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As mudanças nos padrões familiares Nesta unidade é feita uma abordagem sobre as mudanças nos modelos de famílias

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As mudanças nos padrões familiares Nesta unidade é feita uma abordagem sobre as mudanças nos modelos de famílias, analisando as concepções de infância e de indisciplina no processo de socialização da criança no Brasil. Destacam-se as influências das transformações na sociedade e, consequentemente, nos padrões familiares, seus reflexos nos comportamentos dos indivíduos, buscando compreender as implicações desses processos na redefinição de infância e de criança na sociedade brasileira, enfatizando, ainda, as atitudes das crianças pequenas no contexto escolar e suas implicações nas relações interpessoais e nas práticas pedagógicas; além de questionar os valores que a família e a escola vêm repassando para a formação dessas crianças, com a finalidade de adequar-se aos padrões exigidos pela sociedade moderna, que transforma o jeito da vida social, antes sem mobilidade social. Para a realização deste estudo, utilizamos as ideias de Del Priore (1991), de Elias (1994), de Renault (2004), de Petrini (2005), que nos orientam para a discussão dessa temática. Esses autores destacam que as transformações nas estruturas sociais, culturais e políticas têm desencadeado modificações no cuidado das famílias com seus filhos; a nova sociedade, pautada no consumismo, tem oportunizado a produção e a interiorização de novos valores. No meio de tudo isso, está a escola. A escola tem resistido aos novos valores e às novas formas de encarar as novas gerações? Essa possível inadequação da escola tem provocado nos alunos ações de desordem? Várias dimensões podem nos fornecer informações a esse respeito, contudo, é no âmbito da família e a partir de suas modificações no decorrer do Figura 10 Fonte: http://www.mulhernegraecia.com.br/quase-80- dos-novos-membros-da-classe-media-sao-negros-dizgoverno/ século XX e início do século XXI que se pode encontrar pistar reveladoras para resposta sobre as ações infanto-juvenis no ambiente escolar. Reestruturação social e da família A sociedade vem passando por grandes modificações, a população está vivenciando a mudança de valores morais, sociais, econômicos, políticos e éticos que transformam diretamente o comportamento e as relações entre os indivíduos. Influenciadas pelo dinamismo das relações sociais, elas sofrem influências do contexto econômico, político e cultural no qual estão inseridas, perdendo os valores e desafiadas com os novos padrões estabelecidos pela sociedade moderna, abrindo um leque de possibilidades na tentativa de acertar. As famílias tradicionais estão perdendo espaço e surge nova concepção familiar na qual os cônjuges não apresentam as mesmas funções da família tradicional e o papel da mulher, que antes era de cuidar da casa e dos filhos, agora ganha outras direções, a mulher moderna, em muitos casos, é quem mantém financeiramente a família. Nesse contexto, antes vista como a protegida, a dona do lar, a mulher ocupa outra posição no seio familiar na sociedade moderna, as suas funções dentro de casa estão se invertendo, além de conquistar cada vez mais espaço no mercado de trabalho. Segundo Petrini (2005, p. 30), A mulher entrou no mundo do trabalho e no âmbito social, aproximando-se de modelos anteriormente masculinos mais de quanto o homem tenha-se envolvido com as tarefas domésticas, podendo notar uma aproximação dele aos papéis tradicionalmente femininos. Figura 11 Fonte: http://washingtonbarbosa.com/tag/multiparentalidade/ Apesar de apresentar algumas resistências por parte daqueles que ainda conservam a tradição – para os quais a figura paterna representa a ordem e a proteção da família –, as mudanças culturais estão fazendo com que eles assumam papéis que antes seriam inaceitáveis aos olhos da sociedade. Com as alterações na sociedade moderna, surge a crise no patriarcalismo compreendido como "[...] enfraquecimento de um modelo de família baseado no estável exercício da autoridade/domínio do homem adulto, seu chefe, sobre a família inteira." (CASTELLS, 2003 apud PETRINI 2005, p. 28), ou seja, a crise do patriarca emerge a partir da interação entre o capitalismo e os movimentos sociais travados pela classe feminista. Pode-se destacar que a figura paterna não está vinculada de forma restrita à figura masculina, ela é um conceito a posteriori, como diz Rosolato (1993, p.274), “[...] um lugar aprés-coup, não um lugar, mas sim uma operação re-significante de todos os outros lugares que vai trazer como consequência uma re-significação de todas as lembranças