para o comportamento humano, entendemos que não há nada – em absoluto – de simplista. A análise de contingências é um raciocínio abrangente que observa o comportamento humano como uma resposta a diversas variáveis e aspectos. Leiam o texto “Evolucionismo darwinista? Contribuições de Alfred Russel Wallace à Teoria da Evolução”. <http://www.scielo.br/pdf/rbh/v34n67/a08v34n67.pdf>. ___________________ A Análise do Comportamento se identifica com a visão de Darwin. Ou seja, os comportamentos existem em qualquer indivíduo – inclusive nos indivíduos infra- humanos (animais) –, pois existe uma função. Às vezes, não se consegue determinar essa função em uma vida, quer dizer, em uma determinada geração. Entretanto, por algum motivo, há milhares de anos, para nossos antepassados que viviam em cavernas, esse comportamento foi importante. Por exemplo, o comportamento de fuga, taquicardia, dilatação dos vasos sanguíneos, estado de alerta, dilatação da pupila, tudo isso é comportamento. Mas é um tipo de comportamento que não é aprendido após o nascimento. Ao contrário, já nascemos com ele. Mas, em algum momento, eles foram selecionados e determinados. Pesquisa básica O local onde se realiza a pesquisa dos conceitos e onde se testa a hipótese: o laboratório. Geralmente com ratos, pombos, cachorros – indivíduos infra-humanos. Ou seja, no laboratório: » testam-se conceitos; » descobrem-se conceitos. Muitos conceitos da Análise do Comportamento foram descobertos quase – ou totalmente – por acaso, a partir de testagens, retestagens e mais retestagens. [início sugestão de estudo complementar] Assistam ao vídeo: Skinner – Modelagem (legendado). <https://www.youtube.com/watch?v=cFoDe9KoK74>. ___________________ Pesquisa aplicada – ABA ABA representa a parte aplicada de todo o conhecimento adquirido. Lembrem-se do nosso primeiro fluxograma com as 4 etapas: 1. conceito; 2. pesquisa básica; 3. pesquisa aplicada = ABA; 4. relevância. Então, para nós interessa o uso dos princípios e processos básicos em situações socialmente relevantes – em nosso caso, o autismo. Ou seja, é um comportamento- problema socialmente relevante. É interessante descobrir a forma de como trabalhar os comportamentos inadequados da pessoa com autismo, o que representa que a análise do comportamento assertiva se inicia com o planejamento da intervenção adequada, sempre individualizada. Esse aspecto do ABA é interessante para o professor, para a mãe e para os profissionais que atendem à demanda da pessoa com TEA. Vemos também uma grande relevância para o Governo na condição provedor da saúde. O ABA é uma pesquisa dirigida a problema relevante, geralmente um comportamento- problema, em que o profissional analisa e interpreta esses comportamentos para planejar e intervir de modo a ensinar comportamentos aceitáveis e extinguir os inadequados. Prestação de serviço É o que uma clínica multidisciplinar faz, por exemplo. Ou seja, há o conhecimento de técnicas e do procedimento que já foram testados na Pesquisa Básica (1) e na Pesquisa Aplicada – ABA (3) e que servem para lidar com a demanda do autismo. E o prestador de serviços oferece ao mercado sua Especialização – quer seja por meio de atendimento a pessoa com autismo, quer seja por meio do atendimento aos pais, pela qualificação de AT’s (acompanhantes terapêuticos), intervenção comportamental, intervenção a distância, inclusão escolar, entre inúmeras possibilidades. Ao apresentarmos o fluxograma, queremos sinalizar que é um passo a passo integrado, e que nenhum dos passos caminha sem o outro. E a Análise do Comportamento Aplicada ou ABA pode ser aplicada em qualquer ambiente que demande uma mudança comportamental, tais como: » esportes; » hospitais; » clínicas; » escolas; » cooperativas; » empresas. Ou seja, devemos ressaltar que ABA não é uma ciência exclusiva para o autismo. Ela é um serviço, um modelo, com seus conceitos e técnicas passíveis de serem utilizadas na relação de contextos supracitados. Enfim, ABA tem sido muito associada ao autismo por inúmeras razões que apresentaremos ao longo da Especialização. Entretanto queremos deixar claro que a Análise do Comportamento Aplicada não é destinada apenas a indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo – TEA. As questões serão aprendidas e utilizadas com pacientes e aprendentes neurotípicos e independentemente da idade. Neste momento, pode surgir a questão: por que quando ouvimos ABA pensamos em atuação com autismo? Vamos compreender melhor essa associação ABA e Autismo? Cronologia: » Década de 30: Análise Experimental do Comportamento » Década de 40 e meados de 50: estudos de casos clínicos. » Fim da década de 50 e Década de 60: aplicação de princípios da aprendizagem focando o tratamento clínico. » Década de 70: Lovaas criou um centro de pesquisas aplicadas ABA para autismo, na Califórnia. ___________________ Desde que a Análise do Comportamento nasceu, por volta dos anos de 1930, ela foi se aproximando dessa área. Na década de 30, Skinner ainda trabalha – e muito – com a Análise