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FEDERALISMO

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Juliana Moura de Oliveira -008237
FDCI – Matutino 1° Período
O modelo Estado Federal é conceituado como uma aliança ou união de Estados. A própria palavra (FEDERAÇÃO) quer dizer pacto, aliança. Montesquieu, em seu clássico “O Espírito das Leis”, escreveu que a república federativa é uma forma de constituição que possui todas as vantagens internas do governo republicano e a força externa da monarquia. Segundo o filósofo, essa “forma de governo é uma convenção segundo a qual vários corpos políticos consentem em se tomar cidadãos de um Estado maior que pretendem formar. É uma sociedade de sociedades, que formam uma nova sociedade, que pode crescer com novos associados que se unirem a ela.”  
Ao conceituar a federação, Kelsen escreveu que apenas o grau de descentralização diferencia um Estado unitário dividido em províncias autônomas de um Estado federal. Segundo o ilustre doutrinador, o Estado federal caracteriza-se pelo fato de o Estado componente possuir certa medida de autonomia constitucional. O órgão legislativo de cada Estado componente tem competência em matérias referentes a constituição dessa comunidade, de modo que modificações nas constituições destes Estados podem ser efetuadas por estatutos dos próprios Estados componentes. 
Conforme Dallari, o Estado Federal nasceu com a Constituição dos EUA, em 1787, quando as treze colônias se uniram em um só país para fazer frente às metrópoles da época. Muito embora a Confederação Helvética tenha sido formada em 1291, permaneceu restrita quanto aos objetivos e ao relacionamento entre os participantes até o ano de 1848, quando a Suíça se organizou como Estado Federal.
No Brasil, o processo de formação do sistema federalista se deu de maneira diferente do norte-americano. O sistema brasileiro foi uma resposta do Governo Central aos anseios das classes dominantes regionais brasileiras, que encontravam na centralização da monarquia um entrave ao desenvolvimento de suas atividades. O federalismo brasileiro partiu de um Estado unitário com grande centralização para um modelo descentralizado de poder, ocorreu o repasse de enorme autonomia aos Estados-Membros, que passaram a exercer autogoverno em detrimento da interdependência entre os mesmos. Assim, ocorreu forte assimetria entre os estados federados, existindo estados, como São Paulo, por exemplo, que possuía poderes e riquezas muito superior às demais unidades federativas.  Nesse sentido, o nosso federalismo, em sua fase inicial, mostrou-se assimétrico, marcado por fartes diferenças hierárquicas entre os entes.
Outro ponto que podemos destacar é que a federação brasileira adquiriu certa peculiaridade ao apresentar três esferas de governo que seriam a União, os Estados e os Municípios, mas autores como José Afonso da Silva questionam se o município foi, de fato, elevado à categoria de ente federativo. O art. 18 da Constituição da República apresenta o município como parte integrante da organização política administrativa da República Federativa do Brasil ao lado da União, dos Estados e do Distrito Federal, sendo todos dotados de autonomia. Embora, no que toca ao desenho institucional, os Municípios não apresentam Poder Judiciário, existia apenas em nível federal e estadual. Sendo o Estado brasileiro uma Federação, teremos então a existência de diferentes níveis de poder Federal, Estadual e Municipal, com suas respectivas estruturas que devem conviver de forma harmônica como estabelece o princípio federativo e à luz do princípio da separação de poderes. O Estado Federal é caracterizado, na sua versão clássica, que ainda hoje corresponde à regra geral em muitos países, pela superposição de ordens jurídicas, designadamente, a federal, representada pela União, e a federada, representada pelos Estados-membros, cujas respectivas esferas de atuação são determinadas pelos critérios de repartição de competências estabelecidos constitucionalmente, que atuam também como limitação do poder. Trata-se do chamado Federalismo Cooperativo.
Cumpre destacar também, que o modelo de repartição de competência predominante no ordenamento brasileiro é o modelo horizontal, segundo o qual não se verifica concorrência entre os entes federativos. Cada qual exerce sua atribuição nos limites fixados pela Constituição e sem relação de subordinação, nem mesmo hierárquica.
A federação americana derivou da independência das 13 ex-colônias inglesas que se fundiram dando origem aos Estados Unidos da América. Com a fusão formularam a Constituição Federal, impondo a superioridade de União, em face da Constituição dos Estados. Para ocorrer a unificação cada Estado-membro abriu mão de uma parcela de seu poder repassando para União. Assim, a União detinha uma esfera de poder e representava a coletividade dos Estados Federados, o sistema de governo adotado foi o representativo republicano, o bicameralismo, estabelecia a supremacia da Constituição Federal, a separação de poderes, talvez, o mais importante, prescrevia sobre a Declaração de Direitos (Bill of Rights). Cabendo a Corte Suprema a interpretação da competência do poder federal. 
