Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ECONOMIA POLÍTICA Caderno de Estudos Prof. Diego Boehlke Vargas Prof. Daniel Rodrigo Strelow Prof.ª Tatiane Thaís Lasta UNIASSELVI 2015 NEAD Educação a Distância GRUPO CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br Copyright UNIASSELVI 2015 Elaboração: Prof. Diego Boehlke Vargas Prof. Daniel Rodrigo Strelow Prof.ª Tatiane Thaís Lasta Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 338.9 V297e Vargas, Diego Boehlke Economia política /Diego Boehlke Vargas, Daniel Rodrigo Strelow, Tatiane Thaís Lasta. Indaial : UNIASSELVI, 2015. 210 p. : il. ISBN 978-85-7830-875-9 1.Desenvolvimento econômico. Política econômica. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. APRESENTAÇÃO Prezado(a) acadêmico(a)! Bem-vindo ao Caderno de Estudos de Economia Política. Aqui trabalharemos com três unidades sobre as teorias do que se pode chamar de Economia Política. Na Unidade 1 estudaremos a economia política clássica. Antes disso, inclusive, trabalharemos com conceitos bem básicos da economia enquanto uma ciência social, mais adiante estudaremos como se deu o processo de transição de uma economia de regime feudal para uma economia capitalista de mercado, o que vai dar na origem das ideias mercantilistas; mais tarde os fisiocratas entram em cena, e estudaremos seus principais precursores. Entraremos mais especificamente na Economia Política Clássica no tópico 3 desta primeira unidade e estudaremos os principais precursores da escola clássica: Adam Smith, David Ricardo, entre outros importantes intérpretes do pensamento clássico. Fecharemos este tópico com a crise dessa escola de pensamento econômico. Para abrir o tópico 4, estudaremos os críticos da economia política, que surgem justamente no momento de crise desse pensamento, em meados de 1848. Trabalharemos com as ideias centrais de Marx, principal crítico dessa escola. Na sequência, trabalharemos com as ideias dos schumpeterianos e neoschumpeterianos, abordagens consideradas mais atuais no campo da economia política. Na Unidade 2 iremos discutir algumas temáticas que remetem ao papel do Estado na Economia. É muito difícil existir alguma nação que não tenha experimentado e que não venha experimentando alguma ação do Estado em seu cotidiano socioeconômico. Mesmo países como os Estados Unidos o fazem. Um bom exemplo são os subsídios que destinam para a produção de determinados gêneros. O que existe são graus de intervenção. Em alguns países esse grau é mínimo, enquanto em outros pode ser maior. Não há uma regra geral. Por isso, a Unidade 2 está dividida em seis tópicos. No primeiro, conversaremos a respeito do keynesianismo, modalidade de intervenção do Estado na economia que ganhou evidência em meio à Grande Depressão dos anos de 1930. No segundo tópico, nossa atenção se voltará ao Estado de Bem-Estar Social. Esta é uma das formas que o Estado pode assumir e corresponde ao modelo garantidor das necessidades básicas (renda, educação, saúde, entre outros) a todo o conjunto da população. No terceiro tópico conheceremos alguns preceitos básicos da Escola Francesa da Regulação. Estes pressupostos econômicos ganharam destaque por tentar construir um novo modelo teórico-metodológico para compreensão da realidade. Já no quarto tópico, nosso objetivo será conhecer o desenvolvimentismo, modalidade de intervenção estatal que encontrou lugar nos países latino-americanos e no Brasil no século XX. O quinto tópico dedica-se a alguns indicadores de desenvolvimento, bem como ao tema das políticas públicas. Por fim, no sexto tópico iremos conhecer um pouco sobre a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), cujo objetivo primeiro foi de contribuir para o desenvolvimento das nações latino-americanas, consideradas subdesenvolvidas. iiiECONOMIA POLÍTICA Na Unidade 3 estudaremos o desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, passaremos pelos processos de globalização e de reestruturação produtiva, financeirização do capital. Estudaremos ainda o neoliberalismo, e daremos uma atenção especial ao cenário internacional e ao atual panorama brasileiro; juntamente com os aspectos desafiadores das sociedades contemporâneas. Bons estudos! ivECONOMIA POLÍTICA UNI Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. Desejo a você excelentes estudos! UNI vECONOMIA POLÍTICA viECONOMIA POLÍTICA SUMÁRIO UNIDADE 1 - ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA ........................................................... 1 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À ECONOMIA POLÍTICA .................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3 2 O QUE É ECONOMIA ................................................................................................... 4 RESUMO DO TÓPICO ....................................................................................................... 7 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................. 8 TÓPICO 2 - EVOLUÇÕES DO PENSAMENTO ECONÔMICO: ANTECEDENTES E PRECURSORES ........................................................................................... 9 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9 2 EVOLUÇÃO DAS IDEIAS ECONÔMICAS .................................................................... 9 2.1 TRANSIÇÃO EM DIREÇÃO A UMA ECONOMIA CAPITALISTA DE MERCADO ..... 10 2.2 TRANSIÇÃO PARA O CAPITALISMO E ELABORAÇÃO DO PENSAMENTO MERCANTILISTA ..................................................................................................... 15 2.3 OS FISIOCRATAS E AS IDEIAS ECONÔMICAS DE QUESNAY ............................ 17 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 20 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 21 TÓPICO 3 - ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA ............................................................ 23 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 23 2 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA DE ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA ............................................................................. 23 2.1 ADAM SMITH (1723-1790) ........................................................................................ 23 2.2 DAVID RICARDO (1772-1823) ................................................................................. 26 2.3 THOMAS ROBERT MALTHUS (1766-1834) ............................................................ 30 2.4 JOHN STUART MILL (1806-1873) ............................................................................ 33 2.5 JEAN-BAPTISTE SAY (1769-1832) ......................................................................... 34 3 A CRISE DA ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA ....................................................... 37 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................. 40 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 41 TÓPICO 4 - A CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA ......................................................43 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 43 2 A CRÍTICA MARXISTA DA ECONOMIA POLÍTICA .................................................... 44 RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................. 51 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 52 TÓPICO 5 - A PERSPECTIVA SCHUMPETERIANA: ECONOMIA E INOVAÇÃO ........ 53 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 53 2 JOSEPH ALOIS SCHUMPETER ................................................................................. 53 3 NEOSCHUMPETERIANOS ........................................................................................ 57 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 58 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 63 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 64 viiECONOMIA POLÍTICA viiiECONOMIA POLÍTICA UNIDADE 2 - O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA .................................................. 65 TÓPICO 1 - O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA .................................................... 67 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 67 2 JOHN MAYNARD KEYNES ......................................................................................... 68 3 UMA NOVA TEORIA EM MEIO À CRISE .................................................................... 69 4 A ECONOMIA KEYNESIANA ...................................................................................... 71 5 CRÍTICAS E INFLUÊNCIAS ........................................................................................ 74 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 77 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 78 TÓPICO 2 - O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ....................................................... 79 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 79 2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ................................................................................. 79 3 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ........................................................................ 80 3.1 O ESTADO DE BEM-ESTAR “LIBERAL” .................................................................. 82 3.2 O ESTADO DE BEM-ESTAR “CONSERVADOR” ..................................................... 82 3.3 O ESTADO DE BEM-ESTAR “SOCIAL-DEMOCRATA” ............................................ 