Experimental do Comportamento em laboratório com indivíduos infra- humanos. Fazia testagens e escrevia artigos e livros, mas ainda não tinha uma aplicação prática para suas pesquisas. A partir dos anos de 1940 e 1950, seguidores de Skinner, como Lindsley e Bijou, começaram a se inserir em lugares que não despertaram interesse de outros psicólogos, como prisões e hospitais psiquiátricos. Dentro desse contexto, não havia uma preocupação com a assistência à demanda dos que ali estavam confinados. Desse modo, qualquer profissional que se aproximasse seria bem vindo – ou até visto com indiferença. Assim, iniciou-se o trabalho. Com a aplicação de técnicas, errando e acertando, fazendo ajustes e prosseguindo. Nessa época, o autismo era reconhecido e categorizado como retardo mental ou RM, e não havia toda a atual classificação diagnóstica extremamente refinada distinguida de outros diagnósticos. O panorama era bem diferente. Então, crianças, adolescentes e adultos autistas nos anos 40 e 50 provavelmente estavam internados nos hospitais psiquiátricos. Em meados dos anos de 1950 – mais precisamente em 1957 –, um analista do comportamento chamado Fester, de origem americana, começou a aplicar esses procedimentos apenas em crianças autistas em um centro de atendimento, definindo a intervenção sobre o autismo de forma comportamental. Em 1968, a partir das pesquisas de Baer, Wolf e Risley, a ABA é considerada uma área de pesquisa com parâmetros definidos. A partir de Lovaas, já estava estabelecida a relação entre autismo e a Análise do Comportamento Aplicada, tanto que atualmente, nos Estados Unidos, a Análise do Comportamento é o único tratamento ou intervenção financiado pelo Governo Americano – saúde pública. Então, nos EUA, se os pais têm um filho com TEA, existe um serviço público com muita qualidade baseado em ABA. Isso ocorre nos Estados Unidos pela comprovação científica da abordagem e sua eficácia. Práticas que são baseadas em evidências. No Brasil, ainda não contamos com um serviço de saúde pública direcionado à utilização da ABA em Centros de Atenção Psicossocial – CAPS. As iniciativas do setor de saúde pública nesse sentido ainda se encontram distantes de nossa realidade. E aqui podemos abrir um espaço para a eficácia da Terapia Analítico-Comportamental como uma das principais formas de psicoterapia utilizada para o enfrentamento de comportamentos-problemas. Com forte referência experimentale embasada no Behaviorismo Radical, tem sua práxis voltada para os princípios da aprendizagem. As análises e técnicas utilizadas por terapeutas dessa abordagem baseiam-se no modelo explicativo da seleção pelas consequências e na análise de contingências na condição de ferramenta interpretativa. Para que uma pesquisa seja classificada como ABA, há parâmetros a serem seguidos: » comportamental: o objeto de estudo tem que ser um comportamento – quer seja um comportamento privado (sentimentos, pensamentos) ou público (uma ação que é observada – ou seja a pessoa realizando o ato no ambiente); » deve ser analítica. Precisamos demonstrar que o que você fez foi responsável pela mudança que você queria, então é preciso demonstrar por meio dos registros e dados de linha de base (comparação posterior à intervenção) que foi a sua intervenção que provocou aqueles resultados; » tem que ser aplicada. Então, o comportamento que você selecionou para mudar ou para analisar tem que ser socialmente relevante (dentro dos quatro domínios citados no fluxograma – “ser socialmente relevante”. Autismo, obesidade, falta de habilidades sociais... Enfim, os comportamentos mais diversos; » deve ser eficaz, então a mudança que você provocar naquele comportamento tem que ser útil; Exemplificando: Você está treinando habilidade social com algum paciente seu. Ele não falava com ninguém quando entrava em um comércio. Agora ela já consegue falar com uma pessoa a cada dois locais (comércio, praças etc.) onde vai. Esse foi o resultado da sua pesquisa? Então não foi um resultado eficaz. Pois a mudança promovida foi mínima no comportamento desse indivíduo. Às vezes, fazemos uma intervenção para contato visual e, ao final de uma semana, nosso paciente olha sete vezes (uma vez por dia) quando está motivado por algo do interesse dele. Ou seja, não é quando o terapeuta chama. Questionamento: esse resultado é relevante? Não! Porque o que nos interessa ao treinar o contato visual é: ao chamar o paciente/atendido/aprendente pelo nome, que ele olhe imediatamente para quem o chamou, independentemente do que esteja fazendo. Como vimos acima, não foi isso que ocorreu. ___________________ Retornando às características da pesquisa em ABA: » ela deve ser tecnológica, ou seja, você tem que descrever muito bem o que você fez a ponto de outra pessoa consiga replicar. Por exemplo, em uma determinada clínica, para cada atendimento realizado pelas acompanhantes terapêuticas (AT’s), há uma pauta que deve ser preenchida, com todo o detalhamento do procedimento para que outro profissional possa compreender os passos