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FICHA 1 C O N H E C I M E N T O C I E N T Í F I C O S A B E R - F O R M A S D E C O N H E C I M E N T O , S E N S O C O M U M , M I T O , H I S T Ó R I A , R E L I G I Ã O E C I Ê N C I A - P A R T E 2 O CONTEÚDO Nas duas últimas aulas conversamos bastante sobre como o conhecimento científico se construiu e consolidou . Reveja as duas últimas aulas de ciências humanas Relembre que debatemos esse assunto e problematize a construção do pensamento científico , suas influências e o modo como a sociedade o consebe . FORMAR EQUIPES DE 4 PESSOAS ( NÃO SERÃO ACEITOS GRUPOS DE MAIS DE 4) CADA UM DEVERÁ ESCOLHER UM ÚNICO TEXTO, LER, RESUMIR , COMPARTILHAR O RESUMO COM O RESTANTE DO GRUPO EM UMA CONVERSA DE CHAT (O RESUMO DEVERÁ ESTAR NO TEXTO DA CONVERSA E NÃO EM ARQUIVO). A EQUIPE DEVERÁ DISCUTIR EM CHAT QUAL PRODUÇÃO VISUAL (ARGUMENTANDO SOBRE O TEMA ESCOLHIDO) APRESENTARÃO AOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS HUMANAS TODOS DEVERÃO LER O KIT ESCOLHIDO. CADA INTEGRANTE FICARÁ COM UM TEXTO DIFERENTE. NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DE ESCOLHER UM ÚNICO TEXTO PARA TODOS DO GRUPO. SE FIZEREM ISSO PERDERÃO MENÇÃO. NÃO COPIEM TRABALHO DE OUTRAS EQUIPES. TRABALHOS IGUAIS SERÃO CANCELADOS. O QUE FAZER? SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS A atitude científica* Marilena Chauí O senso comum O Sol é menor do que a Terra. Quem duvidará disso se, diariamente, vemos um pequeno círculo avermelhado percorrer o céu, indo de leste para oeste? O Sol se move em torno da Terra, que permanece imóvel. Quem duvidará disso, se diariamente vemos o Sol nascer, percorrer o céu e se pôr? A aurora não é o seu começo e o crepúsculo, seu fim? As cores existem em si mesmas. Quem duvidará disso, se passamos a vida vendo rosas vermelhas, amarelas e brancas, o azul do céu, o verde das árvores, o alaranjado da laranja e da tangerina? Cada gênero e espécie de animal já surgiram tais como os conhecemos. Alguém poderia imaginar um peixe tornar-se réptil ou um pássaro? Para os que são religiosos, os livros sagrados não ensinam que a divindade criou de uma só vez todos os animais, num só dia? A família é uma realidade natural criada pela Natureza para garantir a sobrevivência humana e para atender à afetividade natural dos humanos, que sentem a necessidade de viver juntos. Quem duvidará disso, se vemos, no mundo inteiro, no passado e no presente, a família existindo naturalmente e sendo a célula primeira da sociedade? A raça é uma realidade natural ou biológica produzida pela diferença dos climas, da alimentação, da geografia e da reprodução sexual. Quem duvidará disso, se vemos que os africanos são negros, os asiáticos são amarelos de olhos puxados, os índios são vermelhos e os europeus, brancos? Se formos religiosos, saberemos que os negros descendem de Caim, marcado por Deus, e de Cam, o filho desobediente de Noé. Certezas como essas formam nossa vida e o senso comum de nossa sociedade, transmitido de geração em geração, e, muitas vezes, transformando-se em crença religiosa, em doutrina inquestionável. A astronomia, porém, demonstra que o Sol é muitas vezes maior do que a Terra e, desde Copérnico, que é a Terra que se move em torno dele. A física óptica demonstra que as cores são ondas luminosas de comprimentos diferentes, obtidas pela refração e reflexão, ou decomposição, da luz branca. A biologia demonstra que os gêneros e as espécies de animais se formaram lentamente, no curso de milhões de anos, a partir de modificações de microorganismos extremamente simples. Historiadores e antropólogos mostram que o que entendemos por família (pai, mãe, filhos; esposa, marido, irmãos) é uma instituição social recentíssima – data do século XV – e própria da Europa ocidental, não existindo na Antiguidade, nem nas sociedades africanas, asiáticas e americanas pré-colombianas. Mostram também que não é um fato natural, mas uma criação sociocultural, exigida por condições históricas determinadas. Sociólogos e antropólogos mostram que a idéia de raça também é recente – data do século XVIII -, sendo usada por pensadores que procuravam uma explicação para as diferenças físicas e culturais entre os europeus e os povos conhecidos a partir do século XIV, com as viagens de Marco Pólo, e do século XV, com as grandes