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Disciplina: Neuropsicologia Autores: Esp. Adiele Marques Revisão de Conteúdos: M.e Maria Tereza Costa e Carolinne Prado Engelhardt Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 2 Neuropsicologia 2016 3 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 4 Apresentação da Disciplina A Neuropsicologia tem como objetivo contribuir com alguns conhecimentos importantes de quando se refere-se ao funcionamento do cérebro, que é uma máquina repleta de ligações e intervenções possíveis de se fazer desde o momento da concepção até o último instante de vida. Portanto, dentro dessa perspectiva, será feito um detalhamento para se conhecer o histórico, conceitos e cada função cerebral do ser humano, mais especificamente com um olhar para o aprendiz onde, como profissionais da área clínica e educacional, precisa-se trabalhar como mediadores da aprendizagem, seja ela sistemática ou assistemática. 5 AULA 1- CONCEITOS INICIAIS DE NEUROPSICOLOGIA E AS ESTRUTURAS ENVOLVIDAS Apresentação da Aula 01 Na aula será exposto sobre o conceito de Neuropsicologia, passando por seu histórico, conceitos e descobertas. Também será descrito a divisão neuroanatômica do Sistema Nervos Central e Periférico, detalhando as funções de cada estrutura observada. 1.1 Conceito A Neuropsicologia, para que se possa compreender de maneira clara, é uma categoria ou uma ramificação das neurociências que estuda a relação entre o comportamento e o cérebro, ou seja, trata da interface entre a Psicologia e a Neurologia. A neurociência compreende as ciências que estudam o sistema nervoso, a qual pode ser considerada a ciência que verifica a expressão do comportamento por meio das funções cerebrais. A mesma atua no diagnóstico, no acompanhamento, na pesquisa e no tratamento dos aspectos da personalidade, emoções, cognição e do comportamento, relacionando-os ao funcionamento cerebral. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) A Neuropsicologia então trabalha e trata de uma disciplina autônoma, originando-se da neurologia por um lado e da psicologia psicométrica por outro. Ela é uma área multidisciplinar, exercida por vários profissionais da área da Neuropsicologia Cérebro + Comportamento 6 saúde, como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais; e da educação, como os pedagogos. É importante pontuar que o reconhecimento formal da Neuropsicologia no Brasil só veio em 2004, com a resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que passou a regulamentar esta especialidade aos psicólogos (Resolução 02/2004). Dessa maneira é relevante colocar que a grande maioria dos especialistas da Neuropsicologia estuda como diferentes lesões cerebrais afetam as diversas áreas da cognição humana. Importante Para Andrade (2004, s/p) Neuropsicologia é uma: “ciência voltada para a expressão do comportamento, por meio das disfunções cerebrais e ampara-se na avaliação de determinadas manifestações do comportamento do funcionamento cerebral”. Luria (1981, s/p) diz que a Neuropsicologia envolve o estudo das relações existentes entre o cérebro e as manifestações do comportamento. Agora, se formos olhar a Neuropsicologia nos dias atuais, podemos perceber que inicialmente, seus estudos estavam voltados mais para as consequências comportamentais e cognitivas ocasionadas por lesões cerebrais mais específicas (PORTELANO, 2005). No entanto, hoje em seus estudos a neuropsicologia busca investigar as funções cerebrais superiores inferidas a partir do comportamento cognitivo, motor, sensorial, emocional e social dos indivíduos (COSTA et al., 2004). Para o autor entende-se que é a partir do conhecimento do desenvolvimento normal do cérebro que se pode compreender suas alterações, como: disfunções cognitivas e comportamentais resultantes de lesões, doenças ou desenvolvimento anormal do cérebro. É a partir desse contexto geral da Neuropsicologia que pode ser possível compreender como se dá, de certa forma, o funcionamento e o desenvolvimento cerebral e alguns comportamentos do ser humano. 7 1.2 Evolução Histórica No início dos estudos há evidências que sugerem que os ancestrais pré- históricos compreendiam a importância do encéfalo para a vida; e cerca de 7000 anos atrás, as pessoas já faziam orifícios no crânio dos outros, ou seja, era aberto cirurgicamente enquanto a pessoa estava viva. Este procedimento era denominado de trepanação. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Os achados desses crânios mostram sinais de cura após a operação. Por essa razão, acredita-se que era um meio de tratar a dor de cabeça ou os transtornos mentais, entendendo que o cérebro era tomado por “maus espíritos”; mas com a cirurgia, era possível afastá-los, através dos orifícios abertos, oferecendo uma porta de saída. Por volta de 5000 anos atrás, escritos médicos recuperados do Egito antigo mostram que muitos já tinham conhecimento de muitos dos sintomas do dano cerebral. No entanto, era o coração a sede do espírito e das memórias, e não o encéfalo. Essa visão permaneceu até a época de Hipócrates. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Aristóteles (384-322 a.C.) acreditava que o coração era o centro do intelecto, e cabia ao cérebro o papel de refrigerar o sangue, ou seja, o 7000 anos atrás Trepanação (com objetivo de cura) 5000 anos atrás Coração: sede do espírito e das memórias 8 temperamento racional dos humanos era entendido pela grande capacidade de resfriamento do encéfalo. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Durante o Império Romano, a figura que mais se destacou foi o médico grego Galeno (130-200 d.C.) ao colocar que o encéfalo pode ter sofrido influência, em suas dissecações em animais. Ao cutucar com o dedo um encéfalo recentemente dissecado, observou que o cerebelo é mais firme e o cérebro mais macio, levando-o a crer que o cérebro deveria ser o destinatário das sensações e o cerebelo a comandar os músculos. Assim, percebeu que para formar memórias, as sensações devem ser impressas no cérebro. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Aristóteles Coração: centro do intelecto Cérebro: refrigerar o sangue Galeno (139- 200 d.C. Cérebro: destinatário das sensações Cerebelo: comandar os músculos 9 Com toda essa evolução histórica que acompanhamos até aqui, pode-se dizer que hoje esse raciocínio talvez seja considerado improvável, porém a dedução de Galeno não estava longe da verdade, visão essa que prevaleceu por aproximadamente 1500 anos. Da Renascença ao SéculoXIX, culminando com a invenção de dispositivos mecânicos controlados pela hidráulica, reforçaram a visão do encéfalo como uma máquina desempenhando várias funções. O grande defensor dessa teoria foi Descartes (1596-1650), propondo que mecanismos cerebrais controlavam o comportamento humano somente na medida em que esse se assemelhasse ao dos animais. As capacidades mentais exclusivamente humanas existiriam fora do cérebro, naquilo que ele denominou de mente. Contudo, nos dias atuais essa sustentação tem uma outra característica, visto que a mente tem uma base física, que é o cérebro. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Nos séculos XVII e XVIII estudiosos observaram que o tecido cerebral era dividido em duas partes: a substância branca e a substância cinzenta. A primeira tinha continuidade com os nervos do corpo e foi corretamente indicada, contendo as fibras que levam e trazem a informação para a substância cinzenta. Descartes (1596 – 1650) Mente: fora do cérebro (exclusivamente humana) 10 Fonte: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/as_113.htm Ao final do século XVIII o sistema nervoso já havia sido completamente dissecado e sua anatomia grosseira descrita em detalhes. Durante o século XIX, Franz Gall e Paul Broca associavam regiões do cérebro como responsáveis por determinadas funções mentais, ou seja, diferentes funções podiam estar localizadas em diferentes partes do cérebro. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Com o advento do microscópio no início do século XIX, a célula nervosa individual, hoje denominada de neurônio, foi reconhecida como sendo a unidade funcional básica do sistema nervoso. Como exemplo, pode ser pontuado que Phineas P. Gage foi um caso histórico das relações entre lesão cerebral e alteração das funções cognitivas. Ele é considerado um dos marcos da Neuropsicologia, aos 25 anos era funcionário de construção de ferrovias. Em um acidente com explosivos, foi lançada uma barra de ferro que atravessou seu crânio na região frontal. Diante dessa situação, todos acreditavam que ele morreria, porém teve uma lesão e ficou cego do olho esquerdo, mas vivo. No entanto, seu comportamento, que antes era regrado, dedicado, mudou, o que atribuiu uma visão diferenciada e com as seguintes características: displicente, briguento e arruaceiro. A mudança de seu comportamento é atribuída à extensa lesão no lobo frontal, responsável pelo controle dos impulsos, levando a um comportamento egoísta e antissocial. A figura abaixo mostra exatamente como a barra de ferro atingiu Gage. Franz Gall e Paul Broca Diferentes funções localizadas em diferentes partes do cérebro 11 Fonte: https://psicologiaymente.net/neurociencias/caso-phineas-gage-barra-metal- cabeza#! 