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Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Cláudia Herrero Martins Menegassi Fabrício Ricardo Lazilha Nelson Tenório Rejane Sartori Volume 2 CONHECIMENTO E GESTÃO Volume 2 CONHECIMENTO E GESTÃO Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Cláudia Herrero Martins Menegassi Fabrício Ricardo Lazilha Nelson Tenório Rejane Sartori (Organizadores) C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; CAETANO, Camilla Barreto Rodrigues Cochia; MENEGASSI, Cláudia Herrero Martins; LAZILHA, Fabricio Ricardo; TENÓRIO, Nelson; SARTORI, Rejane. (org.) Conhecimento e Gestão. Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano; Claudia Herrero Martins Menegassi; Fabricio Ricardo Lazilha; Nelson Tenório; Rejane Sartori.(Org.). V. 2. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 232 p. Curso - EaD 1. Gestão. 2. Conhecimento. EaD. I.Título. CDD 22ª Ed. 658 NBR 12899 - AACR/2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza – CRB-8 - 6828 Organizadores Profa. Dra. Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Centro Universitário Cesumar – UniCesumar, Maringá – PR – Brasil Profa. Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Centro Universitário Cesumar – UniCesumar, Maringá – PR – Brasil Prof. Me. Fabrício Ricardo Lazilha Centro Universitário Cesumar – UniCesumar, Maringá – PR – Brasil Prof. Dr. Nelson Tenório Centro Universitário Cesumar – UniCesumar, Maringá – PR – Brasil Profa. Dra. Rejane Sartori Centro Universitário Cesumar – UniCesumar, Maringá – PR – Brasil Conselho Editorial Prof. Dr. Augusto Cesar Marins Machado Observatórios Sistema FIEP Prof. Dr. Carlos Francisco Bitencourt Jorge Faculdade Católica Paulista Profa. Dra. Danielly Oliveira Inomata Universidade Comunitária da Região de Chapecó Profa. Me. Denise Felix da Silva Universidade de Copenhague – Dinamarca Prof. Dr. Éder Rodrigo Gimenes Universidade Estadual de Maringá Prof. Dr. Júlio Ernesto Colla Universidade Estadual do Paraná Prof. Me. Lucas Henrique Xavier Centro Universitário Cesumar Prof. Dr. Luiz Tatto Centro Universitário Cesumar Prof. Me. Paulo Pardo Faculdade Católica Paulista Prof. Dr. Régio Marcio Toesca Gimenes Universidade Federal da Grande Dourados Prof. Dr. Sidarta Ruthes de Lima Faculdade Dom Bosco Equipe de Assessoria Técnica Profa. Me. Andréia dos Santos Gallo Profa. Me. Nayara Emi Shimada Profa. Me. Patrícia Parra Profa. Me. Yony Brugnolo Alves Capa Nelson Tenório Diagramação Santa Ilustra Revisão textual Produção de Materiais – UniCesumar A gestão se apresenta, no contexto acadêmico e organizacional, como um tema amplo, que pode ser compreendido sob diferentes perspectivas e analisado a partir de diversas lentes. A complexidade que envolve a forma de compreender a gestão, analisar seus impactos e resultados, é evidenciada no presente livro, que reúne um conjunto de capítulos que têm como foco central o Conhecimento e a Gestão. O objetivo do primeiro conjunto de capítulos, denominado “Negócios: novos modelos de gestão”, é abordar, de forma abrangente, temas relacionados à gestão sob diferentes enfoques. O primeiro trata da gestão da qualidade na construção civil; o segundo traz dois assuntos que são amplamente debatidos nos âmbitos acadêmico e empresarial, quais sejam, planejamento estratégico e gestão de projetos. O terceiro, quarto e quinto capítulos envolvem aspectos financeiros e econômicos da gestão de agronegócios e loteamentos, respectivamente. O sexto capítulo faz uma análise do modelo de franquias para o mercado imobiliário brasileiro. Em seguida, a área “Mobilidade: sistemas de gestão de trânsito” parte do entendimento de que as aplicações de gerenciamento de tráfego contribuem para tornar as cidades mais seguras, com mais acessibilidade e habitabilidade. Nesse sentido, os capítulos desse grupo temático apresentam uma reflexão a respeito do planejamento e da gestão de trânsito e operações de mobilidade urbana, bem como suas implicações na conjuntura urbana atual. O sétimo capítulo trata especificamente da cidade de São Paulo e o oitavo sobre acidentes nas rodovias, tendo como PREFÁCIO objeto um trecho paranaense. Considerando que a tecnologia vem revolucionando a ação dos profissionais de marketing e, em especial, fortalecendo a área de relacionamento com o consumidor, a área temática “Marketing, tecnologia e o relacionamento com o cliente” apresenta dois capítulos, sendo que o nono é mais conceitual e o décimo aborda a adoção das novas tecnologias para atendimento ao cliente no setor bancário e seus impactos no relacionamento e na fidelização. Sabemos que no mundo dos negócios a exigência é pela produtividade, de modo que as pessoas são avaliadas pelo desempenho e pelos resultados, exigindo cada vez mais de si mesmas e a gestão de pessoas atua no sentido de apoiá-las, proporcionando, entre outras coisas, o desenvolvimento de lideranças, a motivação de equipes e um clima organizacional positivo. É do tema “Gestão de pessoas na organização privada” que se trata o capítulo 11. A logística e sua relevância para as organizações, ainda que virtuais, é o tema tratado nos próximos dois capítulos. O décimo segundo aborda a logística aplicada ao comércio eletrônico, enfatizando as suas especificidades. O décimo terceiro debate como a logística reversa pode ser adotada por uma organização para reduzir impactos ambientais e gerar vantagem competitiva. Os capítulos 14 e 15 são agrupados na discussão sobre Direito e Estado. Teoricamente os conceitos de Estado e de Direito são discutidos em esferas diferentes: o Estado na qualidade de agente político formal e o Direito na sua concepção jurídico-legal. Porém, na prática, esses temas apresentam forte correlação, o que inviabiliza analisá-los de forma separada. Nessa perspectiva, o Capítulo 14 apresenta uma análise da Administração Pública, especificamente no que tange à gestão das finanças públicas, por meio do Portal da Transparência. Já o Capítulo 15 oferece uma análise do princípio da dignidade da pessoa humana, especificamente do direito social à saúde, na concessão de medicamentos às pessoas que não possuem condições financeiras para adquiri-los. Este livro, organizado pelos pesquisadores Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano, Cláudia Menegassi, Fabrício Ricardo Lazilha, Nelson Tenório e Rejane Sartori, representa o resultado das pesquisas realizadas pelos alunos de cursos de pós-graduação lato sensu na modalidade a distância do Centro Universitário Cesumar – Unicesumar - representantes dos diversos estados do Brasil e traz relevante contribuição para a temática da Gestão e do Conhecimento. William Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Educação a Distância da UniCesumar Sumário Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras 11 Capítulo 2 - A Importância do Planejamento Estratégico na Efetivação da Gestão de Projetos 27 Capítulo 3 - Análise da Lucratividade da Cultura de Soja 39 Capítulo 4 - Potencial Econômico das Águas Subterrâneas para Fins de Utilização Agropecuária no Sul do Estado do Piauí 51 Capítulo 5 - Estratégia Financeira para Loteamentos Residenciais 67 Capítulo 6 - Análise do Modelo de Negócio de Franquias para o Mercado Imobiliário Brasileiro 79 Capítulo 7 - Novos Rumos: Polos Geradores de Tráfego e a Nova Legislação da Cidade de São Paulo 91 Capítulo 8 - Principais Tipos de Acidentes na BR–467 107 Capítulo 9 - Marketing e o Relacionamento Entre Empresas e Consumidores 123 Capítulo 10 - Utilização de Tecnologias no Atendimento Bancário 135 Capítulo 11 - A Influência do Clima Organizacional e da Liderança na Motivação da Equipe 149 Capítulo 12 - Análise dos Processos Logísticos voltados para o E-Commerce Brasileiro 165Capítulo 13 - Logística Reversa Integrada como Ferramenta de Redução de Impactos Ambientais 179 Capítulo 14 - O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e a Cláusula da Reserva do Possível na Concessão de Medicamentos 191 Capítulo 15 - Análise da Eficácia da Modalidade de Controle Disposto pelo Portal da Transparência Quanto ao Custeio de Pessoal 211 SOBRE OS ORGANIZADORES 229 João Carlos Nogarolli Silva1 Nayara Emi Shimada 2 1. Graduado em Turismo e Meio Ambiente pela Universidade Estadual do Paraná. Pós-graduando em Engenharia e Gestão da Produção pelo Centro Universitário de Maringá - UniCesumar. 2. Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2015). Graduada em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2012). Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras: CAPÍTULO 1 Vantagens e Benefícios da Implantação 1. INTRODUÇÃO Estratégias competitivas para alcançar o sucesso empresarial é a busca incessante de qualquer empresa, independente do seu ramo de atuação. Nesse sentido, a ferramenta da gestão da qualidade cria nas organizações uma cultura voltada para a melhoria nos seus sistemas produtivos e, fundamentalmente, na busca pela satisfação dos clientes. Desse modo, o tema gestão da qualidade será apresentado discorrendo acerca da importância da implementação dessa ferramenta estratégica e competitiva no ramo de empresas construtoras, demonstrando sua otimização referente à produção, redução de custos e imagem. Diante disso, o presente artigo tem como problema de pesquisa o seguinte questionamento: quais são as vantagens e benefícios da implementação do sistema de gestão da qualidade para a melhoria em processos e produtos no ramo das empresas construtoras? Para que seja alcançado, primeiramente será 12 Conhecimento e Gestão apresentado o conceito de sistemas de gestão da qualidade; em seguida, baseando-se em casos, será descrito quais são as vantagens e benefícios auferidas pelas empresas do ramo da construção civil com a implantação de sistemas de Gestão da Qualidade; e, por fim, será demonstrada a importância da gestão da qualidade como estratégia competitiva no planejamento e controle da produção. Justifica-se esta pesquisa apresentando a implantação do sistema de gestão da qualidade em construtoras como um facilitador para uma melhor estrutura organizacional, auxiliando no planejamento da produção e prestação dos serviços, visando a satisfação total dos clientes, minimizando custos e maximizando resultados. Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizado um estudo bibliográfico, a fim de retratar acerca da gestão da qualidade sobre seus fundamentos e objetivos. Posteriormente, foi apresentado casos de sucesso cuja aplicabilidade de um sistema de gestão da qualidade em empresas do ramo da construção civil obtiveram eficiência e resultados satisfatórios. 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE: PADRÃO ISO 9001 E PBQP-H O competitivo ambiente empresarial de hoje se modifica muito mais rápido do que a anos anteriores, não sendo diferente no ramo da construção civil. Nesse sentido, ferramentas de gestão da qualidade, cujo princípio e foco está pautado na melhoria de desempenho referente aos processos e produtos para atender a demanda e satisfação dos clientes, tornam-se aliadas das organizações empresariais (MOREIRA, 2013). 13 Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras De acordo com Falconi (1999), a gestão da qualidade se torna uma gerência focada na melhoria dos processos e produtos, constituindo um critério estipulado e que toda organização estará envolvida na busca desse resultado. De maneira coordenada, possibilita a melhoria geral da organização com vistas a garantir a completa satisfação dos clientes. Nesse sentido, os sistemas de gestão da qualidade servem de auxílio à gestão empresarial, aferindo os processos e como estes podem beneficiar os produtos e serviços perante os clientes (FALCONI, 2010). Entre os sistemas de gestão da qualidade mais adotadas em empresas de construção civil no Brasil, destacam-se a certificação NBR ISO 9001 e PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat). A primeira diz respeito à norma mundialmente reconhecida, que define os requisitos para colocar um sistema de gestão da qualidade em vigor, auxiliando empresas a aumentar sua eficiência e a satisfação do cliente (BICALHO, 2009). As empresas do ramo da construção civil também podem obter a certificação de um SGQ por meio do PBQP-H. Trata-se de um programa da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano ligado ao Ministério das Cidades. Seu objetivo é organizar o setor da construção civil em torno da melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva (BICALHO, 2009). O financiamento em instituições bancárias e os programas governamentais de habitação destacam-se como os principais motivos da busca pela certificação do PBQP-H. Estes são pré- requisitos, por exemplo, para créditos em instituições públicas e privadas para a participação do programa “Minha Casa, Minha 14 Conhecimento e Gestão Vida”, do Governo Federal (PBQP-H, 2005). Fazendo alusão ao sistema de certificação PBQP-H, a melhoria da qualidade do habitat e a otimização produtiva são os objetivos fundamentais do programa. Para aferir e conceder a certificação, surge o SIAC (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras). Seu objetivo é avaliar a conformidade do sistema de gestão da qualidade das empresas da construção civil, concedendo e monitorando sua aplicação (PBQP-H, 2005). O SIAC, para as empresas construtoras, tem como objetivo nortear o desempenho da Gestão da Qualidade nelas. Contudo, para a certificação, empresas terceirizadas idôneas devem ser contratadas para averiguar sua competência para obter a certificação (PBQP-H, 2005). Um desses avaliadores destaca-se o LRQA (Lloyd’s Register Quality Assurance), um provedor independente de serviços, credenciado para conceder certificação em sistemas de gestão. A utilização do método PDCA (Plan, Do, Check, Act) é uma das ferramentas adotadas para a abordagem da certificação que, por meio das etapas de planejamento, execução, controle e ações, permite a melhoria contínua nas organizações (LRQA, [2017]). Essa característica pela busca da melhoria contínua é o diferencial em relação a ISO 9001. Existem quatro níveis de qualificações progressivas (D, C, B e A), nos quais a empresa construtora pode ser certificada (LRQA, [2017]). Além do diferencial, torna-se um fator empolgante para as empresas, uma vez que estas, tendo um caráter evolutivo, buscarão sempre se adaptar para melhorar, almejando o grau máximo de certificação. 15 Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras 2.1. CARACTERÍSTICA DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Como características fundamentais, o SGQ segue diretrizes aplicadas com o objetivo de verificar os processos das organizações e de que maneira pode ser otimizado, visando a melhora da qualidade dos produtos e na prestação de serviço aos clientes (MOREIRA, 2013). Dentre as vantagens da adoção do SGQ, a ISO 9001:2015 traz o aumento da credibilidade da construtora frente ao mercado consumidor, aumento da competitividade das suas obras no mercado, abertura de novos mercados, maior conformidade e atendimento às exigências dos clientes, aumento da lucratividade e melhores condições para acompanhar e controlar os processos. Costa (2003) concluiu, após realizar análise de qualidade e competitividade entre cinco empresas construtoras, situadas na cidade de Curitiba e região metropolitana, que o SGQ contribui para que as organizações alcancem uma melhora de desempenho em seus processos internos. Ressalta-se que a percepção das vantagens e benefícios auferidos às empresasconstrutoras refere-se, principalmente, à melhoria dos processos e procedimentos (COSTA, 2003). Contudo, benefícios, como a melhora da imagem da empresa, a definição hierárquica de responsabilidades, prazos cumpridos com exatidão e o aumento da satisfação dos clientes, também foram destacados como objetivos alcançados após a implantação do SGQ (MARTINELLI, 2009). A organização empresarial que implanta o SGQ garante maior competitividade devido a oportunidades que essa ferramenta de gestão preconiza. A satisfação dos clientes e melhoria 16 Conhecimento e Gestão nos processos internos são benefícios tangíveis que fornecem ao gestor poder gerir e mensurar o desempenho da empresa por meio de indicadores e detalhamento de cada processo (CHASE; JACOBS; AQUILINO, 2006). Tendo como diferencial essa padronização nos processos, definição e distribuição de funções claras, os custos reduzem à medida que se evitam retrabalhos e/ou atividades ociosas, aumentando a produção e maximizando os lucros (CHASE; JACOBS; AQUILINO, 2006). Para as organizações empresariais que implantam os sistemas de gestão, seja qual for o mercado de atuação, o cliente é sempre o alvo a ser atingido. Nesse sentido, tudo é voltado para sua satisfação, pois quanto mais qualidade for ofertada no produto, menor identificação de falhas. Este conceito é uma estratégia que representa vantagem competitiva frente à concorrência (DEPEXE, 2006). Desse modo, nota-se que a implantação do SGQ em construtoras é visto pelas organizações como uma ferramenta que cria uma gestão empresarial, ou seja, uma metodologia de trabalho, visando a melhoria contínua, garantindo a qualidade nos produtos que satisfaça os clientes e, também, possibilitando o controle dos processos, podendo ser estimada metas e objetivos a serem alcançados. 