Buscar

Texto Aula ORGANIZACAO DO ESTADO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
1. HISTÓRIA DO FEDERALISMO BRASILEIRO
1.1. Federalismo durante o Brasil Império
A história do Federalismo brasileiro remonta o período das Capitanias hereditárias da época colonial, em que a Coroa Portuguesa, para fins de colonização dividiu o território e fez a doação das terras. Destas Capitanias, em maior ou menor medida, derivaram as Províncias do Império que vieram a ser os Estados da República Federal. Traçando um paralelo entre as Capitanias brasileiras e as colônias da América do Norte, observa-se que aquelas em nada se assemelham a estas, que se constituíam em “núcleos sociais homogêneos e compactos de famílias escapadas da Inglaterra que fizeram da América uma opção de permanência e definitividade – a não volta, a nova pátria”. As Capitanias do Brasil Colônia não eram divisões sócio-políticas, mas apenas geográficas que não assumiram uma identidade.
No período do Reino Unido (1815-1822), as Capitanias foram elevadas à categoria de Províncias, organizando-se a seguir o Império brasileiro inicialmente em dezoito Províncias sendo posteriormente organizadas mais duas, chegando ao número de vinte. O Império, não obstante a existência das Províncias, era politicamente um Estado Unitário, sendo que todos os habitantes do território nacional estavam na dependência do Poder Centralizado na Capital do Império e em especial na figura do Imperador.
Em 1831 o Partido Liberal apresentara projeto à Câmara dos Deputados convertendo o governo do Brasil em monarquia federativa. Em sessão na Câmara dos Deputados de 14 de setembro de 1885, Joaquim Nabuco, na tentativa de salvar a Monarquia já agonizante, apresentou projeto convertendo o Império em Federação. Por ocasião do Congresso do Partido Liberal, reunido na Capital do Império em maio de 1889, Rui Barbosa apresentou, em voto em separado, a proposta federativa, que não logrou aprovação.
Às Províncias durante o Império restou apenas o Ato Adicional de 12 de agosto de 1834, que lhes garantiu alguma autonomia, como poderes mais amplos para as Assembleias Provinciais, abrangendo a instrução primária, a polícia e a economia Municipal, a fixação da força policial, o levantamento de empréstimos, o processo dos magistrados, a divisão civil, eclesiástica e judiciária, bem como a suspensão dos Presidentes das Províncias. No entanto, a estrutura da organização política brasileira, que dentre diversos dispositivos limitava em muito a autonomia das Províncias, como a nomeação pelo Imperador dos Presidentes das Províncias (art. 165) e a dependência financeira das Províncias para com o governo central (art. 15, X e 36, I), aliada a Lei de Interpretação de 12 de Maio de 1840, que restringiu significativamente as possibilidades do Ato Adicional, acabaram por fazer da alteração constitucional uma mudança com nenhum significado prático.
 (
1
)
Assis Brasil, em trabalho de inquestionável valor histórico intitulado A República Federal, publicado em São Paulo em 1885 com o apoio dos correligionários do Partido Republicano, assim se manifestou sobre o Ato Adicional de 1834: “A organização provincial criada pelo acto addicional continha uns leves tons de simples descentralização; tanto bastou para alarmar o poder monárquico, que só pode viver a gosto quando tem por si a mais ferrenha pressão centralizadora. O ato adicional foi interpretado, ou antes, desnaturado por uma lei ordinária. A índole da monarquia ficou descoberta a plena luz. O que poderemos nós esperar dela?” . Ainda segundo o mesmo autor, “destas anormalidades tem resultado que, dependendo todas as províncias do centro, do qual lhes vem todo o quase nulo impulso que recebem, estando todas para com o centro em posição de verdadeiras pedintes, umas hão de ser forçosamente melhor aquinhoadas do que outras, conforme lhes forem mais ou menos simpáticos os indivíduos que ocuparem o poder”.
Nas palavras de Felisbelo Freire, “quando o depauperamento chegou ao extremo de despertar o espírito de resistência contra a absorção do centro em nome desses interesses tão mal amparados pelo legislador da carta de 24 de março, o liberalismo nacional procurou corrigi-la com o Ato Adicional, criando as Assembleias Provinciais e investindo-as de largas atribuições que as habilitassem a promover o desenvolvimento moral e material das Províncias, essa tentativa não tardou a ser anulada por uma nova coligação das forças conservadoras. Para resistir à conquista da autonomia local recorreram à necessidade da interpretação do Ato Adicional, que ficou mutilado pelo modo por que foi executado na prática”. Ainda segundo o autor sergipano, a ausência da autonomia financeira das Províncias era a “mais formal proibição de um regime econômico provincial”, pois “competia ao Poder Legislativo central o direito de fixar anualmente as despesas públicas gerais e provinciais, e de repartir a contribuição direta, cabendo exclusivamente à Câmara dos Deputados a iniciativa sobre impostos. Estes dois artigos importavam a mais formal proibição de um regime econômico provincial, no qual as grandes circunscrições territoriais do Império promovessem o desenvolvimento do seu estado econômico, e, portanto, a mais formal proibição de sua fecunda e inapreciável cooperação para o desenvolvimento da riqueza e prosperidade dos seus habitantes e do País. Desta sorte ficava o governo central exclusivamente incumbido da missão, praticamente inexequível, de dirigir economicamente o País inteiro”.
O centralismo do Poder Monárquico foi, sem dúvida, uma grande arma utilizada para o seu fim. As dimensões do País, que além de geograficamente diferente já possuía uma diversidade cultural, colocavam na ordem do dia a autonomia política das Províncias.
1.2. A República Federal
1.2.1. A República Velha
Felisbelo Freire, em obra datada de janeiro de 1894 e cujo testemunho para análise do início da República no Brasil é de inquestionável valor, elenca três causas do advento republicano:
econômicas, políticas e sociais. Dentre as três, interessa ao estudo que aqui se realiza as causas políticas, que compreendem a centralização política e administrativa, o parlamentarismo, o regime eleitoral e o governo pessoal do soberano.
A forma federativa de Estado, considerada o melhor antídoto contra a centralização promovida pelo Império, como já foi mencionado, encontrou um primeiro sustento no Partido Liberal, que em 1831 apresentara projeto à Câmara dos Deputados convertendo o governo do Brasil em monarquia federativa. Tal tentativa, no entanto, não logrou êxito em sua plenitude, pois redundou no Ato Adicional de 1834, acima já analisado. Durante a segunda fase do Segundo Reinado (1850-1870), o progresso econômico nacional deu certa estabilidade à Monarquia, que pôde afastar a questão federal do debate político. No entanto, esse mesmo progresso econômico que culminou pela formação de centros urbanos, acabou por propagar ideias progressistas, como o abolicionismo, a república, as reformas do processo eleitoral, que passaram a ter adeptos e defensores. A partir de 1870 a questão federal entra no debate público.
Com o Manifesto Republicano é atacado o Poder Moderador e enaltecida a ideia federativa, como única alternativa viável ao Brasil. Neste sentido, assim se manifesta Assis Brasil sobre a necessidade da forma federativa de Estado para o Brasil: “No Brasil antes ainda da ideia democrática, encarregou-se a natureza de estabelecer o princípio federativo. Tais são as palavras com que inicia este assunto o Manifesto Republicano de 03 de Dezembro de 1870.” Continua ainda o autor: “Estendido por várias e dilatadas zonas, onde se encontram todos os graus de temperatura, desde as ardentias equatoriais africanas até o clima frio do meio dia da Europa; cortados por grandes e inúmeros rios, que fertilizam vales diversos no clima e nas produções; atravessado por numerosas cadeias de montanhas que influem sobre a fertilidade do solo, divisas naturais para os homens e para os produtos da natureza oferecendo em todos os seus pontos prodigioso resultado ao trabalhohumano, e, por consequência, sólidas garantias de independência econômica aos habitantes de qualquer das suas vastíssimas regiões: - o nosso País está como a grande República de Washington, mais do que nenhum outro do mundo, disposto pela ação única da natureza para receber e desenvolver esplendidamente as fecundas instituições da república federal”.
Pelo Decreto do Governo Provisório nº 1, de 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República do Brasil através da reunião pelo laço da federação das Províncias, constituindo os Estados Unidos do Brasil. A República, como a regra da história política nacional, se fez sem a participação popular, foi um movimento militar, de modo que a alteração na forma de Estado não representou substancial alternância quanto aos elementos sociais que indicavam a formação do País naquela época. Mudou-se a forma, mas a substância permaneceu a mesma. Escreve Maria Garcia que “o aparecimento no palco, sem nenhum constrangimento, de velhos titulares da Monarquia, indicava que não havia nenhuma incompatibilidade profunda entre esses velhos quadros e o que representavam, com a nova ordem política”.
Realizadas as eleições em 15 de setembro de 1890, reuniu-se a Constituinte e em 24 de fevereiro de 1891 foi promulgada a Constituição Republicana do Brasil. A Constituição de 1891 modificou
a redação da Constituição Imperial, ao dispor no art. 1º que a nação brasileira constitui-se, por união perpétua e indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil. Entra no cenário político brasileiro o federalismo.