navegações e as descobertas de continentes ultramarinos. CIÊNCIAS HUMANAS são subjetivos, isto é, exprimem sentimentos e opiniões individuais e de grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro, dependendo das condições em que vivemos. Assim, por exemplo, se eu for artista, verei a beleza da árvore; se eu for marceneira, a qualidade da madeira; se estiver passeando sob o Sol, a sombra para descansar; se for bóia-fria, os frutos que devo colher para ganhar o meu dia. Se eu for hindu, uma vaca será sagrada para mim; se for dona de um frigorífico, estarei interessada na qualidade e na quantidade de carne que poderei vender; são qualitativos, isto é, as coisas são julgadas por nós como grandes ou pequenas, doces ou azedas, pesadas ou leves, novas ou velhas, belas ou feias, quentes ou frias, úteis ou inúteis, desejáveis ou indesejáveis, coloridas ou sem cor, com sabor, odor, próximas ou distantes, etc.; são heterogêneos, isto é, referem-se a fatos que julgamos diferentes, porque os percebemos como diversos entre si. Por exemplo, um corpo que cai e uma pena que flutua no ar são acontecimentos diferentes; sonhar com água é diferente de sonhar com uma escada, etc.; são individualizadores por serem qualitativos e heterogêneos, isto é, cada coisa ou cada fato nos aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo: a seda é macia, a pedra é rugosa, o algodão é áspero, o mel é doce, o fogo é quente, o mármore é frio, a madeira é dura, etc.; mas também são generalizadores, pois tendem a reunir numa só opinião ou numa só idéia coisas e fatos julgados semelhantes: falamos dos animais, das plantas, dos seres humanos, dos astros, dos gatos, das mulheres, das crianças, das esculturas, das pinturas, das bebidas, dos remédios, etc.; em decorrência das generalizações, tendem a estabelecer relações de causa e efeito entre as coisas ou entre os fatos: “onde há fumaça, há fogo”; “quem tudo quer, tudo perde”; “dize-me com quem andas e te direi quem és”; a posição dos astros determina o destino das pessoas; mulher menstruada não deve tomar banho frio; ingerir sal quando se tem tontura é bom para a pressão; mulher assanhada quem ser estuprada; menino de rua é delinqüente, etc.; não se surpreendem e nem se admiram com a regularidade, constância, repetição e diferença das coisas, mas, ao contrário, a admiração e o espanto se dirigem para o que é imaginado como único, extraordinário, maravilhoso ou miraculoso. Justamente por isso, em nossa sociedade, a propaganda e a moda estão sempre inventando o “extraordinário”, o “nunca visto”; pelo mesmo motivo e não por compreenderem o que seja investigação científica, tendem a identificá-la com a magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o oculto, o incompreensível. Essa imagem da ciência como magia aparece, por exemplo, no cinema, quando os filmes mostram os laboratórios científicos repletos de objetos incompreensíveis, com luzes que acendem e apagam, tubos de onde saem fumaças coloridas, exatamente como são mostradas as cavernas ocultas dos magos. Essa mesma identificação entre ciência e magia aparece num programa da televisão brasileira, o Fantástico, que, como o nome indica, mostra aos telespectadores resultados Ao que parece, há uma grande diferença entre nossas certezas cotidianas e o conhecimento científico. Como e por que ela existe? Características do senso comum Um breve exame de nossos saberes cotidianos e do senso comum de nossa sociedade revela que possuem algumas características que lhes são próprias: SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 SABER- FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS costumam projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e de medo diante do desconhecido. Assim, durante a Idade Média, as pessoas viam o demônio em toda a parte e, hoje, enxergam discos voadores no espaço; por serem subjetivos, generalizadores, expressões de sentimentos de medo e angústia, e de incompreensão quanto ao trabalho científico, nossas certezas cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo social cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos. é quantitativo, isto é, busca medidas, padrões, critérios de comparação e avaliação para coisas que parecem ser diferentes. Assim, por exemplo, as diferenças de cor são explicadas por diferenças de um mesmo padrão ou critério