que foram dados e acompanhar o processo; » deve conter um aspecto generalizável. Segue o exemplo do treino de contato visual. O paciente está ótimo no contato visual comigo, mas com outra terapeuta, com a mãe, com o pai, com a professora não apresentou qualquer mudança. Permanece sem olhar ao ser chamado pelo nome. Vejamos, foi produzido um resultado eficaz, uma mudança significativa, entretanto esse indivíduo não está generalizando essa habilidade – que se mantém restrita à minha pessoa, à minha presença em sala, só olha para mim. Esse resultado não é interessante para o terapeuta. Exatamente por isso temos AT (acompanhante terapêutico) na escola, na casa do paciente. Pois ABA não se realiza uma vez por semana em uma sessão de uma hora. Não será dessa forma que o comportamento vai mudar. Pelo contrário, o comportamento só muda com a multiplicação de horas e com várias pessoas aplicando os procedimentos nos diversos locais onde a pessoa com autismo frequenta. Podemos citar alguns: escola, casa, casa da tia, as férias na casa da avó materna, o shopping, o clube, as aulas de ginástica olímpica... Parâmetros da pesquisa aplicada (BAER, WOLF; RISLEY, 1968) Figura 4. Fonte: acervo pessoal. Figura 5. Fonte: acervo pessoal. Pesquisa Aplicada (ABA) GENERALIZÁVEL CONCEITUAL TECNOLÓGICA EFICAZAPLICADA ANALÍTICA COMPORTAMENTAL •O comportamento é o objeto de estudo. Sua análise requer uma mensuração precisa. COMPORTAMENTO •Demonstrar que os procedimentos de intervenção foram responsáveis pela mudança no comportamento. ANALÍTICA •O comportamento estudado é importante para a sociedade e para o indivíduo. APLICADA •A mudança comportamental atingida com a intervenção é significativa. EFICAZ •Emissão do comportamento na presença de outras pessoas e em outros ambientes.GENERALIZÁVEL •As técnicas utilizadas no estudo devem ser baseadas nos princípios básicos da Análise do Comportamento.CONCEITUAL •Procedimentos utilizados são precisamente descritos, a ponto de poderem ser reproduzidos por outro pesquisador. TECNOLÓGICA Além desses parâmetros (BAER, WOLF; RISLEY, 1968), quem faz ABA com autismo planeja uma intervenção: 1. intensiva: 40 horas semanais (LOVAAS, 1987): somente é possível com treino de paraprofissionais e pais como aplicadores; 2. individualizada: cada criança segue um Currículo de Ensino individualizado, com registros individuais monitorando cada avanço; Sabemos, pois, que a Análise do Comportamento aplicada é uma abordagem psicológica que tem por objetivo principal compreender o indivíduo por meio de sua interação com o ambiente (condicionamento pavloviano, contingências de reforço e punição, esquemas de reforçamento, o papel do contexto, entre outros tipos de interação). É fundamental ressaltar que o conceito de ambiente no escopo da Análise do Comportamento ultrapassa o significado comum. Para a Análise do Comportamento, o termo ambiente está relacionado ao mundo físico (coisas e objetos materiais), mundo social (relações interpessoais), a história de vida de cada indivíduo e o autoconhecimento (interação conosco) – essa é a concepção de ambiente para a Análise do Comportamento. Ou seja, para os analistas do comportamento, o importante é identificar a qualidade e forma de interação do sujeito com seus ambientes, com aquilo que se encontra ao seu redor, por meio dos conceitos de condicionamento operante, discriminação de estímulos, esquemas de reforçamento etc., para, assim, buscar prever (identificar em qual circunstância um determinado comportamento/ação ocorrerá com maior probabilidade) e, dessa forma, controlar o comportamento. A ideia em ABA é: as consequências que um comportamento específico produziu no passado selecionaram esses comportamentos, assim interferindo e influenciando sua ocorrência ou extinção. Nesse caso, alteramos as consequências do comportamento no tempo presente, alterando provavelmente o comportamento – ou seja, controle de comportamento. Para facilitar o entendimento desse procedimento, vamos analisar um exemplo de previsão comportamental – por meio do conhecimento do histórico de vida pregressa do indivíduo, ou seja, sua história de interação com seu ambiente. ___________________ O exemplo se baseia em fatos do contexto escolar. Dois irmãos gêmeos, 4 anos de idade, chamados Gabriel e Pedro Lucas, estudam no pré-escolar, idade que representa uma fase de grande importância no desenvolvimento infantil. E a palavra desenvolvimento se refere a algo fechado que vai se abrir, ampliar, expandir. Basicamente, no contexto escolar, estamos falando do desenvolvimento de capacidade intelectiva e habilidades acadêmicas. Entretanto, a criança, no percurso das fases do desenvolvimento, vai galgando etapas de reconhecimento das diferenças entre os indivíduos. O ingresso na escola traz uma série de interações: ambiente físico, tomada de decisões, relações interpessoais, aceitação pelo grupo. Paralelamente a essas questões, temos uma carga derivada da condição biológica, psicológica e da família nuclear. No caso desses dois irmãos, suas