2.2. CASOS DE SUCESSO: CERTIFICAÇÃO PBQP-H As características do mercado da construção civil são peculiares. O quesito qualidade é um conceito particular para cada cliente. Desse modo, cabe as empresas focar uma estratégia de produção, buscando atender a necessidade do cliente e 17 Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras explorando as vantagens que o SGQ certificado pode trazer à organização (DEPEXE, 2006). Ao focar uma estratégia de produção, a vantagem competitiva nas organizações empresariais se tornam claras. Cabe ao gestor responsável auferir essa vantagem, reconhecendo todas as áreas organizacionais e delegando corretamente as funções dos colaboradores, visando alcançar os objetivos almejados (CHASE; JACOBS; AQUILINO, 2006). Silveira et al. (2002) descrevem a implementação do PBQP-H em uma empresa que atua na área de construção civil com sede em João Pessoa-PB, tendo em sua estrutura organizacional 200 funcionários. Os benefícios alcançados, conforme os autores, foram a melhora da organização da empresa com relação à padronização dos processos e ao treinamento da mão de obra e a definição das atribuições de funções. Segundo Silveira et al. (2002), a empresa espera reduzir, a partir da evolução para o grau B da certificação, os custos de produção por meio da redução de desperdícios, reduzindo o preço de venda dos imóveis clientes. Neves, Maués e Nascimento (2002) também apresentam uma análise da implantação do PBQPH, este estudo realizado na cidade de Belém-PA. Foram analisadas 24 empresas construtoras que detiveram, como tempo de implantação do programa, cerca de 16 meses até obterem o grau B da certificação. Como mencionado anteriormente, a certificação do PBQP-H é dada em níveis de D a A, sendo o grau A a máxima certificação a ser obtida. Verificou-se que a implantação da certificação trouxe benefícios internos e externos às empresas, corrigindo não conformidades de controle de documentos e dados e que, após 18 Conhecimento e Gestão a implantação do SGQ, as empresas tiveram maior identidade e coerência com a política de qualidade da empresa (NEVES; MAUÉS; NASCIMENTO, 2002). Um dos benefícios apontados por Neves, Maués e Nascimento (2002) é a definição clara das responsabilidades e perfil das pessoas para exercer as funções. O programa estimula os colaboradores da empresa, “pois entendem que não estão realizando tarefas isoladamente e sim contribuindo para a concretização e alcance dos objetivos da empresa como um todo” (NEVES; MAUÉS; NASCIMENTO, 2002, p. 06). Outro caso passível de analisar foi apresentado por Melgaço et al. (2004), em que realizou-se uma pesquisa com 36 empresas construtoras da região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo os autores, o principal argumento para a implementação da certificação PBQP-H foram as requisições das instituições bancárias e a necessidade de melhoria da gestão interna. A certificação como ferramenta de propaganda também foi mencionada como benefícios e vantagens competitivas. Mendes e Picchi (2008) avaliam a implantação do PBQP-H no estado do Piauí, abordando a percepção do representante estadual do PBQP-H. Segundo o representante, as principais motivações para a participação no programa é destacada a exigência da Caixa Econômica Federal, a busca pela melhoria dos processos internos e por um diferencial no mercado. Dentre as mudanças observadas, nota-se a melhoria da imagem das empresas e os procedimentos internos. Como benefícios do SGQ, a melhoria na gestão de recursos humanos e financeiros, aumento da produtividade e a diminuição do retrabalho é apontado também pelo representante do PBQP-H 19 Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras estadual (MENDES; PICCHI, 2008). Seguindo a linha dos motivos para a adoção do PBQP-H, no estudo de Maines (2005), realizado com 37 empresas construtoras em Balneário Camboriú-SC, o tema da exigência das instituições financeiras também foi constatado. Com referência aos benefícios alcançados, a melhoria interna referente as definições de funções dos colaboradores das empresas obtiveram destaque, seguido da publicidade, utilizando a certificação como ferramenta de divulgação da marca das empresas. 2.3. CASOS DE SUCESSO: CERTIFICAÇÃO ISO 9001 NA CONSTRUÇÃO CIVIL Seguindo os procedimentos descritos na norma ISO 9001, as construtoras obtêm o certificado que proporciona aos clientes a garantia da qualidade que anseiam. De acordo com Fraga (2011), os benefícios procedentes da implantação de um SGQ certificado na ISO 9001 está na melhora da qualidade dos processos, culminando em produtos e serviços padronizados, redução de custos e no moral dos colaboradores ao executarem tarefas definidas de acordo com especificações preestabelecidas. Sant’ana Filho (2013) identificou, em seu estudo realizado na cidade de Guaratinguetá-SP, em uma construtora de pequeno porte com atuação desde 1989, no setor de engenharia civil e ambiental, boas práticas relacionadas à eficiência da mão de obra, geração de valor à marca e fundamentalmente criando processos adequados às necessidades do mercado. Por meio da implantação do SGQ ISO 9001, a mesa diretora da empresa notou ganhos na gestão de recursos, cujo tema é 20 Conhecimento e Gestão sempre alvo de discussões financeiras. Seguindo protocolos e metas bem definidas, as tomadas de decisões eram realizadas de maneira apropriada e inteligentemente direcionadas (SANT’ANA FILHO, 2013). Prosseguindo o mesmo conceito, numa pesquisa realizada no município de Mossoró/RN, com 13 construtoras de médio porte atuantes no ramo de construções habitacionais, foi identificado que as empresas que possuíam SGQ ISO 9001 afirmaram ter implantado o sistema pela crença de promover a qualidade dos produtos e melhora na prestação de serviços (LOPES, 2013). Conforme apresenta a autora, as exigências para participações em licitações públicas e recursos de instituições financeiras são requisições obrigatóriasburocráticas, porém, que trazem vantagens significativas frente à concorrência. Com relação aos benefícios, as construtoras apresentam benefícios comuns tanto nos fatores interno quanto externo à empresa. A implantação do SGQ em construtoras promove a otimização dos processos, garantindo a qualidade nos serviços de produção do produto e o cumprimento dos prazos de entrega. É perceptível o ganho de recursos, evitando retrabalhos e redução dos custos, e gerando maior satisfação do cliente. Tal satisfação tem acarretado em renovações de contratos e propagando a imagem das empresas beneficamente, o que resulta em novos contratos e maior facilidade de gestão empresarial (LOPES, 2013). Resumidamente, as construtoras buscam a certificação por ser um critério obrigatório na busca de financiamentos, mas encontram, nessa ferramenta de gestão, um apoio na melhoria dos processos cotidianos da empresa. Portanto, conclui-se que a implantação do SGQ ISO 9001 traz benefícios similares 21 Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras às construtoras que o utilizam. Promovendo não somente a qualidade com relação aos produtos e serviços prestados, como a melhoria interna da empresa. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme os casos apresentados, é notável que os sistemas de gestão da qualidade trazem diversos benefícios para as construtoras certificadas. Tal sistema é entendido pelo cliente como um sinônimo de garantia, ou seja, que o produto comprado será em conformidade com o solicitado. Contudo, o fato da empresa deter certificações de qualidade não implica que não haverá falhas ou problemas em seu produto ou processo. O que indica é que a mesma buscou adequar-se aos critérios propostos pelo SGQ, para que, assim, desenvolvesse um trabalho de qualidade condizente ao esperado pelos clientes. Por serem os critérios das normas ISO 9001 e PBQP-H genéricas, qualquer organização pode requerer a certificação desses modelos de SGQ. O dificultador está que, em todos os estudos pesquisados, as empresas construtoras obtiveram as certificações por meio de contratação de empresa especializada, tendo, assim, um custo a ser considerado. Porém, tal custo torna-se um investimento, à medida que os benefícios advindos do modelo de gestão da qualidade tornam a empresa, não apenas competitiva frente ao mercado de trabalho, como também, a imagem de uma empresa engajada com a satisfação dos clientes fica evidenciada. Um fator inquietante está em que nos critérios tanto da ISO 9001 quanto a PBQP-H apenas está contido o que deve ser feito pelas empresas para obterem a certificação, não apresentando 22 Conhecimento e Gestão como realizá-lo. Isso acaba desestimulando construtoras de pequeno porte a alcançarem essas certificações, o que resulta em menos espaço de mercado Entretanto, visto as vantagens de participação em licitações e diversos benefícios de estímulos financeiros