Segundo Rui Barbosa, a federação é o “governo da Província pela Província, num País onde a legalidade proclama o Governo da nação pela nação”. Comentando a Constituição de 1891, João Barbalho escreve que no sistema federativo pátrio “existem duas qualidades de Governo no mesmo território – o Governo Nacional e – Governo Estadual: há o povo nacional e o de cada Estado; o cidadão está sujeito a duas normas soberanas, às leis federais e as dos Estados, assim como a duas ordens de autoridades que entre si não tem subordinação hierárquica – de um lado ao Chefe, Congresso, Justiça e autoridades da nação, e de outro a autoridades do Estado particular que pertencer”.
É recepcionado na primeira Constituição Brasileira o princípio do federalismo dual de inspiração norte americana, de claro delineamento liberal, que fortalecido pela jurisprudência da Suprema Corte, era a estrutura do Poder na grande República da América do Norte.
Ainda sobre o texto da Constituição de 1891, o art. 5º dispunha: “Incumbe a cada Estado prover, a expensas próprias, as necessidades de seu governo e administração; a União, porém, prestará socorros ao Estado que, em caso de calamidade pública, os solicitar”. João Barbalho, comentando o referido artigo e ratificando a doutrina do federalismo dual, escreve que o auxílio é de ser confiado ao governo local para administrá-lo. “Ao governo federal compete apenas tomar as providências dentro de sua esfera, concomitante com os da administração regional. Tomar a seu cargo um dos serviços locais é intervir em negócio peculiar ao Estado e isto a Constituição formalmente proíbe”.
Uma análise crítica da autonomia conferida as Províncias com a Constituição de 1891, no entanto, irá indicar que ela nada mais foi do que “postiça, estranha, não mantida – porque não preexistente, não conquistada”. Essa realidade que marcou o início do federalismo no Brasil, advento de um movimento das elites, veio trazer ao regime características que Amaro Cavalcanti já indicava em livro publicado dez anos após a promulgação da República (1899): “Instituído o novo regime, tendo, muito embora, como uma das suas qualidades excelentes, a temporariedade dos cargos ou o revezamento dos representantes do poder público, – o que se viu logo na prática foi, – que, em muitos Estados da União, uma família ou grupo procurou habilmente monopolizar todas as posições e proventos da pública administração, constituindo-se em verdadeiras oligarquias; e daí, em vez da igualdade do direito de todos e para todos, proclamado com a República, começou-se a ensaiar o mais ferrenho exclusivismo.” Continua o Autor: “Surdos às vozes do patriotismo, e infiéis à verdade das instituições, os que, uma vez, se apossaram do governo, atenderam, de preferência, ao que lhes podia assegurar a sua continuação e os gozos do mesmo provenientes, pondo em segundo plano os legítimos interesses da justiça e do bem público”.
Segundo José Afonso da Silva, “o sistema constitucional implantado enfraquecera o poder central e reacendera os poderes regionais e locais, adormecidos sob o guante do mecanismo unitário e
centralizador do Império. O Governo Federal não seria capaz de suster-se, se não se escorasse nos poderes estaduais”. Estava instalada a “política dos Governadores” que dominou a Primeira República, representada por uma política de alianças em que uma pequena minoria deliberava no plano	federal	e	outra	no	plano	estadual,	imprimindo	uma	interpretação	própria	ao presidencialismo, com o desprezo dos partidos. O poder dos governadores, por sua vez, sustentava-se no coronelismo, a estrutura de poder em que o coronel é aquele que protege, socorre, homizia e sustenta materialmente os seus agregados exigindo deles, em troca, a vida, a obediência e a fidelidade.
Desta forma, a Primeira República brasileira (1889-1930) caracterizou-se pelos elementos acima descritos, com o regime federativo totalmente submisso aos interesses regionais das famílias, dos caciques políticos, que adentraram ao espaço do Estado e fizeram dele um espaço particular, na melhor tradição do patrimonialismo.
1.2.2. A Revolução de 1930 e o Federalismo da Constituição de 1934
Historicamente a política clientelista da Primeira República é rompida com a Revolução de 30, que ao derrubar a política café com leite, ou seja, a hegemonia Paulista e Mineira no comando da política nacional, imprimiu um novo rumo ao Brasil. A Revolução de 30 foi o primeiro movimento revolucionário brasileiro que partiu da periferia para o centro, pois a inconformidade com o resultado das eleições realizadas em 01 de março de 1930 fez irromper a revolução em Porto Alegre e logo depois no Norte do País. Após um período de transição instável, marcado principalmente pela Revolução Constitucionalista de 1932, o Brasil promulga, em 16 de julho de 1934, a sua nova Constituição.
Sobre esse período é significativo o Parecer elaborado por Hans Kelsen acerca da competência da Assembleia Nacional Constituinte de 1933/34. Foram elaborados cinco quesitos que o Professor de Viena respondeu fazendo uma ressalva inicial de que respondia “não do ponto de vista político ou de direito natural, mas exclusiva e unicamente do ponto de vista do direito positivo”.
Os quesitos versaram, em geral, sobre a existência do direito do Governo Provisório, como governo de fato, de impor um Regimento à Assembleia Nacional Constituinte; se essa imposição não representava uma ofensa a soberania da Constituinte; e se o regimento vincularia a Assembleia Constituinte. Kelsen respondeu afirmando que “admitindo que o Governo Provisório é a mais alta autoridade legislativa que saiu diretamente da revolução, sem dúvida daquele governo depende determinar a convocação e a competência da Assembleia Nacional Constituinte. (...) A promulgação do citado regimento não significa a incursão na ‘soberania’ da Assembleia Nacional Constituinte. (...) A Assembleia Nacional Constituinte não possui outros direitos além dos que foram outorgados pelo Regimento de 7 de abril de 1933. Por isso ela não tem o direito de revogar o regimento e substituí-lo por outro.” A conclusão do jurista de Viena é de que “para
a situação e competência da Assembleia Nacional Constituinte não pode ser considerada outra norma de direito que o Regimento 22.621, de 7 de abril de 1933.”
Nas palavras de Ari Marcelo Solon, que comenta o Parecer de Kelsen, o Parecer está fundamentado no Princípio da Efetividade do Direito Internacional, em que “um Governoformado por meio revolucionário possui os poderes que quer possuir sob a condição que possa obter geralmente a obediência às suas prescrições”. Desta forma, o Governo Provisório originário da Revolução de 30 era o legítimo representante dessa Revolução e, portanto, as suas determinações quanto ao funcionamento e competência da Assembleia Nacional Constituinte eram válidas e legítimas.
A Constituição Brasileira de 1934 marcou o retorno do constitucionalismo brasileiro ao matiz europeu, após a experiência do modelo norte-americano com a primeira Constituição Republicana. O novo texto é expressão do Constitucionalismo alemão de Weimar, marcado pelo Estado Social.
Para Paulo Bonavides, o constitucionalismo brasileiro apresenta-se em três fases. A primeira, do Brasil Império, que tem a marca da tradição constitucionalista francesa e inglesa; a segunda, da Primeira Constituição Republicana, que tem seus fundamentos no modelo americano, do federalismo e do presidencialismo; e a terceira, do Constitucionalismo de 1934, de nítida influência germânica, que irá perdurar até a Carta de 1988, uma “época marcada de crises, golpes de Estado, insurreição, impedimentos, renúncia e suicídio de Presidentes, bem como queda de governos, repúblicas e Constituições.”
Com a Carta de 1934 inaugura-se no Brasil o constitucionalismo social, uma nova forma de conceber o texto constitucional, agora não mais fechado numa estrutura normativa em que a sociedade são indivíduos isolados e o Estado um mero garantidor da segurança pública. O Estado passa a ter uma postura ativa, intervindo nas mais diversas atividades e os cidadãos são compreendidos também coletivamente, tudo isso como resultado da complexidade da sociedade moderna, uma sociedade urbana e cada vez mais heterogênea.
O federalismo nesse contexto sofreu alterações. O próprio federalismo americano alterou suas características após a crise econômica de 1929. O Governo Roosevelt mudou a jurisprudência da Suprema Corte ao postular o abandono do federalismo dual. Sobre essas profundas alterações do papel do Estado na sociedade, escreve Bernard Schwartz: “O Sistema federativo posto em funcionamento pela Constituição de 1787 era, como vimos, dominado pela doutrina do chamado federalismo dualista. (...) o federalismo dualista exigia uma dicotomia completa do poder estadual e federal. (...) O conceito de federalismo dualista, assim aplicado pelo mais alto tribunal americano, era considerado como inteiramente incoerente com uma Era de crescente expansão da autoridade governamental. Só podia ser mantido, na prática, quando o exercício estatal era dominado pela doutrina do laissez-faire”. Continua o Autor: “Antigamente, o Governo era principalmente regulamentar e negativo: a sua tarefa principal (além da defesa) era manter o círculo e conservar a imparcialidade enquanto os interesses privados se afirmavam livremente.
Hoje em dia, o Governo se interessa principalmente pela administração dos serviços sociais e se tornou positivo num novo sentido. Há coisa de um século, o Estado atuava principalmente como polícia, soldado e juiz. Hoje, o Estado atua também como médico, enfermeiro, professor, organizador de seguro, construtor de casas, engenheiro sanitário...”.