83 4 CRISE NO MODELO DE BEM-ESTAR ....................................................................... 84 5 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL .................................................... 85 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 87 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 88 TÓPICO 3 - A TEORIA DA REGULAÇÃO ..................................................................... 89 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 89 2 CONTEXTO DA ESCOLA DA REGULAÇÃO ............................................................. 90 3 PRECEITOS BÁSICOS ............................................................................................... 91 3.1 O CONCEITO DE REGIME DE ACUMULAÇÃO ...................................................... 93 3.2 O CONCEITO DE MODO DE REGULAÇÃO ............................................................ 94 3.3 O CONCEITO DE MODELO DE DESENVOLVIMENTO ........................................... 95 3.4 O CONCEITO DE FORMAS INSTITUCIONAIS ........................................................ 95 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................. 97 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 98 TÓPICO 4 - A TEORIA DESENVOLVIMENTISTA .......................................................... 99 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 99 2 UMA NOÇÃO INICIAL ............................................................................................... 100 3 O BRASIL E A AMÉRICA LATINA ............................................................................ 100 4 O NOVO DESENVOLVIMENTISMO .......................................................................... 103 RESUMO DO TÓPICO 4 ............................................................................................... 107 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 108 TÓPICO 5 - INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS ....111 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................111 2 O TEMA DESENVOLVIMENTO ..................................................................................111 3 OS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO ..........................................................112 4 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO ..........................................115 RESUMO DO TÓPICO 5 ................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ..........................................................................................................118 ixECONOMIA POLÍTICA TÓPICO 6 - A CONTRIBUIÇÃO DA CEPAL NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL ....119 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................119 2 BREVE HISTÓRICO ...................................................................................................119 3 A ESCOLA CEPALINA – UMA ESCOLA DE PENSAMENTO .................................. 121 3.1 AS NOÇÕES DE “CENTRO VERSUS PERIFERIA” E DE “DETERIORAÇÃO DOS TERMOS DE TROCA” .................................................................................................. 123 3.2 INFLAÇÃO COM “PROBLEMA ESTRUTURAL” E A IMPORTÂNCIA DO “PLANEJAMENTO E DO PROTECIONISMO” .............................................................. 123 3.3 “TENDÊNCIA AO DESEMPREGO”, “TENDÊNCIA AO DESEQUILÍBRIO EXTERNO” E A “SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES” .............................................. 124 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 125 RESUMO DO TÓPICO 6 ............................................................................................... 129 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 130 UNIDADE 3 - O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO ...... 131 TÓPICO 1 - O IMPERIALISMO .................................................................................... 133 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 133 2 O ESTÁGIO IMPERIALISTA ...................................................................................... 138 2.1 A FASE “CLÁSSICA” DO IMPERIALISMO ..............................................................143 2.2 OS “ANOS DOURADOS” DA ECONOMIA IMPERIALISTA .................................... 144 RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................... 150 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 151 TÓPICO 2 - OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO .................................................. 153 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 153 2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA ........................................................................... 156 3 NEOLIBERALISMO ................................................................................................... 165 4 FINANCEIRIZAÇÃO DO CAPITAL ........................................................................... 168 RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................... 178 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 179 TÓPICO 3 - ASPECTOS DESAFIADORES DAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS ............................................................................... 181 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 181 2 RELAÇÕES DE TRABALHO ENTRE RAÇAS ......................................................... 181 3 VIOLÊNCIA E JUVENTUDE ...................................................................................... 186 4 JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL ................................................................................... 193 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 200 RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 204 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 205 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 207 xECONOMIA POLÍTICA E C O N O M I A P O L Í T I C A UNIDADE 1 ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Prezado(a) acadêmico(a), bem-vindo(a) à Unidade 1 do caderno de Economia Política! Esta unidade tem por objetivos: • apresentar a economia política clássica, os conceitos básicos da economia enquanto uma ciência social; • descrever o processo de transição de uma economia de regime feudal para uma economia capitalista de mercado; • apresentar ao acadêmico as principais correntes e os principais teóricos da economia política clássica e suas principais correntes de pensamento; • apresentar ao acadêmico a crise da escola clássica e o aparecimento das escolas críticas da economia politica; • apresentar e debater as teorias críticas da economia política; • apresentar escolas contemporâneas da economia da inovação e o principal teórico desta corrente. TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À ECONOMIA POLÍTICA TÓPICO 2 - EVOLUÇÕES DO PENSAMENTO ECONÔMICO: ANTECEDENTES E PRECURSORES TÓPICO 3 - ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA TÓPICO 4 - A CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA TÓPICO 5 - A PERSPECTIVA SCHUMPETERIANA: ECONOMIA E INOVAÇÃO PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em cinco tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. E C O N O M I A P O L Í T I C A E C O N O M I A P O L Í T I C A INTRODUÇÃO À ECONOMIA POLÍTICA 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 Ao iniciar um assunto novo, de qualquer campo teórico, torna-se indispensável que se faça, mesmo que brevemente, referências à sua história e sua evolução. Justamente por isso propomos trabalhar, nesta primeira unidade, com os principais conceitos introdutórios da Economia Política. Perpassaremos pela evolução das ideias econômicas, ou seja, os principais períodos que subdividem a chamada economia política ao longo dos séculos. Abordaremos as chamadas correntes de pensamento da economia política que predominaram desde sua gênese originária, passando pela Idade Média e chegando às correntes que prevaleceram durante alguns séculos na Europa e Inglaterra, que são as correntes da Fisiocracia e do Mercantilismo, chegando aos clássicos e, por fim, aos críticos da economia política, dentre os quais destaca-se a produção teórica de Marx como principal crítico das correntes sustentadas pela economia política clássica até aquele momento. Marx, com sua obra O Capital: Crítica da Economia Política (1867), marca os estudos da chamada economia política crítica justamente por ser crítico das teses de Adam Smith, Ricardo e outros, como veremos no decorrer desta primeira unidade. O estudo da economia política tem por base voltar-se às teorias e relacioná-las com a compreensão da realidade de determinado contexto social. Quem se propõe a estudar a economia política desafia-se, portanto, a compreender a realidade à sua volta, as controversas, as diferenças entre países e regiões, entre pessoas, abastece-se de conteúdo para questionar a escandalosa desigualdade social, os interesses dos diferentes grupos e classes sociais dentro de determinada sociedade, os grupos de poder e questões políticas. O profissional de Ensino Social deve ter a habilidade de analisar o contexto socioeconômico para ter a capacidade de propor ao poder público políticas públicas que estão realmente conectadas com os problemas sociais de determinada população de uma região. Portanto, a economia política é capaz de fornecer diversas ferramentas e elementos centrais para o assistente social lidar com a realidade como ela é, e no momento em que o profissional estiver desafiado em seu campo de trabalho. UNIDADE 