junto aos bancos e programas habitacionais brasileiros, cabem às empresas construtoras se aterem a essa oportunidade; não apenas obterem um SGQ como fator obrigatório para competir no mercado, mas sim visando seu foco principal, o cliente. Uma vez que este não é apenas seu comprador, e sim um propagador de publicidade que pode ser utilizado em benefício da marca empresarial. Analisando as distintas populações credenciadas em vários estados, observa-se uma similaridade entre elas quando se refere aos motivos pelos quais aderiram a certificação de um SGQ, e aos benefícios e vantagens obtidas pela adesão. Tal semelhança decorre a caracterizar como sendo uma busca, não apenas por exigência de instituições financeiras ou melhoria de seu sistema produtivo, como também faz analisar que pode ser uma exigência primeiramente por pressão de outras empresas já terem a certificação, fazendo com que outras sigam o modelo, sem que compreenda efetivamente quais trunfos, vantagens que esse SGQ pode trazer. Nesse sentido, o estudo mostrou-se satisfatório ao demonstrar as vantagens e benefícios de um sistema de gestão da qualidade como um fator importante na organização. Entretanto, por não ter sido foco do presente trabalho, a mensuração de custos é um fator a ser analisado em trabalhos futuros, voltado a buscar informações quanto a demonstrações diretas de quais os custos introduzidos à gestão da qualidade. 23 Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras De maneira geral, nota-se uma similaridade entre as vantagens e benefícios das empresas certificadas com SGQ; todas visando maximizar seus lucros, contudo, com uma gestão centrada em procedimentos universalmente reconhecidos. Isso torna a empresa não apenas uma vendedora de produtos ou prestação de serviços ao cliente, mas um empreendimento pautado em diretrizes com foco total na satisfação do cliente. Decorrendo simultaneamente a um produto e serviço de qualidade, respeito ao consumidor e gerando resultados satisfatórios à empresa. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9001:2015 – Sistema de gestão da qualidade – Como usar. Rio de Janeiro. 2015. 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Acesso em: 25 fev. 2017. http://www.lrqa.com.br/Certificacao/PBQP-H-Programa-Brasileiro-da-Qualidade-e-Produtividade-do-Habitat/ http://www.lrqa.com.br/Certificacao/PBQP-H-Programa-Brasileiro-da-Qualidade-e-Produtividade-do-Habitat/ http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/232/TCC http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/232/TCC ftp://ip20017719.eng.ufjf.br/Public/AnaisEventosCientificos/ENTAC_2004/trabalhos/PAP1088d.pdf ftp://ip20017719.eng.ufjf.br/Public/AnaisEventosCientificos/ENTAC_2004/trabalhos/PAP1088d.pdf 25 Capítulo 1 - Sistema de Gestão da Qualidade no Ramo das Empresas Construtoras MENDES, Alexandre; PICHI, Flávio. Avaliação da implantação de sistemas de gestão da qualidade em construtoras do Estado do Piauí. XII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. 2008. Disponível em: <http://www.infohab.org.br/entac2014/2008/artigos/ A1494.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2017. MOREIRA, Daniel. Administração da produção e operações. 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Monografia (Curso de Graduação em Engenharia de Produção Mecânica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá - Universidade Estadual Paulista. Disponível em: <http://200.145.6.238/bitstream/ handle/11449/120948/000737621.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 14 jul. 2017. SILVEIRA, Débora; AZEVEDO, Eline; SOUZA, Dayse; GOUVINHAS, Reidson. Qualidade na construção civil: Um estudo de caso em uma empresa da construção civil no Rio Grande do Norte. XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Curitiba – PR, 2002. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2002_TR21_0969. pdf. Acesso em: 14 jul. 2017. http://www.infohab.org.br/entac2014/2008/artigos/A1494.pdf http://www.infohab.org.br/entac2014/2008/artigos/A1494.pdf http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2002_TR21_0969.pdf http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2002_TR21_0969.pdf Luís Felipe Bertucci Lima1 Wainer Cristiano Cancian2 1. Graduado em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2011). Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar/2014). Especialista em Gestão empresa- rial pela UEM (2013). 2. Pós-graduado em EAD e as Tecnologias Educacionais pela Unicesumar (2015). Pós-graduado em MBA em Gestão Empresarial pelo Centro Universitário de Ma- ringá (Unicesumar/2014). Graduado em Marketing pela Faculdade de Jandaia do Sul (FAFIJAN/2011). Mestrando em Gestão do Conhecimento nas organizações pela Unicesumar. A Importância do Planejamento Estratégico na Efetivação da Gestão de Projetos CAPÍTULO 2 1. INTRODUÇÃO O planejamento estratégico é um processo que visa planejar e executar ações considerando uma análise ampla e aprofundada de um ambiente para se alcançar objetivos e metas preestabelecidas. Tal plano estratégico é a base para a administração de um projeto, para se estabelecer um gerenciamento de tomada de decisão eficaz envolvendo a utilização de recursos e com o objetivo de fomentar um resultado. Nesse sentido, este estudo tem o objetivo de analisar como o planejamento estratégico construirá diretrizes para o desenvolvimento de um projeto, verificando as principais ferramentas e metodologias para isso. Assim buscar-se-á descrever os processos envolvidos no gerenciamento estratégico de projetos que viabilizarão a implantação de tais projetos. 28 Conhecimento e Gestão O desenvolvimento deste artigo tem, a priori, a relevância de apresentar informações e referências para a compreensão dos conteúdos propostos no estudo, sobretudo a importância e justificativa de se desenvolver um planejamento estratégico eficaz e estruturante para um projeto. Também se espera que, com o desenvolvimento deste artigo, possibilite-se uma contribuição acadêmica para esta área do conhecimento, bem como que o mesmo seja útil para o trabalho de outros pesquisadores sobre o tema, salientando informações relevantes. Para o desenvolvimento desse estudo foram abordados e estruturados os seguintes tópicos: Planejamento estratégico, com a apresentação dos conceitos principais sobre este processo de gerenciamento; Gerenciamento de projetos, no qual são abordadas definições e explanações sobre a gerência de projetos; e a Gestão Estratégica de Projetos, destacando como o planejamento estratégico atua e impacta na gestão de projetos. Dessa forma, o presente artigo buscou, mediante um estudo qualitativo através de por meio de bibliográfica, embasamento teórico acerca do tema proposto, por meio da utilização de livros e artigos científicos. Tal procedimento metodológico se faz fundamental no desenvolvimento desse estudo científico para dar sustentação à pesquisa, estruturando o levantamento das informações. 2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O planejamento estratégico consiste em um processo contínuo que visa desenvolver a organização e o gerenciamento de ações integradas em um ambiente, considerando os atores envolvidos 29 Capítulo 2 - A Importância do Planejamento Estratégico na Efetivação da Gestão de Projetos que atuam no cenário no qual uma organização opera. Dessa forma, o Planejamento Estratégico “é um método formal de considerar alternativas relacionadas ao crescimento, desenvolvimento ou outras opções de uma empresa, uma organização ou um negócio” (STONE, 1992, p. 42). O ambiente organizacional é composto por diversas entidades e situações que impactam em uma organização e em suas ações habituais, influenciando em suas rotinas competitivas e em suas tomadas de decisão. Assim, é de fundamental importância focar no planejamento estratégico para a empresa se manter competitiva em um mercado organizacional. Armond e Reis (2012) consideram que dentro de uma empresa existem níveis diferenciados que terão contatos diferenciados com o mercado (clientes, parceiros, governo, bancos etc). Assim, é esperado que haja expectativas diferentes para o crescimento da empresa e, dessa forma, “o Planejamento Estratégico irá assegurar a consistência das expectativas – metas e objetivos” (ARMOND; REIS, 2012, p. 293). A estratégia é um conceito oriundo de aplicações de guerra e ações bélicas, entretanto extensamente utilizado em múltiplas áreas, sobretudo da administração. Conforme apresenta Valeriano (2001, p. 55), o planejamento estratégico consiste em uma “arte de preparar e aplicaros meios e especificar os cursos da ação, considerando as forças e fraquezas de uma organização e as oportunidades e ameaças do ambiente que a