No Brasil, o abandono do federalismo dual é realizado através do novo texto constitucional. Neste sentido, a doutrina da época recebeu a nova Carta Magna do País com o marco característico da posição de supremacia da União na ordem federal. Para Araujo Castro “em seus princípios fundamentais a atual Constituição quase que não se afastou da Constituição de 1891. Manteve o regime federativo, ampliando, porém, bastante a competência privativa da União, o que em certos casos se tornava indispensável para melhor fortalecer a unidade nacional”.
Dissertando sobre a soberania da União e a autonomia dos Estados Membros, Araujo Castro escreve que “alguns escritores sustentam a soberania dos Estados no regime federativo. Admitem assim a coexistência de duas soberanias: a nacional e a estadual. (...) Essa doutrina foi, entre nós, perfilhada com ardor pelo Sr. Campos Salles, que, aliás, escudava a sua argumentação nas valiosas opiniões de alguns dos mais autorizados comentadores da Constituição Americana, notadamente Hamilton, que a defendeu no Federalist. A doutrina preponderante hoje naquele pais é, porém, em sentido contrário. A unidade política, que caracteriza a federação, é inconciliável com a ideia de dupla soberania”.
A Constituição de 1934 alterou o modo de distribuição de competências, fazendo expressa e detalhada enumeração das competências da União, característica que foi mantida por todas as Constituição brasileiras posteriores. O texto de 1891 “não continha uma discriminação das atribuições da União, fazendo apenas referência expressa à decretação de impostos, instituição de bancos emissores e criação e manutenção das alfândegas. Quanto ao mais, as atribuições da União eram encontradas na competência privativa dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário”. Quanto aos Estados Membros, estes ficaram com a competência legislativa residual (art. 7º IV) bem como com a atividade supletiva ou complementar da legislação federal.
Sobre a distribuição de competência no Estado Federal, o debate constituinte trouxe considerações importantes sobre a matéria que vale aqui reproduzir. O Constituinte Levi Carneiro assim se pronunciou: “Ora, em matéria de distribuição de competências – ponto capital do capítulo I, ponto nevrálgico da futura organização do Brasil – devemos considerar a situação criada pelas mais recentes constituições europeias”. Diz ele: “Na da Alemanha, de um lado o Reich, tendo competência exclusiva para legislação e execução; competência legislativa, cabendo aos países – Länder, como chamam – a execução, e, finalmente, competência legislativa meramente normativa. Quanto aos Estados, países ou Länder, cabe-lhes a competência para executar as leis gerais; para legislar debaixo das normas do Reich; para a legislação provisória – a que vigora enquanto o próprio Reich não legislar; e, finalmente, a competência para legislação e execução exclusiva. A competência para legislação e execução exclusivas é a parte mais restrita e que cada vez mais se restringe”. Continua o Constituinte: “Na Áustria, pela Constituição de 1920, modificada em 1925, em 1929, e ainda agora, segundo as notícias de hoje, o Estado, isto é,
a União, possui, como na Alemanha, a competência exclusiva para legislar e executar, a competência legislativa, cabendo a execução aos países – e a competência meramente normativa; as províncias têm a legislação complementar e a execução, além da competência residual, que lhes dá o artigo 15, número 1”.
Após as considerações acima, sustentou o constituinte que não se pode afirmar que, no projeto da Constituição, “os Estados ficaram mal aquinhoados, ou que o projeto é unitarista. (...) A competência atribuída aos Estados pelo projeto apresenta-se com a maior amplitude, porque, como acabo de dizer, sempre lhes pode caber a execução, sempre se lhes assegura a preferência para a execução dos serviços públicos, sempre se admite o desempenho dos serviços federais por funcionários estaduais”.
A situação política da época acabou por dar à Segunda República brasileira um curto período de vida, pois em 10 de novembro de 1937 o Brasil conheceu a sua Quarta Constituição, que instalou o Estado Novo.
1.2.3. Constituição de 1937 – o Estado Novo e as outras Constituições do Brasil
O Preâmbulo da Constituição de 1937 dispôs que o Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, “atendendo às legítimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, resultantes da crescente agravação dos dissídios partidários... (...) Atendendo ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista (...) que, sob as instituições anteriores, não dispunha o Estado de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem estar do povo; Com oapoio das forças armadas (...) resolve assegurar à Nação a sua unidade (...) Decretando a seguinte Constituição”.
A Constituição de 1937, segundo Pontes de Miranda, refletiu traços de 1891, 1925-26, 1930, 1934, 1935 e 1937, acrescentando ser a Constituição do Estado Novo uma filha da Constituição de 1934.
O contexto político do Estado Novo deve ser buscado em elementos que, por certo, estenderiam em muito aquilo que aqui se pretende. No entanto, é necessário deixar registrado que se tratou de um período de ditadura pessoal do Presidente da República, com todas as características dos regimes autoritários, ou seja, nacionalismo, personalismo do Chefe Político, populismo, carisma etc. Neste sentido, a Federação foi uma das principais vítimas do novo regime. Não obstante Pontes de Miranda afirmar ser a Constituição de 1937 o resultado de uma tendência iniciada com a Constituição de 1934 para o fortalecimento da unidade, a verdade é que a Constituição de 1937 liquidou com a Federação. Segundo o grande tratadista brasileiro, “se a Constituição de 1891 revelou a aptidão dos estadistas da Primeira República para dotar o País da estrutura federal (...), a de 1934 marcou o momento de correção às primeiras soluções importadas e revelou certo
desembaraço com que os constituintes da Segunda República trataram o problema ‘técnico’ da federatividade. (...) Na Constituição de 1937, a tendência de 1934 fortalece-se”.
Ainda que do título da Constituição constasse a expressão “Constituição dos Estados Unidos do Brasil” e o art. 3º fizesse referência expressa que o Brasil era um Estado Federal, a federação foi extinta no período do Estado Novo. Tratou-se o art. 3º da Constituição, “de dispositivo nominal, como tantos outros da referida Constituição, que não impediu, mas antes favoreceu, a substituição da estrutura federal anterior pela de um Estado unitário descentralizado”. O art. 4º reforçou a centralização quando dispôs que “o território federal compreende os territórios dos Estados e os diretamente administrados pela União”. O Princípio da não Intervenção, consagrado no art. 6 da Constituição de 1891 e no art. 12 da Constituição de 1934, foi substituído pelo Princípio da Intervenção (art. 9º).
Os Estados sofreram duros golpes, como a transformação em território se, por três anos consecutivos, não arrecadassem receita suficiente à manutenção dos seus serviços (art. 8 parágrafo único), e a profunda restrição de sua competência legislativa (art. 18).
A peculiaridade da Constituição de 1937 é que, além de ter sido o Poder centralizado nacionalmente, tal foi centralizado na Pessoa do Presidente. O art. 178 dissolveu a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, as Assembleias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais, ficando as eleições para serem marcadas pelo Presidente da República após a realização do plebiscito, previsto no art. 187, e que nunca ocorreu. O Poder Político no Brasil ficou todo centralizado no Poder Executivo, ou seja, no Presidente da República em nível nacional e nos Interventores, no plano estadual.
O Federalismo do Estado Social de 1946
Com a Constituição de 1946 o Brasil retomou o caminho democrático. Escreve Hermes Lima, que “a Constituinte de 1946 visou, antes de tudo, à restauração do regime constitucional, de um regime de garantias que poderíamos chamar de “Estado de Direito”. Incorporou-se, assim, à posição ideológica de que era mister retomar a tradição republicana, o regime democrático, a Federação, e, finalmente, a independência do Judiciário, com as modificações, correções e reajustamentos que a nossa tradição republicana já experimentara através da Carta de 1934”. No dizer de Eduardo Espinola, as manifestações públicas, em especial das classes cultas, dos centros acadêmicos, dos juízes e tribunais, da Ordem dos Advogados contra a Constituição de 1937 e contra a atitude do Chefe do Governo que estava escusando-se ao cumprimento do texto que outorgara quanto ao plebiscito, foram se avolumando. Durante o período que o Brasil esteve em Guerra a opinião pública suportou os males da opressão, mas o sentimento do povo brasileiro, que havia se unido aos aliados na Guerra contra os totalitários fascistas e nazistas, exigia o retorno à legalidade democrática.
Marcada as eleições o Presidente foi afastado, assumindo a Presidência da República o Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal. Realizada as eleições em 02 de dezembro de 1945,
assumiu o novo Presidente em 31 de janeiro de 1946. A Assembleia Nacional Constituinte também foi eleita em 02 de dezembro de 1945 sendo instalada solenemente em 05 de fevereiro de 1946.
O texto da Constituição de 1946, quanto ao regime federal, modificou a redação dada na Constituição de 1934, para dispor no art. 1º que “os Estados Unidos do Brasil mantêm, sob o regime representativo, a Federação e a República”. O § 1º do mesmo artigo dispunha que “a União compreende, além dos Estados, o Distrito Federal e os Territórios”.