1.2.1 Unidades funcionais Nas últimas décadas surgiram novos paradigmas de autores como Vygotsky, Luria, Leontiev, Wilson, Eccles, Pribram e outros. Alexander Luria, considerado um dos pais da Neuropsicologia e neurofisiologista da Universidade de Moscou, identificou três unidades funcionais da atividade cognitiva. Para ele, o funcionamento cerebral depende da integração das unidades funcionais. A primeira unidade serve para regular o sono e a vigília (funções básicas). É considerada como o “cérebro desperto, pronto para pensar, para trabalhar”. A segunda unidade, para obter, processar e armazenar informações, englobando funções como memória, pensamento e linguagem (processos cognitivos). É o “cérebro informado, local onde chegam as informações do meio”. A terceira unidade é para planejar, executar e verificar a atividade mental. É o “cérebro humanizado, as funções que nos diferenciam dos outros animais”. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 1ª Unidade: cérebro desperto 2ª Unidade: cérebro informado 3ª Unidade: cérebro humanizado 12 As três unidades operam em consenso, estando interligadas. Nos anos 90, ocorreu nos EUA a “década do cérebro”, de visão clínica, no intuito de se buscar intervenções eficazes contra a demência. Para entender essa década e máquina – cérebro – inicia-se com o estudo do sistema nervoso que nos traz uma vasta noção desse universo. 1.3 O Sistema Nervoso Para João Cordeiro (1996) o sistema nervoso é o mais complexo e distinto do organismo, sendo o primeiro a se diferenciar embriologicamente e o último a completar o seu desenvolvimento. Suas funções básicas são: 1) Função sensorial: responsável pelas sensações; 2) Função motora: contrações musculares voluntárias ou involuntárias; 3) Função adaptativa: adaptação ao meio ambiente (sobrevivência); 4) Função integradora: coordenação das funções dos vários órgãos. Sob o ponto de vista estrutural, o sistema nervoso pode ser dividido em uma porção central e uma porção periférica. 1.3.1 Sistema Nervoso Central O Sistema Nervoso Central (SNC) é constituído pela medula espinhal e pelo encéfalo. 13 Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=28632 1) Medula espinhal: encontra-se dentro do canal vertebral, protegida pelas vértebras. Serve de ponte de informação entre o meio interno e meio externo. Via sensitiva → aferente (entra); Via motora → eferente (sai). 2) Encéfalo é constituído pelo tronco encefálico, pelo cerebelo e pelo cérebro. 2.1) Com o tronco encefálico fazem conexão os últimos dez pares de nervos cranianos. Esses nervos, somam-se 12 no total, que são encarregados de levar ao SNC as informações sensitivas da região da cabeça e do pescoço, e de trazer os impulsos nervosos aos órgãos efetuadores desta região. O quadro 1 mostra os 12 pares de nervos cranianos e suas principais funções. PAR CRANIANO NOME FUNÇÃO I Nervo Olfatório Olfação; II Nervo Óptico Visão; III Nervo Óculomotor Movimento dos olhos; Acomodação visual; Midríase pupilar; IV Nervo Troclear Movimento dos olhos 14 V Nervo Trigêmeo Sensibilidade geral da cabeça; VI Nervo Abducente Movimento lateral dos olhos; VII Nervo Facial Movimentos da musculatura mímica; gustação; salivação; VIII Nervo Vestíbulo-Coclear Equilíbrio; Audição; IX Nervo Glossorafíngeo Gustação; Sensibilidade da faringe; Salivação; X Nervo Vago Sensibilidade Visceral; Motricidade Visceral; Deglutição; Fonação; XI Nervo Acessório Movimentos no pescoço e ombros; XII Nervo Hipoglosso Movimentos da língua. Quadro 1- adaptado de FUENTES (2008). 2.1.1) Bulbo: Batimento cardíaco; Respiração. 2.1.2) Ponte: cruzamento das fibras nervosas do hemisfério cerebral direito para esquerdo e vice-versa. 2.1.3) Mesencéfalo: formação reticular → controla o estado de vigília. 2.2) Cerebelo: Equilíbrio: estático; Equilíbrio: dinâmico; Tônus muscular; Coordenação: - fina; Coordenação: - grossa/ampla; Coordenação visomotora. 15 2.3) Cérebro: 2.3.1) Diencéfalo: Tálamo: Correio do cérebro, entregar informações. Hipotálamo: Controla fome, sede, temperatura corporal, impulso sexual e pressão arterial. Epitálamo: Auxiliares do hipotálamo. Subtálamo: Auxiliares do hipotálamo. 2.3.1) Telencéfalo: Lobos cerebrais. Lobo frontal; Lobo occipital; Lobo temporal; Lobo parietal; Lobo da ínsula. Fonte: http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/sistema-nervoso-central-e-o- estado-de-coma 16 1.3.2 Sistema Nervoso Periférico Nessa divisão encontram-se os nervos e os gânglios. De acordo com Andrade (2004) os nervos são cordões compostos por fibras nervosas, envoltórios que podem ser nervos espinhais se fazem conexão com a medula espinhal; ou nervos cranianos se fazem conexão com o encéfalo. Os gânglios nervosos são estruturas periféricas onde se localizam aglomeradosde células nervosas, que podem ter função sensorial ou motora. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Sistema Nervoso Periférico (SNP) são todas as inervações dos músculos dos membros inferiores, superiores e tronco. Divide-se em: 1. Autônomo: regula a atividade visceral; é puramente motor (involuntário); ajustes fisiológicos que garantam a sobrevivência. 1.1 - Nervos aferentes; 1.2 - Nervos eferentes: 1.2.2 - Parassimpático: produzem respostas viscerais localizadas. Importantes para a homeostase. 1.2.3 - Simpático: utilizados em estímulos de fuga e luta, as respostas são massivas e em cadeia. 2. Somático: impulsos nervosos motores, atitudes motoras voluntárias; contato do indivíduo com o meio ambiente. 2.1 - Nervos aferentes; Nervos espinhais conexão Medula espinhal Nervos cranianos conexão Encéfalo 17 2.2 - Nervos eferentes. Centro Nervoso → Divisão: ANATÔMICA FILOGENÉTICA FUNCIONAL SNC SNP - Cortical: funções mentais superiores; aprendidas culturalmente; - Límbico: comportamentos emocionais/afetivos; - Reptiliano: funções neurovegetativas (sobrevivência do indivíduo/espécie). - Função sensorial; - Função motora; - Função adaptativa; - Função integradora. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 1.4 Tipos Celulares O tecido nervoso é constituído de células nervosas, que são denominadas de neurônios e células de sustentação, que são as células de neuróglia. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 1.4.1 Neurônio Sua definição pode ser realizada da seguinte forma: é a unidade estrutural ou anatômica do sistema nervoso. Composto por quatro regiões distintas: 1. Corpo celular: Composto pelo núcleo, citoplasma e organelas. 2. Dendritos: Prolongamentos múltiplos, geralmente ramificados e em conjunto com o corpo celular, recebe as informações oriundas de outras células nervosas. Tecido nervoso Neurônios + Neuróglia 18 3. Axônio: Prolongamento único, que se encarrega de conduzir os impulsos nervosos e repassá-los a outras células. 4. Terminal pré-sináptico (telodendro): Ramificação terminal do axônio, comunicando com outros neurônios ou outros tipos efetores (células musculares e glandulares). Fonte: www.infoescola.com Além da membrana plasmática, o axônio das células nervosas possui revestimento descontínuo (intervalos chamados de nódulos de Ranvier) formado por dobras de fibras isolantes, denominadas de bainha de mielina, cuja função é aumentar a velocidade de propagação do impulso. A função do neurônio é aprender. Ele recebe a informação, integra-a e a conduz. A grande maioria dos axônios do sistema nervoso é revestida de uma bainha de mielina, que começa a ser produzida no 4º mês de gestação e não para enquanto o ser humano viver. Sua maior produção se dá até os três anos de idade da criança, processo esse denominado de mielinização. Daí ter surgido o termo estimulação precoce no processo de ensino-aprendizagem. A mielinização é produzida principalmente através de 2 fatores principais: alimentação (leite materno rico) e estimulação ambiental. A bainha de mielina é formada de lipídeos e proteína. 19 1.4.2 Sinapses É a atividade elétrica de um neurônio que pode se espalhar diretamente a neurônios que possuam contato elétrico entre si. O que permite a transmissão de atividade elétrica de um neurônio para outro é a transmissão sináptica, ou seja, o processo de transformação de um sinal elétrico em um sinal químico, e deste sinal químico novamente em sinal elétrico. Essas ligações entre os neurônios denominam-se sinapses, sendo, portanto, o local onde a atividade de um neurônio é capaz de influenciar a atividade do outro neurônio. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Os estímulos que passam de um neurônio para outro por meio de mediadores químicos, são denominados de neurotransmissores (substâncias de natureza química variada). As sinapses ocorrem através do contato das terminações nervosas, dos telodendros de um neurônio, para com os dendritos de outro neurônio. Na grande maioria das sinapses nervosas as membranas das células que fazem sinapses estão bastante próximas, porém não se tocam. O pequeno espaço entre as membranas celulares é denominado de espaço sináptico ou fenda sináptica. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Sinapses Ligações entre os neurônios Fenda sináptica Pequeno espaço entre as membranas celulares 20 Os cientistas já identificaram várias substâncias que atuam como neurotransmissores. Os mais importantes são: → Adrenalina e Acetilcolina. → O Glutamato: é um aminoácido excitatório que atua na metade das sinapses do SNC. → O Gaba: é o principal inibitório do SNC. Abaixo segue um resumo dos neurotransmissores mais importantes, bem como o seu modo de atuação: NEUROTRANSMISSOR FUNÇÕES OBSERVAÇÕES Acetilcolina Neurotransmissor excitatório motor em vertebrados e algumas zonas cerebrais. Degradada pela acetil- colinesterase, pelo que inibidores desta enzima são venenos poderosos (gás dos nervos, por exemplo) que matam por espasmos musculares violentos. Dopamina (derivado de aminoácido) Neurotransmissor excitatório do SNC. Relacionada com a esquizofrenia; doença de Parkinson é causada pela perda de neurônios sensíveis à dopamina. Norepinefrina (derivado de aminoácido) Neurotransmissor excitatório em certas zonas do cérebro, relaxa músculos viscerais e acelera o ritmo cardíaco. Semelhante à epinefrina, atua de modo semelhante e em receptores semelhantes. Histamina (derivado de aminoácido) Neurotransmissor menor do SNC. Parece importante na manutenção do estado de vigília. 21 Serotonina (derivado de aminoácido) Neurotransmissor excitatório do SNC envolvido em muitos sistemas, nomeadamente: controle da dor, controle dos estados alerta/sono e disposição. Medicamentos que reduzem a ansiedade e melhoram a disposição geral atuam aumentando os níveis internos de serotonina ou retardando a sua ativação na sinapse. Adenosina (purina) Transportada através das membranas, mas não libertada sinapticamente. Efeitos inibitórios generalizados na membrana pós-sináptica. ATP (purina) Molécula excitatória, libertada simultaneamente com muitos neurotransmissores. Aparentemente associados à ligação de neurotransmissores à membrana pós-sináptica. Glutamato (aminoácido) Neurotransmissor excitatório mais comum no SNC. Alergias ao aditivo alimentar glutamato monossódico resultam dos seus efeitos a nível nervoso. Glicina (aminoácido) Neurotransmissor inibitório comum. Drogas designadas benzodiazepínicas, usadas como sedativos e redutores de ansiedade, imitam o efeito da glicina. Endorfinas (peptídeo) Usadas por certos neurônios sensoriais, especialmente em nervos associados à dor. Os seus receptores pós- sinápticos são ativados por drogas narcóticas, como ópio, morfina, heroína ou codeína. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 22 Entretanto, estudos recentes mostram que os neurônios utilizam várias moléculas comuns no corpo, mesmo quando não existem receptores específicos para elas nas membranas sinápticas. Exemplo é o caso dos gases de monóxido de carbono e óxido nítrico. 1.4.3 Células da Glia O tecido nervoso apresenta outras células auxiliares que oferecem suporte ao funcionamento do sistema nervoso. Elas são denominadas células da glia ou gliais, as quais exercem importância vital aos neurônios, sendo a nutrição seu objetivo maior. Dessa forma, elas cercam os neurônios mantendo-os em seu lugar; e fornecem oxigênio e nutrientes aos mesmos, isolam um neurônio do outro, destroem patógenos e removem os neurônios mortos. Mantêm a homeostase (equilíbrio), formam mielina e participamna transmissão de sinais no sistema nervoso. 1.4.4 Nervos Estrutura construída de axônios e dendritos. Fazem parte do sistema nervoso periférico. Podem se originar tanto da medula espinhal quanto do encéfalo. Cada nervo é envolvido por um tubo de tecido conjuntivo (epineuro) e esse possui diversos fascículos nervosos que estão envolvidos por outra camada de tecido conjuntivo (perineuro) que está revestida por uma terceira camada de tecido conjuntivo (endoneuro). 1.5 Centro Nervoso A cada três neurônios ligados tem-se um centro nervoso. Ele é constituído de: Neurônio aferente (recebe o movimento); Neurônio associativo (integração); 23 Neurônio eferente (efetua o movimento – dá a resposta). Ao juntarem-se os centros, forma-se o Sistema Nervoso. 1.5.1 Formação e Transmissão do Impulso Nervoso As fibras nervosas possuem a propriedade de propagar rapidamente os impulsos, em todo o seu comprimento, e de transmiti-los à célula que lhe segue, fenômeno esse conhecido por sinapse. O impulso é captado pelos dendritos, passando ao corpo celular e desse para o axônio, que a envia para a célula seguinte. No momento em que o neurônio encontra-se no estado de repouso, encontra-se polarizado, ou seja, o interior está carregado mais negativamente que o exterior. Ao atingir a membrana celular, o estímulo altera a permeabilidade aos íons Na+ (sódio) e K+ (potássio) no ponto excitado, permitindo assim a entrada de íons Na+ e a saída de K+. Este deslocamento se dá através de bomba de íons, deslocando-se contra o seu gradiente de concentração com gasto de energia, retirando sódio da célula e introduzindo potássio. A saída contínua de íons positivos deixa para trás um excesso de íons negativos. Se forem os canais de sódio a abrir, ocorrerá uma entrada maciça desses íons e alteração da posição das cargas, que se invertem em relação ao estado de repouso, denominado despolarização. Após a despolarização é necessário que o neurônio volte ao seu estado de repouso, ou seja, deve ocorrer uma repolarização da membrana. Os canais de sódio rapidamente voltam a fechar, permitindo que a bomba sódio-potássio reponha as concentrações e a diferença de potencial de repouso. A principal função desse mecanismo de despolarização e repolarização é de manter o potencial elétrico da célula. 24 Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 1.6 Arcos Reflexos São uma resposta do Sistema Nervoso a um estímulo, qualitativamente invariável, involuntária, de fundamental importância para a postura e locomoção e para examinar clinicamente o Sistema Nervoso. Os neurônios motores periféricos situados na medula espinhal reagem a diversos estímulos, e para que essa reação ocorra é necessária a formação de um arco reflexo. 1.6.1 Constituição do Arco Reflexo Receptor: potencial de reação ao estímulo; captam alguma energia ambiental e a transformam em potencial de ação. Exemplo: calor, frio. Condutor aferente: transmite os impulsos para um centro nervoso. Centro reflexo: local onde os estímulos recebidos dos receptores ou outros centros podem modificar o efeito do estímulo recebido. Condutor eferente: conduz a resposta para o órgão efetor. Órgão efetor: é responsável por produzir a reação ou reações. 1.7 Meninges e Líquido Cefalorraquidiano As meninges são membranas de tecido conjuntivo que envolvem o sistema nervoso (medula e encéfalo). Consistem em um sistema de membranas com a função de revestimento e proteção. São representadas por: Bomba sódio- potássio Função Manter o potencial elétrico da célula 25 Dura-máter: Mais espessa, externa e resistente das três meninges existentes. É ricamente vascularizada e inervada por terminações sensoriais; é a principal responsável por dores de cabeça. Aracnóide: Meninge intermediária. Fina membrana próxima à dura-máter. Nela encontramos o espaço subaracnóideo, que é a região que abriga o líquor (via direta de comunicação entre a medula e o encéfalo). Pia-máter: Meninge que está intimamente aderida ao encéfalo e aos feixes de fibras medulares. Tem a função de dar resistência aos órgãos nervosos, que são de consistência mole e delicada. Fonte: www.brasilescola.com 1.8 Córtex Cerebral Vem do latim para “casca”. Corresponde à camada mais externa do cérebro, sendo rico em neurônios, é o local do processamento neuronal mais sofisticado e distinto. É uma espécie de “capa” em volta do cérebro. Desempenha um papel central em funções complexas do cérebro como atenção, memória, percepção, consciência, linguagem e pensamento. Daí ser visto como a sede do entendimento, da razão, local de representações simbólicas. 26 Possui cerca de 20 bilhões de neurônios e é formado por massa cinzenta. O lado esquerdo e direito do córtex cerebral são ligados por um feixe grosso de fibras nervosas denominado de corpo caloso. Os dois hemisférios cerebrais (lados esquerdo e direito) formam o telencéfalo. O córtex cerebral divide-se em áreas chamadas de lobos cerebrais, sendo cada um com funções especializadas e distintas. Fonte: http://vivomaissaudavel.com.br/saude/especialidades/tenha-mais-saude-mental- conhecendo-seu-cerebro-e-sua-mente/ 1.8.1 Lobo Frontal Responsável pelas funções executivas, ou seja, todos os comportamentos voltados para a realização de uma tarefa ou objetivo. Essas funções vão desde a capacidade do indivíduo planejar e desenvolver estratégias para resolução de problemas até a realização de metas na vida. Para tal, exige-se a flexibilidade de comportamento, integração de detalhes num todo coerente e o manejo de múltiplas fontes de informação, todos coordenados com o uso de conhecimento adquirido. Do ponto de vista anatômico, localiza-se acima do sulco lateral e adiante do sulco central. Fica na parte da frente do cérebro (testa), em que se dá o planejamento de ações e movimento, bem como o pensamento abstrato. Divide-se em córtex motor e córtex pré-frontal. 