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Texto Complementar Federalismo: Manifestação e Comparação entre Brasil e Estados Unidos1 Vinícius Pestana² RESUMO O Federalismo no Brasil e nos EUA, análise comparativa. Instituído primeiramente em sua forma mais moderna pela Constituição Federal norte- americana de 1787, respaldada por O Federalista. Objetiva apresentar parte do histórico e as principais características de ambos os Estados. A pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, ensejando revisão da literatura sobre a temática. Compara-se quanto à classificação dos sistemas federativos por relações entre estados, interferência do poder federal, divisão de competências. Conclui-se que apesar de ter como referência o Federalismo norte-americano, a federação brasileira guarda vários pontos divergentes, principalmente no que concerne à centralização do poder e divisão das competências. Palavras-chave: Federalismo; Brasil; Estados Unidos; Competências; Centralização; Poder. 1 INTRODUÇÃO O Federalismo pode ser definido resumidamente como sendo um sistema de governo caracterizado pela união de unidades políticas menores, que gozam de certa autonomia no que se refere à ter sua própria legislação e os dispositivos para a sua aplicação. Este trabalho tem como objetivo situar o Federalismo no âmbito nacional dos Estados Unidos da América e no Brasil, apresentando suas principais características e em última instância, realizar uma análise comparativa entre ambos, explicitando sua evolução no decorrer do tempo, desde sua instituição até os dias atuais, focando-se nas particularidades de cada um dos modelos e 1Artigo apresentado à disciplina Ciências Políticas e Estado, como requisito para a 2ª avaliação ²Aluno do 2º período de Direito Matutino da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) especialmente nos pontos divergentes, como forma de estabelecer a grande diferença existente entre as formas de Estado Federal dos países supracitados. A problemática explorada é a existência de diferenças nas características dos dois sistemas que necessitam esclarecimento, de modo a entender ambos na sua totalidade. A escolha do tema relaciona-se à atualidade do mesmo e à sua relevância no que se refere ao país pioneiro no sistema federalista (EUA) e o outro que o usou como inspiração não como cópia, mas como base da qual derivaram suas próprias características e particularidade. Encontra-se dividido em noções gerais de Federalismo, sua classificação segundo variados critérios, apresentação dos dois Federalismos e por fim, sua comparação. 2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO FEDERALISMO As origens da palavra Federalismo podem ser encontradas no latim faedus, que significa "contrato", e suas formas primitivas remetem ao século XVIII, com os contratos assinados entre as então colônias norte-americanas, e entre as comunidades político-linguísticas francesa e inglesa no Canadá, no século XIX. Em ambos os casos, os contratos foram firmados com o objetivo de fortalecer as defesas e aumentar a resistência contra o domínio europeu na localidade. A essência do federalismo é a relação e articulação que se cria entre as esferas federal e local, a união de comunidades político-jurídicas autônomas que participam e influenciam as decisões do poder central dentro de determinado Estado, o que pode ser associado positivamente a uma ideia democrática no sentido da participação e garantia de interesses não somente da maioria, mas também de grupos minoritários existentes dentro de um contexto social. Pode- se falar então em modos consociativos, que conciliam a vontade da maioria aos interesses de grupos menores. Hans Kelsen, em seu Teoria Geral do Direito e Estado, usa o critério da descentralização para definir o Estado Federal e diferenciá-lo de um Estado Unitário com províncias autônomas. Nessa linha, ele coloca como característica marcante do Estado Federal a certa autonomia constitucional que os Estados- membros possuem, tendo em vista que as Constituições estaduais são produzidas e podem ser modificadas por estatutos e órgãos locais, sofrendo pouca ou praticamente nenhuma interferência por parte do poder central, enquanto que no governo unitário, a norma fundamental dos sistemas jurídicas locais é imposta pela constituição do poder central de modo tal que só haverá alteração na norma fundamental se houver mudança de Constituição. A legislação local está a cargo dos órgãos locais, mas dentro dos limites delimitados pela