de medida, o comprimento das ondas luminosas; as diferenças de intensidade dos sons, pelo comprimento das ondas sonoras; as diferenças de tamanho, pelas diferenças de perspectiva e de ângulos de visão, etc.; é homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que nos parecem diferentes. Por exemplo, a lei universal da gravitação demonstra que a queda de uma pedra e a flutuação de uma pluma obedecem à mesma lei de atração e repulsão no interior do campo gravitacional; a estrela da manhã e a estrela da tarde são o mesmo planeta, Vênus, visto em posições diferentes com relação ao Sol, em decorrência do movimento da Terra; sonhar com água e com uma escadater o mesmo tipo de sonho, qual seja, a realização dos desejos sexuais reprimidos, etc.; é generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas leis, os mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que possuem a mesma estrutura. Assim, por exemplo, a química mostra que a enorme variedade de corpos se reduz a um número limitado de corpos simples que se combinam de maneiras variadas, de modo que o número de elementos é infinitamente menor do que a variedade empírica dos compostos; científicos como se fossem espantosa obra de magia, assim como exibem magos ocultistas como se fossem cientistas; A atitude científica O que distingue a atitude científica da atitude costumeira ou do senso comum? Antes de qualquer coisa, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. Sob quase todos os aspectos, podemos dizer que o conhecimento científico opõe-se ponto por ponto às características do senso comum:é objetivo, isto é, procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas; SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS são diferenciadores, pois não reúnem nem generalizam por semelhanças aparentes, mas distinguem os que parecem iguais, desde queobedeçam a estruturas diferentes. Lembremos aqui um exemplo que usamos no capítulo sobre a linguagem, quando mostramos que a palavra queijo parece ser a mesma coisa que a palavra inglesa cheese e a palavra francesa fromage, quando, na realidade, são muito diferentes, porque se referem a estruturas alimentares diferentes; só estabelecem relações causais depois de investigar a natureza ou estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes. Assim, por exemplo, um corpo não cai porque é pesado, mas o peso de um corpo depende do campo gravitacional onde se encontra – é por isso que, nas naves espaciais, onde a gravidade é igual a zero, todos os corpos flutuam, independentemente do peso ou do tamanho; um corpo tem uma certa cor não porque é colorido, mas porque, dependendo de sua composição química e física, reflete a luz de uma determinada maneira, etc.; surpreende-se com a regularidade, a constância, a freqüência, a repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o maravilhoso, o extraordinário ou o “milagroso” é um caso particular do que é regular, normal, freqüente. Um eclipse, um terremoto, um furacão, embora excepcionais, obedecem às leis da física. Procura, assim, apresentar explicações racionais, claras, simples e verdadeiras para os fatos, opondo-se ao espetacular, ao mágico e ao fantástico; distingue-se da magia. A magia admite uma participação ou simpatia secreta entre coisas diferentes, que agem umas sobre as outras por meio de qualidades ocultas e considera o psiquismo humano uma força capaz de ligar-se a psiquismos superiores (planetários, astrais, angélicos, demoníacos) para provocar efeitos inesperados nas coisas e nas pessoas. A atitude científica, ao contrário, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento do mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e relações racionais que podem ser conhecidas e que tais conhecimentos podem ser transmitidos a todos; afirma que, pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e das superstições, deixando de projetá-los no mundo e nos outros; procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformação das teorias em doutrinas, e destas em preconceitos sociais. O fato científico resulta de um trabalho paciente e lento de investigação e de pesquisa racional, aberto a mudanças, não sendo nem um mistério incompreensível nem uma doutrina geral sobre o mundo. separar os elementos subjetivos e objetivos de um fenômeno; Os fatos ou objetos científicos não