O desenvolvimento do federalismo nos Estados Unidos partiu de um desafio de “proporcionar um governo efetivo e operoso ao tão vasto território norte americano e ao mesmo tempo, manter o republicanismo que acabara de ser conquistado pela Guerra Revolucionária”. Em linhas gerais, desejava-se um governo nacional suficientemente forte para exercer certos poderes gerais, mas não tão poderoso que pudesse ameaçar as liberdades individuais. Nessa situação, a solução federativa idealizada pelos convencionais da Filadélfia (cidade do amor fraternal) mostrou-se eficaz no afastar dos temores do autoritarismo e em proporcionar eficiência às instituições do governo. Partindo para uma análise comparativa com a Federação brasileira, embora tenha se originado de processo de formação diverso, fruto que foi da descentralização política de um Estado unitário, a Federação brasileira plasmou-se à imagem e semelhança da matriz norte americana. Em ordem cronológica praticamente coincidente com a norte americana, transmudou-se em cooperativo nosso federalismo, basicamente a partir da Constituição de 1934. De um lado, devido às iniciativas dos próprios Estados, sobretudo os mais pobres por apelo à União, dado que não conseguiam prover suas necessidades e, de outro, em razão da ascendência do intervencionismo estatal, como era da época, principalmente no plano econômico e com as respectivas restrições nas competências estaduais. Ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, contudo, onde o equilíbrio federativo nunca chegou a se romper, a experiência brasileira após a Constituição de 1967 e até 1988 apresentou quase o Estado unitário redivivo, apesar de mantido nominalmente o regime federativo. Apresentou-se nessa Constituição um rol significativo de competências para a União que lhe permitisse amplamente condicionar, planejar, dirigir e controlar a atuação dos Estados, ensejando inclusive a adaptação de Constituições estaduais. Em outros aspectos, destaca-se a questão de que, na partilha de rendas, ficou-se o dever aos Estados de arrecadar recursos tributários que lhes permitam efetivamente prover as suas necessidades persistindo de quebra a obrigação de partilharem com os Municípios percentual de arrecadação de imposto maior que a receita lhes propicia. Além disso, sobre a criação de novos Estados, por divisão ou fusão dos Estados existentes, não são estes chamados a opinar.
Podemos concluir, que o federalismo brasileiro carrega fortes raízes históricas de sua origem e de seu nascimento no país, dando relevância a grande regionalização derivante das divisões das capitanias hereditárias, bem como a centralização velada dentro da federação brasileira, também com gênese no período colonial. Dessa forma, é inegável a necessidade de uma reforma e aplicação de políticas que visem, novamente, a descentralização do poder brasileiro, garantindo que os direitos e deveres dos cidadãos sejam aplicados de acordo com sua realidade, visando oprincípio da equidade, sem deixar grande parte do comando nas mãos da União, que se baseia na figura de um “homem médio” que não corresponde, de fato, ao cotidiano brasileiro, especialmente fora da região metropolitana do Sudeste. Assim, com a crescente descentralização, confiando mais poderes nas mãos dos governantes de estados e municípios é esperada a maior aplicabilidade de métodos garantistas e investimentos de capitais de acordo com a real necessidade de cada local, de maneira pontual. Aos pontuarmos o federalismo nos EUA não surgiu como no Brasil, naquele país a federação teve origem centrífuga, pois garantiu a maioria das competências dos Estados. As colônias britânicas aliaram-se, declararam-se independentes e celebraram entre si um tratado internacional, em 1777, criando uma Confederação e União Perpétua para preservar a independência reservada aos Estados tudo o que não fosse expressamente outorgado aos Estados Unidos. É claro que o sistema norte americano, embora referencial, não é pleno. Mais as mudanças sociais e culturais especialmente no âmbito da globalização, desafiam o Federalismo Estadunidense e mais ainda todos os outros. No Brasil, os obstáculos são ainda maiores na proporção das grandes desigualdades entre os Entes Federados. Se não há uma resposta definitiva, é certo que se pode continuar acreditando na “criatividade” do modelo, sem nos esquecermos da experiência adquirida, de que o sucesso do sistema depende da segurança jurídica entre os polos Federal e Federados.

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