cerca”. Nota- se que o plano estratégico estabelece a fixação de objetivos e, consequentemente, os meios para se obtê-los. Nesse mesmo contexto, Certo e Peter (2010, p. 29) conceituam que: 30 Conhecimento e Gestão O principal propósito do planejamento estratégico é melhorar o desempenho organizacional porque conscientiza os altos executivos e os gerentes de unidades das questões que surgem no ambiente da empresa. [...] Em geral, essa tarefa inclui a preparação de previsões ambientais para gerar hipóteses básicas sobre o planejamento organizacional e o fornecimento de informações mais detalhadas sobre aspectos relevantes do ambiente à medida que planos organizacionais específicos começam a se materializar. Assim, verifica-se que qualquer tipo de organização possui metas e objetivos a serem alcançados e, para que tais projeções se tornem realidade, é fundamental a estruturação do planejamento estratégico para manter a competitividade e aperfeiçoar as competências e eficiência da organização. Para o estabelecimento de uma gerência estratégica, uma empresa deve formular estratégias que a levem a atingir os objetivos de longo prazo, considerando desde a formulação, implantação e avaliação de suas ações até o plano de ações. Nesse cenário, devem-se considerar diversas etapas fundamentais do processo, dentre as tais destacam-se o estabelecimento da missão ou um propósito para o projeto; avaliação do ambiente (externo); avaliação da organização (interno); definição de objetivos de longo prazo; estabelecimento de estratégias; execução dos planos; avaliação do desempenho; e retroalimentação (VALERIANO, 2001). Visto isto, constata-se a importância e complexidade do planejamento estratégico de uma organização e/ou um projeto, no qual diversas etapas devem ser elencadas e preparadas para que todo o processo seja executado de forma eficiente e os objetivos 31 Capítulo 2 - A Importância do Planejamento Estratégico na Efetivação da Gestão de Projetos alcançados. Outro ponto fundamental a ser destacado neste processo está na implementação de estratégias, pois não basta apenas formulá-las; muito mais do que isso, se faz imprescindível sua implementação. Conforme apresentam Certo e Peter (2010, p. 29): O sucesso na implementação de estratégias consiste no provável resultado obtido por uma organização quando ela tem uma estratégia claramente definida e implementa com eficácia. Uma abordagem de implementação é bem selecionada quando capitaliza oportunidades, pontos fortes e contorna, evita ou minimiza problemas em uma organização. A implementação eficaz de estratégias exige quatro tipos básicos de habilidade de execução – interação, alocação, monitoração e organização. Portanto, para que a estruturação de um planejamento estratégico seja eficiente, a implementação das estratégias será ponto chave neste processo. Caberá, a partir do desenvolvimento de questões inerentes ao controle estratégico, avaliar e fomentar as melhores ações a serem desenvolvidas, bem como buscar clareza e efetividade nos resultados esperados. 2.1. GERENCIAMENTO DE PROJETOS Diante de um mercado amplamente competitivo, as organizações necessitam implementar um constante processo de evolução e criação para continuarem sua sobrevivência com um diferencial competitivo. Elas precisam estar prontas para enfrentar as rápidas mudanças e adaptar-se às ações do ambiente de concorrência em que estão inseridas, ações econômicas, sócias, 32 Conhecimento e Gestão tecnológicas, entre outras, que impactarão no desenvolvimento de suas atividades. Tais mudanças demandaram das organizações novos produtos e serviços, novos processos e planejamentos que necessitaram de gerenciamento. A resposta para tal dilema está na gestão de projetos e de sua viabilidade. Visto isso, a geração de projetos, desde a criação de novos produtos e/ou processos às novas diretrizes políticas, por exemplo, possibilitam o desenvolvimento de estratégias e preceitos que orientarão as empresas em busca de seus objetivos. Neste contexto, inicialmente, se faz necessária a definição do conceito de projeto. Maximiano (2002) apresenta projeto como um empreendimento temporário ou uma possível sequência de atividades programadas com início, meio e fim, que terá por objetivo fornecer um produto ou serviço singular dentro de restrições orçamentárias. Assim, nota-se que o desenvolvimento de um projeto irá impactar na tomada de ações para se atingir um objetivo proposto, no qual serão pré-determinadas diretrizes e processos, respeitando prazos previamente determinados e condições orçamentárias existentes. Corroborando com este cenário, Barbi (2007, p. 1) explana que: Gerenciar um projeto é atuar de forma a atingir os objetivos propostos dentro de parâmetros de qualidade determinados, obedecendo a um planejamento prévio de prazos (cronograma) e custos (orçamento). O gerenciamento de projetos consiste na aplicação de conhecimento, técnicas e habilidades específicas para atender às propostas do projeto. Por meio da integração de diversas etapas e processos, o desenvolvimento e a execução de um projeto serão 33 Capítulo 2 - A Importância do Planejamento Estratégico na Efetivação da Gestão de Projetos gerenciados. Diversas influências organizacionais impactam no gerenciamento de projetos: A cultura, estilo e estrutura da organização influenciam a maneira como os projetos são executados. O nível de maturidade em gerenciamento de projetos de uma organização e seus sistemas de gerenciamento de projetos também pode influenciar o projeto. Quando um projeto envolve entidades externas como as que são parte de joint ventures ou parcerias, ele será influenciado por mais de uma organização (PMBOK, 2013 p. 47). Verifica-se que o gerenciamento de projetos é influenciado por diversos fatores organizacionais que atuarão na implementação das ações estratégicas de forma sistematizada e estruturada. Ainda neste contexto, Cleland e Ireland (2002) indicam que as funções principais relacionadas à gerência de projetos são o planejamento, organização, motivação, direção e controle. Estas funções visam planejar os procedimentos e técnicas a serem definidas para projetar a organização em busca de determinados objetivos e metas, levando em consideração os recursos necessários e disponíveis no ambiente, além de ressaltar diretrizes na tomada de decisão dos envolvidos e definir padrões de desempenho para avaliar o andamento e execução do projeto. Portanto, na gestão de projetos, deve-se considerar a estrutura organizacional da empresa para a condução dos projetos, visando o estabelecimento do melhor sistema para atender às necessidades do empreendimento. Leal e Castro (2016, p. 25) destacam que “a gerência de projeto é empregada como um processo para que a estratégia de utilização de projetos leve 34 Conhecimento e Gestão ao alcance das metas, objetivos e missão da organização e traga benefícios à organização e seus envolvidos”. Assim, a gerência de projetos visa oferecer benefícios para as diversas áreas de uma organização e aos diferentes grupos de stakeholders envolvidos no projeto. Para tanto, tem-se como premissa a necessidade do desenvolvimento de um planejamento estratégico e sua orientação efetiva para a viabilização do projeto. 2.2. GERENCIAMENTO ESTRATÉGICO DE PROJETOS A gerência de projetos é instituída para efetivar uma missão que é o motivo do empreendimento e também para alcançar os objetivos propostos. E, diante das mudanças ambientais e desafios encontrados ao longo do processo de sustentação de um projeto, o gerenciamento estratégico tem a finalidade de estruturar um equilíbrio nas ações a serem tomadas e permitir uma aplicaçãoefetiva da gerência estratégica. Esta contextualização pode ser verificada conforme apresentam Leal e Castro (2016, p. 16): A prática da gestão estratégica de projetos nas organizações leva a promessa de ampliação dos níveis de racionalidade nas decisões empresariais, mediante adequado conhecimento dos fatores internos e externos que influenciam de forma determinada o seu funcionamento. Logo, a racionalização das estratégias por parte do gerenciamento de projetos determinará ações a serem tomadas frente aos recursos disponíveis, empregando vantagens competitivas e agregando valor ao projeto. A criação de competências estratégicas ao longo de um projeto resultará em 35 Capítulo 2 - A Importância do Planejamento Estratégico na Efetivação da Gestão de Projetos valores a serem proporcionados aos produtos e/aos clientes do projeto. O processo do gerenciamento estratégico é uma maneira de estabelecer a direção a ser seguida pelo projeto, consolidando uma integração das melhores estratégias mediante uma análise do ambiente, considerando as ameaças e oportunidades sob o aspecto externo e também as forças e fraquezas sob o aspecto interno. Para Valeriano (2001, p. 65) “a gerência estratégica formula, implementa e avalia linhas de ação multidepartamentais que levam um projeto a atingir seus objetivos de longo prazo, relativos a seus produtos, mercado, cliente [...]”