são dados empíricos espontâneos de nossa experiência cotidiana, mas são construídos pelo trabalho da investigação científica. Esta é um conjunto de atividades intelectuais, experimentais e técnicas, realizadas com base em métodos que permitem e garantem: SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS construir o fenômeno como um objeto do conhecimento, controlável, verificável, interpretável e capaz de ser retificado e corrigido por novas elaborações; demonstrar e provar os resultados obtidos durante a investigação, graças ao rigor das relações definidas entre os fatos estudados;a demonstração deve ser feita não só para verificar a validade dos resultados obtidos, mas também para prever racionalmente novos fatos como efeitos dos já estudados; relacionar com outros fatos um fato isolado, integrando-o numa explicação racional unificada, pois somente essa integração transforma o fenômeno em objeto científico, isto é, em fato explicado por uma teoria; formular uma teoria geral sobre o conjunto dos fenômenos observados e dos fatos investigados, isto é, formular um conjunto sistemático de conceitos que expliquem e interpretem as causas e os efeitos, as relações de dependência, identidade e diferença entre todos os objetos que constituem o campo investigado. Delimitar ou definir os fatos a investigar,separando-os de outros semelhantes ou diferentes; estabelecer os procedimentos metodológicos para observação,experimentação e verificação dos fatos;construir instrumentos técnicos e condições de laboratório específicas para a pesquisa;elaborar um conjunto sistemático de conceitos que formem a teoria geral dos fenômenos estudados, que controlem e guiemo andamento da pesquisa, além de ampliá-la com novas investigações, e permitam a previsão de fatos novos a partir dos já conhecidos: esses são os pré-requisitos para a constituição de uma ciência e as exigências da própria ciência.ciência distingue-se do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos,preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. A ciência é conhecimentoque resulta de um trabalho racional.O que é uma teoria científica?um sistema ordenado e coerente de proposições ou enunciados baseados em um pequeno número de princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever do modo mais completo possível um conjunto de fenômenos, oferecendo suas leis necessárias. A teoria científica permite que uma multiplicidade empírica de fatos aparentemente muito diferentes sejam compreendidos como semelhantes e submetidos às mesmas leis; e, vice-versa, permite compreender por que fatos aparentemente semelhantes são diferentes e submetidos a leis diferentes. In: Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, Ed. Ática, São Paulo, 2000, Unidade 7, As ciências, Capítulo 1 SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS O historiador e seu tempo Novo trabalho de José Jobson de Andrade Arruda concilia teoria e prática para discutir a historiografia No ateliê do historiador, história é arte minuciosa. Requer técnicas, instrumentos, ferramentas com rigor científico e refinamento literário – e uma generosa pincelada de conhecimento teórico. Não à toa, conciliar teoria e prática é considerado um grande desafio. Tal conciliação é a proposta do historiador José Jobson de Andrade Arruda no livro Historiografia: teoria e prática (Alameda, 2014), cujas primeiras páginas imprimem a famosa frase de Goethe: “Cinzenta, caro amigo, é toda teoria. E verde, a árvore dourada da vida”. O historiador assim adverte para não arvorar os princípios teóricos como “verdades absolutas”, pois a teoria resvalaria para a ideologia. Para ele, é preciso equilibrar precisão empírica e teorização: “Nem só a retórica teórica se exercendo no vazio; nem somente a pletora de experimentos práticos sem uma costura teórica que os ilumine, pois interpenetração de teoria e prática conduz ao logos, isto é, à razão compreensiva”. Por historiografia, Jobson compreende uma análise crítica das obras históricas, os historiadores e seus tempos. “História e historiografia não são sinônimos. De um lado, há a história – e os historiadores tentam captar fragmentos do tempo dessa história. De outro, há a historiografia, que pretende produzir um conhecimento sobre a história, com suas circunstâncias”, considera. O autor dedica os capítulos