da história”. Neste sentido, tudo que indica a renúncia à satisfação desmedida, sentimentos de reverência, amor e temor e, que seja depositário das proibições está vinculado à figura paterna, à ordem cultura. A sociedade moderna está numa constante transformação de seus valores e neste contexto a figura paterna, enquanto instauradora da ordem sofre suas adaptações, o que gera conflitos em várias instâncias sociais, entre ela, a família. A desconstrução da figura masculina como sendo a única figura instauradora de ordem leva a uma nova visão de família, porém isto leva a alguns conflitos, um deles é a perda da autoridade, que por sua vez resulta na aparente desestruturação familiar, especialmente em relação à patriarcal. Junto com essas modificações na sociedade moderna, aparecem, no sistema escolar, conflitos entre a família e a escola, tentando entender os comportamentos das crianças, confusos e desordeiros, que atrapalham as relações, a aprendizagem e a ação pedagógica exercida pela escola. Com a desestruturação familiar, a educação e a socialização das crianças são compartilhadas por outras instâncias, não se restringindo aos pais e às escolas. O homem para se adequar às novas exigências da sociedade, do sistema neoliberal, passou a vivenciar um modelo que vem desestruturando o seio familiar e o comportamento dos indivíduos. As famílias estão sem o principal alicerce, a família nuclear (pai, mãe e irmãos). A educação dos filhos não está mais pautada nos ensinamentos dos pais, em que a reprodução e a produção cultural e social começavam no lar, depois aprimorada pela escola. Esse modelo de família dificulta a definição de infância pela sociedade, pois a criança pequena passa a fazer parte de um contexto no qual suas atitudes são adequadas às necessidades do ambiente onde estão imersas para sobreviverem. O reflexo dessas mudanças pode ser visto no aumento da violência dentro e fora das famílias, pois a função que caberia aos pais fica com as crianças ou com outros indivíduos que não apresentam quase ou nenhuma estrutura física ou psicológica para tal função. As famílias e as modificações na vida de crianças e de adolescentes Os noticiários frequentemente apresentam crimes cometidos entre familiares muitas vezes por motivos banais. São filhos matando pais, mães, irmãos, avós, tios (as) etc. Esses acontecimentos estão resvalando nos ambientes escolares, os massacres de pessoas nos centros educacionais é frequente, o bullying, a incivilidade, a indisciplina, dentre outros fenômenos que afetam as relações sociais e o desenvolvimento dos indivíduos. As famílias estão vivenciando uma situação que certamente afeta o comportamento dos filhos e o crescimento dos conflitos na sociedade. A sociedade faz com que os pais fiquem ausentes de seus filhos para saciar as exigências do capitalismo e a própria sobrevivência num ambiente competitivo e manipulador. A desestruturação familiar faz com que muitas crianças sejam abandonadas, criadas por avós, tios, pai e/ou mãe, ou por pessoas sem Figura 12 Fonte: http://imirante.globo.com/brasil/noticias/2015/03/21 /congresso-avanca-em-proposta-que-cria-programade-combate-ao-ibullying-i.shtml nenhum vínculo familiar. Esse cenário em que se encontram as crianças atualmente tem apresentado grandes consequências para as famílias, o sistema escolar e seu próprio desenvolvimento. No panorama escolar, muito se fala sobre o elevado número de reclamações a respeito de alunos que apresentam atitudes que não convêm com os parâmetros educacionais que buscam desenvolvimento intelectual e moraldesejados pela sociedade. Com tantas mudanças na sociedade, a concepção de que a educação começa na família não está tão ativa neste século XXI. A responsabilidade de educar as crianças está voltada para o sistema educacional, acarretando conflito nos relacionamento entre os agentes que formam a comunidade escolar. As famílias são vistas pelas escolas como responsáveis pela reprodução dos atos indisciplinares praticados pelos discentes, que inibem as boas convivências nos espaços educativos, pois os lares não estão oferecendo às crianças ambientes favoráveis para a construção da personalidade e do caráter condizentes com os padrões da sociedade e escola. A função da família na educação das crianças encontra-se em crise, a educação primária, antes destinada a essa instituição, início do processo de socialização do indivíduo, encontra-se fragmentada, dando espaço ao surgimento de novas concepções de famílias, as quais estão influenciando negativamente no processo de desenvolvimento pelos quais as crianças estão imersas, não encontrando os valores éticos e morais antes transmitidos pelos pais e