Constituição. Montesquieu, em O Espírito da Leis, entende a república federativa reúne as vantagens internas próprias de um sistema republicano com a possibilidade de exercício de força externa própria da monarquia, e a conceitua como a "forma de governo é uma convenção segundo a qual vários Corpos políticos consentem em se tomar cidadãos de um Estado maior que pretendem formar. É uma sociedade de sociedades, que formam uma nova sociedade, que pode crescer com novos associados que se unirem a ela." Uma das características mais importantes do sistema federalista é a sua capacidade de promover simultaneamente unidade e diversidade, no sentido de ser o resultado de união de várias partes diferentes e ao mesmo tempo de dar o espaço para a ratificação de valores e interesses de cada uma das citadas partes. Assim, pode-se atestar que o Federalismo é pautado numa ambiguidade, visto que o Estado Federal é geralmente constituído dentro de um contexto de diversidade cultural, linguística e social. Embora as características mais gerais de um sistema federalista tenham sido citadas, não há um consenso em relação à totalidade dos aspectos de um Estado federado, visto que muitos arranjos e configurações distintos de Estados são considerados federações. E, com a finalidade de se adquirir um mínimo de consistência e unidade conceitual, a análise do federalismo é desenvolvida dentro de uma esfera comparativa entre as organizações de Estado unitário e Confederação. O Estado unitário diferencia-se da federação por seu caráter centralizador e ter no poder central a única referência em relação à sociedade, rechaçando a existência de possíveis poderes parciais. Num sistema federado, as partes (Estados-membros) têm poder de influenciar nas decisões de âmbito federal. Um sistema confederado aproxima-se do federalismo em relação à pressuposição de um contrato entre unidades políticas que apresentam objetivos comuns ou semelhantes, e se distanciam quanto a dois pontos : na Confederação, todos os membros têm soberania plena e o órgão comum representa simplesmente a junção da vontade de suas partes, sendo destituído de qualquer autoridade sobre os membros. Já no sistema federalista, os Estados-membros cedem parte de sua soberania ao poder central, que tem poder hierarquicamente superior em diversas ocasiões. O outro ponto diferencial recai sobre a possibilidade de renúncia ao pacto: na confederação, é concedido esse "direito" aos membros, enquanto que na a federação possui caráter indissolúvel. Apesar de sua larga utilização, este método é considerado um pouco limitado, tendo em vista que enrijece os conceitos de cada sistema, não concedendo muito espaço às muitas variações que ocorrem na realidade, gerando a formação de espécies de lacunas conceituais. Como solução, apresenta-se outro critério de definição dos sistemas apresentados: uma espécie de escala que usa como critério as chamadas medidas de center-constraining, que seriam as medidas de limitação ao poder central, e iriam de nenhuma barreira ao exercício do poder pelo centro estatal (Estado Unitário) ao máximo de barreiras a este poder (Confederação). Não definindo limites aos conceitos, este método, proposto por Baldi e Stepan em 1999, permite a inclusão dasdiferentes formas de organização dos Estados. O Federalismo não é uniforme. Existem, como já exposto, várias formas de manifestação e diferentes tipos de federalismo. Usando o critério de origem de sua formação, classifica-se em: Federalismo por Agregação: A federação é estabelecida a partir da vontade de estados independentes politicamente. Como exemplo, tem-se o Federalismo dos EUA; Federalismo por Desagregação: Instituído a partir da descentralização de um Estado Unitário. O Federalismo Brasileiro é um exemplo deste tipo; Utilizando o critério das relações entre os membros da federação, têm-se: Federalismo Dual: A separação de atribuições entre os entes federativos é absolutamente rígida. Não existe cooperação ou interpenetração entre os membros. Como exemplo, o Federalismo norte-americano; Federalismo Cooperativo: As atribuições são exercidas de modo comum ou concorrente, estabelecendo-se uma aproximação entre os entes federativos, que atuarão conjuntamente. Esta é a forma de organização no Estado brasileiro; Utilizando de uma perspectiva mais sociológica, também pode se classificar o Federalismo em: Federalismo Simétrico: Pode-se verificar certa homogeneidade, ainda que não absoluta, de cultura, língua etc, como nos EUA. Federalismo Assimétrico: Provém de de diversidade em cultura, língua e outros aspectos. Como ocorre no Canadá, um país bilíngue, ou na Suíça, que possui quatro grupos étnicos distintos. 