Com a Constituição de 1946 ficou restabelecida a autonomia dos Estados membros e a democracia como princípios fundamentais do Estado Brasileiro. Sobre as características da federação brasileira escreve Themistocles Cavalcanti que, “se a Constituição de 1891 apenas esquematizava as atividades políticas, pouco dispondo sobre as demais, nossas Constituições de 1934 e 1946 representam esquemas completos de todo o sistema político, administrativo, econômico e social”. No dizer de Raul Machado Horta, “no Brasil, o federalismo dualista se inaugura e se expande sob a vigência da Constituição de 1891, datando seus primeiros abalos da reforma constitucional de 1926. A Constituição de 1934 marca a recepção inaugural do federalismo contemporâneo, que vai, afinal, revelar a plenitude de suas linhas expansivas na Constituição Federal de 1946”.
A Constituição na distribuição de Competências manteve as duas ordens principais do sistema federal, a mais geral que é da União e as mais particulares que são dos Estados membros, existindo ainda uma terceira, secundária na estrutura da federação, que se refere aos Municípios. A garantia do Estado Social implicou a manutenção da tradição constitucionalista de Weimar, impondo poderes mais amplos à União, em geral vinculados à atividade legislativa e conferindo aos Estados a atividade legislativa complementar e a fase executiva. O art. 5º da Constituição, desta forma, disciplinou a competência material e legislativa da União, mantendo a competência legislativa privativa da União e a competência legislativa suplementar dos Estados membros nos casos que especificou o art. 6º. O § 1º do art. 18 da Constituição manteve a competência residual dos Estados, ou seja, todos aqueles poderes que não lhes fossem vedados, implícita ou explicitamente, pela Constituição. Aos Municípios foi garantida a sua autonomia, nos termos do art. 28.
Não obstante a estrutura federal da Constituição de 1946, Raul Machado Horta, em texto datado da época da Constituição, aqui já citado, escreve: “A partir de 1937, os órgãos governamentais centrais passaram a ocupar o espaço deixado pelo retraimento dos Estados membros e, por isso, toda tarefa nova que surgisse correspondia a um acréscimo na órbita das dilatadas atribuições do Governo central. Esse processo acumulativo agiganta a administração governamental central, contribuindo para manter vivo contraste entre as dimensões da primeira e a modesta inferioridade das administrações estaduais”. Continua o Autor: “A Constituição de 1946, elaborada por constituintes que, na sua maioria, provinham dos quadros governamentais do Estado Novo, não tocou naquela estrutura e, afinal, a incorporou ao Governo Federal. Pode-se incluir essa assimilação federal da máquina administrativa unitária entre as causas determinantes da atual
hipertrofia da administração federal. A organização federativa de 1946, ao lado dos problemas específicos, que decorrem do federalismo contemporâneo, ainda defronta com problemas não específicos,	que	resultam	da	herança	da	estrutura	administrativa	do	Estado	unitáriodescentralizado de 1937 e de muitos de seus hábitos e práticas”. Trabalhando o federalismo sob a estrutura da Constituição de 1946, o Professor mineiro não pretendeu a distância da solução federal, mas apresentou uma necessária discussão sobre a hipertrofia da administração central e a sua imensa disparidade com as administrações locais.
A Constituição de 1946 teve seu fim anunciado quando do golpe de Estado pelos militares em 1964. Após sucessivos atos institucionais a Carta do imediato Pós-Guerra foi substituída pela Constituição de 1967.
A Constituição de 1967 e a Emenda de 1969
A Constituição de 1967, em seu título, substituiu a tradicional expressão “Constituição dos Estados Unidos do Brasil” por “Constituição do Brasil”. O art. 1º manteve a redação que dispunha ser o Brasil uma República Federativa, constituída, sob o regime representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
Na visão de José Afonso da Silva, a Constituição de 1967 “sofreu poderosa influência da Carta Política de 1937, cujas características básicas assimilou”. No âmbito da Federação, “reformulou, em termos mais nítidos e rigorosos, o sistema tributário nacional e a discriminação de rendas, ampliando a técnica do federalismo cooperativo, consistente na participação de uma entidade na receita de outra, com acentuada centralização”.
Na distribuição de competências, o art. 8º dispôs sobre a competência material e legislativa da União, mantendo a competência legislativa privativa da União e a competência legislativa suplementar dos Estados membros nos casos que especificou o art. 8º § 2º. O § 1º do art. 13 manteve a competência residual dos Estados, ou seja, todos aqueles poderes que não lhes fossem vedados, implícita ou explicitamente, pela Constituição. Aos Municípios foi garantida a sua autonomia, nos termos do art. 16.
A Constituição de 1967 ratificou o perfil autoritário do modelo de Estado imposto pelo Golpe Militar. Ainda que se identifiquem dissidências entre aqueles que apoiaram o Golpe de Estado, principalmente em razão da ascensão da chamada “linha dura” ao Poder, não houve dúvidas de que o rompimento da ordem constitucional democrática em 1964 levaria inevitavelmente o Brasil à Ditadura.
A Ditadura e a centralização absoluta do Estado Brasileiro se deu com o Ato Institucional nº 5 e a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. Uma anomalia em termos de técnica legislativa, a forma como a nova Constituição, pode-se assim dizer, foi promulgada, através de Emenda com alteração em todo o texto da Constituição anterior, deu uma amostra do autoritarismo que rondava o Poder no Brasil daquela época.
A Emenda nº 1 de 1969 alterou o título substituindo-o por “Constituição da República Federativa do Brasil” expressão mantida pela Constituição de 1988. A centralização, no entanto, foi a marca característica da Emenda Constitucional de 1969, que imprimiu à administração pública brasileira o autoritarismo burocrático, com cerceamento das liberdades civis, restrição da representatividade política, enfim, a imposição de um Estado Autoritário.
O processo de abertura política do Brasil, iniciado já no Governo do General Geisel, ainda que permeado pela medida autoritária de abril de 1977, foi se consolidando aos poucos até chegar a campanha para as Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves para Presidência da República. Convocada a Constituinte através da Emenda Constitucional nº 26, verdadeiro Ato Político, no dizer de José Afonso da Silva , o Brasil conheceu em 05 de Outubro de 1988 a sua mais democrática Constituição, que buscou demarcar no País um Estado Social, Federal e Democrático.
2. O ESTADO FEDERAL DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
O Regime Federativo está salvaguardado na Constituição Federal (CF) de 1988, em especial, no art. 1º, que trata dos Princípios Fundamentais, e no art. 60 § 4º inciso I, que confere à forma federativa de Estado o status de Cláusula Pétrea.
Segundo Enrique Ricardo Lewandowski, “com a Constituição de 1988 verificou-se novamente a descentralização do sistema, de modo consistente com o movimento pendular que caracteriza o federalismo brasileiro”. Não obstante o movimento de descentralização promovido pela Constituição, a União manteve as competências que angariou no decorrer dos anos com o processo de centralização do sistema federativo. Esse processo pode ser explicado tanto pela transformação que sofreu o sistema federativo brasileiro já com a Emenda Constitucional de 1926 e mais precisamente nos anos trinta, de um federalismo dual para um federalismo cooperativo com nítida supremacia da União em relação aos Estados Federados, como também pelos interregnos autoritários, que concentraram o poder na União.
Desta forma, ainda que duras críticas sejam feitas ao Sistema Federal Brasileiro, principalmente em razão da ampla competência material e legislativa da União, é certo que as características da autonomia federativa são nela encontradas. Segundo José Afonso da Silva, “a autonomia federativa assenta-se em dois elementos básicos: a) na existência de órgãos governamentais próprios, isto é, que não dependam dos órgãos federais quanto à forma de seleção e investidura;
b) na posse de competências exclusivas, um mínimo, ao menos, que não seja ridiculamente reduzido. Esses pressupostos da autonomia federativa estão configurados na Constituição (arts. 17 a 42).”
Traços Fundamentais do regime Federal:
a) Diferença entre Soberania e autonomia
b) Existência de uma Constituição Federal
c) Repartição de competência prevista constitucionalmente (Artigos 21, 22, 23,24, 25 e 30 da CF)
d) Participação dos Estados-membros na vontade federal (Ex. Senado Federal)
e) Inexistência de direito de secessão (art.1 – “união indissolúvel”).
f) Solução jurídica dos conflitos. Competência do STF Art. 102, I, “f” CF)
Soberania: Nas palavras de Jean Bodin (1530-1596), a soberania refere-se à entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na ordem interna. É o direito exclusivo de uma autoridade suprema sobre um grupo de pessoas — em regra, uma nação. Há casos em que essa soberania é atribuída a um indivíduo, como na monarquia absolutista, na qual o líder é chamado genericamente de soberano.
Autonomia: é a capacidade de auto-organização, de auto-legislação, de auto-governo e de auto- administração (art. 18, 25 a 28 CF).
AUTO-ORGANIZAÇÃO:
Poder Constituinte Estadual
Poder Constituinte Originário Poder Constituinte Derivado Poder Constituinte Decorrente
O Poder Constituinte Derivado e decorrente possui fonte de legitimidade na Constituição Federal. Competência do Estado para elaborar a sua Constituição (art. 25 CF e art. 11 do ADCT)
A auto-organização é o primeiro elemento da autonomia estadual e exprime-se na capacidade de dar-se a própria Constituição (art. 25 e art. 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
– ADCT, que se encontra ao final do texto da Constituição, em nova numeração de artigos). Quanto à natureza jurídica do Poder Constituinte Estadual há controvérsias, mas ela deve ser analisada tendo em vista a distinção entre autonomia e soberania, o Poder Constituinte Estadual é apenas autônomo.