familiares. Dessa forma, o capitalismo, o consumismo, o mercado competitivo e até mesmo a própria sobrevivência contribui para esse novo tipo de família. Para Petrini (2005, p. 31), A falta de modelos familiares universalmente aceitos abre para conquistas irrenunciáveis em termos de qualidade de vida para os casais e para as jovens gerações, mas abrem, simultaneamente, para a ausência de pontos de referência e para experimentação sem limites que, se resolvem problemas típicos da família patriarcal, às vezes, geram novas situações problemáticas, que comprometem a qualidade de vida. Essa ausência da figura paterna dentro dos lares faz com que a educação dos filhos, muitas vezes, seja desestruturada; as obrigações, tanto no quesito bem-estar como educar ficam direcionadas a vários membros da família, a criança, com essas mudanças, está desprovida do papel da família em sua vida, ou seja, a primeira instituição de socialização e de educação, que oferece subsídio para desenvolvimento intelectual, psíquico e moral para a criança, está em crise. Na busca de uma qualidade de vida mais satisfatória, os casais acabam deixando a educação dos filhos a desejar, principalmente na fase em que a família é a instituição mais importante para a construção e o desenvolvimento da sua personalidade. Para Durkheim (1995, p. 24), A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontrem ainda preparados para vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto e pelo meio especial que a criança particularmente se destine. Durkheim salienta o valor da figura adulta nos processos educativos e na formação do caráter do indivíduo na perspectiva de que essa educação esteja voltada aos interesses da sociedade, ou seja, a criança é educada de acordo com os anseios que convêm aos interesses daqueles que dizem ser seus responsáveis. Segundo Petrini (2005, p. 29) A exigência de satisfação no presente colocou em questão o ideal do sacrifício individual para o bem da família. O limite da disponibilidade individual ao sacrifício para o bem do outro ficou mais baixo, sendo mais rapidamente alcançado o ponto de saturação no relacionamento conjugal. A independência econômica dos cônjuges configura uma responsabilidade familiar mais compartilhada e uma posição social igualitária e, ao mesmo tempo, facilita a ruptura do vínculo familiar, quando a convivência não é mais fonte de satisfação e de prazer. Petrini esclarece um dos vários motivos que os pais ou os responsáveis pela manutenção dos lares têm para se ausentar das relações e da educação dos filhos nos primeiros anos de vida, antes de inseri-lo em uma instituição escolar. Essa realidade atinge toda estrutura familiar, interferindo nas relações mais íntimas entre os membros que compõem a família, influenciando o processo socializador das crianças, que se encontra atualmente debilitado pelas variáveis ondas de transformação, visivelmente nos hábitos cotidianos das pessoas. Para Elias (1994, p. 187), [...] à medida que aumenta o controle, a restrição e o ocultamento de ardores e impulsos que são exigidos do indivíduo pela sociedade e, por conseguinte, se torna mais difícil o condicionamento dos jovens, mais a tarefa de instilar os hábitos socialmente requeridos se concentrem na família nuclear, no pai e na mãe. Nas famílias, com a escassez da figura paterna, a primeira educação que seria a base para a definição do caráter da criança fica comprometida, a imagem que até então seria o modelo, ou melhor, tradicionalmente falando, o transmissor de valores éticos e de educação, está ausente, e junto com essa ausência surge outro problema: a falta de autoridade para com as crianças, devido ao desaparecimento da figura masculina na família e das modificações ocorridas nos lares. Com a pluralidade familiar, a questão da autoridade dentro da família e, consequentemente, da escola, fica complexa, a criança não tem mais uma figura que possa "temer", configurando um comportamento que desnorteia as relações sociais e a formação e a transmissão de valores aumentando casos de indisciplina. Ora a criança recebe uma orientação do pai ou da mãe, ora dos avós, dos tios (as), outro, sem nenhum vínculo familiar, interfere ou até mesmo discorda do que foi estabelecido pelos pais, ou seja, a criança não conta com um modelo de família que possa assegurar educação favorável ao seu desenvolvimento. Esse processo que a família está vivenciando reflete-se na educação dos filhos, tanto no meio onde vivem, como na escola, dificultando a aprendizagem, as práticas pedagógicas, gerando desconforto nas relações sociais. Os educadores se queixam do cenário que estão vivenciando, pois são frequentemente desautorizados pelos