iniciais do novo livro à teoria, mas ilustra a prática nos capítulos voltados à análise das obras de intelectuais como Alice Canabrava (1911-2003), Fernando Novais e José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1756-1835); além dos brasileiros, há dois historiadores estrangeiros, Stuart Schwartz e Christopher Hill (1912-2003). Completa-se o texto com a aplicação do método historiográfico proposto a dois temas, relativos à temática dos impérios ibéricos na modernidade. “Diante dessa diversidade, de autores de ontem e de hoje, pretendo destacar a possibilidade de aplicar o método historiográfico a diferentes épocas, diferentes intérpretes da realidade. Quis reposicionar questões metodológicas, mostrando trabalhos empíricos que sustentam a teoria”, diz Jobson. Foi um longo caminho de volta para “casa”. Doutor em História Moderna pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) em 1973, Jobson noutros tempos se dividiu entre Brasília e São Paulo: enquanto compunha o corpo docente do Curso Objetivo, foi diretor de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), chefiou o Departamento de História e o Instituto de Pré-história da USP e promoveu a fusão dos museus que formam atualmente o Museu de Arqueologia e Etnologia da universidade. Nas férias, escrevia livros didáticos, como as séries História moderna e contemporânea e História antiga e medieval. Depois, o historiador transitou entre Bauru, Campinas e São Paulo, época em que se tornou vice-presidente da FAPESP (1995-1997), professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e editor da Editora da Universidade do Sagrado Coração, a Edusc.Apesar de nunca ter se afastado oficialmente da USP, Jobson, agora aos 72 anos, está de volta. Hoje é professor sênior do Programa de Pós-graduação de História Econômica na USP. SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS Apesar de nunca ter se afastado oficialmente da USP, Jobson, agora aos 72 anos, está de volta. Hoje é professor sênior do Programa de Pós-graduação de História Econômica na USP e líder do Grupo de Estudos Historiográficos Ibero-americanos, ao lado da historiadora Laura de Mello e Souza, alojado na cátedra Jaime Cortesão. O pesquisador dedica-se no momento à finalização de uma dezena de artigos e três livros. Historiografia, o primeiro dessa nova safra, é fruto de Historiografia: Teoria e Prática, disciplina ministrada pelo autor em 2012, que marcou seu retorno às salas de aula na Cidade Universitária, em São Paulo. “Estava desde 1998 distante da USP”, diz. “Ao voltar, encontrei estudantes brilhantes, como Eduardo Peruzzo, Leandro Villarino, Roberto Pereira Silva e o professor Alberto Luiz Schneider, que incentivaram a transformação do curso em livro, que pretende contribuir para a formação de jovens historiadores.” Para o curso, Jobson reuniu artigos antigos que foram totalmente reformulados e também inéditos. Justificou a decisão de publicá-los como livro ao considerar que, após 50 anos de dedicação acadêmica ininterrupta e de investigação contínua, ainda teria algo novo a dizer, principalmente às novas gerações. Aos jovens historiadores A novidade proposta pelo pesquisador é uma síntese e, ao mesmo tempo, um convite. “A história está em perpétua renovação. E, após certo tempo, há uma consolidação e um salto, um upgrade no conhecimento. Desde a década de 1950, após a publicação de Mediterrâneo, de Fernand Braudel, prevaleceu um determinado método, que privilegiava a dimensão econômica e social”, explica. “Depois, no fim da década de 1970, com Montaillou, de Le Roy Ladurie, outro salto marcou um novo paradigma de interpretação da história – uma ‘nova’ história enraizada na cultura.” Ele pondera, entretanto, que essas histórias não são excludentes: “Pelo contrário, são pares dialogais”. Jobson vivenciou empiricamente, como estudante e professor, a efervescência intelectual daqueles tempos. Por um lado, nos anos 1960 e 1970, assistiu a certa hegemonia da história econômica, de fundamentação marxista. Por outro, a partir dos anos 1970 até 2000, viu a predominância da história cultural. “É uma questão de ênfase. De um lado, prevalece a ideologia. De outro, o imaginário. Mas é preciso estar atento aos argumentos das suas linhas que, na minha perspectiva, não são excludentes. É possível dialogar. Essa síntese é mais um salto, o