. Dessa forma, a gestão estratégica é a habilidade de aplicar com eficácia os recursos existentes e explorar as conjunturas favoráveis, visando alcançar determinados objetivos predefinidos no planejamento estratégico. O gerenciamento estratégico impulsionará um projeto a uma estruturação eficaz de suas premissas, considerando que ele possibilitará um desempenho valioso ao projeto, proporcionado valores e resultados. Milosevic e Srivannaboon (2006, p. 99) indicam isto ao propor que “[...] quando as organizações têm seus projetos relacionados à estratégia, [elas] são mais capazes de alcançar suas metas organizacionais”. Implementar um gerenciamento estratégico em projetos possibilitará maiores chances de se obter sucesso, pois criará um cenário coerente e sustentará a performance do projeto. “Quanto melhor for a implementação da estratégia empresarial e quanto mais proficiente for a sua execução, maior será a chance de que a empresa tenha um desempenho saudável” (THOMPSON; STRICKLAND III, 2003, p. 2). Portanto, o planejamento estratégico é de fundamental 36 Conhecimento e Gestão importância na efetivação da gestão de projetos, pois estruturará um ambiente favorável ao desenvolvimento do empreendimento; deve estabelecer critérios estratégicos para a tomada de decisão, cuidando para que a alocação dos recursos seja eficaz e, consequentemente, a obtenção dos objetivos traçados fundamentada é uma orientação estratégica. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na medida em que os projetos são necessários e desenvolvidos pelas empresas, elas enfrentam desafios e obstáculos em seu progresso e implementação; a alocação eficiente dos recursos disponíveis no ambiente se torna um requisito fundamental e necessário para o sucesso do projeto e, para que todo este cenário seja possível, o planejamento estratégico é parte integrante e impactante do processo. O planejamento estratégico permitirá que seja traçado um caminho com clareza a ser percorrido pelo empreendimento, considerando as forças e fraquezas do ambiente interno, bem como as oportunidades e ameaças do ambiente externo, para, assim, propor critérios estratégicos na tomada de decisão e, consequentemente, obtenção dos objetivos e metas. Logo, o gerenciamento estratégico de projeto viabilizará a execução de um empreendimento adequado, propiciando meios eficientes e resultados eficazes e, dessa forma, ajustando um plano de ação para a tomada de decisão estratégica. O desenvolvimento deste trabalho contribuiu para a discussão de como o planejamento estratégico é vital em uma gestão de projeto e pode servir de base para trabalhos futuros 37 Capítulo 2 - A Importância do Planejamento Estratégico na Efetivação da Gestão de Projetos relacionados à temática. Espera-se que o tema desenvolvido seja permanentemente considerado relevante no meio, acurando novos conhecimentos e atualizações acerca do planejamento estratégico. REFERÊNCIAS BARBI, F. C. Os 7 passos do gerenciamento de projetos. Disponível em: <http://www.microsoft.com/brasil/msdn/tecnologias/carreira/ gerencprojetos.mspx> Acesso em: 16 out. 2016. CERTO, S. C.; PETER, J. P. Administração Estratégica. Planejamento e implantação de estratégias. 3. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. CLELAND, D. I.; IRELAND, L. R. Gerência de Projetos. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, 2002. LEAL, G. C. L.; Castro, S. C. Conceitos de projetos e de Viabilidade. Maringá: UniCesumar, 2016. MAXIMIANO, Antonio C. A. Administração de projetos. Como transformar ideias em resultados. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2002. MILOSEVIC, D.; SRIVANNABOON, S. A theoretical framework for aligning project management with businesss strategy. 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Graduado em Tecnologia em Agronegócio pela Unicesumar (2013). Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais pela Unicesumar (2015). MBA em Agrone- gócio pela Unicesumar (2015). 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho refere-se a um estudo de caso de uma produtora agrícola, cuja área localiza-se no distrito de Entre Rios, município de Guarapuava (PR). O estudo envolveu o levantamento dos custos produtivos provenientes da cultura de soja dos anos 2010 a 2016. O tema foi escolhido por se tratar da principal commoditie do agronegócio brasileiro, a qual lhe confere uma das maiores lucratividades. No entanto, fica evidente aos produtores primários envolvidos na cadeia de produção da soja que os custos de produção, a cada ano, se apropriam de um pedaço cada vez maior do lucro obtido. Sendo assim, cabe ao presente trabalho verificar a sustentabilidade da cadeia, isto é, estimar a margem líquida que a produtora obtém com a semeadura da soja no decorrer 40 Conhecimento e Gestão dos anos, avaliando a geração de capital ativo ou passivo. Com isso, a produtora em questão será capaz de alinhar melhor a sua atividade. Para tanto, os dados de custo de produção, de produtividade e valor de venda serão adquiridos junto à assistência técnica da cooperativa da qual a produtora faz parte. Depois, os dados serão tabulados em planilha do Excel e analisados estatisticamente por meio dos softwares Sisvar®. O artigo alavancará os dados pertinentes em dois tópicos, sendo que no primeiro será abordada a base histórica da cultura da soja, seguido pelo panorama nacional relacionado aos valores de mercado no decorrer dos anos. Posteriormente, será evidenciada na metodologia a variação entre os dados por meio de modelos estatísticos, e, por fim, as considerações finais. 2. CADEIA PRODUTIVA DA SOJA 2.1. EVOLUÇÃODA CULTURA DA SOJA A cultura entrou efetivamente no cenário nacional na década de sessenta. A sua produção foi possível devido a três fatores: a cultura cafeeira, responsável pelo maior volume de exportação da época, entrou em declínio de produção e comercialização mundial; encontrou-se na cultura da soja uma opção para a rotação de culturas para o trigo; e houve uma campanha para promover a produção suína e avícola no país, necessitando, assim, de maiores volumes de soja para a alimentação destes animais (APROSOJA BRASIL, 2002a). Segundo o mesmo autor, a elevação do preço da soja em 41 Capítulo 3 - Análise da Lucratividade da Cultura de Soja 1970 estimulou agricultores e governo, passando-se, então, a investir em tecnologia visando a adaptação da soja às condições edafoclimáticas brasileiras, passando a competir mundialmente pelo mercado da soja. Assim, deu-se inicio à expansão do mercado e das exportações, incrementando a produção agrícola com ampliação de pesquisas e implantação de novas tecnologias para o setor. Assim, a soja e todos os seus produtos e subprodutos do complexo assumiram grande importância na economia brasileira, além de gerar renda para os diversos elos da cadeia agroindustrial (MARGARIDO; SOUSA 1998). 2.2. PANORAMA DA SOJA O mercado da soja comporta-se de forma diferenciada ao longo dos anos, refletindo diretamente sobre o custo de produção e consequente na lucratividade do produtor rural. O ano-safra de 2009/2010 caracterizou-se pela expansão das áreas produtoras de soja em território nacional. Os fatores que induziram essa ampliação foram os menores custos de produção se comparada com a cultura do milho, principal concorrente, assim como aos baixos preços de mercado do milho, gerando maior liquidez à cultura da soja, aquecendo os mercados interno e externo em relação à oleaginosa (AGROANALYSIS, 2016a). Foi um ano com a presença do evento climático El niño, com distribuição homogênea das precipitações, mantendo a produção elevada (JACOBSEN, 2010). Entretanto, enquanto que a produção foi excelente, o valor de venda ao agricultor foi abaixo das expectativas. Uma das razões para isso foi a abundância da 42 Conhecimento e Gestão safra mundial, reduzindo as cotações da soja (CONAB, 2010). Já no ano seguinte, safra 2010/2011, houve a influência da La niña, ou seja, principalmente o Sul do Brasil sofreu com estiagem, sendo que algumas regiões tiveram suas produtividades comprometidas. Assim como o Brasil, a China, grande consumidora de soja, também obteve frustação de safra, necessitando recorrer à importação da oleaginosa, aquecendo o mercado e elevando as cotações. Em resumo, o ano foi proveitoso para aqueles que não tiveram suas áreas atingidas pela seca, uma vez que houve a oportunidade de bons preços e custos de