personalidades ainda se encontram muito ligadas, muito similares. Tanto Gabriel como Pedro Lucas são crianças extrovertidas e comfacilidade de comunicação. Vamos ver os fatos vivenciados por essas duas crianças ao longo de seu percurso escolar? Acompanhem pela sequência apresentada abaixo: Quadro 1. Nome Situação (Sᴬ) Comportamento (R) Situação (S ͨ) Gabriel A professora pede que Gabriel mostre o desenho que fez em casa. A tarefa era desenhar uma árvore. Gabriel se levanta e mostra para a professora e os colegas de classe seu desenho. A professora diz que o desenho não ficou bonito. Todos os alunos começam a rir de Gabriel. Pedro Lucas A professora pede que Pedro Lucas mostre o desenho que fez em casa. A tarefa era desenhar uma árvore. Pedro Lucas se levanta e mostra para a professora e os colegas de classe seu desenho. A professora faz vários elogios ao desenho. E todos os colegas falam frases como: “ficou show”; “parabéns”, “muito bonito”. Primeiro Ano do Ensino Fundamental Gabriel A professora solicita que Gabriel leia o trecho de um poema. Nesse dia, Gabriel esquece os óculos de grau, lê e comete vários erros em sua leitura. A professora o repreende e os colegas de classe começam a debochar dele. Pedro Lucas A professora solicita que Pedro Lucas leia um o trecho de um poema. Pedro Lucas lê corretamente. A professora o elogia. Correção de um Exercício de História no 6o ano do Ensino Fundamental Gabriel A professora diz “leia sua resposta”. Gabriel passou mal no dia anterior e responde: “não conseguir fazer, pois...”. A professora interrompe sua fala e lhe dá nota zero. Pedro Lucas A professora diz “leia sua resposta”. Pedro Lucas responde corretamente. A professora faz vários elogios e diz que gostaria de ter mais alunos como ele. Os colegas vão falar com ele no recreio e dizem que sua resposta foi muito boa. Situações similares às apresentadas ocorreram também no Ensino Médio 1o semestre Faculdade na Graduação em Direito Gabriel A professora informa: “amanhã teremos a apresentação oral do trabalho sobre Ciência Política”. Pedro Lucas A professora informa: “amanhã teremos a apresentação oral do trabalho sobre Ciência Política”. Desenvolvida com base em Moreira & Medeiros, 2007. Após essa apresentação de histórico escolar, temos a entrada na Faculdade, onde ambos os irmãos optaram pela Graduação em Direito. Mediante todos os eventos que foram apresentados, podemos considerar que dois comportamentos distintos tenham sido emitidos. Concordam? Então, quais seriam esses comportamentos? O primeiro fazer a apresentação oral sobre o trabalho de Ciência Política. O segundo faltar à aula, não apresentar o trabalho e dar uma desculpa para sua ausência. Qual dos dois irmãos teria emitido o segundo comportamento? ( ) Gabriel ( ) Pedro Lucas Utilizamos um exemplo simples e bem objetivo. Prever um comportamento por meio de uma análise funcional é exatamente isso. Todas as informações passadas a vocês levam à conclusão de que Gabriel logicamente inventaria uma desculpa para não apresentar o trabalho oral. Mas seria possível que o irmão a faltar e inventar uma desculpa pudesse ser Pedro Lucas? Sim, é possível. Isso invalidaria a análise? Não, de forma alguma, mas apontaria que a análise foi incompleta. Vamos chegar a uma conclusão com base no conhecimento das situações em que ocorreu a apresentação oral de um trabalho e quais foram as consequências desse comportamento nas situações passadas. Assim chegamos a conclusões como a de que Gabriel é o irmão que inventará uma desculpa para não fazer a sua apresentação oral do trabalho sobre Ciência Política em função das consequências desse comportamento no passado. Por isso, podemos dizer que, em decorrência de interações passadas, os comportamentos atuais são controlados: por meio de estímulos antecedentes (situações) e por estímulos consequentes (ou consequências). Quando temos a percepção de um comportamento reflexo, fazemos uma relação com agilidade. Por exemplo: “o goleiro tem um ótimo reflexo” – ou seja, impediu o gol do time adversário. Essa verbalização do senso comum faz alusão ao termo reflexo, e podemos dizer que se reconhece a sua importância. Entretanto, o termo reflexo, na Psicologia, tem outro significado. O modelo de serviço ABA envolve Figura 6. Fonte: acervo pessoal. Quem faz Pesquisa Aplicada = ABA = Pesquisador analista do comportamento. Quem aplica os Procedimentos de Ensino = profissionais e pais que aprendem a tecnologia derivada da ABA. O treino em Análise do Comportamento Aplicada – ABA, voltado para pais, paraprofissionais, estagiários, mediadores, professores do ensino fundamental, tem sido o foco de inúmeros manuais que foram lançados, desde Lovaas (1981). Estudos sugerem que treinar pais é eficiente tanto para os pais aplicarem corretamente os procedimentos quanto para garantir a mudança dos comportamentos das crianças. O treino de pais é eficaz por meio de aulas expositivas, modelos dados pelos terapeutas, role play, vídeo modeling – obviamente com os pais/responsáveis recebendo feedbacks dos terapeutas. Analista do Comportamento Profissional pós-graduado em ABA (Pesquisador) AT – Acompanhante Terapêutico Aplicador (para-profissional, pais, professor) TECNÓLOGO = aplica técnicas - faz a prestação de serviço Pessoa com TEA Transtorno do Espectro Autista An Evaluation of Using Behavioral Skills Training to Increase Instructional Pacing in the Implementation of Discrete Trial Training <https://repository.stcloudstate.