Dispõe o art. 25 da Constituição Federal:
“Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição”. Quais são esses princípios da Constituição Federal que devem ser observados pelos Estados quando do exercício da sua capacidade de auto- organização? São eles, os Princípios:
Princípios Constitucionais Sensíveis: a sua inobservância pelos Estados Membros pode acarretar a Intervenção Federal. (Art. 34 VII CF)
Princípios Federais Extensíveis: são as normas centrais comuns à União, Estados, DF e Municípios de observância obrigatória no poder de organização do Estado. (Ex. art. 1°, 3°, 4°, 2° e outros.
Princípios Constitucionais Estabelecidos: consistem em determinadas normas que se encontram espalhadas pelo texto da constituição, e, além de organizarem a própria federação, estabelecempreceitos centrais de observância obrigatória aos Estados Membros em sua auto- organização.
Subdivide-se em NORMAS DE COMPETÊNCIA (Ex. art. 23, 24, 25, 27 § 3°, 96 I a até f, II, a- d e III e NORMAS DE PREORDENAÇÃO (art. 27, 28, 37 I a XXI § 1° a 10.)
Art. 27 CF = São Paulo: 70 Dep. Estaduais. 36 + 70 – 12 = 94 Dep. Estaduais Paulistas
Em matéria de processo legislativo, o STF entendeu que os Estados estão obrigados a seguirem as regras básicas federais, quanto, por exemplo, a iniciativa legislativa do Chefe do Poder Executivo (ADI 97/RO – Relator Ministro Moreira Alves).
Separação dos Poderes e Princípio da Simetria:
Normas de Constituições Estaduais com o seguinte teor:
Escolha do Procurador-Geral de Justiça conter a participação da Assembleia Legislativa. Inconstitucionalidade (Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI –MC 1.228/95 julgada pelo STF). A Escolha do Procurador-Geral de Justiça deve se dar da mesma forma como é escolhido o Procurador-Geral da República (Art. 52, III, “e” CF).
Comparecimento do Prefeito à Câmara de Vereadores. Inconstitucionalidade (ADI 687/2006). No regime presidencialista, o chefe do poder executivo não pode ser convocado para comparecer ao poder legislativo, apenas os Ministros de Estados, na esfera federal (art. 58, par. 2, III da CF), e os secretários nas esferas estadual e municipal.
AUTO GOVERNO:
O Povo do Estado elege o Governador e seus representantes. Art. 27, 28 e 125: Princípios de Organização dos Poderes Estaduais.
AUTO ADMINISTRAÇÃO:
Os Estados Membros se auto-administram no exercício de suas competências administrativas, legislativas e tributárias definidas constitucionalmente. Os Estados possuem um corpo próprio de servidores públicos, bem como uma infraestrutura própria para realizar as suas competências constitucionalmente definidas.
O Federalismo Cooperativo
Questão que se revela pertinente na compreensão da estrutura do sistema federal brasileiro diz respeito a sua natureza. Trata-se de um federalismo cooperativo? Enoch Alberti Rovira, no seu estudo detalhado da federação alemã, identifica o início do federalismo cooperativo nos Estados Unidos no ano de 1937, embora os americanos tenham preferido utilizar a expressão Intergovernmental Relations para designar a nova situação federal. Segundo escreve o autor espanhol, na clássica definição de K. C. Wheare, o centro de gravidade passou da separação para a coordenação. Sobre este novo nível se construiu um novo equilíbrio federal, em processo constante de reformulação, que se conhece como federalismo cooperativo. É aqui constante, como ponto de partida, unicamente que o federalismo cooperativo é o federalismo, o modelo de ordem federal, que se corresponde historicamente com o Estado Social de Direito.
Partindo da definição acima, tem-se que o federalismo cooperativo se instala no Brasil com a Constituição de 1934, que rompe efetivamente com a estrutural dual do federalismo de 1891. No entanto, o federalismo cooperativo se caracteriza também pela compreensão de um único governo em que participam várias partes ou centros de decisões com caráter complementar. Essa estrutura do federalismo cooperativo não se encontrou claramente nas Constituições de 1934, 1937, 1946, 1967-69. A Constituição de 1934 praticamente nem chegou a ser implementada, pois foi substituída pela Carta de 1937. Com a Carta de 1937 não se pôde falar em Federação. Com a Constituição de 1946 teve-se a hipertrofia da União, um gigante que fez desaparecer os outros membros da federação, deixando de figurar os outros centros de decisões em caráter complementar. Nesse ponto, vale lembrar a crítica de Karl Loewenstein à hegemonia de certos Estado-Membros nas federações latino americanas, em especial na Argentina com a preponderância econômica de Buenos Aires e no Brasil com a preponderância econômica de São Paulo. Com a Constituição de 1967 e a Emenda de 1969 ocorreu uma centralização tamanha do Estado Brasileiro que não se pôde falar em Federalismo cooperativo. É com a Constituição de 1988 que se conhece no Brasil o federalismo cooperativo. São vários os exemplos de atuação coordenada da União, dos Estados e dos Municípios.
As ações na área da Educação e da Saúde através do Fundef e do SUS, respectivamente, ainda que deficitárias e distantes daquilo que deveriam ser, constituem-se em exemplos de ações coordenadas entre as três esferas de governo. A fiscalização exercida pela União, facilitada em muito pelo uso da tecnologia, impede o destino irregular das verbas, acaba com o clientelismo do cacique político da região que fazia barganha com o dinheiro disponibilizado pela União, bem como fortalece a fiscalização da comunidade na correta aplicação do dinheiro, uma vez que é do
conhecimento público o valor repassado para os municípios. Tem-se uma atividade administrativa interligada, em que a execução está a cargo dos Estados e principalmente dos Municípios.
O federalismo cooperativo encontra-se na Constituição de 1988 na distribuição de competências, em especial no que diz respeito a competência material comum (art. 23) e a competência legislativa concorrente (art. 24) e em diversos tópicos da Constituição, como o art. 211 que trata da Educação, o art. 198 que trata da Saúde, e o art. 157 e seguintes que tratam da repartição das receitas tributárias.
As REGIÕES na estrutura do Federalismo da CF de 1988
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais.
§ 1º Lei complementar disporá sobre:
I - as condições para integração de regiões em desenvolvimento;
II - a composição dos organismos regionais que executarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos planos nacionais de desenvolvimento econômico e social, aprovados juntamente com estes.
§ 2º Os incentivos regionais compreenderão, além de outros, na forma da lei:
I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de custos e preços de responsabilidade do Poder Público;
II - juros favorecidos para financiamento de atividades prioritárias;
III - isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas;
IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas.
§ 3º Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União incentivará a recuperação de terras áridas e cooperará com os pequenos e médios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação.
INTERVENÇÃO FEDERAL
Surgiu na Constituição Republicana de 1891. Não havia regulamentação. O dispositivo dava uma ampla margem de discricionariedade ao Presidente da República. Durante a República Velha o instituto transformou-se em instrumento de proteção das oligarquias pela união, ou seja, o poder paralelo instalado à margem da ordem legal deturpou o instituto constitucional, fazendo dele um joguete nas mãos daqueles que entraram no Poder e lá permaneceram.
Sobre o instituto no período da República Velha, assim se manifestou Rui Barbosa (1849-1923):
“Do mesmo modo que o estado de sítio, a intervenção federal nos Estados caiu, desde o começo, e até hoje se mantém no tabuleiro fraudulento, onde o jogo político exerce os seus vícios, desenvolve as suas manhas, e sacia as suas ambições. A Constituição é clara, no regime que lhe deu. Mas esse regime está, desde as suas origens, oscilando entre a orientação dos que o estabeleceram e a dos que o aplicam. Um é o espírito, sob o qual se gerou ali essa instituição. Outro o dos homens, debaixo de cujo domínio ela tem sido praticada”.
“Cada governo estadual se reduziu a uma oligarquia e dessas oligarquias locais se compôs a grande oligarquia, a oligarquia central, a oligarquia das oligarquias, em que se constitui o governo da União. Solidárias a maior e as menores no interesse de eliminarem os obstáculos constitucionais,que se opõem à sua existência, ou as reações populares, que lhe possam tolher, mutuamente se ajudam e completam em todos os terrenos; e, unidos os seus préstimos em nomeações ou mercês, em dinheiro e recursos policiais ou militares, estabeleceram, para este seu regime, uma posição inexpugnável, com o mais estrondoso exemplo da qual nos acaba de sobremaravilhar, no caso da Bahia, o procedimento do chefe da nação”.
Com a Emenda Constitucional n° 03 do ano de 1926 houve alterações significativas do art. 6° da CF que tratava da Intervenção. A atuação do Presidente foi limitada, pois teve ele que observar determinadas regras, constantes dos parágrafos 1, 2 e 3.
A Constituição de 1934 trouxe a Ação Direta Interventiva ou Representação Interventiva.