produção reduzidos (AGRONALYSIS, 2016b). Na safra 2011/2012, as commodities em geral tiveram um bom preço. Juntamente, houve maior investimento dos produtores em vista de aumentar suas produções e, consequentemente, suas margens de lucro. Este maior investimento é sinônimo de custo de produção superior, uma vez que o produtor rural passa a investir um percentual maior de seu capital na sua atividade, sendo que o retorno veio com produtividades superiores às do ano anterior (FILHO et al. 2011). Devido à quebra de rendimento norte-americano por conta da seca, as exportações para a China tiveram seu volume elevado no ano-safra de 2012/2013, resultando na elevação das cotações. Além disso, as produções obtidas pelos produtores foram recordes até então, resultado do maior investimento em máquinas, implementos e tecnologia. Em resumo, foi um excelente ano aos agricultores brasileiros (AGROANALYSIS, 2016c). Diferentemente da safra anterior, a safra 2013/2014 teve seus custos de produção maiores, além de as condições climáticas desfavorecerem a atividade agrícola, uma vez que chuvas em 43 Capítulo 3 - Análise da Lucratividade da Cultura de Soja excesso ou estiagem em diferentes regiões do território nacional subtraíram o volume colhido, provocando reação positiva no preço dos grãos (FILHO et al. 2014). Na safra 2014/2015 houve recorde de produção na safra estadunidense, resultando em uma queda dos preços no mercado mundial. Em contrapartida, houve a valorização do dólar devido ao início da crise nacional, sustentando os preços e favorecendo o produtor, uma vez que a produtividade foi boa em decorrência do clima favorável (FILHO, 2015). E, por fim, a safra 2015/2016 foi caracterizada pelo El niño, resultando em altas produtividades, somada pelo elevado valor de venda pela valorização do dólar em decorrência da intensificação da crise brasileira. No entanto, valorizaram-se também os insumos, incorrendo em maiores custos de produção (SEVERO; SOPRANA, 2015). 3. LUCRATIVIDADE OBTIDA COM A CULTURA DA SOJA Quando falamos de lucratividade referimo-nos a um indicador de desempenho. Com o acompanhamento deste indicador, é possível conhecer o retorno financeiro do negócio, assim como fundamentar a tomada de decisões para eventuais alterações do sistema de gestão, corte de gastos e até a venda da empresa. Quando um negócio não é rentável, o empresário passa a ter despesas ao invés de lucro, tornando o negócio insustentável (ZUINI, 2016). O produtor rural procura no cultivo da soja maiores rentabilidades em decorrência dos menores custos de produção 44 Conhecimento e Gestão associados aos lucros expressivos. Segundo o estudo de Vivan et al. (2015), evidenciou-se que, no período de 1961 a 2010, a cultura da soja realmente foi a que apresentou menores custo de produção se comparada com as culturas de milho e feijão, principais concorrentes da soja. Outro fator que coloca a soja em lugar de destaque em relação aos valores de venda é o consumo crescente. Suas principais finalidades são a exportação do próprio grão principalmente para a China, outra grande consumidora, uma vez que a soja é uma das bases alimentares dos chineses; emprega-se o grão da soja também para a formulação de rações animais; além da produção de biodiesel, sendo que 80,0% do biodiesel brasileiro é feito à base de óleo da soja (APROSOJA BRASIL, 2016b). Mesmo mostrando-se uma cultura rentável, os produtores de soja vêm enfrentando dificuldades econômicas, por exemplo: os custos de produção elevam-se desproporcionalmente aos preços pagos ao produtor, uma vez que faltam políticas de garantia de preço mínimo. Tudo isso associado aos riscos relacionados às condições climáticas, pragas e doenças enfrentadas pela cultura. Resumindo, o produtor necessita aumentar a sua produção com quantidade reduzida de recursos financeiros (HIRAKURI et al. 2016). 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa realizada é de natureza exploratória, uma vez que permitiu a análise de diversos pontos do objeto em estudo. Em geral, as pesquisas exploratórias envolvem levantamentos bibliográficos e técnicas observacionais com as quais se analisa 45 Capítulo 3 - Análise da Lucratividade da Cultura de Soja as questões práticas que envolvem o problema da pesquisa (ALMEIDA, 2014). Primeiramente, utilizou-se a técnica observacional em busca de um problema comum na região de Guarapuava e para levantamento de dados iniciais. Esta técnica procura examinar fatos do que se pretende estudar na menção de obter determinados aspectos da realidade (ALMEIDA, 2014). Em seguida, evidenciado o problema, procedeu-se com a pesquisa bibliográfica em busca de explicações das razões das oscilações nos rendimentos dos produtores de soja. Este tipo de pesquisa busca aproximar o pesquisador do tema proposto, além de proporcionar fundamentação teórica e auxiliar na delimitação do problema. 4.1. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA Os dados de produtividade, preço de venda e custo de produção foram obtidos por meio da assistênciatécnica da Cooperativa Agrária Agroindustrial, localizada no distrito de Entre Rios, Município de Guarapuava (PR). A área produtiva referente a este trabalho foi de uma agricultora cooperada, tomando-se a cultura da soja como referência. As informações dos anos de 2010 a 2016 foram tabuladas e analisadas estatisticamente por meio do software Sisvar®. Foi realizada uma pesquisa documental, obtendo-se como base o histórico de dados obtido por meio da Cooperativa citada. A Cooperativa Agrária Agroindustrial foi fundada em 5 de maio de 1951 com a chegada dos imigrantes alemães refugiados da Segunda Guerra Mundial, objetivando apoiar 500 famílias de 46 Conhecimento e Gestão Suábios do Danúbio a reiniciarem suas vidas em terras brasileiras. Possui como visão o desenvolvimento, produção e comercialização de produtos agroindustriais e serviços, por meio de agregação de valor, com tecnologia adequada e qualidade superior, visando sempre à satisfação de seus clientes, com respeito ao indivíduo, ao meio ambiente e aos princípios cooperativistas. Sua visão compreende se tornar referência nacional em tecnologia de produção agroindustrial e gestão cooperativista. Sendo, para tanto, norteada pelos seus valores, os quais são: ética, inovação, qualidade, respeito, humildade, comprometimento, tradição e trabalho em equipe. Seus principais produtos destinados à comercialização são o malte, utilizado por grande número de cervejarias nacionais e internacionais; sementes para semeadura das culturas de soja, trigo, cevada e aveia; rações para nutrição das mais diversas espécies animais; óleo degomado e farelo de soja; diferentes tipos de farinhas de trigo; e grits e flakes de milho. 4.2. TÉCNICA UTILIZADA O método utilizado para a realização da pesquisa documental foi o levantamento de dados, assim como questionamentos abertos à produtora com relação às individualidades de cada ano- safra. Após a coleta de dados, deverá ser realizada a tabulação dos dados em forma de tabelas, a análise dos dados obtidos e a interpretação dos resultados. Uma pesquisa documental foi realizada para o levantamento dos dados necessários para embasá-la. Os dados foram coletados de fonte fidedigna - neste cenário, a Cooperativa 47 Capítulo 3 - Análise da Lucratividade da Cultura de Soja Agrária Agroindustrial e os dados interpretados e comparados para concluir o projeto (ALMEIDA, 2014). 4.3. ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Na Tabela 1, é possível visualizar a produtividade por unidade de área, o valor de venda dos grãos, a margem bruta obtida com a venda da soja, o custo total por unidade de área e a margem líquida da produtora nos anos/safra 2009/10, 2010/11, 2011/12, 2012/13, 2013/14, 2014/15 e 2015/16. Com esses dados, é possível considerar que a cultura da soja apresentou um incremento médio de produtividade e elevação do custo a cada ano/safra de forma significativa. No entanto, com o mercado nacional e internacional favorável em relação ao grão em questão, o produtor ainda consegue obter um lucro líquido por unidade de área cada vez mais expressiva. Tabela 1 – Análise da lucratividade do produtor com a cultura da soja nos anos-safra de 2009/2010 a 2015/2016. ANO SAFRA PRODU- TIVIDA- DE /HA VALOR DE VENDA LUCRO BRUTO/HA CUSTO TOTAL/HA MARGEM LÍQUIDA/ HA 2009/10 3418,73 a R$ 37,22 a R$ 2.120,75 a R$ 572,71 a R$ 1.548,04 a 2010/11 3510,38 b R$ 45,52 b R$ 2.663,44 b R$ 674,16 b R$ 1.989,28 b 2011/12 3636,04 c R$ 59,23 c R$ 3.589,20 c R$ 621,44 c R$ 2.967,76 c 2012/13 4025,12 d R$ 58,00 d R$ 3.890,83 d R$ 836,85 d R$ 3.053,98 d 2013/14 4155,56 e R$ 66,70 e R$ 4.619,43 e R$ 1.128,74 e R$ 3.490,69 e 2014/15 5399,43 f R$ 62,51 f R$ 5.625,68 f R$ 1.808,12 f R$ 3.817,56 f 2015/16 5266,71 g R$ 77,57 g R$ 6.808,58 g R$ 1.555,98 g R$ 5.252,60 g *Valores seguidos de letras iguais não diferem entre si nas colunas pelo teste de Tukey a 99,0% de significância. Fonte: os autores (2016). 