3 O FEDERALISMO NORTE-AMERICANO Foi nos EUA em que o Federalismo ocorreu de forma concreta pela primeira vez. O sistema foi instituído pela primeira Constituição Federal norte- americana, que data de 1787. E foi resultado da vontade dos Estados-membros da antiga Confederação, dada a necessidade de fortalecimento do governo central, que em diversas ocasiões nem chegava a ser considerado governo, por não haver condições mínimas de garantir efetivamente sua existência e perpetuação, como observou Hamilton no Federalista n. 15: "Governar subentende o poder de baixar leis. É essencial à ideia de uma lei que ela seja respaldada por uma sanção ou, em outras palavras, uma penalidade ou punição pela desobediência. Se não houver penalidade associada à desobediência, as resoluções ou ordens que pretendem ter força de lei serão, na realidade, nada mais que conselhos ou recomendações." O Federalismo norte-americano, na sua concepção, foi classificado de Agregação (provém de uma confederação), Simétrico (homogeneidade linguística, cultural da população) e Dual (independência de atuação dos estados em relação ao poder central) e fundado em cinco princípios. O primeiro deles é a união de entidades políticas autônomas em torno de um fim comum, como ocorre genericamente nas federações. O segundo princípio é o da divisão dos poderes legislativos entre União e estados através da regra que estabelece o governo federal como sendo de poderes enumerados, ou seja, a Constituição Federal norte-americana define expressamente no texto legal as atribuições que competem à União, sendo reservado aos estados os chamados poderes residuais, os não atribuídos à esfera federal. O terceiro princípio do sistema federalista nos EUA é a autonomia concedida aos estados e ao poder central de atuarem diretamente dentro de suas designações, inclusive sobre indivíduos e propriedades existentes dentro de seu território. A quarta característica essencial do federalismo norte americano é a presença dos mecanismos necessários à imposição e elaboração da lei na totalidade dos estados da federação, os aparelhamentos executivo, legislativo e judiciário; O último princípio estabelece que as decisões tomadas pelo governo federal, dentro de suas atribuições constitucionais, são hierarquicamente superiores à decisões locais sobre a mesma matéria. Embora a criação da Federação nos EUA tenha ocorrido principalmente por necessidade de fortalecimento do poder em esfera federal, sempre foi a intenção dos que instituíram a Constituição conservar a independência e a soberania dos estados-membros, intenção esta reforçada pelo Federalista, que exerceu função importante ao ratificar este caráter da federação americana ao seus futuros, eliminando possíveis inseguranças a respeito de uma centralização excessiva. Este modelo permaneceu durante muito tempo, sob forte influência pela doutrina do laissez-faire (liberalismo político e econômico). No entanto, a partir do século XX, mais funções passaram a ser requisitadas ao Estado pela nova opinião pública formada, como esclarece Robson (1932, p.52 apud SCHWARTZ, 1984, p.30): "Há um século, o estado atuava principalmente como policial, soldado e juiz. Hoje, o estado atua também como médico, enfermeiro, professor, organizador de seguros, construtor de casas, engenheiro sanitário, farmacêutico, controlador ferroviário, fornecedor de gás, água e eletricidade, planejador urbano, distribuidor de pensões, fornecedor de transporte, organizador de hospitais, abridor de estradas e em grande número de outras atividades." Para que o Estado pudesse exercer esta nova gama de funções, seria necessário que houvesse uma intervenção nas esferas social e econômico em escala nacional de forma mais incisiva, que foi dificultada em território norte- americano pela doutrina do Federalismo Dual, que teria de ser abandonada para que se constituísse um Estado mais participativo. A doutrina do laissez-faire, presente durante toda a história política dos EUA tornou-se inutilizável a partir dos acontecimentos decorrentes da grande crise econômica de 1929. Percebe- se então que só seria possível reerguer a economia do país através da intervenção estatal. Tendo isto em vista, o então presidente Roosevelt introduz o conjunto de medidas conhecido como New Deal, e dentro destas medidas, destacou-se a Lei Nacional de