1 UNIDADE 1TÓPICO 14 E C O N O M I A P O L Í T I C A 2 O QUE É ECONOMIA Caro estudante, para dar início à nossa unidade, trabalharemos de forma abreviada e fácil as conceituações da economia e dos chamados problemas econômicos, veremos aos poucos como a economia está presente no nosso dia a dia em praticamente tudo o que fazemos. Todos os dias, em telejornais e notícias na internet, nos deparamos com questões econômicas. Algumas simples, que passam despercebidas, como, por exemplo, o aumento dos preços por meio de reajustes que o governo faz, períodos de crises ou de crescimento econômico, desemprego, taxa de câmbio, taxas de juros, alta nos impostos e tarifas públicas. Mas não somente isto, a nossa diária relação de trabalho em troca de um salário no final do mês é uma relação puramente econômica, mas também é política; o valor da passagem de ônibus, quando se compra alguma coisa no mercado, a mensalidade da faculdade, tudo é economia. É só começar a prestar atenção à nossa volta e veremos que tudo o que nós compramos, consumimos na forma de bens ou de serviços está envolto em várias relações econômicas e políticas. Por isso nós lemos, ouvimos e praticamos todos os dias essas relações político- econômicas passando despercebidas entre nós. Veremos na sequência o que é a economia e como ela surgiu, quais são os problemas econômicos. O senso comum geralmente tem a tendência de reduzir a ciência econômica ao seu viés puramente matemático, bancário e a gráficos. Equivoca-se esse “achismo” de que a ciência econômica se reduz a essa exatidão e a números. A economia trata-se de uma ciência social, e cabe a nós, economistas, grifarmos isso. Preocupa-se, portanto, com a sociedade e os indivíduos escolhendo empregar os recursos produtivos que são escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre a sociedade com a finalidade de satisfazer as necessidades de todas as pessoas dentro de uma determinada sociedade. A economia desafia-se ainda a compreender a sociedade e os indivíduos e a forma como eles decidem empregar os seusrecursos produtivos, que são escassos na produção de um determinado bem e serviço. Estuda-se ainda a forma como esses bens serão distribuídos entre as várias pessoas e grupos da sociedade com a finalidade de satisfazer as necessidades das pessoas. Os indivíduos devem fazer escolhas para que administrem bem os seus recursos, que são escassos já, de acordo com as suas necessidades (alimentação, saúde, educação, vestuário, habitação, transporte), que, como citamos, são ilimitadas. A ciência econômica preocupa-se com a alocação dos recursos de forma que não sejam comprometidas as gerações futuras com a escassez. UNIDADE 1 TÓPICO 1 5 E C O N O M I A P O L Í T I C A Algumas palavras são chaves na economia: • Escolha • Escassez • Necessidades • Recursos • Produção • Distribuição FIGURA 1 - RECURSOS PRODUTIVOS ESCASSOS E NECESSIDADES ILIMITADAS FONTE: Adaptado de Vasconcelos; Garcia (1999) Dada a escassez de recursos, associada com as necessidades das pessoas, que são ilimitadas, originam-se os chamados problemas econômicos, que são os seguintes: FIGURA 2 - PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS FONTE: Adaptado de Vasconcelos; Garcia (1999) UNIDADE 1TÓPICO 16 E C O N O M I A P O L Í T I C A O que e quanto produzir? Considerando a escassez dos recursos de produção, a sociedade deverá escolher, dentro das possibilidades de produção, quais produtos irá produzir. Como produzir? A sociedade deverá ainda escolher quais recursos utilizará para produzir bens e serviços dado o nível tecnológico; dessa forma, os produtores tendem a escolher o método que tiver menos custo na produção desses bens e serviços. Para quem produzir? Neste ponto a sociedade deve decidir como seus membros participarão da distribuição dos resultados de sua produção. A distribuição leva em conta fatores como salários, rendas da terra, dos juros, e dos benefícios do capital, ou seja, fatalmente a produção se destinará para quem tem rendas. UNIDADE 1 TÓPICO 1 7 E C O N O M I A P O L Í T I C A RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos: • A economia é considerada uma ciência social. • Que a economia está presente no nosso dia a dia em tudo o que fazemos, basta observar. • Que as necessidades das pessoas são ilimitadas. • Que os recursos são escassos. • A ciência econômica, portanto, é responsável por fazer a alocação do melhor modo possível a fim de atender às necessidades humanas que são ilimitadas. • Aprendemos quais são os problemas econômicos fundamentais. UNIDADE 1TÓPICO 18 E C O N O M I A P O L Í T I C A AUT OAT IVID ADE � Caro(a) acadêmico(a), para fixar melhor o que estudamos neste tópico introdutório, vamos exercitar um pouco. Leia com atenção as questões e responda-as no seu Caderno de Estudos. 1 Por que a ciência econômica é considerada uma ciência social? 2 Explique quais são os problemas econômicos fundamentais. 3 Qual o propósito da ciência econômica? E C O N O M I A P O L Í T I C A EVOLUÇÕES DO PENSAMENTO ECONÔMICO: ANTECEDENTES E PRECURSORES 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 2 Prezado(a) acadêmico(a), neste tópico vamos nos dedicar ao estudo da evolução do pensamento econômico. Estudaremos desde os primórdios da antiguidade grega, antiguidade romana, Idade Média, perpassaremos ainda pelo mercantilismo, pela fisiocracia e seus principais precursores. Buscaremos compreender como chegamos às chamadas economias capitalistas de mercado, para isso mencionaremos também as economias chamadas pré-capitalistas da Europa desde as ruínas feudais até chegarmos às escolas de pensamento econômico propriamente. Estudaremos, também, os precursores de cada período histórico e de cada escola de pensamento. UNIDADE 1 2 EVOLUÇÃO DAS IDEIAS ECONÔMICAS Segundo consta, na antiguidade grega algumas ideias econômicas apareceram fragmentadas em estudos filosóficos. As primeiras referências de que se tem conhecimento sobre a economia aparecem nos trabalhos de Aristóteles (384-322 a.C.), sendo ele o primeiro a cunhar o termo economia (oikonomos) em seus escritos sobre administração e finanças públicas. Nos escritos de Platão (427-347 a.C.) encontram-se algumas considerações de ordem econômica e também nos estudos de Xenofonte (440-335 a.C.). Todavia, autores gregos não tratavam um pensamento econômico independente. Na antiguidade romana, igualmente não se teve um pensamento econômico independente, embora na Roma antiga a economia de troca fosse mais intensa do que na Grécia. A preocupação dos gregos era fundamentalmente na política. Não se tem notícias de que Roma tenha deixado escritos notáveis sobre esta área. Nos séculos mais tarde, até na época dos descobrimentos, encontram-se poucos escritos e trabalhos de destaque na área UNIDADE 1TÓPICO 210 E C O N O M I A P O L Í T I C A da economia, quando se encontrou algo eram trabalhos permeados pelas temáticas de justiça e moral. O que se tem de mais notório desde os primórdios da ciência econômica são as leis de usura, a modalidade de juros altos e o que deveria ser um lucro justo (VASCONCELOS; GARCIA, 1999). Na Idade Média (1450-1750), quem dá lugar ao pensamento econômico nesse período são os mercantilistas (1450-1750). Essa corrente de pensamento “imprimiu preceitos de administração pública que os governantes deveriam usar para aumentar a riqueza da nação e do príncipe” (PINHO et al., p. 27, 2003). Veremos a seguir mais sobre essa corrente de pensamento da economia. IMP OR TAN TE! � A palavra economia deriva do grego oikonomos (de oiko, casa, e nomos, lei), significando a administração da casa. O objeto de estudo da ciência econômica é o de analisar os vários problemas econômicos e buscar formular soluções para resolvê-los de forma que isso impacte positivamente na qualidade de vida das pessoas (VASCONCELOS; GARCIA 1999). 2.1 TRANSIÇÃO EM DIREÇÃO A UMA ECONOMIA CAPITALISTA DE MERCADO Ao iniciar estudos sobre a história e evolução do pensamento econômico, é necessário entender o contexto no qual esta ciência foi desenvolvida ao longo dos séculos. Cabe aqui estudarmos, mesmo que de forma abreviada, como as sociedades se organizavam. Como era a economia europeia pré-capitalista? Para responder a essa pergunta é necessário que se fale no regime que então predominava, que era o feudalismo, o sistema econômico que precedeu o capitalismo. O feudalismo resumia-se assim: uma hierarquia feudal onde o servo ou camponês era protegido pelo senhor feudal, que devia fidelidade e era protegido por senhores mais poderosos e assim sucessivamente, indo até ao rei, em troca de pagamentos em moeda, trabalho e alimentos. Os senhores concediam aos servos o uso da terra a seus vassalos. Na base ficava o servo que cultivava a terra. A maior parte da população cultivava a terra para alimentação e vestuário (HUNT, 2005). UNIDADE 1 TÓPICO 2 11 E C O N O M I A P O L Í T I C A A sociedade medieval era essencialmente agrária. A hierarquia social baseava-se nos vínculos que os indivíduos mantinham com a terra; as atividades agrícolas eram as que sustentavam todo o sistema social. Todavia, uma série de mudanças foram ocorrendo em vários séculos, o que resultou na ruína do sistema feudal e no surgimento do capitalismo (HUNT, 2005). São centrais no sistema feudal os costumes e as tradições no lugar das leis como conhecemos hoje. Toda a organização baseava-se num sistema de serviços e obrigações mútuas que envolvia toda a hierarquia feudal. As instituições econômicas básicas da vida essencialmente rural medieval resumiam-se ao feudo, no qual separavam-se por classes distintas: o rei considerava-se que era o elemento mais importante do sistema feudal (ficando no topo, se pensarmos em uma pirâmide), na sequência, teríamos a alta nobreza, incluindo os dignitários da igreja, duques e condes; na sequência, o baixo clero, monges, sacerdotes junto com barões e cavalheiros; e, por fim, como base de suporte (imaginando novamente uma pirâmide) ficam os camponeses, servos que obrigavam-se a vivere a trabalhar nas terras do senhor feudal em troca de alimentos e condições para sobrevivência. Assim, cada andar desta pirâmide ia sucessivamente sustentando o outro. FIGURA 3 - SISTEMA FEUDAL FONTE: Adaptado de HUNT (2005) UNIDADE 1TÓPICO 212 E C O N O M I A P O L Í T I C A Além dos feudos, a Europa medieval tinha muitas cidades, as quais eram, para a época, importantes centros manufatureiros. Esses bens manufaturados eram comercializados nos feudos e às vezes em longa distância. O que predominava nessa época eram as guildas, pequenos grupos organizados de artesões, e quem quisesse produzir e vender algo deveria fazer parte dessas guildas. Com o crescimento das chamadas vilas e das cidades, conduziu-se também o crescimento da especialização rural-urbana. A produção de bens manufaturados cresceu muito e, aos poucos, o que era essencialmente agrário (rural) começa a ganhar outras feições, com trabalhadores rompendo os laços com a terra. Nesse processo de crescente produção manufatureira as atividades se especializam e a produtividade aumenta, causando, consequentemente, o aumento das relações de comércio internacional. Para muitos pensadores, essa disseminação do comércio internacional foi a mais importante força para a desintegração do feudalismo medieval. Obviamente que isso não deve ser posto em dúvida, todavia convém lembrar que um dos fatores desse comércio se expandir na Europa foi o contato com os árabes. O crescimento da produtividade agrícola significava que o excedente de alimentos e manufaturados tornava-se disponível tanto para abastecer os mercados locais como para o mercado internacional (HUNT, 2005). Aos poucos, com os aperfeiçoamentos na energia e nos transportes, tornou-se possível e mais lucrativo concentrar os indivíduos nas cidades e a partir daí produzir para vender em grande escala em mercados a longa distância. Todavia, esse crescimento do comércio não pode ser considerado o principal elemento para a dissolução do sistema feudal e a formação de uma sociedade em direção ao capitalismo. Embora essa transição das economias feudais para as economias ditas capitalistas tenha coincidido com o aumento do comércio internacional, não é somente esta força que conduziu para a transição. A intensificação das atividades comerciais na Europa contribuiu para a consolidação e perpetuação das relações sociais, econômicas e feudais. Nesse contexto, o comércio tendia a ser estritamente mantido subordinado aos interesses da classe feudal. O feudalismo na Europa era um sistema relativamente novo, considerado potencial econômico de desenvolvimento. Todavia, esse sistema se dissolveu antes mesmo de se solidificar. Segundo Hunt, o impulso para essa dissolução do sistema feudal diz respeito aos aumentos da produtividade, o excedente social se tornava cada vez menor para sustentar uma classe dominante que crescia rapidamente. Isso provocou conflitos cada vez mais sérios e irreconciliáveis dentro da própria classe dominante. Nesse contexto se deram graves conflitos entre os vários segmentos da nobreza e do clero, o comércio se "tornou uma força desestabilizante e corrosiva" (HUNT, 2005, p.39). Com a expansão do sistema de comércio, fortaleceram-se as cidades industriais e UNIDADE 1 TÓPICO 2 13 E C O N O M I A P O L Í T I C A comerciais para justamente servir este comércio. Com esse crescimento, as mudanças na agricultura foram grandes, havendo um enfraquecimento das relações com a terra e, por consequência, com as estruturas feudais. Por volta do século XV as feiras aos poucos eram substituídas por cidades comerciais, onde florescia um mercado permanente. Nesse período, novas leis com relação ao comércio foram sendo criadas. É daí que surgem as leis que regem o sistema capitalista baseadas nos negócios, contratos, representações comerciais, leilões etc. As indústrias que começaram a aparecer nas cidades eram basicamente de exportação. Os artesões vendiam seus produtos aos comerciantes e estes os transportavam e revendiam. Diferença ainda a ser considerada era o fato de que os artesãos no sistema feudal eram também agricultores, e o artesão das cidades vai desistir da sua posse de terra para dedicar-se única e exclusivamente ao trabalho com o qual ele tivesse uma renda em dinheiro, a qual poderia utilizar para satisfazer suas necessidades. Com o comércio prosperando, se expandia também a necessidade de haver uma maior produtividade, nesse momento passa-se a ter maior controle do processo produtivo, elo capitalista. Por volta do século XVI, as indústrias que existiam eram de um artesão proprietário de sua oficina e de suas ferramentas e matérias-primas, e funcionava como um pequeno produtor independente. Inicialmente, o capitalista fornecia ao artesão a matéria-prima e lhe pagava uma quantia para transformar no produto final, num sistema doméstico de trabalho (HUNT, 2005). Muitos historiadores afirmam que o capitalismo já existia quando ocorre essa expansão e domínio do comércio na Europa. Os mercados, na busca de lucro monetário, substituíram os costumes e a tradição do sistema hierárquico do feudalismo na determinação de quem executaria certa tarefa, como era neste regime de castas. O capitalismo, enquanto sistema econômico, só se tornou dominante no momento em que as relações entre os capitalistas e os trabalhadores existentes por conta das indústrias de exportação, aproximadamente do século XVI, foram estendidas a várias outras indústrias da economia daquela época. Para esse sistema se desenvolver, os resquícios do sistema feudal deveriam ser destruídos. O século XVI é um "divisor de águas” na história de toda a Europa. Nesse período marca-se a linha divisória entre as ruínas feudais e o novo sistema que surgia, o capitalismo. Ocorria uma série de mudanças por conta disso, mas a principal é que a partir deste momento cria-se uma classe trabalhadora, sendo a mesma privada dos meios de produção e forçada à situação de vender o seu próprio trabalho como única possibilidade de sobrevivência. O aumento da população acompanha, nesse processo, o movimento dos cercamentos, que começaram na Inglaterra em meados do século XII. A nobreza, cada vez mais à beira do UNIDADE 1TÓPICO 214 E C O N O M I A P O L Í T I C A colapso, cercava e fechava as terras até então usadas como pasto comum. A partir daí o pasto era destinado às ovelhas, para satisfazer as necessidades da indústria têxtil com a lã produzida. O movimento dos cercamentos atingiu o seu ápice nos séculos XV e XVI, quando em alguns locais os camponeses foram expulsos do campo, sendo forçados a buscar sustento nas cidades. Os cercamentos, acompanhados pelo crescimento populacional, colocaram o feudalismo em ruínas, criando uma classe de trabalhadores sem-terra, sem meios de produção, tendo apenas a força de trabalho para vender. A migração dessa força de trabalho para as cidades eram braços disponíveis no "mercado" que se formava. O termo capitalismo refere-se ao sistema de busca de lucro e de acumulação de capital. Nesse sistema, ter a propriedade do capital é ter a fonte dos lucros e, daí, a fonte de mais acumulação de capital. A acumulação primitiva de capital ocorreu no período que está sendo considerado. Os importantes fatores para esse processo de acumulação inicial de capital foram: (1) o volume do comércio, que cresceu rapidamente; (2) o sistema industrial de produção doméstica; (3) o movimento dos cercamentos. Em finais do século XVI e início do século XVIII, quase todas as grandes cidades da Inglaterra, França, Espanha e dos Países Baixos (Bélgica e Holanda) já tinham se transformado em prósperas economias capitalistas, dominadas pelos mercadores capitalistas, que controlavam não só o comércio, mas também grande parte da indústria. Nos modernos Estados- nação, coalizões de monarcas e capitalistas tinham retirado o poder efetivo da nobreza feudal de muitas áreas importantes, principalmente nas relacionadas com a produção e o comércio.Essa época do início do capitalismo é conhecida por muitos como mercantilismo, assunto este que abordaremos no próximo ponto, na sequência (HUNT, 2005). IMP OR TAN TE! � Caro(a) acadêmico(a), o feudalismo foi uma forma de organização social e econômica da Idade Média europeia, a qual caracterizava-se como sendo um sistema de grandes propriedades de terra isoladas chamadas de feudos, os quais pertenciam à nobreza e ao clero, e trabalhados pelos servos da gleba, numa economia de subsistência. O sistema era organizado segundo uma extensa e intrincada hierarquia de feudos. A terra, única fonte de poder, era recebida pelo senhor em caráter hereditário (SANDRIONI, 1999). UNIDADE 1 TÓPICO 2 15 E C O N O M I A P O L Í T I C A NO TA! � Prezados(as) estudantes, o movimento dos cercamentos ocorrido na Idade Média foi o que deu origem ao efeito que favoreceu a entrada de um outro modelo, o capitalismo, onde, de feudo ou terra comunal, passaram a constituir propriedade. Num movimento no qual aqueles que se emanciparam não se tornaram nada além do que vendedores de si mesmos, já que não eram possuidores dos meios de produção, e obrigam-se a vender-se a si mesmos a quem detém os meios de produção (MARX, 1983). ATEN ÇÃO! Capitalismo é o sistema que floresceu depois do sistema feudal. Esse é o sistema econômico hoje adotado em todas as partes do mundo, sistema que se baseia na propriedade privada e no acúmulo de riquezas. 