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://www.google.com.br /&httpsredir=1&article=1019&context=cpcf_etds>. Applied Behavior Analysis Techniques: Discrete Trial Training & Natural Environment Training <https://opensiuc.lib.siu.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://www.google.com.br/&https redir=1&article=1239&context=gs_rp>. Sobre a Observação enquanto Procedimento Metodológico na Análise do Comportamento: Positivismo Lógico, Operacionismo e Behaviorismo Radical <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a05v25n2>. O PAPEL DO PROFESSOR NA PROPOSTA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO <http://e-revista.unioeste.br/index.php/fazciencia/article/viewFile/10917/9694>. ___________________ Por que a Análise do Comportamento Aplicada é tão eficaz em relação ao autismo? De acordo com programas de intervenção baseados na Análise Comportamento Aplicada (ABA), são considerados, na atualidade, como uma intervenção baseada em evidências para o TEA (National Research Council, 2001; Simpson, 2005; National Standard Project, 2009; Klintwall et al., 2011; Mohammadzaheri et al. 2014). A eficácia no uso de ABA depende fundamentalmente de: 1. características da criança; 2. intensidade do treinamento que elas recebem (30h/semana – 20h com aplicador e 10h com os pais), de o treinador ser bem treinado e seguir o protocolo (KLINTWALL et al. 2011). A Análise do Comportamento Aplicada utiliza-se do princípio de que o COMPORTAMENTO é uma RELAÇÃO entre AMBIENTE e ORGANISMO. Figura 7. Fonte: acervo pessoal. Assim, é tudo aquilo que vocês podem imaginar em relação a ambiente interno e externo. Para a Análise do Comportamento, o ambiente não são as árvores e os pássaros voando. Ambiente, para ABA, é o mundo de fora inteiro e o mundo de dentro inteiro. Então as sensações corporais são um exemplo de mundo, de ambiente. Só que um é privado, e o outro é público. E os organismos são aqueles que se comportam; seres humanos, animais, as bactérias etc. Então, quando pensamos no ambiente, podemos pensar nas coisas como estímulos, e para todo estímulo existe uma resposta. O que são respostas? São coisas que fazemos, como andar, acenar, falar... Ou seja, as respostas são ações. Coisas que podemos ver acontecendo ou não – como um pensamento. Um pensamento é uma resposta. Pensar em passar todo o conteúdo de um determinado tema durante uma palestra é uma resposta que apresentacomo estímulo olhar para o relógio e ver que tenho 15 minutos para passar uma quantidade expressiva de informações. Entendendo que olhar não é um estímulo, mas uma outra resposta, porém o relógio, com a disposição dos ponteiros, é um estímulo – que me faz pensar se terei tempo para finalizar a palestra com todo conteúdo em 15 minutos. ___________________ Com o domínio em ABA, é possível direcionar um AT (acompanhante terapêutico) na aplicabilidade da análise do Comportamento para trabalhar com pessoas com TEA. Vamos falar sobre dois alvos fundamentais em ABA: manejos disruptivos e ensino de AMBIENTE ORGANISMO habilidades nas áreas mais diversas (AVD, repertório de brincar, comunicação, pré- requisitos). O importante é se especializar, mas estar sempre se atualizando em Congressos, Simpósios, associar-se à Associação de Psicologia Comportamental, estar em contato com outros profissionais, fomentar projetos de qualificação em ABA em escolas, centros de atendimento a pessoas com TEA, realizar o treino de pais. Pessoas com maior experiência na área e um currículo mais extenso também trazem benefícios. Quanto mais conhecimento acerca da análise do comportamento melhor será o desempenho de sua atuação profissional. Análise funcional do comportamento Pode ser descrita como a busca pelos determinantes da ocorrência da ação/comportamento. Assim, existem dois pontos essenciais em uma análise funcional do comportamento: os paradigmas. E estes são: 1. respondente; 2. operante. Pelo prisma do behaviorismo, esses determinantes ocorrem na interação do organismo com o meio ambiente. Desse modo, Skinner define que há três níveis de causalidade do comportamento que – em maior ou menor proporção – estão sempre agindo em confluência no acontecimento ou não de uma resposta de um comportamento. Os 3 níveis são: » Filogênese – relacionada à evolução da espécie. Ou seja, a nossa interação com o meio provém da evolução de nossa espécie. Exemplo: o comportamento de fuga – no passado, quando nossos ancestrais viviam em cavernas, ao ouvir o ruído de animal, esse era o antecedente para que todos fugissem e assim pudessem se salvar. Assim, esse