27 A aprendizagem motora e os movimentos de precisão são executados pelo córtex pré-motor. Lesões nessa área alteram a velocidade de movimentos automáticos, como a fala e os gestos. O córtex motor coordena e controla a motricidade voluntária. O córtex motor do hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo do indivíduo e vice- versa. Lesões nessa região podem causar paralisia ou fraqueza muscular. O córtex pré-frontal localiza-se na parte da frente do lobo frontal. Está ligado ao pensamento abstrato e criativo, a fluência da linguagem e do pensamento, respostas afetivas e capacidade para ligações emocionais, julgamento moral e social, determinação e vontade para a ação e atenção seletiva. Lesões nessa área podem ser dramáticas e complexas, podendo apresentar falta de iniciativa e de motivação, certa inércia comportamental, déficits na capacidade de juízo e insight, pensamento concreto e déficits na capacidade de planejamento estratégico, envolvendo impulsividade, desinibição comportamental e sexual e, perda do autocontrole. Estudos recentes fazem correlação entre anormalidades do lobo frontal e a ocorrência do transtorno de personalidade antissocial, denominada por alguns de “psicopatas”. É claro que esta não seria a única causa (é multifatorial), mas estudos forenses já consideram e estudam esta hipótese através de exames de neuroimagens. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 1.8.2 Lobo Occipital Localiza-se na parte inferior do cérebro, sendo responsável pelo processamento dos estímulos visuais. Dentro dele existem zonas especializadas em processar a visão da cor, da distância, do movimento, da profundidade, etc. Lobo frontal Funções executivas 28 Assim que os estímulos visuais passampela área visual primária, eles são comparados com informações anteriores, permitindo ao indivíduo identificar objetos, animais, pessoas, etc., essa comparação e identificação ocorrem na área da visão secundária. O significado do que vemos, porém, é dado por outras áreas do cérebro, as quais se comunicam com a área visual, considerando experiências passadas e expectativas. Lesões no lobo occipital provocam a impossibilidade em reconhecer objetos, palavras e até mesmo rostos de pessoas conhecidas ou familiares, denominada de agnosia. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 1.8.3 Lobo Temporal Localiza-se acima das orelhas e tem como principal função o processamento dos estímulos auditivos. Da mesma maneira que no lobo occipital, as informações são processadas por associação. Ao estimularmos a área auditiva primária, os sons são produzidos e enviados para a área auditiva secundária. O significado do que se ouve se dá através da interação com outras zonas do cérebro, atribuindo um significado e permitindo assim que o indivíduo reconheça o que está ouvindo. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Lobo occipital Processamento dos estímulos visuais Lobo temporal Processamento dos estímulos auditivos 29 1.8.4 Lobo Parietal Localiza-se na parte superior do cérebro. Interpreta os estímulos sensoriais provenientes do corpo, sendo responsável pela combinação das impressões relacionadas à textura, forma e peso e as transformam em percepções gerais. Reconhece objetos pelo tato. Possibilita a percepção de sensações como o tato, calor e a dor. Também possui a função de auxiliar as pessoas a se orientar no espaço e a perceber a posição das partes do corpo. Constitui-se através de duas subdivisões: Zona anterior: também denominada de córtex somatossensorial, tem por função possibilitar a recepção de sensações como o tato, a dor e a temperatura do corpo. Por ser a área responsável em receber os estímulos obtidos com o ambiente exterior, representa todas as áreas do corpo humano. Ocupa maior espaço, é a mais sensível, uma vez que tem mais dados a serem interpretados, captados pelos lábios, língua e garganta. Zona posterior: trata-se de uma área secundária que analisa, interpreta e integra as informações recebidas pela zona anterior, permitindo ao indivíduo localizar-se no espaço, assim como o reconhecimento dos objetos através do tato, etc. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 1.8.5 Lobo da Ínsula É uma dobra interna do córtex, responsável pelo monitoramento em permanência o estado funcional do corpo, e, portanto, as emoções, gerando Lobo parietal Interpreta estímulos sensoriais 30 informações que são então levadas pelo lobo frontal para ajustar o comportamento ao nosso estado interno. Dentre suas principais funções estão fazer parte do sistema límbico (responsável pelas emoções) e as coordenar, além de ser responsável pelo paladar. Os estudos a respeito deste lobo cerebral ainda são recentes, funcionando como uma intérprete do cérebro ao traduzir sons, cheiros em emoções como desejo, nojo, orgulho, arrependimento, culpa ou empatia. Lesões na ínsula podem levar à apatia, perda de libido, alterações na memória de curto prazo e a incapacidade de alguém distinguir pelo cheiro um alimento fresco de outro estragado. Fonte: www.buscarosaber.blogspot.com Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Resumo da Aula 01 Nessa aula trabalhou-se inicialmente sobre o conceito da Neuropsicologia e sua história. É fundamental você conhecer a história para entender como surgiu a construção e a evolução dos termos técnicos, sua época e como se formaram os conceitos e descobertas. Lobo da ínsula Responsável pelas emoções 31 A conceituação da época permite entender melhor a evolução desta ciência e os paradigmas que foi ultrapassando. Em seguida foi descrito, detalhadamente, toda a divisão neuroanatômica do Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico (SNC e SNP) e as funções de cada estrutura envolvida. Foi trabalhado sobre os tipos celulares (neurônios e neuróglias), principais funções, envolvendo sinapses, formação e transmissão do impulso nervoso, arcos reflexos, meninges e líquido cefalorraquidiano e por fim sobre o córtex cerebral e as funções de cada subdivisão (lobo frontal, parietal, occipital, temporal e ínsula). Estes conhecimentos serão a chave-mestra para o entendimento das aulas seguintes. Atividade de Aprendizagem Após a observação do conteúdo de aula, discorra sobre as divisões do cérebro (lobos) e a importância de cada um. AULA 2 - AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA Apresentação Aula 02 Nessa aula, serão vistos alguns aspectos importantes que contemplam a avaliação neuropsicológica, os quais devem ser de seu conhecimento para que você, enquanto profissional, conheça como se dá esse instrumento e como deve ser feita a reabilitação neuropsicomotora. 2.1 Conceito As avaliações neuropsicológicas são exames detalhados das funções cognitivas práxicas, buscando avaliar funções como atenção, planejamento, flexibilidade mental, aprendizagem, memória, linguagem e habilidades acadêmicas. 32 Também é capaz de avaliar funções emocionais, como habilidades sociais e traços de personalidade que tenham base neurológica. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 2.2 Avaliação Neuropsicológica O processo de avaliação neuropsicológica utiliza-se de um conjunto de testes e procedimentos padronizados, possibilitando a visualização do grau de integridade ou comprometimento das funções avaliadas, avaliando funções cognitivas, habilidades sociais e traços de personalidade de base neurológica. A duração pode variar entre 4 a 6 encontros, numa média de duração de 1 hora e 30 minutos cada um. De acordo com MATTOS (2000), a avaliação neuropsicológica consiste no diagnóstico preciso do déficit cognitivo-comportamental, na correlação funcional anátomo-clínica, na previsão da evolução do quadro clínico e em indicações de processos de reabilitação cognitiva. Para tal, utiliza-se de um conjunto de testes e procedimentos padronizados, com objetivo diagnóstico de pesquisa ou para auxílio no planejamento da reabilitação. Avaliação Neuropsicológica Funções cognitivas Funções emocionais 33 Importante A origem da avaliação neuropsicológica remonta ao início do século XIX, a partir da confluência da psicologia clínica e da psicofísica, orientada por uma corrente funcionalista. A proximidade das investigações nestes dois campos permitiu o desenvolvimento paralelo de métodos e técnicas destinadas ao estudo das manifestações comportamentais utilizadas pelas duas especialidades. Assim, deu-se o início dos instrumentos psicométricos, os precursores dos atuais testes psicológicos, originários de uma vertente psiquiátrica, pelos estudos de Cattel, Galton, Binet e Pearson. Na avaliação neuropsicológica investigam-se as funções que estão preservadas e as que estão comprometidas. Tem por objetivo coletar os dados clínicos, verificando a extensão das perdas e explorar os pontos preservados, estabelecendo os tipos de intervenções específicas, dando possibilidade de instrumentos e meios de reabilitação. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Avaliação neuropsicológica Investigar funções preservadas Investigar funções comprometidas 34 2.3 Instrumentos Utilizados na Avaliação Neuropsicológica 2.3.1. Testes psicológicos específicos Os testes consistem em testes psicométricos padronizados, de uso exclusivo de psicólogos. Os principais deles são: D2 – Atenção Concentrada, entre os 9 e os 52 anos. Figuras Complexas de Rey, entre os 4 e os 7 anos, de aplicação individual. Teste Wisconsin de Classificação de Cartas,entre os 6 anos e meio e os 18 anos, de aplicação individual. WAIS III – Escala de Inteligência Wechsler para Adultos, entre os 16 e os 89 anos, de aplicação individual. WISC III – Escala de Inteligência Wechsler para Crianças, entre os 6 e 16 anos, de aplicação individual. WISC IV – Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (versão mais atual e mais completa), entre os 6 e os 16 anos, de aplicação individual. CMMS – Escala de Maturidade Mental Colúmbia, entre os 3 anos e 6 meses e os 9 anos e 11 meses, de aplicação individual. TIG-NV – Teste de Inteligência Geral Não-Verbal, entre os 10 e os 79 anos, de aplicação individual ou coletiva. Lembrando que para o psicólogo utilizar esses instrumentos, os mesmos devem estar dentro dos critérios de aprovação e reconhecidos pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Testes psicológicos Testes padronizados de uso exclusivo do psicólogo 35 2.3.1.1 Etapas dos Testes Algumas etapas devem ser seguidas por todos os testes a serem realizados, sendo as principais: Anamnese é uma entrevista realizada pelo profissional, não apenas da saúde, mas também pelos psicopedagogos, e busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a queixa principal, relacionando com a história familiar, ocupacional, de relacionamentos e vida escolar. Esse instrumento pode ser realizado diretamente com o paciente e/ou com familiares (no caso de crianças e adolescentes, na suspeita de algumas patologias específicas, ficando a critério do profissional que a realiza ou, dependendo do caso, obedecendo a um protocolo específico de atendimento). Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Observação do comportamento: através de entrevistas estruturadas ou semiestruturadas, podendo ser individual ou coletiva, familiar, ambiente escolar e/ou de trabalho, etc. Em caso de crianças utiliza-se de recursos lúdicos, através de brinquedos, com objetivo terapêutico. Exames clínicos e neurológicos: realizados pelo(s) médico(s). Anamnese História de vida do paciente Observação do comportamento Entrevistas estruturadas ou semiestruturadas 36 Exames de neuroimagem para ver o funcionamento do cérebro. Tomografia computadorizada. PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons). SPECT (Cintilografia Tomográfica da Microperfusão Cerebral). Ressonância Magnética. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 2.4 Principais Funções Avaliadas no Processo de Avaliação Neuropsicológica Atenção: Capacidade do indivíduo de focalizar a mente a algum aspecto do ambiente ou conteúdo da própria mente. Divide-se em: Atenção focalizada (concentrada): refere-se à capacidade de direcionar o foco da atenção para um determinado estímulo ou grupo de estímulos. Atenção sustentada: refere-se à capacidade de vigilância. Atenção seletiva: ignorar estímulos irrelevantes, focando naquilo que realmente importa. Atenção alternada: dentre vários estímulos, refere-se à habilidade de alternar voluntariamente o foco da atenção. Memória: Sistema que processa e armazena informações. Táctil-Cinestésica: Exame clínico e neurológico Realizado pelo médico 37 Reconhecimento através do tato sem a ajuda da visão. Funções Motoras: Construção dos movimentos voluntários. Funções Superiores: Capacidade em que o indivíduo age com um propósito (meta, plano), resolver problemas, ser criativo. Orientação: Consciência de si em relação ao ambiente. Pode ser dividida em: Orientação temporal: “Que dia é hoje?” “Em que mês, ano, dia da semana estamos?” “Noções de dia/tarde noite”. Orientação espacial: onde o indivíduo se encontra, localização no espaço. “Onde você mora?” “Onde você está agora (lugar)?” “Qual o caminho para chegar até sua casa?”. Orientação sobre si mesmo e sobre as demais pessoas: “Qual o seu nome?” “Quem é essa pessoa que te acompanha?”. Verbais: Aspectos da linguagem (programação, compreensão, expressão da fala). 2.5 O Que Oferece A Avaliação Neuropsicológica Identifica prejuízos e habilidades cognitivas preservadas. Auxilia no diagnóstico diferencial de patologias neurológicas e psiquiátricas. Elaboração de laudos para fins legais. Orienta quanto à eficácia do tratamento farmacológico. Elaboração de programa de reabilitação e estimulação cognitiva. 38 2.6 Objetivos da Avaliação Neuropsicológica Auxílio diagnóstico: no intuito de oferecer subsídios para a identificação e delimitação do quadro. A avaliação visa responder uma pergunta que tem a ver com a origem, a natureza ou a dinâmica da condição em estudo. O local da avaliação pode ser variado, incluindo consultórios, clínicas, hospitais, etc. “Qual é a dificuldade/problema e como é a sua apresentação?” Prognóstico: após o diagnóstico, deseja-se estabelecer o curso da evolução e o impacto que tal desordem terá a longo prazo. Esta previsão tem a ver com a condição de base da patologia ou transtorno; em caso de lesão, a localização e extensão; idade, suporte familiar, recursos pessoais, emocionais e físicos. Assim, também o tempo da descoberta, pois quanto mais precocemente forem detectados, mais cedo serão abordados e melhor poderá ser o prognóstico. Orientação para o tratamento: é um dos objetivos mais importantes. Após o estabelecimento da relação entre o comportamento e o substrato cerebral ou a patologia, a avaliação neuropsicológica não só delimita áreas de disfunção, mas também estabelece as hierarquias e a dinâmica das desordens em estudo. Esse delineamento poderá contribuir para a escolha ou para as mudanças nos tratamentos medicamentosos ou outros, como para os planos de metas de tratamento neuropsicológico. Auxílio para planejamento da reabilitação: a avaliação neuropsicológica é capaz de estabelecer quais os pontos fortes e fracos cognitivos, provendo assim uma espécie de mapa para orientar quais funções devem ser reforçadas ou substituídas por outras. Além disso, permite auxiliar em mudanças na área profissional, acadêmica, familiar, através da ampliação dos recursos cognitivos que possibilitam melhorar a qualidade de vida. Seleção de paciente para técnicas especiais: a análise minuciosa de funções permite separar subgrupos de pacientes de uma mesma patologia, possibilitando uma triagem específica de pacientes para um procedimento ou tratamento com medicamento. Perícia: a avaliação neuropsicológica no contexto forense não é apenas afirmar se um indivíduo é ou não portador de uma dada condição ou desordem, 39 mas também para auxiliar na tomada de decisão que os profissionais da área do direito precisam fazer em uma determinada questão legal. 2.7 Indicações mais Frequentes para Avaliação Neuropsicológica Uma das dificuldades mais frequentes está a dificuldade de aprendizado, que pode ocorrer nas fases de mudança escolar, como no primeiro ano do ensino fundamental, entre 5º e 6º ano e entre o 9º ano e o período de pré-ingresso no ensino superior. São etapas em que não só as demandas se modificam, mas também as da própria vida. A instabilidade emocional é outro problema, alguns adultos não conseguem preservar relacionamentos pessoais e/ou mudam de emprego constantemente, gerando frustrações que podem redundar em quadros de depressão. As falhas de memória são as queixas mais frequentes em pacientes na faixa de 60 anos, que temem o mal de Alzheimer. As lesões cerebrais, traumas ou acidentes vascular cerebral podem gerar alterações de comportamento diretamente ligadas às lesões, e a dependência química (drogas e álcool) são notórios causadores de distúrbios de comportamentos. A avaliação neuropsicológica ajuda no diagnóstico sobre a relação desses distúrbios e possíveis alterações no cérebro causadospela dependência (Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein). A avaliação neuropsicológica é recomendada em qualquer caso onde exista suspeita de uma dificuldade cognitiva de ordem comportamental ou neurológica. Outras indicações: Suspeita de demências, como a doença de Alzheimer, doença de Pick, Parkinson, Síndrome de Korsakoff, dentre outras. Diagnóstico diferencial entre Depressão e Demência, pois muitas vezes, os sintomas podem ser confundidos se for feita apenas uma avaliação clínica. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Transtornos do desenvolvimento. 40 Transtornos psiquiátricos ou neuropsiquiátricos. Esclerose múltipla e outras doenças neurodegenerativas. Pessoas com possíveis sequelas de TCE (Traumatismo Crânio- Encefálico). Inteligência. 2.8 Avaliação Neuropsicológica Infantil A avaliação neuropsicológica é recomendada em qualquer caso, onde ocorra suspeita de alguma dificuldade cognitiva ou comportamental de base neurológica. Ela pode ser de fundamental relevância no auxílio diagnóstico e tratamento de inúmeras enfermidades neurológicas, alterações de conduta, comprometimentos psiquiátricos, dificuldades no desenvolvimento infantil, entre outros. A contribuição principal dessa avaliação na criança é extensiva ao processo de ensino-aprendizagem, pois permite o estabelecimento de algumas relações entre as funções corticais superiores, como a atenção, memória, linguagem e a aprendizagem simbólica (através da leitura, escrita, formação de conceitos, etc.). O modelo neuropsicológico das dificuldades da aprendizagem objetiva uma amostra de funções mentais superiores envolvidas na aprendizagem simbólica, as quais estão correlacionadas com a organização funcional do cérebro. O conjunto de instrumentos utilizados na avaliação neuropsicológica infantil possibilita uma avaliação global das capacidades da criança, bem como as dificuldades encontradas por ela em seu cotidiano. O objetivo não é o de rotular a criança, mas sim evitar que tais dificuldades possam impedir o desenvolvimento saudável da criança. Importante salientar que o funcionamento cerebral da criança ainda está em desenvolvimento, com características próprias que garantem uma diferenciação e especificidade de funções. Dentre os principais recursos utilizados destacam-se a anamnese com os pais, entrevista na escola, testes psicométricos e exames de neuroimagem. 