Natureza da Intervenção: é ato político que consiste na incursão da entidade interventora nos negócios da entidade que a suporta. É ato de exceção e só pode ocorrer nos casos taxativamente estabelecidos. Princípio da Não Intervenção.
Intervenção Espontâneas (ou discricionária): art. 34 I, II, III e V. Ouvido o Conselho da República (art. 90 I) e o Conselho de Defesa Nacional (art. 91 § 1°, II).
Intervenção Provocada: Solicitação ou Requisição.
SOLICITAÇÃO (art. 34 IV c/c art. 36 I): Segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho o Presidente da República não está obrigado a decretar a Intervenção apenas por haver recebido a solicitação. Assim, não pode ele decretar a Intervenção sem solicitação, mas não está obrigado a decreta-la sempre que a receber.
Segundo Celso Bastos, no caso de solicitação o Poder Executivo Federal somente deixará de atuar por fundadas razões. Existe um mínimo de caráter vinculante da medida.
REQUSIÇÃO: Quando a coação for exercida contra o Poder Judiciário Estadual (art. 36 I), quando de desobediência a ordem ou decisão Judicial (art. 36 II), provimento da ação direta interventiva (art. 36 III) ou provimento da ação de executoriedade de Lei Federal (art. 36 III).
No caso de desobediência a ordem ou decisão judicial: A interpretação atual do art. 36 II, tanto pela doutrina, como pelo Supremo Tribunal Federal, é no sentido de que o STF é competente para os casos que envolvem matéria constitucional, STJ – Superior Tribunal de Justiça para os casos que envolvem matéria infraconstitucional, inclusive trabalhista, e TSE – Tribunal Superior Eleitoral, para os casos que tratam de matéria eleitoral.
Procedimento de Intervenção: Verificar os parágrafos do art. 36 da CF.
Intervenção Estadual nos Municípios:
Está disciplinada no art. 35 CF, com o propósito de garantir a autonomia política dos Municípios brasileiros, que historicamente sempre estiveram sujeitos às intervenções políticas dos poderes estaduais.
Compete ao Procurador-Geral de Justiça (Chefe do Ministério Público Estadual) a competência para propor a representação interventiva estadual (art. 35 IV da CF).
A decisão tomada pelo Tribunal de Justiça nos casos de intervenção tem natureza político- administrativa, não podendo ser objeto de recurso extraordinário, conforme a Sumula 637 do STF.
MUNICÍPIOS
Uma outra novidade do sistema federal de 1988 foi a inclusão dos Municípios como componentes da Federação. Neste ponto, vale trazer a reflexão de José Afonso da Silva, que afirma ter sido um “equívoco do constituinte incluir os Municípios como componentes da federação. Município é divisão política do Estado-membro. E agora temos uma federação de Municípios e Estados, ou uma federação de Estados? Faltam outros elementos para a caracterização de federação de Municípios. A solução é: o Município é um componente da federação, mas não entidade federativa”.
Essa questão necessita ser observada de diversos ângulos. Primeiro a necessidade de garantir, no plano da Constituição Federal, a autonomia dos Municípios. Embora as Constituições anteriores
tenham feito essa ressalva, observou-se de fato a ingerência dos Governadores nos assuntos dos Municípios, diminuindo em muito a sua autonomia historicamente conquistada. O Constituinte de 1988, ao colocar os Municípios como integrantes da Federação o fez para protegê-los contra a arbitrariedade do governo estadual. E nesse ponto fez bem.
Outro ponto é a regulamentação que fez o Constituinte da estrutura municipal, formatando as estruturas políticas locais de maneira uniforme em todo o território nacional, não obstante as diferenças regionais gritantes que marcam esse país continental que é o Brasil. Dessa forma, estão sob a mesma forma tanto os municípios pequenos, os municípios médios e os municípios grandes. Ainda que a Emenda Constitucional nº 25 tenha acrescentado o art. 29-A limitando as despesas do Legislativo Municipal, poder-se-ia imaginar que os pequenos municípios, com pequeno orçamento, pudessem ter sua estrutura representativa simplificada, de modo tanto a racionalizar a aplicação dos gastos públicos como implementar formas alternativas de participação na definição das políticas locais. Sob esse ponto, críticas podem ser feitas no tocante à padronização da estrutura Municipal desenvolvida no art. 29 da Constituição.
Um terceiro aspecto é a natureza específica dos Municípios na estrutura federal. Está correto o Prof. José Afonso da Silva quando escreve que o “o Município é um componente da federação, mas não entidade federativa”, pois ao Município não são conferidos todos os elementos necessários à sua compreensão como entidade federativa. Para isso necessitaria de um órgão de representação na União, como o Senado é para os Estados, a possibilidade de fiscalização da Constitucionalidade das Leis Municipais perante a Corte Constitucional, enfim, diversas outras características que marcam a participação na federação como entidade federativa.
No entanto, ainda é necessário dizer que a leitura do art. 1º da CF 88 irá propiciar a interpretação de que os Municípios são tratados em conjunto com os Estados, pois, segundo a redação do dispositivo, “a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos”. Os Municípios, neste sentido, estão compreendidos na estrutura dos Estados, pois aos Estados é direcionado o caráter indissolúvel dos Municípios, aos Estados não se permite dissolver os Municípios, tanto que é dá alçada dos Estados a intervenção nos Municípios situados em seu território (art. 35). Quando o art. 18 trata da organização político-administrativa da República Federativa do Brasil, irá tratar da autonomia política das entidades políticas autônomas, ou seja, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, caracterizando dessa forma que os Municípios não estão na mesma posição dos Estados na estrutura federal. Os Municípios são integrantes dos territórios dos Estados, mas têm a sua autonomia política garantida na estrutura do Estado Federal Brasileiro.
AUTONOMIA MUNICIPAL: (art. 18 e 29 e garantida contra os Estados no art. 34 VII c da CF). Consiste:
Auto-Organização (Lei Orgânica); Auto-Governo (eletividade do Prefeito e Vereadores); Auto Legislação (leis Municipais de Competência exclusiva ou suplementar); Auto-administração: manter e prestar os serviços de interesse local.
Conteúdo Básico da Lei Orgânica Municipal: (art. 29 CF)
Competência Municipal: 1) Legislar sobre assuntos de interesse local: 2) suplementar a legislação federal e estadual no que couber.
CONCEITO DE INTERESSE LOCAL: O conceito não é fechado, admitindo uma interpretação construtiva a variar de acordo com o momento histórico e as características do Município envolvido. Três observações:
1) Não pode ser de interesse local aquilo que a CF define como de competência da União ou Estados (Privativa ou Concorrente);
2) Não se incluem no conceito todos os temas restantes que interessem em qualquer grau ao Município. Tudo o que se passa no Estado reflete no Município de alguma forma. Não é, por outro lado, só assunto exclusivamente Municipal. São de interesse local os temas que o interesse do Município prepondere (prevaleça)sobre o eventual interesse da União e Estados.
Interesse Local é o interesse preponderantemente local.
3) A CF define alguns temas como de interesse local (art. 30 IV, 30 V, 30 VIII e art. 144 § 8)
DOIS TEMAS DO ART. 29 SÃO DE IMPORTÂNCIA RELEVANTE E MERCEM AQUI UMA ANÁLISE ESPECIAL.
A) FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO DO PREFEITO (ART. 29 X da CF) Entendimento do STF:
(I) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e
(II) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
[Tese definida na AP 937 QO, rel. min. Roberto Barroso, P, j. 3-5-2018, DJE 265 de 11-12- 2018.]
Qual Infração? Comum, eleitoral, dolosa contra a vida ou federal? TJ = quando for da competência da justiça local;
TRF = quando praticado contra bens, serviços ou interesse da União
SÚMULA 209 DO STJ: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio Municipal”
SÚMULA 208 DO STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal”.
Tratando-se de delitos eleitorais o prefeito é processado e julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral.
No caso dos delitos dolosos contra a vida aplica-se o art. 29 X e se afasta o art. 5° XXXVIII (maior especialidade).
CRIME DE RESPONSABILIDADE:
PRÓPRIOS: INFRAÇÕES POLITICO ADMINISTRATIVAS. Sanção: Perda do Mandato e
suspensão dos Direitos Políticos (art. 4° Dec. Lei 201/67)
IMPRÓPRIOS: Infrações penais apenados com penas privativas de liberdade (art. 1° Dec lei 201/67)
Crimes: 1) art. 1° do dec. Lei 201/67, crimes comuns = Poder Judiciário, independente do pronunciamento da Câmara de Vereadores;
2) art. 4° Infrações político-administrativas dos prefeitos são de competência da Câmara de Vereadores
O Poder Judiciário tem competência para processar e julgar os prefeitos nos crimes comuns e nos de responsabilidade impróprios.
O rol de crimes de responsabilidade do art. 29-A § 2 é exemplificativo.
Não há foro privilegiado para as ações populares, ações civis públicas e demais ações de natureza cível.
B) IMUNIDADE DOS VEREADORES (art. 29 VIII)
A Imunidade pode ser formal (imunidade processual) e material (art. 29 VIII). O vereador possui apenas a imunidade material.
Em face do art. 125 § 1° da CF pode a Constituição Estadual prever foro privilegiado para processo e julgamento dos vereadores no Tribunal de Justiça.