2.2 TRANSIÇÃO PARA O CAPITALISMO E ELABORAÇÃO DO PENSAMENTO MERCANTILISTA O mercantilismo é uma doutrina econômica que caracteriza o período histórico da revolução comercial entre os séculos XVI-XVIII. Nesse quadro de revolução é que se desenvolve a doutrina mercantilista. Principalmente na Europa, mais especificamente França, Portugal e Espanha. Este período foi marcado por ruínas feudais e pela formação dos Estados nacionais. Nesse momento de transição surge a corrente mercantilista, que defenderá um aumento no acúmulo de divisas em metais preciosos pelo Estado por meio de um comércio exterior protecionista (SANDRIONI, 1999). A riqueza de uma nação, portanto, se daria pelo acúmulo de metais preciosos, ou o que se chama metalismo. Citaremos alguns dos princípios básicos do mercantilismo, que seriam: • O Estado como promotor do bem-estar nacional. • A riqueza das economias nacionais vai resultar de um aumento da população e da ampliação do volume de metais preciosos no país (ou o chamado metalismo). UNIDADE 1TÓPICO 216 E C O N O M I A P O L Í T I C A • O comércio exterior deve ser estimulado (pois é por meio de uma balança comercial favorável que se aumenta o estoque de metais preciosos, deixando assim o país em boas condições). • O comércio e a indústria são mais importantes para a economia nacional que a agricultura. Como observamos, a partir do século XVI o mercantilismo é a primeira escola econômica que nasce. Suas principais preocupações são sobre o acúmulo de riquezas de uma nação com o intuito de promover o comércio exterior. Considerava-se que uma economia seria poderosa economicamente quanto maior fosse o seu estoque de metais preciosos (VASCONCELOS; GARCIA, 1999). IMP OR TAN TE! � ATEN ÇÃO! Os mercantilistas, portanto, tinham preocupação explícita sobre a acumulação de riquezas, comércio exterior e moeda. Davam ênfase para o poder do Estado, considerando que tanto quanto maior fosse o seu estoque de metais preciosos, maior seria a riqueza da nação (PINHO et al., 2003; VACONCELOS; GARCIA, 1999). Embora seja considerada pouco significativa a contribuição do mercantilismo para a composição da análise econômica, alguns autores e obras marcaram esse período. Entre alguns dos principais nomes representantes da doutrina estão os ingleses Thomas Mun e Josiah Child, os franceses Barthélemy de Laffemas, William Petty com a obra: Political Arithmetic (1682) (este autor evidenciou a preocupação da análise estatística dos problemas econômicos) e Catillon com a obra Essai Sur La Nature Du Commerce En Général (1755) - muitos afirmam ser o berço da ciência econômica, obra na qual Catillon argumenta sobre os riscos dos empresários e explicitando o circuito econômico (reformulado mais tarde por Quesnay, que veremos mais adiante) (SANDRIONI, 1999; PINHO et al., 2003). É somente depois de Quesnay que a atividade econômica passou a ser tratada de forma científica, justamente é isso o que veremos na sequência. UNIDADE 1 TÓPICO 2 17 E C O N O M I A P O L Í T I C A 2.3 OS FISIOCRATAS E AS IDEIAS ECONÔMICAS DE QUESNAY Essa corrente de pensamento é de origem francesa do século XVIII e elaborou alguns trabalhos considerados importantes. Ela vem de contraponto aos mercantilistas, que vimos anteriormente. Os fisiocratas se debruçavam sobre a ideia de que a terra era a única fonte de riqueza, e acreditavam que o universo era regido por leis naturais, absolutas, imutáveis e universais desejadas pela “providência divina” (VASCONCELOS; GARCIA 1999). Os fisiocratas tinham como propósito reformar a França, que estava passando por problemas de ordem social econômica caracterizados pela transição do feudalismo para o capitalismo. O caos que a França vinha passando resultou na Revolução Francesa. Essa corrente de pensamento acreditava que a sociedade era regida por leis naturais e, portanto, os problemas da França eram devido à incapacidade de seus dirigentes compreenderem essa lei natural e ordenarem a produção e o comércio de acordo com essa lei. Um dos precursores dessa escola de pensamento foi François Quesnay, autor da obra Tableau Économique, o primeiro a dividir a economia em setores e mostrando a inter- relação entre os mesmos. Esta é considerada a sua maior contribuição à análise econômica. Mais tarde este quadro foi aperfeiçoado e transformou-se no sistema de circulação monetária (VASCONCELOS; GARCIA, 1999). Justamente aí é que Quesnay formula um modelo simples da forma pela qual, para ele, a sociedade deveria ser estruturada, com a finalidade de refletir o que chamavam de lei natural e com base neste modelo de Quesnay. Essa corrente de pensamento defende uma reforma política: a abolição das guildas, bem como a remoção de todos os impostos e tarifas da indústria e do comércio (HUNT, 2005). FIGURA 4 - FRANÇOIS QUESNAY FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/imagens/biografia/ ecfrqnay.jpg > Acesso em: 10 jan. 2015. UNIDADE 1TÓPICO 218 E C O N O M I A P O L Í T I C A Nesse quadro econômico, Quesnay representou o fluxo de bens entre as diferentes classes sociais, distinguindo um equilíbrio de quantidades globais. Importante instrumento de análise, o Quadro de Quesnay é considerado precursor da economia quantitativa (PINHO et al., 2003). Nesse quadro, a sociedade era dividida em três classes: os produtores (agricultores), os proprietários de terra (a nobreza e o clero) e as “classes estéreis” (os demais cidadãos). Onde perceberam então que existe inter-relação entre essas classes. Ou seja, uma circulação da renda entre essas três classes: os agricultores e proprietários compram produtos e serviços dos demais grupos, que depois fazem retornar essa renda comprando produtos agrícolas, o que é exposto justamente no Tableau Économique, de Quesnay (SANDRIONI, 1999). Este quadro sintetizou um modelo de uma economia. Demostrando os processos de produção, circulação da moeda e das mercadorias, além da distribuição da renda. FIGURA 5 - TABLEAU ÉCONOMIQUE (1758) FONTE: Disponível em: <http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTVhtjn3Sk PPAwUKvSeFEwk6oxSNhscSsE0E62HtJJbgR7pB88-Zg > Acesso em: 10 jan. 2015. UNIDADE 1 TÓPICO 2 19 E C O N O M I A P O L Í T I C A IMP OR TAN TE! � Prezado(a) acadêmico(a), como vimos anteriormente, para a fisiocracia, a riqueza consistia em bens produzidos por “regras da natureza”, ou seja, em atividades essencialmente rurais que eram incentivadas, como lavouras, pesca, mineração e agricultura. Para essa corrente, só a terra tinha a capacidadede ampliar a riqueza (VASCONCCELOS; GARCIA, 1999). UNIDADE 1TÓPICO 220 E C O N O M I A P O L Í T I C A RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você aprendeu que: • Na antiguidade romana não havia um pensamento econômico independente. • Na antiguidade grega, Xenofonte cunha o termo economia. • Na Idade Média, as atividades mercantis/ou predomínio do mercantilismo como regime predominavam na Europa, especialmente na Inglaterra. • Feudalismo foi uma forma de organização social e econômica da Idade Média europeia. Caracterizava-se por ser um sistema de grandes propriedades de terra isoladas chamadas de feudos, os quais pertenciam à nobreza e ao clero e trabalhados pelos servos da gleba, numa economia de subsistência. • Cercamentos foi um movimento no qual constitui-se a propriedade privada dos feudos. • Capitalismo é o sistema que floresceu depois do sistema feudal. • Mercantilismo, escola de pensamento que considerava a riqueza das nações com base nos metais que elas acumulavam. • Fisiocratas consideravam que a riqueza provinha das terras. Seu principal precursor foi Quesnay. UNIDADE 1 TÓPICO 2 21 E C O N O M I A P O L Í T I C A AUT OAT IVID ADE � Caro(a) acadêmico(a), para fixar melhor o que estudamos neste tópico, vamos exercitar um pouco. Leia com atenção as questões e responda-as no seu Caderno de Estudos. 1 Em que consiste a riqueza para os mercantilistas e fisiocratas? 2 Quais as noções de economia na antiguidade grega e romana e na Idade Média? 3 Explique, brevemente, o que François Quesnay propôs com o Tableau Économique. 