41 A avaliação é interdisciplinar e multiprofissional, ou seja, é realizado por profissionais da área clínica, como médicos, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, etc. Outro conceito fundamental de se compreender na avaliação neuropsicológica infantil é o de neuroplasticidade cerebral. A plasticidade cerebral permite que o cérebro se adapte de forma a criar fortes alicerces para qualquer situação de aprendizagem. Ou seja, o cérebro é capaz de se moldar, necessitando de muitos estímulos para que ocorra a neuroplasticidade, condição essa que se torna mais propícia em indivíduos jovens. Quanto mais jovem o indivíduo, maior sua capacidade de neuroplasticidade. Ela é então entendida como a base neurobiológica para a aprendizagem, memória, desenvolvimento neuro-psico-motor e recuperações pós-lesionais. Embora nem sempre esse processo leve à recuperação total (cura), toda melhora pode ser explicada através de distintos mecanismos “plásticos, moldáveis”, quer sejam eles morfológicos, quer sejam químicos. 2.9 Avaliação Neuropsicológica No Adulto Tem por objetivo investigar o perfil de funcionamento cognitivo e comportamental na ocorrência de queixas cognitivas e de desempenho ocupacional e na vida diária. Ela é indicada se houver uma desordem cerebral adquirida, como acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo crânio-encefálico (TCE), quadros convulsivos (como a epilepsia), hidrocefalia, encefalites e encefalopatias em geral. Assim, também em casos de transtornos neuropsiquiátricos, como quadros ansiosos, depressivos, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), esquizofrenia, dentre outros. Outro critério para avaliação é a presença de abuso e/ou dependência de substâncias (álcool, drogas, intoxicações medicamentosas), que são capazes de modificar o funcionamento do SNC (Sistema Nervoso Central), podendo ser classificadas como: 42 Substâncias depressoras do SNC: álcool, opiáceos, heroína, inalantes, solventes e ansiolíticos. Substâncias estimulantes do SNC: anfetaminas (“rebite”), cafeína, nicotina e cocaína (incluindo o crack, que é um subproduto da cocaína). Substâncias perturbadoras do SNC (alucinógenas): cannabis (maconha), chá de cogumelo, LSD. Os instrumentos utilizados constam de: Anamnese: história escolar e laboral; aspectos psicológicos individuais e familiares; histórico de relacionamentos, presença de determinadas patologias, internamentos, tratamentos anteriores, etc. Testes psicométricos: testes padronizados de uso exclusivo do psicólogo. Avaliação interdisciplinar e multiprofissional, realizada por equipe clínica. Exames de neuroimagem: tomografia computadorizada, PET, SPECT, ressonância magnética. Exames neurológicos e laboratoriais. Dependendo do grau e amplitude da patologia, desordem ou lesão, a família também será abordada e contemplada no processo de avaliação neuropsicológica. 2.10 Avaliação Neuropsicológica no Idoso Ocorre na suspeita ou ocorrência de alterações ou desordens relacionadas ao envelhecimento, envolvendo o processo do envelhecimento normal, declínio cognitivo leve e suspeita de quadros demenciais. A avaliação neuropsicológica no idoso é imprescindível na comprovação da eficácia do uso de medicamentos. Outro objetivo fundamental dessa avaliação é que ela deve contribuir para comprovar a eficácia da reabilitação. As sequelas cerebrais obedecem à seguinte classificação: 43 Prejuízos: correspondes à presença de lesão nas estruturas físicas. Incapacidades: inabilidades na realização das tarefas. Desvantagens: inabilidades do contexto ambiental e social ao qual o indivíduo está inserido. Principais instrumentos de avaliação neuropsicológica no idoso: Mini Exame Do Estado Mental (MEEM): teste de rastreio e triagem mais utilizado no mundo. É simples, de aplicação rápida autoexplicativa. Leva alguns minutos. Determina a extensão da avaliação cognitiva subsequente a sua aplicação em indivíduos com demência moderada e severa. Baterias neuropsicológicas: sequência de testes padronizados, de uso exclusivo do psicólogo, que avaliam o comportamento e a cognição. Os testes neuropsicológicos permitem a identificação precoce dos distúrbios cognitivos, seu grau de comprometimento e o seguimento da evolução natural da doença ou sua resposta às medidas terapêuticas. Escalas para avaliação do desempenho funcional do idoso: revisão das atividades básicas de vida diária, como o autocuidado e a automanutenção. Anamnese: obtida com o paciente e seus familiares, analisando-se a história de vida e familiar, patologias pré-existentes, internamentos, tratamentos anteriores, história de relacionamentos e laboral, etc. Exames clínicos: neurológicos, laboratorial e de neuroimagem. 2.11 Reabilitação Neuropsicológica 2.11.1 Conceito O processo de reabilitação é fundamental quando os resultados da avaliação neuropsicológica mostram ocorrência de perda ou prejuízo nas funções cognitivas. Pode ser usado como sinônimo de reabilitação cognitiva. 44 A reabilitação neuropsicológica visa à realização das intervenções necessárias junto ao paciente, em conjunto com a família, na busca de uma melhor adaptação diante das dificuldades, melhorando a qualidade de vida do mesmo e, consequentemente, também dos familiares. ConformeWILSON (2003) a reabilitação neuropsicológica pode ser definida como o conjunto de intervenções que objetivam melhorar os problemas cognitivos, emocionais e sociais decorrentes de uma lesão encefálica auxiliando a pessoa a alcançar maior independência e qualidade de vida. Um dos pioneiros a relatar seus esforços sistemáticos para reabilitação de pessoas com lesão encefálica após a Segunda Guerra Mundial foi Alexander Luria. Leonard Diller, a partir de pacientes com AVC que apresentavam problemas com escaneamento visual, propiciou o desenvolvimento de programas de treinamento específicos. Bem-Yishay desenvolveu uma visão holística para reabilitação neuropsicológica, aliando a realização de exercícios cognitivos, psicoterapia e atividades específicas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças ligadas ao funcionamento cerebral constituem a maior causa de deficiências no mundo. A demanda tem crescido consideravelmente devido ao aumento dos recursos médicos oferecidos à população. No entanto, diversas dificuldades ainda são observadas no Brasil, como: ainda existem poucas instituições de ensino que oferecem capacitação nessa área, embora já se observe relativo aumento; dificuldades inerentes à área para delimitar protocolos específicos de atendimento; necessidade de adaptar as estratégias de reabilitação utilizadas em outros contextos socioculturais à realidade brasileira; a descoberta de indicadores adequados à realidade brasileira para avaliar os programas de reabilitação que têm sido implantados. A reabilitação é possível graças a um fenômeno denominado de plasticidade cerebral. Embora em escala modesta, o cérebro possui uma capacidade de se autorregenerar. Atualmente, já se identificam estruturas encefálicas, como o giro denteado e o hipocampo, relacionadas com a neurogênese (crescimento e desenvolvimento de neurônios). 45 Isso significa que após uma lesão cerebral, existe a formação de neurônios que migram para a área lesionada, recuperando parte dos neurônios que morreram. Além disso, existe a constante remodelagem da ligação dos axônios, oportunizando uma comunicação diferenciada entre os neurônios, gerando assim mais canais de comunicação. Alguns fatores podem facilitar a neurogênese e a reorganização sináptica, como: Dieta adequada. Exercícios físicos orientados. Uso das funções executivas: pensamento, atenção, memória, linguagem, etc. Entretanto, existem alguns fatores que prejudicam o funcionamento do sistema nervoso, envolvendo: Uso abusivo de álcool e outras drogas: dificultam o processo de regeneração neuronal. Pesquisas mostram que o hipocampo (parte do cérebro responsável pela memória e com importância para as funções relacionadas à aprendizagem) foi uma das estruturas mais afetadas no cérebro de usuários. A partir desse pressuposto, pode-se tirar uma conclusão primordial a respeito do processo de reabilitação: evitar o uso de álcool e outras drogas. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Álcool e outras drogas Reabilitação 46 Assim como o processo de avaliação neuropsicológica, a reabilitação deve ser realizada por equipe multidisciplinar e multiprofissional clínica especializada. Durante a reabilitação é fundamental a realização de trabalho em conjunto com a família do paciente. 2.11.2 A Importância da Orientação aos Familiares Como citado, a reabilitação compreende o uso de métodos e estratégias em prol da qualidade de vida dos pacientes. Através dos resultados da avaliação neuropsicológica, objetiva-se também englobar a orientação familiar, envolvendo a discussão do conceito e prognóstico da dificuldade e/ou desordem, bem como o planejamento e elaboração de técnicas de manejo a serem estendidas e aplicadas pelos familiares ao paciente, orientados por equipe multiprofissional. Para tal, um dos primeiros passos é o acolhimento ao familiar. Isso significa uma postura ética que implica na escuta em suas queixas, a responsabilização pela resolução e ativação de redes de compartilhamento de saberes. O acolhimento familiar pode ser uma das maiores alianças formadas para o sucesso terapêutico, pois favorece a confiança e consequentemente adesão familiar ao tratamento proposto. Além da escuta, é importante considerar e apontar as potencialidades do paciente e da família. Isso permite maior facilidade em trabalhar com as dificuldades encontradas. 