que estava pensando ao propor algo novo no livro. E o que tenho a dizer? Ora, a história está viva. Agora, ela nos convida ao diálogo entre a cultura e a economia”, afirma o autor. Se a história econômica partia de uma perspectiva de grande angular (a macro-história), e a história cultural de um foco muito específico (a micro-história), Jobson propõe aos jovens historiadores um olhar mais atento sobre as duas questões. “Um movimento complexo resta, pois, como tarefa inexaurível ao historiador: não descuidar dos detalhes, da filigrana, mas também não deixar de inscrevê-la na teia ampla da macro-história”, recomenda. Autor de Uma colônia entre dois impérios: A abertura dos portos brasileiros 1800-1808 (Alameda, 2008), o pesquisador buscou privilegiar tais diálogos. Entre tantas experiências, uma talvez tenha especialmente contribuído para culminar nessa síntese. À época no Instituto de Economia da Unicamp, o historiador participou do projeto temático “Dimensões do Império Português”, entre 2005 e 2010, com apoio da FAPESP. Coordenado por Laura de Mello e Souza, contando com as historiadoras Leila Mezan Algranti e Vera Lucia Amaral Ferlini, o projeto reunia pesquisadorescom diferentes vocações, propiciando o intercâmbio de ideias em reuniões periódicas. Pensando na continuidade desse diálogo entre a cultura e a economia, principalmente com as novas gerações, Jobson ministrará um curso de pós-graduação intitulado História Econômica e História Cultural: Teoria e Prática, entre março e junho de 2015, em parceria com a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, atualmente pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP. SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS Há tempos Maria Arminda, esposa de Jobson, é sua principal interlocutora intelectual. Outra interação intelectual muito marcante se deu com o historiador Fernando Novais, professor emérito da USP e a quem dedicou um dos capítulos de Historiografia. “Novais adora chistes. E dizia brincando, com fundamento: ‘Sou um marxista pascaliano’. Explicitar tal fundamento foi minha ideia no capítulo”, conta o pesquisador. “O livro de Jobson é muito importante, sem dúvida. Também escrevo sobre historiografia, mas a partir de uma linha diferente. Não são oposições, mas diferentes abordagens”, comenta Novais, autor de Aproximações: Estudos de história e historiografia (Cosac Naify, 2011) e do clássico Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial 1777-1808 (Hucitec, 1979). Temporalidades entrelaçadas Pensar historiograficamente é pensar as temporalidades. Ou melhor, a “transtemporalidade”. Segundo o historiador, o tempo astronômico marca a história que passa, a sucessão de minutos que se tornam horas, que se tornam dias. Mas há ainda o tempo do historiador, encravado entre o passado e o presente, entre temporalidades entrelaçadas. “O historiador olha para o passado, capta fragmentos do passado e os torna inteligíveis ao presente. Mas o historiador é uma pessoa real, envolvida no seu tempo e no seu contexto, com uma formação intelectual, uma família, uma ideologia, uma religião, uma realidade, enfim, uma vida”, diz Jobson. Assim, para compreender uma obra histórica, é preciso compreender o autor de tal obra, suas influências, suas referências, suas raízes. “Não existe baú de ossos na história. Esses ossos têm DNA. Eles dizem muito.”Diferentemente talvez da ideia comum, o historiador não se volta só a vasculhar a poeira do passado, nos pergaminhos ou nas ossadas. Ao contrário, esse intelectual seria um pensador de um passado, mas enraizado no presente, mirando um horizonte no futuro. “O historiador tem um futuro em mente, às vezes mais imediato, outras vezes mais distante. Por exemplo, com a transformação econômica do país. Um historiador que estudou a formação econômica do Brasil, como Caio Prado Júnior, olhava só para o passado? Não. Tinha um presente, mas principalmente um futuro em mente”, observa. “Celso Furtado, Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda, os retratistas, os grandes intérpretes do Brasil miravam o futuro. No fundo, queriam transformar o país. Essa é a dialógica da transtemporalidade, que está na mente do historiador. É a própria historiografia”, conclui. SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS O que faz as pessoas desconfiarem da