4 Explique como se deu o processo de transição do regime feudal para as economias de mercado. UNIDADE 1TÓPICO 222 E C O N O M I A P O L Í T I C A E C O N O M I A P O L Í T I C A ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 3 A expressão Economia Política é de origem grega [politeia e oikonomika], aparecendo as primeiras vezes nos escritos de Aristóteles e Platão, tomando corpo teórico com as publicações do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, em 1776, aos Princípios de Economia Política, de John Stuart Mill, de 1848, e é marcada pela obra de David Ricardo, Princípios de Economia Política e Tributação, de 1817. O que se denomina Economia Política Clássica vai de meados do século XVIII ao século XIX. Os precursores da escola clássica, Smith e Ricardo, centraram a sua atenção nas questões teóricas de valor, trabalho e ao dinheiro. “À economia política interessava compreender o conjunto das relações sociais que estava surgindo do antigo regime” (NETTO, BRAZ, 2011, p. 27), as proposições econômicas e de uma visão de conjunto da evolução econômica. “A escola clássica baseou-se nos preceitos filosóficos do liberalismo e do individualismo e firmou os princípios da livre concorrência, que exerceram decisiva influência no pensamento revolucionário burguês” (SANDRIONI, 1999). Veremos agora alguns dos principais precursores da Escola de Economia Política Clássica e suas teorias que formularam este campo teórico. UNIDADE 1 2.1 ADAM SMITH (1723-1790) Adam Smith (1723-1790) nasceu na Escócia, onde viveu quase toda a sua vida. Frequentou as Universidades de Glasgow e Oxford entre 1737-1746, lecionou em Glasgow 2 PRINCIPAIS PRECURSORES DA ESCOLA DE ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA UNIDADE 1TÓPICO 324 E C O N O M I A P O L Í T I C A entre 1751 e 1764. Uma de suas obras chamava-se Theory of Moral Sentiments - Teoria dos Sentimentos Morais, este livro foi um tratado de filosofia social e moral, portanto com pouquíssimas contribuições para a Economia Política. Smith ficou dois anos na França, entre 1764 e 1766, onde teve contato com muitos pensadores e filósofos, dentre os quais destaca-se o contato que teve com o fisiocrata Quesnay. Em 1776 publicará a sua obra mais importante, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations (conhecida como A Riqueza das Nações). FIGURA 6 - ADAM SMITH FONTE: Disponível em: <http://oll.libertyfund.org/media/W1siZiIsInBl b3BsZS80NC80MDJweC1BZGFtU21pdGguanBnIl1d/402px- AdamSmith.jpg?sha=50d35f7e52350ce0> Acesso em: 14 jan. 2015. Adam Smith é considerado o precursor da “Teoria Econômica” moderna, entendida como um campo teórico próprio justamente por essa obra: “Uma Investigação sobre a Causa da Riqueza das Nações”, em 1776. A partir de então, muitos pensadores consideram que abrem-se os estudos do campo teórico da economia política. Na obra são tratadas questões econômicas que vão desde leis de mercado, aspectos monetários, até a distribuição e rendimentos da terra (VASCONCELOS; GARCIA, 1999; HUNT, 2005). Smith vai distinguir-se de todos os economistas que o antecederão pela sua formação acadêmica e pela vastidão de conhecimentos. Além de ser considerado o primeiro a elaborar um modelo abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento do sistema capitalista. Notou que havia ligações entre as principais classes sociais, entre os setores de produção, a distribuição da riqueza, da renda, o comércio, a circulação da moeda, questões relativas aos preços, e ao processo de crescimento econômico das nações (HUNT, 2005). UNIDADE 1 TÓPICO 3 25 E C O N O M I A P O L Í T I C A O pressuposto central defendido por Smith era que se deixasse atuar a livre concorrência, que os agentes encontrariam o equilíbrio através de uma “mão invisível” que levaria a sociedade consequentemente à perfeição. Nesta teoria Smith defendia que todos os agentes, em sua busca por lucrar o máximo, acabam promovendo o bem-estar de toda a sociedade. E afirma: "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu autointeresse” (SMITH,1996, p. 22). É como se uma mão invisível orientasse as ações do mercado e da economia sem a necessidade propriamente da atuação do Estado para isso. Portanto, este autor baseava- se no mercado, única e exclusivamente, como regulador das decisões econômicas de uma nação. Acreditava que isso traria muitos benefícios para a coletividade, independente da ação estatal. Pressupostos, portanto, do liberalismo. Smith defendia a livre iniciativa, calcada nos pressupostos do laissez–faire (VASCONCELOS; GARCIA, 1999: HUNT,2005: SMITH, 1996). NO TA! � Mão invisível, segundo Pinho et al. (2003, p. 589), é a base do pensamento liberal da escola de economia clássica: “milhões de consumidores e milhares de empresas sozinhos, como que guiados por uma mão invisível, encontram posição de equilíbrio nos vários mercados sem a intervenção estatal”. NO TA! � laissez–faire - ‘laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-même’, de origem francesa e que em português significa "deixem fazer, deixem passar, o mundo vai por si só". É a expressão utilizada por economistas que tendem ao liberalismo, no sentido de deixar que as forças de mercado sozinhas agem tendendo ao equilíbrio, e que o papel do Estado nada mais é do que intervir na economia somente nos termos da lei e da ordem (PINHO et al., 2003). UNIDADE 1TÓPICO 326 E C O N O M I A P O L Í T I C A A principal explicação de Adam Smith para o desenvolvimento encontra-se logo nas primeiras páginas de seu principal livro, em um item que trata sobre a divisão do trabalho. Para Smith, a divisão do trabalho seria fator decisivo para o aumento da produtividade de uma fábrica, por exemplo. Portanto, os trabalhadores deveriam se especializar em algumas determinadas tarefas e, por consequência, a produtividade se elevaria. A aplicação destes princípios, por sua vez, fez com que houvesse um aumento da destreza pessoal, diminuição do tempo, condições favoráveis para o aparecimento de novos inventos e máquinas (VASCONCELOS,1999; PINHO et al., 2003). Smith distingue ainda o valor de uso e valor de troca das mercadorias, dando destaque às mercadorias, afirmando que elas são determinadas pela quantidade de trabalho necessário para reproduzir as mesmas. Já para os fisiocratas,como vimos anteriormente, apenas o trabalho na agricultura produzia valor. Smith contrariou os fisiocratas, demostrando que todas as atividades que produzem mercadorias têm valor. Sendo contrário ainda à concepção mercantilista, Smith argumenta em seu livro que a riqueza é constituída pelos valores de troca e não pela moeda, que é apenas o meio que permite a circulação dos bens (SANDRIONI, 1999). Para Smith, a verdadeira fonte de riqueza de um país é o seu trabalho. A riqueza de uma nação só poderá aumentar se pode ser elevada com o aumento da produtividade e, portanto, com a expansão da especialização, da divisão do trabalho e com a acumulação do produto sob a forma de capital (SANDRIONI, 1999). Dentre os principais discípulos de Smith, importantes para a Economia Política pelas suas contribuições, estão Ricardo, Malthus, Stuart Mill e Say, os quais estudaremos na sequência. 2.2 DAVID RICARDO (1772-1823) David Ricardo é outro autor da Escola Clássica de Economia Política. Era filho de um rico capitalista inglês, que tinha feito uma fortuna na bolsa de valores, após ter migrado da Holanda para a Inglaterra. O jovem Ricardo teve mais sucesso ainda na bolsa de valores do que seu pai, sendo muito rico antes mesmo dos 30 anos de idade. Em 1799 leu A Riqueza das Nações, livro publicado em 1776 por Adam Smith, desde então passou tempo estudando e escrevendo sobre questões de Economia Política e aumentando suas posses. Ricardo viveu na mesma época turbulenta de Malthus. Sua opinião sobre a classe operária não era diferente da de Malthus. Ricardo inclusive aceitará as conclusões de Malthus sobre a teoria da população. Já quanto às questões sociais, suas opiniões se diferiam. No conflito entre capitalistas e os proprietários de terra, Ricardo sempre defendia os capitalistas, UNIDADE 1 TÓPICO 3 27 E C O N O M I A P O L Í T I C A e Malthus, como vimos, os proprietários de terra. Sua obra mais importante no campo da Economia Política intitula-se “Princípios de economia e tributação”, publicada em 1817, nas quais estão suas principais teorias, que de forma breve passaremos a estudar neste ponto. FIGURA 7 - DAVID RICARDO FONTE: Disponível em: <http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/ images/ricardo.gif> Acesso em: 14 jan. 2015. Partilhando das ideias de Adam Smith e partindo dos escritos justamente deste autor é que Ricardo formula modelos econômicos com importante poder analítico. Ricardo vai aprimorar a tese de que todos os custos se reduzem a custos de trabalho, é a chamada teoria do valor- trabalho, já mencionada por Smith anteriormente. Com esta teoria, Ricardo sustentava que o valor de uma determinada mercadoria dependia do trabalho nela incorporado. Por isso, para Ricardo, as mercadorias sempre teriam preços proporcionais ao trabalho nelas incorporado (HUNT, 2005). Ricardo analisou ainda as questões do comércio internacional, porque as nações comercializavam entre si, se é melhor para elas comercializarem, e quais produtos deveriam ser comercializados. Com essas questões, Ricardo formulou a Teoria das vantagens comparativas. Esta teoria consistia em demonstrar que cada país deveria se especializar na produção de bens para os quais possuía maiores vantagens comparativas. As teorias das vantagens comparativas determinam o padrão de produção, de forma que o comércio internacional seria impulsionado pela diferença da produtividade da mão de obra, o que fará com que se maximize a produção e a competitividade destes produtos. Muito atual nas linhas de comércio exterior, essa teoria demonstra como os países exportam bens produzidos de forma eficiente e competitiva, e, de outro lado, importando bens que seriam produzidos de UNIDADE 1TÓPICO 328 E C O N O M I A P O L Í T I C A maneira ineficiente com custos mais elevados dentro de determinado país (VASCONCELOS; GARCIA, 1999). Ricardo observava a sociedade de sua época da perspectiva da teoria do trabalho ou da produção. Observava os conflitos de classe da época e percebia que os interesses entre capitalistas e a classe operária eram opostos, e afirmava: se os salários se elevarem, os lucros tenderão a cair por parte dos capitalistas (HUNT, 2005). Ricardo foi o primeiro economista a defender que o livre comércio internacional poderia beneficiar dois países, mesmo que um deles produzisse todas as mercadorias de forma mais eficiente que a outra nação. Defendia que dois países poderiam beneficiar-se com o comércio se cada um tivesse uma vantagem relativa na produção. Isso significaria que a razão entre o trabalho (ou horas trabalhadas) incorporado às duas mercadorias pode ser diferente em