comportamento foi selecionado, pois apresentou uma consequência positiva para o sujeito. Ao fugir, ele salvou sua vida. Aqueles que não fugiam, tornavam-se presas dos animais, que os atacavam. Provavelmente, os filhos dos que fugiram – homens e mulheres (que, por sinal, têm uma audição mais apurada) – nasciam, desenvolviam-se e se reproduziam, e a característica do comportamento de fuga foi os acompanhando ao longo de milhares de anos. O exemplo do rugido de um animal continua sendo relevante em ambientes onde há animais selvagens. Por isso, vamos trabalhar com um exemplo pertinente ao nosso contexto – nos centros urbanos, grandes capitais, lugares com elevado fluxo de pessoas (hipóteses em que você pode substituir por outras, de acordo com o contexto). O exemplo é meramente ilustrativo. Vejamos: ... quando escutarmos um barulho repentino – o som de um tiro – temos um comportamento de sudorese, estado de alerta, taquicardia, dilatação das pupilas e dos vasos sanguíneos, e o fluxo sanguíneo se concentra nos membros inferiores para que possamos correr o mais rápido possível. Ou seja, esse comportamento terá uma função reforçadora. E aqui podemos abrir espaço para falar da tríplice contingência: antecedente, resposta e consequência. Temos que olhar para o que antecede a resposta e para a consequência. Entretanto, no comportamento reflexo, a consequência não importa muito – pois já nascemos com ele, sendo um produto da espécie, e não da vida de um sujeito A ou B. Comportamento reflexo/respondente Figura 8. Situação antecedente Situação consequente Fonte: acervo pessoal. » Ontogênese individual – esse nível da análise funcional interpreta a modificação de um comportamento pela interação direta com o ambiente ao longo da história de vida. RESPOSTA Situação na qual as respostas acontecem Situação que passa a existir após o responder No exemplo dos dois irmãos, Gabriel e Pedro Lucas, vemos que há relação direta com a aprendizagem com base em experiências individuais com o ambiente. Na visão de Skinner, a Psicologia deveria dedicar-se mais à ontogênese individual, visto que são os determinantes do comportamento mais alusivos à subjetividade/individualidade. No comportamento reflexo ou respondente (sinônimos), não importa a consequência, pois o comportamento é produto de uma determinação que pode ocorrer ao longo da evolução das espécies ou da vida de um organismo. O comportamento reflexo é produto do nível de determinação filogenética. Vídeo sobre os reflexos primitivos apresentados em bebês de 0 a 12 meses – Comportamento Respondente Link: <https://www.youtube.com/watch?v=ysCl8Pp4nbg>. Quais reflexos primitivos podem ser identificados neste vídeo? E qual ou quais já não apresentam uma relevância para nossa espécie? ___________________ Comportamento operante Figura 9. Situação antecedente Situação consequente Fonte: acervo pessoal. RESPOSTA Situação na qual as respostas acontecem Situação que passa a existir após o responder Assim, o comportamento operante será muito citado ao longo de nosso curso, pois é o comportamento aprendido ao longo de uma vida e no qual importa tanto a situação antecedente como a situação consequente. No comportamento reflexo, um determinado estímulo elicia uma reposta. Eliciar significa que é em 100% das vezes. Vamos observar: Figura 10. Comportamento Reflexo/Respondente Ou seja: Comportamento Reflexo/Respondente Comportamento Reflexo/Respondente Comportamento S (Estímulo) ELICIA R (Resposta) Alimento ELICIA Salivação Um cisco cai no olho ELICIA Piscar Reflexo/Respondente Fonte: acervo pessoal. São comportamentos que acontecem e chamamos de 100% verdadeiros. Pois, em um organismo saudável, S-R (estímulo-resposta) será sempre uma relação 100% verdadeira. Isso pode não ocorrer quando o organismo apresentar alguma adversidade, falha ou imperfeição – exemplos: alteração sensorial, questão cognitiva prejudicada, alterada ou afetada. Figura 11. Comportamento Reflexo Condicionado Fonte: acervo pessoal. Como observamos até o momento, o comportamento é a relação entre estímulos e respostas. Poeira entrar no nariz ELICIA Espirrar Comida Elicia Salivação PAREADO = JUNTO SOM Figura 12. Fonte: acervo pessoal. Lembram-se do exemplo da palestra? Vamos retornar a ele. Pensar em passar todo o conteúdo de um determinado tema durante uma palestra é uma resposta que apresenta como estímulo olhar para o relógio e ver que tenho 15 minutos para passar uma quantidade expressiva de informações. Entendendo que olhar não é um estímulo, mas outra resposta, porém o relógio com a disposição dos ponteiros é um estímulo – que me faz pensar se terei tempo para finalizar a palestra com todo conteúdo em 15 minutos. ___________________ Figura 13. AMBIENTE = ESTÍMULOS Estímulos antecedentes Estímulos consequentes Fonte: acervo pessoal. O relógio é o estímulo antecedente que faz a pessoa pensar se ela vai conseguir expor todo o conteúdo no tempo restante ou não. Diante dos ponteiros do relógio provém o pensamento de “talvez eu não vá conseguir”, e começa a sudorese. ESTÍMULOS RESPOSTAS RESPOSTA Situação na qual as respostas acontecem Situação que passa a existir após o responder. Se tivesse feito menos slides, poderia ter administrado melhor o conteúdo a ser passado. Assim, não haveria necessidade de checar os ponteiros do relógio, a resposta de pensar se daria tempo ou não nem teria sido evocada, e não teria vindo a sudorese. Por outro lado, o mesmo antecedente pode evocar a mesma resposta, mas ter a consequências diferentes. 