ciência? Bastiaan T Rutjens 09 de jun de 2018(atualizado 09/06/2018 às 21h40) Pesquisadores na Holanda concluíram que é importante não tratar todas as formas de ceticismo como uma coisa só Autoria: Bastiaan T RutjensTradução: Camilo Rocha Existe uma crise de confiança na ciência hoje. Muitas pessoas – incluindo políticos e, sim, até mesmo presidentes – expressam dúvidas publicamente a respeito da validade de descobertas científicas. Enquanto isso, instituições científicas e publicações manifestam preocupações sobre a crescente falta de confiança do público na ciência. Como é possível que a ciência, cujos produtos permeiam nossas vidas diárias, fazendo com que sejam mais confortáveis de inúmeras maneiras, suscite tais atitudes negativas entre uma parte substancial da população? Entender porque as pessoas desconfiam da ciência será de grande ajuda no entendimento do que precisa ser feito para que as pessoas levem a ciência mais a sério. A ideologia política é vista por muitos pesquisadores como o principal culpado do ceticismo em relação à ciência. O sociólogo Gordon Gauchat já mostrou que conservadores políticos nos Estados Unidos têm confiado menos na ciência, uma tendência que começou na década de 1970. E uma porção de pesquisas recentes conduzidas por psicólogos sociais e políticos têm mostrado consistentemente que o ceticismo em relação às mudanças climáticas em particular costuma ser encontrado entre aqueles situados no lado conservador do espectro político. Entretanto, não é apenas a ideologia política que explica o ceticismo em relação à ciência. As mesmas pesquisas que observaram os efeitos da ideologia política nas atitudes em relação às mudanças climáticas também descobriram que ideologia política não ajuda tanto a prever o ceticismo em relação a outros tópicos de pesquisa controversos. O trabalho do cientista cognitivo Stephan Lewandowsky, assim como a pesquisa conduzida pelo psicólogo Sydney Scott, não constataram nenhuma relação entre ideologia política e atitudes em relação à modificação genética. Lewandowsky também não encontrou nenhuma relação clara entre conservadorismo político e ceticismo quanto a vacinas. Então há mais que apenas conservadorismo político por trás do ceticismo em relação à ciência. Mas o quê? É importante mapear de forma sistemática quais fatores contribuem ou não para o ceticismo e a falta de confiança na ciência para que consigamos explicações mais precisas sobre por que um número crescente de indivíduos rejeita a noção das mudanças climáticas causadas pelo homem, ou temem que comer produtos geneticamente modificados seja perigoso, ou acreditam que vacinas causem autismo. Uma relação observada entre conservadorismo político e confiança na ciência pode na realidade ser causada por outra variável, por exemplo, religiosidade Meus colegas e eu recentemente publicamos um conjunto de estudos que investigou a confiança e o ceticismo em relação à ciência. Uma das mensagens que levamos da pesquisa é de que é importante não tratar todas as formas de ceticismo como uma coisa só. E embora certamente não tenhamos sido os primeiros a olhar para além da ideologia política, notamos duas importantes lacunas na literatura. Primeiro, a religiosidade até agora foi curiosamente pouco pesquisada como precursora do ceticismo em relação à ciência, talvez porque a ideologia política tenha atraído tanto a atenção. SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS Segundo, falta nas pesquisas atuais uma investigação sistemática sobre formas diversas de ceticismo, junto com medidas mais gerais de confiança na ciência. Tentamos corrigir as duas omissões. As pessoas podem ser céticas ou desconfiadas com relação à ciência por motivos diferentes, seja por causa de uma descoberta específica de uma disciplina (por exemplo, “O clima não está aquecendo, mas eu acredito na evolução”), ou sobre a ciência em geral (“A ciência é apenas uma entre muitas opiniões”). Identificamos quatro principais indicadores de aceitação da ciência e de dúvida da ciência: ideologia política; religiosidade; moralidade; e sabedoria a respeito da ciência. Essas variáveis tendiam a se correlacionar entre si – em alguns casos, com bastante intensidade –, o que significa que são potencialmente confundíveis. Para ilustrar, uma relação observada entre conservadorismo político e confiança na