países diferentes, de modo que cada um deles poderia ter no mínimo uma mercadoria na qual a quantidade de trabalho incorporado seria menor que no outro país, e que por isso teria vantagem na produção de determinado produto sobre o outro país (HUNT, 2005). Acompanhemos o exemplo a seguir. QUADRO 1 - TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS DE RICARDO – NÚMERO DE HORAS NECESSÁRIAS PARA PRODUZIR UMA UNIDADE DE TECIDO E VINHO NA INGLATERRA E PORTUGAL Produto Tecido Vinho Horas entre preço e do vinho e do tecido Razão entre preço do vinho e tecido Inglaterra 100 120 1,20 0,83 Portugal 90 80 0,88 1,12 FONTE: Adaptado de HUNT (2005) Observando o quadro, podemos perceber que Portugal tem uma vantagem absoluta na produção de vinho e de tecidos, isso significa afirmar que são necessárias menos horas de trabalho para produzir estas mercadorias em Portugal do que sua produção na Inglaterra. Vemos que em Portugal são necessárias 90 horas para produzir uma unidade de tecido e 80 horas para produzir uma unidade de vinho. Significa dizer que o vinho pre- cisa de 88% do trabalho exigido pelo tecido e que o preço do vinho equivale a 88% do preço do tecido. Já na Inglaterra, o trabalho necessário à produção de vinho e seu preço equivalem a 120% do trabalho. Segundo Ricardo, Portugal utiliza menos trabalho na produção de vinho e o preço é mais baixo, de outro lado Portugal usa 112% do trabalho incorporado na produção de vinho para UNIDADE 1 TÓPICO 3 29 E C O N O M I A P O L Í T I C A produzir tecido e, assim, o preço do tecido equivale a apenas 83% do preço do vinho. Assim sendo, a Inglaterra utiliza relativamente menos trabalho para produzir tecido, mas de outro lado utiliza mais trabalho, em termos absolu- tos; portanto, a Inglaterra tem uma vantagem relativa na produção de tecido. (HUNT, 2005, p. 138-139). Ricardo demonstrara ainda como a acumulação de capital acompanhada pelo aumento populacional ocasionaria uma elevação da renda da terra. Demonstra que os rendimentos decrescentes diminuem de tal forma os lucros que a poupança se torna nula, tendo-se uma condição de economia estacionária, com salários de subsistência e crescimento nulo (VASCONCELOS; GARCIA, 1999; PINHO et al., 2003; HUNT, 2005). Considerado um trabalho primordial, a teoria da renda da terra de Ricardo é uma das principais formulações e contribuições para o período dos clássicos. Ricardo sustentava em duas hipóteses sua teoria: em primeiro lugar, considerava que a terra era diferente em sua fertilidade e que as terras poderiam se ordenar a partir da mais fértil para a menos fértil; a segunda premissa é a de que a concorrência sempre igualava a taxa de lucro dos fazendeiros capitalistas que arrendassem terra dos proprietários (HUNT, 2005). ATEN ÇÃO! A teoria das vantagens comparativas defende que uma nação exportará sempre os produtos que produzir com custos relativamente menores que outros e importando os produtos nos quais se tem um custo mais elevado, o que resultaria em vantagens para ambas as economias, por isso teoria das vantagens comparativas (PINHO, et al., 2003). IMP OR TAN TE! � A teoria do valor-trabalho. Ricardo sustentava que o valor de uma determinada mercadoria dependia do trabalho nela incorporado. Por isso, para Ricardo as mercadorias sempre teriam preços proporcionais ao trabalho nelasincorporado (HUNT, 2005). UNIDADE 1TÓPICO 330 E C O N O M I A P O L Í T I C A 2.3 THOMAS ROBERT MALTHUS (1766-1834) Thomas Robert Malthus (1766-1834) era filho de família inglesa de posses. Estudou na Universidade de Cambridge. Mais tarde lecionou Economia Política na faculdade da Companhia das Índias Orientais em Harleybury, onde ficou até sua morte. O contexto histórico que viveu Malthus foi muito tumultuado e permeado por conflitos de classes, e suas obras de certa forma refletem a sua posição em relação a esses conflitos. O conflito era a Revolução Industrial, que ocorre justamente pelo sofrimento por conta da precarização das relações de trabalho que a classe operária estava passando. FIGURA 8 - THOMAS ROBERT MALTHUS FONTE: Disponível em: <https://jellyfishcoolman.files.wordpress.com/2009/10/ malthus.jpg> Acesso em: 10 jan. 2015. A Revolução Industrial trouxe aumentos da produtividade, a construção de fábricas, o uso de máquinas na produção. Essas mudanças faziam com que houvesse um aumento da produtividade. Por outro lado, as condições de trabalho para a classe operária eram precárias, em níveis de mera subsistência, os sacrifícios sempre foram feitos por aqueles que tinham menor poder econômico e político, ou seja, a classe operária. A classe operária na Inglaterra vivia perto dos níveis de subsistência, com o salário deteriorado, isso por volta de 1750, na segunda metade do século XVIII (HUNT, 2005). Nessa época da Revolução Industrial é consenso de muitos estudiosos e historiadores que as condições de vida dos trabalhadores decaíram muito, e que "os pobres ficaram mais UNIDADE 1 TÓPICO 3 31 E C O N O M I A P O L Í T I C A pobres simplesmente porque as classes média e rica ficaram obviamente mais ricas” (HUNT, 2005, p.111). Justamente neste momento em que os pobres estavam nas piores condições possíveis, a classe média e rica estava com capital excedente, o qual utilizava para investir. Por isso não se tem dúvidas de que quem sempre arcou com os custos sociais necessários à industrialização foi a classe trabalhadora. Este momento ainda é marcado pela perda, usurpação da "habilidade artesanal", do trabalhador, pois da manufatura passa a submeter-se ao novo sistema fabril, o que destruiu completamente o modo de vida deste trabalhador (HUNT, 2005). FIGURA 9 - PROCESSO DE EXPROPRIAÇÃO DOS TRABALHADORES FONTE: Disponível em: <https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQiSnj5- ASL_IzEMTcflRcJMpGOZQXHBB6cUvKyoZkrW2051SLkbg>. Acesso em: nov. 2012. Agora, no novo sistema fabril, a única relação era de troca entre trabalho e salário, os trabalhadores foram perdendo o acesso aos meios de produção e foram reduzidos a meros vendedores da força de trabalho e totalmente dependentes das condições de mercado para sua sobrevivência. "A máquina, que antes era um apêndice do homem, se tornava agora o ponto central do processo de produção. O homem passou a ser um simples apêndice da máquina fria, implacável e ditadora do ritmo de trabalho” (HUNT, 2005, p. 112). Esse novo sistema fabril fez com que grupos de trabalhadores destruíssem máquinas e fábricas que, segundo eles, eram UNIDADE 1TÓPICO 332 E C O N O M I A P O L Í T I C A responsáveis pela sua má situação. A divisão do trabalho na fábrica fez com que mulheres e crianças sem treinamento algum pudessem trabalhar tão bem quanto os homens. Para o capitalista era muito lucrativo, já que os salários pagos às mulheres e crianças eram bem mais baixos com relação aos homens. Em muitos casos, relatam os historiadores que, dadas as condições da época, famílias inteiras se submetiam a trabalhos precários nas fábricas, recebendo o suficiente apenas para comer, na maioria dos casos. Em alguns casos ainda há relatos de que os donos das fábricas preferiam mulheres e crianças, pois eram mais "obedientes" e "dóceis". No contexto descrito acima, em meio aos conflitos de classe da época da Revolução Industrial, Malthus era defensor declarado dos ricos, tanto que sua teoria da população serviu para defender esta classe. Em 1798 ele publicou sua obra intitulada An Essay on the Principle e of Population as It Affects the Future Improvement of Society, with Remarks on the Speculations of Mr. Godwin, M. Condorcet, and Other Writers, geralmente conhecida como Ensaio sobre o Princípio da População. Em 1814 a principal preocupação de Malthus era com relação à luta entre os proprietários de terras e os capitalistas. Nesse período Malthus sempre defendeu os interesses da classe dos proprietários de terras. Nos princípios, a base teórica mais importante de sua defesa dos proprietários de terras era sua teoria da “superprodução” ou das depressões econômicas (HUNT, 2005, p. 118). As condições sub-humanas da classe operária e a inquietação e revolta de muitos trabalhadores fizeram surgir muitos defensores desta classe, nomes como do francês Marie Jean Antonie Nicolas de Caritat, e o inglês Willian Godwin. Malthus era contrário a essas ideias, o que foi base para seu primeiro ensaio. Quanto à sua principal teoria, a chamada teoria da população, Malthus baseava suas conclusões relativamente de forma simples: acreditava que quase todas as pessoas eram impelidas por um desejo de prazer sexual e que, por conta disso, as taxas de reprodução levariam a aumentos em progressão geométrica da população, e que a população duplicaria a cada geração. Ainda para Malthus, se não houvesse um meio de controle habitacional, a fome acabaria limitando o crescimento populacional. Acreditava que por meio da esterilidade, da abstinência sexual e controle de nascimentos era possível ter o que ele chamou de controle preventivo. De outro lado, o controle positivo aumentava a taxa de natalidade; incluía a fome, a miséria, as pragas, as guerras. "Se os controles preventivos fossem inadequados, os controles positivos seriam inevitáveis e, se houvesse uma insuficiência de doenças, guerras e catástrofes naturais, UNIDADE 1 TÓPICO 3 33 E C O N O M I A P O L Í T I C A a morte pela fome sempre controlaria o crescimento da população." (HUNT, 2005, p. 122). Malthus foi o primeiro economista a sistematizar uma teoria geral sobre a população. Malthus sustentava que o crescimento da população dependia rigidamente da oferta de alimentos. Para este autor, a causa de todos os males sociais estaria em um excesso populacional: “enquanto a população crescia em progressão geométrica, a produção de alimentos seguia em progressão aritmética” (VASCONCELOS; GARCIA, 1999, p. 17). Portanto, ele acreditava em uma escassez de alimentos para um contingente populacional elevado e, ainda mais, acreditava que a produtividade da terra não sustentaria uma produção de alimentos para uma população grande (VASCONCELOS; GARCIA, 1999). Malthus acreditava que o crescimento demográfico iria ultrapassar a capacidade produtiva da terra, gerando assim fome e miséria. 