48 Conhecimento e Gestão 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Evidenciou-se que a cultura da soja foi e continua sendo de extrema importância para a evolução e sobrevivência humana, mostrando-se recurso básico para a alimentação, principalmente dos povos asiáticos. O mercado da soja mostra-se crescente devido à elevação do consumo do grão na alimentação humana e animal. No entanto, é necessário que haja prudência e avaliação constante do mercado para determinação de maior nível de investimento. Uma vez que o Brasil não possui garantia de preço mínimo e por se tratar de uma atividade de elevado risco, principalmente devido à suscetibilidade às condições climáticas, é preciso que haja cautela e planejamento antecipado. Com o cultivo crescente e intensivo da soja, surgem, a cada ano, novas pragas e moléstias que atacam a cultura. Sendo assim, não só um bom planejamento econômico é necessário, como também um acompanhamento adequado de medidas preventivas que não agridam o meio ambiente, tendo sempre em mente o manejo de sistemas sustentáveis. Com a realização do presente trabalho, pode-se concluir que o custo de produção total por hectare foi crescente ao longo dos anos-safra avaliados. Porém, mesmo assim, a produtora obteve margem líquida por hectare positiva em decorrência da elevação da produtividade por hectare, assim como o valor de venda dos grãos de soja e, consequentemente, o lucro bruto por hectare. Sendo assim, a cultura da soja foi e permanece sendo viável, viabilizando ao produtor rural um lucro líquido crescente no decorrer dos anos analisados. 49 Capítulo 3 - Análise da Lucratividade da Cultura de Soja REFERÊNCIAS AGROANALYSIS. A expansão geográfica da soja. Agroanalysis, mar./2010. Disponível em: <http://www.agroanalysis.com.br/3/2010/ mercado-negocios/safra-200910-ii-a-expansao-geografica-da-soja>. Acesso em: 09 ago. 2016a. ______.Preços Aquecidos agitam plantio. Agroanalysis, jan./2011. Disponível em: <http://www.agroanalysis.com.br/1/2011/mercado- negocios/safra-201011-precos-aquecidos-agitam-plantio>. Acesso em: 09 ago. 2016b. ______.Infraestrutura limita competitividade. Agroanalysis, mar./2013. Disponível em: <http://www.agroanalysis.com.br/3/2013/mercado- negocios/safra-201213-ii-infraestrutura-limita-competitividade>. Acesso em: 10 ago. 2016c. ALMEIDA, S. do. C. D. Metodologia da pesquisa. Centro Universitário de Maringá. Maringá: Núcleo de Educação a Distância, 2014. APROSOJA BRASIL. A história da soja. Disponível em: <http:// aprosojabrasil.com.br/2014/sobre-a-soja/a-historia-da-soja/>. Acesso em: 09 ago. 2016a. APROSOJA BRASIL. Uso da soja. Disponível em: <http:// aprosojabrasil.com.br/2014/sobre-a-soja/uso-da-soja/>. Acesso em: 20 ago. 2016b. CONAB. 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Potencial Econômico das Águas Subterrâneas para Fins de Utilização Agropecuária no Sul do Estado do Piauí CAPÍTULO 4 1. INTRODUÇÃO A agropecuária e o agronegócio do Brasil lideram a produção mundial de alimentos e o incremento no produto interno bruto - PIB. Negociações geradas por estes setores impulsionam índices de emprego e renda de trabalhadores dentro e fora do país. A região Nordeste, especificamente o MATOPIBA (composta por macrorregiões envolvendo os Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) desponta como uma das últimas fronteiras agrícolas nacionais, caracterizada pelas condições favoráveis de solo, clima e logística privilegiada. Somadas a essas condições, o volume hídrico subterrâneo disponível para captação no Nordeste carece ser estudado a fim de garantir à população o acesso ao saneamento básico e usos econômicos das águas. 52 Conhecimento e Gestão O presente artigo objetiva contemplar abordagens da literatura disponível quanto ao potencial de aproveitamento do uso das águas subterrâneas do aquífero “Cabeças”, localizado na Bacia Sedimentar do Rio Parnaíba, ao sul do Estado do Piauí, para fins de desenvolvimento econômico agropecuário regional. Pretende-se neste estudo analisar as características quanto à importância social, pública e econômica dos aquíferos subterrâneos do sul do Piauí e confrontar informações quanto à viabilidade, impedimentos e programas de investimento na utilização do aquífero “Cabeças”, para satisfazer as atividades econômicas e viabilidade no atendimento de produtores rurais e as restrições e exigências da legislação ambiental brasileira quanto ao uso econômico das águas subterrâneas para viabilizar os projetos e promover o desenvolvimento regional. 2. ÁGUA O êxito das diferentes civilizações quanto aos aspectos de crescimento e desenvolvimento, sobreviver e prosperar social e economicamente com suas populações está diretamente relacionado ao recurso natural água na qualidade e quantidade disponível, métodos de aproveitamento e a capacidade de transformação regida pela disponibilidade hídrica no meio ambiente. 2.1. A ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL No meio ambiente, a água é componente essencial para a manutenção da vida, sendo regida pelo ciclo hidrológico. A 53 Capítulo 4 - Potencial Econômico das Águas Subterrâneas para Fins de Utilização Agropecuária no Sul do Estado do Piauí continuidade de todas as espécies está associada à incondicional presença da água (TUNDISI, MATSUMURA-TUNDISI, 2011). De acordo com Reis, Fadigas e Carvalho (2012), das formas disponíveis e com acesso pelo homem, as águas subterrâneas representam a maior fração reserva da água doce mundial, permanecendo armazenadas em aquíferos a profundidades variadas. No Brasil, a água doce representa cerca de 12% do volume mundial, enquanto que na América Latina este volume representa 53% de todos os recursos hídricos. O objetivo da ONU para o século XXI é o de melhorar as condições de acesso, uso eficiente da água para consumo humano e nas atividades econômicas, por meio de debates integrados que promovam a inovação e o desenvolvimento sustentável em projetos para maximizar a distribuição e o reaproveitamento, combater a exploração desenfreada, desperdício, degradação ambiental, poluição e má qualidade da água (REIS, FADIGAS e CARVALHO, 2012). 2.2. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO NORDESTE BRASILEIRO No Nordeste brasileiro, região abrangente da maior porção de terras do Semiárido do país, a média pluviométrica oscila com índices de 200 a 800 mm/ano, sendo considerado o semiárido mais chuvoso do planeta, entretanto com uma distribuição muito irregular e alta taxa de evapotranspiração, o que impacta diretamente na oferta hídrica (FILHO; FEITOSA e XAVIER, 2012). Filho, Feitosa e Xavier (2012) consideram que além dos fatores climáticos adversos, a história da região mostra que fora 54 Conhecimento e Gestão prejudicada no passado pela concentração da posse e uso da água entre os mais abastados, fato agravado pelas ainda praticadas políticas governamentais ineficientes que conduzem somente medidas paliativas, sem pensar em soluções definitivas para o problema da seca. Filho, Feitosa e Xavier (2012) foram categóricos em afirmar: “é importante salientar que os efeitos da seca no semiárido do estado não é uma questão de falta de água, mas, sobretudo, de gerenciamento de seus recursos hídricos”, que trazem à realidade da importância do desenvolvimento sustentável e gestão dos recursos naturais. 2.3. LICENCIAMENTO AMBIENTAL APLICADO NA CAPTAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS Andrade (2015) cita que a Constituição Brasileira estabelece que as riquezas minerais do país pertençam à União, cabendo ao proprietário da terra apenas o seu direito de uso, conforme determinação da Política Nacional de Recursos Hídricos instituídos pela Lei 9.433 de 1997. Schmidt (2007) destaca que para a exploração hídrica subterrânea, antes da implantação de um poço, é preciso que se tenha conhecimento do perfil litológico do solo, perfil das rochas e a vazão média esperada e necessária para o projeto, visto que o custo da construção é tido como oneroso, e essas informações serão de suma importância para sua aprovação perante o órgão ambiental. Em termos ambientais, Landau, Guimarães e Souza (2014) relacionam que o impacto da captação desenfreada, somadas 55 Capítulo 4 - Potencial Econômico das Águas Subterrâneas para Fins de Utilização Agropecuária no Sul do Estado do Piauí as práticas intensivas de manejo do solo sem responsabilidade podem acarretar perdas significativas no rendimento
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