ciência pode na realidade ser causada por outra variável, por exemplo, religiosidade. Sem medir todos os construtos simultaneamente, é difícil avaliar corretamente qual o valor preditivo de cada um. Então, investigamos a heterogeneidade do ceticismo em relação à ciência entre amostras de participantes norte-americanos(um estudo transnacional de larga escala do ceticismo com a ciência na Europa virá depois). Fornecemos aos participantes declarações sobre mudanças climáticas (por exemplo, “emissões humanas de CO2 causam mudanças climáticas”), modificação genética (por exemplo, “comida geneticamente modificada é uma tecnologia segura e confiável”) e vacinação (por exemplo, “acredito que vacinas têm efeitos colaterais negativos que superam os benefícios da vacinação em crianças”). Participantes podiam indicar até que ponto concordavam ou discordavam com essas declarações. Também medimos a fé geral dos participantes na ciência, e incluímos uma tarefa em que podiam indicar quanto dinheiro federal deveria ser gasto na ciência, em comparação com outras áreas. Medimos o impacto da ideologia política, religiosidade, preocupações morais e conhecimento científico (medido com um teste de educação científica, consistindo de itens falsos ou verdadeiros, tais como “Toda radioatividade é feita por humanos” e “O centro da Terra é muito quente”) nas reações do participantes a essas várias medidas. A ideologia política não teve um papel significativo na maior parte das nossas avaliações. A única forma de ceticismo com ciência que se destacava de forma consistente entre os respondentes politicamente conservadores em nossos estudos foi, previsivelmente, ceticismo com relação às mudanças climáticas. Mas e outras formas de ceticismo, ou ceticismo com a ciência em geral? Ceticismo com relação à modificação genética não se relacionava à ideologia política ou crenças religiosas, embora tivesse correlação com conhecimento científico: quanto pior as pessoas iam no teste de educação científica, mais céticas elas eram em relação à comida transgênica. Ceticismo com relação a vacinas também não tinha nenhuma relação com ideologia política, mas era mais forte entre participantes religiosos, e particularmente relacionado a preocupações morais a respeito da naturalidade da vacinação. Para além do ceticismo específico a uma área, o que observamos sobre uma confiança geral na ciência, e a vontade de apoiar a ciência de forma mais ampla? Os resultados eram bastante claros: a confiança na ciência era, de longe, menor entre os religiosos. Particularmente, a ortodoxia religiosa era um indicativo negativo forte de fé na ciência e os participantes ortodoxos também eram os menos positivos quanto ao investimento de dinheiro federal na ciência. Mas repare aqui outra vez que a ideologia política não contribuiu com qualquer variação significativa sobre e além da religiosidade. A partir desses estudos existem algumas lições a ser aprendidas sobre a atual crise de fé que assola a ciência. Ceticismo com relação à ciência é bastante diverso. Ademais, a desconfiança da ciência não tem muito a ver com ideologia política, à exceção de ceticismo com relação às mudanças climáticas, que se constata ser consistentemente motivado por política. SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS Além disso, esses resultados sugerem que o ceticismo com a ciência não pode simplesmente ser remediado aumentando o conhecimento das pessoas sobre a ciência. O impacto da educação científica no ceticismo com relação à ciência, na confiança na ciência e na disposição de apoiá-la foi pequeno, com exceção da modificação genética. Algumas pessoas relutam em aceitar descobertas científicas específicas, por razões diversas. Quando o objetivo é combater ceticismo e aumentar a confiança na ciência, um bom ponto de partida é reconhecer que o ceticismo com a ciência vem em várias formas. Bastiaan T Rutjens é professor-assistente no departamento de Psicologia da Universidade de Amsterdã, na Holanda SABER - FORMAS DE CONHECIMENTO , SENSO COMUM , MITO , HISTÓRIA , RELIGIÃO E CIÊNCIA - PARTE 2 CIÊNCIAS HUMANAS O último texto é a análise do sway que fizemos como material de apoio da última aula: https://sway.office.com/yc1BmBQgEB4sBaT8?ref=Link https://sway.office.com/yc1BmBQgEB4sBaT8?ref=Link
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