2.4 JOHN STUART MILL (1806-1873) Nascido em Londres em 1806, filho de James Mill, filósofo, economista e alto funcionário da Companhia das Índias Orientais. A tentativa de integrar a teoria do valor-trabalho com a perspectiva utilitarista foi feita por este pensador. Na sua obra Princípios de Economia Política, publicada em 1848, declarava-se um seguidor de Bentham e Ricardo. Reformulou a teoria do valor-trabalho de Ricardo, com algumas modificações, e o utilitarismo de Bentham (HUNT, 2005). Na apresentação de sua perspectiva da teoria do trabalho, Mill acredita que a produção consistia, simplesmente, no trabalho transformado em recursos naturais. “Os requisitos da produção são dois: o trabalho e objetos naturais apropriados… Em quase todos os casos… a não ser em alguns casos sem importância, os objetos oferecidos pela natureza são apenas instrumentais para as necessida- des humanas, após terem sido, de certa maneira, transformados pelo esforço humano.” (HUNT, 2005, p. 275). FIGURA 10- JOHN STUART MILL FONTE: Disponível em: <http://avignon.midiblogs.com/ media/02/02/1371370821.jpg> Acesso em: 10 jan. 2015. UNIDADE 1TÓPICO 334 E C O N O M I A P O L Í T I C A Seguidor de Ricardo, Mill elaborou o que pareceu uma reformulação a teoria do valor- trabalho de Ricardo. Afirmou ainda que, embora o trabalho fosse o mais importante determinante do valor, não era o único. Argumentava que a teoria do valor-trabalho só seria válida quando as razões capital e trabalho fossem as mesmas em todas as fábricas. Dessa forma, os custos para produzir seriam proporcionais ao trabalho incorporado nas diferentes mercadorias. Todavia, isso não acontecia com grande parte das mercadorias. A exemplo do vinho e do tecido: produzidos na mesma quantidade de trabalho, têm valores diferentes, pois, por exemplo, o vinho demorava mais para dar lucro que o tecido (HUNT, 2005). Este pensador foi considerado o sintetizador do pensamento clássico. Seu trabalho foi o principal utilizado para o ensino de economia no fim do período clássico e início do período neoclássico. Sua obra vai consolidar o exposto por seus precursores, nos quais se definiu melhor as restrições, vantagens e funcionamento das economias de mercado (VASCONCELOS; GARCIA, 1999). 2.5 JEAN-BAPTISTE SAY (1769-1832) Jean-Baptiste Say foi jornalista, industrial, parlamentar e professor, ocupou-se a lecionar a cátedra de Economia Política no colégio da França, escreveu em 1804 um tratado de economia política. Considerava-se um seguidor das ideias de Smith, afirmava que corrigia pequenos equívocos do pensador escocês. Em sua obra mais importante, “Um Tratado de Economia Política”, elogia Smith por suas contribuições à economia política. Entretanto, Smith era um liberal entre os autores ingleses de sua escola, foi um dos únicos otimistas. Say, em sua releitura, conservou e fortifica este caráter, e assim formou-se a corrente liberal otimista, denominada na história das doutrinas como “Escola Liberal Francesa”. Say argumentava que o preço ou valor de troca de qualquer mercadoria dependia inteiramente de seu valor de utilidade. Rejeita a ideia de que o trabalho era a fonte de valor e riqueza, insiste que a utilidade criava o valor de uma determinada mercadoria. Este pensador colocou no centro dos fenômenos de produção a indústria, enquanto a escola inglesa, com Ricardo (que já estudamos acima), consagrou especial atenção à propriedade fundiária e à renda. Já Say vai considerar o empreendedor e o lucro. Importante nos escritos de Say era a crença deste pensador nos mercados livres que se ajustam automaticamente, em um equilíbrio em que todos os recursos, inclusive o trabalho, estariam plenamente utilizados e isso resultaria em pleno emprego, tanto o trabalho quanto UNIDADE 1 TÓPICO 3 35 E C O N O M I A P O L Í T I C A a capacidade produtiva. Essa crença no mercado passou a ser conhecida mais tarde como a Lei de Say. (HUNT, 2005). Say argumentava que a economia de mercado era uma economia em que produtores especializados trocavam seus produtos. Afirmava ainda que ninguém produziria o que não quisesse trocar. Portanto, para ele, uma oferta cria uma demanda da mesma magnitude", "produção abre caminho para produção. Say explicava ainda que poderia haver uma superprodução temporária de algumas mercadorias e isso seria consequência do mercado não estar em equilíbrio, e o resultado disso seriam preços muito altos e muito baixos (HUNT, 2005). FIGURA 11 – JEAN-BATISTE SAY FONTE: Disponível em: <http://www.liberal-international.org/editorial.asp?ia_ id=680> Acesso em: 15 jan. 2015. Alguns pensadores rejeitaram as ideias de Say, entre eles Keynes, Marx e Malthus. Todavia, a Lei de Say ainda hoje é aceita por muitos economistas. IMP OR TAN TE! � Muito conhecida como “Lei de Say”, trata-se do principal pressuposto defendido por este autor, em que a oferta cria sua própria demanda. UNIDADE 1TÓPICO 336 E C O N O M I A P O L Í T I C A A adoção dos princípios do liberalismo econômico pautados e defendidos por esses autores clássicos que citamos acima trouxe consequências negativas principalmente para a classe trabalhadora, na época em que foram implantados. A condição de vida das pessoas desmoronou, sujeitos a jornadas de trabalho de mais de 12 horas diárias, em alguns casos até 18 horas, mulheres e crianças trabalhando em chão de fábricas, os acidentes de trabalho com máquinas e equipamentos eram muito frequentes nesse período. FIGURA 12 - EM PLENO AUGE DO CAPITALISMO, CRIANÇAS TRABALHANDO NAS FÁBRICAS DE 12 A 18 HORAS POR DIA FONTE: Disponível em: <https://encryptedtbn1.gstatic.com/images?q=tbn:AN d9GcTRVtz3Miar77QXxZqZiliOO3XchZLQRxC7lVpwur98V_SizQ1>. Acesso em: jan. 2015. Dadas essas condições de precarização da maioria da classe trabalhadora, começam a surgir questionamentos com relação às ideias liberais da escola da economia política clássica. Essas ideias econômicas ainda deram margem para o questionamento do autoajustamento da sociedade baseado apenas nas leis de mercado guiadas pela “mão invisível”. Neste período ainda começam a surgir o que se chamou de ideias socialistas e escolas socialistas. Surgem aí os críticos, escola clássica, como Karl Marx, o principal crítico dessas ideias e que justamente estudaremos no próximo tópico. IMP OR TAN TE! � Liberalismo econômico é uma doutrina baseada em defesa das iniciativas individuais que busca limitar a intervenção mínima possível na vida econômica, social e cultural. Essa corrente clássica do século XVIII acredita que os mercados são guiados por uma mão invisível e se equilibram por si sós, por isso a intervenção estatal é mínima. UNIDADE 1 TÓPICO 3 37 E C O N O M I A P O L Í T I C A 3 A CRISE DA ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA Por volta de 1830 até 1850 desenha-se uma crise da Economia Política clássica que até então dominava o cenário das ideias econômicas. Mas exatamente em 1825 manifestou-se a primeira crise do capitalismo; em 1848 explodem as revoluções democrático-populares na Europa Ocidental e Central. A Revolução Burguesa de 1848 não conduziu ao prometido reino da igualdade, liberdade e fraternidade. O propósito era de conduzir uma nova ordem social, sem dúvida muito mais livre que antes, mas ainda continha os limites insuperáveis para a emancipação da humanidade. Os movimentos de classe daquela época mostram claramente o que se desenhara a partir daí, “um novo cenário de confrontos entre a burguesia e segmentos dos trabalhadores, com destaque para o jovem proletariado”. Começam os conflitos, “avolumam- se rebeliões, convulsões pela Europa, o que vai explodir em 1848 [...] agora dois protagonistas começam a se enfrentar diretamente, a burguesia conservadora e o proletariado revolucionário” (NETTO; BRAZ, 2011, p. 30). FIGURA 13 - REVOLTAS POPULARES DE 1848 FONTE: Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/uploads/docs/ images/images/revolta%20chicago.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2015. Nesse contexto, portanto, que se compreende a crise da Economia Política Clássica, com a inflexão, causada pela burguesia em classe conservadora, aos poucos a economia política vai se tornando incompatível com os interesses da burguesia conservadora. Nota-se, portanto, que o chamado pensamento burguês depois de 1848 abandona as conquistas teóricas da Economia Política Clássica e também não é casual que tais conquistas se transformem num legado dos pensadores que ficaram mais ao lado do proletariado da época (NETTO, BRAZ, 2011). Importante ainda que a economia política clássica não fosse compatível com os ideais da burguesia, que converteu-se em uma classe dominante e conservadora. Observa-se que UNIDADE 1TÓPICO 338 E C O N O M I A P O L Í T I C A entre 1825 até meados de 1848 a economia política sente uma crise. Observa-se até hoje o desuso do termo Economia Política, isso se deve a dois fatores expostos por Netto e Braz (2011), essa dissolução da Economia Política deve-se a: primeiro, as investigações
Compartilhar