Recuperação Industrial, de 1933, que regulamentava toda a economia (produção, comercialização, prestação de serviços), que passaria a ser controlada pelo governo federal, através de "códigos de competição justa" ou mesmo de trato a clientes e oferecimento de garantias aos trabalhadores. Embora as medidas do New Deal tenham sido baixadas em 1933, só a partir de 1937 a Suprema Corte norte-americana passou a diminuir judicialmente as barreiras existentes, no caso, jurisprudências aplicadas à luz do Federalismo Dual, que restringiam a ação federal sobre o poder local. (Num sistema de common law como o americano, a jurisprudência tem força de lei). A diminuição se deu pela revogação de diversas decisões da própria Suprema Corte, tendo como marco do abandono definitivo da visão federalista dual o entendimento da Décima Emenda à Constituição como "truísmo" e que não requer mais a completa independência das esferas local e federal, e que a autoridade dos estados serviria para limitar a área de ação do poder central. Estes acontecimentos foram essenciais para a formação do chamado "Novo Federalismo" norte-americano, caracterizado por uma mudança no equilíbrio do poder, sendo este cada vez maior em Washington, através principalmente de sua função de bolsa, a qual exerce por meio de subvenções condicionais cedidas aos estados. Esta nova tendência do federalismo norte- americano, um poder mais centralizado e aumento na responsabilidade do governo federal, foi ratificada por diversas decisões da Suprema Corte. 4 O FEDERALISMO BRASILEIRO Durante o período colonial, o Brasil foi dividido administrativamente em capitanias, que foram transformadas em províncias em 1821. Após a proclamação independência, a Constituição de 1824 manteve as mesmas divisas entre as províncias e não alterou os seus poderes. De fato, a Carta de 1824 previa que os governos das Províncias seriam presididos por pessoas nomeadas pelo Imperador e que todo cidadão tinha o direito de intervir nos negócios da sua localidade, nasCâmaras dos Distritos (órgão econômico) e no Conselho Geral da Província (órgão político). Em 1831, com a abdicação de D. Pedro I, a movimentação pela maior descentralização e a criação de um regime que desse mais independência às províncias ganhou força, até que em 1834, por intermédio de Ato Adicional, foi aprovada a Lei n.º 16, de 12/8/1834, que emendou a Constituição do Império para criar uma Monarquia representativa. Adaptando princípios federalistas, os Conselhos Gerais das Províncias foram substituídas por Assembleias Legislativas. Essa mudança aumentou a descentralização do Estado brasileiro, garantindo às Províncias funções executivas e legislativas. Com a Proclamação da República em 1889, os movimentos contrários à política do governo imperial foram definitivamente vitoriosos. O Governo Provisório expediu o Decreto nº 1, de 15/11/1889, instituindo a federação, transformando as antigas Províncias em Estados-membros e criando os "Estados Unidos do Brazil", em seus artigos 6º e 7º. Posteriormente, a Constituição de 1891 trouxe no art. 1º a República Federativa como forma de governo e a regra da união perpétua e indissolúvel dos Estados membros. Também instituiu o patrimônio de cada unidade federativa e adotou na divisão constitucional de competências a técnica de poderes enumerados. Os poderes dos Estados membros em matéria tributária foram fixados na Constituição, porém permitiu-se aos entes no art. 65 exercer "todo e qualquer poder, ou direito que lhes não for negado por clausula expressa ou implicitamente contida nas clausulas expressas da Constituição" . Nos anos 30, durante o período Vargas, promoveu-se a volta do centralismo, com a restrição da autonomia administrativa e política dos Estados membros. O Decreto n.º 19.398, de 11/11/1930, dissolveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais, cassou os mandatos de todos os Governadores e Prefeitos e nomeou interventores em cada Estado. O Decreto também atribuiu aos Interventores Estaduais a competência de nomear os Interventores Municipais. Dos atos dos Interventores Estaduais só cabia recurso ao Presidente da República. Outorgada pelo mesmo Vargas, a Constituição de 1937 manteve no art. 21 a competência remanescente dos Estados membros e ampliou as hipóteses de intervenção da União nos entes federados. Havia, também, um dispositivo que previa a transformação do Estado em território da União se não fosse capaz de arrecadar receita suficiente para manutenção dos seus serviços. A