alunos, pela escola, pela família, deixando-os desapontados com relação à sua profissão. A falta de um alicerce familiar implica no surgimento de atos insatisfatórios às relações sociais, configurando a fragilidade da autoridade e, consequentemente, na transmissão de valores morais, culturais, sociais adquiridos na família. O enfraquecimento da autoridade originou-se a partir das transformações na sociedade com a ascensão do capitalismo, que interfere em algumas instituições com funções relevantes para a formação e a construção da identidade humana. Com a fragilidade da autoridade, educar os filhos está sendo uma tarefa difícil, além de a sociedade não apresentar um modelo de família que possa subsidiar essa educação, a escola, aos poucos, está percebendo essa diversidade familiar nos processos educativos e nas relações com as crianças, reconhecendo que a própria sociedade faz com que essas transformações interfiram no desenvolvimento da aprendizagem desses indivíduos, dificultando o ato de educar as crianças pequenas, processo que apresenta várias questões. Segundo Renault (2004, p. 106) Identificar na dinâmica da igualização das condições, com faz Arendt, o que revolucionou a representação da infância e fez do acto de educar as crianças matéria de interrogações infinitas, é, portanto, seguramente roçar a grande mutação estruturalmente constitutiva das sociedades democráticas. Compreendemos que a educação das crianças tem passado por várias modificações; educar tem se tornado um processo complexo tanto para os pais como para as instituições de ensino, uma dinâmica que, de certo modo, recebe influência da sociedade democrática. As mudanças de atitudes nas relações familiares e escolares fizeram com que as crianças pequenas, no seu processo de desenvolvimento e de civilização, encontrassem nessas relações um ambiente de incertezas traçado pelas exigências da sociedade, fomentando o enfraquecimento do convívio e da transmissão dos valores morais, culturais, sociais, antes garantido pela família e depois pela escola. Nesse sentido, na sociedade moderna, a educaçãoprimária antes garantida pela família está em crise profunda, pois está direcionada apenas para o sistema educacional. Esse por sua vez, responsável pelo aprimoramento dessa fase de educação das crianças. A escola, local de reprodução letrada, de valores e de qualificação para o trabalho, assume a função de socialização para a vida, substituindo a família e a comunidade num papel que vem tomando outras dimensões devido à obsolescência da família como educadora. A comunidade escolar que convive com a realidade, salienta que uma das causas de tal situação é a diversidade familiar. Nesse contexto, a definição da responsabilidade sobre a educação da criança fica pouco confusa gerando descontentamento no ambiente escolar, pois a escola, muitas vezes, afirma que o mau comportamento das crianças é reflexo da falta de limites que a família não estabelece no convívio. A família, a indisciplina na contemporaneidade O debate sobre a situação da família, da infância e da adolescência no Brasil não tem sido fácil, especialmente quando envolve ações de indisciplina no âmbito escolar. No caso das famílias populares, essas nem sempre tiveram possibilidades de ofertar uma educação integral aos seus filhos. No caso das famílias mais abastardas, predominava a excessiva tolerância com as Figura 13 Fonte: http://educacao.uol.com.br/album/2012/05/29/dez-apostaspara-a-redacao-do-enem-2012.htm#fotoNav=4 ações indisciplinares. Para Silva (2010), a sociedade contemporânea tem produzido um contexto de permissividade, relaxamento dos valores e da desinstitucionalização das normas. O aparente controle do corpo possibilita relações sexuais mais livres, o desapego aos valores tradicionais e aos modelos de família. Contudo, essa desestruturação não resulta numa redefinição das práticas sociais. A aparente desordem propicia comportamento inconsequente, sem compromisso e sem que os autores tenham noção de seus efeitos. As escolas e as famílias são tomadas por notícias de alunos e alunas envolvidos com incivilidades, indisciplinas, violências, prostituição, gravidez precoce e evasão. Nesse contexto, família e escola descobrem que outras instâncias estão formatando a mente das crianças e dos adolescentes. Que valores e perspectivas essas novas instâncias estão repassando? Que visão de sociedade, de família e de responsabilidade está sendo construída? Escolas e as famílias são tomadas por notícias de alunos e alunas envolvidos com incivilidades, indisciplinas, violências, prostituição, gravidez precoce e evasão. Nesse contexto, família e escola descobrem que outras instâncias estão