1. As pessoas poderiamfalar que a palestra não foi boa, pois havia excesso de slides para uma palestra de 50 minutos. Sendo assim, a palestra não foi boa, pois o tempo não foi bem administrado pela palestrante. Isso já funciona como outro antecedente para que a palestrante se sinta mal. 2. Mas pode haver uma situação em que as pessoas são compreensivas – a consequência pode ser o acolhimento das pessoas que gostaram do conteúdo que foi apresentado e, inclusive, pontuaram que o tema requer mais tempo. “Na próxima vez virei para lhe assistir e tenho certeza de que os organizadores do evento vão liberar mais tempo, pois seu tema é muito importante”. Há um incentivo (hipótese). E, em uma situação futura, mediante essas duas histórias de consequência de reforço, qual será a reação da palestrante? Em uma situação eu fui punida. A hipótese aqui não conta. Mediante isso, que pensamento vai me evocar? Eu pensarei algo parecido ou diferente? Uma vez que fui punida, vou pensar que a punição ocorrerá novamente. Mas, se não ocorreu uma punição, a pessoa não vai pensar nessa possibilidade. Isso demonstra que tanto o momento antecedente como o consequente são variáveis que devem ser observadas quando uma resposta acontece. Com o intuito de trabalhar a análise de comportamentos-problemas para serem utilizados ao longo das disciplinas do curso, propomos que assistam ao filme: Helen Keller e o Milagre de Anne Sullivan - The Miracle Worker (2000, Legendado). Link: <https://www.youtube.com/watch?v=_SsPD8-b3XQ>. Faça anotações no decorrer do filme para identificar os comportamentos-problema, observando a relação entre estímulos e respostas, os estímulos antecedentes e consequentes, o comportamento operante... E trace a análise comportamental. Vamos trabalhar com esse material nesta disciplina e nas subsequentes para que se familiarizem com a observação, análise e planejamento da intervenção. Aliás, ver filmes e analisar comportamentos e sua relação com estímulos e respostas é um excelente exercício. ___________________ » Ontogênese social – o comportamento variando de acordo comas variáveis grupais. Ou seja, é o contexto social no qual estamos inseridos e as mensagens pertinentes à cultura transmitida por esse grupo. Então, temos costumes, alimentação, moda, valores, preconceitos, entre outros. Finalmente, chegamos à grande contribuição de Skinner – talvez a mais valorizada por ele próprio. Figura 14. Comportamento Operante Exemplo de uma contingência Fonte: acervo pessoal. A apresentação acima apresenta o modelo de S-R-S: Estímulo antecedente – Resposta – Estímulo consequente. Há um ambiente (uma situação antecedente que evoca), ou seja, que provoca uma resposta. Essa resposta produz uma consequência. Essa consequência, por sua vez, Evoca RESPOSTA Produz S = antecedente S = consequência Retroage afeta esse organismo, que se comporta e de alguma forma também exerce um efeito sobre o estímulo antecedente. Exemplificando: Uma criança pequena, em meio a suas descobertas sobre o mundo que a cerca, na frente da mãe (estímulo antecedente). Uma vez e ao acaso, essa criança teve uma birra: se jogou no chão, gritou, mordeu... A reposta que essa criança teve como consequência foi ganhar o que queria. Outro exemplo, uma menina de 6 anos vai ao segundo atendimento com sua psicóloga e tem uma birra (não foi uma disruptura – vamos deixar essa diferenciação ao longo do curso). Mas pessoas com autismo fazem birra sim. Voltando à paciente, ela queria bater a cabeça contra a parede e precisou ser contida para evitar lesões. Um abraço em uma criança nessa faixa etária é positivo. O fato é que, após ter o foco retirado do comportamento autolesivo, a menina retirou toda a roupa e urinou no consultório. Esse exemplo deve ser analisado por vocês. A mãe foi chamada e sua reação foi pegar a filha no colo e lhe dar um beijo. Pegar no colo e dar um beijo reforçou a resposta de tirar a roupa e urinar no chão. Se parece o pai, a mesma resposta pode não ter a mesma consequência. Esses exemplos acontecem cotidianamente no setting terapêutico. A birra inicia na presença de algumas mães, não ocorre na presença do pai, da avó... Vejamos: a mãe terá uma relação de afeto, uma vinculação que não nos cabe julgar. Entretanto, precisamos ser precisos em nossas afirmações. Como ela ajudou essa criança com autismo a extinguir esse comportamento? Ela simplesmente não ajudou. O que fez foi reforçar um comportamento inadequado e que coloca a criança em uma situação de vulnerabilidade mediante a possível situação de molestação/abuso