Constituição de 1946 devolveu formalmente a autonomia administrativa e política aos Estados membros. Isso, no entanto, foi novamente afetado pelo Golpe Militar de 1964. A Constituição de 1967/1969 construiu um federalismo ilusório, pois a União sofreu umas espécie de hipertrofia, concentrando praticamente todas as competências. A Constituição de 1988 objetivou resgatar o princípio federalista e formou um sistema de divisão de competências que refazer o equilíbrio das relações entre o poder central e o poder local. No entanto, simultaneamente tentando resgatar o princípio federalista, a Constituição centralizou boa parte das atribuições, o que se observa nos artigos 21 e 22. Além disso, o art. 25 concedeu aos Estados o direito de se organizarem em torno de sua própria Constituição, desde que não conflitante com a Constituição Federal. A Constituição de 1988 tem como objetivo tornar o Brasil, juridicamente, uma República Federativa. A primeira providência jurídica nessa direção é a seguinte: a União, no Brasil, é um componente do Estado Federal (uma abstração dentro da teoria clássica do Federalismo). A Federação é estabelecida por força da Lei. A história da Federação brasileira é particularmente única no contexto do federalismo internacional. O Federalismo Brasileiro pode ser classificado como de Desagregação, por ser produto de um Estado primeiramente unitário, com posterior descentralização e concessão de autonomia ao Estados. Também é enquadrado como um federalismo cooperativo, no qual as unidades políticas trabalham em conjunto e não em esferas essencialmente particulares. Também é considerado um Federalismo assimétrico, dada a grande diversidade cultural e miscigenação do povo brasileiro. Por fim, o sistema federal brasileiro é caracterizado por sua grande centralização em torno do poder federal, que controla boa parte das atribuições dentro do território nacional. 5 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O FEDERALISMO BRASILEIRO E NORTE-AMERICANO O Federalismo brasileiro, apesar de inspirado no norte-americano, guarda com este substanciais diferenças, começando com a origem. A República Federativa norte-americana foi constituída a partir da união de unidades políticas plenamente soberanas,que, com o objetivo de fortificar politicamente as antigas colônias inglesas, decidiram unir-se. No Brasil, o Estado federado foi estabelecido sob o alicerce do antigo Império, ou seja, um governo unitário que foi posteriormente descentralizado. Tal distinção histórica teve consequências importantes. A federação norte-americana surgiu de um consenso entre entidades políticas plenamente construídas, de modo que seus quadros tanto políticos quanto jurídicos foram desenvolvidos de forma autônoma, enquanto que no Brasil o inverso ocorreu, permaneceu a unidade do Direito não constitucional. Esta consequência explica por que o federalismo norte-americano desenvolveu-se sem afetar a estrutura jurídica de cada Estado, isto é, conservaram-se as mais importantes características de organização de cada um deles. O exemplo emblemático é o do estado da Louisiana, que era regida por um código aos moldes do civil law euroupeu (no caso, o Código Napoleônico), enquanto os demais mantiveram a estruturação jurídica do common law, que tem como fonte primeira os costumes, não a Lei. Daí a diversidade observada na adoção de certos posicionamentos, como a institucionalização da pena de morte, que ocorre apenas em parte dos Estados norte-americanos. No Brasil, de forma oposta, as disposições do poder local continuaram sendo as mesmas em todo o País, houve homogeneidade na legislação de cada Estado, as mesmas do período colonial, por exemplo o Código Filipino, que foi mantido em vigência, bem como as atribuições imperiais. O federalismo brasileiro neste ponto pode ser considerado como apenas político- constitucional, ou seja, não aconteceu de fato. Com isso, a experiência federalista brasileira foi extremamente prejudicada, ficando restrita basicamente ao plano da cidadania e do regime político, de modo que a organização praticamente permaneceu como sendo de um Estado unitário, com uma pequena autonomia constitucional concedida aos Estados. Como exemplo, a promulgação do Código Comercial de 1850, promulgado nacionalmente. Outra diferença, talvez a mais relevante, entre os sistemas brasileiro e norte-americano reside na relação entre os Estados-membros da federação e o poder central. Nos EUA, a relação é bem menor, visto que cada Estado atua de forma