formatando a mente das crianças e dos adolescentes. Que valores e perspectivas essas novas instâncias estão repassando? Que visão de sociedade, de família e de responsabilidade está sendo construída? Na tentativa de responder a essas indagações, Silva (2010, p. 61) aponta que mesmo a família prefere dar apoio financeiro à criança do que reforçar seus laços afetivos e os valores morais, diz ela: Cria-se, assim, um ambiente familiar aparentemente harmônico, no qual a função mais importante para os pais é ser um ponto de referência material e financeiro capaz de simular uma afetividade difícil de ser exercida. Constrói-se, dessa Figura 14 http://economia.uol.com.br/empreendedorismo/album/20 14/06/26/10-falsas-verdades-que-podem-leva-lo-afalencia.htm#fotoNav=5 maneira, um cenário doméstico de falsa tranquilidade e insegurança. O “ambiente familiar aparentemente harmônico” encobre os conflitos, tornam invisíveis as tendências morais em jogo na família, as ideias intergeracionais, as dificuldades econômicas e afetivas. O esforço da “autoridade paterna” está em construir uma segurança financeira em detrimento das relações afetivas. A afetividade passa a ser desenvolvida por outras instâncias. A confiança, a camaradagem, a cumplicidade passam a serem estruturados fora da família nuclear e os grupos de amigos, os relacionamentos por meio das mídias sociais, e as relações efêmeras passam a direcionar as ações dos adolescentes e jovens na escola e fora dela. A lembrança familiar para o adolescente e o jovem não significa uma referência para tomada de decisões, ao contrário, volta a casa para se suprir de bens materiais, ocasionando furtos, roubos e, de forma extrema, até roubo seguido de morte. A insegurança é resultado da incapacidade da família de suprir de forma exagerada a vida do adolescente e do jovem forjado na casa sem afetividade e valores; por outro lado, a insegurança gera a angústia, característica da geração contemporânea. As incertezas só aumentam. A modernidade líquida e a escola, que parece não ter bala nem cartucho, parecem se opor quanto às alternativas que apresentam. A modernidade líquida, como diz Bauman (2001), não retira valores sem que coloque substitutos; logo, a sociedade é colocada diante de novos padrões, que se recusam a se identificar como tais. Na segunda modernidade, as ações individuais se entrelaçam em projetos coletivos. Isto acontece numa redistribuição e realocação de poderes. Os indivíduos se negam a escolher um lugar e se adaptar a ele. Desejam a fluidez dos comportamentos, dos padrões e dos valores. A escola ainda não se encontrou no cenário da modernidade líquida. A arquitetura da escola é mesma de há cem anos, os professores desvalorizados tentam reproduzir na sala de aula uma autoridade que não é legitimada pela sociedade e nem reconhecida pelo aluno, a forma de dar aula é desanimadora; ou seja, a escola, como diz Kodato (2011), é desencantadora. O espaço escolar, por não ter respostas aos desafios apresentados pela liquidez social, tem se tornado um “pântano de amargura”, de mau humor, de desesperança, de caras feias e de fracassos. Quanto à família, ela não conseguiu avaliar a troca que a modernidade que fazer em sua estrutura, ela reage. Quando reage, reage mal. Não consegue reconquistar os filhos, reestruturar os laços afetivos, construir uma alternativa. Estamos “no mato com o cachorro correndo atrás de nós”, talvez. Mas se houve caminhos para entrar na floresta existe o de saída. Essa dificuldade não aponta o desânimo, mas os desafios, como diz Kodato (2011, p. 15): “Na labuta para encontrar um lugar ao sol, nessa roda quase viva, os mais desfavorecidos estão munidos com bússolas sem ponteiros, mapas sem pé nem cabeça e com pouca esperança no futuro”. RESUMO Nesta unidade é feita uma abordagem sobre as mudanças nos modelos de famílias, analisando as concepções de infância e de indisciplina no processo de socialização da criança no Brasil. O estudo foi realizado através de leituras bibliográficas que trazem informações sobre as modificações na estrutura familiar, as transformações nas ações infanto-juvenis na escola e as noções sobre incivilidade e indisciplina. A unidade desenvolve sua argumentação focando a fragilidade da figura paterna nas novas configurações de família e as consequências dessa nova configuração para as ações infantojuvenis na escola. No ambiente escolar os fatos relacionados à incivilidade e à indisciplina se sucedem e impactam a gestão e a aprendizagem na escola. Com isso os processos sociais, especialmente o educacional ficam prejudicados e condenam ao insucesso escolar à maioria de seus alunos

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