sexual. Pois a mãe, naquele exato momento, informa que a filha tem esse comportamento em qualquer lugar – e na frente de qualquer pessoa. Nesses dois exemplos a mãe assumiu uma postura discriminativa – ou seja, ela é como um sinal. Quando a mãe aparece, indica que as birras e comportamentos inadequados vão dar aquilo que a criança quer. Esse não é um processo consciente, não há planejamento – todos funcionamos com base nesse modelo. Nós nos comportamos, assim nossos comportamentos apresentam uma função que tem efeitos no mundo – como benéficos. Quando produzimos uma consequência que não é interessante para nós – não gera benefícios –, extinguimos o comportamento que a produziu. Exemplos: » enfiar o dedo na tomada e levar um choque; » abrir uma lata com uma faca e fura a mão; » esses comportamentos não evocarão mais a mesma resposta, pois serão abandonados. Temos que investigar o comportamento operante, ou seja: 1. aprender a olhar para Estímulos Antecedentes; 2. aprender a olhar para Respostas; 3. aprender a olhar para Estímulos Consequentes. Ou seja, devem ser verificados todos os estímulos que estão presentes na ocasião em que a resposta ocorre. Figura 15. Fonte: acervo pessoal. Estímulos Discriminativos (Sd): estímulo que, no passado, antecedeu uma resposta que foi reforçada. Então, esse estímulo passa a sinalizar que a resposta será reforçada se ocorrer novamente. Operações Estabelecedoras: Operações do ambiente que alteram o valor do reforço. (Ex: Privação; Saciação; Estimulação aversiva). São situações antecedentes que alteram a efetividade de um reforçador. Figura 16. Olhar para as consequências... REFORÇAMENTO POSITIVO REFORÇAMENTO NEGATIVO Acréscimo de um estímulo positivo Eliminação ou prevenção de um estímulo aversivo Fonte: acervo pessoal. Tipos de reforçadores: » Reforçadores Primários ou Incondicionados: funcionam para toda a espécie, pois estão ligados à sobrevivência desta (Ex.: alimento, sexo). » Reforçadores Secundários ou Condicionados: adquirem função quando pareados com primários (Ex.: mamadeira, fala da mãe, brinquedos etc.). » Reforçadores Generalizados: emparelhado com muitos outros reforçadores secundários (Ex.: mãe, atenção, dinheiro). » Reforçadores Intrínsecos ou Naturais: consequências produzidas diretamente pela própria resposta (Ex.: Estudar → Aprender; Tomar banho → Ficar limpo). » Reforçadores Extrínsecos ou Arbitrários: consequências disponibilizadas artificialmente pelo ambiente social após uma resposta (Ex.: Estudar → Nota boa na prova; Tomar banho → Livrar-se da bronca dos pais). PUNIÇÃO POSITIVA PUNIÇÃO NEGATIVA Acréscimo de um estímulo aversivo Remoção de um estímulo positivo FREQUÊNCIA DA RESPOSTA SUPRESSÃO TEMPORÁRIA + Subprodutos indesejados Objetivos da Análise Comportamental na Intervenção com Autismo » Ensinar a comunidade (pais, médicos, professores) a olhar além da disfuncionalidade do desenvolvimento infantil, para a história de aprendizagem que não modelou repertórios adaptativos. » Analisar a história de aprendizagem considerando algumas causas passadas nos 3 níveis de determinação do comportamento: 1. filogênese; 2. ontogênese individual; 3. ontogênese sociocultural.› Manipular variáveis presentes no ambiente atual, de modo a modificar as determinações no nível ontogenético e cultural. › Manipular variáveis antecedentes: 1. Diferentes tipos de dicas. 2. Estímulos que evoquem a resposta esperada. 3. Motivação. 4. Entre outros... » Visando: 1. Facilitar o responder. 2. Instalar respostas novas. 3. Evocar comportamentos adequados. 4. Prevenir comportamentos inadequados. 5. Entre outros. Ainda sobre os pré-requisitos em ABA aplicado ao TEA, devemos levar em consideração que, para a intervenção ser bem sucedida, será necessário: » iniciar precocemente; » ser intensiva (40 horas de intervenção/por semana); » não se ater apenas ao consultório, mas em ambiente naturalístico do paciente; » ser generalizada, pois ninguém ficará por 8 horas com uma criança na intervenção em mesa. E a vida de nosso paciente com autismo não se resume a idas e vindas de consultórios. A generalização se refere a troca com os pais, professores, equipe. Aquilo que trabalhamos no setting terapêutico e o que será aplicado na vida da pessoa com autismo apresenta distinções. E ABA é eficaz. » Ser individualizada. » Ter objetivos e metas bem construídos. » Reavaliar esses objetivos e metas. » Monitorar constantemente o registro de desempenho. Ou seja, temos que pensar no planejamento, estruturação, registos, critérios e reforço positivo. Temos um verdadeiro Universo de Conhecimento a ser analisado. E há que se lembrar que a pessoa com autismo não chega até nós recortada. Ela é um indivíduo com suas complexidades. Muitas habilidades serão trabalhadas por todos. O paciente não é só nosso. Comportamento e causalidade Link: <https://www.pucsp.br/sites/default/files/download/posgraduacao/programas/psicologia- experimental/comportamento_causalidade_2009.pdf>. ___________________
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