DISTRITO FEDERAL
O Distrito Federal surgiu do antigo município neutro, que era a sede da corte e capital do Império.
Não é Estado. Não é Município. Em certo aspecto, é mais do que o Estado, porque lhe cabem competências legislativas e tributárias reservadas aos Estados e Municípios (art. 32 § 1° e art 147).
Sob outros aspectos, é menos do que os Estados, porque algumas de suas instituições fundamentais são tuteladas pela União (PODER JUDICIÁRIO, MINISTÉRIO PÚBLICO, DEFENSORIA PÚBLICA E POLÍCIA). Art. 22 XVII, art. 21 XIII, § 4° do art.32.
O DF goza de autonomia constitucional, logo não pode ser considerado simples autarquia territorial, como disposto no regime constitucional anterior.
O DF é uma unidade federal com autonomia parcialmente tutelada.
Autonomia do DF: Auto-Organização: Lei Orgânica; Auto-Governo (eleição do Governador e vice e dos Deputados Distritais); Auto-Administração: exercício de suas competências.
TERRITÓRIOS
Os	Territórios	Federais	possuem	natureza	autárquica,	com	simples	descentralização administrativo-territorial da União (art. 18 § 2°, art. 33 e art. 84 XIV).
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
1) Competência Material: a) Exclusiva (art. 21); b) Comum, cumulativa ou paralela (art. 23)
2) Competência Legislativa: a) Exclusiva (art. 25 § 1°); b) Privativa (art. 22); c) Concorrente (art. 24) e d) Suplementar (art. 24 § 2°).
Competência exclusiva é indelegável.
Competência Privativa é delegável (art. 22 parágrafo único)
Regras aplicáveis na hipótese de legislação concorrente (art. 24 e parágrafos).
DECISÕES DO STF:
Nos casos em que a dúvida sobre a competência legislativa recai sobre norma que abrange mais de um tema, deve o intérprete acolher interpretação que não tolha a competência que detêm os entes menores para dispor sobre determinada matéria (presumption against preemption). Porque o federalismo é um instrumento de descentralização política que visa realizar direitos fundamentais, se a lei federal ou estadual claramente indicar, de forma adequada, necessária e razoável, que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de complementação que detêm os entes menores (clear statement rule), é possível afastar a presunção de que, no âmbito regional, determinado tema deve ser disciplinado pelo ente menor. Na ausência de norma federal que, de forma nítida (clear statement rule), retire a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos de interesse comum e concorrente, exercerem plenamente sua autonomia, detêm Estados e Municípios, nos seus respectivos âmbitos de atuação, competência normativa.
[RE 194.704, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 29-6-2017, P, DJE de 17-11-2017.]
Lei 7.737/2004 do Estado do Espírito Santo. Garantia de meia entrada aos doadores regulares de sangue. Acesso a locais públicos de cultura, esporte e lazer. Competência concorrente entre a União, Estados-membros e o Distrito Federal para legislar sobre direito econômico.
[ADI 3.512, rel. min. Eros Grau, j. 15-2-2006, P, DJ de 23-6-2006.]
Custas e emolumentos são espécies tributárias, classificando-se como taxas. (...) À União, ao Estado-membro e ao Distrito Federal é conferida competência para legislar concorrentemente sobre custas dos serviços forenses, restringindo-se a competência da União, no âmbito dessa legislação concorrente, ao estabelecimento de normas gerais, certo que, inexistindo tais normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades (CF, art. 24, IV, §§ 1º e 3º).
[ADI 1.624, rel. min. Carlos Velloso, j. 8-5-2003, P, DJ de 13-6-2003.]
= ADI 3.260, rel. min. Eros Grau, j. 29-3-2007, P, DJ de 29-6-2007
O Tribunal (...) julgou improcedente pedido formulado em ação direta para declarar a constitucionalidade da Lei 14.040/2003 do Estado do Paraná, que veda o corte do fornecimento de água e luz, em determinados dias, pelas empresas concessionárias, por falta de pagamento. O Plenário entendeu que a referida lei dispõe sobre direito do consumidor, de modo que não há vício formal.
[ADI 5.961, rel. p/ o ac. min. Marco Aurélio, j. 19-12-2018, P, Informativo 928.]
O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.463/2000 do Estado Rio Grande do Sul, que remete o regramento do cultivo comercial e das atividades com organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal. O Tribunal entendeu que o ato normativo implica renúncia do ente estadual ao exercício da competência legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF. Ressaltou não caber ao ente federado recusar-se ao implemento das providências pertinentes pelos meios próprios.
[ADI 2.303, rel. min. Marco Aurélio, j. 5-9-2018, P, Informativo 914.]
LEI Nº 11.463, DE 17 DE ABRIL DE 2000. – RIO GRANDE DO SUL
(publicada no DOE nº 074, de 18 de abril de 2000)
(Declarada a inconstitucionalidade da Lei na ADI nº 2303/STF, DJE de 10/09/2018)
Dispõe sobre organismos geneticamente modificados (OGM). Deputado Otomar Vivian, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
Faço saber, em cumprimento ao disposto no parágrafo 7º do artigo 66 da Constituição do Estado, que a Assembléia Legislativa aprovou e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - O cultivo comerciale as atividades com organismos geneticamente modificados (OGMs), inclusive as de pesquisa, testes, experiências, em regime de contenção ou ensino, bem como os aspectos ambientais e fiscalização obedecerão estritamente à legislação federal específica. Parágrafo único - Para os efeitos desta lei, considerar-se-á organismo geneticamente modificado toda entidade biológica cujo material genético (DNA/RNA) tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética, assim definida pela Lei federal nº 8.974/95.
Art. 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário, especialmente a Lei estadual nº 9.453, de 10 de dezembro de 1991.
Assembleia Legislativa do Estado, em Porto Alegre, 17 de abril de 2000.
A competência do Estado para instituir regras de efetiva proteção aos consumidores nasce-lhe do art. 24, V e VIII, c/c o § 2º (...). Cumpre ao Estado legislar concorrentemente, de forma específica, adaptando as normas gerais de "produção e consumo" e de "responsabilidade por dano ao (...) consumidor" expedidas pela União às peculiaridades e circunstâncias locais. E foi o que fez a legislação impugnada, pretendendo dar concreção e efetividade aos ditames da legislação federal correlativa, em tema de comercialização de combustíveis.
[ADI 1.980, voto do rel. min. Cezar Peluso, j. 16-4-2009, P, DJE de 7-8-2009.]