autônoma e participa das decisões a nível nacional de forma distinta, dada a herança do Federalismo Dual e o laissez-faire, que por muito tempo predominaram na mentalidade norte-americana e nas decisões. No Brasil, pode- se falar em Federalismo de Cooperação, ou seja, os Estados possuem uma maior tendência a atuarem em conjunto, formando espécies de colegiados quando se trata de decisões a nível federal. A organização política do território brasileiros também em regiões contribui para a existência deste fenômeno. Embora o Federalismo Dual tenha entrado em declínio e o poder nos EUA tenha sofrido maior centralização, ainda é possível perceber maior independência dos estados em relação à esfera federal quando comparado ao Brasil. 5 CONCLUSÃO Embora oFederalismo possua características gerais relativas a praticamente todos os Estados que adotam este tipo de organização, é importante ressaltar que cada um destes Estados apresenta peculiaridades, seja pelas especificidades culturais, sociológicas, históricas ou geográficas que apresentam. No caso específico, a história de colonização nos EUA e no Brasil influenciou no nascimento de seus respectivos federalismos, os ingleses na América do Norte com suas colônias de povoamento e Portugueses no Brasil com a forma de colônias de exploração, que foram determinantes na forma com que se desenvolveu o Federalismo nestas localidades. Os americanos foram pioneiros na instituição do Estado Federal como forma de organização, e por isso, foram modelo adotado em praticamente todo o mundo, inclusive no Brasil. Contudo, a prática desenvolvida no país durante o período colonial, como colônia de exploração, alvo de intensa fiscalização e tributação por parte da metrópole. Mesmo depois da independência, não se chegou a ter autonomia política e uma experiência mais liberal e inovadora não foi possível. O Brasil foi progredindo pouco a pouco, até que se instituiu a República Federativa, em 1889, inspirada no modelo norte-americano. Mas como apresentado, desenvolveu-se de maneira diferenciada em relação ao americano, quase que de forma oposta. Começando de forma centralizada, com poucas competências restando aos Estados-membros. Os EUA seguiram a linha diametralmente oposta até a crise econômica de 1929, de onde partiram para uma forma mais centralizada, com um poder federal mais forte com base no conjunto de medidas instituídas pelo New Deal. É possível afirmar que o Federalismo brasileiro já guardou mais diferenças com relação ao norte-americano, mas no que diz respeito à atribuições, o Estado brasileiro se encarrega de mais funções que o norte-americano, no qual é concedida maior autonomia às partes. Tendo em vista o que foi explorado, Miguel Reale afirma : Isto posto, que é que, na realidade, recebemos plenamente dos Estados Unidos da América? Foi a forma de governo, o presidencialismo, invenção com que os norte-americanos inovaram criadoramente na teoria do “sistema de poder”, superando o parlamentarismo até então dominante nos domínios do Direito Constitucional[...] (REALE, 2005.) Federalism: Appearance and Comparison Between Brazil and United States of America ABSTRACT The Federalism in Brazil and United States of America, comparative analysis. First established in its modern form by the 1787's Federal Constitution, supported by The Federalist. Objectifies to present part of the history and main technical features in both countries. The research is characterized as bibliographic, meaning literature review about the subject. The comparison is made in terms of interstate relations, central powers' interference, assignments division. The conclusion made is although Brazilian federalism is inspired by the American form, there are several divergent points between both of them, especially when it comes to centralization e assignments division. Key Words: Federalism ; Brazil; United States; Assignments; Centralization; Power. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em:14 fev 2013. KELSEN, Hans. Teoria Geral do Estado e do Direito. Tradução Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 637p. MONTESQUIEU, Charles de. O Espírito das Leis. Tradução Cristina Murachco. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 896 p. REALE, Miguel. O Nosso Federalismo. [S.l.:s.n.]. 2005. Disponível em: <http://www.miguelreale.com.br/artigos/nosfed.htm>. Acesso em 14 fev 2013 ROCHA, Carlos Vasconcelos.Federalismo: Dilemas de uma Definição Conceitual. 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