2.11.3 Expressões Utilizadas em Reabilitação Atividades, exercícios, tarefas e ocupações devem ser usadas como recurso de intervenção. Atividade: é a unidade básica de uma tarefa. Exemplo: separar os ingredientes para um bolo. Tarefa: é o conjunto de atividade com um propósito definido. Exemplo: fazer um bolo para uma festa de aniversário. 47 Exercício: é o conjunto de atividade com o propósito definido e com geração de dificuldade. Exemplo: fazer um bolo para uma festa de aniversário com velocidade de execução progressiva. 2.11.4 Técnicas de Reabilitação Neuropsicológica Reorganização funcional diz respeito às mudanças neuroplásticas cerebrais. Existem quatro formas de reorganização funcional: 1. Adaptação da área homóloga: quando determinada área do cérebro sofre uma lesão, a mesma região do hemisfério oposto se adapta no intuito de assumir a função prejudicada, embora nem sempre o hemisfério oposto consiga assumir as funções prejudicadas. 2. Resignação entre funções: ocorre quando o indivíduo é privado de input (entrada) sensorial e outras habilidades acabam sendo potencializadas. No sentido fisiológico, a região privada de input responsabiliza-se pelo processamento de informações de outras habilidades sensoriais. 3. Expansão do mapa cortical: o tamanho do mapa cortical (área responsável por determinada função) pode sofrer variação de acordo com a estimulação a que é submetido, podendo aumentar no período de prática e até mesmo diminuindo quando o aprendizado se torna explícito. 4. Compensação mascarada: ocorre quando uma nova estratégia é utilizada para desempenhar uma função que está prejudicada, porém para compensá-la. Denomina-se mascarada por poder ser confirmada apenas através de uma avaliação cognitiva detalhada, pois a mesma não se refere a uma compensação de função, mas sim de estratégia utilizada. Compensação, adaptação e reaprendizagem: objetiva tratar ou amenizar as sequelas do dano cerebral, no intuito de minimizar o esforço do paciente diante do prejuízo cognitivo ocasionado pelos sistemas lesionados. Esse método normalmente é utilizado quando a função não pode ser restaurada. Assim, utiliza-se a potencialização de diferentes mecanismos alternativos e/ou de habilidades preservadas. 48 Nos casos em que a restauração da função não é possível, o paciente é ensinado a utilizar estratégias compensatórias como alternativa para alcançar seus objetivos. Essa alternativa é bastante utilizada em déficits mnemônicos, atencionais e executivos, a qual inclui a utilização de aparelhos eletrônicos, como computadores, alarmes, relógios, gravadores, dentre outros, associando com agendas, blocos, calendários, placas de sinalização, etc. Resumo da Aula 02 Em reabilitação, o fundamental é que a equipe terapêutica que a realiza seja capaz de motivar o seu paciente a alcançar suas metas, através de reforços positivos e promovendo experiências de sucesso. Além do conhecimento teórico e prático, a equipe terapêutica necessita ter a capacidade de ser atenta ao paciente e seu respectivo familiar, ter respeito pela sua condição e demonstrar empatia, condições fundamentais para a confiança. Em suma, um cliente e uma família motivada representam um alto índice de sucesso em reabilitação. A aula tratou especificamente sobre o processo de avaliação e reabilitação neuropsicológica.Iniciou com o conceito, funções avaliadas e principais indicações para avaliação neuropsicológica, descrição das técnicas e recursos utilizados, bem como delimitou as diferenças e semelhanças nas avaliações envolvendo crianças, adultos e idosos. A partir daí, com os resultados do processo de avaliação, é possível o plano de reabilitação. Ao final da aula, trabalhou-se algumas técnicas envolvendo reabilitação e abordou-se sobre a importância da família e sua relação com a eficácia no tratamento. Atividade de Aprendizagem Discorra sobre a importância da orientação aos pais para a reabilitação Neuropsicomotora. 49 AULA 3 - NEUROPSICOLOGIA E APRENDIZAGEM Apresentação Aula 03 3 Neuropsicologia Relacionada a Aprendizagem A Neuropsicologia é a ciência que pretende inter-relacionar os conhecimentos da psicologia cognitiva com as neurociências, desvendar a fisiopatologia do transtorno e, a partir dessa base, encarar racionalmente a estratégia de tratamento. É através dela que se dá a compreensão dos processos mnêmicos, perceptivos, de aprendizado e de solução de problemas, dentre outras atividades cognitivas. A aprendizagem é um processo contínuo, envolvendo mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, relacionais, neurológicos e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente a que o indivíduo é submetido. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Conforme a idade e o nível de desenvolvimento, a aprendizagem pode sofrer alterações na velocidade e na qualidade do que é aprendido. Isso é possível porque o órgão responsável pela aprendizagem – o sistema nervoso – termina seu amadurecimento somente no final da adolescência e sofre contínuas alterações, pelo ambiente, por toda a vida. No processo de desenvolvimento e aprendizagem a criança opera sobre todos os dados recebidos do ambiente e atribui significado a eles, tanto pessoais quanto da cultura a qual está inserida. Aprender Estruturas mentais + meio ambiente 50 A aprendizagem é um processo dinâmico que depende não somente da atenção e do esforço, mas também de estimulação ambiental e de características orgânicas e motivacionais de cada pessoa. O aprender significa muito mais que memorizar e/ou copiar os estímulos recebidos. Trata-se de um processo ativo que engloba outras atividades, como: Organizar a nova informação recebida; Comparar e integrar com aquilo que ela já conhece; Armazenar na memória; Resgatar da memória a informação sempre que necessário. 3.1 Bases Anátomo-Fisiológicas da Aprendizagem A noção de maturação nervosa é uma das mais essenciais para se explicar o processo de aprendizagem. Ou seja, os comportamentos só podem ser externados caso o seu mecanismo neural tenha se desenvolvido. A aprendizagem não depende apenas de circuitos neuronais diferentes, mas também de outros mecanismos fundamentais. O cérebro humano é um sistema complexo que estabelece relações com o mundo exterior através de fatores significativos: a especificidade das vias neuronais, que da periferia levam ao córtex informações provenientes do mundo exterior; a especificidade dos neurônios, que permitem determinar áreas sensoriais, auditivas, motoras, ópticas, olfativas, dentre outras, estabelecendo inter-relações funcionais ricas e exatas, de suma importância para o aprendizado. O processo de aprendizagem ocorre da seguinte forma: Recepção de estímulos ambientais (órgãos dos sentidos) ↓ Atenção/emoções (criam-se as sensações) ↓ Percepções ↓ Construção da memória ↓ Pensamento/consciência/criatividade Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 51 Primeiramente, os órgãos dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, gustação) recebem os estímulos ambientais. Assim que ocorre essa recepção de estímulos, são ativados mecanismos atencionais, juntamente com as emoções geradas sobre esse novo estímulo, criando-se as sensações. As sensações fazem com que se construa um conceito mais elaborado sobre essa nova informação, passando pelo sistema perceptivo. A partir daí se dá a construção da memória e, com ela, a criação do pensamento, da consciência e da criatividade. Com base no pressuposto acima, um dos mecanismos essenciais na aquisição da aprendizagem é o processo da construção da memória. A primeira pessoa que conseguiu evidências sobre localizações específicas da memória no cérebro humano foi Wilder Penfield, neurocirurgião do Instituto Neurológico de Montreal. Na década de 1940, utilizou-se de métodos de estimulação elétrica para mapear as funções motoras, sensoriais e da linguagem no córtex humano de pacientes submetidos à neurocirurgia, para tratamento da epilepsia local. Através da construção do mapa cerebral, criou o que se denominou de homúnculo de Penfield. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) Brenda Milner, Ph.D. na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, em 1950, em seus estudos, descobriu os múltiplos sistemas de memória do cérebro, ao estudar pacientes que sofreram ablação (excisão) bilateral do hipocampo, no intuito de tratar crises epilépticas. Ela percebeu que esses pacientes não tinham memória para determinadas tarefas que dependiam do conhecimento consciente de lugares, pessoas e coisas, porém esses mesmos pacientes conservaram boa memória para as habilidades motoras que eram aprendidas a nível subconsciente. Penfield Construção do mapa cerebral 52 A partir dos estudos acima que, posteriormente, se distinguiu e memória implícita e explícita. Estudos recentes têm demonstrado que a memória depende de muitas regiões cerebrais. Assim, existem diferentes tipos de memória e, determinadas regiões cerebrais, são muito mais importantes para alguns tipos que para outros, juntamente com o conceito de que diferentes tipos de memória são armazenadas em sistemas neurais distintos. A memória pode, então, ser definida como a retenção ou armazenamento do aprendizado. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) A memória consiste num conjunto de procedimentos que permitem compreender e manipular o mundo, levando em consideração o contexto atual e as experiências individuais. Esses procedimentos compreendem mecanismos de codificação, retenção e recuperação. Memória Retenção do aprendizado 53 3.2 Memória - Divisão Fonte: Elaborado pelo Autor (2016) 3.2.1 Memória de curto prazo Recebe as informações e as retém por alguns segundos e minutos, para que elas sejam utilizadas, descartadas ou até mesmo organizadas para que possam ser armazenadas. É nela que ocorre a formação de traços de memória. O período para a formação desses traços denomina-se de período de consolidação. Memória de longo prazo (é a que dura bastante tempo) Memória de curto prazo (é a que dura pouco tempo) Memória de trabalho (funções executivas – é a que você pensa, raciocina) Explícita ou declarativa (você traz à consciência; exige planejamento, pensar, experiência) Exemplo: explicar o modo como dirigir Implícita ou não- declarativa (é inconsciente; “automático”) Exemplo: dirigir Memória episódica (memória sobre eventos autobiográficos, conhecimentos de fatos) Memória semântica (memória para fatos e conhecimento; histórico- cultural) Memória declarativa 54 Saiba Mais Um exemplo desse tipo de memória é a capacidade de se recordar de eventos recentes que aconteceram nos últimos minutos. A memória de curto prazo depende do sistema límbico, envolvido nos processos de retenção e consolidação de informações novas. Atualmente, também se supõe que a consolidaçãotemporária da informação envolve estruturas como a amígdala, o hipocampo, o córtex entorrinal e o giro para- hipocampal. Depois essa memória é transferida para as áreas de associação do neocórtex parietal e temporal. 3.2.2 Memória de trabalho Formada pelas funções executivas (mais importante e central), alça fonológica (responsável pela manutenção de material verbal, funciona através de código fonológico), sistema tampão vísuo-espacial (análoga à alça fonológica por também manter informações que podem ser ativamente ensaiadas, todavia de natureza vísuo-espacial). O executivo central é o principal componente, e tem como funções o raciocínio, a tomada de decisões, o planejamento de estratégias e o controle do comportamento, por meio da integração das informações dos sistemas subordinados; envolve a aprendizagem e a aplicação de regras contingentes, raciocínio abstrato, manutenção da atenção e concentração; estritamente relacionados às áreas pré-frontais. 3.2.3 Memória de longo prazo Obtém as informações da memória de curto prazo e as deixam armazenadas. Apresenta capacidade ilimitada de armazenamento e as informações duram desde poucos dias até longos períodos, como décadas. 55 Exemplos desse tipo de memória envolvem lembranças adquiridas na escola, e é dividida em: Memória explícita ou declarativa: é a memória para fatos e eventos. Exige planejamento, pensar e experiência. Depende de estruturas do lobo temporal medial (incluindo o córtex entorrinal, córtex para-hipocampal, hipocampo) e do diencéfalo. Memória episódica: envolve eventos datados, relacionados ao tempo, memória sobre eventos autobiográficos, conhecimento de fatos. Memória semântica: é a memória para fatos e conhecimentos; histórico-cultural. Memória implícita ou não-declarativa: é inconsciente; memória para procedimentos e habilidades, como habilidade para dirigir. A aprendizagem de habilidades motoras depende de aferências corticais de áreas sensoriais de associação para o corpo estriado ou para os núcleos de base. O putâmen e os núcleos caudados recebem projeções corticais e as enviam para o globo pálido e outras estruturas do sistema extrapiramidal, constituindo uma conexão entre estímulo e resposta. O condicionamento das respostas emocionais depende da amígdala; o condicionamento das respostas da musculatura esquelética depende do cerebelo. O neoestriado e o cerebelo estão envolvidos na aquisição e no planejamento das ações. Assim, constituem elos entre o sistema implícito e explícito, através de conexões entre o cerebelo e o tálamo e entre o cerebelo e os lobos frontais. 3.3 Maturação Nervosa Um dos conceitos fundamentais para se explicar o processo de aprendizagem é a noção de maturação nervosa. Assim que o corpo celular (local onde fica o núcleo) envia uma mensagem, o axônio a conduz até um dendrito de outro neurônio para fazer a sinapse. No entanto, para que isso ocorra, o axônio deve estar maduro para fazer a condução. Ele se torna maduro quando fica envolto por uma camada fina e branca, constituída de proteína e gordura, denominada de mielina. O processo de mielinização ocorre com o tempo, ou seja, a criança não nasce com esse 56 processo pronto, de modo que diferentes neurônios se mielinizam em épocas distintas do desenvolvimento do organismo. Esse pressuposto fornece embasamento para a compreensão das teorias que descrevem as fases evolutivas da criança, como os estágios de Jean Piaget sobre o nascimento da inteligência; ou as fases do erotismo infantil em Sigmund Freud sobre o amadurecimento afetivo-sexual. Assim, também assume ligações com a teoria socioconstrutivista de Vygotsky, no conceito da evolução das funções psicológicas elementares (comportamento é determinado pelo meio, modelo estímulo-resposta, em crianças pequenas) para as funções psicológicas superiores (obedecem a uma autorregulação, voluntária e consciente, onde se dá o processo da intelectualização através da mediação do outro). Para que o indivíduo aprenda, algumas funções devem estar presentes, as quais se caracterizam em três níveis: Funções psicodinâmicas: para que ocorra a aprendizagem, o indivíduo internaliza o que é vivenciado ou observado e começa a assimilar hierarquicamente pelos processos psíquicos. Para que isso aconteça, deve possuir controle e integridade psicoemocional. Funções do sistema nervoso periférico: responsáveis pelos receptores sensoriais (canais principais para a aprendizagem simbólica). Para que ocorra o crescimento e amadurecimento dos processos psicológicos, é essencial uma carga de estimulação sensorial no cérebro. Ao contrário, pouca carga sensorial privaria o cérebro de estimulação básica, prejudicando o crescimento e amadurecimento dos processos emocionais. Funções do sistema nervoso central: responsável pela armazenagem, elaboração e processamento da informação, resultante da resposta apropriada do indivíduo. Sob o ponto de vista neuropsicológico, a aprendizagem é o resultado da recepção e troca de informações entre o meio ambiente e diferentes centros nervosos. Ou seja, o ato de aprender exige um estímulo externo, a informação, a qual é captada através dos órgãos dos sentidos habilitados na transformação de estímulo fisioquímico em impulso nervoso de natureza fisiológica. 57 O impulso nervoso transportado pela inervação sensitiva chega até um centro nervoso do córtex cerebral: Caso o estímulo seja visual → termina no lobo occipital; Caso o estímulo seja auditivo → termina no lobo temporal; Caso o estímulo seja táctil ou somestésico → termina no lobo parietal. As áreas em que são projetados os estímulos chamam-se zonas de projeção ou primárias; nelas que ocorrem as sensações. A partir da sensação (elementar, incompleta) forma-se a percepção (complexa e completa): Sensação: não há elaboração de significado; simples chegada do estímulo ao cérebro; típico do recém-nascido. As áreas secundárias ainda não amadureceram (não mielinizaram). Exemplo: estou vendo luzinhas; estou ouvindo zumbidos. Percepção: através da ligação das áreas primárias com as secundárias; formação de imagens sensoriais correspondentes ao estímulo; imagens com significado. Exemplo: estou vendo velas acesas; estou ouvindo latidos de cães. A partir das áreas secundárias ou de associação, os estímulos passam para as áreas terciárias ou de integração, onde se forma a percepção global a partir da adição e combinação de todos os aspectos do estímulo. Exemplo: velas acesas me lembram o jantar que tive no restaurante com minha família. A descrição detalhada e precisa acima é processada no cérebro no tempo de milésimos de segundo e, ao mesmo tempo, várias regiões nervosas são ativadas, mecanismo esse essencial para que a aprendizagem ocorra eficazmente. Assim, compreende-se que os neurônios não nascem prontos, precisam estar maduros para fazer a condução da informação. 58 3.4 Deficiências, Dificuldades de Aprendizagem e Transtornos de Aprendizagem 3.4.1 Deficiências Nesta categoria encontram-se os indivíduos com Deficiência Intelectual. A classificação da inteligência se dá em quatro níveis (DSMI. IV): Retardo Mental Profundo (QI abaixo de 20-25); Retardo Mental Severo (QI entre 20-25 a 35-40); Retardo Mental Moderado (QI entre 35-40 a 50-55); Retardo Mental Leve (QI entre 50-55 a 70 aproximadamente). O nível de prejuízo intelectual pode indicar maior ou menor capacidade de aprendizagem. Pesquisas neuropsicológicas envolvendo funcionamento do neurônio e plasticidade cerebral têm mostrado alternativas para desenvolver ao máximo a capacidade dos indivíduos com Deficiência Intelectual. Um exemplo são os programas de estimulação precoce ou essencial, que alcançam resultados significativos na primeira infância (em especial
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