= ADI 2.832, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 7-5-2008, P, DJE de 20-6-2008
E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI DISTRITAL QUE DISPÕE SOBRE A EMISSÃO DE CERTIFICADO DE CONCLUSÃO DO CURSO E QUE AUTORIZA O FORNECIMENTO DE HISTÓRICO ESCOLAR PARA ALUNOS DA TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO QUE COMPROVAREM APROVAÇÃO EM VESTIBULAR PARA INGRESSO EM CURSO DE NÍVEL SUPERIOR - LEI DISTRITAL QUE USURPA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA OUTORGADA À UNIÃO FEDERAL PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DAS LACUNAS PREENCHÍVEIS - NORMA DESTITUÍDA DO NECESSÁRIO COEFICIENTE DE RAZOABILIDADE - OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE - ATIVIDADE LEGISLATIVA EXERCIDA COM DESVIO DE PODER - PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - DEFERIMENTO DA MEDIDA CAUTELAR COM EFICÁCIA "EX TUNC". A USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA, QUANDO PRATICADA POR QUALQUER DAS PESSOAS ESTATAIS, QUALIFICA-SE COMO ATO DE TRANSGRESSÃO CONSTITUCIONAL. - A
Constituição da República, nas hipóteses de competência concorrente (CF, art. 24), estabeleceu verdadeira situação de condomínio legislativo entre a União Federal, os Estados-membros e o Distrito Federal (RAUL MACHADO HORTA, "Estudos de Direito Constitucional", p. 366, item n. 2, 1995, Del Rey), daí resultando clara repartição vertical de competências normativas entre essas pessoas estatais, cabendo, à União, estabelecer normas gerais (CF, art. 24, § 1º), e, aos Estados-membros e ao Distrito Federal, exercer competência suplementar (CF, art. 24, § 2º). - A Carta Política, por sua vez, ao instituir um sistema de condomínio legislativo nas matérias taxativamente indicadas no seu art. 24 - dentre as quais avulta, por sua importância, aquela concernente ao ensino (art. 24, IX) -, deferiu ao Estado- membro e ao Distrito Federal, em "inexistindo lei federal sobre normas gerais", a possibilidade de exercer a competência legislativa plena, desde que "para atender a suas peculiaridades" (art. 24, § 3º). - Os Estados-membros e o Distrito Federal não podem, mediante legislação autônoma, agindo "ultra vires", transgredir a legislação fundamental ou de princípios que a União Federal fez editar no desempenho legítimo de sua competência constitucional e de cujo exercício deriva o poder de fixar, validamente, diretrizes e bases gerais pertinentes a determinada matéria (educação e ensino, na espécie). - Considerações doutrinárias em torno da questão pertinente às lacunas preenchíveis. TODOS OS ATOS EMANADOS DO PODER PÚBLICO ESTÃO NECESSARIAMENTE SUJEITOS, PARA EFEITO DE SUA VALIDADE MATERIAL, À INDECLINÁVEL OBSERVÂNCIA DE
PADRÕES MÍNIMOS DE RAZOABILIDADE. - As normas legais devem observar, no processo de sua formulação, critérios de razoabilidade que guardem estrita consonância com os padrões fundados no princípio da proporcionalidade, pois todos os atos emanados do Poder Público devem ajustar-se à cláusula que consagra, em sua dimensão material, o princípio do "substantive due process of law". Lei Distrital que, no caso, não observa padrões mínimos de razoabilidade. A EXIGÊNCIA DE RAZOABILIDADE QUALIFICA- SE COMO PARÂMETRO DE AFERIÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL
DOS ATOS ESTATAIS. - A exigência de razoabilidade - que visa a inibir e a neutralizar
eventuais abusos do Poder Público, notadamente no desempenho de suas funções normativas - atua, enquanto categoria fundamental de limitação dos excessos emanados do Estado, como verdadeiro parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos atos estatais. APLICABILIDADE DA TEORIA DO DESVIO DE PODER AO PLANO DAS
ATIVIDADES NORMATIVAS DO ESTADO. - A teoria do desvio de poder, quando aplicada ao plano das atividades legislativas, permite que se contenham eventuais excessos decorrentes do exercício imoderado e arbitrário da competência institucional outorgada ao Poder Público, pois o Estado não pode, no desempenho de suas atribuições, dar causa à instauração de situações normativas que comprometam e afetem os fins que regem a prática da função de legislar. A EFICÁCIA EX TUNC DA MEDIDA CAUTELAR NÃO SE PRESUME, POIS DEPENDE DE EXPRESSA DETERMINAÇÃO CONSTANTE DA DECISÃO QUE A DEFERE, EM SEDE DE CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO. - A
medida cautelar, em sede de fiscalização normativa abstrata, reveste-se, ordinariamente, de eficácia "ex nunc", "operando, portanto, a partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal a defere" (RTJ 124/80). Excepcionalmente, no entanto, e para que não se frustrem os seus objetivos, a medida cautelar poderá projetar-se com eficácia "ex tunc", com conseqüente repercussão sobre situações pretéritas (RTJ 138/86), retroagindo os seus efeitos ao próprio momento em que editado o ato normativo por ela alcançado. Para que se outorgue eficácia "ex tunc" ao provimento cautelar, em sede de fiscalização concentrada de constitucionalidade, impõe- se que o Supremo Tribunal Federal expressamente assim o determine, na decisão que conceder essa medida extraordinária (RTJ 164/506-509, 508, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Situação excepcional que se verifica no caso ora em exame, apta a justificar a outorga de provimento cautelar com eficácia "ex tunc". (STF. ADI-MC 2667/DF – Distrito Federal; Relator: Ministro CELSO DE MELLO. Julgado em 19/06/2002; Tribunal Pleno. Decisão unânime. DJ 12.03.2004 PP-00036 EMENT VOL-02143-02 PP-00275).
EMENTA: 1. ADIN. Legitimidade ativa de Governador de Estado e pertinência temática. Presente a necessidade de defesa de interesses do Estado, ante a perspectiva de que a lei impugnada venha a importar em fechamento de um mercado consumidor de produtos fabricados em seu território, com prejuízo à geração de empregos, ao desenvolvimento da economia local e à arrecadação tributária estadual, reconhece-se a legitimidade ativa do Governador do Estado para propositura de ADIn. Posição mais abrangente manifestada pelo Min. Sepúlveda Pertence. 2. Caráter interventivo da ação não reconhecido. 3. Justificação de urgência na consideração de prejuízo iminente à atividade produtiva que ocupa todo um município goiano e representa ponderável fonte de arrecadação tributária estadual. 4. ADIN. Cognição aberta. O Tribunal não está adstrito aos fundamentos invocados pelo autor, podendo declarar a inconstitucionalidade por fundamentos diversos dos expendidos na inicial. 5. Repartição das Competências legislativas. CF arts. 22 e 24. Competência concorrente dos Estados-membros. Produção e consumo (CF, art. 24, V); proteção de meio ambiente (CF, art. 24, VI); e proteção e defesa da saúde (CF, art. 24, XII). No sistema da CF/88, como no das anteriores, a competência legislativa geral pertence à União Federal. A residual ou implícita cabe aos Estados que "podemlegislar sobre as matérias que não estão reservadas à União e que não digam respeito à
administração própria dos Municípios, no que concerne ao seu peculiar interesse" (Representação nº 1.153-4/RS, voto do Min. Moreira Alves). O espaço de possibilidade de regramento pela legislação estadual, em casos de competência concorrente abre-se: (1) toda vez que não haja legislação federal, quando então, mesmo sobre princípios gerais, poderá a legislação estadual dispor; e (2) quando, existente legislação federal que fixe os princípios gerais, caiba complementação ou suplementação para o preenchimento de lacunas, para aquilo que não corresponda à generalidade; ou ainda, para a definição de peculiaridades regionais. Precedentes. 6. Da legislação estadual, por seu caráter suplementar, se espera que preencha vazios ou lacunas deixados pela legislação federal, não que venha dispor em diametral objeção a esta. Norma estadual que proíbe a fabricação, ingresso, comercialização e estocagem de amianto ou produtos à base de amianto está em flagrante contraste com as disposições da Lei federal nº 9.055/95 que expressamente autoriza, nos seus termos, a extração, industrialização, utilização e comercialização da crisotila. 7. Inconstitucionalidade aparente que autoriza o deferimento da medida cautelar. 8. Medida liminar parcialmente deferida para suspender a eficácia do artigo 1º, §§ 1º, 2º e 3º, do art. 2º, do art. 3º, §§ 1º e 2º e do parágrafo único do art. 5º, todos da Lei nº 2.210/01, do Estado do Mato Grosso do Sul, até julgamento final da presente ação declaratória de inconstitucionalidade. (STF. ADI-MC/ MS – Mato Grosso do Sul; Relatora: Ministra Ellen Gracie. Julgado em: 26/09/2001; Tribunal Pleno. Decisão Unânime. DJ 14.12.2001 PP-00023 EMENT VOL-02053-03 PP-00605) (negritado)
BENS DA UNIÃO E DOS ESTADOS MEMBROS (art. 20 e 26 da CF)
Art. 20. São bens da União:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos; XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para
fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
Conceito de Terras devolutas: são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que em nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua posse. O termo “devoluta” relaciona-se ao conceito de terra devolvida ou a ser devolvida ao Estado.
Plataforma continental é uma faixa de terra submersa existente em todo litoral de todo o continente, que, em um suave declive, termina ao dar origem ao talude continental. Geralmente, a plataforma possui uma extensão de 70 a 90 km, e profundidade de 200 metros, até atingir as bacias oceânicas.
A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) é uma faixa situada para além das águas territoriais, sobre a qual cada país costeiro tem prioridade para a utilização dos recursos naturais do mar, tanto vivos como não-vivos, e responsabilidade na sua gestão ambiental. Estabelecida pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), também conhecida como Convenção de Montego Bay, a Zona Econômica Exclusiva se estende por até 200 milhas marinhas (ou náuticas)
– o equivalente à 370 km.
3. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Princípio da Legalidade:
“Assim, o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às leis. Este deve tão-somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos os seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de dóceis, reverentes obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no direito Brasileiro.” MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 5. ed. São Paulo, Malheiros, 1994, p. 48.
Princípio da Impessoalidade:
“se traduz a ideia de que a Administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas”. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 5. ed. São Paulo, Malheiros, 1994, p. 58.
Princípio da Moralidade:
“De acordo com ele, a Administração e seus agentes têm de atuar na conformidade de princípios éticos. Violá-los implicará violação ao próprio Direito, configurando ilicitude que assujeita a conduta viciada a invalidação, porquanto tal princípio assumiu foros de pauta jurídica, na conformidade do art. 37 da Constituição. Compreendem-se em seu âmbito, como é evidente, os chamados princípios da lealdade e boa-fé, tão oportunamente encarecidos pelo mestre espanhol Jesús Gonzáles Peres em monografia preciosa. Segundo os cânones da lealdade e da boa-fé, a Administração haverá de proceder em relação aos administrados com sinceridade e lhaneza, sendo-lhe interdito qualquer comportamento astucioso, eivado de malícia, produzido de maneira a confundir, dificultar ou minimizar o exercício de direitos por parte dos cidadãos”. MELLO, Celso Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Editora Malheiros, 2010, p. 109- 110.
Ação Direta de Inconstitucionalidade (...). O princípio da moralidade administrativa - Enquanto valor constitucional revestido de caráter ético-jurídico - Condiciona a legitimidade e a validade dos atos estatais. - A atividade estatal, qualquer que seja o domínio institucional de sua incidência, está necessariamente subordinada à observância de parâmetros ético-jurídicos que se refletem na consagração constitucional do princípio da moralidade administrativa. Esse postulado fundamental, que rege a atuação do Poder Público, confere substância e dá expressão

Outros materiais